Você está na página 1de 2

Cefart | Relatório da ARTEBH - Feira de arte moderna e contemporânea

Isabela Cordeiro Lopes

Meu primeiro contato com a Feira ARTEBH se deu dois dias antes da abertura, no
feriado do dia 1 de maio, quando fui conhecer o espaço expositivo e me encontrar com os
produtores da PARTE para me inteirar do trabalho que faria durante a feira. Era dia de
montagem, com cheiro forte de serragem e papel adesivo, e muito pó. É difícil imaginar, nesse
primeiro momento, como será o espaço depois de inteiramente montado, com as obras
dispostas e organizadas, os móveis distribuídos. Mas é também um dos momentos mais vivos
da feira, com paredes sendo levantadas e cobertas de branco, luzes sendo instaladas, problemas
sendo incessantemente resolvidos. Depois tudo isso é suplantado pelo silêncio provocado pelas
obras dispostas nas paredes e pela postura solene e apressada que nossos corpos ganham ao
circular por ali; para logo mais tudo ganhar novas cores, com o burburinho constante do público
que inunda o espaço expositivo.
Meu trabalho, ao longo dos quatro dias de feira, consistia em recepcionar o público,
controlar a saída de obras compradas, dar informações e vender ingressos e catálogos, bem
como eventualmente apoiar a produção e os galeristas em suas demandas. Com isso, meu
contato com todas as pessoas envolvidas nessa cadeia, do público, dos galeristas e artistas aos
colegas próximos de trabalho, foi se estreitando ao longo dessas 48h de atividade e me permitiu
ao mesmo tempo um laço afetuoso com aquele contexto e um olhar crítico acerca do mesmo.
De forma geral, a interação, ainda que claramente trespassada pelas marcas de classe social,
foi simpática e facilmente desenvolvida. Tanto galeristas quanto artistas se mostraram, muitas
vezes, abertos à troca com quem os procurasse, quebrando aos poucos o impacto de
estranhamento que ocorreu (ao menos para mim) no dia da abertura. A quinta-feira foi um dia
aberto para um público restrito de convidados para a feira, em que foi servida cerveja gratuita
e livremente e em que compareceu o maior número de compradores e artistas. Nos dias
seguintes, o perfil do público variou, entre sexta, sábado e domingo, entre convidados, sócios
do Minas Tênis Clube, estudantes e curiosos.
Neste sentido do público, cabe observar dois aspectos do planejamento da produção da
feira, que realizam um importante recorte. Primeiramente, sua localização, cuidadosamente
escolhida, de forma a que ocorresse em uma zona privilegiada, de fácil acesso e em região da
Zona Centro-Sul da cidade, próxima da maioria de sua clientela e das próprias galerias
participantes da feira. Em segundo lugar, o próprio fato de ser cobrado um ingresso no valor
de R$20,00 (a inteira), fator relevante na seleção do público participante.
Nesses dias, tive a interessantíssima oportunidade de circular pelas galerias antes da
feira ser aberta e antes dos próprios galeristas chegarem, completamente sozinha com as obras.
Pude ver de muito perto obras de artistas como Cildo Meireles, Anna Maria Maiolino, Christus
Nóbrega, Sara Ramo. A expografia, entretanto, é um aspecto interessante de observar:
acostumada com os espaços museais modernos e contemporâneos, em que a obra é o elemento
central e evita-se o ruído visual ao seu redor, fiquei um tanto quanto atordoada ao rodar pela
feira para observar o que estava exposto. Cada galeria (com exceção de algumas que tiveram
um certo cuidado expográfico na criação de uma narrativa visual) preencheu seu cubículo com
um grande número de obras, em uma comunicação polifônica e barulhenta que tornava difícil
concentrar o olhar em uma só delas para apreciação ou imersão. Não à toa, esta organização
me remeteu rapidamente aos antigos gabinetes de curiosidade e às expografias das coleções
particulares que preenchiam todo o pé direito de espaços como o do Louvre. É, evidentemente,
o olhar de um comprador ou de um colecionador, e não o de um passante contemplativo, que
essa organização busca. É, também, o mesmo valor hierárquico e elitista daqueles poucos que
tinham (e têm) acesso àquelas obras, que é reforçado.
Essas são, de forma muito ampla, minhas impressões acerca da feira e de minha
experiência - intensa e profícua - de trabalho nela. Foi, certamente, imensamente interessante
participar dela dessa forma e conhecer este aspecto do mercado da arte que fica, tantas vezes,
escondido sob os estudos de arte moderna e contemporânea. Mas, talvez o mais interessante de
tudo isso tenha sido estar ao lado de artistas e obras que tanto admiro ao longo desses dias.

Você também pode gostar