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FICHAMENTO TEXTO 03

QUEIROZ, Fábio José C. de. O conceito de revolução em Caio Prado Júnior e Florestan
Fernandes. Outubro: Revista do Instituto de Estudos Socialistas. Alameda, Número 19,
2011, pp.155-177.

- Autor explica os contrastes da burguesia brasileira (e latino-americana), que, ao invés


de se juntar ao proletariado, ficou ao lado do latifundiário. (p. 159).
- Aí ele fala sobre o que Trotsky percebeu da burguesia latino-americana quando esteve
no México. “Para ele, a burguesia aborígine, “por sua debilidade geral e sua atrasada
aparição os impede alcançar um mais alto nível de desenvolvimento que o de servir a um
senhor imperialista contra outro. Não podem lançar uma luta séria contra toda cominação
imperialista e por uma autêntica independência nacional por temor a desencadear um
movimento de massas dos trabalhadores do país, que por sua vez ameaçaria sua própria
existência social (TROT5KY, 2000, p. 93)”. (p. 160).
- Com isso o autor chama atenção ao fato de que, por ter uma burguesia que não
consegue encabeçar a revolução e que prefere ficar do lado do imperialismo, não há
como falar, pela perspectiva marxista, em revolução burguesa no Brasil ou na América
Latina. (p. 161).
- Mas ele diz que também que Florestan Fernandes e Caio Prado Jr. procuram entender a
“revolução brasileira” cada um a seu modo. “Florestan Fernandes busca, por meio de um
enfoque reconhecidamente criativo, preconizar um processo de revolução burguesa no
Brasil. Por sua vez, Caio Prado Júnior refere-se à revolução brasileira e se recusa a defini-
la, quer dizer, se nega a estabelecer a sua natureza. Ambos procuraram investigar e
determinar a especificidade da "via brasileira". É objetivo do presente artigo examinar os
pontos de vista desses autores quanto ao sentido do termo revolução, o que faremos a
seguir”. (p. 162).
A REVOLUÇÃO NO HORIZONTE TEÓRICO DE CAIO PRADO JR.
- Então o autor começa explicando que, para o PCB, a revolução seria encabeçada pela
burguesia (como na teoria marxista) e eles se apegavam à existência de “supostos
resquícios feudais no Brasil”. (p. 62).
- Caio Prado Jr. foi por outra ótica, entendendo que não há como falar em revolução
feudal e democrático-burguesa se o Brasil, nesse momento, já era capitalista e não
feudal. (p. 163).
- “Assim, para Prado, conforme lembra Reis (2003), seria preciso "partir do contexto
brasileiro específico para a sua interpretação" (p. 190). Em sua ótica, ainda estávamos
sob a égide de um "capitalismo colonial"”. (p. 163).
- Deste modo, segundo o autor, Caio Prado Jr. “sustenta que o latifúndio: 1) não é,
forçosamente, aliado do imperialismo e, 2) até o ignora. Procurando combater o esquema
do PCB, em que os fazendeiros aparecem como cúmplices do imperialismo e a burguesia
industrial como parente por afinidade do proletariado, ele termina engendrando uma
solução teórico-histórica duvidosa. Pior: recua a origem do capitalismo, no Brasil, aos
primórdios da colonização, uma tese imprópria. (p. 163).
- Mas o autor destaca que isso não é suficiente para descredibilizar sua tese, pois Caio
Prado Jr. trouxe importantes reflexões em combate aos pensamentos do PCB,
principalmente no quesito de “aniquilar a lenda de uma burguesia industrial
antilatifundiária e antiimperialista. (p. 163).
- Queiroz explica ainda que o pensamento de Caio Prado Jr, nesse sentido, se aproxima
ao que foi falado por Trotsky (pensador marxista) acerca da burguesia autócne ser
"acionista menor" do capital imperialista”. (p. 164).
- Então ao autor destaca que, por conta das ideias defendidas pelo PCB, a revolução
brasileira possuía concepções teórica errôneas. (p. 164).
- Em seguida o autor apresenta a diferenciação que Caio Prado Jr. faz de “insurreição” e
de “revolução”, de modo que insurreição “diz respeito ao "processo imediato”, enquanto
revolução está ligada a transformação do regime político-social". (p. 164).
- Em conformidade com Caio Prado Jr:
São esses momentos históricos de brusca transição de o uma situação
econômica, social e política para outra, e as transformações que então
se verificam, que constituem o que propriamente se há de entender por
"revolução”. (p. 165).

- Queiroz problematiza também que Caio Prado não pretende dizer qual tipo de revolução
é a brasileira (se é burguesa ou socialista), mas o que importa é entendermos o que se
passa nessa revolução. Nesse sentido, Caio Prado entende que as lutas brasileiras irão
desembocar no socialismo, mas sem um processo teórico esquematizado para isso. “Em
síntese, a revolução brasileira ignora "esquemas abstratos" e não tem uma natureza
definida, não é burguesa e nem socialista, ainda que projete esta última. Sem se prender
a modelos ou receituários, a verdadeira revolução brasileira estar por acontecer e, para os
socialistas, conforme Caio Prado Jr., ela começaria pelas demandas próprias da
conjuntura e por sua interligação com o "processo histórico de que resulta". (p. 166).
- Nesse sentido, Caio Prado não se deixou levar pelas concepções teóricas do
“etapismo” (conceito marxista de tendência stalinista) defendido pelo PCB. (p. 166).
- Por fim, Queiroz entende que “a crítica a "um aparato teórico deficiente e inflexível"
(Idem, 2007, p. 174) não quer dizer exatamente uma ruptura com o caráter estratégico da
ideia de revolução do PCB, centralizado no privilegiamento de uma concepção do
processo revolucionário medida por laços que se desenredam”. (p. 166).
A TESE DA REVOLUÇÃO BURGUESA EM FLORESTAN FERNANDES
- Segundo o autor, para Florestan o Brasil já estaria vivendo uma revolução burguesa.
E Florestan ainda se difere de Caio Prado por entender que é preciso sim entender o que
a revolução é (Caio Prado entendia, como vemos antes, que o que importava era saber o
que se passa na revolução). (p. 167).
- “Florestan fixa uma estreita vinculação entre o que entende por revolução burguesa e
elementos-chave - modernização, formação de uma sociedade de classes e absorção de
um "padrão de civilização" - que, pensamos ser, naturalmente, o padrão ocidental,
característico do capitalismo dos países centrais. Ou seja, o Brasil se teria igualado aos
países centrais por um caminho excepcionalmente distinto do modelo clássico das
nações europeias ou dos norte-americanos”. (p. 167).
- Segundo o autor, para Florestan “revolução se exprime no nível das estruturas de
poder sem tocar nas estruturas sociais, sobressaindo-se na condição de um processo
contraditório, concomitantemente renovador e conservador. Com isso, a revolução ficou
reduzida ao campo jurídico-político, revelando-se "tolhida" e "deformada", fato por ele
admitido no capítulo II ("As implicações sócio-econômicas da independência")”. (p. 168).
- “Florestan resume a ideia de uma revolução burguesa no Brasil não só à singularíssima
absorção dos modelos econômicos transplantados ou à avareza semi-aberta da autonomia
política, mas, de igual modo, à emergência de um novo horizonte cultural no meio dos
"homens de negócio" (2006, p. 127)”. (p. 168).
- “Florestan Fernandes conclui que nesse movimento quase bizarro de revolução, ergueu-
se um tipo particular de capitalismo dependente, dilacerado pela disjuntiva:
"descolonização mínima" e "modernização máxima”. Assim, o país se adaptou ao
mercado capitalista sem realizar um acerto de contas com os contagiantes
rebotalhos historicamente fundados na antiga estrutura colonial. Nestas condições,
a burguesia brasileira fez a sua "revolução" sem remover o acanhado e reiterativo
sistema fundiário assentado na grande propriedade improdutiva e, também de
forma desoladora, omitindo-se de um combate arrojado em proveito da soberania
nacional”. (p. 169).
- “Nos seus recuos e nos seus avanços, a tese é simples: houve revolução burguesa no
Brasil, pois o capitalismo se fez amplamente hegemônico na economia, na sociedade e
no Estado, embora tenha sido uma revolução limitada, uma vez que as tarefas
democráticas e nacionais ficaram no meio do caminho. Não é por que a mão não coube
na luva do modelo clássico que ela não tenha sido capaz de empurrar o processo histórico
para um sentido revolucionário, em que pese os tropeços e contenções. Em sua ótica, não
enxergar assim é puro preconceito, afinal "nem todos comensais podem ser iguais. Para
que uns floresçam, outros crescem atrofiadamente" (FERNANDES, 1995, p. 126)”.
(170).
- Assim, pelo que entendi, Florestan defende que a revolução brasileira foi bem
diferente do que aconteceu no ocidente, pois ela aconteceu concomitantemente à
modernização, mas manteve estruturas sociais atrasadas. Mas, ao mesmo tempo, ele
entende que essa distinção não pode ser suficiente para negar a existência de uma
revolução.
- Então o autor coloca uma questão: Florestan Fernandes defendeu que as revoluções na
América Latina todas desembocam no Socialismo, sendo realizadas pelos trabalhadores.
Mas quando o assunto é o Brasil, ele defende a tese de uma revolução feita no campo do
poder. Ou seja, por quê no Brasil foi revolução se nos outros países da América Latina só
é revolução se o produto final for o socialismo? Nesse sentido, o autor explica que
Florestan tinha raízes marxistas, mas que não ficou apenas nisso, sendo influenciado por
outras correntes e autores. Assim, é compreensível que ele tenha uma certa pluralidade
de correntes em seu discurso e isso não diminui sua genialidade. (p. 170-171).
- E é nesse sentido que ele (Florestan) defende o caso distinto brasileiro. (p. 171).
- Com relação à burguesia brasileira, Florestan faz várias críticas que explicam o porquê
de ela não conseguir encabeçar a revolução. Segundo ele (p. 172):
(E)ssa burguesia só é débil para promover a revolução burguesa
segundo o modelo "clássico", nacionalista democrático. Ela é bastante
forte para preservar o poder real, usar o Estado nacional para se proteger
e, especialmente, para estabelecer políticas econômicas que assegurem
continuidade e aceleração do crescimento econômico sem maiores
repercussões no grau de democratização e de nacionalização das
estruturas de poder (FERNANDES, 1995, P. 134).

- Assim, para resumir: pelo que entendi da leitura do texto e do que foi explicado na aula,
A revolução no Brasil se dá por um avanço pela chegada do capitalismo, mas não muda
as estruturas sociais e políticas, como a entrada da democratização. Esse é o
entendimento de revolução do Florestan. E quando ele fala sobre ser uma revolução
burguesa, é no sentido de que havia uma burguesia, mas que era limitada justamente
por estar ligada e dependente do latifúndio. Assim, teve uma revolução limitada por
uma burguesia limitada. Nesse sentido, foi mais uma revolução pelas transformações
econômicas, o crescimento da burguesia se aliando aos oligarcas e mudando suas
formas de pensar. Mas não foi uma revolução violenta como a Francesa, por exemplo.
Temos exemplos como a Proclamação da República e 1930 (impulsionada por uma
burguesia), em que houveram transformações e a burguesia começou a se consolidar.
Considerações Finais
- O autor inicia as considerações tecendo duras críticas à tese de Florestan, defendendo
que não há como falar em revolução burguesa no Brasil se a burguesia não encabeçou
nenhuma revolução. Segundo Queiroz, “o caráter de uma revolução depende de uma
classe determinada poder ou não levar a termo as tarefas a que se propõe realizar. Caso
não seja capaz de cumpri-la, podemos falar de uma revolução que tenha o seu nome?
Somente a formação "compósita" do eminente sociólogo uspiano para elucidar como ele
poderia haver chegado à tão controversa conclusão: a de que houve uma revolução
burguesa no Brasil”. (p. 174).
- Dito tudo isso, Queiroz, mais uma vez, destaca que essa reflexão errônea de Florestan
não desmerecem a qualidade de todas as contribuições (incluindo esta) que trouxe para a
sociedade brasileira. (p. 174).
- Com relação a Caio Prado, Queiroz ressalta as ressalvas que já havia feito acerca do
autor, mas também destaca a positividade dos rompimentos que Caio Prado teve com
relação ao pensamento etapista defendido pelo PCB. (p. 175-176).
- Por fim, ele novamente destaca que os dois autores são muito importantes, mesmo com
as ressalvas que colocou ao longo de seu texto. (p. 176).

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