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QUEIROZ, Fábio José C. de. O conceito de revolução em Caio Prado Júnior e Florestan
Fernandes. Outubro: Revista do Instituto de Estudos Socialistas. Alameda, Número 19,
2011, pp.155-177.
- Queiroz problematiza também que Caio Prado não pretende dizer qual tipo de revolução
é a brasileira (se é burguesa ou socialista), mas o que importa é entendermos o que se
passa nessa revolução. Nesse sentido, Caio Prado entende que as lutas brasileiras irão
desembocar no socialismo, mas sem um processo teórico esquematizado para isso. “Em
síntese, a revolução brasileira ignora "esquemas abstratos" e não tem uma natureza
definida, não é burguesa e nem socialista, ainda que projete esta última. Sem se prender
a modelos ou receituários, a verdadeira revolução brasileira estar por acontecer e, para os
socialistas, conforme Caio Prado Jr., ela começaria pelas demandas próprias da
conjuntura e por sua interligação com o "processo histórico de que resulta". (p. 166).
- Nesse sentido, Caio Prado não se deixou levar pelas concepções teóricas do
“etapismo” (conceito marxista de tendência stalinista) defendido pelo PCB. (p. 166).
- Por fim, Queiroz entende que “a crítica a "um aparato teórico deficiente e inflexível"
(Idem, 2007, p. 174) não quer dizer exatamente uma ruptura com o caráter estratégico da
ideia de revolução do PCB, centralizado no privilegiamento de uma concepção do
processo revolucionário medida por laços que se desenredam”. (p. 166).
A TESE DA REVOLUÇÃO BURGUESA EM FLORESTAN FERNANDES
- Segundo o autor, para Florestan o Brasil já estaria vivendo uma revolução burguesa.
E Florestan ainda se difere de Caio Prado por entender que é preciso sim entender o que
a revolução é (Caio Prado entendia, como vemos antes, que o que importava era saber o
que se passa na revolução). (p. 167).
- “Florestan fixa uma estreita vinculação entre o que entende por revolução burguesa e
elementos-chave - modernização, formação de uma sociedade de classes e absorção de
um "padrão de civilização" - que, pensamos ser, naturalmente, o padrão ocidental,
característico do capitalismo dos países centrais. Ou seja, o Brasil se teria igualado aos
países centrais por um caminho excepcionalmente distinto do modelo clássico das
nações europeias ou dos norte-americanos”. (p. 167).
- Segundo o autor, para Florestan “revolução se exprime no nível das estruturas de
poder sem tocar nas estruturas sociais, sobressaindo-se na condição de um processo
contraditório, concomitantemente renovador e conservador. Com isso, a revolução ficou
reduzida ao campo jurídico-político, revelando-se "tolhida" e "deformada", fato por ele
admitido no capítulo II ("As implicações sócio-econômicas da independência")”. (p. 168).
- “Florestan resume a ideia de uma revolução burguesa no Brasil não só à singularíssima
absorção dos modelos econômicos transplantados ou à avareza semi-aberta da autonomia
política, mas, de igual modo, à emergência de um novo horizonte cultural no meio dos
"homens de negócio" (2006, p. 127)”. (p. 168).
- “Florestan Fernandes conclui que nesse movimento quase bizarro de revolução, ergueu-
se um tipo particular de capitalismo dependente, dilacerado pela disjuntiva:
"descolonização mínima" e "modernização máxima”. Assim, o país se adaptou ao
mercado capitalista sem realizar um acerto de contas com os contagiantes
rebotalhos historicamente fundados na antiga estrutura colonial. Nestas condições,
a burguesia brasileira fez a sua "revolução" sem remover o acanhado e reiterativo
sistema fundiário assentado na grande propriedade improdutiva e, também de
forma desoladora, omitindo-se de um combate arrojado em proveito da soberania
nacional”. (p. 169).
- “Nos seus recuos e nos seus avanços, a tese é simples: houve revolução burguesa no
Brasil, pois o capitalismo se fez amplamente hegemônico na economia, na sociedade e
no Estado, embora tenha sido uma revolução limitada, uma vez que as tarefas
democráticas e nacionais ficaram no meio do caminho. Não é por que a mão não coube
na luva do modelo clássico que ela não tenha sido capaz de empurrar o processo histórico
para um sentido revolucionário, em que pese os tropeços e contenções. Em sua ótica, não
enxergar assim é puro preconceito, afinal "nem todos comensais podem ser iguais. Para
que uns floresçam, outros crescem atrofiadamente" (FERNANDES, 1995, p. 126)”.
(170).
- Assim, pelo que entendi, Florestan defende que a revolução brasileira foi bem
diferente do que aconteceu no ocidente, pois ela aconteceu concomitantemente à
modernização, mas manteve estruturas sociais atrasadas. Mas, ao mesmo tempo, ele
entende que essa distinção não pode ser suficiente para negar a existência de uma
revolução.
- Então o autor coloca uma questão: Florestan Fernandes defendeu que as revoluções na
América Latina todas desembocam no Socialismo, sendo realizadas pelos trabalhadores.
Mas quando o assunto é o Brasil, ele defende a tese de uma revolução feita no campo do
poder. Ou seja, por quê no Brasil foi revolução se nos outros países da América Latina só
é revolução se o produto final for o socialismo? Nesse sentido, o autor explica que
Florestan tinha raízes marxistas, mas que não ficou apenas nisso, sendo influenciado por
outras correntes e autores. Assim, é compreensível que ele tenha uma certa pluralidade
de correntes em seu discurso e isso não diminui sua genialidade. (p. 170-171).
- E é nesse sentido que ele (Florestan) defende o caso distinto brasileiro. (p. 171).
- Com relação à burguesia brasileira, Florestan faz várias críticas que explicam o porquê
de ela não conseguir encabeçar a revolução. Segundo ele (p. 172):
(E)ssa burguesia só é débil para promover a revolução burguesa
segundo o modelo "clássico", nacionalista democrático. Ela é bastante
forte para preservar o poder real, usar o Estado nacional para se proteger
e, especialmente, para estabelecer políticas econômicas que assegurem
continuidade e aceleração do crescimento econômico sem maiores
repercussões no grau de democratização e de nacionalização das
estruturas de poder (FERNANDES, 1995, P. 134).
- Assim, para resumir: pelo que entendi da leitura do texto e do que foi explicado na aula,
A revolução no Brasil se dá por um avanço pela chegada do capitalismo, mas não muda
as estruturas sociais e políticas, como a entrada da democratização. Esse é o
entendimento de revolução do Florestan. E quando ele fala sobre ser uma revolução
burguesa, é no sentido de que havia uma burguesia, mas que era limitada justamente
por estar ligada e dependente do latifúndio. Assim, teve uma revolução limitada por
uma burguesia limitada. Nesse sentido, foi mais uma revolução pelas transformações
econômicas, o crescimento da burguesia se aliando aos oligarcas e mudando suas
formas de pensar. Mas não foi uma revolução violenta como a Francesa, por exemplo.
Temos exemplos como a Proclamação da República e 1930 (impulsionada por uma
burguesia), em que houveram transformações e a burguesia começou a se consolidar.
Considerações Finais
- O autor inicia as considerações tecendo duras críticas à tese de Florestan, defendendo
que não há como falar em revolução burguesa no Brasil se a burguesia não encabeçou
nenhuma revolução. Segundo Queiroz, “o caráter de uma revolução depende de uma
classe determinada poder ou não levar a termo as tarefas a que se propõe realizar. Caso
não seja capaz de cumpri-la, podemos falar de uma revolução que tenha o seu nome?
Somente a formação "compósita" do eminente sociólogo uspiano para elucidar como ele
poderia haver chegado à tão controversa conclusão: a de que houve uma revolução
burguesa no Brasil”. (p. 174).
- Dito tudo isso, Queiroz, mais uma vez, destaca que essa reflexão errônea de Florestan
não desmerecem a qualidade de todas as contribuições (incluindo esta) que trouxe para a
sociedade brasileira. (p. 174).
- Com relação a Caio Prado, Queiroz ressalta as ressalvas que já havia feito acerca do
autor, mas também destaca a positividade dos rompimentos que Caio Prado teve com
relação ao pensamento etapista defendido pelo PCB. (p. 175-176).
- Por fim, ele novamente destaca que os dois autores são muito importantes, mesmo com
as ressalvas que colocou ao longo de seu texto. (p. 176).