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Direito Das Pessoas E Situações Jurídicas

1 – O Direito Civil como direito privado comum:

O Direito Civil pertence ao Direito Privado e rege relações estabelecidas fundamentalmente entre
pessoas particulares e o Estado, quando este está destituído do seu poder de mando (“iuris imperi”).
Caracteriza-se como Direito Privado Comum, porque engloba todas as relações privadas não sujeitas ao
regime específico de outros ramos de Direito Privado. O Direito Civil, para além de regular o
estabelecimento de relações privadas, funciona também como subsidiário do regime estabelecido no
Direito Comercial ou no Direito do Trabalho. Ou seja, o sistema recorre às normas do Direito Civil para
colmatar essas omissões. O Direito Civil constitui o núcleo fundamental de todo o Direito Privado. Em
suma, o Direito Civil engloba todas as normas de Direito Privado, com excepção das dos Direito Do
Trabalho e Comercial. Os princípios gerais do Direito Civil são aqueles que estão contidos na generalidade
das normas do 1º Título do Código Civil português.
Conclui-se que o Direito Civil é um Direito Privado Comum e é por sua vez subsidiário de outros ramos de
Direitos jurídico-civis.
Perante qualquer situação carecida de tratamento jurídico, na ausência de regras especiais que tenham
pretensão de aplicabilidade, há que recorrer ao Direito Civil. A ciência do direito postula determinadas
regras para a realização da intencionalidade normativa, através da solução de casos concretos.

O Direito Civil é:
. Direito Positivo: traduz regras jurídicas destinadas a facultar soluções de casos concretos surgidos no
seu vasto âmbito de aplicação
. Ciência do Direito: fixa o caminho que vai desde a fonte das soluções concretas dos problemas
. Cultura Jurídica: comporta a linguagem, os conceitos, os institutos e as conexões presentes em todas as
disciplinas jurídicas e que foram elaboradas no seu seio

Fins do Direito:
- Visa realizar determinados valores:
. A certeza do Direito
. A segurança da vida dos Homens
. A razoabilidade das soluções

São fontes clássicas de Direito:


. Lei: é fonte exclusiva do Direito Civil português, toda a disposição imperativa e geral de criação estadual
que é emanada dos órgãos estaduais competentes segundo a Constituição da República Portuguesa (ex:
art. 1º do Código Civil)
. Usos: só valem quando a Lei o determinar, por si só, não são fonte de Direito Civil (ex: art. 3º do Código
Civil)
. Equidade: podem ainda os tribunais decidir os casos que lhe sejam presentes segundo o princípio da
equidade (igualdade). A equidade só é também admitida quando haja uma disposição legal que o permita
e quando ainda as partes assim o convencionarem (ex: art. 4º do Código Civil)

Pode-se dizer que as normas jurídicas civis são um conjunto desordenado ou avulso de preceitos
desprovidos de uma certa conexão. E são princípios fundamentais do Direito Civil que formam a espinal-
medula deste, ostentando todas as normas que vêem depois desenvolver esses princípios gerais que têm o
valor de fundamentos e sustentam as normas que posteriormente desenvolvem.

2 – Princípios Fundamentais do Direito Civil:

2.1. Princípio do Personalismo Ético: a definição do personalismo ético varia de autor para autor,
no entanto o seu conteúdo é idêntico. Oliveira Ascensão considera que o personalismo ético é comum a
todo o Direito, por isso, não é específico nem privativo do Direito Civil. O personalismo ético assenta na
consideração da pessoa humana como ser livre, autónomo, igual e irrepetível, sendo dotado de uma
dignidade originária e própria que lhe é inerente desde a concepção.
Transpondo para o Direito, o personalismo ético exige a proscrição da escravatura, do racismo e de todas
as discriminações e prepotências. No Direito Civil, o personalismo ético funda a tutela da personalidade, a
autonomia privada, a responsabilidade civil, o direito subjectivo e a propriedade, o respeito da família e a
sucessão por morte.
O personalismo ético, como valor e como princípio regulativo, deve estar sempre na mente do intérprete e
do julgador. A principal consequência do personalismo ético é o reconhecimento da personalidade jurídica
e a tutela dos direitos de personalidade.
A personalidade é a qualidade de se ser pessoa. O personalismo ético não admite nem a privação da
personalidade, nem a sua graduação ou recusa do reconhecimento. A personalidade é inerente à
qualidade humana e adquire-se com o nascimento.
A personalidade é originária e inerente à qualidade humana.
Esta centralidade da Pessoa no Direito relaciona-se polarmente com o princípio do bem comum. O
princípio do bem comum é de raiz aristotélica e centra a realidade humana mais sobre a sociedade, a
colectividade, a família em que toda a pessoa se insere. O bem comum parte do total para o particular. O
bem comum funda a heteronomia no Direito.

Em suma:
- Dignidade do ser humano
- Carácter pré-jurídico da personalidade humana
- Reconhecimento dos direitos de personalidade

2.2. Princípio da Autonomia: a autonomia é a liberdade que as pessoas têm de se regerem e


vincularem a si próprias, umas perante as outras, de prometerem e de se comprometerem.
Em sentido amplo, a autonomia excede o campo do Direito Civil e até o do Direito Privado, é também o
poder que as pessoas têm de dar leis a si próprias e de se reger por elas.
Num sentido restrito, a autonomia privada pressupõe um espaço de liberdade em que as pessoas comuns
podem reger os seus interesses entre si, como entenderem, através da celebração de negócios jurídicos ou
de contratos e do exercício de direitos subjectivos, sem terem de se sujeitar a directivas de terceiros.
A autonomia privada é jurígena.
Também o direito subjectivo constitui uma poderosa manifestação da autonomia privada.

Em suma:
- Liberdade de autovinculação (ex: art. 405º do Código Civil) faz com que haja:
. Celebração
. Estipulação
- Direito subjectivo
2.3. Princípio da Responsabilidade: a liberdade sem responsabilidade constitui arbítrio, e o arbítrio
é incompatível com a dignidade. A responsabilidade sem liberdade constitui sujeição ou servidão, o que é
incompatível com a dignidade. A liberdade ou autonomia é, pois, inseparável da responsabilidade. Não há
liberdade sem responsabilidade, assim como não pode haver, em princípio, responsabilidade sem
liberdade.
No campo do Direito, a liberdade e autonomia da pessoa, têm como correspondentes a responsabilidade
civil e criminal.
Os ilícitos que não sejam suficientemente graves para constituírem crimes, dão lugar apenas à
responsabilidade civil, quando originem danos. A responsabilidade civil é cumulável com a
responsabilidade criminal. No âmbito do Direito Civil, é a responsabilidade civil o instituto que rege as
consequências dos actos ilícitos que causem danos.
Os acidentes de trabalho e os acidentes de viação vieram suscitar a necessidade de transferir a
responsabilidade para um outro vector: o do risco.
A nova construção da responsabilidade civil na perspectiva de risco vem, por sua vez, introduzir os seguros
obrigatórios. A ideia de transferência de risco permite desenvolvimentos ulteriores.
As respostas possíveis são várias para quem vai assumir o risco, desde assunção do risco pela vítima até à
sua imputação à colectividade.
Nasce, assim, uma modalidade de imputação de risco que já não assenta na autoria nem na culpa.
Ex: Os danos emergentes de acidentes de trabalho são imputados às entidades patronais e transferidas
para companhias de seguros, através do seguro obrigatório.
Os danos resultantes de acidentes de viação são imputados aos proprietários dos veículos e transferidos
também para as seguradoras através do seguro obrigatório.

A lei prevê também responsabilidade civil independentemente da ilicitude.


O princípio da culpa, na responsabilidade civil, continua a ser dominante.
Outra inovação neste campo da responsabilidade civil, resulta do afastamento do seu carácter meramente
ressarcitório.
Vê-se uma grande pressão e já com reflexos na jurisprudência, no sentido da admissão do carácter ou de
uma função punitiva da indemnização. Além do ressarcimento dos danos sofridos pela vítima, a
indemnização poderia em certos casos, excedê-los de modo a penalizar o agente e a prevenir futuras
lesões.

Em suma:
- Responsabilidade Civil:
. Objectiva: - Pelo risco (ex: art. 502º, art. 503º, art. 509º do Código Civil)
- Por factos lícitos (ex: art. 339º, nº2 do Código Civil ; art. 62º, nº2 da Constituição da
República Portuguesa)
. Subjectiva [Responsabilidade fundada na culpa do responsável (ex: do art. 484º ao art. 486º do
Código Civil ; do art. 491º ao art. 493º do Código Civil)]:
- Pré-contratual (ex: art. 227º do Código Civil)
- Contratual (ex: art. 798º do Código Civil)
- Extracontratual (ex: art. 483º do Código Civil)

2.4. Princípio da Confiança e da Aparência: as relações entre as pessoas pressupõem em mínimo


de confiança sem a qual não seriam possíveis. A tutela da confiança tem 2componentes inseparáveis:
. Componente ético-jurídica
. Componente de segurança no exercício
A confiança depositada pelas pessoas merece tutela jurídica. O Direito não pode ficar absolutamente
indiferente à eventual frustração dessa confiança, aquando a celebração de um negócio.
O Direito não tolera que alguém construa expectativas e venha depois actuar em sentido contrário e
beneficiar dessa actuação contraditória.
São inúmeros, principalmente no tráfego jurídico em massa e no Direito Comercial, os regimes jurídicos
fundados na protecção da confiança.
Ex: A confiança de um credor e um devedor se tiver existido um investimento nessa confiança e essa
confiança venha a ser atingida, beneficia a tutela da confiança.

Em suma:
- “O que parece é”:
. 1º Boa fé: - Em sentido subjectivo
- Em sentido objectivo
. 2º Investimento na aparência

2.5. Princípio da Boa Fé: é um princípio do Direito Justo ou do Direito Natural. Vale, quer por força
da sua justiça própria, quer por efeito da sua positivação na lei.
Numa perspectiva subjectiva, decide-se da boa ou má fé em que se encontra certa pessoa perante uma
situação jurídica própria. Na perspectiva subjectivista da boa fé o conhecimento/desconhecimento
subjectivos por parte do agente de uma vicissitude ou de um vício da situação jurídica em questão têm
grande importância. O conhecimento do vício pode ser um conhecimento real e efectivo ou normativo.
Numa perspectiva objectiva, a boa fé constitui um critério de acção correcta, de ortonomia. A boa fé surge
aqui como portadora de critérios de actuação honesta e honrada, como padrão ou “standard” jurídico.
Nesta perspectiva a questão já não se centra sobre o conhecimento ou desconhecimento, por parte do
agente, de como a sua actuação pode lesar os interesses de outrem, mas sim de aferir da conformidade ou
desconformidade da sua acção como os padrões vigentes de decência de acção.

Na perspectiva subjectiva, o juízo é feito a partir do conhecimento ou desconhecimento por parte do


agente de estar a lesar outrem, ou da consciência por sua parte do vício ou vicissitude em questão. Na
perspectiva objectiva, é a conduta em si mesma que é submetida a julgamento.
Contudo, em ambas as perspectivas o que se está a fazer é a aferir da compatibilidade de actuações
concretas com as coordenadas axiológicas do Direito.
O juízo de boa fé é sempre moral e a sua realização enfrenta as mesmas dificuldades de concretização de
todos os juízos éticos. O seu critério material é um dado extrajurídico que o Direito vai buscar no campo da
Ética.

2.6. Princípio da Paridade: a igualdade originária da dignidade e de liberdade das pessoas postula
uma posição também de paridade no seio do Direito Civil. Assim, as partes, no contrato, devem ter
assegurada uma posição paritária, quer na negociação, quer na celebração, quer no desenvolvimento da
relação contratual.
A exigência da paridade traz então consigo a necessidade de defender a parte mais fraca, através do
estabelecimento de um regime de protecção.
Ex: O inquilino no arrendamento, goza dessa protecção.
Deve todavia precisar-se que o princípio da paridade não exige uma absoluta igualdade de posição das
partes, mas antes uma paridade relativa. Estes regimes de protecção não colidem com o princípio da
paridade. Ao contrário, são essenciais para assegurar uma paridade real e efectiva sempre que se constate
que, em concreto, essa paridade seja perturbada. A função destes regimes é a de assegurar a paridade e
nunca a de criar privilégios que a pervertam. Por isto, nunca deve deixar de ser admitida a possibilidade de
denunciar e contrariar os abusos que dos regimes de protecção eventualmente venham a ser feitos.

Em suma:
- Igualdade formal:
. Autonomia da vontade

2.7. Princípio da Equivalência: muitas das relações entre as pessoas, em Direito Civil, são regidas
pela procura de um equilíbrio entre prestações que se contrapõem.
Quer se trate de responsabilidade civil, em que o montante da indemnização deve corresponder ao valor
do dano, o Direito procura assegurar uma equação valorativa que é a da equivalência das prestações
contrapostas.
Mas o princípio da equivalência não se contenta com uma equivalência simplesmente formal. Exige que as
contraprestações sejam material ou substancialmente equivalentes. Esta equivalência material ou
substancial não obriga a uma equivalência exacta e absoluta.
O princípio da equivalência exige no entanto que, quando o contrato ou uma relação jurídica emergente
de outra fonte se fundem na equivalência, esta seja procurada na concretização.
Ex: Na compra e venda o preço deve em princípio corresponder tanto quanto possível ao valor da coisa
vendida.

O Direito e o princípio da equivalência não impedem a celebração de contratos economicamente


desequilibrados, desde que livre e esclarecidamente queridos.
O princípio da equivalência, não é absoluto e relaciona-se com o princípio da autonomia que permite às
partes estipular no contrato como entenderem, dentro dos limites da Lei, da Moral e da Natureza.
No relacionamento do princípio da equivalência com o princípio da autonomia, não existe a prevalência
necessária de um sobre o outro. Quando os interesses em jogo sejam puramente privados, prevalece a
autonomia. Mas quando no contrato estejam também em jogo interesses públicos ou de terceiros, já o
princípio da equivalência prevalece sobre o da autonomia e a equação valorativa deverá ser
objectivamente procurada.
Mais do que ao princípio da autonomia, ou à prescrição da imortalidade, os regimes jurídicos da usura, do
erro sobre a base do negócio e da alteração de circunstâncias constituem manifestações do princípio da
equivalência e da exigência de justiça interna do contrato.

Em suma:
- Nos contratos onerosos, deve existir equilíbrio de prestações:
. Mas só o “manifesto” desequilíbrio é sindicável (ex: art. 282º do Código Civil)

3 – A Personalidade Jurídica:

A personalidade é a qualidade de ser pessoa.


A personalidade jurídica é a susceptibilidade de ser titular de direitos e obrigações e de estar adstrito a
vinculações (ex: art. 66º, nº1 do Código Civil), ou de ser sujeito de direitos e obrigações ou de situações
jurídicas.
Partindo da susceptibilidade de direitos e obrigações chegamos à conclusão que a personalidade é uma
consequência da titularidade de direitos e obrigações. Fala-se de personalidade para exprimir a qualidade
ou condição jurídica do ente em causa – ente que pode ter ou não ter personalidade. Este ponto de vista,
ao aceitar a personalidade jurídica como algo construído pelo Direito, tem a vantagem de facilitar a
compreensão da personalidade colectiva e da sua inclusão num amplo conceito geral-abstracto de
personalidade jurídica. Existe o defeito de colocar no mesmo plano a personalidade das pessoas humanas
e a das pessoas colectivas.

Partindo da personalidade, entendida como qualidade de ser pessoa, para a atribuição de direitos e
obrigações, conclui-se, ao contrário, que a titularidade de direitos e obrigações é uma simples
consequência do facto de se ser pessoa, e não a sua causa. Tem a desvantagem de dificultar a teorização
técnico-jurídica da personalidade colectiva, ao quebrar a unidade de um conceito geral abstracto de
personalidade jurídica que abrangesse tanto as “pessoas individuais” como as “pessoas colectivas”.

A personalidade jurídica é, assim, a qualidade de ser pessoa, que o Direito reconhece a todas as pessoas
pelo simples facto de o serem, que se traduz no necessário tratamento jurídico das pessoas como pessoas,
isto é, como sujeito e não como objecto de direitos e deveres, como originariamente dotadas da dignidade
inviolável de pessoas humanas, que o Direito não pode deixar de respeitar e que constitui um dado
extralegal, de Direito Natural.

Em suma:
- Qualidade para ser titular de direitos e deveres:
. Início no “nascimento completo e com vida”: - Direitos sem sujeito?
- Personalidade retroactiva?
- Condição suspensiva?
- Personalidade do nascituro?

. Termo: - Morte cerebral


- Morte presumida (ex: art. 68º, nº3 do Código Civil)
- Morte presumida (ex: art. 114º do Código Civil)

4 – Capacidade Jurídica:

A Capacidade Jurídica é a susceptibilidade de ser titular de situações ou posições jurídicas activas ou


passivas, de direitos ou vinculações.
O art. 67º do Código refere que a capacidade é genérica, isto é, que, em princípio, não tem restrições,
embora possa ser restringida pela lei.
A capacidade jurídica não se deve confundir com a personalidade, pois esta, é uma qualidade, um conceito
qualitativo, enquanto a capacidade jurídica é de natureza quantitativa. Assim, a personalidade existe ou
não existe, não pode ser graduada, restringida, condicionada, limitada.
Diferentemente, a capacidade pode ser restringida por lei e pode, nesse sentido, ser mais ou menos ampla.
A noção de capacidade desdobra-se em 2áreas distintas:
- Titularidade
- Exercício Pessoal e Livre
Ninguém pode, segundo o artigo 69.° do Código Civil, renunciar à capacidade, quer no todo, quer em parte.
Ex: art. 26º, nº1 e nº4 da Constituição da República Portuguesa

Existem 2tipos de capacidade:


- Capacidade de Gozo: também chamada capacidade de direito, é a susceptibilidade de ser titular de
direitos, de situações jurídicas. Nas pessoas singulares é genérica (ex: art. 67º do Código Civil). Tem a ver
com a titularidade
- Capacidade de Exercício: também chamada capacidade de agir, é a susceptibilidade que a pessoa tem
de exercer pessoal e livremente os direitos e cumprir as obrigações que estão na sua titularidade, sem a
intermediação de um representante legal ou o consentimento de um assistente. Numa visão mais
concreta, é a possibilidade que cada pessoa tem de agir pessoal e directamente, isto é, de actuar no
mundo do Direito. Nas pessoas singulares é genérica. Tem a ver com o exercício pessoal e livre

A importância da distinção entre Capacidade de Gozo e Capacidade de Exercício reside também em tornar
claro que a titularidade não fica prejudicada pela insusceptibilidade de exercício pessoal e Livre. Os
interditos e os inabilitados não deixam de ser titulares dos seus direitos, obrigações e situações jurídicas,
não obstante os não poderem exercer pessoal e livremente. Quem estiver privado da capacidade de
discernimento e de livre vontade, ou por menoridade, ou porque sofre de deficiência que os diminua ou
afaste, não perde a titularidade dos seus direitos, obrigações e situações jurídicas, embora sofra restrições
quanto ao exercício correspondente.

Existe a Incapacidade Jurídica que é a medida de direitos e vinculações de que uma pessoa não é
susceptível. Que pode ser de 2tipos:
- Incapacidade de Gozo: reporta-se à titularidade de direitos e vinculações de que uma pessoa pode
gozar. Neste campo não é viável suprir uma incapacidade. Não admite suprimento.
Ex: O impedimento dirimente absoluto ao casamento do menor de idade inferior a dezasseis anos no art.
1601º, alínea a) do Código Civil, o menor com idade inferior a dezasseis anos não pode casar, nem mesmo
representado ou assistido pelos titulares do poder paternal
- Incapacidade de Exercício: está em causa a impossibilidade de certa pessoa que é titular de um
determinado direito, exercê-lo pessoalmente.
Que pode ser:
. Incapacidade de Exercício Genérica: quando uma pessoa não pode praticar todos os actos
. Incapacidade de Exercício Específica: quando uma pessoa não pode praticar alguns actos

Ex: Entre os 16 e os 18anos, a incapacidade do menor para casar é de exercício.


Depois de feitos os 16anos e antes de completar os 18anos, pelo art. 1604º, alínea a) do Código Civil e o
art. 1612º do Código Civil, o menor pode casar se tiver autorização dos pais que exerçam o poder paternal
ou pelo tutor, podendo ainda esta autorização ser suprida pelo conservador. Todavia, se o menor casar
com a autorização ou com o seu suprimento fica emancipado (art. 132º do Código Civil) cessando assim a
sua incapacidade. Porém, se o fizer sem a autorização ou sem o seu suprimento judicial, o menor, pelo art.
1649º do Código Civil, continua a ser considerado menor em relação à administração dos bens que leve
para o casal ou que lhe sejam concedidos gratuitamente até á maioridade.

5 – Legitimidade:

A Legitimidade é a particular posição da pessoa perante um concreto interesse ou situação jurídica


que lhe permite agir sobre eles.
É um conceito de natureza relacional. A legitimidade resulta sempre de uma relação privilegiada entre a
pessoa que age e os concretos interesses ou situações sobre os quais ela está habilitada a agir.
Em regra, a legitimidade coincide com a titularidade. Nas situações normais, quem tem legitimidade para
exercer um direito, para cumprir um dever, para dispor de um bem ou para agir sobre um interesse são os
seus titulares. No entanto, tal pode não suceder e não haver coincidência entre a titularidade e a
legitimidade.
A Legitimidade distingue-se da capacidade com nitidez, porque a capacidade é uma situação enquanto que
a legitimidade é uma relação. A capacidade tem a ver com a possibilidade da titularidade ou do livre e
pessoal exercício de direitos e obrigações por parte da pessoa e tem a ver com essa mesma pessoa
independentemente de um especial relacionamento com situações ou interesses. A legitimidade traduz-se
numa relação privilegiada entre a pessoa e uma situação ou um interesse que é de molde a permitir-lhe
agir sobre eles. A capacidade é situacional enquanto a legitimidade é relacional.
Há casos, no Direito, em que, para além do titular, outras pessoas podem ter legitimidade para agir.
Ex: O cumprimento de obrigações, que pode ser feito por terceiro ou a terceiro, nos casos e nas condições
do art. 767º ao art. 771º do Código Civil. A lei permite, nestes casos, que o pagamento de uma certa dívida
seja feito por terceiro que não o devedor, ou seja feito a terceiro que não o credor.

6 – Titularidade:

É a designação que se dá à ligação que existe entre o direito subjectivo e a pessoa a quem este
pertence.

7 – Capacidade Natural:

Era a aptidão congénita para actuar no caso concreto, só é relevante nos casos “previstos na lei ”
(ex: art. 125º, nº1, alínea b) do Código Civil) e normalmente para alargar o âmbito da capacidade de
exercício.

8 – Esfera Jurídica:

Diferente do estado civil é a esfera jurídica. Esta é o complexo de direitos e vinculações de que uma
determinada pessoa é titular.
Estes direitos e vinculações são naturalmente muito variáveis de pessoa em pessoa e, na mesma pessoa,
em cada momento. Cada vez que uma pessoa adquire ou perde um direito, constitui uma obrigação ou
cumpre um dever, estas vicissitudes repercutem-se correspondentemente na sua esfera jurídica.
Na esfera jurídica podem distinguir-se 2hemisférios:
. De natureza pessoal: Esfera Jurídica Pessoal
. De natureza patrimonial: Esfera Jurídica Patrimonial

A Esfera Jurídica Pessoal é o complexo de situações, direitos e vinculações de natureza pessoal de que a
pessoa é titular.
A Esfera Jurídica Patrimonial é o complexo de situações, direitos e vinculações de natureza patrimonial de
que a pessoa é titular.

A distinção entre Esfera Jurídica Pessoal e Esfera Jurídica Patrimonial implica a distinção entre o carácter
pessoal e o carácter patrimonial das situações, direitos e vinculações e postula a existência de um critério.
O critério da distinção entre a Esfera Jurídica Pessoal e a Esfera Jurídica Patrimonial é a patrimonialidade.
Pertencem à Esfera Jurídica Patrimonial as situações, direitos e vinculações de natureza patrimonial, os
demais pertencem à Esfera Jurídica Pessoal. Mas este critério não fica completo sem que se disponha de
um critério de patrimonialidade que permita distinguir quais são as situações, direitos e vinculações que
têm carácter patrimonial e quais as que o não têm.

Critério da Patrimonialidade: é a susceptibilidade de avaliação em dinheiro. Têm carácter patrimonial e


pertencem à Esfera Jurídica Patrimonial as situações, direitos e vinculações jurídicas avaliáveis em
dinheiro, susceptíveis de apreciação em valor pecuniário.
9 – Incapacidades:

Como direito das pessoas comuns, o Direito Civil contenta-se com os padrões de esclarecimento e
de liberdade inferiores ao normal, que se encontram na normalidade das pessoas, nas pessoas comuns.
No entanto, existem pessoas que, em virtude de circunstâncias várias, sofrem de deficiências de
esclarecimento e de liberdade que as colocam em situação de inferioridade na vida de relação. Essas
pessoas são, desde logo, os menores.
Desde o dia do nascimento, em que têm uma vida pouco mais do que vegetativa e em que a sua liberdade
e esclarecimento são praticamente nenhuns, os menores vão desenvolvendo as suas capacidades físicas e
mentais, e adquirindo experiência, conhecimentos e liberdade de acção até atingirem a maturidade
suficiente para poderem agir na vida e no Direito com autonomia completa.
Também no que respeita aos maiores, a maturidade própria da idade adulta é por vezes perturbada por
deficiências que lhes diminuem, ou mesmo os privam totalmente da liberdade e esclarecimento exigíveis
para uma actuação autónoma no Direito. Tal pode ser consequência de decrepitude da idade, de doenças
ou de acidentes sofridos, de deficiências originárias ou adquiridas, ou mesmo de desvios de carácter e de
comportamento. O Direito Civil prevê a vigência de regimes especiais de protecção, que devem ser
aplicados quando, por qualquer destas causas, ou eventualmente de outras, as pessoas maiores sofram de
deficiências de liberdade e de esclarecimento tais que os coloquem abaixo do padrão comum de
normalidade e que exijam ou justifiquem uma protecção especial.

10 – Incapacidade dos Menores:

São menores todas as pessoas desde que nascem, até completarem 18anos de idade, art. 122º do
Código Civil.
É possível descortinar na lei 4estádios diferentes de maturidade, a que correspondem as idades
7/12/16/21 anos.
Aos 7anos, segundo o art. 488º, nº2 do Código Civil, cessa a presunção de inimputabilidade do menor.
O art. 1981º, nº1, alínea a) e o art. 1984º do Código Civil prevêem o consentimento do menor de 12anos
para a sua adopção.
O art. 1901º, nº2 do Código Civil impõe que o filho maior de 14anos de idade seja ouvido quando haja
desacordo entre os pais quanto a questões importantes em matéria de poder paternal.
Aos 16anos o menor adquire capacidade de gozo para casar (art. 1601º do Código Civil), cessa a sua
imputabilidade penal (art. 19º do Código Penal), e adquire capacidade de exercício, quando tenha casado e
ainda, no caso do art. 127º, nº1, alínea a) do Código Civil, para actos de administração e disposição dos
bens que tenha adquirido pelo seu trabalho.
Aos 21anos, em Direito Penal, cessa o regime especial dos jovens delinquentes.

Pelo art.127º, alínea b) do Código Civil reconhece-se a capacidade ao menor para a prática dos actos que
estejam ao alcance da sua capacidade natural. Este regime não é geral e a lei restringe-os aos negócios
próprios da vida corrente do menor que só impliquem despesas ou disposições de bens de pequena
importância. A concretização destes conceitos é muito elástica e depende da idade e da maturidade
concretas de cada menor, apreciadas caso a caso. Como é evidente, o âmbito dos negócios próprios da
vida corrente do menor vai-se alargando com a sua idade e com a sua crescente maturidade, assim como o
limite do valor dos actos que se podem considerar de pequena importância não é fixo e aumenta com a
idade e a maturidade do menor, com a dimensão da sua fortuna e a importância dos negócios em que
esteja envolvido. A regra geral continua, todavia, a ser a da aquisição da capacidade geral aos 18anos, com
a maioridade, embora com fortes desvios, de carácter excepcional, quer no sentido do estabelecimento de
patamares etários, quer na determinação da capacidade civil pela capacidade natural.

Segundo o art. 123º do Código Civil, os menores carecem, em princípio, de capacidade de exercício.
Tal não significa que não sejam afectados por incapacidades de gozo.
No art. 2189º, art. 1601º, art. 1850º e no art. 1913/nº2 do Código Civil não há incapacidade de exercício,
mas verdadeira incapacidade de gozo, porque se não trata apenas da limitação ao pessoal e livre exercício
de direitos, mas antes à sua titularidade.
É, contudo, no âmbito da capacidade de exercício que o menor sofre de uma incapacidade geral. O art.
123º do Código Civil estabelece a regra geral da incapacidade genérica de exercício em relação aos
menores. Admite excepções. Assumem, todavia, um carácter de alguma amplitude as previstas no art.
127º do Código Civil.

No art. 127º do Código Civil excepciona expressamente à regra geral da incapacidade de exercício, três
categorias de actos do menor.
No art. 127º, nº2 do Código Civil é limitada aos bens de que o menor tenha livre disposição a
responsabilidade pelos actos relativos a profissão, arte ou ofício e pelos actos praticados no seu exercício.
Ao recorrer amplamente a conceitos indeterminados na redacção do art. 127º do Código Civil, são-nos
dadas excepções que consagram, uma grande amplitude e elasticidade.
No que respeita à alínea a), há que ter em atenção que o menor pode trabalhar, em princípio, desde os
16anos, embora o possa fazer, em casos especiais, desde os 14anos. Com o produto do seu trabalho pode
adquirir bens com alguma importância, que para a sua administração e disposição lhe é conferida
capacidade.
A alínea b), faz coincidir a capacidade de exercício com a capacidade natural. Este regime é limitado aos
actos próprios da vida corrente do menor. A lei não se refere à vida corrente do menor concreto cujos
actos estejam em questão. A limitação de que sejam patrimonialmente de pequena importância remete
também para um conceito relativo, para valores que sejam de pequena importância em relação ao
estatuto e à vida económica do menor.
A alínea c) abrange todos os actos relativos à profissão, arte ou ofício que o menor seja autorizado a
exercer ou praticados no seu exercício. Significa que na autorização para o menor exercer uma profissão
está implícita a atribuição de capacidade de exercício para os actos respectivos. Não seria verdadeiramente
possível ao menor exercer uma profissão sob representação dos seus pais ou legais representantes. Como
cautela, a lei limita os bens de que o menor tenha livre disponibilidade a responsabilidade pelos actos
relativos à profissão, arte ou ofício.

A incapacidade dos menores cessa quando atingem a maioridade ou quando são emancipados, pelo art
129º do Código Civil.
A emancipação ocorre no caso de casamento, do menor, já com 16anos ou mais, e autorizado pelos pais
ou tutor, ou tendo essa autorização sido suprida segundo o art. 1601º e o art. 1604º do Código Civil.
Caso o menor com 16anos ou mais case sem a referida autorização ou o seu suprimento é considerado
menor quanto à administração de bens, segundo o art. 1649º do Código Civil.

A incapacidade dos menores é suprida pelo poder paternal, pela tutela, segundo o art. 124º do Código
Civil, e pelo regime de administração de bens.
Pelo art. 1881º, nº1 do Código Civil pertence ao poder paternal o poder de representação do filho pelos
pais no exercício de todos os direitos e no cumprimento de todas as obrigações. Quando surja conflito de
interesses entre os pais e o filho, devem ser nomeados pelo Tribunal um ou mais curadores especiais que o
representem nessas matérias – art. 1881º, nº2 do Código Civil.

A incapacidade do menor é suprida pela tutela segundo o art. 1921º do Código Civil, quando os pais
tenham falecido, ou estejam inibidos do poder paternal quanto à regência da pessoa do filho, quando
estejam impedidos de facto de exercer o poder paternal, ou quando sejam incógnitos. Nestes casos, o
menor é representado pelo tutor.
Poderá ainda ser instituído um regime de administração de bens nos termos do art. 1992º do Código Civil,
quando os pais tenham sido excluídos, inibidos ou suspensos da administração de todos ou alguns dos
bens do incapaz e quando a entidade a quem compete designar o tutor confie a outrem a administração de
todos ou parte dos bens do menor.
Em todos estes casos, a incapacidade do menor é suprida por representação legal.
O menor não fica privado dos seus direitos, mas não pode exercê-los pessoalmente. Tanto no exercício dos
direitos como no cumprimento das suas obrigações, o menor não age pessoalmente, mas através de
outrem, o seu legal representante.

A consequência dos actos praticados pessoalmente pelo menor com violação da sua incapacidade de
exercício é a invalidade, na modalidade de anulabilidade.
O sentido e o conteúdo jurídico da invalidade é tratado a propósito dos negócios jurídicos, em tema de
consequência da ilícitude das acções. Para aí se remete.
Na matéria específica da incapacidade dos menores, deve, no entanto, ser tratada a legitimidade para
pedir a anulação dos actos praticados pelos menores que colidam com a sua incapacidade e, bem assim, o
tempo dentro do qual pode ser invocada a sua invalidade.
Segundo o art. 125º, nº1 do Código Civil, certas pessoas têm legitimidade para requerer a anulação dos
actos do menor por incapacidade.
A anulabilidade pode ser sana, segundo o art. 125º, nº2 do Código Civil.

Não poderá, porém, ser invocada a anulabilidade do acto, com fundamento na menoridade do seu autor,
se este, ao praticar o acto se tiver feito passar por maior, usando de dolo. Este regime, constante do art.
126º do Código Civil, tem suscitado divergências de interpretação.

Segundo Pedro Pais Vasconcelos a interpretação, que parece mais correcta, o dolo bloqueia a invocação da
invalidade, quer pelo próprio menor, quer pelos seus legais representantes ou herdeiros.
A favor da interpretação há 2argumentos que parecem decisivos:
. Um emergente da posição jurídica dos representantes legais e dos herdeiros em relação ao menor
. Um que decorre dos princípios da boa fé, da confiança e da aparência, e da tutela de terceiros.

Os representantes legais do menor, sejam eles os pais, o tutor, ou o administrador de bens, ao agirem no
Direito nessa qualidade não prosseguem interesses próprios, mas antes os interesses do menor, e não
exercem direitos próprios autónomos, mas antes os direitos do próprio menor.
Também os herdeiros do menor sucedem nas suas posições jurídicas, são seus sucessores e não
transmissários.

Os princípios da boa fé, da confiança e da aparência suportam com firmeza a interpretação segundo a qual
o dolo do menor pode ser oposto, quer ao próprio menor agindo pessoal e directamente, quer aos seus
representantes legais, quer finalmente aos seus herdeiros.
O fundamento é o sentido do regime do art. 126º do Código Civil em que por um lado na proscrição da má
fé e do abuso do direito, na modalidade típica do "venire contra factum proprium”, e por outro na tutela
dos, terceiros que, em boa fé, confiaram fundadamente na aparência de maioridade criada dolosamente
pelo próprio menor.
Se é eticamente insustentável a posição do menor que, depois de enganar a outra parte fazendo-a crer que
é maior, vem invocar a sua própria menoridade para anular o negócio, também é demasiadamente
inseguro e nocivo para o exercício jurídico, e injusto para a outra parte, permitir a anulação nessas
condições.
A tutela do interesse do menor continua a ter algum peso neste regime ao só permitir que a tutela da
confiança e da aparência prevaleçam em caso de dolo do menor, com a exclusão dos casos de simples
culpa, e ao onerar o terceiro com a prova do dolo, prova que só em casos de dolo muito intenso e muito
claro será impossível.
O facto de o menor agir em juízo por intermédio dos seus representantes legais, ou de essa acção ser
protagonizada, “post mortem” pelos seus herdeiros não parece constituir modificação suficiente para
desconsiderar a tutela da boa fé e da confiança.
Em conclusão, parece ser melhor interpretação aquela segundo a qual o regime do art. 126º do Código
Civil se aplica, quer quando a anulabilidade seja requerida directa e pessoalmente pelo próprio menor,
quer quando o seja pelas demais pessoas a quem o art. 125º do Código Civil reconhece legitimidade
para o fazer.

Em suma:
. Menoridade: o menor é quem tiver menos de 18 anos ou não tiver sido emancipado pelo casamento e
que carece de capacidade genérica de exercício (art. 123º do Código Civil).
É representado, segundo o art. 124º do Código Civil, pelo:
- Poder paternal
- Tutela
- Administração de bens
Pelo que a prática de actos pelo próprio menor, fora das hipóteses do art. 127º do Código Civil, torna-os
anuláveis pelo art. 125º do Código Civil:
- Pelos representantes, até à maioridade ou emancipação
- Pelo próprio ex-menor, após a maioridade ou emancipação
- Pelos seus herdeiros, se o menor falecer dentro do prazo que dispunha para anular
- Tais actos podem, porém, ser confirmados segundo o art. 125º, nº2 do Código Civil e o art. 288º do
Código Civil pelos respectivos representantes
. O regime da menoridade mantém-se mesmo depois da:
- Maioridade, na hipótese do art. 131º do Código Civil
- Emancipação, na hipótese do art. 1649º do Código Civil

11 – A Incapacidade dos Interditos e dos Inabilitados:

A interdição e a inabilitação têm consequências diferentes.


A interdição institui um regime de incapacidade análogo ao da menoridade. Segundo o art. 139º do Código
Civil, o interdito é equiparado ao menor. De acordo com este preceito, ao interdito são aplicáveis, com as
necessárias adaptações, as disposições que regulam a incapacidade por menoridade e fixam os meios de
suprir o poder paternal. O interdito sofre, assim, de uma incapacidade geral de exercício. A incapacidade
de exercício do interdito é suprida pelo tutor que tem a sua representação legal. O interdito, no exercício
dos seus direitos e no cumprimento das suas obrigações, é legalmente representado pelo seu tutor.
A inabilitação institui um regime de incapacidade de exercício diferente.
Os inabilitados, segundo o art. 153º do Código Civil, são assistidos por um curador, a cuja autorização estão
sujeitos os actos de disposição de bens entre vivos e todos os que, em atenção às circunstâncias de cada
caso, forem especificados na sentença.

São 2 os aspectos fundamentais em que a inabilitação se distingue da interdição:


. Modo de suprimento da incapacidade: é qualitativo. Na inabilitação a incapacidade não é suprida por
representação legal, mas sim pela assistência de um curador cuja intervenção se limita à autorização para a
prática de actos jurídicos. Na interdição, os actos são praticados por um tutor de representação legal do
incapaz, na inabilitação os actos são praticados pelo próprio incapaz com prévia autorização do curador. O
regime da inabilitação é mais maleável que o da interdição e a lei prevê, no art. 154º do Código Civil, que
no seu âmbito seja instituído o regime de administração de bens, pelo qual pode ser entregue ao curador a
administração da totalidade ou parte do património do inabilitado. Este regime é semelhante ao de
administração de bens do menor, havendo lugar à constituição de um conselho de família e à designação
de um subcurador, e à prestação de contas da administração. Este regime de administração é, do certo
modo, intermédio entre a interdição e o que é típico da inabilitação.
. Âmbito material da incapacidade: enquanto a interdição acarreta uma incapacidade geral, a
inabilitação acarreta a incapacidade para a prática de todos os actos de disposição de bens entre vivos,
mas não atinge, em princípio, a capacidade para a prática de actos de administração, salvos aqueles que,
em atenção as circunstâncias de cada caso, sejam especificados na sentença que a decretar.

Também diferentes são os fundamentos para o decretamento da interdição e da inabilitação.


Os fundamentos da interdição constam no art. 138º do Código Civil. Podem ser interditos do exercício dos
seus direitos, segundo este preceito, todos aqueles que por anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira
se mostrem incapazes de governar suas pessoas e bens. Os fundamentos da inabilitação estão enumerados
no art. 152º do Código Civil, segundo o qual, podem ser inabilitados os indivíduos cuja anomalia psíquica,
surdez-mudez ou cegueira, embora de carácter permanente, não seja de tal modo grave que justifique a
sua interdição, assim como aqueles que, pela sua habitual prodigalidade ou pelo abuso de bebidas
alcoólicas ou de estupefacientes, se mostrem incapazes de reger convenientemente o seu património.
A comparação dos fundamentos da interdição e da inabilitação é frutuosa.
Dela se pode retirar, em primeiro lugar, que existem fundamentos comuns - anomalia psíquica, surdez-
mudez e cegueira - e fundamentos específicos da inabilitação - prodigalidade e abuso de estupefacientes
ou de bebidas alco6licas.

Em segundo lugar, que em ambos os casos têm de ser permanentes e duradouros. A expressão "embora
de carácter permanente" inclusa no texto do art. 152º do Código Civil e o regime da incapacidade acidental
impõem a conclusão. A afectação temporária ou acidental não dão lugar ao decretamento da interdição ou
da inabilitação, mas sim no regime da incapacidade acidental, consagrado no art. 257º do Código Civil.
A terceira conclusão que se retira da comparação é a de que a deficiência que funda a interdição é mais
grave do que a que funda a inabilitação. O texto do art. 152º do Código Civil é claro nesse sentido quando
nele se lê, em relação a anomalia psíquica, surdez-mudez e cegueira, que são fundamento de inabilitação
se não forem de tal modo graves que justifiquem a interdição. Daqui se pode retirar o sentido, mesmo
para alem dos casos concretos da anomalia psíquica, surdez-mudez e cegueira, de que uma concreta
deficiência funda a inabilitação quando não seja de tal modo grave que justifique o decretamento da
interdição. Neste sentido, a inabilitação é de certo modo residual. Poderá, assim, aceitar-se que
deficiências emergentes, por exemplo, de prodigalidade e abuso de bebidas alcoólicas ou de
estupefacientes sejam de tal modo graves que justifiquem a interdição em vez da inabilitação, sendo então
reconduzidas ao conceito inevitavelmente muito elástico de anomalia psíquica.
A quarta e última conclusão é talvez a mais significativa. A interdição, segundo o art. 138º do Código Civil,
deve ser decretada sempre que a causa seja de molde a impedir as pessoas por ela afectadas de governar
as suas pessoas e bens, enquanto a inabilitação deve ser decretada, segundo o art. 152º do Código Civil,
quando a causa as impeça de reger convenientemente o seu património. No primeiro caso, é a pessoa e o
seu património que estão em perigo, no segundo é só o seu património. No primeiro caso, trata-se da
incapacidade para governar as suas pessoas e bens, no segundo, a incapacidade para reger
convenientemente o seu património. O interditando é alguém que não consegue, de todo, cuidar da sua
pessoa e dos seus bens, enquanto o inabilitando é alguém que não consegue cuidar convenientemente dos
seu bens, mas não precisa de auxílio para cuidar da sua pessoa.

Da comparação das causas de interdição com as causas de inabilitação é de concluir que devem ser
interditadas as pessoas que, em consequência de deficiência, que pode ser do foro psíquico ou físico, ou
mesmo de carácter, não estejam em condições de cuidar de si próprias, não estejam em condições de
cuidar nem do seu património, nem da sua própria pessoa. Por isso, o art. 145º do Código Civil consagra
como dever especial do tutor cuidar especialmente da saúde do interdito, podendo para isso alienar
(vender) os seus bens, uma vez obtida autorização judicial. No caso da inabilitação é notório que não esta
em causa a pessoa do incapaz, mas apenas o seu património e, mesmo no que a esse património respeita,
só os actos de disposição são, em princípio acautelados. Os actos de administração só são abrangidos pela
incapacidade se assim for especialmente decidido.

A interdição e a inabilitação não resultam da simples verificação dos seus pressupostos: têm de ser
decretadas judicialmente.

A lei determina, no art. 141º do Código Civil, quem tem legitimidade para requerer a interdição, regra que
se aplica também à inabilitação por remissão do art. 156º do Código Civil.
Têm legitimidade:
. Cônjuge
. Tutor ou curador
. Qualquer parente sucessível
. Titular do poder paternal do menor
. Ministério Público

O processo especial de interdições e inabilitações, regulado do art. 944º ao art. 963º do Código de
Processo Civil e dominado por preocupações de publicidade, no intuito de dar um conhecimento tão amplo
quanto possível da pendência do processo e da decisão a que conduzir, com a finalidade de protecção de
terceiros. Logo que recebida a petição inicial no tribunal, são afixados editais na porta da sede da Junta de
Freguesia do domicilio do interditando ou inabilitando e publicado anúncio num dos jornais mais lidos da
sede da comarca. O mesmo sucede quando tenha transitado em julgado a decisão do processo. Estas
publicações têm grande importância para o regime dos actos praticados pelo interditando ou inabilitando
antes ou durante o processo, e depois de decretada a incapacidade.
O tribunal decretará a interdição ou a inabilitação consoante a gravidade da eficiência e, ao fazê-lo, não
está vinculado ao pedido do requerente. Se o requerente pedir a interdição, pode decretar a inabilitação e,
vice-versa, se lhe for pedida a inabilitação, pode decretar a interdição. Em caso de urgência, pode ser
decretada a interdição ou inabilitação provisória.
A interdição e a inabilitação cessam e são levantadas quando cesse a causa que as determinou (ex: art.
151º e art. 155º do Código Civil). No entanto, o levantamento da inabilitação que tenha sido decretada
com fundamento em prodigalidade ou no abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes só pode ser
decidido passados pelo menos 5anos sobre o decretamento da inabilitação ou sobre a última decisão em
que tenha sido desatendido o pedido de levantamento. Tal como o decretamento, o levantamento da
interdição ou da inabilitação têm de ser objecto de decisão judicial.

Os actos celebrados pelo interdito ou pelo inabilitado sem o suprimento da sua incapacidade são
anuláveis. Mas há que distinguir consoante os actos sejam praticados depois do registo da sentença,
durante a pendência do processo, ou antes do seu início.
Os actos praticados pelo interdito pessoalmente, sem a representação do tutor, ou praticados pelo
inabilitado sem autorização do curador, depois do registo da sentença no registo civil, são anuláveis (ex:
art. 148º do Código Civil). Os actos praticados depois da publicação dos editais e anúncios da pendência da
acção e até ao registo da sentença, segundo o art. 149º do Código Civil, são também anuláveis, desde que
a interdição ou a inabilitação venham efectivamente a ser decretadas com trânsito em julgado.
Os actos praticados antes da publicidade inicial da acção, segundo o art. 150º do Código Civil, são em
princípio válidos. No referido artigo remete-se a questão da sua validade para o regime da incapacidade
acidental. Esta remissão tem significado de que os actos assim praticados serão também inválidos se, ao
serem praticados, o seu autor estiver de facto incapacitado de entender o seu sentido ou privado do livre
exercício da sua vontade, e desde que esse facto seja notório ou conhecido do declaratário. Tem um
sentido útil, que é o de deixar claro que, no que respeita aos actos praticados antes da publicidade da
acção, a sua impugnação com fundamento na deficiência do interditando ou inabilitando só pode ser
obtida por incapacidade acidental. Quer isto dizer que só constitui fundamento de anulação a deficiência,
neste caso, quando se prove que, de facto, o autor do acto estava privado da capacidade de o
compreender ou privado do controlo da sua vontade, e se prove ainda que tal situação era notória ou
conhecida da outra parte ou do destinatário do acto.
Por efeito das remissões no art. 139º e do art. 156º do Código Civil, é aplicável ao regime de invalidade por
incapacidade dos actos praticados pelos interditos e pelos inabilitados o regime de invalidade por
incapacidade dos actos dos menores contido no art. 125º do Código Civil, mas é de excluir a vigência
“mutatis mutandis” do regime do art. 127º do Código Civil.

Em suma:
. Interdição:
- Fundamentos (art. 138º do código Civil):
. Anomalia psíquica
. Surdez-mudez Que afectem gravemente a capacidade de
. Cegueira discernimento
- Efeitos (art. 139º do Código Civil):
. Os mesmos da menoridade (art. 139º e art. 123º do Código Civil)
- Representantes:
. Tutela (mas com o conteúdo do poder paternal se os pais forem os tutores)
. Administração de bens
- Valor dos actos praticados pelo interdito:
. Antes do registo de propositura da acção de interdição: anuláveis nos termos do art. 257º do
Código Civil
. Antes do registo da decisão de interdição: anuláveis nos termos do art. 149º do Código Civil
. Depois deste registo: anuláveis nos termos do art. 125º do Código Civil
. Inabilitação:
- Fundamentos (art. 152º do Código Civil):
. Anomalia psíquica
. Surdez-mudez Que afectem menos gravemente a capacidade
de discernimento
. Cegueira
. Abuso de álcool ou estupefacientes
. Habitual prodigalidade
- Valor dos actos praticados pelo inabilitado:
. Antes do registo de propositura da acção de inabilitação: anuláveis nos termos do art. 257º do
Código Civil
. Antes do registo da decisão de inabilitação: anuláveis nos termos do art. 149º do Código Civil
. Depois deste registo: anuláveis nos termos do art. 153º e do art. 154º do Código Civil
- Actos de disposição:
. Assistência
. Representação
- Actos de administração:
. Liberdade
. Assistência
. Representação

12 – Direito de Personalidade:

Estão consagrados principalmente na Constituição da República Portuguesa e no Código Civil.


Na Constituição da República Portuguesa:
- Preâmbulo: “decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos
fundamentais dos cidadãos”
- Art. 1º declara que: “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na
vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”
- Art. 8º admite a vigência na ordem interna do direito internacional respeitante aos direitos
fundamentais
- Art. 13º reconhece que: “todos os cidadãos são iguais perante a lei”
- Art. 24º e seguintes consagram os direitos à vida, à integridade física e moral, à identidade pessoal, à
capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra e à reserva da intimidade
privada, à liberdade e segurança, à inviolabilidade do domicílio e da correspondência, à constituição de
família, à liberdade de consciência/religiosa e de culto
- Art. 18º determina a aplicação dos direitos acima referidos
- Art. 288º impõe como limite material à sua própria revisão o respeito dos direitos, liberdades e
garantias dos cidadãos

Garantiu-se assim a dignidade constitucional dos direitos fundamentais e o núcleo fundamental dos
direitos de personalidade.

No Código Civil:
- Art. 70º proclama: “a lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua
personalidade física ou moral” que “ independentemente da responsabilidade civil a que haja lugar, a
pessoa ameaçada ou ofendida pode requerer as providências adequadas às circunstâncias do caso, com o
fim de evitar a consumação da ameaça ou atenuar os efeitos da ofensa já cometida”
- Art. 71º admite a protecção dos direitos de personalidade depois da morte do respectivo titular
- Art. 72º protege o direito ao nome
- Do art. 75º ao art. 78º tutela a reserva das cartas missivas confidenciais, das memórias familiares e
outros escritos, e das cartas missivas não confidenciais
- Art. 79º consagra o direito à imagem
- Art. 80º o direito à reserva da intimidade da vida privada
- Art. 81º admite a limitação voluntária negocial dos direitos de personalidade, enquanto não for
contrária à ordem pública

Direitos sobre bens ligados à própria pessoa (ex: art. 24º, art. 25º, art. 26º e art. 27º da Constituição da
República Portuguesa ; art. 79º e art. 80º do Código Civil) são:
. Absolutos: porque gozam de protecção perante todos os outros cidadãos
. Pessoais: porque são direitos insusceptíveis de avaliação em dinheiro
. Indisponíveis: porque não se pode renunciar ao direito de personalidade, se fizer essa vontade é nula,
nos termos do art. 81º, nº1 do Código Civil (ex: art. 67º do Código Civil)
. Intransmissíveis: quer por vida, quer por morte, estes direitos constituem “o mínimo necessário e
imprescindível do conteúdo da personalidade”.
. Atípicos

Distinguem-se formalmente dos:


. Direitos Humanos – para o Direito Internacional
. Direitos, Liberdades e Garantias Pessoais – Direito Constitucional

Para o Direito Constitucional o que está em causa, nesta matéria, é a limitação da soberania do Estado
para protecção dos direitos dos cidadãos segundo o art. 18º da Constituição da República Portuguesa.

Em Direito Privado, dado o princípio da paridade, qualquer limitação sobre direitos de personalidade a
favor de terceiros somente se pode fundar no consentimento do titular atingido. O consentimento pode
ser:
. Tolerante (art. 340º do Código Civil): quando apenas está em causa a justificação da ilicitude de uma
conduta
. Autorizante (art. 81º do Código Civil): quando, por contrato, se concede a terceiro o direito de lesar a
esfera jurídica do lesado
. Vinculante (art. 405º do Código Civil): quando os usos sociais aceitam que certos riscos para bens
primordiais são, apesar disso, aceitáveis e, portanto, obrigam quem a eles se sujeitou livre e
esclarecidamente

Protecção do Direitos de Personalidade:


. Responsabilidade civil (ex: art. 483º do Código Civil)
. Responsabilidade penal
. Remédios adequados ao caso concreto (ex: art. 70º/nº2, art. 1474º, art. 1475º do Código de Processo
Civil)

13 – Direito à Vida:
É o mais importante dos direitos de personalidade.
Está consagrado no art. 24º da Constituição da República Portuguesa que declara que “a vida humana é
inviolável”, decorre de um direito “inato”, adquirido no nascimento, e por tanto intransmissível,
irrenunciável e indisponível e que por isso “em caso algum haverá pena de morte”. Do direito à vida
decorre a ilicitude do suicídio, do auxílio e da instigação ao suicídio e da eutanásia.

14 – Direito à Integridade Física e Psíquica:

Constitui um paradigma de defesa da personalidade contra ameaças e agressões que se traduzam


em lesões da integridade física e psíquica das pessoas.
A integridade física e psíquica são postas em causa sempre que algo existe que as põe em perigo ou as
ofende.
Ex: . Ruídos causados por obras ou estabelecimentos de diversão e impeçam o sono
. Emissão de gases de instalações industriais nocivos à saúde

15 – Direito à Inviolabilidade Moral:

As pessoas são seres morais, que vivem num ambiente povoado de valores éticos que são da maior
importância, que integram a sua personalidade e que merecem cautela jurídica. Neste campo inserem-se a
autonomia moral, a liberdade religiosa da convicção e de culto, o respeito pelos mortos e pela sua
memória, o respeito pela honra, pela privacidade e pelo pudor.
O art. 41º da Constituição da República Portuguesa garante a liberdade de consciência, de religião e de
culto, referindo que ninguém pode ser discriminado por causa da sua crença religiosa. O art. 71º do Código
Civil diz que os direitos de personalidade gozam de protecção depois da morte do respectivo titular e assim
defende a esfera dos familiares, o mandamento ético de respeito pela memória dos mortos, conferindo-
lhes legitimidade para requererem os remédios previstos no art. 70º do Código Civil.

Ex: Uma pessoa morre e os familiares devido à perda do familiar sofrem danos morais e podem receber
uma indemnização

16 – Direito à Honra ou Direito ao Bom Nome e Reputação:

O Direito à Honra ou ao Bom Nome e Reputação está consagrado no art. 26º da Constituição da
República Portuguesa. Está inserido no âmbito da inviolabilidade moral, assim como a tutela da
privacidade e do pudor.
O Direito à Honra é um bem precioso da personalidade. A honra é a dignidade pessoal pertencente à
pessoa enquanto tal, e reconhecida na comunidade em que se insere e em que coabita e convive com as
outras pessoas.
A honra existe:
. Numa vertente pessoal e subjectiva: traduz-se no respeito e consideração que cada pessoa tem por si
própria
. Numa vertente social e objectiva: traduz-se no respeito e consideração que cada pessoa merece ou de
que goza na comunidade a que pertence

A perda ou lesão da honra resulta ao nível:


. Pessoal e subjectivo: na perda do respeito e consideração que a pessoa tem por si própria
. Social e objectivo: na perda do respeito e consideração que a comunidade tem pela pessoa
A lesão da honra pode não ser total. O respeito e consideração que a pessoa tem por si própria ou de que
goza na comunidade são apenas diminuídos, agravados, feridos, mas não perdidos.
Todas as pessoas têm o direito à honra pelo simples facto de existirem. É um direito inerente à qualidade e
à dignidade humana. As causas de perda ou do detrimento da honra são em termos gerais, acções da
autoria da própria pessoa ou que lhe sejam imputadas, e que sejam consideradas reprováveis.
São ilícitas as ofensas à honra.
As ofensas à honra cometidas pela comunicação social são gravosas, pois o impacto dos meios de
comunicação de massa (ex: rádio, televisão, imprensa) têm credibilidade na sociedade. A liberdade de
imprensa não sobreleva o direito à honra.
Embora, quando é do interesse público, o direito à honra e à privacidade não podem impedir a revelação
daquilo que é estritamente necessário.

Em suma:
. É ilícito “afirmar ou difundir um facto capaz de prejudicar o crédito ou o bom nome de qualquer pessoa,
singular ou colectiva”, pelo art. 484º do Código Civil
- 1º: A solução é evidente sempre que em causa estejam factos ou qualidades inexistentes ou
inverídicas
- 2º: Afirmação ou a divulgação de factos verídicos há-de fazer-se no respeito por duas condições
decorrentes da fórmula contida no nº2 do art. 80º do Código Civil:
. Primeira: que a violação do “bom nome e da reputação” alheia se funde em alguma causa
justificativa (ex: o interesse público)
. Segunda: que o meio ou o instrumento utilizado para o efeito não envolva uma ofensa excessiva
ao referido “bom nome e reputação” (ex: justifica-se que uma dívida fiscal de um membro do Governo seja
anunciada nos meios de comunicação social, mas já não o mesmo género de dívida de um qualquer
particular ainda que se trate de pessoa com notoriedade pública)

17 – Direito à Identidade Pessoal e ao Nome:

No art. 26º da Constituição da República Portuguesa o Direito à Identidade Pessoal é fundamental.


É um direito de personalidade, porque orientado funcionalmente à tutela da dignidade humana, através de
defesa daquilo que garante a infungibilidade, a indivisibilidade e a irrepetibilidade de cada uma das
pessoas humanas.
Toda a pessoa tem direito à individuação, como pessoa única com uma dignidade própria.
No art. 72º, art. 73º e art. 74º do Código Civil verificamos o direito ao nome, a usá-lo, completo ou
abreviado.

Em suma:
. Direito à Identidade Pessoal:
- História Pessoal
- Nome (direito-dever):
. Nome pessoal
. Nome profissional
. Pseudónimo
. Firma

18 – Direito à Imagem:
O Direito à Imagem está consagrado no art. 79º do Código Civil e no art. 26º da Constituição da
República Portuguesa.
Trata-se da defesa da pessoa contra a exposição, reprodução ou comercialização do seu retrato, sem o seu
consentimento. O consentimento é dispensado pelo art. 79º, nº2 do Código Civil quando assim o
justifiquem a sua notoriedade, o cargo que desempenhe, exigências de polícias ou de justiça, finalidades
científicas, didácticas ou culturais, ou quando a reprodução da imagem vier enquadrada na de lugares
públicos, ou na de factos de interesse público ou que hajam ocorrido publicamente.
Mas esta dispensa cessa pelo art. 79º, nº3 do Código Civil quando “do facto resultar prejuízo para a honra,
reputação ou simples decoro da pessoa retratada”.

Em suma:
. Regra: a imagem só pode ser obtida/divulgada:
- 1º: mediante o consentimento do visado
- 2º: para o efeito consentido
. Excepção: não se requer o consentimento tratando-se:
- de “figura pública” (por si ou pelo cargo que represente)
- de exigências de polícia ou de justiça
- de finalidades científicas, didácticas ou culturais
- de “factos públicos” (lugares públicos, factos de interesse público ou que tenham sucedido
publicamente)
. Contra-excepção: requer-se o consentimento se a divulgação ofender a honra, reputação ou decoro

19 – Direito à Palavra:

. Regra: a palavra só pode ser obtida/divulgada:


- 1º: mediante o consentimento do visado
- 2º: para o efeito consentido
. Excepção: não se requer o consentimento tratando-se:
- de “figura pública” (por si ou pelo cargo que represente)
- de exigências de polícia ou de justiça
- de finalidades científicas, didácticas ou culturais
- de “factos públicos” (lugares públicos, factos de interesse público ou que tenham sucedido
publicamente)
. Contra-excepção: requer-se o consentimento se a divulgação ofender a honra, reputação ou decoro

Em suma:
. Direito à Palavra:
- Direito à Voz
- Direito às “palavras ditas”

20 – Direito à Intimidade Privada:

. Regra: a intimidade alheia só pode ser acedida e/ou divulgada:


- 1º: mediante o consentimento do visado
- 2º: para o efeito consentido
Esta regra pode entender-se em termos:
- Absolutos: de modo em que existe um conteúdo mínimo intangível
- Relativos: de modo em que existe um conteúdo mínimo variável consoante o caso concreto: parece
ter sido esta a orientação geral do Código Civil pois “a extensão da reserva é definida conforme a natureza
do caso e a condição das pessoas” (art. 80º, nº2 do Código Civil).
Todavia, há um conjunto de informações pessoais quase inatingível – art. 35º, nº3 da Constituição da
República Portuguesa

21 – Direito à Liberdade Pessoal:

. Regra: art. 27º, nº1 da Constituição da República Portuguesa


. Excepções:
- Sentença judicial privativa desde que a lei puna com prisão ou medida de segurança
- Casos do art. 27º, nº3 da Constituição da República Portuguesa

Contra a detenção ou prisão ilegal: “Habeas


Corpus” – art. 31º da Constituição da
República Portuguesa
A liberdade pessoal fundamenta:
. A liberdade de movimentos, logo, liberdade de deslocação, fixação, emigração e imigração, pelo art.
44º da Constituição da República Portuguesa
. Proibição de exclusão (art. 33º da Constituição da República Portuguesa):
- Somente os estrangeiros (Lei 23/2007) podem ser expulsos mas desde que:
a) Não tenham título de permanência válido
b) Tendo-o, tenha existido decisão judicial nesse sentido
- Os portugueses podem ser extraditados desde que:
a) Se verifiquem condições de reciprocidade
b) Em casos de terrorismo e criminalidade internacional organizada
c) Com garantia de processo justo e equitativo
d) Em que haja garantia de não aplicar pena de prisão perpétua
e) Que não tenha fundamento político
f) A que não corresponda pena de morte ou lesão irreversível da integridade física
g) Que seja autorizada por decisão judicial

22 – Início da Personalidade Jurídica e o Estatuto Jurídico do Nascituro:

Segundo o art. 66º do Código Civil, a personalidade adquire-se no momento do nascimento


completo e com vida. Os direitos que a lei reconhece aos nascituros dependem do seu nascimento.
Há que distinguir, a este propósito, a situação de quem ainda não nasceu mas já foi concebido, e a
expectativa de alguém vir a ser gerado. É muito diferente.
No primeiro caso, já existe alguém, com vida no seio da mãe. No segundo caso, nada existe a não ser a
possibilidade de alguém vir a ser gerado, no futuro.

Nascituros: data aqueles que já foram concebidos e têm vida no seio da mãe mas ainda não nasceram.
Trata-se de uma situação transitória e limitada no tempo, porque os nascituros não podem manter-se
nessa situação mais do que o tempo da gestação. Podem morrer antes de nascer. Podem também nascer
com vida.

Concepturos: são aqueles que ainda não foram sequer concebidos. Os concepturos não existem, são
simples esperanças ou expectativas. No entanto, a lei permite que lhes sejam destinadas certas atribuições
patrimoniais, para o caso de virem a ser gerados.
Esta diferença, exige uma clara separação do seu regime jurídico.
Os concepturos nada são. Pelo contrário, os nascituros são seres humanos, com vida, que se encontram
numa particular fase da sua vida. A vida humana tem início na concepção por comunicação da vida de
ambos os pais. Daí em diante, o nascituro desenvolve-se de um modo progressivo e ininterrupto, sem
patamares nítidos. Não há grande diferença entre a véspera do nascimento e o dia seguinte. A vida é a
mesma e algumas funções vitais tornam-se mais autónomas do que as da mãe. O recém-nascido continua
a depender da mãe para quase tudo. A sua natureza como ser humano não se altera.

O nascimento importa, porém, uma importante modificação no que respeita ao contacto e relacionamento
da pessoa. Antes de nascer o nascituro praticamente apenas tem contacto com a mãe. Embora oiça e sinta
algo do que se passa no exterior da mãe e possa ser influenciado, e mesmo ferido, pelo exterior, o
nascituro relaciona-se pessoalmente apenas com a sua mãe.

Após o nascimento, o recém-nascido, passa a relacionar-se com as outras pessoas.


O nascimento significa o ingresso da pessoa na cidade.

A relevância da pessoa no direito é sobretudo interpessoal. Por isso, o nascimento tem, uma grande
relevância jurídica. Mas nem por isso a pessoa deixa de existir e de ser relevante para o Direito antes de
nascer. A sua natureza humana é a mesma, a sua situação biológica continua a evoluir, a sua situação
jurídica modifica-se de acordo com a natureza das coisas.

O nascituro é um ser humano vivo com toda a dignidade que é própria da pessoa humana. Não é uma
coisa.
A protecção jurídica que a lei lhe dá não é apenas objectiva. Se o fosse, o seu estatuto não seria diferente
daquele que é próprio das coisas ou animais especialmente protegidos. O próprio cadáver tem um regime
jurídico de protecção muito intensa, a uma coisa sagrada, mas o cadáver não tem vida nem dignidade
humana.

Como pessoa humana viva, o nascituro é pessoa jurídica. A sua qualidade pessoal impõe-se ao Direito, que
não tem o poder de negar a verdade da pessoalidade, da hominidade, da humanidade do nascituro. Não
pode, pois, deixar de ser reconhecida, pelo direito, ao nascituro a qualidade de pessoa humana viva –
personalidade jurídica.

Há vários preceitos, no Código Civil, que revelam que o nascituro já concebido a algo diferente e algo mais
do que uma coisa, do que uma víscera especialmente protegida:
- Segundo o art. 952º: os nascituros podem adquirir por doação, sendo filhos de pessoa determinada,
viva ao tempo da doação, presumindo-se que o doador reserva para si o usufruto dos bens doados até ao
nascimento do donatário
- Segundo o art. 2033º, nº1: reconhece capacidade sucessória, além do Estado, a todas as pessoas
nascidas ou concebidas ao tempo da abertura da sucessão, não exceptuadas por lei
- Segundo o art. 1878º: em matéria de poder paternal, incumbe aos pais a representação legal dos filhos
"ainda que nascituros"
- Segundo o art. 2240º, nº2: a atribuição da administração da herança do nascituro já concebido a quem
administraria os seus bens se ele já tivesse nascido

Todos estes preceitos e regimes legais revelam que o nascituro já concebido não é tido como coisa, mas
antes como pessoa.
A redacção do art. 66º do Código Civil não é feliz. Mas nem por isso deve o intérprete ficar prisioneiro da
sua letra. Como se disse atrás, a personalidade jurídica das pessoas humanas não depende da lei e está
fora do alcance do poder legislativo do Estado retirar ou não reconhecer a qualidade de pessoa humana a
quem a tem.
Por isso, o art. 66º do Código Civil deve ser entendido como referido a capacidade de gozo e não
propriamente à personalidade jurídica. A personalidade jurídica das pessoas humanas tem início
concomitantemente com o início da sua vida e existência enquanto pessoas. Este momento do início da
vida só consegue ser determinado num certo intervalo temporal, mas não exactamente, pelo art. 1789º do
Código Civil.

Porém, tal dificuldade não deve obstar a que se reconheça a qualidade e a dignidade humana e a
consequente personalidade jurídica a quem ainda está no seio da mãe, envolvido e protegido pelo seu
corpo, mas já existe com vida. Se pessoa, para o Direito, e sobretudo pessoa-em-relação, a pessoa
nascitura tem uma relevância jurídica adequada à sua situação. E qual é essa situação?

Na fase pré-natal, a situação da pessoa tem 2características:


. O relacionamento pessoal exclusivo com a mãe: com a concomitante ausência de relacionamento
social, dispensa muito da complexidade e riqueza do estatuto jurídico das pessoas já nascidas. A limitação
do relacionamento com a mãe impede a capacidade de exercício e dispensa a própria capacidade de gozo,
salvo em matérias que são inerentes à própria qualidade de pessoa, como os direitos de personalidade, e
alguns direitos limitados de conteúdo patrimonial. A pessoa pré-nascida tem a titularidade dos mais
importantes direito, de personalidade: como o direito a viver, a identidade pessoal e genética, a
integridade genética e física. Tem direito a nascer, a ser aquela mesma pessoa, única e irrepetível, não
fungível. A moral comum assim o exige e a Constituição da República Portuguesa no art. 24º e no art. 25º
assim o reconhece.
. A precariedade: da pessoa pré-nascida suscita a necessidade de regular os casos em que não chega a
haver nascimento com vida. A precariedade impõe que se encontre a solução jurídica para os casos em
que, após a gestação, o embrião morre antes de nascer. Se houver nascimento com vida, a pessoa
continua com a vida e a personalidade jurídica que já tinha, a sua capacidade de gozo torna-se genérica,
com as limitações apenas da sua natureza humana e aquelas que a lei estabelece, e fica numa situação de
incapacidade de exercício geral, como menor. O nascimento traduz apenas o início da capacidade genérica
de gozo. Se não chegar a nascer com vida, o nascituro é tido pela lei (ex: art. 66º, nº2 do Código Civil) como
não tendo chegado a existir. A morte pré-natal não desencadeia a sucessão. Os direitos de personalidade
extinguem-se com a extinção da personalidade. Os direitos patrimoniais e outros que seriam susceptíveis
de sucessão são extintos retroactivamente. Os direitos que o pré-nascituro tenha adquirido por doação
(ex: art. 952º do Código Civil) ou sucessão
(ex: art. 2033º do Código Civil), e cuja administração foi exercida pelos pais ou outras pessoas, a quem
caberia a sua administração após o nascimento (ex: art. 1878º e art. 2240º, nº2 do Código Civil), cessam
retroactivamente, e, tudo se passa come se não tivesse chegado a existir. É uma ficção legal imposta
pragmaticamente pela necessidade de simplificar a complexidade da vida. Mas não passa duma ficção.

Tem sido discutido se o facto do nascimento funciona como uma condição suspensiva ou como uma
condição resolutiva da personalidade jurídica.
A construção positivista formalista da personalidade jurídica só consegue ultrapassar esta dificuldade
considerando que, antes do nascimento, os direitos atribuídos ao nascituro são direitos sem sujeito.
O nascituro tem ou não personalidade jurídica? É incontestável que o nascituro tenha vida e substância
humana desde a concepção. Daí decorre que tem a qualidade de pessoa humana. A personalidade é a
qualidade de ser pessoa que o Direito se limita a constatar, sem ter de reconhecer e sem poder negar. O
modo de ser da personalidade no Direito é a personalidade jurídica. É inegável, pois, a personalidade
jurídica do nascituro desde a sua concepção.

O nascimento tem relativamente pouca relevância biológica no nascituro. É no aspecto relacional que esse
facto tem um impacto importante, pois o relacionamento pessoal da criança, que até ao nascimento se
reduzia à mãe, alarga-se então a outras pessoas. Com o nascimento, o recém-nascido, que já tinha vida
humana e personalidade jurídica, sai do seio da mãe e ingressa na cidade.

A construção tradicional do estatuto jurídico do nascituro por 2 factores de perturbação:


. Monismo Tradicional: na doutrina portuguesa que identifica formalmente a personalidade humana
com a colectiva
. Formalismo Positivista: que não permite uma clara distinção entre personalidade jurídica e capacidade
de direito

Só a personalidade colectiva é determinada por lei, mas já o não é a personalidade individual.


Mas, a personalidade jurídica das pessoas humanas e das pessoas colectivas é qualitativamente diferente.
Aquela está fora do domínio da lei, esta é determinada pela lei. Deve antes, partir-se da descoberta da
qualidade humana ou não humana. Admitindo que o nascituro é um ser humano com vida, é inexorável a
sua qualificação como pessoa jurídica.

Outra questão é a aferição da capacidade de direito, da capacidade de gozo do nascituro. Esta sim pode ser
limitada ou condicional. A capacidade de direito do nascituro é limitada pela natureza das coisas. Limita-se
aos direitos de personalidade, que são inerentes à sua hominidade, e aqueles que a lei lhe atribui: direito
de adquirir por herança e por doação.
A capacidade genérica do gozo, segundo o art. 66º do Código Civil, só se adquire com o nascimento
completo com vida.

A capacidade jurídica pré-natal é condicionada pelo nascimento.


Desde a concepção, o nascituro é já titular de direitos de personalidade, entre os quais assumem particular
relevância o direito a viver, a identidade pessoal e genética.
Se o nascituro vier a nascer com vida, a sua capacidade de gozo alarga-se, com o nascimento, embora a sua
capacidade de exercício se mantenha nula como é próprio do estatuto jurídico da menoridade. Se morrer
antes de nascer, a sua morte extingue a personalidade. Os seus direitos de personalidade, extinguem-se,
como sucede com qualquer pessoa. A diferença concentra-se na sua esfera jurídica patrimonial. Não é
aberta sucessão por sua morte e os seus direitos patrimoniais extinguem-se. A lei tem como não
concebidos aqueles que não chegaram a nascer com vida. É uma ficção que funciona retroactivamente.

Assim se distingue bem o estatuto dos nascituros do regime jurídico dos concepturos.
Os concepturos não estão concebidos, não têm vida humana, e não têm sequer existência. Não são entes.
O termo concepturo exprime apenas uma possibilidade abstracta de alguém vir a ser concebido.

Em relação ao concepturo não se coloca sequer a possibilidade de reconhecimento de personalidade ou de


capacidade. Por isso, não deve ser confundido o seu regime jurídico com o dos nascituros, ainda que o
legislador, com uma deficiente técnica de redacção, os tenha por vezes associado na letra da lei. O
intérprete não pode, porém, deixar de distinguir.
Quando uma doação é feita a um nascituro, o bem ou direito doado entra na sua titularidade desde o
tempo da doação, se já for concebido. Se for ainda concepturo, o bem ou direito doado não pode entrar na
titularidade de quem não existe e mantém-se na esfera jurídica do doador até que, porventura, venha a
ser concebido ou designado. A doação deve ser entendida como feita sob condição suspensiva da
concepção. O nº2 estabelece uma presunção de que o doador reserva o usufruto até ao nascimento, mas
esta presunção é ilidível (ex: art. 350º, nº1 do Código Civil). No uso da autonomia privada, o doador pode
estipular outras condições, termos ou o demais que entender. Se o concepturo não vier a ser concebido, a
doação acabará por caducar quando houver a certeza de que se não poderá verificar (ex: art. 275º, nº1 do
Código Civil). Se vier a haver concepção, o bem ou direito doado entram na titularidade do nascituro, na
data em que for fixada a concepção, se posterior à doação, ou na data da doação, se posterior à
concepção. Se o nascituro, após ter adquirido por doação, vier a morrer antes do nascimento, a lei
considera que não chegou a existir e a doação caduca com eficácia retroactiva, ficcionando-se que o bem
ou direito doado nunca chegou a deixar a titularidade do doador.

O art. 2033º do Código Civil ao admitir a capacidade sucessória dos nascituros, distingue já os nascituros
dos concepturos. O nascituro entra na sucessão legítima e legitimária, o que não sucede com o concepturo
que pode ser designado apenas na sucessão testamentária ou contratual. Tal como na doação, a
titularidade de situações e posições jurídicas emergentes da sucessão só se inscreve na esfera jurídica do
nascituro, no que ao concepturo respeita, há apenas uma designação sob condição suspensiva da sua
concepção ou nascimento, consoante resultar da interpretação do título.

A administração dos bens que ao nascituro sejam doados cabe aos seus pais, de acordo com o art. 1878º
do Código Civil. Tal como sucede quando o herdeiro ou o legatário são instituídos sob condição suspensiva,
a herança ou o legado do nascituro são postos em regime de administração até que a concepção ou o
nascimento se verifiquem ou haja a certeza que não virão a suceder (ex: art. 2237º do Código Civil).

A lei distingue o regime da administração da herança ou do legado, consoante se rate de nascituro ou de


concepturo:
. No primeiro caso: a administração cabe a quem caberia se tivesse já nascido
(ex: art. 2240º, nº2 do Código Civil)
. No segundo caso: a administração é deferida às pessoas de quem seria filho ou, se for incapaz, ao seu
representante legal (ex: art. 2240º, nº1 do Código Civil)

23 – O termo da Personalidade Jurídica: a morte

O termo da personalidade jurídica, segundo o art. 68º do Código Civil, ocorre com a morte. A Lei nº
141/99, de 28 de Agosto, rege a verificação da morte das pessoas. A morte é um facto jurídico com uma
enorme relevância. Trata-se de um dado pré ou extrajurídico, no sentido de que não é a lei que determina
a morte das pessoas e não pode dar como morta quem for vivo, nem vice-versa.
A verificação da morte e a determinação do seu tempo, nem sempre é fácil ou clara.
O Direito comete essa tarefa aos médicos e à Medicina. A referida Lei nº 141/99 determina que a Ordem
dos Médicos defina, mantenha actualizados e divulgue os critérios médicos, técnicos e científicos de
verificação da morte (ex: art. 3º, nº2 da Lei nº 141/99).

A verificação da "morte cerebral" e do seu tempo compete ao médico de acordo com as regras da arte, os
meios técnicos e os ensinamentos da ciência disponíveis.
A verificação da morte compete aos médicos (ex: art. 3º da Lei nº 141/99). Se a pessoa estiver doente ou
tiver um médico assistente, deverá a morte ser verificada por esse médico. Se assim não for, e se a pessoa
morrer sem assistência médica, o óbito será verificado pelo médico "que em primeiro lugar compareça".

Sucede, por vezes, que duas ou mais pessoas morrem conjuntamente, em circunstâncias tais que se torna
impossível determinar se alguma delas sobreviveu à outra.

O art. 68º, nº2 do Código Civil adoptou a regra da comoriência, que se traduz em se presumir em caso de
dúvida, que faleceram simultaneamente, sem que uma delas tenha sobrevivido à outra. Esta presunção de
comoriência pode ser ilidida por prova em contrário, de acordo com o regime geral do art. 350º, nº2 do
Código Civil.

A morte é verificada, em princípio, perante o cadáver. Porém, as circunstâncias da morte por vezes não
permitem recuperar o cadáver. Quando, não obstante não ter sido possível, encontrar ou identificar o
cadáver, o desaparecimento tenha ocorrido em circunstâncias tais "que não permitam duvidar da morte”,
o nº3 do art. 68º do Código Civil estatui que se tem a pessoa por falecida.

A personalidade jurídica cessa com a morte. O regime do art. 71º do Código Civil não deve ser invocado
como indício de prolongamento da personalidade e da sua tutela para além da morte. Trata-se de um
equívoco originado por uma defeituosa redacção da lei. O preceito do art. 71º do Código Civil não tutela
direitos de personalidade do defunto, mas antes e apenas os direitos dos seus familiares e herdeiros ao
respeito pelo defunto. As pessoas vivas têm direito e também o dever ao respeito pelos seus mortos.
Trata-se, no obstante a redacção da lei, de direitos de personalidade inscritos na esfera jurídica de pessoas
vivas.

24 – O Património:

À Esfera Jurídica Patrimonial corresponde o Património.


O património de uma pessoa corresponde à sua Esfera Jurídica Patrimonial e compreende todas as
situações jurídicas activas e passivas de carácter patrimonial que em cada momento se encontram na
titularidade dessa pessoa.
Situações jurídicas activas correspondem a direitos patrimoniais.
Situações jurídicas passivas, são as obrigações de carácter patrimonial.

O património de uma pessoa é de conteúdo variável. Durante a vida da pessoa, o seu património vai
variando a sua composição à medida que essa pessoa vai adquirindo ou alienando bens patrimoniais e vai
construindo e solvendo dívidas e obrigações. O património altera-se e modifica-se sempre e em cada
momento em que a pessoa pratica um qualquer acto com relevância patrimonial ou sempre que, mesmo
na sua passividade alguém de outrem exerce um poder potestativo que tenha a eficácia de fazer inscrever
ou modificar uma situação patrimonial activa ou passiva na sua esfera jurídica.

O património pode modificar-se sem que essa modificação seja a consequência directa e imediata de uma
acção por parte do seu titular. A modificação pode ocorrer por acto de outrem ou por simples facto
jurídico.
A destruição ou desaparecimento de uma coisa em virtude de forças da natureza, por exemplo, de um
incêndio causado por um raio, provoca o seu desaparecimento ou, em termos mais correctos, a extinção
do correspondente direito de propriedade no património do seu titular.
Também o exercício por outrem de um direito ou de um simples poder potestativo, por exemplo a
interpelação para cumprir, tem eficácia directa no património do devedor. Assim como o simples facto de
outrem, por exemplo a morte, tem eficácia directa no património do seu herdeiro.

Em princípio o património tem unidade e autonomia.


Cada pessoa tem o seu património. Não há pessoas sem património, embora possam ter um património
vazio, em que o saldo entre o valor das situações activas e das situações passivas seja nulo, ou um
património negativo, em que esse saldo seja negativo.
É o que sucede com os insolventes, cujo activo não é suficiente para cobrir o passivo.

Nenhuma pessoa tem mais de um património. Embora a pessoa possa ter o seu património ou partes dele,
ou bens que o integram, sujeitos a diversos regimes jurídicos, como sucede se esses bens se encontrarem
em diferentes países ou estiverem, por razoes de Direito Internacional Privado, sujeitos a ordens jurídicas
diversas, o património continua a ser um só, porque ele mesmo se define como o complexo de situações
jurídicas patrimoniais, activas e passivas, que estão na titularidade de uma pessoa.
Existem figuras jurídicas que podem parecer pôr em causa a unidade do património.
Ex: Estabelecimento individual de responsabilidade limitada, regido pelo Decreto-Lei nº 248/86 de 25 de
Agosto, que institui um regime jurídico especialíssimo segundo o qual a pessoa, no caso um comerciante,
pode afectar uma parte determinada do seu património a uma certa actividade, ficando as bens que
integram essa parte do património especialmente afectas às responsabilidades emergentes daquela
actividade. Neste caso, embora haja uma certa separação de regime jurídico de responsabilidade por
dívidas, continua a haver apenas um património.

A autonomia patrimonial tem o sentido de que pelas situações passivas de um património respondem
apenas as situações activas que o integram. Ou seja, nos casos em que os bens que integram o património
não sejam suficientes para satisfazer o respectivo passivo, não poderão os credores recorrer a outro
património para obter a satisfação do seu crédito. Esta matéria não levanta dificuldades no que respeita às
pessoas singulares, em relação às quais se não põe a hipótese de recorrer aos patrimónios de parentes,
herdeiros, ou outras pessoas próximas, mas coloca-se já com alguma acuidade no que concerne às pessoas
colectivas.
No que respeita a alguns tipos de pessoas colectivas, sociedades civis, sociedades em nome colectivo e em
comandita, os patrimónios dos sócios respondem subsidiariamente pelas dívidas que excedam as forças do
património da sociedade. Significa isto que, nestas pessoas colectivas, existe autonomia patrimonial
imperfeita.
A autonomia patrimonial, nestes casos é imperfeita porque o património não é perfeitamente estanque.
No entanto continua a existir porque, mesmo nestes casos, são os bens do património do devedor que
respondem em regra pelas respectivas dívidas e só em caso de estes não serem suficientes pode o credor
pretender ser pago pelo património dos sócios. Os sócios podem sempre exigir a prévia excussão dos bens
da pessoa colectiva devedora antes de responderem com os seus próprios bens. Quando assim suceda, os
sócios cujos patrimónios tenham sido sacrificados ficam com o direito de regresso contra a pessoa
colectiva a quem podem exigir o pagamento de tudo quanto foram forçados a pagar. Continua a haver
autonomia patrimonial embora a separação dos patrimónios seja menos nítida, embora os patrimónios
não sejam completamente estanques. A autonomia patrimonial é imperfeita.

No caso de pessoas colectivas de natureza muito pessoalizada, como são as sociedades civis simples, as
sociedades em nome colectivo e as comanditas, vigora, implícito no tipo, um regime análogo ao da fiança,
segundo o qual os sócios são solidários e subsidiariamente responsáveis pelo passivo. Tal não colide,
porém, com a sua autonomia patrimonial.
25 – Domicílio e Residência Habitual:

O domicílio é a sede jurídica da pessoa.


Para além da localização pessoal e efectiva, é importante, para fixar qual a sede jurídica das pessoas, a
localização que é relevante para o Direito. Esta localização relevante para o Direito é o domicílio.

O conceito de domicílio é de carácter normativo, o que se traduz em o domicílio ser aquele local onde o
Direito considera ser a sede da pessoa, embora esse local possa eventualmente não coincidir com a sua
efectiva e real localização. É o local onde, para efeitos jurídicos, ou para certos efeitos jurídicos, o Direito
tem a pessoa como localizada.
O domicílio encontra-se do art. 82º ao art. 88º do Código Civil.
No art. 82º do Código Civil estabelece os critérios para a determinação do domicílio geral das pessoas: a
residência habitual.
A residência habitual situa-se no local onde a pessoa fixa o centro da sua vida pessoal e onde
habitualmente reside.
Não devemos confundir “residência habitual” com a “residência permanente”, porque a residência habitual
pode não ser permanente.

A pessoa pode ter residências secundárias ou mesmo residências alternativas.


No caso de ter residências secundárias, o Direito considera relevante a residência principal,
desconsiderando as secundárias.
No caso de não ter nenhuma residência habitual, tem-se por domiciliada em qualquer delas.
No caso de não ter nenhuma residência habitual, considera-se domiciliada no local da residência ocasional
e, se esta não puder ser determinada, no local onde se encontrar.

Da regulamentação do domicílio no Código Civil pode extrair-se a sua classificação em:


. Domicílio Geral
. Domicílio Especial:
- Domicílio Voluntário ou Electivo
- Domicílio Legal ou Necessário

O domicílio profissional, encontra-se dentro do domicílio especial, é referido pelo art. 83º do Código Civil e
corresponde ao lugar onde a profissão é exercida. Se tiver mais de uma profissão ou só exercer uma
mesma profissão em locais diversos, considera-se domiciliada em cada um desses locais, no que respeita
às situações e relações jurídicas respectivas.

O domicílio electivo referido no art. 84º do Código Civil e corresponde a um domicílio convencional em que
as partes fixam para o efeito de determinados negócios. A lei exige que a estipulação do domicílio electivo
seja feita por escrito.
A estipulação de domicílio electivo ganha particular importância perante o regime do art. 224º do Código
Civil, segundo o qual as declarações negociais que têm um destinatário (declarações receptícias ou
recipiendas) se tornam eficazes quando chegam ao seu poder.
Sempre que seja estipulado um domicílio electivo num certo negócio, as declarações dele emergentes
devem ser dirigidas para o domicílio electivo do destinatário e tornam-se eficazes desde que e logo que
cheguem a esse lugar.
A lei poder fixar injuntivamente um domicílio legal e fá-lo, logo no Código Civil, em relação aos menores e
interditos, no art. 85º, aos empregados públicos, no art. 87º, e aos agentes diplomáticos portugueses, no
art. 88º.

Os menores têm domicílio legal no lugar da residência da família e, se estiver à guarda de apenas um dos
progenitores, no domicílio deste. Se tiver sido confiado, por decisão judicial, a terceira pessoa ou a um
estabelecimento de educação, o seu domicílio legal é o do progenitor que exercer o poder paternal e,
quando esteja sujeito a tutela, é o do respectivo tutor. Quando tenha sido instituído o regime de
administração de bens, o menor considera-se domiciliado no domicílio do administrador, no que respeita
aos bens abrangidos por aquele regime. Em todos estes casos, a lei estabelece uma limitação importante:
estas regras só são eficazes na medida em que delas não resulte a domiciliação do menor fora do território
nacional. Os interditos têm domicílio legal no domicílio do respectivo tutor (ex: art. 85º, nº3 do Código
Civil).

Em relação aos inabilitados, a lei nada estabelece expressamente, pelo que se deve entender que a sua
domiciliação se faz do mesmo modo da generalidade das pessoas. Quando, porém, a administração dos
seus bens seja entregue, no todo ou em parte, ao curador, tal como previsto no art. 145º do Código Civil,
deve entender-se que, no que respeita a essa administração, o inabilitado tem por domiciliado no
domicílio do curador, por analogia com o estatuído no art. 85º, nº4 do Código Civil.

Os empregados públicos têm domicílio legal, segundo o art. 87º do Código Civil, no lugar onde exercem
funções. Quando invoquem a extraterritorialidade, os agentes diplomáticos consideram-se domiciliados
em Lisboa, de acordo com o art. 88º do Código Civil.
As pessoas colectivas e as sociedades têm domicílio no lugar da sua sede.

Em suma:
. Domicílio (é o local uma pessoa se localiza para efeitos jurídicos):
- Voluntário geral = residência habitual
- Legal é determinado pela lei e o interessado não pode interferir (ex: o do profissional e o dos
incapazes)
- Electivo o voluntário é determinado pelo interessado para certa relação jurídica, é escolhido
livremente, por isso, não é imposto por lei
- Geral acontece na generalidade das relações jurídicas
- Especial acontece em certas relações jurídicas

26 – Estatuto Jurídico da Ausência:

Do art. 89º ao art. 121º do Código Civil trata-se do estatuto jurídico da ausência.
A ausência, no sentido que o Código Civil lhe atribui, não corresponde ao sentido comum do termo de
simples não presença, embora se não afaste muito dele.
Dos art. 98º, art. 112º e do art. 119º do Código Civil ressalta que o regime da ausência se funda no
desconhecimento ou na dúvida sobre se o ausente esta vivo ou morto.

A existência de uma massa de bens carente de administração, na titularidade de alguém que desapareceu
e se não sabe se está vivo ou morto, constitui factor de perturbação e de potencial perigo. Perigo para os
bens do ausente, que estão por administrar e à mercê das cobiças alheias, e perigo para a paz pública que
pode ser perturbada por apetências ou cobiças eventualmente geradoras de conflito.
A finalidade e o sentido que fundam o regime da ausência e que orientam as soluções legais são, por um
lado, a defesa da paz pública e, por outro e mais intensamente, a protecção do património do ausente dos
interesses dos seus sucessores.

O interesse público no instituto da ausência resulta claro da legitimidade reconhecida pela lei ao Ministério
Publico para oficiosamente requerer a justificação da ausência, mesmo que nenhum familiar ou herdeiro
ou outro interessado tomem essa iniciativa.
Mas o interesse dominante é, numa primeira fase, o do ausente, e subsequentemente o dos seus
sucessores. No estatuto jurídico da ausência há 3fases diferentes sequenciais, em que o interesse
dominante se vai transferindo da defesa do interesse do ausente, na perspectiva da sua sobrevivência e do
seu regresso, para o interesse dos seus sucessores, na expectativa de que já não sobreviva.

1ª Fase – Curadoria Provisória: o sentido jurídico do regime é o da protecção do património do ausente,


na expectativa do seu regresso. Isso é patente na nomeação de um curador provisório cuja posição
jurídica, atribuições e competências, são muito semelhantes às do tutor do interdito, no que respeita aos
seus bens, ou às do curador a quem tenha sido atribuída a administração de bens do inabilitado
2ª Fase – Curadoria Definitiva: os bens do ausente são entregues aos que os receberiam se o ausente
estivesse morto, herdeiros, legatários e outros interessados, já o sentido próprio do regime legal é
claramente mais o da protecção do interesse dos futuros titulares dos bens. A lei como que começa a
descrer da sobrevivência e do regresso do ausente e entrega a administração e mesmo a fruição dos seus
bens àqueles que por sua morte os irão receber
3ª Fase – Morte Presumida: a lei descrê da sua sobrevivência e presume a sua morte, sendo os bens do
ausente entregues então aos seus sucessores e àqueles que a eles teriam direito por morte do ausente.
Prevê-se ainda, todavia, a hipótese do ausente vir a regressar. Em todo o regime da ausência há sempre
um equilíbrio entre o interesse patrimonial do ausente e os interesses dos seus sucessores e dos que
tenham sobre os seus bens interesses dependentes da sua morte.

Na ponderação destes interesses, começa por ser privilegiado o interesse do ausente, mas com o passar do
tempo a esperança da sua sobrevivência e do seu regresso vai-se atenuando e o interesse dominante vai
sendo transferido para os seus sucessores e para os futuros destinatários dos bens.

Em suma:
. Ausência (é o desconhecimento prolongado do paradeiro de certa pessoa):
- Curadoria Provisória (art. 89º do Código Civil)
Art. 94º do Código Civil
- Curadoria Definitiva (art. 99º do Código Civil)
- Morte Presumida (art. 114º do Código Civil) Art. 115º do Código Civil

Direito Das Pessoas E Situações Jurídicas

1 – Pessoas Colectivas:

As pessoas colectivas nascem um agrupamento de pessoas que prosseguem fins próprios e


organizações humanas de afectação de bens à prossecução de fins institucionalizados. As pessoas
colectivas têm em comum com as pessoas colectivas aquilo em que correspondem ao exercício jurídico
colectivo de pessoas humanas (associações e sociedades de pessoas) e à autonomização de massas
patrimoniais ou à institucionalização de fins de pessoas humanas (sociedades de capitais e fundações).

A personalidade colectiva é atribuída pelo Direito perante a verificação do substrato, ou seja, perante a
realidade social que suporta a personalização.

O substrato é constituído por:


. Pessoas
. Bens
. Fins

A capacidade de gozo das pessoas colectivas é genérica. As pessoas colectivas não têm corpo, nem
sentidos, nem sentimentos, nem uma vontade psicológica ou intencionalidade. As pessoas colectivas
podem fundir-se, cindir-se, aumentar e reduzir o capital, modificar o seu fim social, dissolver-se, etc..

Capacidade de gozo (art. 160º, nº1 do Código Civil):


. A entender que o 160º/nº1 consagra o princípio da especialidade, serão nulos os actos praticados pela
pessoa colectiva fora dos seus fins
. Se, para protecção de terceiros, se entender que a capacidade de gozo das pessoas colectivas é
genérica, tais actos serão válidos e vinculativos (podendo, no máximo, gerar eventual responsabilização
interna daqueles que os praticaram)

Capacidade de exercício:
. As pessoas colectivas são sempre capazes de agir (salvo no caso de insolvência, mas apenas
entendendo-se esta como incapacidade)

Essa capacidade efectiva-se através dos respectivos órgãos externos - é a chamada


representação orgânica (o órgão é a pessoa colectiva)

Os órgãos das pessoas colectivas distinguem-se em 3classes:


. Órgãos Deliberativos: é a assembleia geral. São compostos pelos sócios e tem como principal função a
formação da vontade funcional da pessoa colectiva, a eleição dos titulares dos órgãos sociais, a fiscalização
da gestão e a aprovação das contas
. Órgãos Executivos: nas fundações e sociedades anónimas costuma designar-se como conselho de
administração. Nas associações e sociedades civis simples como direcção. Nas sociedades em nome
colectivo e por quotas como gerência. Tem como principal função a gestão da pessoa colectiva e a sua
actuação ou “representação” externa. Os seus membros são eleitos pela assembleia geral de entre os
sócios ou terceiros, conforme o tipo de pessoa colectiva
. Órgãos de Fiscalização: é designado por conselho fiscal. Pode ser unipessoal e aí é designado como
fiscal único. Tem como principais funções fiscalizar a gestão e as contas da pessoa colectiva. O conselho
fiscal é dispensado nas sociedades de pessoas (sociedades civis simples, sociedades em nome colectivo,
pequenas sociedades por quotas)

O regime jurídico da responsabilidade civil das pessoas colectivas está contido no art. 165º do Código Civil.
O regime jurídico da responsabilidade civil contratual das pessoas colectivas resulta do art. 800º, nº1 do
Código Civil.

Regime jurídico mínimo:


. Órgãos:
- Direcção
- Conselho Fiscal
- Assembleia Geral (para as corporações)

Os titulares dos órgãos são designados pela forma estabelecida nos estatutos.
Nas corporações, na falta de estatuto, cabe à assembleia geral fazer a designação (art. 170º do Código
Civil).

Estatutos: são o conjunto de normas que regulam a organização e o funcionamento da pessoa colectiva.

2 – Fundações:

São pessoas colectivas de carácter institucional de fins humanos e a sua prossecução é


personalizada uma organização dotada de bens e do suporte económico necessários. Não têm sócios nem
membros e correspondem à autonomização e institucionalização de um fim do seu fundador. Têm de ter
fins de interesse social. A sua constituição depende de um acto específico de reconhecimento pelo Estado.
Regem-se entre o art. 185º e o art. 194º do Código Civil. São instituídas por escritura pública, quando em
vida do fundador, ou por testamento.
Não têm assembleia geral, porque não têm sócios. Os membros do conselho de administração são
nomeados no acto de instituição ou pela entidade pública competente para o seu reconhecimento. Pelo
art. 189º do Código Civil os seus estatutos podem ser modificados pela entidade competente para o
respectivo reconhecimento, sob proposta da administração. A entidade competente pode atribuir um fim
diferente, segundo o art. 190º do Código Civil, quando esse fim tiver sido preenchido ou se tiver tornado
impossível.

As fundações extinguem-se nos casos previstos do art. 192º do Código Civil.

Extinta a fundação há que prover ao destino dos seus bens.


Os bens vinculados serão entregues a outra pessoa colectiva que tenha um fim compatível e que deverá
continuar a sua vinculação.
Os bens livres terão o destino que lhe for dado em lei especial ou nos estatutos caso estiver estipulado.

Nas fundações, os estatutos podem ser modificados pela entidade competente para o reconhecimento
desde que “se não contrarie a vontade do fundador” (art. 189º do Código Civil).

3 – Associações:

São pessoas colectivas de base associativa (corporações) constituídas por uma pluralidade de
membros com vista à realização de um fim e dotadas dos meios económicos necessários. Não têm fins
lucrativos. O voto é por “cabeça”, as participações não são transmissíveis e não há distribuição de
dividendos. Têm autonomia patrimonial perfeita, a responsabilidade por dívidas sociais é limitada ao
respectivo património e nunca se comunica aos sócios. A sua constituição é livre. Regem-se entre o art.
167º e o art. 184º do Código Civil.
Constituem-se por escritura pública com as indicações do art. 167º, nº1 do Código Civil.

Integram pelo menos 3órgãos:


. Assembleia Geral: art. 172º, nº2 do Código Civil
. Direcção: as suas atribuições e competência são fixadas nos estatutos
. Conselho Fiscal: procede à fiscalização da actividade e das contas da associação
Os órgãos das associações funciona através da tomada de deliberações sociais, ou seja, por actos jurídicos
não negociais pelos quais a pessoa colectiva forma a sua vontade funcional.

As associações extinguem-se nos casos previstos no art. 182º do Código Civil.

Extinta a associação há que prover ao destino dos seus bens.


Os bens vinculados serão entregues a outra pessoa colectiva que tenha um fim compatível e que deverá
continuar a sua vinculação.
Os bens livres terão o destino que lhe for dado em lei especial ou nos estatutos caso estiver estipulado.

Nas associações, os estatutos podem ser modificados por deliberação da assembleia (art. 172º, nº2 do
Código Civil) embora com maioria qualificada (art. 175º, nº3 do Código Civil).

3.1. Associações Sem Personalidade: são associações “vulgares” em tudo o que não pressuponha
personalidade e regem-se do art. 195º ao art. 198º do Código Civil.
Podem não ter adquirido a personalidade jurídica por não terem sido constituídas por escritura pública ou
por não cumpridas as demais exigências do art. 158º do Código Civil.
A lei prevê que estas associações tenham um fundo comum pelo art. 196º ao art. 198º do Código Civil.
Pelas dívida contraídas responde em 1ºlugar o fundo comum e se este não for suficiente, responde o
património do associado ou dos associados que contraíram as dívidas. Se estes patrimónios não forem
suficientes então respondem os patrimónios dos demais associados, na proporção das suas entradas.

Regime específico de responsabilidade social:


1º Fundo Comum
2º Património daqueles que tiverem contraído a dívida
3º Património dos demais associados

Fundo Comum: é o conjunto de bens em compropriedade mas com regime especial pois nenhum
associado tem o poder potestativo de fazer a respectiva divisão.

3.2. Comissões Especiais: estão previstas do art. 199º ao art. 201º do Código Civil. Trata-se de casos em
que uma pluralidade de pessoas se incumbe ou são incumbidas uma certa tarefa. Não têm fins lucrativos.
A lei admite a constituição de “fundos recolhidos” ou de “fundos angariados”. Os membros da comissão
são responsáveis pela conservação os fundos recolhidos, pela sua afectação ao fim visado e pelas dívidas
contraídas em nome da comissão. Quando não se cumpre o fim da comissão é que os respectivos fundos
podem ser restituídos aos subscritores.

4 – Sociedades:

São pessoas colectivas de carácter associativo, com fins lucrativos.

São sociedades comerciais aquelas que tenham por objecto a prática de actos de comércio e adoptem um
dos tipos previstos no Código das Sociedades Comerciais. A sua constituição é livre e as participações
sociais são transmissíveis. Os resultados líquidos positivos (lucros) apurados no exercício são distribuídos
pelos sócios (dividendos).
Existem os seguintes tipos de sociedades:
. Sociedade Civis Simples e as Sociedades Em Nome Colectivo não têm autonomia patrimonial perfeita,
respondendo os sócios pelas dívidas sociais, subsidiariamente em relação à sociedade, solidariamente
entre si e sem limitação de valor
. Sociedades Em Comandita respondem pelas dívidas sociais os sócios comanditados

Nas sociedades de pessoas (sociedades civis simples e sociedades em nome colectivo) o voto é por
“cabeça”.
Nas sociedades de capitais (sociedades por quotas e sociedades anónimas) e nas sociedades em
comanditas o voto é por capital.

4.1. Sociedades Civis Simples: estão previstas do art. 980º ao art. 1021 do Código Civil.

Elementos essenciais ao conceito de sociedade:


- A intervenção de 2 ou mais pessoas
- Que contribuem ou se obriguem a contribuir com bens ou serviços
- Para o exercício em comum
- De uma actividade económica
- Que não seja de era fruição
- A fim de repartirem entre si os lucros dela resultantes

Podem ser:
. Sob forma comercial transformam-se em Sociedades Anónimas, Por quotas,
Em nome colectivo, Em comandita
. Sob forma civil

4.2. Sociedades Civis de Tipo Comercial: são as sociedade que tenham por objecto a prática de actos de
comércio e adoptem o tipo de sociedade em nome colectivo, de sociedade por quotas, de sociedade
anónima, de sociedade em comandita simples ou de sociedade em comandita por acções. A forma de
contrato é livre. Todos os sócios têm igual poder de administrar. Os sócios têm direito à distribuição anual
dos lucros apurados.

Podem ser:
. Anónimas
. Por quotas
. Em nome colectivo
. Em comandita

5 – Corporações:

São pessoas colectivas de carácter associativo e sem fim lucrativo formadas por uma pluralidade de
pessoas que se associam para a satisfação das necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais
dos seus membros através da cooperação e entreajuda dos seus membros e com obediência aos princípios
cooperativas. O voto é por “cabeça” e não podem distribuir dividendos. As partes sociais não são
transmissíveis.

Nas corporações, a assembleia geral tem uma competência necessária (art. 172º, nº2 do Código Civil) e
uma competência residual (art. 172º, nº1 do Código Civil).

Em princípio, a qualidade de associado é pessoal (art. 180º do Código Civil), pelo que:
. É intransmissível
. Não admite representação voluntária
6 – Desconsideração da Pessoa Colectiva:

A desconsideração da pessoa colectiva ocorre quando não se dá a separação entre as esferas


jurídicas da pessoa colectiva e dos respectivos sócios, ou seja, quando o Direito imputa ao sócio a autoria
ou a responsabilidade de actos da pessoa colectiva e vice-versa.
A personalidade colectiva é um instrumento, por isso pode ser mal usado, designadamente defraudando
terceiros, e é para estes casos que se diz que se pode desconsiderar (“disregard”) a personalidade
colectiva.

Há basicamente dois modos de proceder à desconsideração:


- Fraude à lei
- Abuso do direito

Efeitos:
- Manutenção da personalidade mas tornando-a irrelevante para o caso concreto
- Responsabilidade civil

7 – Bens:

Os bens são os meios aptos a satisfazer uma necessidade, a realizar uma apetência ou a alcançar
um fim.

8 – Coisas:

Coisa é tudo aquilo que não sendo pessoa tem utilidade, individualidade e seja susceptível de
apropriação.

Classificação das Coisas:


. Corpóreas: são aquelas que se revelam aos sentidos e que são constatáveis. Distinguem-se entre:
- Materiais: compõem-se em matéria, têm dimensões, volume e massa
Ex: Prédios, estátuas, ferramentas
- Imateriais: não têm matéria mas possuem realidade e existência na natureza
Ex: Electricidade
. Incorpórea: são aquelas que têm uma existência meramente social, que não existem no mundo da
física, mas apenas no da sociedade
Ex: Obras literárias e artísticas, marcas, patetes de invenção
. Dentro do Comércio
. Fora do Comércio
Ex: Art. 202/nº2 do Código Civil, baldios, espécies de animais ou vegetais protegidas
. Móveis: é tudo o que não pertence ao solo e tudo o que não está ligado a este.
Ex: Art. 205º do Código Civil, árvores desenraizadas ou cortadas, as águas depois de separadas do solo,
arbustos cortados, frutos naturais colhidos
. Imóveis: é o solo e tudo o que lhe está ligado com carácter de permanência
Ex: Art. 204º do Código Civil
. Simples: são aquelas que não podem distinguir-se em mais de uma coisa
. Compostas: são aquelas que integram na sua unidade uma pluralidade de coisas
Ex: Art. 206º do Código Civil
. Complexas:
- Compostas: são aquelas que têm um tratamento jurídico unitário, mas cujas partes integrantes,
enquanto não forem separadas, não são juridicamente tratadas como coisas
Ex: Estante
- Colectivas: são aquelas que têm um tratamento jurídico unitário como coisas sem que as coisas que
as integram deixem de ser também autonomamente tratadas como coisas
Ex: Biblioteca
. Fungíveis: são aquelas que se determinam pelo seu género, qualidade e quantidade, quando
constituem objecto de relações jurídicas
Ex: Art. 207º do Código Civil, moeda, combustível, cadernos
. Infungíveis: são aquelas em que não é admissível a livre substituição e aquelas em que já não é
indiferente que se trate daquela coisa ou de outra
. Consumíveis: são aquelas que cujo uso regular importa a sua destruição ou a sua alienação
Ex: Art. 208º do Código Civil, matérias primas
. Inconsumíveis: são aquelas que cujo uso regular não importa a sua destruição ou a sua alienação
Ex: Livro
. Divisíveis: são aquelas que podem ser fraccionadas sem alteração da sua substância, diminuição do
valor ou prejuízo para o uso a que se destinam
Ex: Art. 209º do Código Civil, uma certa quantidade de gasolina
. Indivisíveis: são aquelas que ao serem fraccionadas alteram a sua substância, diminuem o seu valor ou
penalizam o uso a que se destinam
Ex: Terreno, quadro a óleo
. Presentes: são aquelas que não estão em poder do disponente, ou a que este não tem direito, ao
tempo da declaração negocial
. Futuras: são aquelas que coisas que ainda não existem e coisas que já existem mas que a pessoa que
delas dispõe não tem ainda em seu poder ou às quais não tem ainda direito
Ex: Art. 211º do Código Civil, frutos ainda não produzidos ou colhidos, cortiça ainda não retirada, colheita
futura, juros ainda não vencidos
. Principais
. Acessórias: são coisas móveis que desempenham, uma função instrumental ou ancilar em relação à
coisa principal, que se traduz na afectação ao serviço ou à ornamentação da outra. São coisas auxiliares de
outras
Ex: Art. 210º do Código Civil, carro com pneus, sapatos sem atacadores
. Frutíferas: são aquelas que produzem frutos sem prejuízo da sua substância
Ex: Art. 212º do Código Civil
. Infrutíferas: são aquelas que não produzem frutos

Frutos: são o rendimento normal da coisa frutífera e não detracções sucessivas do mesmo capital.
Os frutos podem ser:
. Naturais: são os que provêm directamente da coisa
Ex: Produtos da frutificação natural da coisa que ocorra em virtude das leis da natureza
. Puramente Naturais: são aqueles que são produzidos espontaneamente, sem intervenção do trabalho
humano
. Industriais: são aqueles que são produzidos com a intervenção do trabalho e do engenho humanos
. Civis: são as rendas ou interesses que a coisa produz em consequência de uma relação jurídica
Ex: Produzidos de acordo com a lei civil
. Pendentes: são aqueles que ainda estão ligados à coisa frutífera
. Separados: são aqueles que já foram desligados, colhidos ou consumidos da coisa frutífera

9 – Direito Subjectivo:

Para a teoria da vontade, o direito subjectivo é a vontade juridicamente protegida.


Para a teoria do interesse, o direito subjectivo é um interesse juridicamente protegido.
Para as teorias mistas, o direito subjectivo é, por exemplo, a vontade juridicamente protegida através da
tutela do correspondente interesse.

Situações Jurídicas:
. Activas:
- Direito Subjectivo:
. Direito Relativo
. Direito Absoluto
- Direito Potestativo
- Direito-dever
- Expectativa Jurídica

. Passivas:
- Obrigação
- Dever Genérico
- Sujeição
- Ónus

10 – Direito Potestativo:

É o direito de provocar, por declaração unilateral de vontade, efeitos jurídicos na esfera jurídica de
outra pessoa (ex: art. 1550º do Código Civil).
Podem ser:
. De exercício necessariamente judicial
. Ou de exercício extrajudicial

Podem ter efeitos:


. Constitutivos
. Modificativos
. Extintivos

11 – Direito Absoluto:

São aqueles que valem por si, não dependendo de nenhuma situação passiva simétrica que os
sustente (por isso não pressupõem relação jurídica).
Ex: Direitos reais, de autor, de personalidade, de propriedade industrial

12 – Direito Relativo:

São aqueles cuja existência depende de relação jurídica inter-subjectiva (ex: direitos de crédito).

13 – Direito-dever:
É o direito subjectivo ou potestativo concedido para a protecção de um interesse distinto daquele
que radica no titular destes direitos (ex: poder paternal ou tutela).

14 – Expectativa Jurídica:

É uma situação jurídica que surge integrada num processo de aquisição de um (outro) direito e que (ex:
art. 272º e art. 273º do Código Civil):
- É protegida por si, quer desemboque quer não na aquisição desse direito
- Subsiste enquanto a possibilidade de aquisição desse direito se mantiver

15 – Obrigação:

É o recíproco dos direitos relativos (ex: art. 397º do Código Civil).

16 – Dever Genérico:

É o “neminem laedere” – dever de não lesar a esfera jurídica alheia.


É a correspondência passiva dos direitos absolutos.

17 – Sujeição:

É o dever de suportar os efeitos jurídicos decorrentes do exercício de um direito potestativo.

18 – Ónus:

É o “dever” no interesse próprio, ou seja, possibilidade de optar entre duas condutas (pelo menos),
igualmente lícitas, mas em que a adopção de uma delas evita desvantagens ou traz vantagens (ex: art 916º
e art. 917º do Código Civil).

19 – Colisão de Direitos:

Art. 335º do Código Civil.


Dá-se entre :
. Direitos de igual espécie
. Direitos de espécie diferente

20 – Abuso de Direito:

Art. 334º do Código Civil.


. “Venire contra factum proprium”
. “Surrectio”
. Inalegabilidades formais:
- Consequências:
. Impossibilidade de exercício do direito no sentido pretendido
. Responsabilidade civil se o abuso for subjectivo

21 – Representação:
É a substituição de uma pessoa (representada) por outra (representante) no exercício jurídico.

Espécies:
. Legal: sempre que a lei imponha a existência do representante
. Voluntária: quando decorra da vontade do representado através do negócio jurídico procuração

Efeitos: o acto jurídico realizado pelo representante em nome do representado produz os seus efeitos na
esfera jurídica deste último.

Considera-se, porém, anulável o acto celebrado pelo representante consigo mesmo, seja em nome
próprio, seja em representação de terceiro, a não ser:
1 - que o representado tenha especificadamente consentido na celebração
2 - que o negócio exclua por sua natureza a possibilidade de um conflito de interesses

Constituição da relação de representação voluntária:


. Forma: a do negócio para o qual se concederam poderes representativos (excepto “as procurações que
exijam intervenção notarial podem ser lavradas por instrumento publico, por documento escrito e assinado
pelo representado com reconhecimento presencial da letra e assinatura ou por documento autenticado” –
116º/nº1, Cód. Not.)
. Capacidade de agir: basta a capacidade natural

O procurador só pode fazer-se substituir por outrem:


- Se o representado o permitir
- Se a faculdade de substituição resultar do conteúdo da procuração ou da relação jurídica que a determina

Extinção da relação de representação voluntária:


- Renúncia do procurador
- Cessação da relação jurídica que lhe serve de base
- Caducidade
- Revogação
- Sem necessidade de justa causa, por regra
- Com justa causa ou por acordo se:
. A procuração tiver sido conferida também no interesse do procurador
. A procuração tiver sido conferida também no interesse de terceiro

Abuso de representação: sempre que o procurador actue fora do âmbito das instruções recebidas ou
contra a vontade conjectural do representado

Representação sem poderes ou aparente: sempre que o “procurador” nem sequer tenha poderes
representativos

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