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5 GILGAMESH, “O VELHO
SEMPRE JOVEM”
O Pentagrama sempre foi em todos os tempos,
10 CHRISTIAN ROSENKREUZ: O
o símbolo do homem renascido, do novo PROTÓTIPO DA
AUTO-REALIZAÇÃO
homem. Também é o símbolo do universo
13 A TORRE DE BABEL OU
e de seu eterno devir, por meio do qual
A TORRE DO OLIMPO?
acontece a manifestação do plano divino.
15 DE BABEL À NOVA
JERUSALÉM
31 CONHECIMENTO DOS
ASTROS, DE SEUS
A revista Pentagrama convida o leitor para MOVIMENTOS E
35 A EUFORIA PELO
PROGRESSO
E PELA TÉCNICA
38 O MAR
DA PLENITUDE
39 BABEL E O SÉCULO XX
1996
ANO 18
NÚMERO 4
2
A EPOPÉIA DO REI GILGAMESH
3
shtim e ela o manda de volta a Ur-Sha-
nabi, o único que pode atravessar “as á-
guas da morte”. É do outro lado destas
águas que mora Uta-Napishtim. Ele
recebe Gilgamesh e lhe pergunta —
como já tinham perguntado Siduri e o
barqueiro — por que ele parece estar
tomado de tanta melancolia e quais são
as razões de sua vinda.
Placa 11. Uta-Napishtim fala a Gil-
gamesh a respeito do arco que ele
construiu a partir de conselho dos deu-
ses, e também a respeito do dilúvio que
se abateu sobre os homens e sobre a
maneira como ele tornou-se semelhan-
te aos deuses. Gilgamesh deve conti-
nuar sem dormir seis dias e seis noites,
os explica e vê neles bons presságios a fim de encontrar a vida que ele está
para o combate que está por vir. buscando.
Placa 5. Gilgamesh e Enkidu partem Mas Gilgamesh logo cai no sono. A
para guerrear contra Humbaba. Eles mulher de Uta-Napishtim cozinha um
Placa de argila abatem o cedro e matam o gigante. pão por dia. No sétimo, Gilgamesh é
de Nínive que Placa 6. Depois da vitória, Gilgamesh despertado por Uta-Napishtim. O bar-
contém a recusa-se a unir-se com a deusa Ishtar. queiro recebe a missão de reconduzir
narrativa a
Os deuses enviam o touro celeste, mas Gilgamesh — vestido como um rei —
respeito da
história do dilúvio. os dois heróis conseguem matá-lo. até sua casa. Como presente de despe-
(nº 3375, no Placa 7. Depois da festa da vitória, dida, Gilgamesh recebe o nome de uma
British Museum, Enkidu sonha que os deuses decidiram planta que poderá torná-lo jovem de no-
em Londres). matá-lo e que ele terá de descer aos vo; ele a encontra, mas quando vai co-
infernos. lhê-la, aparece uma serpente que a de-
É então que ele desperta, cai doente vora e depois muda de pele. Gilgamesh
e morre doze dias mais tarde. chega finalmente de volta a Uruk, e a
Placa 8. Gilgamesh está inconsolável epopéia finaliza com a repetição do
e lamenta a morte de seu irmão e canto sobre a edificação das muralhas
amigo. da cidade.
Placa 9. Tomado pelo medo da mor- Placa 12. Este fragmento geralmente
te, ele decide partir em busca de seu é considerado como um texto adicional.
ancestral, Uta-Napishtim. Ele anda pela Os deuses fazem com que o espírito de
montanha escura onde o sol desapare- Enkidu fale a Gilgamesh para que ele
ce durante um dia inteiro, e na manhã descreva sua viagem através dos mun-
seguinte ele chega ao jardim das pe- dos inferiores.
dras preciosas.
Placa 10. Na praia, Gilgamesh en-
contra Siduri. Ele lhe pergunta onde fica
o caminho que conduz até Uta-Napi-
4
GILGAMESH, “O VELHO SEMPRE JOVEM”
5
ções. Nas versões mais antigas, que que nada sabem podem ser guiados e
datam de períodos diferentes, Gilga- instruídos.
mesh revela-se quase sempre mais Para o leitor, os habitantes de Uruk
concreto do que nas narrativas remane- parecem cruéis e duros, se compara-
jadas que surgem depois. Sabe-se pela dos aos homens que residem fora de
Bíblia que os homens que viviam há seus muros. Segundo algumas ver-
milhares de anos pensavam e ensina- sões, no interior desta comunidade rei-
vam por imagens e parábolas. Assim o nava amor e humanidade. Entretanto,
rei Gilgamesh tornou-se o protótipo do as leis eram severas e, se alguém ia
homem que tenta cumprir a missão con- contra elas, o rei Gilgamesh distribuía
fiada a todos os homens. duras penalidades. A gravidade da má
Levando muito a sério a manutenção ação poderia até mesmo acarretar na
das leis terrestres, ele transgride as leis expulsão da pessoa da comunidade.
divinas, pois ele ainda não tem expe- Aqui há um paralelo com o pecado ori-
riência suficiente. Ele é “dois terços divi- ginal, que acarretou a expulsão do ho-
no e um terço humano”, lembra ele, mem da região divina. Não seria possí-
revelando que vive em duas naturezas e vel entrar em Cristianópolis, a cidade
que, portanto, sempre se confronta com de Deus, sem estar preparado para
dois sistemas de leis. tanto.
A missão de guia da humanidade era
sintonizar o terrestre ao divino e criar
uma harmonia. Esta é, de fato, a base QUEM É GILGAMESH?
de todas as atividades humanas. Gilga-
mesh sabe que estas leis eternas exi-
gem não somente a magnanimidade, a O nome Gilgamesh parece realmente
coragem e a veracidade, mas também ser derivado da palavra “bilgames”, que
sabe que estas virtudes devem tam- significa “o velho é (ainda) um jovem”.
bém andar paralelamente com a perse- Isto poderia indicar que o divino dentro
verança, e muitas vezes até mesmo dele é “muito velho, mas ao mesmo tem-
com a dureza em relação aos ignoran- po, eternamente jovem”.
tes. É somente deste modo que os bus- Gilgamesh é descrito como “dois ter-
cadores — como Gilgamesh — e os ços divino e um terço humano”. O as-
pecto “dois terços divino” de Gilgamesh
pode ser assimilado ao eu superior ain-
Argila: Enkidu da inviolado, à alma não decaída, ainda
vence o touro ligada ao Espírito e que deve participar
celeste (Museu
da vida terrestre até que o aspecto “um
Real de Arte e
de História, em
terço humano” esteja submetido ao prin-
Bruxelas, na cípio divino dentro dele, os dois terços
Bélgica). de seu ser.
Mas, diz a epopéia, seu aspecto “um
terço humano” o liga também ao destino
dos homens, ao sofrimento e à fraque-
za, ao medo da morte, aos erros e à co-
biça. Estes traços de caráter completa-
mente humanos o impulsionam a medir
a magia que lhe é confiada; e seus súdi-
tos sofrem com isto. É por isso que eles
pedem o auxílio dos deuses. Então
Aruru, a deusa-mãe cria com argila o
personagem Enkidu, irmão gêmeo ou
imagem refletora de Gilgamesh, desti-
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nada a completá-lo.
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mente na epopéia. Enkidu talvez esti-
vesse fazendo alusão a um outro com-
bate que ele evitou. Ele louva aquele
que perde seu ser terrestre em um com-
bate como este porque é somente
assim que ele pode atravessar a porta
como “conhecedor”. É por isto que En-
kidu exorta Gilgamesh:
EM BUSCA DE UTA-NAPISHTIM
“Nunca conseguirás!”
Shamash, o senhor do mundo, lhe atira
em rosto: impulsionar o barco até este lado do o-
ceano chamado de “as águas da morte”.
“Gilgamesh, aonde vais? Nenhuma gota destas águas envenena-
A vida que buscas, das deve tocar sua mão, pois de outra
nunca a encontrarás!” forma ele estaria perdido.
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CHRISTIAN ROSENKREUZ:
O PROTÓTIPO DA AUTO-REALIZAÇÃO
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A TORRE DE BABEL OU A TORRE DO OLIMPO?
Costumamos falar sobre a Torre de não nos assusta o fato de que esta torre
Babel e a confusão de línguas pro- jamais tenha sido terminada.
É fácil de compreender por que ela
vocada por sua construção, mas
causou uma confusão de línguas. Real-
não devemos esquecer-nos da Torre mente, no terreno da matéria, nenhum
do Olimpo, onde foi restabelecida a especialista está de acordo com outro.
unidade da linguagem. Dois arquitetos da mesma escola não
têm as mesmas idéias.
As Núpcias Alquímicas de Christian Dois artistas podem representar a
Rosenkreuz descrevem como o candi- mesma idéia de modo totalmente opos-
dato no caminho da nova vida chega à to e sair criticando um ao outro. Dois
Torre do Olimpo depois de um longo espiritualistas, a partir das mesmas ba-
périplo. Esta torre é o símbolo da senda ses, podem combater-se e perseguir-se
interior que cada um terá o dever e a utilizando golpes teológicos. Dois médi-
possibilidade de seguir um dia para que cos que tenham a mesma formação po-
o princípio divino de seu ser volte para o dem prescrever a seus doentes trata-
Reino de Deus. mentos absolutamente contrários. As-
Diz-se que a Babilônia estava total- sim, o mundo de hoje está cheio de con-
mente voltada para os prazeres da vida tradições pelo fato de ter obtido tantos
terrestre. A Bíblia dá a entender que os conhecimentos.
homens quiseram construir uma torre Esta falta de unidade às vezes é defi-
que chegasse até o céu, o que faria com nida como uma característica “única” do
que se tornassem célebres. Portanto, a homem. Se o resultado deste desenvol-
Torre de Babel é o símbolo da ânsia de vimento egocêntrico contribuísse para a
poder sobre a matéria, e a confusão de evolução positiva da humanidade, esta
línguas que se seguiu foi-se tornando característica “única” do homem seria
pouco a pouco perceptível a cada pes- aceitável e ninguém protestaria. Mas os
soa, através dos meios de comunica- protestos vão aumentando cada vez
ção. mais e mais fortes. Agora que as técni-
O homem moderno, formado por uma cas modernas da comunicação podem
educação materialista, vangloria-se de tornar “sábios” todos os que assim o de-
basear-se exclusivamente em fatos. E, sejarem, um número cada vez maior de
quando um acontecimento provoca pessoas começa a pensar e descobre
emoção, os políticos esforçam-se para que o empenho materialista e sem ré-
mostrar como a oposição não pode con- deas dos habitantes de Babel não é
trolar a situação! Claro, eles são racio- nem melhor nem pior do que o compor-
nalistas! O argumento de que eles se tamento “bem pensado” daqueles que
utilizam é o de que a humanidade ele- pensam. Os dois mostram a pobreza e a
vou-se ao nível da “razão divina”! nudez do homem, esta criatura que se
Aparentemente, foi este orgulho lou- esqueceu de seu criador e que agora
co que se apoderou dos habitantes de fica girando em círculos dentro de suas
A Torre do próprias trevas, para tentar sair delas.
Babel, quando eles decidiram construir
Olimpo se eleva
sobre o antigo
sua torre de tijolos. A questão é que ele busca a saída
campo de vida Quando tomamos conhecimento a fora de si mesmo, construindo torres de
(III. Pentagrama) respeito do motivo de sua construção, Babel, em uma “evolução” sem fim que,
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ao invés de conduzir até as portas da um ser único, quer dominar-se a si mes-
vida imortal, o faz “recair” muitas e mui- mo e ao mundo. Daí segue-se a queda
tas vezes. de Babel. A Torre do Olimpo representa
Os antigos gnósticos e os rosa-cru- a história do homem que, para servir a
zes da Idade Média escolheram um ou- Deus e a seu próximo, abandona tudo o
tro caminho. A história de Christian Ro- que ele acredita possuir e, por este pro-
senkreuz mostra, por exemplo (apesar cesso, é regenerado até em cada célula
de estar escrita em uma espécie de lin- de seu ser. Ele sobe a Torre do Olimpo
guagem secreta, por causa da falta de para libertar-se e libertar os demais.
liberdade da época) que este caminho Vereis claramente que é somente
que leva à elevação está presente den- dentro desta Torre que é possível en-
tro do próprio homem. Christian Rosen- contrar os valores eternos.
kreuz sobe os andares da Torre do Quem constata o jogo fútil da cons-
Olimpo e triunfa sobre todos os obstácu- trução da Torre de Babel e já está farto
los e limitações de sua personalidade da confusão das línguas, parte em bus-
terrestre. Ele se eleva por meio de um ca da verdadeira vida e da linguagem
processo de renovação que põe fim à única que dá testemunho dela, e um dia
grande confusão que existe dentro de si chegará à ilha em que se alteia a Torre
mesmo e nos outros, e lhe ensina nova- do Olimpo. Então, ele será recebido com
mente a falar a linguagem que dá aces- júbilo, como “alguém que voltou à Casa
so a todos os corações. de seu Pai”.
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DE BABEL À NOVA JERUSALÉM
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çam no amor e no ódio, caem na arma- ga Jerusalém, a humanidade não pode
dilha do destino, da qual eles já não se sair do estado que lhe é próprio. Todos
podem desembaraçar por causa de seu os homens são prisioneiros de seus
karma (a conseqüência de seus atos), desejos e de seus pensamentos, dois
que liga uns aos outros. Todos os dese- princípios que pertencem ao “príncipe
jos de valores elevados são abafados e, deste mundo”.
quando ele se julga suficientemente A Bíblia evoca em seguida “a Nova
forte, logo vira objeto de zombaria. Jerusalém” como a cidade em que “Deus
Quanto a isto, a antiga Jerusalém sim- enxugará dos olhos (dos homens) toda a
boliza quase sempre a estrutura oposta, lágrima, e a morte já não existirá, já não
em que tudo está submetido a regras haverá luto, nem pranto, nem dor, por-
muito estritas. que as primeiras coisas passaram” (A-
pocalipse, 21:4).
Desta cidade vem o chamado inces-
O APRISIONAMENTO ENTRE A BABILÔNIA sante para a “volta”, mas o homem aba-
E A ANTIGA JERUSALÉM fa este chamado dentro dele, até o dia
em que, depois de várias encarnações
de seu microcosmo, e depois de passar
A Babilônia e a antiga Jerusalém sim- por inúmeras experiências em períodos
bolizam os dois pólos entre os quais vai inimaginavelmente longos (tanto dentro
e vem a vida terrestre. Estas duas cida- quanto entre Babilônia e Jerusalém)
des estão presentes ao mesmo tempo e descobre que o mundo é ilusório e sem
se influenciam mutuamente. Às vezes é saída. Neste momento, surge uma nova
Babilônia que dá o tom e tudo é possí- compreensão, e ele toma a decisão de
vel; às vezes é a antiga Jerusalém, com se empenhar, tomando um outro cami-
seus princípios rigorosos. A vida de de- nho, para nunca mais se deixar guiar ou
sejos não-amestrados, assim como as deter-se pelas condições que a existên-
idéias formalistas, são aspectos do cia terrestre lhe impõe.
“mundo da cólera”, diz Jacob Boehme,
ao descrever a natureza mortal.
Cada um, de acordo com certos as- O CAMINHO DA LIBERTAÇÃO
pectos de sua personalidade, pode per- INTERIOR É INDIVIDUAL
tencer à Babilônia (estar ligado a outras
pessoas em quem o aspecto babilônico
é dominante), ou a Jerusalém (e obser- Quando chegou a este ponto em seu
va as leis). processo de desenvolvimento, este ho-
Assim, é certo que existe um determi- mem encontra-se no começo do cami-
nado processo de desenvolvimento que nho que leva a sua Belém pessoal, a
pode levar a Babilônia ou a Jerusalém, sua Patmos pessoal. Belém simboliza o
no decorrer do qual os desejos vão sen- nascimento da nova vida, o momento
do pouco a pouco amestrados. Esta rea- em que se manifestam os primeiros si-
lização passa como se fosse sucesso nais do despertar da alma imortal.
aos olhos do mundo, mas também liga à Quando esta centelha de luz espiritual
terra, apesar da aparência de um pro- começa a brilhar no coração, todo o sis-
gresso natural. Entre Babilônia e a anti- tema é polarizado pela nova força vital,
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a força crística universal. A entrada nes- tempo o caminho para aqueles que o
te processo de renovação faz nascer um seguem. Assim, todos os homens estão
interesse pela vida totalmente diferente. na senda para libertar-se das tentações
A personalidade vai abandonando pro- de Babel e de Babilônia, e para sair da
gressivamente seu gosto pelas coisas cegueira da antiga Jerusalém, para
terrestres, pelas regras e pelo poder. Ela finalmente poderem entrar na cidade
vai dando cada vez mais espaço para o santa que “não tem necessidade do sol
desenvolvimento da nova alma e a colo- nem da lua para iluminá-la, pois a glória
ca no ponto de atingir a Nova Jerusa- de Deus a ilumina ...”(Apocalipse, 21-
lém, seu novo campo de vida. 23).
Ela rompe seus laços com os antigos
e novos modelos culturais, sua maneira
de falar, pensar e sentir habituais; ela
ultrapassa e deixa para trás os limites
simbolizados pela “confusão das lín-
guas” que se deu logo depois da cons-
trução da Torre de Babel. Nesta senda,
o peregrino encontra muitos seres que
conquistaram sua liberdade interior ou
que a estão conquistando, e todos se
sustentam no caminho de Belém a Pat-
mos.
Patmos representa um estado em
que já não é necessário explorar os ou-
tros para compensar o que lhe faz falta.
Todos os obstáculos terrestres são
abolidos. A metade perdida — o compa-
nheiro espiritual — é reencontrada. Este
é o estado em que surge a Nova Jeru-
salém, que nos toca: o novo céu-terra
abre suas portas e mostra à alma imor-
tal o caminho que se descortina diante
dela.
Esta nova vida está sempre a nosso
alcance, assim como as diversas fases
da libertação da alma, chamadas de
Babel, Babilônia, a antiga e a nova Jeru-
salém, Belém e Patmos.
A Nova Jerusalém é o novo campo de
vida para toda a humanidade, mas cada
um deve, em primeiro lugar, encontrar
pessoalmente o caminho de Belém a
Patmos antes de poder entrar neste
campo de vida. Todos os grupos que
atingem esta meta liberam ao mesmo
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A MURALHA DE URUK
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preservar o homem da cristalização. sete portas a todos os que estão prepa-
Nesta região, também chamada de rados da forma exigida. Quem busca
“ordem de socorro”, o homem mortal esta “nova vida” deve entrar na cidade,
vive separado de seu Criador. Em ou- desde que deixe falar em si “a mensa-
tras palavras, ele já não conhece sua gem eterna de antes do dilúvio” e se
origem. esforce para descobrir e colocar em prá-
É por esta razão que é errado acredi- tica as leis sagradas. Como personali-
tar que o Criador criou uma “muralha” dade — produto da natureza terrestre
em torno de Uruk para expulsar o ho- — ninguém pode entrar em uma cidade
mem, ou mesmo que seria para proibi-lo como Uruk, pois a muralha de seu pró-
de entrar “no campo de vida da força prio ser ergue-se diante dele como um
pura divina”. obstáculo intransponível.
Quem desejar seguir o caminho da
nova vida, observará de tempos em
tempos que os obstáculos estão dentro O TEMPLO DO JULGAMENTO
de si mesmo: ele é expulso pela mura-
lha que ele próprio construiu.
Esta muralha existe apenas onde a Todos os que buscam através dos sé-
separação entre o mortal e o imortal culos testemunham que o homem mor-
não foi anulada. Na realidade, ela mos- tal deve fazer interiormente sua auto-
tra simbolicamente a ilusão da “imortali- -entrega ao homem imortal. As Núpcias
dade terrestre”. Alquímicas de Christian Rosenkreuz
Portanto, a muralha de Uruk protege dão um bom exemplo disto. No terceiro
tanto a cidade quanto aquele que dela dia de sua viagem, Christian Rosen-
se aproxima. A luz protetora da Gnosis kreuz passa pelo Templo do Julgamen-
irradia da cidade-templo e toca o busca- to, antes de dirigir-se ao salão nupcial.
dor para guiá-lo até ela e fazer com que É a parte da cidade-templo em que o
aí entre, desde que ele abandone tudo o candidato é julgado apto para atraves-
que pertence a seu ser mortal. sar a fronteira entre a vida e a morte.
Quem chegou até aí é colocado à
prova e deve mostrar suas verdadeiras
PROTEÇÃO CONTRA intenções. Aí, pesa-se tudo o que possa
A NATUREZA TERRESTRE assemelhar-se à cultura da personalida-
de, a exercícios e experiências ocultis-
tas e parece que estes bens são impró-
Johann Valentin Andreæ descreve prios para estabelecer uma ligação du-
uma cidade de luz semelhante em radoura com a Gnosis.
Christianopolis e dá as medidas simbó- O que se oculta por detrás da aparên-
licas que devem ser seguidas durante cia na vida cotidiana é desmascarado
sua construção. No Apocalipse, capítulo no Templo do Julgamento. Sete forças,
21, João dá a mesma imagem da Nova simbolizadas pelos sete pesos da ba-
Jerusalém, o novo campo de vida no lança, protegem o trabalho divino de
qual a alma que busca a imortalidade é salvação contra quem quer que seja
admitida depois de ter deixado para trás que tenha escolhido o caminho por e-
todos os seus aspectos terrestres. goísmo e não impulsionado pelo anelo
Assim, entre o mundo que desviou-se do núcleo imortal dentro de seu cora-
do plano divino (aqui chamado de Babel ção.
ou Babilônia) e o próprio plano divino
ergue-se uma “ponte” representada pela
“Nova Jerusalém” ou “Christianopolis”.
Esta “cidade nova” afasta tudo o que é
ímpio ou falsamente santo e abre suas
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O PODER DO MAL Na introdução da Epopéia de Gilga-
mesh a narrativa conta que o herói, no
fim de sua viagem, fala do poder e da
A muralha que cerca Uruk não serve beleza de Uruk a seu companheiro, o
somente de proteção contra os desejos barqueiro Ur-Shanabi:
impuros da personalidade.
“Sobe, Ur-Shanabi,
Cada um constrói muralhas a sua e passeia sobre a muralha de Uruk,
volta a fim de se proteger contra as examina seus alicerces,
ameaças do mundo mortal que o olha que tijolos!
rodeia. Desde o momento em que a Vê se não são de argila cozida,
humanidade começou a afastar-se da e se os alicerces não foram dispostos
natureza divina, ela colocou-se sob o pelos sete sábios!”
domínio do fogo não-divino que a man-
tém distanciada do campo de vida divi- No momento em que, na natureza mor-
no. O “príncipe deste mundo” deve obri- tal, constrói-se um novo campo de vida
gatoriamente voltar-se contra o plano imortal, a fim de auxiliar aqueles que
divino e colocar tudo em prática para buscam a verdade divina fazendo nas-
impedir a salvação das almas humanas. cer sua alma imortal, um grupo humano
Ele coloca-se como adversário do cria- arbitrário não está apto a construir, cer- Ruínas da
dor e como não está nele o poder cria- tamente, um templo como este, e a res- cidade de Uruk
dor, ele é completamente dependente
da sobrevida do campo de vida mortal.
Na Epopéia de Gilgamesh este mal é
representado por Humbaba: “Seu rugido
parece o troar do dilúvio”. Durante um
certo período, seu poder vai crescendo
e todas as possibilidades de libertação
são aniquiladas, até que o limite seja
atingido e que somente um novo perío-
do de manifestação possa trazer novas
possibilidades.
“Sua boca escarra fogo e seu sopro é
mortal!” Sua força mantém a humanida-
de ligada à roda do nascimento e da
morte.
Inúmeras narrativas descrevem a
possibilidade de atacar um campo de
vida gnóstico, mas não de vencê-lo. Em
Parsifal, o mal é simbolizado por Kling-
sor, que tenta entrar na região do caste-
lo do Graal, mas logo é enviado de volta
para o “Vale do Além”, de onde ele veio.
Em A Flauta Mágica, a Rainha da Noite
e suas amas tentam entrar no Templo,
mas como esta última tentativa para
opor-se à vitória da luz fracassa, e como
elas não conseguem retomar Pamina,
elas têm que desaparecer.
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ponder à doutrina em toda a sua pure- os seres humanos querem impedir, a to-
za. Para isto, é preciso que, desde o iní- do o preço, uma só coisa: o desapareci-
cio, seja estabelecida uma ligação com mento da vida centrada no eu! Para isto,
os que os precederam no caminho. cada um coloca em prática todas as for-
Afinal, é juntos que eles podem evo- ças e todos os meios disponíveis e
car a nova força libertadora e oferecê-la constrói muralhas de angústia, sem
a todos aqueles que querem trabalhar saber que são justamente eles que tor-
com ela. Gilgamesh, o rei de Uruk, é o nam impossível a execução do plano di-
precursor do caminho. Ele é chamado a vino. Desde o momento em que o amor
esta tarefa e encontra a senda que leva divino abre uma brecha em seu coração
até o sábio Uta-Napishtim com o qual assim tão cheio de barricadas, o proces-
ele estabelece a ligação com os prede- so da verdadeira franco-maçonaria po-
cessores. Por esta razão, ele não per- de começar e as muralhas tornam-se
corre sozinho o caminho de volta, mas ruínas, abrindo o caminho que conduz à
ele é acompanhado por Ur-Shanabi, o cidade-templo e dando a possibilidade
barqueiro. de explorá-la.
A ABERTURA DO CAMINHO
PELA FRANCO-MAÇONARIA
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BABEL, BABILÔNIA E A ARTE DA CONSTRUÇÃO
24
são : “Tudo é passageiro”! Os constru- A CONSTRUÇÃO DA
tores de Babel, de Babilônia e os resul- MORADA SANCTI SPIRITUS
tados de suas aspirações deram corpo
à grande ilusão de que a matéria tem a
capacidade de evoluir até tornar-se Os autênticos rosa-cruzes aspiram
Espírito. Prisioneiros desta ilusão, eles ao restabelecimento da verdadeira arte
não abandonam jamais o que decidi- da construção. No meio da Babilônia
ram; então eles devem seguir o cami- moderna, eles se esforçam — com mui-
nho das experiências amargas, o cami- tos outros buscadores sérios de Deus
nho do extravio e da destruição, até o — em manter bem aberta a porta de
dia em que o fogo que os habita seja acesso à morada espiritual da humani-
liberado da ilusão. dade. Eles também exploram as novas
Babilônia e Babel estão por toda a sendas para prestar seu auxílio lá onde
parte. Toda a cultura constrói sua pró- é possível e oferecer a todos os que o
pria Babilônia e suas torres de Babel se desejam seus tesouros espirituais. Gra-
erguem tão logo tome forma a grande tuitamente!
ilusão de que o homem mortal tem a
possibilidade de alcançar a eternidade
divina mediante suas capacidades e
métodos perecíveis: torres de pedra, de
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A TORRE DE BABEL (GÊNESE, CAPÍTULO 11)
1. Em toda a terra havia apenas uma dos dignos o bastante para receber tal
linguagem e uma só maneira de falar. conhecimento, e este foi reservado a um
2. Sucedeu que, partindo eles do pequeno número, ao invés de ser geral.
Oriente, deram com uma planície na Como as gerações seguintes foram
terra de Sinear; e habitaram ali. pouco a pouco privadas da “linguagem
3. E disseram uns aos outros: Vinde, dos Mistérios”, todos os povos sem
façamos tijolos, e queimemo-los bem. exceção foram limitadas à linguagem de
Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o sua sabedoria particular; eles esquece-
betume, de argamassa. ram-se da linguagem da sabedoria origi-
4. Disseram: Vinde, edifiquemos para nal e acharam que o Senhor, um dos
nós uma cidade e uma torre cujo topo mais importantes senhores ou hierofan-
chegue até os céus, e tornemos céle- tes dos Mistérios de Javeh Elohim,
bre o nosso nome, para que não seja- havia confundido a linguagem de toda a
mos espalhados por toda a terra. terra a fim de que os homens que ha-
5. Então desceu o Senhor para ver a viam pecado já não pudessem ser com-
cidade e a torre que os filhos dos preendidos uns pelos outros. Entretanto,
homens edificavam; sempre houve iniciados em todos os
6. e disse: Eis que o povo é um, países.”
e todos têm uma mesma linguagem.
(A Doutrina Secreta,
Isto é o começo; agora não haverá
Helena Petrovna Blavatsky)
restrição para tudo que intentam fazer.
7. Vinde, desçamos e confundamos ali
a sua linguagem, para que um não
entenda a linguagem de outro.
8. Destarte o Senhor os dispersou dali
pela superfície da terra; e
cessaram de edificar a cidade.
9. Chamou-se-lhe, por isso,
o nome de Babel, porque ali confundiu
o Senhor a linguagem de toda a terra,
e dali os dispersou o Senhor por toda
a superfície dela.
26
“UMA SÓ LINGUAGEM E AS MESMAS PALAVRAS...”
“No princípio era o Verbo e o Verbo lhando cada vez mais profundamente;
estava com Deus, e o Verbo era depois da confusão das linguagens de
Deus. Ele estava no princípio com Babel, a maioria dos humanos não con-
seguiu guardar mais do que uma lem-
Deus. Todas as coisas foram feitas
brança deformada da linguagem origi-
por ele, e nada do que foi feito foi nal. De acordo com as condições de vi-
feito sem ele” (João, 1: 1-3). da de uma parcela da humanidade, os
meios de expressão foram-se desenvol-
vendo com o auxílio de ruídos, sons e
A criação começa com o Verbo divino vibrações emitidos pela laringe.
todo-poderoso.
Pelo Verbo, a palavra falada, Deus
transforma suas idéia em manifestação. COMUNICAÇÃO SEM COMPREENSÃO
Esta força original fundamental mági-
ca faz nascer as criações divinas. O ato
original criador da vida que está na No mundo de hoje muitos povos e
base de toda e qualquer manifestação é raças têm sua própria linguagem. De
a emissão do Verbo: “Pois ele falou, e tu- acordo com um estudo científico, exis-
do se fez; ele mandou, e logo tudo apa- tem cerca de 4.000 linguagens: uma
receu” (Salmos, 33:9). profusa confusão que realmente não fa-
vorece a compreensão entre os povos.
Além disso, o crescente individualismo
A “CONFUSÃO DAS LINGUAGENS” torna a compreensão mútua mais difícil
ainda.
Portanto, não é de se espantar que a
Quando o homem ainda estava liga- “comunicação” seja a palavra-chave do
do à “causa primeira”, e portanto era mundo moderno.
uno com seu Criador, ele também parti- Um dilúvio de palavras derrama-se
cipava desta força. É dito na Bíblia: diariamente sobre a humanidade pelo
“Toda a terra tinha uma só linguagem e rádio, pela televisão e pela imprensa.
um só idioma” (Gênese, 11:1). Mas, pe- Telefonamos e passamos fax, trocamos
lo egocentrismo e pela presunção, os informações através das redes bancá-
homens quiseram “tornar célebre o nos- rias de dados, e cada um pode partici-
so nome” e eles disseram entre si: “Vin- par de grupos de estudos e debates.
de, edifiquemos para nós uma cidade e Mas parece que todos estes esforços de
uma torre cujo topo chegue até os cé- comunicação só fazem com que nos
us...” A Bíblia conta então como a huma- isolemos mais ainda uns dos outros.
nidade, que estava cega, foi separada Apesar de muitos de nós conseguir falar
do campo de vida divino e perdeu sua diferentes linguagens, há cada vez me-
linguagem única, a Palavra viva de nos compreensão e nunca falamos no
Deus. mesmo nível. A comunicação moderna
Não houve mais unidade de cons- não consegue lançar uma ponte entre
ciência porque a humanidade foi sintoni- os corações, esta ponte que é o alicer-
zando progressivamente com as leis do ce da verdadeira compreensão. A alma
mundo dialético, no qual ela foi mergu- consciente, que recebe a compreensão
27
da Gnosis, a força divina, está perdida. um papel importante, assim como o
Se a consciência da alma “congela- pensamento e sua expressão por meio
da” já não sente nada da linguagem ori- da voz.
ginal divina que une, e portanto dá O efeito da “palavra mágica” finalmen-
segurança, e se ela somente pode utili- te é determinado pela motivação do
zar a linguagem dialética, fria e limitada, mágico e pelas forças de seu campo de
nós apenas falamos por falar. respiração e do campo de respiração do
Então, estamo-nos atordoando uns “receptor”. Portanto, não é apenas o tom
aos outros com chavões, e debaixo de que determina o efeito desejado.
uma avalanche de sons ensurdecedores A vontade do homem é mágica. Ela
nos esforçamos para urrar, expressando atrai as forças do ambiente e as mani-
nosso doloroso sentimento de solidão e pula antes de enviá-las novamente. É
para não escutar as reprimendas de um contínuo processo de criação, no
nosso coração. Esta linguagem já não é qual o homem constrói sem descanso
durável e jamais poderá expressar a ver- com seus pensamentos, seus senti-
dade. Hoje reina a confusão, assim co- mentos e suas palavras, geralmente
mo as discussões sem fim, cada vez apenas para dar provas de si mesmo.
mais tentativas de ultrapassar a separa- Se ele vive em interação com as leis da
ção básica, e, para completar, resta ape- natureza mortal, sua “construção” tam-
nas um desejo de reaproximação total. bém é mortal.
Presumimos a existência da Unidade Porém, se ele vive e age de acordo
e isto sempre estimulou a busca da lin- com as exigências do plano divino, ele
guagem original. É assim que quase pode fazer surgir a alma imortal. Mesmo
todos os homens buscam a possibilida- mantendo-se afastado de toda e qual-
de de sair da prisão na qual vivem sepa- quer magia exercida conscientemente,
rados uns dos outros, para conseguir ele sempre estará agindo magicamen-
realmente comunicar-se entre si. te.
Jan van Rijckenborgh, autor da Gno-
sis Chinesa (Rozekruis Pers, Haarlem,
A LINGUAGEM É UM PODER CRIADOR 1992, p. 243), escreve: “Quando inspi-
rais, a matéria astral penetra em vossa
cabeça através de vosso campo de res-
A linguagem não serve somente para piração e vos impulsiona a uma determi-
comunicar, mas também para expressar nada atividade mental. Quando expirais,
a vontade. Afinal, por mais que o poder vossa voz ressoa e, pela palavra, con-
da palavra tenha perdido suas raízes, a cretizais a imagem, a força, a vibração
palavra falada e escrita continua carre- trazidas pela substância da respiração,
gada de força. A Doutrina Universal diz e deste modo transmutais os valores
que, em um passado remoto, uma parte astrais em realidade vivente, ativa e
da força criadora dirigida para baixo foi mágica. Falar é, portanto, uma atividade
orientada para o alto para desenvolver o criadora e isto acontece graças à expira-
cérebro e a laringe. Os órgãos genitais e ção.
a laringe têm a mesma fonte. Neste sen- O mental, e portanto o astral, tornam-
tido, a palavra é uma expressão do -se perceptíveis graças à expiracão,
poder de reprodução, e portanto ela é quando a laringe expulsa o prana em
altamente criadora. todos os níveis sutis de seus diversos
Geralmente a magia é considerada estados vibratórios que correspondem
uma arte secreta que utiliza as forças às representações mentais que ele vei-
supra-sensoriais. A magia baseia-se cula.
principalmente na palavra. O chakra da Assim o prana transforma-se em sons.
garganta emite uma certa vibração em Vogais e consoantes compõem imagens
que os estados de alma desempenham sonoras em caracteres mágicos.
28
Todas estas imagens sonoras têm “O Verbo vivente” não pode ser pro-
como região de origem o astral. Esta nunciado por alguém que ainda está
região, por meio da magia da fala é evo- profundamente enraizado no mundo
cada, vivificada, liberada, dinamizada. das forças contrárias. O nome do
Esta atividade, esta magia, naturalmen- Criador não pode ser pronunciado e es-
te tem efeitos, conseqüências diretas, capa ao poder de expressão do homem
conseqüências muitas vezes salvadoras dialético. Lao-Tsé diz, no capítulo I do
e libertadoras, mas muitas vezes apri- Tao Te King: “Se Tao pudesse ser defini-
sionadoras e muito perigosas, tanto do, ele não seria Tao eterno. O nome
para aquele que fala como para aquele que pode ser expressado não é o nome
que ouve”. eterno”. O Verbo vivente é a vibração
Assim, fica claramente demonstrado divina que, atravessando o cosmo intei-
que é importante deixar de falar descon- ro, dá vida a tudo. “Esta Palavra é cha-
troladamente, pois uma palavra pincela- mada na Doutrina Universal de “o nome
da com crítica, inveja, ciúme, ódio ou misterioso de Deus”, composto por seis
egoísmo é sempre um veneno mortal, ou sete letras. É a designação da santa
tanto para quem a pronuncia como para força sétupla, das sete forças gnósticas
aquele que a escuta. Mas, ao mesmo por meio das quais pode ser realizada a
tempo, as possibilidades oferecidas pela santificação do homem que volta para
fala manifestam-se quando ela é anima- Deus. O nome de Deus é a própria
da pelo princípio central imortal do ser Gnosis, é o próprio Deus. Com estes se-
humano. Assim, a palavra pronunciada te raios, tudo pode ser realizado” (Jan
é capaz de transmitir alguma coisa da van Rijckenborgh em A Gnosis em sua
força imortal de um homem a outro. atual manifestação, Lectorium Rosicru-
cianum, 1984, 1º edição).
Quem aprende novamente a com-
A Nova Era mostra
O NOME QUE NÃO PODE preender o nome de Deus e começa a
a moderna Torre
SER PRONUNCIADO pronunciá-lo com a intenção original, faz de Babel sob seu
com que dentro de si termine a “confu- verdadeiro aspecto
são das linguagens”. “E há de ser que (III Pentagrama).
29
todo aquele que invocar o nome do guas de fogo e para receber sua sabe-
Senhor será salvo” (Joel, 2: 32). Esta doria e seu amor. Quem abandona tudo
invocação não tem nada a ver com a ati- o que o liga à terra está pronto para a
vidade da laringe, mas é uma redesco- nova vida.
berta de nosso nome, que está inscrito
no Livro da Vida.
A CHAVE DA IMORTALIDADE
30
CONHECIMENTO DOS ASTROS, DE SEUS
MOVIMENTOS E INFLUÊNCIAS
A ciência que trata da atividade dos nhação astrológica florescia entre o po-
astros é muito antiga. A divisão do vo, exatamente como hoje.
céu em doze forças que governam o
universo já era conhecida dos sumé- A IMPORTÂNCIA DA HORA E DO
rios, dos assírios e dos caldeus. Esta LUGAR DE NASCIMENTO
ciência servia, entre outras coisas,
para magos e sacerdotes aconse-
Admite-se que é na Grécia que foi es-
lharem seus reis. Os doze signos do
tabelecido o primeiro horóscopo de nas-
zodíaco talhados na pedra e todo o cimento. Um horóscopo é a imagem do
tipo de representações e ornamen- céu na hora do nascimento. Graças a
tos testemunham a necessidade de ele, o astrólogo esforça-se por determi-
observar o céu e de aí ler a vontade nar e explicar o destino ou o caráter de
um ser humano como se ele fosse uma
dos deuses e o destino dos povos.
projeção de forças ativas do universo. A
personalidade é, então, encarada como
No tempo da Babilônia, os planetas a imagem reflexa do firmamento: é a
eram considerados as moradas dos representação exata da situação dos as-
deuses. O deus supremo, Marduk, mo- tros no momento em que a vida começa.
rava em Júpiter; a deusa Ishtar, em Vê- Um sistema como este, que se apoia-
nus; Nergal vinha de Marte e Ninurta va somente nos astros mortais — ou
está ligado a Saturno. Os deuses que, seja, os astros que pertencem à esfera
de acordo com suas ações sobre os ho- dialética — somente interessa à matéria
mens, eram amados ou temidos por e- mortal. Somente as influências do cos-
les, exerciam sua influência a partir dos mo dialético são, portanto, registradas: e
corpos celestes onde moravam. Por é sobre esta base que o futuro é previs-
meio da astrologia, os sacerdotes esfor- to. Como estas considerações sobre o
çavam-se para impedir estas influên- homem não levam em conta nenhuma
cias, ou fazê-las crescer. Eles estuda- das forças ou irradiações que emanam
vam os movimentos dos corpos celestes da vida imortal, este tipo de previsão é
e suas mútuas relações, interpretavam sempre especulativo e muito parcial.
suas ações e daí tiravam suas profecias.
A arte da profecia constituiu, desde o
início, um aspecto essencial da astrolo- SERIA UM MODO DE CHEGAR
gia. AO AUTOCONHECIMENTO?
Inúmeras figuras do zodíaco ocidental
provêm das mitologias mesopotâmica,
grega e egípcia. A ciência astrológica Claro que é possível obter, desta ma-
dos babilônicos espalhou-se sobre neira, alguns esclarecimentos que di-
quase todo o Oriente Médio, a Índia, o zem respeito à estrutura da personalida-
Egito e a Grécia. de. Mas, se compararmos este método
Reservada inicialmente aos sacerdo- a um iceberg, ele daria apenas o conhe-
tes e magos, ela logo ficou acessível cimento da parte que está na superfície.
aos profanos. Na antiga Roma, a adivi- O verdadeiro autoconhecimento não se
31
ensina, mas vai sendo adquirido pouco uma ruptura tão profunda que a couraça
a pouco, graças a um processo no qual acaba por romper-se, e a consciência já
a vida é o mestre e a consciência, o não pode dissimular-se, constrangida a
aluno. As experiências que daí resultam realizar a escolha definitiva. Se esta es-
levam até os recantos mais obscuros do colha for direcionada para um restabele-
ser e levam mais longe ainda que o co- cimento da ligação rompida com o Cria-
nhecimento obtido pelo tema astrológico dor, o desejo dá acesso à vida ilimitada,
de um só momento. Todos os homens imortal, eterna.
têm regularmente a ocasião de receber Neste sentido, a astrologia pode fazer
golpes do destino — confrontações, do- com que a pessoa dê um pequeno pas-
enças e problemas interiores — assim so rumo ao bem superior. Mas o busca-
como lições que a vida vai-lhe dando. dor ignorante geralmente considera o
Assim, cada um recebe oportunidades tão limitado conhecimento da astrologia
Marco da fronteira de adquirir compreensão: oportunidades como a “única e grande verdade”! É por
de Babilônica, que são dadas a todos os homens. A isso que se segue a advertência, bem
1120 a.C., com
personalidade começa reagindo e refor- oportuna: o conhecimento astrológico
uma figura do
zodíaco. çando a couraça por detrás da qual ela colocado em prática com ignorância po-
(British Museum, busca proteger-se. Seguir e experimen- de reforçar a tendência materialista da
Londres) tar este processo eqüivale a vivenciar qual a pessoa gostaria de livrar-se.
A astrologia tem exercido, desde a
antigüidade, uma grande atração sobre
aqueles que buscam sua origem. Entre-
tanto, esta atração também pode blo-
quear a porta da libertação interior. No
que diz respeito à verdadeira vida imor-
tal, esta antiga ciência é incapaz de aju-
dar verdadeiramente os homens de nos-
so tempo a seguir em frente, pois ela uti-
liza exatamente as forças que eles de-
vem abandonar para tornar-se verdadei-
ramente livres interiormente.
32
Jan van Rijckenborgh descreve em
Dei Gloria Intacta como o sol espiritual
central serve-se das atividades planetá-
rias para salvar a humanidade decaída
no “sistema solar exterior”.
O Criador fala a sua criatura na “lín-
gua dos astros”, que não são astros
perecíveis que podemos contemplar,
mas focos de irradiação do universo
inviolado que despertam e provocam a
atividade do princípio fundamental do
homem: a rosa-do-coração. Esta sabe-
doria original faz com que o buscador
possa entrever a atividade espiritual de
cada planeta do sistema solar original.
33
divino que está no centro do microcos- Aquele que abre sua cabeça e seu cora-
mo. Este sol é o eixo oculto da roda da ção e aspira à força cósmica libertadora
verdadeira vida na correnteza do tempo; de Cristo, esta nova força tão antiga,
é o Décimo-Terceiro Eão que transcen- terá o poder de vencer a lei de seu kar-
de os doze eões da natureza, o princí- ma astrológico.
pio de eternidade que está no coração
de todos os seres humanos. Este Dé-
cimo-Terceiro Eão não somente escapa
a toda e qualquer influência e a todo e
qualquer cálculo astrológico como tam-
bém tem o poder de aniquilar as forças
dialéticas fundamentais, os deuses do
sétimo domínio cósmico. Os horóscopos
que tratam da existência que está em
constante transformação já não funcio-
nam e o morador do microcosmo é liber-
tado desta prisão. A teia de aranha das
forças que vêm do passado pode assim
ser rasgada e o homem empenha-se no
processo de renovação e consegue
contemplar o Reino de Deus. Um
momento como este não poderia ser
atingido por práticas astrológicas.
Problema de mate-
mática em uma placa
de argila (Museu de
Bagdá, no Iraque).
A EUFORIA PELO PROGRESSO E PELA TÉCNICA
35
PERTURBAÇÃO DO futuro esgotamento da energia vital da
EQUILÍBRIO NATURAL terra. É por esta razão que é bom adqui-
rir uma boa compreensão das leis que o
Criador nos legou para conservar a
Por equilíbrio natural, entende-se que natureza mortal a fim de que ela possa
tudo o que evolui e desaparece, tudo o cumprir sua tarefa.
que cresce, floresce e morre sobre a Nesta natureza mortal encontram-se
terra, mantém-se em equilíbrio. Se o ho- correntes de uma outra natureza, que
mem intervém deliberadamente na eco- se opõem à presente evolução. Elas de-
nomia da natureza sem se dar conta de nunciam a tendência atual de querer ir
suas leis, ele provoca catástrofes para si sempre mais longe e esforçam-se para
mesmo e para os da sua espécie. Os estimular a vida terrestre e conservá-la.
lixos das grandes e pequenas empresas Do ponto de vista esotérico, isto é muito
— principalmente aquelas que exploram importante, pois a terra é a escola de
a energia nuclear — mudam este equilí- aprendizagem da humanidade; ela deve
brio. E a natureza somente consegue ser mantida pelo maior tempo possível,
restabelecê-lo com um esforço cada vez pois é por ela que os microcosmos dani-
maior e perdendo cada vez mais sua ficados podem receber a possibilidade
força vital. Além disso, há o aumento da de encontrar o caminho de volta para a
poluição (tanto por matérias radioativas ordem divina durante este dia de mani-
como por produtos químicos não-degra- festação.
dáveis), que é nociva para todos os se- O impulso gnóstico que toca a huma-
res vivos. nidade tem, nesta época, um objetivo
Desde que a humanidade saiu da or- muito mais vasto. Não se trata tanto de
dem divina e quis igualar-se a Deus restabelecer as antigas possibilidades
sem viver nem agir para Ele e por Ele, quanto de utilizar as novas possibilida-
desde que ela começou a agir delibera- des de um modo justo e consciente. A
damente com segurança e egocentris- Gnosis constrói uma arca para todos os
mo, ela tornou-se vítima de sua própria que não querem prolongar a qualquer
sede de destruição. Esta evolução diz preço a vida terrestre, mas descobrir
respeito, em primeiro lugar, aos filhos de novas possibilidades e colocá-las em
Deus. Eles “caíram” e como resultado prática. Ela procura fazer com que os
deu-se uma situação tal que a humani- humanos compreendam que eles estão
dade terrestre viu-se perdida. Mas, o fazendo um grande mal para suas al-
Criador não abandona sua criatura, co- mas imortais entregando-se desenfrea-
mo diz a epopéia de Gilgamesh, epo- damente à vida temporária na matéria.
péia que esboça uma fase do plano de
salvação para transmiti-la à humanida-
de desta época. Nesta epopéia também GNOSIS: FONTE DE ENERGIA
é descrito como o homem terrestre po-
de executar uma tarefa importante no
processo do “devir divino”, com a condi- Do ponto de vista esotérico, o mundo
ção de conhecer esta tarefa e cumpri-la. mortal é uma ordem de emergência cuja
As atividades consideravelmente e- tarefa é mostrar ao ser humano que sua
gocêntricas e a ânsia pelo poder do verdadeira pátria encontra-se em outro
homem puramente centrado em si mes- lugar; que ele tem a missão de voltar
mo acarretam o esgotamento e a des- para a ordem divina despertando em si
truição das forças vitais. Vestígios de o filho original de Deus, pois é ele que
civilizações profundamente desenvolvi- terá acesso ao campo de vida divino.
das que não respeitavam nem as leis di- A Escola Espiritual da Rosacruz Áu-
vinas nem as leis humanas são um tes- rea baseia-se neste plano de salvação:
temunho disto, e são o presságio do deste modo, ela coloca-se no centro da
36
vida e do ensinamento da Gnosis, a mo o oposto da Torre de Babel. Se a A moderna rede de
força divina que revela tudo. Torre de Babel é o símbolo do desejo comunicação reina
sobre o mundo
A Gnosis pode manifestar-se se o ávido de atingir o poder divino, a Torre
(foto Pentagrama).
ego não ocupar mais o lugar central e do Olimpo é a torre da preparação per-
deixar crescer a alma imortal, em um feita a serviço do Criador. A primeira
processo de renovação total. Quando Torre representa a difícil ascensão,
um ser humano desperta a reminiscên- pelas diversas fases do desenvolvimen-
cia do reino de onde seu microcosmo to da consciência terrestre, até ousar
“caiu” e quando nasce dentro dele o querer fazer o salto na eternidade por
desejo sincero de encontrar a nova vida, meio de um caminho profundamente
então ele com certeza e consciente- egocêntrico. O caminho percorrido por
mente questiona seu plano de existên- Christian Rosenkreuz é o da submissão
cia terrestre. Ele sente cada vez mais de seus próprios desejos ao plano divi-
nitidamente que já não é possível no, a fim de concretizar a realização do
encontrar a força divina no mundo mor- novo homem. Ao ego que luta contra a
tal, e então sua necessidade de expres- morte, apesar de saber de antemão que
sar-se neste mundo desaparece. Para vai perder, ele opõe o novo homem-
ligar-se novamente com a fonte celeste -alma, que sabe de antemão que sairá
que corre eternamente, não há nenhu- vitorioso porque nasceu de Deus. Esta é
ma necessidade de fazer uma “torre ter- evolução que representa um verdadeiro
restre”, pois uma “torre interior” se le- progresso.
vanta dentro de cada um de nós. Nós a
descobrimos quando abandonamos
toda e qualquer preocupação a respeito
de manter nosso eu e quando nos de-
sinteressamos completamente da vida
perecível.
Por outro lado, manifesta-se uma
energia inesgotável e a taça na qual
esta força se derrama — o corpo da
nova alma — é formada de materiais
incorruptíveis. No escrito dos rosa-cru-
zes do século XVII, intitulado As
Núpcias Alquímicas de Christian Rosen-
kreuz, a “Torre do Olimpo” aparece co-
37
O MAR DA PLENITUDE
38
BABEL E O SÉCULO XX
39
dados, os principais atores deste jogo Ah, se por este meio a ignorância pu-
— e eles mesmos dizem isto — procu- desse desaparecer e os homens pudes-
ram unir-se a todos os homens graças a sem reunir-se em uma grande fraterni-
esta rede, de tal forma que todos pos- dade!... Goethe não disse: “Todos os
sam trocar toda e qualquer informação. homens são irmãos”?
Isto já está acarretando problemas A moderna torre da comunicação
enormes. O que é habitual em um país total devora o tempo e volta a sede de
pode parecer um crime em outro. O que conhecimento dos homens para o lado
um diz, o outro pode achar melhor guar- exterior da existência. Quem verá incon-
dar para si mesmo. veniente no fato de um estudante fe-
O que é admissível e o que não é? char-se em uma imensa biblioteca es-
Quem joga bem este jogo e quem não trangeira para encontrar documentos re-
joga? lacionados com seus estudos científi-
A rede mundial que se está desenvol- cos? E quem haverá de se opor ao fato
vendo atualmente depende de campos de um médico, diante de um diagnóstico
de informação eletromagnéticos. Por difícil, pedir informações a uma rede
meio desta rede de transmissão rápida, médica americana ou a um banco de
não é difícil para os técnicos modernos dados japonês a respeito de tipos de
fazer chegar às casas de cada um algu- doença descritos em revistas especiali-
mas forças que operam, por assim zadas? É preciso viver a vida de seu
dizer, logo acima da matéria mais gros- tempo!
seira: assim, uma imitação da consciên- Sim, é claro! Na correria da vida mo-
cia onipresente realmente é uma brinca- derna, o conhecimento é uma necessi-
deira de criança. Esta Torre de Babel dade. Entretanto, na prática, parece que
eletromagnética não está erguida em os conhecimentos adquiridos conse-
um centro da antiga civilização do guem resolver apenas parte dos proble-
Oriente Médio, mas em todos os países mas. Para conseguir isto, seria preciso
modernos industrializados. explorar uma outra “Internet”, baseada
O conhecimento do que é simples e no conhecimento interior. A busca desta
único se perde na multiplicidade. A infor- sabedoria universal não precisa de
mação depende da cultura e a cultura é nenhum computador; mas ela exige o
a expressão do pensamento, do senti- desejo interior de escapar aos limites
mento e da comunicação. Quando inú- dos conhecimentos terrestres.
meros países são obrigados por neces-
sidade a colaborar política e economica-
mente, parece que as idéias próprias
fazem nascer uma confusão de lingua-
gem cada vez maior; diríamos que, por
causa dos modernos meios de comuni-
cação, está cada vez mais difícil com-
preender por que os homens descon-
fiam das intenções uns dos outros e não
querem abandonar seus bens. O sim-
ples conhecimento fundamental da pura
vida original parece estar completamen-
te perdido, principalmente porque todos
os conhecimentos terrestres tornaram-
-se disponíveis em massa. Uma visão
exterior da criação é assim transmitida
em cada casa, e daí decorrem as im-
pressões exageradas e visionárias de
sabedoria e de verdadeira fraternidade.
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