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French
Brodwyn Fischer
Introdução
O abono familiar
Conclusão
NOTAS
1 Rosário Patané para Getúlio Vargas, 7 nov., 1939. Arquivo Nacional (AN),
Secretaria da Presidência da República (SPR), série 17.10, caixa 206. Nas
citações, a concordância, a sintaxe e os erros evidentes de escrita originais
não foram corrigidos.
2 Em 1940, 18.023 trabalhadores rurais foram declarados ao censo, cerca de
3% da força de trabalho no Rio. Além disso, muitas pessoas com outras pro
fissões buscavam ocupações "rurais", ocasionalmente, para aumentar a renda.
Muitos viviam no "sertão carioca", mas outros, como Patané, combinavam a
casa na cidade com o trabalho rural. Sobre a idéia de "sertão carioca", ver
Carlos Eduardo Barbosa Sarmento, Pelas veredas da capital: Magalhães Corrêa
e a invenção formal do sertão carioca. Rio de Janeiro: Cpdoc, 1998.
3 Para discussões sobre essas cartas, ver Jorge Ferreira, Trabalhadores do Bra
sil. Rio de Janeiro: FGV, 1997; CliffWelch, The seed wasplanted. University
Park: Pennsylvania State University Press, 1999; JoelWolfe,"*Father of the
poor' or *mother of the rich*?". Radical History Review^ vol. 58, 1994,
pp. 80-111.
4 Tais problemas são intensificados pelo fato de que muitas dessas cartas fo
ram provavelmente escritas por intermediários e não pelos suplicantes. Por
todas essas razões, a noção de que "o conjunto de idéias, valores, conceitos
e imagens socialmente reconhecidos e manifestados pelos trabalhadores na
correspondência" pode ser lido de forma transparente, como "a expressão
da cultura popular da época", parece ser altamente questionável (Ferreira,
op. cit., p. 23). Para alguns casos, isso era verdade; o retrato pintado por
Ferreira dos "trabalhadores" que "se apropriavam do discurso de Vargas ,
fundindo-o com seus próprios imperativos morais em busca de melhorias
individuais, provavelmente representa um segmento da cultura política
brasileira nas décadas de 1930 e 1940. Mas essas cartas são poucas, os reme
tentes, selecionados, e a escrita, estratégica. Entre os milhões que não escre
veram, havia muitos alienados por aspectos do regime de Vargas ou descren
tes de suas chances de obter algo dessa maneira. Entre os milhares que escre
veram, boa parte provavelmente se apropriou das palavras de Vargas de forma
puramente estratégica, no sentido de que as cartas não expressavam os con
ceitos genuínos de"justiça"do remetente, mas sua elaboração em um contexto
no qual Vargas poderia reconhecer suas demandas como justas.
5 O uso defensivo da identificação "trabalhador" era comum,em parte, devido
à repressão policial contra a "vadiagem" naqueles anos. Ver Olivia Maria
Gomes da Cunha, Intenção e gesto: pessoa, cor e a produção cotidiana da
(in)diferença no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2002.
Mas também possuía profundas raízes populares, algumas ate o presente.
Ver também Sueann Caulfield, Em defesa da honra. Campinas: Editora
4-So I Brodwyn Fischer
17 PDF, Censo das favelas. Em 1957, perante essas dificuldades, esse requisito
foi eliminado pela Lei n^ 3.359.
18 Essa estimativa, antes de mais nada, superestima a porcentagem de adultos
com carteira de trabalho, pois não leva em conta aqueles que deixaram o
Rio de Janeiro durante esses anos. Ver Brodwyn Fischer, The poverty of
law. Tese de doutorado, Harvard University. Harvard, 1999, cap. 2.
19 Janice E. Perlman, The myth of marginality. Berkeley: University of Cali
fórnia Press, 1976, p. 158.
20 Ibidem.
21 O problema dos trabalhadores rurais é tema de vários trabalhos históricos
recentes, notadamente Cliff Welch, op. cit. Outros grupos ainda deman
dam estudos extensos.
22 Todos números dos Censos econômicos e demográfícos dos recenseamen-
tos gerais do Brasil de 1940, 1950 e 1960. Ver Fischer, op. cit., pp. 167-68.
23 French, op. cit.; Fortes, "Trabalhadores e populismo", op. cit., e Na luta
por direitos, op. cit.
24 Decreto-Lei n" 3.200, de 19 de abril de 1941, regulamentado pelo Decreto
n^ 12.299, de 22 de abril de 1943. A ausência dessas medidas, amplamente
divulgadas durante o governo de Vargas, das discussões sobre legislação
social e da correspondência popular é talvez sintomática dos limites do
foco exclusivo nos "trabalhadores" por parte dos historiadores.
25 Entre outros fatores, a lei garantia que os casamentos civis podiam ser cele
brados e registrados sem pagamento de taxas; simplificava os procedimentos
para o reconhecimento legal de filhos ilegítimos; prometia bônus e auxilio-
moradia para trabalhadores legalmente reconhecidos que se casassem; aju
dava casais legalmente casados que cuidavam de forma adequada de grande
quantidade de filhos e lhes proporcionavam educação; delineava os proce
dimentos para garantir o apoio a crianças de esposas abandonadas; reduzia
as taxas cobradas por educação secundária e profissional para famílias que
tinham mais de um filho; incentivava os governos federal, estadual e local
a subsidiar instituições de caridade locais que assistissem famílias miserá
veis"; e determinava que os clubes recreativos e esportivos admitissem certa
proporção de crianças pobres sem cobrança de taxas.
26 Decreto-Lei n^ 3.200, de 19 de abril de 1941, art. 29.
27 Decreto-Lei n^ 3.200, art. 28.
28 Decreto-Lei n" 3.200, art. 39.
29 Carta de 8 de agosto de 1941, AN, SPR, série 17.4, caixa 277.
30 Carta de 8 de julho de 1940, AN, SPR, série 17.4, caixa 194.
31 Carta de 31 de janeiro de 1943, AN, SPR, série 17.4, caixa 516.
32 Carta de 20 de janeiro de 1943, AN, SPR, série 17.4, caixa 516. As elipses
indicam passagens ilegíveis ou repetidas. Não está totalmente claro, na carta,
onde vivia Petronilha; sua carta apenas diz"Estação do Retiro, Sitio do Grotào".
45^2 ( Brodwyn Fischer
Não havia "Estação do Retiro" no Rio, embora houvesse uma com esse nome
na linha férrea da Leopoldina,em Minas Gerais, próxima a outros locais mencio
nados na carta. Essa é a origem mais provável da carta, embora o fato de estar
classificada como enviada do Rio possa indicar que a remetente vivesse na Estra
da do Retiro, próximo à Estação de Bangu, em um Rio de Janeiro ainda rural.
33 Entre 1920 e 1940, a população do Rio cresceu a uma taxa anual de 2,16%;
entre 1940 e 1950, a taxa subiu para 3,05% e, entre 1950 e 1960, para
3,34%. Ibge, Recenseamentogeral do Brasil, I setembro 1940. Rio de Janei
ro, 1951; idem, VI recenseamento geral do Brasil — 1950. Rio de Janeiro,
1955; idem, VII recenseamento geral do Brasil. Rio de Janeiro, 1968.
34 Isso incluía a reconstrução radical das áreas centrais do Rio, a finalização
em 1946 da Avenida Brasil, que se tornaria a principal via de acesso aos
subúrbios da zona norte, a incorporação de imensas áreas suburbanas re
centemente saneadas pelo Serviço de Saneamento da Baixada Fluminense e
incontáveis projetos menores relativos ao crescimento dos subúrbios e à
rápida transformação da zona sul em uma área comercialmente ativa e den
samente povoada. O melhor resumo das obras públicas nesses anos perma
nece o de Maurício de A. Abreu, Evolução urbana do Rio de Janeiro, 2^ ed.
Rio de Janeiro: IPLANRIO, 1988. Para interessantes artigos recentes sobre
esses temas, ver Lúcia Lippi Oliveira (org.). Cidade: história e desafios.
Rio de Janeiro: FGV, 2002.
35 Abreu, op. cit.; Luiz César de Queiroz Ribeiro, Dos cortiços aos condomí
nios fechados. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997; Sidney Chalhoub,
Cidade febril. São Paulo: Companhia das Letras, 1996; Jaime Benchimol,
Pereira Passos; um Haussmann tropical. Rio de Janeiro: Biblioteca Carioca,
1990; Oswaldo Porto Rocha, A era das demolições, 2^ ed. Rio de Janeiro:
Biblioteca Carioca, 1995; Lia de Aquino Carvalho, Habitações populares. Rio
de Janeiro: Biblioteca Carioca, 1990;Teresa Meade, Civilizing Rio. University
Park: Pennsylvania State University Press, 1997.
36 Decreto n® 6.000, de 1^ de julho de 1937.
37 Decreto Municipal n^ 391, de 10 de fevereiro de 1903; Decreto Federal n^
5.156, de 8 de março de 1904.
38 Decreto n^ 2.021, de 11 de novembro de 1924; Decreto n" 2.087, de 19 de
janeiro de 1925; Decreto n" 2.474, de 9 de novembro de 1926.
39 Alfred Hubert-Donat, Agache, Rio de Janeiro: extensão, remodelação e
embellezamento. Paris: Foyer Bresilien, 1930, p. 8.
40 Idem, op. cit., p. 4.
41 Sobre Agache, ver Denise Cabral Stuckenbruck, O Rio de Janeiro em ques
tão: o plano Agache e o ideário reformista dos anos 20. Rio de Janeiro:
Observatório de Políticas Urbanas e Gestão Municipal, 1996; e Luiz César
de Queiroz Ribeiro e Robert Pechman, Cidade, povo e nação. Rio de Janei
ro: Civilização Brasileira, 1996.
Direitos por lei ou leis por direito?|45^3
57 VerViotti da Costa, op. cit.; Costa Porto, op. cit.; Cirne Lima, op. cit.; Mattos
de Castro, op. cit., cap. 4; e Motta, op. cit., especialmente pp. 15-22.
58 Sobre o usucapião, ver Código civil brasileiro, arts. 550-53.
59 Constituição da República do Brasil, 16 de julho de 1934, título III, cap. II,
art. 113, n^ 17.
60 Maurício de A. Abreu, op. cit.; Ribeiro, op. cit.; Robert Moses Pechman,
A gênese do mercado urbano de terra, a produção de moradias e a forma
ção dos subúrbios no Rio de Janeiro. Dissertação de mestrado, PUR-Ufrj.
Rio de Janeiro, 1985.
61 Ver, por exemplo, a causa aberta pela Associação Hospital Alemão contra
JoãoTosta de Couto, um sublocatário informal que encorajou o crescimento
de uma favela em terras do hospital no fim da década de 1930 e início de
1940. A causa não foi ganha, mas referência e transcrição parcial dela podem
ser encontradas em uma carta ao presidente Vargas enviada por Eulalia
Moreira em 4 de fevereiro de 1942, agora depositada no Arquivo da Cidade
de Rio de Janeiro, PDF, série Saúde e Assistência, 1937-1945, caixa 203,
processo 2801/1942.
62 Sobre a companhia, ver Lilian Fessler Vaz, Habitação coletiva no Rio de Ja
neiro, séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002, pp. 41-44; a com
panhia aparece com freqüência em processos de despejo e posse nos livros
de tombo do tribunal civil do Rio. Outros exemplos são discutidos em Ri
beiro, op. cit.
63 Essa história apareceu na imprensa popular (especialmente em A Batalha),
numa carta a Vargas (citada abaixo) e em vários processos existentes no
Arquivo Nacional (ver, por exemplo, 3^ Pretória Civil, caixa 2436/208).
64 Turano é continuamente citado nos debates da Câmara Municipal entre
1946 e 1952 (Anais da Camara do Distrito Federal); também é lembrado
Direitos por lei ou leis por direito? ( 4^^
Às vezes, eu até esquecia que aquela terra não era minha, porque
era como se fosse, entende? Ali num tinha vigia, num tinha condi
ção, num tinha aperto. Eu cumpria o acordo,pagava o foro,e quando
precisava, trabalhava no engenho. Mas não era esse negocio de ser
todo dia da semana, era alguns dias. Era assim, tudo no respeito
daquele acordo que nós fazia quando entrava na propriedade para
pedir morada.