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A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) E AS PROPOSTAS DE

LEITURA EM SALA DE AULA

TAVARES, Edinete Braga


FERNANDES, Gleidiane de Araujo
ELIAS, Marta Danielly Jales
Professora Orientadora: Ma. Marta Lúcia Nunes/UEPB/CAMPUS IV

RESUMO
No Brasil, muitos documentos de cunho político elaborados no âmbito educacional
ficam apenas na teoria, deixando a desejar na hora de por em prática. O presente
artigo objetiva apresentar as propostas do documento da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) com vistas a analisar as diretrizes apresentadas pelo referido
documento e a prática realizada em sala de aula no tocante à prática da leitura nos
anos finais do ensino fundamental. Em seguimento nos foi permitido perceber, com
base nas leituras realizadas, que existe uma ínfima insatisfação de modo geral das
escolas para com as demandas do já citado documento, levando-se a crer que ele
precisa ser repensado em alguns aspectos. Para fomentar essa pesquisa usou-se
da metodologia bibliográfica observando o ponto de vista de alguns teóricos, dentre
eles o próprio documento da Base Nacional Comum Curricular (2017), Foucalt
(1971), Kleiman (1993) entre outros.

PALAVRAS-CHAVES: Leitura. Propostas. Ensino.

ABSTRACT

In Brazil, many documents of a political nature elaborated in the educational scope


are only in theory, leaving to be desired in the moment of putting into practice. The
present article aims to present the proposals of the National Curriculum Base
(BNCC) document with the aim of analyzing the guidelines presented by this
document and the practice in the classroom regarding the practice of reading in the
final years of elementary school. We were then allowed to perceive, on the basis of
the readings carried out, that there is a very minimal dissatisfaction of schools in
general with the demands of the aforementioned document, leading one to believe
that it needs to be rethought in some aspects. In order to promote this research, the
bibliographical methodology was used, observing the point of view of some theorists,
among them the document of the National Curricular Common Base (2017), Foucalt
(1971), Kleiman (1993) and others.

KEYWORDS: Reading. Proposals. Teaching.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
2. A BNCC E SUAS PROPOSTAS DE LEITURA ..................................................... 4
3. PRÁTICA X TEORIA .............................................................................................. 5
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 8
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 9
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INTRODUÇÃO

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter


normativo, ou seja, ele trabalha com a proposição de que todas as escolas
procedam de forma padronizada definindo o aprendizado básico que serão
desenvolvidos no decorrer do processo educacional. Para a construção desse
documento ocorreram várias modificações na estrutura educacional brasileira, como
a BNCC mesmo afirma:

Este documento normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal


como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996)1, e está orientado pelos princípios éticos,
políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção
de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas
Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN). (BRASIL,
2017, p. 7)

Dessa forma, a BNCC apropria-se de uma função estruturada nos procedimentos


educacionais diante de todo corpo docente e orientadores da educação brasileira,
pois segue dois aspectos: direcionar o desenvolvimento inicial e continuado de
docentes e auxiliar a preparação dos materiais didáticos.
Os pronunciamentos oficiais a respeito da língua portuguesa, guiados pelos
documentos responsáveis pela criação da BNCC, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), foram
sendo estabelecidos nas escolas sob a perspectiva da produção, da divulgação e do
apoderamento de conhecimento.

[...] a produção de discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada,


organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por
função, conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento
aleatório[...] (FOUCALT, 1971, p. 9).

Tal qual Focault fala acontece nas escolas, pois a escola tenta reger o que
pode ou não ser dito em sala de aula tanto pelo professor como pelo aluno, a BNCC
teoricamente, de certo modo, administra o que o professor deve fazer em sala, pois,
por mais que a BNCC generalize o que deve ser ensinado em sala de aula, essas
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normas ainda precisam ser repensadas, redefinidas e selecionadas para que, assim,
sejam aplicadas.
Diante desse documento partimos para a análise bibliográfica feitas por
teóricos a respeito das práticas exercidas em sala, visando os conteúdos
selecionados pelas instituições de educação, como MEC e PCN, a serem aplicados
pelos professores. Pensando nisso existe uma lacuna a ser preenchida nessa etapa
da aprendizagem, segundo (BRASIL,2017) “No componente Língua Portuguesa,
amplia-se o contato dos estudantes com gêneros textuais relacionados a vários
campos de atuação e a várias disciplinas, partindo-se de práticas de linguagem já
vivenciadas pelos jovens para a ampliação dessas práticas, em direção a novas
experiências.” É perceptível que na realidade das salas de aula os professores
seguem regras das instituições onde trabalham e não no contexto social dos
estudantes.
Dessa forma, esse trabalho irá apresentar algumas discussões em torno do
documento BNCC em relação as práticas de leitura trabalhadas em sala de aula dos
anos finais do ensino fundamental.

2. A BNCC E SUAS PROPOSTAS DE LEITURA


De acordo com o texto da BNCC, em relação a área de Língua Portuguesa,
vimos que o professor deve “proporcionar aos\às estudantes experiências que
ampliem possibilidades de ações de linguagem que contribuam para seu
desenvolvimento discursivo”. (BRASIL, 2015) Os docentes têm como incumbência
propiciar aos alunos aulas em que eles possam ampliar e desenvolver o
pensamento crítico e reflexivo utilizando textos diversificados e principalmente textos
do contexto social do aluno.
No que diz respeito à leitura de textos diversificados a BNCC tem uma
posição que possibilita ao professor, que venha a utilizá-la, a se apoderar de
diversos tipos e não cair na rotina utilizando apenas textos escritos. Em muitos
trechos é afirmado e reafirmado que os alunos devem ter acesso à diversidade que
existe no mundo da leitura hoje em dia e dá exemplos como os de (BRASIL, 2017)
“[...] imagens estáticas (foto, pintura, desenho, esquema, gráfico, diagrama) ou em
movimento (filmes, vídeos etc.) e ao som (música), que acompanha e cossignifica
em muitos gêneros digitais.”
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A leitura abrange o desempenho da linguagem que se processa a partir da


comunicação ativa entre leitor/ouvinte com textos variados, apresentando uma
grande relevância no processo de escolarização e evolução social. Esse
desempenho é realizado pela fluidez de textos e temáticas presente nesses textos
que podem fazer com que o aluno estabeleça relações com o meio em que convive
e aqueles que nele residem. Isso possibilita a esses alunos:

[...] fruição estética de textos e obras literárias; pesquisa e


embasamento de trabalhos escolares e acadêmicos; realização de
procedimentos; conhecimento, discussão e debate sobre temas
sociais relevantes; sustentar a reivindicação de algo no contexto de
atuação da vida pública; ter mais conhecimento que permita o
desenvolvimento de projetos pessoais, dentre outras possibilidades.
(BRASIL,2017, p. 69)

Observando e analisando as argumentações expostas pelo documento BNCC


e tendo em vista os conhecimentos gerais que se tem da escola, percebe-se que
não há tanto espaço para que o indivíduo explore a linguagem social em que ele
está inserido como é proposto pelo referido documento. Sendo assim a BNCC
propõe, sem cessar, que as instituições de ensino trabalhem tanto textos globais,
como também textos do meio social do aluno, dando a ele a possibilidade de criar
senso crítico.

3. PRÁTICA X TEORIA
Ler é uma atividade que faz parte da vida escolar de um indivíduo. Seja nos
primeiros anos do ensino infantil ou nos anos finais do ensino superior o aluno
precisa ler. Porém essa prática não é feita para fins de entretenimento, mas sim de
obrigação.
Desde os anos em que a leitura é vista como obrigatória na escola ela passou
a ter um papel secundário, nunca se lê por ser importante para a vida social, como
propõe a BNCC, mas para se obter as respostas de uma atividade, ou para se
preparar para uma prova ou mesmo para a apresentação de um seminário. É nesse
ponto que chegamos à uma contradição entre as propostas de leitura apresentadas
pela BNCC e a verdadeira prática escolar. Enquanto no documento político se fala
de uma leitura empoderada, na escola se pratica uma leitura obrigatória, tirando todo
o interesse, por parte dos alunos, em ler mais e por prazer.
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As escolas brasileiras não dão o devido valor à leitura. Enquanto alguns países a
concentram como a principal fornecedora de conhecimento, o Brasil a utiliza mais
como uma ferramenta de pesquisa, isso faz com que, no Brasil, ainda exista um
percentual de 44% da população que não lê. A escola, de certa forma, tem uma
pequena parcela de culpa, já que ela mesma não inspira essa prática de leitura.
Na escola a leitura nunca é vista e tratada como um ensino em si, ou seja,
nunca consideram que ler, para prazer, pode ser um ensino proveitoso, levando os
alunos a tratar a leitura como algo desagradável já que ela é usada mais apenas
para fins de ensino de gramática, no caso da língua portuguesa, como afirma
Kleiman (1993) “A leitura é vista pelo corpo discente como algo ‘massacrante’,
imposta pelos mestres.” e Rampelotoo (2017) “As escolas usaram excessivamente
os livros didáticos, em que o texto era apenas um grupo de componentes
gramaticais[...]”.
Esse modo de ensino além de desestimular os alunos, bem como os
professores, também foge totalmente às propostas apresentadas pela BNCC, que
tem por intuito apresentar uma escola formadora de leitores críticos-reflexivos,
trabalhando as habilidades de compreensão e interpretação.
O trabalho de leitura não deve se centrar somente na decodificação e
seleção de informações, mas também nas inferências e deduções
por parte do aluno, na reflexão sobre o léxico do texto, nas
habilidades de compreensão e de interpretação. (BRASIL, 2018, p.
51)

Além de apresentar propostas de leituras que não se ligam apenas à


gramática, a BNCC também propõe que os alunos sejam estimulados a ler por
prazer e não ler apenas trechos de livros que serão requisitados para trabalhos ou
provas, ou seja, para atribuir nota numa leitura forçada, como afirma o documento
Caderno da BNCC na Prática (2018) que foi escrita pela equipe educacional FTD
Educação.

[...] Dessa forma, o estudante obterá o autodomínio do processo de


leitura, antes e durante a análise do texto. Portanto, essa prática
mostra aos professores a importância de fazer com que seus alunos
se interessem pela leitura, tanto pelas obras escolhidas pela escola
quanto por aquelas selecionadas pelo próprio discente. (BRASIL,
2018, p. 51)

Uma preocupação bastante comum durante todo o documento da BNCC é em


relação à formação de um leitor literário e não apenas um leitor voltado para
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pesquisas escolares e/ou leituras midiáticas. No Brasil o número de leitores, embora


ainda baixo, está aumentando gradativamente, o que é um avanço significativo.
Porém acredita-se que se as escolas investirem mais na leitura da literatura, dando
espaço para leituras leves e sem deveres, abrindo possibilidades para discussões
sobre o que foi lido, como também viabiliza a inserção do aluno no meio social de
uma forma ética e argumentativa, é provável que esse número aumente durante os
anos. Por isso a BNCC tem uma preocupação específica para com a leitura de
gêneros literários, como pode-se notar:

Está em jogo a continuidade da formação do leitor literário, com


especial destaque para o desenvolvimento da fruição, de modo a
evidenciar a condição estética desse tipo de leitura e de escrita. Para
que a função utilitária da literatura – e da arte em geral – possa dar
lugar à sua dimensão humanizadora, transformadora e mobilizadora,
é preciso supor – e, portanto, garantir a formação de – um leitor
fruidor, ou seja, de um sujeito que seja capaz de se implicar na
leitura dos textos, de “desvendar” suas múltiplas camadas de
sentido, de responder às suas demandas e de firmar pactos de
leitura. (BRASIL, 2017, p. 136)

Tendo em vista tudo o que foi apresentado, pode-se ver que as propostas da
BNCC e a real prática existente em sala de aula estão longe de chegarem a um
acordo. Enquanto a BNCC apresenta um plano voltado para a leitura, idealizada e
sem defeitos, a escola apresenta uma realidade diferente que, por sua vez, se
mostra de forma escassa e precária. É verdade que ainda é visível a falta de
incentivos por parte do corpo docente, da escola como um todo, mas essa culpa é
partilhada também entre uma sociedade que aprendeu que ler é perda de tempo e
de um governo que não investe o que é preciso na educação.
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4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisamos a BNCC, que aparece como uma inovação, apresentando
problemas que eram identificados desde os parâmetros Curriculares Nacionais.
Sabendo que a BNCC é como um norteador aos professores, percebemos durante a
pesquisa que o documento é uma grande influência às resoluções que poderão
afetar o desenvolvimento dos discentes.
Nota-se a contradição entre o documento e as práticas em sala de aula, é um
jogo de entrelaçamento entre o que a BNCC expõe, o que é feito em sala de aula
pelos professores e o resultado obtido dessas aulas.
Portanto, é fundamental promover empenhos que possam auxiliar com a
compreensão desse documento e que venham a apoiar os docentes em suas
atividades didático-pedagógicas, fazendo que os alunos construam um pensamento
crítico reflexivo. Para tal é necessário um aprimoramento desse documento, um
entrelaçamento entre as muitas teorias existentes sobre educação e sobre o real
ensino em sala de aula, as reais dificuldades encontradas pelos professores e
alunos. Do contrário a BNCC se tornará apenas mais um livro teórico, um
documento em que são tratadas realidades inexistentes e distantes, fazendo tornar-
se impossível sua aplicação.
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REFERÊNCIAS

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (versão final). 2017. Disponível em: Acesso
em: 08 mar. 19.

______. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (versão preliminar).


2015. Disponível em: Acesso em: 21 set. 15 e Acesso em: 08 mar. 19.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio.


15 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura. Campinas: Pontes; Unicamp, 1993.

RAMPELOTOO, Helena de Paula. As Dificuldades na Formação do Hábito de Leitura


em Alunos do Ensino Fundamental. 2017. Disponível em:
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/habito-de-leitura. Acesso em: 27 fev.
2019.

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