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DE
DIDÁTICA
DA
MÚSICA 1
ESCOLA MUNICIPAL DE
ARTES MARIA JOSÉ
GUEDES - EMART
Parte 3 – Revisão
Trabalho 3 – Aula em grupo sobre práticas com crianças de 4 aos 10 anos de idade
(educação infantil e ensino fundamental 1) – criar aula inspirado nas folhas de práticas
(localizadas no final da apostila) contendo algo de algum autor estudado previamente
Trabalho 4 – Apresentação individual de seminário sobre textos anteriores ou criação de
uma prática baseado na folha de prática ou composição
* Textos “alternativos” podem ser utilizados ou não, de acordo com a orientação do professor.
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Aula 16 – Ensino coletivo online de instrumentos
Importante:
• Cada aluno precisa ler o respectivo texto antes de cada aula, como tarefa de casa.
Em cada aula o professor irá fazer perguntas sobre o texto. Não saber a resposta
irá acarretar em défict de 1 ponto na média final para cada pergunta não
respondida.
• Como avaliação, cada aluno terá que apresentar 4 trabalhos ao longo da disciplina,
sendo 2 trabalhos nas aulas 9, 10 e 11 e mais 2 seminários nas aulas 13, 14 e 15.
A data da apresentação desses trabalhos será informada ao longo da disciplina,
devendo cada aluno se responsabilizar por acompanhar a data de cada aula. O
aluno que não comparecer em cada uma dessas aulas sem um atestado médico terá
nota zero. Os alunos que apresentarem atestado deverão combinar com o
professor a apresentação deste trabalho.
• Não é obrigatório o aluno ter o texto impresso. Cada aluno pode acompanhar o
texto em seu celular ou tablet. No entanto, cada aluno é responsável por trazer
para aula seu equipamento. Não ter o arquivo da apostila no seu aparelho ou
não trazer seu equipamento para a aula por qualquer motivo acarretará
déficit de 1 ponto na média para cada ocorrência. Recomenda-se que para
evitar esse tipo de problema o aluno tenha, se possível, os textos impressos em
mãos (não obrigatório).
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Descrição dos trabalhos a serem apresentados
Trabalho 2 – Composição
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Trabalho 3 – Aula prática
Trabalho individual
Cada aluno deverá individualmente escolher entre uma dentre as três opções
abaixo:
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Textos para ler (referências bibliográficas) – por ordem cronológica e por ordem
da apostila
CUNHA, Daiane Solange Stoeberl; GOMES, Erica Dias. Música na escola?: Reflexões
e possibilidades. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2012. P. 82-85
CUNHA, Daiane Solange Stoeberl; GOMES, Erica Dias. Música na escola?: Reflexões
e possibilidades. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2012. P. 77-81
CUNHA, Daiane Solange Stoeberl; GOMES, Erica Dias. Música na escola?: Reflexões
e possibilidades. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2012. P. 72-76.
CUNHA, Daiane Solange Stoeberl; GOMES, Erica Dias. Música na escola?: Reflexões
e possibilidades. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2012. P. 86-89.
CUNHA, Daiane Solange Stoeberl; GOMES, Erica Dias. Música na escola?: Reflexões
e possibilidades. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2012. P. 96-101.
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Parte 3 – Revisão
BOMFIM, Camila Carrascoza. Pensadores do início do século XX: breve panorama. In:
JORDÃO, Gisele; Alluci, Renata R et al. Música na Escola. São Paulo: Allucci
&Associados Comunicações, 2012. P. 82-84. Disponível em:
http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/AMUSICANAESCOLA.pdf. Acesso em 1
Ago. 2019.
FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. A educação musical no século XX: métodos
tradicionais. In: JORDÃO, Gisele; Alluci, Renata R et al. Música na Escola. São
Paulo: Allucci & Associados Comunicações, 2012. P. 85-87. Disponível em:
http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/AMUSICANAESCOLA.pdf. Acesso em 1
Ago. 2019.
IVO, Lais Figueiroa; JOLY, Ilza Zenker Leme. A Qual é a música? Uma brincadeira
para aulas coletivas de flauta doce. In: Música na educação básica. v. 8, n. 9. Londrina:
Associação Brasileira de Educação Musical, 2009. Disponível em:
http://www.abemeducacaomusical.com.br/revista_musica/ed9/Revista%20Meb%209_A
RTIGO_Qual%20e%20a%20musica.pdf. Acesso em 1 Ago. 2019.
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Folhas de práticas: Pré-escola e ensino fundamental 1
JORDÃO, Gisele; Alluci, Renata R et al. Música na Escola. São Paulo: Allucci &
Associados Comunicações, 2012. P. 209-245. Disponível em:
http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/AMUSICANAESCOLA.pdf. Acesso em 1
Ago. 2019.
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Aula 2: Émile Jaques-Dalcroze
CUNHA, Daiane Solange Stoeberl; GOMES, Erica Dias. Música na escola?: Reflexões e possibilidades. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2012. p. 82-85.
(06/07/1865-01/07/1950)
É imPortante saber...
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onde teve a oportunidade de estudar declamação e dicção.
Passou uma temporada trabalhando como regente no Théatre
des Nouveautés, na Argélia, onde o contato com a música norte-
africana o instigou a refletir sobre as relações entre ritmo e
movimento. Assim, continuou os estudos em Viena, até que, aos
27 anos, aceitou o convite para ser professor no Conservatório
de Música de Genebra (MADUREIRA, 2008).
Segundo Fonterrada (2008), foi devido ao seu trabalho
como professor de harmonia, que Dalcroze notou a dificuldade
dos alunos em perceber o som. Ele recomendava-lhes que nunca
experimentassem o som no piano antes de resolver os exercícios
de harmonia. Assim, percebeu que o erro estava em enfatizar
os processos mentais, sem ligar a atividade cerebral à sensação
auditiva. Desta forma, resolveu inverter o processo, incentivando
a prática antes da teoria, por meio da escuta e experimentação.
Essa discussão sobre a importância da experiência anterior já
era algo que preocupava educadores e pesquisadores no início
do século XX, influenciados pelas descobertas no campo da
psicologia da educação.
Como professor no Conservatório de Música de Genebra,
Dalcroze buscou metodologias de ensino de percepção musical,
com objetivo de encontrar melhores maneiras de levar os alunos a
ouvir e a responder espontaneamente. Investigou aprendizagem
musical por meio dos movimentos corporais, nomeando suas
práticas de “Ginástica Rítmica”, por meio da qual identificou e
estabeleceu diferentes maneiras de mover-se ritmicamente. Ele
percebia o movimento como indissociável da música, por ser
tanto uma resposta a esta, como também seu provocador.
Na metodologia construída por Jaques-Dalcroze, o corpo
humano é o instrumento original, assim, são usados os
movimentos naturais, como respirar, andar, marchar, cantar, bater
as mãos, e outros movimentos associados à ginástica, como pular
corda, movimentar-se em dupla, carregar peso imaginário, usar
a força nos braços e nas pernas, explorar movimentos amplos
com o uso de maior espaço. O suíço enfatizou o trabalho com
a imaginação, a consciência e a cooperação entre as pessoas.
Seu contato com as pesquisas corporais de Isadora Duncan o
inspiraram e confirmaram suas próprias experiências.
Esta abordagem, que procurava a integração entre os
movimentos do corpo e a escuta, trazia consigo outros aspectos
inovadores para o ensino de música: o uso de roupas mais
adequadas e confortáveis, para a melhor movimentação; a
exploração dos movimentos; o desenvolvimento da expressão
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corporal; as aulas em grupos e o contato físico entre os alunos.
Esses aspectos, contextualizados em seu tempo, pensados
para dentro do espaço de sala de aula de música, trouxeram
consigo uma resistência por parte de um grupo de artistas,
médicos, psicólogos, professores, que se escandalizaram com
os procedimentos adotados (FONTERRADA, 2008; MADUREIRA,
2008).
Com a resistência encontrada, Dalcroze deixou o
Conservatório para assumir um instituto totalmente dedicado à
Rítmica, em Hellerau, na Alemanha, onde pôde dedicar-se à sua
proposta de integração de música, dança e teatro, até eclodir a
Primeira Guerra Mundial. A grande divulgação de seu método
teve início com suas aulas demonstrações e com a publicação
do livro Jaques-Dalcroze Méthode (1906), em francês e alemão.
Sua dedicação à educação musical foi tamanha, que centenas
de professores e profissionais foram atraídos para o instituto
na Alemanha, principalmente pela inovação metodológica e
conteudista: solfejo (treinamento do ouvido), ginástica rítmica,
improvisação, plasticidade (estudo de movimento de música),
teoria musical e prática, dança e anatomia. O Instituto Jaques-
Dalcroze de Genebra foi criado somente em 1915, impulsionando
definitivamente o reconhecimento mundial de seu trabalho. Seu
método foi difundido através do ensino nos conservatórios e
escolas de toda a Europa e América do Norte, exercendo grande
influência no ensino de música e dança no século XX. Dalcroze
lecionou até pouco antes de sua morte, no Institut Jacques-
Dalcroze de Genebra, que atualmente é um centro internacional
desta abordagem de ensino da música (MADUREIRA, 2008).
Jaques-Dalcroze teve grande influência não só para
diversos educadores musicais que vieram depois, como também
para importantes nomes da dança moderna, como François
Delsarte e Rudolf Laban, além de ser muito citado em trabalhos
relacionados ao teatro.
PrincíPios:
84
colocando em Prática...
• Ao som da música tocada, ou gravada, andar ao
redor da sala, marcando o ritmo ouvido. Propõe-
se que o aluno responda diretamente ao ritmo e às
mudanças no andamento e dinâmica;
• Adequar os movimentos ao som ouvido: tamanho,
velocidade e força dos passos, o uso de energia
corporal;
• Atividades comuns deste método incluem reações
rápidas como iniciar ou parar no comando e andar
mais rápido e mais lento; pisar fora dos padrões
rítmicos;
• O professor apresenta diferentes exemplos musicais,
variando os ritmos; após ouvir atentamente, os alunos
repetem imediatamente, combinando os seus passos
exatamente à sequência de notas curtas e longas
percebidas;
• Percepção de fraseado por contrastes de passos
leves e pesados, usando uma resistência real ou
imaginando esticar um elástico, ou ainda revezando
movimento com um parceiro ou em grupo;
• Partindo de percepções mais simples, pode-se
chegar à percepção de fugas, rondós.
Particularidades:
• Viver corporalmente o movimento musical;
• Integração entre as artes;
• Exploração dos movimentos básicos corporais;
• Exercícios de reação corporal à estímulos sonoros,
combinação e alternância de movimentos, exploração
do espaço;
Para saber mais...
http://www.jtimothycaldwell.net - site de Timothy Caldwell,
especialista em Metodologia Dalcroze e professor da Central
Michigan University
http://www.fier.com - La Fédération Internationale des
Enseignants de Rythmique (Federação Internacional de
Educadores da Rítmica)
http://www.dalcroze.ch - Institut Jaques-Dalcroze
http://www.dalcroze.org.au - Dalcroze Australia Inc.
http://www.dalcrozeusa.org/ - Dalcroze Society of America
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Aula 3: Zoltán Kodaly
CUNHA, Daiane Solange Stoeberl; GOMES, Erica Dias. Música na escola?: Reflexões e possibilidades. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2012. P. 77-81
É imPortante saber...
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dessa música húngara nas verdadeiras fontes folclóricas, ou seja,
em propriedades rurais isoladas, em trabalho minucioso pelo
país, buscando canções preservadas de geração em geração, por
meio da tradição oral. Durante 60 anos, foram feitos trabalhos
de coleta, transcrição, classificação e publicação de mais de cem
mil canções – tanto da Hungria como de regiões próximas, cujo
objetivo não era somente a pesquisa, mas também o de pensar
em educação musical e composição. A partir de 1945, houve
incentivos na Hungria para publicações de livros didáticos e,
posteriormente, para pesquisas em estudos folclóricos, o que
beneficiou o trabalho de Kodály (FONTERRADA, 2008).
Em relação ao ensino, Kodály não descreveu
sistematicamente um método, mas realizou um trabalho, cujo
intuito era estabelecer princípios que deveriam ser a base para
a educação musical, buscando desenvolver a musicalidade
individual de todo o povo e valorizar a identidade musical do
mesmo. Kodály acreditava que, assim como a língua nativa,
a música deveria ser desenvolvida desde a infância, por ser
manifestação inerente à existência humana. Por isso, todos
deveriam ter acesso ao ensino de música nas escolas, para que
todos fossem alfabetizados musicalmente (THE INTERNATIONAL...,
2011).
O compositor húngaro conseguiu ver seu sonho realizado,
que era o de ter seu método aplicado em todas as escolas das
redes estatais húngaras. Isso foi feito por meio da colaboração de
colegas e alunos, que multiplicaram - e continuam multiplicando
- as suas ideias e abordagens, e também contribuindo para
a sistematização da metodologia. Diferentemente de outros
educadores musicais, Kodály considerava fundamental a
aprendizagem da leitura e escrita musical, que deveria fazer parte
desde os estágios iniciais. Porém, a teoria musical viria como
complementação, como consequência da prática. Segundo
ele, “Entender a música está ao alcance de todos: é a leitura e
a escrita musical. Uma vez possuindo essas habilidades, todos
podem compartilhar de grandes experimentos musicais” (GUEST,
2003, [s.p.]).
O ensino de música deveria explorar, primeiramente, o
desenvolvimento da voz, pois ela seria o meio mais natural e
acessível para toda criança aprender música. Só depois viria o
ensino do instrumento.
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Kodály considerava fundamental o uso de canções folclóricas
para as aulas de música, pois acreditava que elas eram uma
forma de identificação cultural e ainda, segundo ele, “trazendo
ao conhecimento canções de outros países é a melhor maneira de
conhecer outros povos...”, tendo como objetivo “levar os alunos
a conhecer e gostar dos clássicos do passado, presente e futuro”.
Defendia também a associação da música com o movimento do
corpo, com a dança, e acreditava que deveriam ser valorizadas,
por exemplo, as danças folclóricas nas escolas, reforçando assim
sua ideia de respeito às questões culturais locais, atualmente tão
valorizadas no ensino brasileiro (GUEST, 2003).
PrincíPios:
colocando em Prática...
tal como ficaram conhecidas na cultura
ocidental, também o desenvolvimento
do solfejo está fortemente vinculado ao
monge beneditino Guido D’Arezzo (séc.
• A sequência simplificada, a seguir, pode servir XI), havendo consenso entre estudiosos
que tenha sido o primeiro teórico a
de referência como exemplo possível para ações propor um conjunto de sinais manuais
para indicar e organizar a realização
encadeadas em uma aula: ouvir – cantar – entender– das notas melódicas do cantochão
ler e escrever – criar; nos mosteiros. No séc. XIX, com a
ampliação do movimento coral na
• O professor pode iniciar cantando uma melodia Inglaterra, Sarah Glover e John Curwen
também utilizaram uma série de sinais
para que os alunos escutem, memorizem e a vinculados à prática, por reforçarem
ideias musicais específicas e traduzem
reproduzam cantando; o som em movimento. Villa-Lobos, na
• Podem surgir variações como: professor começa a prática do Canto Orfeônico, também
desenvolveu técnica própria de sinais
cantar e alunos cantam, imitando logo em seguida, manuais para auxiliar na regência e nas
relações de altura das notas musicais
sempre em tempo atrasado, a partir da escuta e (FREIRE; SOUZA; PREUSSE, 2007).
memorização (cânone);
• O professor pode cantar com o nome das notas
a serem praticadas, com os alunos imitando
em seguida. Depois, os alunos cantam as notas
• seguindo os comandos dados pela manossolfa
(pode-se dividir a turma em grupos);
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• Após praticar as notas, o professor pode cantar uma
melodia sem dizer o nome das notas, para que os
alunos cantem dizendo os nomes delas;
• Pode-se mudar a região a ser cantada, ficando mais
grave ou aguda, lembrando que os nomes das notas
permanecem os mesmos, já que se usa o sistema
de leitura relativa (“dó móvel”), ou seja, pode-se
praticar a transposição;
• Pratica-se a escrita do trecho e ainda, exercícios de
leitura semelhantes;
• Trabalho de improvisação pode ser feito a partir das
mesmas notas que estiverem sendo trabalhadas
naquele nível;
Particularidades:
80
Dó Ré
Mi Fá
Sol Lá
Ti
Imagem disponível em: www.kodaly.
org.au/Download-document/25-Hand-
Sign-Diagram.html. Acesso em: 21
MANOSSOLFA mar 2011.
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Aula 4: Edgar Willems
Capítulo 3
PAREJO, Enny. Edgar Willems: Um pioneiro da educação musical. In: MATEIRO, Teresa; ILARI, Beatriz. Pedagogias em educação musical. Curitiba: Intersaberes, 2012. p. 103-118.
Edgar Willems
Um pioneiro da educação musical
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
Enny Parejo
Proposta pedagógica
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
Willems (1970 [1956], p. 71, tradução nossa) considera a vivência musical como fio condutor de toda apren-
dizagem. Enfatiza que “é muito importante que a criança viva os fatos musicais antes de tomar consciência
deles”. Primeiramente é preciso viver e fazer música, depois, pensar sobre ela. Segundo Willems, pretende-se
ensinar noções abstratas em idade muito precoce, quando seria mais fácil aguardar a idade em que as abs-
trações passam a fazer parte do universo possível de uma criança.
Na concepção willemsiana, o ritmo tem a prioridade, a melodia a primazia. O ritmo é o elemento mais
material, portanto prioritário na música, sendo a melodia sua “tributária”; no entanto, segundo Willems
(1970 [1956], p. 71, tradução nossa), “ela sempre foi e sempre será o elemento mais característico da
música”, tornando-se, assim, o elemento primaz. Disso decorre o lugar central que o canto e as canções
ocupam no método.
Para Willems (1976 [1950], p. 23, tradução nossa) “o canto desempenha o papel mais importante
na educação musical dos principiantes”. As canções constituem o que denominou de uma atividade
sintética: agregando em torno da melodia, o ritmo e a harmonia subentendida; são, portanto, meios
sensíveis e eficazes para desenvolver a musicalidade e a audição interior. Willems salienta, ainda, o fato
de muitas crianças cantarem antes mesmo de falar, o que é uma indicação preciosa para orientar as esco-
lhas de pais e professores nas interações musicais com os pequenos. O quadro a seguir apresenta uma
adaptação da classificação das canções e de suas finalidades didáticas, conforme o que foi preconizado
por Willems (1970 [1956]) em seu livro La préparation musicale des tout-petits (A preparação musical de
crianças pequenas):
2. Canções simples para principiantes – elaboradas sobre palavras e ações cotidianas (Bom dia, Onde está?
Papai, Mamãe, entre outras), compostas na própria aula;
3. Canções que preparam para a prática instrumental – compostas sobre o pentacorde, permitem utilizar
os cinco dedos, ao piano. Antes de executar a canção ao instrumento, convém fazer cantá-la com a letra,
em seguida em “lá, lá, lá”, depois, transpondo-a para diferentes tonalidades e, finalmente, cantar na
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
tonalidade de Dó M com os nomes das notas;
4. Canções de intervalos – têm a intenção de preparar o treinamento intervalar futuro, devem ser cantadas pri-
meiramente com a letra, depois em “lá, lá, lá” e, mais adiante, com os nomes das notas. Os intervalos são
apresentados na seguinte progressão: 2ª M e m; 3ª M e m; 5ª e 4ª j; 6ª M e m; 8ª j; 7ª M e m; 5ª dim; 4ª aum;
5. Canções para cantar com mímica – aqui Willems pensa no valor expressivo e plástico das expressões
faciais e movimentos corporais;
6. Canções ritmadas – são canções que possibilitam movimentos naturais como embalar, saltar, correr,
balançar, trabalhar nuances de velocidade e, mais tarde, bater os tempos e os ritmos. Essas mesmas
canções, além de trabalhar o instinto rítmico, muitas vezes preparam a percepção de acordes e harmonias.
7. Canções improvisadas – partem de ritmos corporais ou de palavras ou frases que as crianças gostam de
repetir, o professor estará atento para canalizar esses momentos espontâneos.
A educação musical não necessita utilizar meios extramusicais. Willems não ignora as diversas associa-
ções presentes no estudo da música que podem ser interpretadas como subcódigos em ação simultânea e,
para trabalhá-los, criou diversas estratégias. Tomando, como exemplo, alguém que toca piano: para se tocar
uma tecla do piano tem-se a nota escrita (aspecto visual), o nome da nota (conceito), o som na imaginação
auditiva (escuta interior ou imagem aural), a tecla (tato) e um número que indica o movimento dos dedos,
além de considerar o ritmo e o código de intensidade. As associações extramusicais, classicamente adotadas
por diversas metodologias, a exemplo do sistema Tônica Sol-Fá, da fonomímica com signos específicos
(admitida apenas para o movimento sonoro ascendente e descendente dos sons) e as associações entre sons
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
afirma: “Quando o pedagogo [...] necessita meios extramusicais (tomados fora do âmbito do som, como o
desenho, a cor, os contos) para que seu ensino adquira vida, não está no caminho justo, não está na vida
real da música, não conhece as raízes da planta musical, nem o plano do edifício musical”.
Para Willems (1970 [1956]), a educação musical começa pela musicalidade, distingue com muita
clareza o estudo técnico de um instrumento e o desenvolvimento da musicalidade e, ao fazê-lo, advoga
pelo conceito de iniciação musical, fortalecendo-o, e contrariando o paradigma de seu tempo – que se
sustentou até épocas bem recentes – segundo o qual estudar música significava estudar um instrumento.
Ainda segundo Willems, a iniciação musical compreendida dessa forma assegura as bases sensoriais, físicas
e afetivas para a educação musical. Mais uma vez Willems (1970 [1956], p. 154) foi pioneiro, ao propor
uma distinção entre “educação” e “instrução”, contribuindo para a superação das visões tecnicistas e meca-
nicistas que tanto assolaram nossas práticas musicais ocidentais.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
mais tarde. O método prevê também a iniciação à prática instrumental, em especial, ao estudo do piano.
A iniciação musical Willems é iniciada com ritmo e som, segundo ele, elementos pré-musicais que devem
ser trabalhados desde tenra idade, através de material auditivo especial e dos movimentos corporais naturais.
Sobre esses elementos básicos se erguerá o edifício da consciência musical. Sobre os movimentos naturais, trata-
-se basicamente de formas de locomoção – marchar, correr, saltar, balançar, saltitar, girar – que as crianças exe-
cutam a princípio como querem, mas, logo em seguida, sob o pulso tocado pelo professor em uma pandereta ou
sob música especialmente composta para essa finalidade. O trabalho corporal se distancia bastante do conceito
atual de expressão corporal e pesquisa do movimento, já que a criatividade não é incentivada.
Para o desenvolvimento auditivo Willems (1972 [1946]) propõe: o estudo do som, da melodia, da
escala, do acorde maior, dos intervalos, de acordes diversos, da polifonia e da harmonia; para o estudo do
ritmo: movimentos corporais naturais, o tempo (pulsação), o compasso, a subdivisão, e o ritmo propria-
mente dito (células e fórmulas rítmicas). O trabalho rítmico é também bastante dirigido; nos primeiros
graus da iniciação musical, as crianças têm alguma liberdade de expressão, mas a partir do nível três, a
prática se concentrará no que Willems (1972 [1946], tradução nossa) chamou de os elementos do ritmo:
tempo (pulso), compasso e subdivisão. Não seria possível descrever com detalhes, no âmbito deste capítulo,
a riqueza de procedimentos didáticos utilizados em perfeita coerência com os conteúdos metodológicos
propostos, sendo importante tentar empreender uma síntese com base em indicações do próprio Willems
(1972 [1946], tradução nossa):
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
A observação do detalhamento do 1º Grau, da forma proposta na síntese de trabalho elaborada por
Chapuis ([S.d.]) na ficha que segue, pode ser ilustrativa para que se compreenda o funcionamento prático
do método. Essa ficha é parte do material avulso distribuído aos professores participantes da formação
Willems na cidade de Lyon, não faz parte de uma apostila ou livro didático. Cada turma de alunos deveria
ter uma ficha como essa para controle da evolução dos conteúdos do currículo. Observe-se que a ficha
(Quadro 3.1) funciona também como controle da evolução do planejamento, já que nas colunas da direita
o professor anotará as datas das aulas, especificando os procedimentos realizados:
7. Invenção melódica
8. Em direção ao alto (agudo) e ao baixo (grave)
9. Sons harmônicos pela motricidade
10. Em direção ao acorde perfeito
II. Desenvolvimento do sentido rítmico pelos batimentos
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
11. Alongamento e aquecimento
12. Ritmos livres sem vocábulos
13. Ritmos livres com vocábulos
14. Memória de batimentos rápidos
15. Nuances dinâmicas: crescendo; decrescendo
16. Nuances dinâmicas: forte, suave
17. Nuances agógicas: acelerando, ritardando
18. Nuances agógicas: rápido, lento
19. Nuances agógicas: curtos-longos livres
20. Batimentos de ritmos da linguagem falada
III. Canto e canções (ver ficha global)*
21. Pequenas canções inventadas
IV. Movimentos corporais naturais
22. No tempo das crianças (invenção)
23. Sobre grande música ou lições gravadas
Data das anotações:
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
já vistos no primeiro grau; momento mais exigente quanto à afinação, beleza da voz, memória e
reforço do sentido tonal;
• 3º Grau – passagem do concreto ao abstrato, aquisição de automatismos de notas e terminologias,
desenvolvimento de faculdades criativas através de improvisações rítmicas e melódicas;
• 4º Grau – início de um programa de educação musical global, compreendendo a leitura e a escri-
tura musicais, com aulas bem dosadas e vivas.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
rítmico pelos batimentos.
III. Canto e canções. IV. Movimentos
corporais naturais.
3º Grau: pré-solfégico
2º Grau: iniciação musical
e pré-instrumental
I. Audição e grafismos.
I. Audição. II. Pré-solfejo.
II. Batimentos e grafismos.
III. Batimentos pré-solfégicos.
III. Canto e canções.
IV. Batimentos pré-instrumentais.
IV. Movimentos corporais
V. Canções. VI. Movimentos
naturais.
corporais naturais.
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• Flauta de êmbolo e sirene (pancromatismo).
• Família de sininhos diferentes (treinamento de timbre).
• Famílias de sininhos iguais (3 a 6), com tamanhos e alturas diferentes (classificação).
• Famílias de sininhos idênticos e do mesmo tamanho (classificação).
(continua)
Enny Parejo
(Figura 3.3 – conclusão)
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• Carrilhão intratonal (percepção de microtons) – trata-se de um metalofone, com 24 teclas
iguais em aparência, no qual é possível treinar e desenvolver a acuidade auditiva por meio da
escuta de tons, semitons, da divisão do tom em quatro partes (quartos de tom), em nove partes
(cada uma delas constituindo uma coma pitagórica) e dezoito partes (subdivisão da coma
pitagórica); além de tudo, esse carrilhão tem uma sonoridade verdadeiramente celestial.
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Figura 3.4 – Carrilhão intratonal
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Sala de aula
i. Receba as crianças afetuosamente, sente-se na roda, e ouça por alguns minutos o que elas têm a lhe
contar. Todo um mundo delicado de pequenas alegrias? Alguma inquietação? Algum motivo para
tristeza? A aula começa na relação humana.
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• Coloque numa pequena bandeja quatro ou cinco sinos com timbres bem diferentes e deixe
que as crianças os manipulem e reconheçam seus sons. Cada criança escolherá seu sino
preferido. Agora esconda a bandeja sob a mesa, vá tocando cada um dos sinos para que a
elas reconheçam apenas pelo som o sino que escolheram.
iv. Canções:
• Sugira uma palavra, um nome de criança, sobre o qual se comporá uma pequena canção.
Não tenha pressa nem ansiedade, perceba o que emerge das crianças e não perca nada.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
ou célula rítmica) com batimentos em uma pandereta ou tambor.
• Crie, por fim, diferentes ritmos no tambor, para que as crianças movam-se ao som dos ritmos
que ouvem. Na próxima aula, as crianças estarão preparadas para fazer a mesma atividade
com música.
vi. Encerre com um breve relaxamento e um comentário sobre o dia de aula.
i. Receba as crianças afetuosamente. Sugira fazer algo diferente nesse dia, iniciar a aula no pátio, por
exemplo.
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existam instrumentos disponíveis na escola, é possível substituí-los por objetos como uma
lata, um balde ou qualquer outro recipiente que produza som.
• Crie, então, diferentes ritmos no tambor. As crianças deverão mover-se ao som dos ritmos que
ouvem. Na próxima aula, as crianças estarão preparadas para fazer a mesma atividade com música.
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• Execute, sobre a mesa, uma série rápida de batimentos. As crianças deverão contar em voz
alta o número de batimentos ouvidos; em seguida, cada uma das crianças executará uma
série para que os outros contem a quantidade de batimentos realizada.
v. Canções:
• Sugira que cada criança tente compor uma canção com seu nome, dê um exemplo com
seu próprio nome, se for o caso, ou com a expressão “Bom dia”; as crianças que quiserem
cantarão sua canção.
• Explique para as crianças o que é um intervalo melódico; depois, cante um intervalo sem
nome de nota, uma 5ª justa, por exemplo. Peça a elas que encontrem uma música que inicie
com aqueles sons.
• Ao longo do tempo, a partir dessa ação conjunta estará composto o catálogo de canções.
• As crianças poderão compor um livro com as letras das canções e ilustrá-lo. Porém, vale
lembrar que esta sugestão já não é uma proposta Willems, mas sim, uma extensão de suas
ideias a outra realidade e a outro tempo.
CHAPUIS, Jacques. [Formação Wilems]. Lyon: [s.n., S.d.]. Material avulso distribuído aos professores participantes da formação
Willems.
CHAPUIS, Jacques; WESTPHAL, Béatrice. Panorama pédagogique de l’éducation musicale Willems. Fribourg: Pro Musica,
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
[S.d.]. (Dossiê para uso na formação de professores da Associação Willems).
_____. Sur les pas d’Edgar Willems: une vie, une oeuvre, un idéal. Fribourg: Pro Musica, 1980.
FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre a música e educação. São Paulo: Ed. da Unesp, 2005.
PAREJO, Enny. Contribuições do desenvolvimento expressivo-musical multimodal para o processo de formação do professor
e sua prática pedagógica. 161 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo, 2001.
ROCHA, Carmen Maria Mettig. Caderno de exercícios para iniciação musical. Brasília: Musimed, [S.d.].
_____. Educação musical Willems: minha experiência pessoal. Brasília: Musimed, 1990.
WILLEMS, Edgar. As bases psicológicas da educação musical. Fribourg: Pro Musica, 1970 [1956]. Original suíço.
_____. Educación musical I: guia didáctica para el maestro. Buenos Aires: Ricordi Americana, 1966 [1956]. Original suíço.
_____. L’éducation musicale nouvelle. In: CHAPUIS, Jacques; WESTPHAL, Béatrice. Sur les pas d’Edgar Willems: une vie, une
ouevre, un idéal. Fribourg: Pro Musica, 1980.
_____. L’oreille musicale: la culture auditive, les intervalles et les accords. Bienne: Pro Musica, 1972 [1946]. Tome II.
_____. L’oreille musicale: la preparación auditive de l’enfant. Fribourg: Pro Musica, 1985 [1940]. Tome I.
_____. La preparación musical de los más pequeños. Buenos Aires: Ed. Universitaria de Buenos Aires, 1976 [1950]. Original suíço.
_____. Novas ideias filosóficas sobre a música e suas aplicações práticas. Bienne: Pro Musica, 1968 [1934]. Original suíço.
CUNHA, Daiane Solange Stoeberl; GOMES, Erica Dias. Música na escola?: Reflexões e possibilidades. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2012. P. 72-76
Carl Orff
(10/7/1895 – 29/3/1982)
É imPortante saber...
72
indissociabilidade entre música, movimento e fala, o que mais
tarde veio a culminar no desenvolvimento do conceito de Música
Elemental, criado juntamente com a colega Gunild Keetman, e
que consistia no resgate da música, baseado no movimento,
na dança (RÖSCH, 2011). Neste centro, desenvolveu o método
denominado Schulwerk, que exerceu grande influência na
pedagogia da música, e que significa a escola (na música) através
do trabalho e que pressupõe ação e criação (GOULART, 2011).
Esse método conhecido como Método Orff caracteriza-se por
defender uma educação musical ativa.
Inicialmente, o trabalho era voltado para professores,
porém, aos poucos foi sendo adaptado para crianças. Para Orff,
não existiam pessoas amusicais, e o papel do educador deve ser
o de despertar esse potencial artístico que todos já possuem. Orff
valoriza o folclore local, principalmente por meio da utilização de
brincadeiras do universo infantil no ensino de música: canções,
parlendas, adivinhas, jogos de mãos, provérbios (GOULART,
2011).
Orff planejou o desenvolvimento do instrumental Orff,
com ajuda de Curt Sachs e Karl Maendler, e, posteriormente de
Klauss Becker no Studio 49 (fabricante do instrumental Orff),
com objetivo de produzir instrumentos musicais de qualidade,
com riqueza de timbres, e próprios para o ensino musical.
O instrumental consiste em grande conjunto de percussão
(xilofones, metalofones, glockenspiels ou jogos de sinos,
tambores, clavas, pratos, castanholas, triângulos e outros),
cordas e flauta doce (FONTERRADA, 2008).
Neste método, o nível de aprendizagem de cada
educando é respeitado, e a aprendizagem é compreendida como
processo, sendo que os iniciantes executam ritmos e melodias
mais simples, enquanto os mais avançados são estimulados a
executarem as partes mais complexas do arranjo. Desta forma,
alunos em níveis de compreensão distintos executam a mesma
peça musical, simultaneamente. Ostinatos são muito utilizados
nos arranjos. É muito praticada a improvisação em grupo, e
são estimuladas práticas que combinam dança e artes cênicas
(CARL..., 2011).
Tanto o método quanto os instrumentos musicais Orff,
são atualmente conhecidos e utilizados em todo o mundo, por
possibilitar que a música tradicional e do folclore de cada país
seja inserida no trabalho.
As coletâneas Orff-Schulwerk não apresentam estruturas
de aulas prontas, sendo que cabe ao professor preparar suas
73
aulas, adaptar a abordagem, adequando às condições didáticas,
físicas, culturais de cada educando e ao tamanho e idade
da classe. Desta maneira, o método é ponto de partida para
inúmeras possibilidades educativas. Neste contexto, poderíamos
citar a Pedagogia Musical Ativa Orff-Wuytack, desenvolvida pelo
educador musical belga Jos Wuytack, baseada nos princípios
de comunidade, totalidade e atividade. Wuytack propôs uma
sistematização metodológica a partir das ideias e trabalho de
Orff.
PrincíPios:
colocando em Prática...
74
• Enquanto o professor lê a história, texto ou poema
novamente, os alunos adicionam efeitos de som
tocando os instrumentos que eles selecionaram;
• Para envolver toda a turma, alguns alunos podem
dramatizar e outros dançar;
• Após a prática, discuta sobre a ação desenvolvida
com os alunos, os conceitos apreendidos, as
facilidades, dificuldades e possibilidades para
ampliar ou adaptar a prática, modificando o que foi
feito, e agregando novos sons.
Particularidades:
75
Para saber mais...
76
Aula 6: Shinichi Suzuky
CUNHA, Daiane Solange Stoeberl; GOMES, Erica Dias. Música na escola?: Reflexões e possibilidades. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2012. P. 86-89.
É imPortante saber...
86
ter a oportunidade de ter aulas e, posteriormente, aprofundar
seus estudos na Alemanha.
Ao voltar ao Japão, começou a lecionar violino para
adultos, e se deparou com o desafio de dar aulas a uma criança
de quatro anos, a pedido de seu pai. A partir dessa situação, se
deu conta de que, se crianças de quatro anos são capazes de
fazer algo tão complexo como expressar seus pensamentos e
ideias por meio da organização de palavras, ou seja, se podem
se comunicar bem através de sua língua materna, também
podem aprender a se expressar bem através da música. Com
isso, procurou investigar fatores que colaboravam para que
as crianças aprendessem de forma natural a língua materna,
tentando aplicá-los ao ensino de música. Segundo Suzuki, as
condições de aprendizagem da língua materna são fornecidas
principalmente pelo meio, por isso, a importância do estímulo e
presença dos pais. Para Suzuki, a criança não nasce com o talento,
pois a aptidão musical e cultural é favorecida pelo ambiente em
que ela cresce (FONTERRADA, 2008; LUZ, 2004).
No Método Suzuki, assim como na aprendizagem da
língua materna, as condições são estritas, bem definidas,
devendo ser seguidas com cuidado. Os conteúdos devem ser
ensinados progressivamente, em ordem de dificuldade, e só devem
seguir adiante quando um conteúdo já estiver dominado. Outra
característica do seu método é o intenso estímulo auditivo,pelo
qual se propõe escutar muito aquele som e memorizá-lo para,
então, poder repeti-lo. Assim como acontece quando a criança
aprende a falar, o estímulo dos pais é considerado fundamental
por ele, o que torna um diferencial neste método. Os pais
devem participar das aulas e acompanhar o estudo dos filhos,
apoiando e estimulando esta aprendizagem. O educador Japonês
escreveu os métodos para os instrumentos, primeiramente
para o violino, cuja aprendizagem é focada na escuta, e onde a
leitura é consequência, pelo menos nos primeiros estágios desta
abordagem. A técnica também deve ser vinculada à execução, e
são realizadas tanto aulas individuais, como práticas em grupo,
além de muito estimuladas as apresentações, nas quais alunos
em níveis diferentes de aprendizagem são convidados a tocarem
juntos (FONTERRADA, 2008).
No Japão, a princípio, alguns grupos se mostraram
resistentes ao Método Suzuki, devido ao uso de um instrumento
tipicamente ocidental, e também de músicas que não faziam
parte da cultura japonesa.
87
Com o movimento “Educação pelo Talento”, em 1954, o
método começou a ser aplicado com maior aceitação no país,
chegando aos Estados Unidos em 1964, onde se estabeleceu e
teve grande impacto, principalmente pelo fato de iniciar crianças
muito novas no instrumento. Embora este método tenha sido
desenvolvido originalmente para o violino, foi adaptado para
outros instrumentos, como piano, violoncelo, flauta e violão
(TALENT..., 2011). Atualmente, o Método Suzuki é praticado em
vários países, promovendo encontros anuais, a nível internacional,
e também encontros por regiões, inclusive no Brasil.
PrincíPios:
colocando em Prática...
88
legato e staccato, procurar maior variação entre
forte ou piano);
• Os pais, sempre presentes na aula, devem procurar
levar as propostas para a prática em casa e, sempre
estimular a escuta de gravações (que podem ser
sugeridas pelo professor, para melhor adequação),
para que os filhos escutem, memorizem e pratiquem
por meio da repetição.
Particularidades:
89
Aula 7: Murray Shafer
CUNHA, Daiane Solange Stoeberl; GOMES, Erica Dias. Música na escola?: Reflexões e possibilidades. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2012. P. 96-101.
É imPortante saber...
96
anualmente. Situado num acampamento e desenvolvido por
músicos interessados durante uma semana, com inspiração
ritual, a série Pátria que contempla um ciclo de 12 peças teatrais
musicadas, é executada por meio do “teatro de confluência”.
Como professor na Universidade de Simon Fraser, criou
e coordenou o projeto internacional Paisagem Sonora Mundial,
Paisagem Sonora: “O ambiente
que buscava encontrar soluções para um meio ambiente sonoro sonoro. Tecnicamente, qualquer
ecologicamente equilibrado, onde a relação entre a comunidade porção do ambiente sonoro vista
como um campo de estudos. O termo
humana e seu ambiente sonoro pudesse estar em harmonia. pode referir-se a ambientes reais
ou a construções abstratas, como
Estes estudos foram publicados no Canadá, e em 1977, foram composições musicais e montagens
de fitas, em particular quando
compilados em livro, sendo traduzidos para o português por consideradas como um ambiente.”
Marisa Fonterrada, sob o título Afinação do Mundo (SCHAFER, (SCHAFER, 2001, p. 366)
2001).
Schafer foi o primeiro a sistematizar o ambiente acústico,
abordando mudanças da paisagem sonora mundial e a sua
influência no comportamento humano. Diferentes termos foram
por ele criados para designar os elementos pesquisados, como
ecologia acústica, esquizofonia, som fundamental, marco sonoro,
e o principal deles, o neologismo soundscape, traduzido para
o português como “Paisagem Sonora”. A partir deste estudo,
diversos pesquisadores, em diferentes áreas do conhecimento e
lugares, têm pesquisado sobre Paisagem Sonora.
97
A pedagogia musical de Schafer enfatiza a criação e
consciência do som, ao invés de teoria e habilidades instrumentais,
e trabalha com elementos da música atonal, envolvendo as
inúmeras possibilidades do fazer musical: com a voz, os sons do
corpo, a Paisagem Sonora, a atuação cênica, a expressão visual,
a exploração criativa dos sons dos instrumentos convencionais.
Schafer desenvolve a proposta de um ensino criativo, com a
investigação de sons do ambiente e uma possível união das artes,
em seu livro O Ouvido Pensante, traduzido e publicado no Brasil,
em 1991. Diante dos métodos tradicionais de educação musical,
a sua abordagem inovadora vem sendo uma possibilidade
concernente às tendências contemporâneas do fazer artístico e
docente.
Nos textos O compositor na sala de Aula e O Rinoceronte
na sala de aula, atuação do educador musical é problematizada,
ressaltando que todo processo de ensino deve estar aberto
a possíveis transformações, sendo portanto, contrário a um
método de ensino fechado e ideal.
Schafer, em contraposição à padronização do processo
de ensino, afirma a necessidade de uma estrutura pedagógica
que prime pela investigação. Sendo assim, o autor não nega a
possibilidade de realizar exercícios necessários para uma boa
execução instrumental, apenas não faz da execução instrumental
o principal foco de suas aulas. Nas quais se percebe uma forte
ênfase no incentivo à descoberta e à expressão da individualidade
do aluno.
No Brasil, as Oficinas de Música também sofreram José Nunes Fernandes é flautista e
influência desta tendência criativa da Educação Musical, podendo licenciado em música. É especialista
em Educação Musical, mestre em
ser um processo desenvolvido com pessoas de diferentes Música e doutor em Educação. É
professor de Universidade Federal
níveis etários ou culturais, privilegiando o trabalho através da do Estado do Rio de Janeiro, atuando
manipulação de objetos sonoros descobertos ou inventados na graduação e na pós-graduação em
música.
pelos alunos, e levando ao desenvolvimento da capacidade
criativa. Conrado Silva de Marco é compositor
e educador musical advindo do
Dentre os brasileiros a desenvolver esta abordagem, Uruguai estabelecido no Brasil em
1969. Ministrou inúmeras oficinas
podemos citar José Nunes Fernandes (2000), que em seu livro básicas de música, é Doutor em
Oficinas de Música no Brasil, realiza um panorama histórico, música acústica arquitetônica, com
tese defendida em dezembro de
metodológico e analítico das oficinas de música, e Conrado Silva 2009, na UnB. Compositor de música
eletroacústica e digital desde 1963.
de Marco , responsável por iniciativas de difusão da música
eletroacústica no Brasil, defende a idéia de que o maior obstáculo
à criatividade na música, é “a síndrome da nota”, gerada pelo
ensino musical centrado na fidelidade à partitura e restrição à
criação.
98
PrincíPios:
colocando em Prática...
99
• É dado um som à classe. Quão expressiva pode ser
uma composição só de um som. (p. 74)
• Em música, geralmente se reconhecem três graus
de suavidade: p, pp, ppp e três níveis de forte: f,ff,fff.
Quantos graus de suavidade você pode produzir
com a sua voz? E com seu instrumento? Quantos de
forte? (p. 79)
• Reflexão, discussão, pesquisa são elementos
fundamentais para promover uma postura criativa,
assim ampliam-se os conceitos tradicionais e
desenvolve-se uma alegre e significativa aprendizagem;
• Instigar os alunos a realizar um diário sonoro, no
qual serão anotados todos os sons ouvidos;
• Em sala, discute-se sobre os sons registrados, suas
características e variações;
• Propõe-se uma imitação dos sons ouvidos com a
voz ou com instrumentos musicais;
• Exploram-se as possibilidades sonoras dos materiais;
• Realiza-se a organização dos sons, execução da
Paisagem Sonora ouvida.
• Os elementos musicais como som, silêncio, ruído,
textura, ritmo, melodia, amplitude, são aprendidos
por meio da experiência, numa perspectiva atonal,
de forma que o aluno compreenda que o conceito
de música é muito mais amplo do que o apresentado
pela música tonal;
• A ação inventiva e criadora é expressão natural,
e por meio dela, é possível estabelecer as novas
formas de arte e integridade de intenção e de ação
na arte. “A arte oficial é artificial”(SCHAFER, 1991,
p.337)
• Explorar e esgotar as possibilidades sonoras de um
material, como por exemplo, uma folha de papel ou
madeira, do corpo ou da voz;
• O trabalho vocal parte do som vocal bruto,como
dos aborígenes: sussuro, grito, gemido, a fim de
recuperar a capacidade de modulação colorida nas
vozes dos povos primitivos;
• Use sua imaginação e produza: O som mais agudo
que for capaz, o som mais grave, forte, suave,
áspero, engraçado, triste, austero, aborrecido,
interrompido, rítmico, repetido, arrítmico.
100
Particularidades:
101
referÊncias
ADORNO, T.W. Educação para quê? Trad. Wolfgang Leo Maar. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
111
referÊncias
112
referÊncias
113
referÊncias
114
referÊncias
115
referÊncias
116
referÊncias
117
Aula 8: Keith Swaniick
KNIES, Edeltraut Ludtke. O modelo C(L)A(S)P Aplicado no desenvolvimento musical: identificando estratégias para desenvolver o modelo C(L)A(S)P no processo de ensino e
aprendizagem da música. 2015. Monografia. (Aperfeiçoamento/Especialização em Educação Aplicada à Performance Musical) - Centro Universitário do Sul de Minas.
RESUMO
1
Graduada em Tecnologia em Secretariado Executivo, pelo Centro Universitário de Jaraguá do Sul/SC,
Cursando Especialização em Educação aplicada à Performance Musical, pelo Centro Universitário do
Sul de Minas/MG. E-mail: edeltraut.l.k@gmail.com.
2
Mestranda em Letras. Orientadora. E-mail: leticiavasques@unis.edu.br.
2
1 INTRODUÇÃO
A música, seja cantar ou tocar um instrumento, é uma habilidade que todas as pessoas
podem desenvolver, não é dom especial ou talento específico somente de alguns. Além disso,
é algo que impacta diretamente na qualidade de vida das pessoas que a buscam e
desenvolvem, seja por mero hobby ou profissionalmente.
Muitos desconhecem o modelo C(L)A(S)P 3 de ensino e aprendizagem da música, por
isso questiono: como desenvolver e disseminar as cinco habilidades do C(L)A(S)P no
processo de ensino e aprendizagem da música, também de maneira autodidata? Tal
abordagem é necessária para encontrar as estratégias para desenvolver o modelo C(L)A(S)P
no processo de ensino e aprendizagem, tanto como docente quanto discente e músicos
autodidatas, algo que sempre seremos na música.
Esta pesquisa irá oferecer informações que orientem os profissionais, e trará o modelo
C(L)A(S)P do universo teórico e muitas vezes desconhecido, para um plano mais prático e
real. Visto que o modelo C(L)A(S)P permeia as cinco habilidades necessárias no estudo da
música, é imprescindível que saibamos como desenvolvê-la no processo de ensino e
aprendizagem, também de maneira autodidata, como profissionais curiosos por este
conhecimento, que procuram aperfeiçoar-se continuamente.
O propósito deste estudo é identificar estratégias para desenvolver o modelo
C(L)A(S)P no processo de ensino e aprendizagem da música, tanto como docente quanto
discente e músico autodidata. Esta tarefa será realizada através da revisão bibliográfica em
meio físico (livros) e virtual (artigos, sites e blogs), e terá como objetivo conceituar o modelo
C(L)A(S)P, reunir conhecimentos relevantes sobre o tema, e identificar estratégias para
desenvolvê-lo na prática, no ensino e aprendizagem da música.
Construído por Keith Swanwick, o modelo C(L)A(S)P descrito em A Basis for Music
Education (1979), propõe uma fundamentação bastante abrangente para o desenvolvimento
musical. Conforme França,
3
Modelo C(L)A(S)P: composição (composition), estudos teóricos (literatures studies), apreciação
(audition), aquisição de habilidades (skills), performance.
“suporte” agrupadas sob as expressões de aquisição de habilidades (skill acquisition)
– (S) - e estudos acadêmicos (literatures studies) – (L). (FRANÇA e SWANWICK,
2002, p.17).
França esclarece que o fato das letras (S) e (L) estarem entre parênteses se deve
exatamente devido ao fato de serem atividades subordinadas ou periféricas, contribuindo para
o desenvolvimento musical primordial dos aspectos centrais – a composição, a apreciação e a
performance.
4
(T)EC(L)A – (T) de Técnica, E de Execução, C de Composição, (L) de Estudos Acadêmicos e A de
Apreciação. Esta tradução interfere representação grafia da teoria do C(L)A(S)P, comprometendo sua
autenticidade. (FRANÇA e SWANWICK, 2002, p.19).
4
início, que na sigla original vem propositalmente no final exatamente para reforçar que a
técnica não pode se sobrepor “à centralidade do fazer musical ativo, dentro de um nível
técnico acessível aos alunos”. O C de Composição é uma das atividades mais primordiais na
Educação Musical da Inglaterra, exatamente por isso vem colocada no início da sigla.
França afirma que
Embora França (2002, p.9) registre que alguns autores como Fletcher (1987, p.41) e
Elliott (1995) consideram a composição como “atividade exclusiva dos grandes mestres da
história da música, alienando os estudantes a essa forma básica do fazer musical”, esclarece o
que o mestre da composição Hindemith escreve:
5
Em entrevista à revista Nova Escola, Swanwick comenta sobre o modelo C(L)A(S)P, e esclarece a
sigla.
6
“the act of making a musical object by assembling sound materials in an expressive way.”
6
É a primeira das atividades secundárias que dão suporte às três atividades centrais do
C(L)A(S)P. Os estudos de literatura não incluem somente os estudos contemporâneos e
históricos sobre música e performances, mas também crítica e literatura em música, história e
musicologia. 7 (SWANWICK, 1979, p.45).
A literatura musical engloba diversas informações e “saberes” sobre música que
contribuem para a compreensão musical de uma partitura musical, como por exemplo: seu
contexto e função social, conteúdo musical, estrutura composicional (melodia, harmonia,
padrões rítmicos e texturas musicais), análise musical (gênero e estilo).
“O ouvir permeia toda experiência musical ativa, sendo um meio essencial para o
desenvolvimento musical”. Porém é necessário esclarecer esse ouvir não como uma atividade
passiva, pelo contrário, como uma atividade criativa e que exige atenção e comprometimento,
pois a mente e o espírito do ouvinte estão mobilizados. (FRANÇA e SWANWICK, 2002,
p.12).
Apreciar é entender o que se está apreciando, é uma “audiação”, uma audição
compreendida e ativa, o processo mental ativo de compreensão das relações do que é ouvido
como música. (OLIVEIRA, 2012, p.22).
7
"Under literature studies we include not only the contemporary and historical study of the literature of
music itself through scores and performances but also musical criticism and the literature on music,
historical and musicological."
França (2002, p.13) aponta para a apreciação como uma forma legítima e
imprescindível de engajamento com a música, e como a atividade mais acessível e com a qual
a maioria das pessoas irá se envolver durante suas vidas. Além disso,
Barbosa (2009, p.104-105) discorrendo sobre os resultados de sua pesquisa com foco
na apreciação constrói um conceito semelhante, afirmando que a apreciação é um indicador
da maturidade musical do aluno. Por isso a importância do educador musical proporcionar ao
aluno a escuta de músicas variadas, fazendo com que ele explore, transforme e construa suas
próprias ideias musicais, e especialmente, compreenda melhor a combinação dos elementos
na música.
É a segunda das atividades secundárias que dão suporte às três atividades centrais do
C(L)A(S)P. As habilidades técnicas consistem na manipulação dos instrumentos, na notação
simbólica e na audição. 8 (SWANWICK, 1979, p.45).
O conhecimento da partitura é importante, mas não pode prescindir o fazer musical. O
ouvir e articular precisa vir em primeiro lugar. No método Suzuki, por exemplo, o aluno vai
desenvolvendo as habilidades com o instrumento de forma gradativa, e os exercícios técnicos
são realizados conforme o que ele irá executar na música em si.
2.5 Performance
Performance é a execução da música, como esta é comunicada, como ela se torna uma
presença real, como se expressa em ação. Swanwick sugere que a performance é “um estado
9
muito especial de envolvimento, um sentimento pela música como um tipo de ‘presença’.”
(SWANWICK, 1979, p.44).
8
"Skill acquisition takes in such things as technical control, ensemble playing, the management of
sound with electronic and other apparatus, the development of aural perception, sight-reading abilities
and fluency with notation."
9
"This needs little amplification here, except to notice that performance is a very special state of affairs,
a feeling for music as a kind of 'presence'."
8
Embora se busque a melhor qualidade artística possível para que a performance seja
significativa, expressiva e relevante, independente do nível de complexidade, “a técnica deve
ser encarada como um instrumento para traduzir intenções e concepções musicais em padrões
sonoros.” (FRANÇA e SWANWICK, 2002, p.14).
Ensinar e aprender música musicalmente é tocar entendendo o que se toca, é ler mais
além da partitura, é compreender a música que não está escrita, ou até mesmo executar a
música compreendendo-a sem suporte de notação musical. O aprendizado musical precisa
acontecer de tal forma que “encontre na experiência musical uma resposta mais positiva”
(SWANWICK, 1979, p.41), onde ilustra sobre o saber musical,
Saber música é algo como conhecer uma pessoa. Nós não podemos realmente
acreditar que conhecemos as pessoas porque elas estão ao nosso redor, ou porque
nós passamos por elas na rua ou estamos imprensados em um trem ou ônibus. Isto
não é mais do que conhecer uma pessoa por ter informações estatísticas sobre seu
peso, sua altura, de onde mora, que possui seu próprio carro e uma máquina de
lavar. (SWANWICK, 1979, p.41-42). 10
Oliveira (2012, p.21) defende o aprendizado da música como algo mais intenso, “mais
do que saber informações ‘sobre’ música e passar a saber mais ‘de’ música.” Neste sentido é
importante que conheçamos o que realmente consiste o fazer musical.
10
"Knowing music is something like knowing a person. We cannot really believe that we know people
because they happen to be around us, or because we pass them in the street or stand crushed together on
a train or bus. This is no more knowing a person than to have the statistical information that someone
weighs so much, is six feet tall, lives in Leeds and owns a car and a washing machine".
Swanwick defende a música como uma forma simbólica, rica em potencial metafórico.
(2003, p.33). Segundo ele é por meio do processo da metáfora que transformamos sons em
melodias, melodias em estruturas e estruturas em experiências significativas.
Uma educação em música presume que os alunos tem possibilidade de acesso aos
três processos metafóricos. Somente dessa maneira somos capazes de vislumbrar o
que chamo de “espaço intermediário”, uma área de liberdade psicológica e potencial.
(SWANWICK, 2003, p.57).
Discurso – conversação musical -, por definição, não poder ser nunca um monólogo.
Cada aluno traz consigo um domínio de compreensão musical quando chega as
nossas instituições educacionais. Não os introduzimos na música; eles são bem
familiarizados com ela, embora não a tenham submetido aos vários métodos de
10
análise que pensamos ser importantes para seu desenvolvimento futuro. Temos de
estar conscientes do desenvolvimento e da autonomia do aluno, respeitar (...) “as
energias naturais que sustentam a aprendizagem espontânea”: curiosidade; desejo de
ser competente; querer imitar outros; necessidade de interagir socialmente. Não
podemos nos eximir de compreender tudo o que está envolvido com esses aspectos.
(SWANWICK, 2003, p.66-67).
É válido refletir sobre como o “fazer música” segundo Swanwick pode ser inserido no
contexto do método Suzuki, que segundo Fonterrada se baseia na premissa de que toda a
criança tem capacidade de aprender música do mesmo modo que aprende a falar a língua
materna. (FONTERRADA, 2005, p.151).
No método Suzuki, criado por Shiniki Suzuki, os alunos não desenvolvem habilidades
de leitura a primeira vista, nem compreensão aprofundada das estruturas musicais das obras
que tocam, nem é o foco do método preparar concertistas, para compor orquestras. O foco é
fazer música, aprender música, desenvolver habilidades necessárias pra executar obras
importantes da literatura do instrumento. (FONTERRADA, 2005, p.155).
Porém enquanto que para Suzuki esse ambiente musical deve ser artificialmente criado
para desenvolver potenciais talentos especialmente nas crianças, com o forte incentivo e
participação dos pais no processo ensino e aprendizagem (FONTERRADA, 2005, p.160),
para Swanwick, esses estímulos musicais precisam ser desenvolvidos com base nas atividades
propostas do modelo C(L)A(S)P, e o ambiente pode ser naturalmente criado, se esta prática
for tomada como fundamento na educação musical. (FRANÇA E SWANWICK, 2002, p.18).
12
Hollerbach (2003) destaca o ensino do piano para uma formação musical abrangente e
genérica, e não de meros instrumentistas, e identifica em sua pesquisa junto a professores de
uma escola especializada em música, a necessidade de uma formação acadêmica mais
específica a respeito da iniciação ao piano, considerando “o empirismo dos graduados em
piano ao enfrentarem o mercado de trabalho como professores de piano”.
Conforme o relato dos docentes, a composição e a performance são trabalhadas de
forma integrada quando é oportunizado aos alunos tocarem ‘de ouvido’ pois o desejo do aluno
é primordialmente ‘tocar’. Isto confirma o destaque que se dá no ensino contemporâneo de
música ao tocar de ouvido, a imitação e a improvisação, buscando o “fazer musical” desde o
início. (HOLLERBACH, 2003, p.113)
O Skill – as habilidades técnicas também não foram deixadas de lado, quando ela
afirma que “Apesar de suas limitações na respiração e coordenação motora, elas conseguiram
tocar exercícios para o instrumento, algumas músicas que elas mesmas escolheram e ainda,
algumas músicas folclóricas”. Com relação à leitura de partituras, Bueno destaca que:
Oliveira (2012) trabalha o ensino da música para um grupo de iniciação musical como
o caráter incerto e imprevisível que permeia a improvisação. O contexto de aplicação de sua
pesquisa de campo foi o projeto de extensão universitária do curso de Música – Licenciatura
da Universidade Federal do Ceará, Campus de Sobral, chamado Oficina de Violão. Oliveira
defende que:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ABSTRACT
This article have the purpose identify strategies to development the C(L)A(S)P model
in the process from teach and apprenticeship for music, so much teacher or student and
musician autodidact. In the first instance search conceptualize C(L)A(S)P model and anyone
for yours activities: Composition, Literature Studies, Appreciation, Skill Acquisition and
Performance. Whilst to expound about why to teach and learn music musically, refers the
C(L)A(S)P model with the perform musical, also analyzing the three principles of the Music
Education’s Swanwick: to consider the music like a speech, the musical speech of the
students, and the fluency in begin and the ending. With the work’s examination for researcher
from Music Education will be identified five creatives perspectives at C(L)A(S)P model
application: the premises from Suzuki method, developed for many kind of instruments
(piano, violin, flute, violoncello); the reading advance from piano education; the piano
intermediate education; the musicalization with the flute for older people; and the
improvisation in guitar collective education. The musical student needs to be aware how to
improve yours musical development using of integrated form the activities do C(L)A(S)P, and
the musical education is the key to open this right track, to indicate witch road to take, to
show alternatives, potentiate talents and create an favorable space to the doing musical with
authentic signification.
Palavras-chave: Musical Education. C(L)A(S)P Model. Musical Development.
REFERÊNCIAS
BOMFIM, Camila Carrascoza. Pensadores do início do século XX: breve panorama. In: JORDÃO, Gisele; Alluci, Renata R et al. Música na Escola. São Paulo: Allucci &Associados
Comunicações, 2012. P. 82-84. Disponível em: http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/AMUSICANAESCOLA.pdf. Acesso em 1 Ago. 2019.
FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. A educação musical no século XX: métodos tradicionais. In: JORDÃO, Gisele; Alluci, Renata R et al. Música na Escola. São Paulo: Allucci &
Associados Comunicações, 2012. P. 85-87. Disponível em: http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/AMUSICANAESCOLA.pdf. Acesso em 1 Ago. 2019.
Fundamentos
da educação musical
• A educação musical no século XX: métodos tradicionais
• Experiências criativas
81
Camila Carrascoza Bomfim
Fundamentos da educação musical
Pensadores do início
do século XX: breve panorama
Entre diversas mudanças, a passagem do século XIX para o século XX foi acompanhada também por um olhar cada
vez mais voltado para o espaço urbano. O crescimento das cidades transformou o cotidiano das pessoas, e abriu “um
enorme leque de experiências e atividades para as massas urbanas” (BERMAN, 1986:155). Nesse novo ambiente, uma
gama enorme de novos sons se criou - remetendo ao conceito de soundscape, de M. Schafer (2001:11).
Artistas, aos poucos, distanciam-se do pensamento romântico do século XIX e novas manifestações artísticas surgem.
Na música, o progressivo afastamento da tonalidade - proposto por diversos compositores - traz novas possibilidades
sonoras. A modernidade olha para o futuro, mas a esperança no progresso será quebrada com as guerras mundiais. O
desenvolvimento gradual da psicologia afeta de modo permanente a pedagogia, que busca novos caminhos e se desen-
volve em direção a uma nova maneira de educar. É nesse contexto que surgem diversas reflexões sobre a educação mu-
sical infantil.
Émile Jaques-Dalcroze nasceu em 1865. Professor do Conservatório de Genebra, observou que seus alunos não ou-
viam internamente o que escreviam e, a partir dessa e de outras observações, formulou uma maneira inédita de se apren-
der música.
Seu sistema de educação musical, inicialmente concebido para adultos, foi chamado de Rythmique, e tem por objeto
o desenvolvimento integral da pessoa, através de uma conexão profunda entre música e movimento.
Nesse sistema, a música não é mais vista como um elemento fora do corpo, mas, sim, como parte integrante deste,
fazendo com que o corpo atue como um grande ouvido - unificando música, corpo e movimento.
Dalcroze propõe que essa aprendizagem se dê através da audição musical unida a movimentos básicos como caminhar,
correr ou mesmo andar em diferentes direções, procurando ouvir e expressar com o corpo as diferentes estruturas mu-
sicais. Essa experiência serve de estímulo à criatividade, uma vez que está intimamente ligada à improvisação.
É importante observar que, para ele, essa educação se destina não apenas à criança, mas a todo cidadão, jovem ou
adulto.
Edgar Willems nasceu em 1890, e foi aluno de Dalcroze. Segundo ele, existe uma profunda conexão entre a natureza
humana, a música e a audição. Relacionou, então, campos humanos (sensorial, afetivo e mental) a elementos musicais
(ritmo, melodia e harmonia). Ainda, esses três aspectos – sempre interligados – foram vinculados a três verbos em francês:
Ouir, écouter e entendre (ouvir, escutar e “ouvir” com o sentido de compreender)
De acordo com Marisa Fonterrada, sua proposta engloba dois aspectos: um teórico, que se refere a elementos funda-
mentais da audição e da natureza humana; outro prático, que diz respeito à organização do material didático necessário
à aplicação de suas idéias de educação musical. (2005:125).
Sua proposta de aprendizado está vinculada às diferentes etapas do desenvolvimento humano. Ele estabeleceu, então,
um método progressivo de aprendizado, no qual é recomendado que se inicie a educação musical pelo aspecto sensorial.
Com o objetivo de estimular na criança o interesse e o amor pela música, a prática deve acontecer antes da teoria.
Para tanto, é necessário ouvir música, cantar, estimular os movimentos corporais naturais, entre outros.A improvisação é
um aspecto central desse pensamento.Aos poucos, a teorização é introduzida, mas a relação da criança com a música já
está estabelecida naturalmente.
82
Pensadores do início do século XX: breve panorama
1 Existem diversos tamanhos de instrumentos, adaptados às diferentes idades da criança, para o ensino do método Suzuki.
83
Camila Carrascoza Bomfim
Fundamentos da educação musical
Ainda, é importante notar que a questão do talento, de fundamental importância no século XIX, foi desvinculada do
aprendizado musical – para os autores abordados nesse trabalho, todos são capazes de aprender música, e essas ideias
giram em torno de um aprendizado para a população em geral. Esse pensamento está de acordo com o projeto de im-
plantação do ensino de música nas escolas. Porém, é preciso esclarecer que toda e qualquer ação nesse sentido exige
conhecimento e escolha.
O presente artigo tem como objetivo introduzir brevemente esses autores e trata resumidamente dessas reflexões –
para utilizar essas metodologias é necessário um profundo estudo sobre elas.
Essas reflexões estão inseridas na época em que foram desenvolvidas, e muitos dos seus conceitos foram repensados.
Porém, apontam firmemente para os novos parâmetros presentes nos séculos seguintes, e estabeleceram a base para
grande parte dos trabalhos que tratam sobre educação musical na atualidade.
Referências bibliográficas
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desm ancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras,
1986.
FONTERRADA, Marisa T. de Oliveira. De tram as e fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: Ed. Unesp, 2005.
GRAETZER e YEPES. Introduccion a la practica del Orff-Schulwerk. Buenos Ayres: Barry editorial, 1961.
SCHAFER, R. Murray. A afinação do m undo. São Paulo: UNESP, 2001.
SUZUKI, Shinichi. Educação é am or - um novo método de educação. Santa Maria: Imprensa Universitária/UFSM, 1983.
WILLEMS, As bases psicológicas da educação m usical. Suíça: Pró-Música: 1970.
84
Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo
Introdução
O ensino de música no século XX pode ser investigado e discutido a partir de diversas perspectivas. Músicos de várias
nacionalidades ofereceram propostas para a educação musical que ainda suscitam discussões e reflexões em função dos
elementos apresentados para o desenvolvimento musical de crianças, jovens e adultos.Tais propostas, que também podem
ser identificadas como “métodos de educação musical”, são aplicadas ainda hoje em diversos contextos educacionais.
Diversas propostas metodológicas tornaram-se conhecidas e aplicadas no mundo todo em função de sua coerência
e alinhamento com novos modos de pensar sobre o ensino de música. O que grande parte das propostas desenvolvidas
no século XX apresentam em comum é a revisão dos modelos de ensino praticados em períodos anteriores, ou seja, aque-
les modelos de educação musical que focalizavam a formação do instrumentista, reprodutor de um repertório vinculado
a uma tradição musical, a partir de concepções fortemente arraigadas na questão do talento e do gênio musical. Naquela
perspectiva do passado, o fazer musical estaria relacionado a um grupo de pessoas talentosas, assumindo uma postura
exclusiva, na qual grande parte dos indivíduos estaria impossibilitada de se desenvolver musicalmente. Os novos métodos
apresentados na primeira metade do século XX, também denominados “métodos ativos”, propõem uma nova abordagem
em que todos os indivíduos seriam capazes de se desenvolver musicalmente a partir de metodologias adequadas. Con-
siderando que estamos no século XXI, essas propostas apresentadas na primeira metade do século XX podem ser de-
nominadas “tradicionais” em termos de educação musical; ainda hoje são aplicadas em diversos contextos educativos,
inclusive no Brasil.
Este texto pretende discutir brevemente aspectos básicos de alguns métodos (propostas) de educação musical de-
senvolvidos em vários países na primeira metade do século XX e que também foram – e continuam sendo – utilizados
no Brasil. São eles: Émile Jacques-Dalcroze, Edgar Willems, Zoltán Kodály, Carl Orff e Shinichi Suzuky. Cabe destacar que a
seleção desses autores não significa que eles sejam mais importantes que outros, e é necessário reconhecer a existência
de vários educadores que também contribuíram para a educação musical no mundo.
Métodos ativos
A experiência direta com a música a partir da vivência de diversos elementos musicais é o que caracteriza os métodos
ativos de educação musical. Nesta perspectiva, o aluno participa ativamente dos processos musicais desenvolvidos em
sala de aula, processos estes que oportunizam o contato com várias dimensões do fazer musical. Com essas abordagens,
evita-se o foco na teoria musical e nos exercícios descontextualizados, que muitas vezes, desestimulam a aprendizagem
musical exatamente porque não são reconhecidos como experiências musicais válidas.
Cada um dos autores apresentados a seguir desenvolveu propostas para o ensino de música em seus respectivos
países, sendo que tais propostas foram aplicadas em outros contextos. Cabe destacar que os “métodos ativos” chegaram
ao Brasil a partir da década de 1950 e foram gradualmente sendo aplicados em contextos restritos, especialmente aqueles
relacionados ao ensino particular de música. Diversas razões podem ser consideradas para que os novos métodos não
85
Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo
Fundamentos da educação musical
atingissem toda a população escolar brasileira. A Educação Artística e a polivalência – um professor responsável por todas
as áreas artísticas na escola – contribuiu para o afastamento dos profissionais licenciados em música da escola regular
(FIGUEIREDO, 2010).
Émile Jacques-Dalcroze (Suiça,1865-1950) apresentou uma proposta de educação musical que relaciona a música ao
movimento corporal. Para o desenvolvimento desta perspectiva, Dalcroze propôs diversos caminhos metodológicos, com
o objetivo de estimular “o desenvolvimento global da pessoa na área física, afetiva, intelectual e social” (DEL BIANCO,
2007, p. 27). Ritmo, solfejo e improvisação fazem parte das proposições de Dalcroze para o desenvolvimento musical de
crianças, jovens e adultos.
Edgar Willems (Suiça, 1890-1978) desenvolveu uma proposta de ensino de música para todas as crianças a partir de
3 anos de idade. Para ele, “a escuta é a base da musicalidade” (FONTERRADA, 2005, p. 126) e o estudo da audição foi um
dos pontos fundamentais abordados em sua proposta.A busca por bases psicológicas para a educação musical marcou a
trajetória de Willems como educador musical. Em seus estudos, procurou estabelecer relações entre o som e a natureza
humana a partir dos aspectos: sensorial, afetivo e mental.
Zoltán Kodály (Hungria, 1882-1967) idealizou e desenvolveu uma proposta de educação musical que é dirigida para
todas as pessoas. A prática vocal em grupo, o treinamento auditivo e o solfejo são atividades centrais para esta metodologia.
A música folclórica húngara foi pesquisada e integrada ao método. “A música folclórica”, afirma Szonyi (1990), “é a herança
de todas as pessoas... e um princípio fundamental do método Kodály” que pode ser aplicado a diferentes experiências
culturais em educação musical. A experiência musical antes da teoria, criatividade, movimentos corporais, desenvolvimen -
to intelectual e emocional, são elementos que também pertencem à abordagem proposta por Kodály.
Carl Orff (Alemanha, 1895-1982) é autor de uma proposta que combina música e dança, trabalhando com o ritmo da
fala, atividades vocais e instrumentais em grupo, com forte enfoque para a improvisação e a criação musical. O instrumental
Orff, que é um conjunto de instrumentos musicais idealizados por ele mesmo, inclui xilofones, metalofones, tambores e
diversos instrumentos de percussão, além de violas da gamba e flautas doces; a experiência de tocar em grupo coloca as
crianças em contato direto com o fazer musical, “o que as faz imergir numa sonoridade poderosa, que as motiva a executar
música em grupo desde os primeiros estágios” (FONTERRADA, 2005, p. 149).
Shinichi Suzuki (Japão, 1898-1998) baseou sua proposta pedagógica na aquisição da língua materna pelas crianças
considerando que haveria um paralelismo entre aprender a língua e aprender um instrumento musical. Assim, as crianças
aprendem a língua a partir da escuta de exemplos constantes das pessoas que estão à sua volta e poderiam aprender
música da mesma forma, contando com um entorno de qualidade, baseando a aprendizagem no processo de imitação
(HOFFER, 1993, p. 129). O desenvolvimento da habilidade da memória, o estímulo à execução “de ouvido”, a “educação
do talento” – que todos possuem – são elementos fundamentais para o método Suzuki, que também enfatiza a realização
musical em grupo e a participação da família no processo de aprendizagem da criança.
Considerações finais
As propostas destes eminentes educadores musicais conquistaram espaços no mundo todo por sua pertinência e
adequação a diferentes perspectivas do ensino de música. É importante ressaltar que todas as adaptações metodológicas
para contextos específicos podem trazer resultados positivos, contribuindo para o ensino de música de um modo geral.
Ao mesmo tempo, é fundamental que se compreenda que a adaptação dos métodos não significa sua aplicação direta,
sem considerar a diversidade cultural e educacional dos diversos contextos sociais.
86
A educação musical do século XX:os métodos tradicionais
Referências bibliográficas
DEL BIANCO, Silvia. Jacques-Dalcroze. In M. Diaz e A. Giráldez (coords.), Aportaciones teóricas y m etodológicas a La
educación m usical: uma selección de autores relevantes (p. 23-32). Espanha: Editorial GRAÓ, 2007. Biblioteca
de Eufonia: Serie Didáctica de La expressión musical.
DIAZ, Maravillas; GIRÁLDEZ, Andrea (coords.). Aportaciones teóricas y m etodológicas a La educación m usical: uma
selección de autores relevantes. Espanha: Editorial GRAÓ, 2007. Biblioteca de Eufonia: Serie Didáctica de La
expressión musical.
FIGUEIREDO, Sérgio. Educación musical en la escuela brasilena: aspectos históricos, legislación educacional y desafios
contemporâneos. Revista Musical Chilena, vol. 214, p. 36-51, 2010. Disponível em
http: www.revistamusicalchilena.uchile.cl.
FONTERRADA, Marisa. De tram as e fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: Editora da UNESP, 2005.
HOFFER, Charles. Introduction to m usic education. 2ª ed. Belmont, CA:Wadsworth, 1993.
PENNA, Maura. Revendo Orff: por uma reapropriação de suas contribuições. In Pimentel, L. G. (org.), Som , gesto, form a
e cor: dimensões da arte e seu ensino. Belo Horizonte: C/Arte, 1995.
SZONYI, Erzsebet. Kodály´ s principles in practice. 5ª ed. Hungria: Corvina, 1990.
87
Aula 12 – Métodos criativos
FONTERRADA, Mariza Trench de O. Educação musical: propostas criativas. In: JORDÃO, Gisele; Alluci, Renata R et al. Música na Escola. São Paulo: Allucci &
Associados Comunicações, 2012. P. 96-100. Disponível em: http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/AMUSICANAESCOLA.pdf. Acesso em 1 Ago. 2019.
MarisaTrench de O. Fonterrada
Fundamentos da educação musical
Educação musical:
propostas criativas
No início de abril de 2011, foi realizado o “Encontro sobre o poder transformativo da música”, no Fórum Global de
Salzburg, que reuniu educadores musicais de todo o mundo. Nesse encontro, foi elaborado um Manifesto que aponta a
música como porta de entrada para a promoção da cidadania, do desenvolvimento pessoal e do bem-estar. Nele, se diz:
“Só mediante ações urgentes e continuadas se poderá fomentar uma nova geração de cidadãos ativos, comprometidos e
conscientes de si mesmos, criadores e produtivos” (2011).
Nesta primeira afirmação, destaca-se um importante fato: o resgate do papel da música de promover desenvolvimento
e bem-estar. Durante anos, este papel tem sido muitas vezes esquecido, o que contribuiu para que se fortalecesse o en-
tendimento da música como passatempo e entretenimento. Pode-se argumentar que estas funções estão de acordo com
as orientações do Encontro, pois provocam bem-estar em quem ouve ou pratica música; no entanto, limitar a esse o papel
da música não basta. Cada época tem conferido a ela um determinado valor e, ao que parece, pelos movimentos que in-
centivam sua prática e pelas publicações surgidas nos últimos anos, já está em marcha um movimento que trabalha no
sentido de reintroduzir a música como um importante instrumento de formação e desenvolvimento humanos, tendência
agora reiterada no Encontro de Salzburg.A LDBEN 9394/96, ao considerar a música e as demais artes como áreas do co-
nhecimento, contribui para que corrijamos esse desvio, de considerá-la apenas uma atividade de lazer.
A música é uma atividade complexa, que requer o uso de muitas capacidades, físicas, mentais, sensíveis, emocionais.
Mas, a despeito disso, pode ser, também, extremamente simples; por esse motivo, é acessível a todos que queiram dela se
acercar, independentemente de faixa etária e grau de conhecimento formal. Mesmo um bebê muito pequeno já se sente
atraído pela música e, ao ouvi-la, expressa-se com movimentos e balbucios, aderindo espontaneamente à prática. Por meio
da música, a criança desenvolve suas habilidades corporais, perceptivas, sensíveis, que fazem parte da relação que esta-
belece com a música.
A variedade e a multiplicidade que caracterizam a música ajudam a desenvolver vários aspectos do ser humano, de
maneira lúdica e espontânea, mas, ao mesmo tempo, exigem de quem a pratica precisão, constância e determinação. Na
verdade, as mesmas habilidades são necessárias à vida, e a prática da música pode ajudar a desenvolvê-las. Como atividade
extremamente ligada ao fazer, a música contribui para o desenvolvimento infantil, pois incentiva o uso de várias áreas –
física (corpo e voz), sensorial (percepções), sensível (sentimentos e afetos) mental (raciocínio lógico, reflexão).
O Manifesto ressalta a capacidade da música como fomentadora desses benefícios e afirma ser a educação musical
um direito de todos. Entre suas muitas recomendações, destaca-se a necessidade de, desde tenra idade, as crianças terem
oportunidade de dar livre expressão à sua criatividade. O documento também enfatiza a premência de se buscarem mo-
delos de práticas que têm se mostrado eficientes ao longo dos anos, além de pedir às autoridades políticas educacionais
de todos os países, que garantam a presença da música no currículo básico das escolas, unanimemente considerada com-
ponente fundamental de uma sociedade saudável e diversa.
96
Educação musical: propostas criativas
Experiências criativas
Embora a preocupação com o criar não seja nova, o ensino de música ainda se baseia grandemente em procedimentos
técnico/musicais e, em geral, não enfatiza as possibilidades abertas pela vertente surgida em meados do século XX, que
se alinha às tendências composicionais do período e incentiva a prática criativa e a capacidade de organização de materiais
pelos próprios alunos (FONTERRADA, 2008, p.178-200).
No Documento, fica patente o anseio da comunidade de educadores musicais – representados, nesse Seminário, por
enviados especiais de diferentes países – para que, além do reconhecimento do papel da música como instrumento do
desenvolvimento humano, esses benefícios sejam considerados direitos da humanidade; em consequência, aconselham
que as autoridades governamentais de diferentes países atuem no sentido de garantir o acesso da música a todos.
Em geral, a música deixa feliz quem a pratica, embora não garanta felicidade. Se a atividade de fazer música ocorre
num ambiente positivo, instigante e amigo, provavelmente, os praticantes sentirão bem-estar ao tocar, cantar, compor,
criar. A música faz parte da cultura de todos os povos. Nas sociedades orais e pequenas comunidades, é parte integrante
da vida e todos fazem música sem se preocupar com o fato de terem ou não talento. Nessas culturas, considera-se que
tenha propriedades curativas e forças de transformação.
A área da Musicoterapia tem muitos estudos que atestam melhora nas condições de saúde de pacientes a partir da
música (BENENZÓN, 2008, GASTON, 1982). Outros estudos, como os do otorrinolaringologista Dr. Alfred Tomatis, na
França, demonstram as propriedades curativas da música e do saber musical (TOMATIS, 1996). Na verdade, esse é um
terreno ainda pouco explorado no mundo ocidental. Os estudos sobre música na área médica são relativamente recentes
e ainda é preciso investigar muito antes de se obter respostas decisivas. De imediato, pode-se dizer que a música pode
contribuir para que o indivíduo mantenha abertas as portas da sensibilidade, organize-se bem corporal e vocalmente, de-
senvolva habilidades sensório-motoras graças às exigências próprias das atividades de tocar, movimentar-se ou cantar,
bem como à capacidade de escuta e apreciação musical.
O distanciamento em relação à música é um fenômeno da sociedade ocidental dos últimos séculos, que sofisticaram
tanto a sua prática, que ela se tornou reduto de especialistas. Isso afastou as pessoas comuns da possibilidade de praticar
música, as quais passaram a temer se acercar dela como executantes e só se permitem ser consumidores (ouvintes pas-
sivos). É comum ouvir afirmações como: “não tenho talento, não tenho dom... “.
Se a música for considerada uma atividade da vida, possível a qualquer ser humano, todos poderão dela se acercar e
tocar, cantar, dançar. Uma das funções do professor de música é ampliar o repertório de seus alunos, desvelar a cultura da
infância e mostrar que ela ainda fala ao coração das crianças; as cantigas de roda, os brinquedos e folguedos não acabaram,
apenas encontram-se escondidos pelo véu estendido pela indústria cultural, com seus CDs, prêmios, vídeos e shows de
artistas consagrados. Se todos passarem a brincar com música, dançar, cantar e tocar, ela estará presente e contribuirá
para a formação de seres humanos mais completos.
O Manifesto de Salzburg vem ao encontro das preocupações de educadores musicais brasileiros que, após a assinatura
da Lei que reconduz a música aos currículos escolares, refletem acerca das muitas questões envolvidas em sua implan-
tação. Há muita informação no documento, que vale a pena conhecer, mas neste momento, atém-se a duas delas, de es-
pecial relevo nas atuais circunstâncias: a busca de modelos bem sucedidos para auxiliar na tarefa de encontrar caminhos
para a implantação da música na escola e a criação de ferramentas que promovam o exercício da criatividade em crianças
e jovens de qualquer idade.
Desde o início do século XX, houve um grande impulso no ensino de música, como as propostas renovadoras de edu -
cadores como Dalcroze, Martenot, Kodaly, Orff,Willems, Suzuki entre outros, bastante conhecidos pelos educadores mu-
97
Marisa Trench de O. Fonterrada
Fundamentos da educação musical
sicais atuais. Nas décadas de 1960 e 1970, houve novo impulso de renovação da educação musical, com propostas de en-
sino de música, desta vez, lideradas por educadores/compositores.Talvez pelo fato de comporem, ou por estarem atentos
à renovação que se fazia no âmbito da composição musical, esses músicos viam a educação musical de maneira diferente
da de seus antecessores; estavam menos interessados em produzir executantes musicais competentes, do que em incen-
tivar a prática da criação e da improvisação musical.
Essa linha de trabalho demorou algum tempo para entrar no Brasil em âmbito amplo, embora haja exemplos significa-
tivos de sua presença em âmbito restrito.Talvez não tenha atingido um público amplo de educadores, pelo fato de estarmos,
à época, passando por uma crise no ensino de música, motivada pela alteração da Lei que regia a educação no País, que de-
terminou que a música deixasse de ser disciplina curricular e fosse considerada atividade, junto às demais áreas artísticas.
Com o intuito de ajudar a divulgar alguns bons modelos de trabalho nessa linha que confere ao aluno a possibilidade
de exploração e invenção, destacam-se aqui quatro educadores musicais que privilegiam o desenvolvimento da criativi-
dade em música, pois eles podem auxiliar na implantação de experiências criativas em sala de aula. O critério de escolha
foi, ou sua grande influência na área em âmbito mundial, ou o particular contato que os educadores musicais brasileiros
tiveram com sua obra.
Theophil Maier – cantor e pedagogo alemão, esteve várias vezes no Brasil durante a década de 1980 e ministrou
cursos a professores da rede estadual, educadores musicais e atores de teatro, numa promoção conjunta da Secretaria de
Estado da Educação e do Instituto Goethe. Maier é cantor do Trio ExVoco – grupo artístico ligado ao Dadaísmo, à poesia
concreta e à música contemporânea. Durante muitos anos, ele tem se dividido entre seus interesses artísticos e pedagógi-
cos, trabalhando, também, em uma escola de formação de professores, em Hamburgo. O procedimento que explora em
aula é o Jogo Vocal, em que os participantes são instigados a criar sonoridades vocais individualmente e em grupo e a
produzir pequenas peças, a partir de poesias, movimentos, sons e ações (MAIER, 1983).
Boris Porena – compositor e educador musical italiano, trabalha com diferentes materiais: flauta doce, voz, pequenos
instrumentos de percussão, orquestras, gravadores, aparelhos de rádio. O título de seu livro – Kindermusik (música para
crianças) – pode enganar quem nele buscar repertório de músicas infantis; a criança, aqui, é determinada pela atitude
lúdica, independentemente da faixa etária. Kindermusik é uma coletânea de procedimentos assentados na ideia do jogo
musical com regras, uma coleção de possibilidades abertas à vivência e experimentação.
Porena é responsável, na Itália, pela formação de pedagogos musicais que, atualmente, respondem pela educação mu-
sical nas escolas em vários níveis. Se não por outros, apenas este motivo já seria suficiente para incitar a curiosidade de
educadores e alunos, fazendo-os buscar exemplos nas propostas de educação musical das escolas italianas. O contato
com sua obra deve-se ao Pe. José Penalva, músico e pesquisador de Curitiba, que trouxe seu livro ao Brasil e o difundiu
entre alunos e amigos (PORENA, 1972).
John Paynter – músico inglês, dedicou-se ao ensino de música em escolas e colégios ingleses, antes de ir para a Uni-
versidade de York. Sua estratégia de ensino assenta-se na Técnica de Projetos, como explica em seus livros, dentre os quais
destacam-se Sound and Silence (1970), Hear and Now (1972) e Music and Structure (1992).
No primeiro, o autor apresenta uma série de projetos que relacionam a música a eventos externos, como mistérios,
palavras, fotos, drama, movimento, silêncio. Outros exploram tempo, espaço e sonoridades obtidas a partir de diferentes
materiais.
Em seu segundo livro, Paynter defende alguns princípios: a música como direito de todos, a integração de linguagens,
o acesso ao repertório da música contemporânea e a exploração de grafias musicais alternativas.
No terceiro livro, escrito 20 anos depois, suas ideias se aprofundam, os exercícios se mostram mais complexos, mas
98
Educação musical: propostas criativas
Experiências criativas
as premissas são as mesmas, ligadas à escuta, à exploração de materiais e à estruturação de ideias musicais, através de pro-
postas criativas.
Murray Schafer – educador musical, ensaísta e compositor canadense, é bem conhecido no Brasil, onde esteve várias
vezes, a convite da UNESP. Em seu trabalho, enfatiza a importância da escuta, a relação com o ambiente sonoro e a inte-
gração de linguagens. Sua proposta básica – Educação sonora – precede e acompanha o ensino formal de música, como
se vê na publicação da Editora Melhoramentos (2010). O livro ganhou o Edital PNBE do MEC (Programa Nacional Bi-
blioteca Escola) e está sendo distribuído a bibliotecas de escolas públicas do País. Trata-se de uma coletânea de 100 exer-
cícios de escuta e exploração do ambiente sonoro. Outros livros seus que têm boa penetração no Brasil são O ouvido
pensante (1991/1996) e A afinação do mundo (2001).
Os quatro educadores priorizam as propostas que dão relevo à criatividade e à improvisação. Seu desafio, não obstante
a diversidade de materiais e propostas, é produzir música por meio da exploração de materiais, segundo regras estabele-
cidas previamente, ou criadas na hora da prática. Neste momento em que a música retorna ao currículo escolar no Brasil,
é oportuno investir em atividades criativas, ainda mais agora, com o respaldo do Manifesto de Salzburg, que fornece bases
sólidas para a compreensão da força e do papel da música na sociedade contemporânea.
Além deles, quer se destacar, também, o trabalho de Violeta Hemsy de Gainza, da Argentina, que tem vários méritos,
entre os quais destacam-se o de divulgadora das tendências criativas na Educação Musical desde a década de 1970, e o
trabalho que desenvolve, não só em oficinas de criação musical mas, também, no ensino de piano, uma das raras pianistas
que trabalha especificamente com criação musical ao teclado.
No Brasil, embora em âmbito restrito, essas tendências também se fizeram presente, principalmente na Universidade
de Brasília, a partir de 1967, mas também na Bahia e no Rio de Janeiro. Citem-se, entre os pioneiros, Reginaldo Carvalho,
Conrado Silva, Luís Carlos Czeko, Emilio Terazza, Cecília Conde, Jamary Oliveira e Alda Oliveira, entre outros. A esse res-
peito, leia-se Oficinas de Música no Brasil – história e metodologia (FERNANDES, J.N., 2000).
Em São Paulo, a tendência só ocorreu um pouco mais tarde, por influência do Prof. Hans Joachim Koellreutter, o
grande impulsionador desse movimento de ensino criativo de música, que tem como legítima representante a professora
Teca Alencar Brito.
Voltando ao Manifesto de Salzburg, assinale-se que, à conclusão, os signatários do documento apelam aos governos,
organismos internacionais, educadores, patrocinadores e cidadãos – para “reafirmar e assegurar o lugar imprescindível
da música nas escolas; apoiar as novas vias de desenvolvimento do talento musical dos jovens; assegurar a continuidade
e o desenvolvimento das organizações que brindam estas oportunidades a crianças e jovens; propiciar a coordenação
entre instituições públicas e privadas para dar respaldo a todas essas iniciativas”.
De novo, o texto vem atender a uma questão importante a ser enfrentada pela escola brasileira, pelas circunstâncias
pelas quais o Brasil passa; o retorno da música à escola, após um período de cerca de 40 anos tem suscitado muita reflexão
e movimento por parte de educadores musicais, estudantes de música e autoridades ligadas ao Ensino.
Ao abrir espaço para as aulas de música na escola, o País tenta recuperar a prática do fazer musical a toda população
escolar, da Educação infantil ao Ensino Médio. E isso é, sim, um avanço.Atualmente, muitas cidades estão se mobilizando,
dando suporte a projetos sociais que privilegiam a música, ou estabelecendo parcerias para que o ensino de música nas
escolas se fortaleça. As Universidades investem em pesquisa e incentivam ações importantes para o desenvolvimento de
teorias e práticas educacionais ligadas à Música. Dessa feita, mantemos esperança e a chama aquecida para um período
promissor da área da educação musical. O tempo nos dirá o quanto elas terão fôlego suficiente para crescer e se manter
fortes, interessantes e criativas.
99
Marisa Trench de O. Fonterrada
Fundamentos da educação musical
Referências bibliográficas
FERNANDES, José Nunes. Oficinas de m ú sica no Brasil: história e metodologia. 2ª ed. Terezina: Fundação Cultural
Monsenhor Chaves, 2000.
FONTERRADA, Marisa Trench de O. De tram as e fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: Editora da
UNESP, 2005/2008.
MAIER, Theophil. Anotações de au la. São Paulo, 1983. n.p.
PAYNTER, John. Sou nd and silence. York:York University Press, 1970.
________. Hear and Now :na introduction to modern music in schools. London: Universal, 1972.
________. Mu sic and Stru ctu re. New York: Cambridge, 1992.
PORENA, Boris. Kinderm u sik. Milão: Curzi Milano, 1972.
SALZBURG. Manifesto do Encontro sobre “O poder transformador da música”. Apud: Sem inário global. 5 de abril
de 2011.
SCHAFER, R. Murray. O ou vido pensante. São Paulo: Editora da UNESP, 1991/1996.
________. A afinação do m u ndo. São Paulo: Editora da UNESP, 2001
________. Edu cação sonora. São Paulo: Melhoramentos, 2010.
100
Aula 16: Ensino online de instrumentos musicais
GOHN, Daniel; PEREIRA, Fabiano Lemos. O ensino coletivo de instrumentos musicais na Educação a Distância: olhares docentes e
discentes em universidades públicas. In: DIAS, Adriana Moraes dos Santos; SIMÕES, Alan Caldas; VANZELA, Alexander; GOHN, Daniel
Marcondes; PEREIRA, Fabiano Lemos. Música e ensino de música. 1. Jundiaí: Paco, 2015. Coleção Escritos Acadêmicos. 4º vol.
CAPÍTULO 9
O ensino coletivo de instrumentos musicais na
Educação a Distância: olhares docentes e
discentes em universidades públicas
Introdução
123
Daniel Marcondes Gohn – Fabiano Lemos Pereira
124
Música e Ensino de Música
125
Daniel Marcondes Gohn – Fabiano Lemos Pereira
126
Música e Ensino de Música
7. Tais informações foram obtidas consultando os sites das instituições e seus do-
cumentos. Disponível em <http://www.prolicenmus.ufrgs.br/index.php?option=c
om_content&view=article&id=12&Itemid=26>, <http://www.uab.unb.br/index.
php/cursos-todos/graduacao/24-musica> e http://betara.ufscar.br: 8 080/uab/em/
projeto-pedagogico-2010. Acesso em 23 fev. 2014.
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Daniel Marcondes Gohn – Fabiano Lemos Pereira
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Música e Ensino de Música
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Música e Ensino de Música
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Daniel Marcondes Gohn – Fabiano Lemos Pereira
Os elementos são
Leis
Mediação pedagógica UAB
Autonomia Polos
Acompanhamento Síncrona
Acompanhamento
Experiência musical e didática Assíncrona
Espaço para diálogo
Fazer música
Um-para-um
Gravada
Um-para-muitos
Alta interatividade (diálogo)
Muitos-para-muitos
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Música e Ensino de Música
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Música e Ensino de Música
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138
Música e Ensino de Música
15. Nos cursos do projeto UAB, sempre há apenas um tutor presencial para acom-
panhar os alunos em todas as disciplinas. Tanto na UAB-UFSCar como na UAB-
-UnB a prioridade é ter tutores presenciais formados em Música, mas em determi-
nados municípios tais profissionais não são encontrados e as vagas são preenchidas
com indivíduos com outras formações. Há outros cursos a distância, como o con-
sórcio CEDERJ, no Rio de Janeiro, nos quais há tutores presenciais com formação
específica para cada disciplina, segundo os editais de bolsas para tutoria (http://
cederj.edu.br). Não há curso de música no consórcio CEDERJ.
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Considerações finais
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Música e Ensino de Música
Referências
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Música e Ensino de Música
149
Música na Educação Básica
Aula 17: Ensino de instrumentos: flauta doce
IVO, Lais Figueiroa; JOLY, Ilza Zenker Leme. A Qual é a música? Uma brincadeira para aulas coletivas de flauta doce. In: Música na educação básica. v. 8, n. 9. Londrina: Associação
Brasileira de Educação Musical, 2009.
Música na Educação Básica
Qual é a música?
Uma brincadeira para aulas
coletivas de flauta doce
Resumo: Abstract:
O texto discute possibilidades de como a This article presents possibilities of how
aula de instrumento, nesse caso, a flauta an instrument class, in this case, with
doce, pode ser conduzida de forma lúdica recorders, can be conducted in a ludic
e abrangente, não ficando restrita apenas and comprehensive way that is not res-
ao tocar, de maneira que o processo tricted to playing the instrument, so that
educativo se dê de forma natural e the education takes place naturally and
produtiva. O foco do artigo é uma productively. The article focuses on a
proposta de atividade musical intitulada musical activity entitled “What is music?”.
“Qual é a música?”. Embora dirigida aqui Although here it involves group recorder
para um trabalho em aulas coletivas de lessons, it can be developed and adapted
flauta doce, ela pode ser desdobrada e the context of any music class.
adaptada para qualquer contexto de aula
de música.
Keywords: Teaching musical
instruments. Recorder. Group Classes
Palavras-chave: Ensino de instrumento.
Flauta doce. Ensino coletivo.
IVO, Laís Figueiroa; JOLY, Ilza Zenker Leme. Qual é a música? Uma brincadeira para aulas coletivas de flauta doce.
Música na Educação Básica. Londrina, v. 8, nº 9, 2017.
85
Vamos brincar?
A aula de instrumento pode, sim, ser
divertida e prazerosa, uma grande brincadeira,
onde, brincando, alunos, alunas, professores e
professoras podem ensinar, aprender e praticar
os conhecimentos musicais. É com esse intuito que
trazemos a proposta do jogo/brincadeira “Qual é a
música?”, destinada originalmente a aulas coletivas
de flauta doce, mas que pode ser utilizada também
no ensino de outros instrumentos. Mas, antes de
começarmos a diversão, vamos refletir
um pouco sobre o ensino de
instrumentos musicais.
O ensino de
instrumentos musicais
segundo Swanwick
Quando pensamos em uma aula de ins-
trumento, em geral, a primeira ideia que vem
à nossa mente é a imagem de um aluno, um
professor, seus respectivos instrumentos e
uma estante de partituras com algum méto-
do, todos esses elementos em uma sala. Essa
configuração, acompanhada de metodolo-
gias que incluem a repetição, a execução de
escalas, de exercícios técnicos e de determi-
nado repertório, é o que podemos chamar
de modelo tradicional.
Esse modelo vem sendo praticado há
bastante tempo e tem sido eficaz para mui-
tas pessoas, levando-as a alcançarem os re-
sultados almejados na aprendizagem dos
mais variados instrumentos musicais. Contu-
do, alguns educadores musicais, como Keith
Swanwick (1994), têm pensado em outras
metodologias e observado outros pontos re-
levantes para o ensino instrumental.
Para Swanwick (1994), tocar um instru-
Foto: Designed by Freepik
de “discurso musical”. Para que alunos e alu- destina à formação de músicos, instrumen-
nas tenham um ensino musical de instrumen- tistas, cantores, compositores ou maestros,
tos, Swanwick (1994) faz diversas sugestões, mas à democratização do acesso à lingua-
entre elas: utilizar-se de diferentes meios para gem musical (Couto; Santos, 2009, p. 115).
aprender – como o solfejo, a apreciação de No espaço escolar, devemos considerar
outros instrumentistas, apresentações, impro- também a heterogeneidade do público ao
visação –, e não apenas de um único método; qual se dedicará o ensino de música, suas
criar “esquemas”, “planos de ação”, “imagens diferentes vivências, experiências e interes-
mentais” que auxiliem na execução da técni- ses em relação à música para que o trabalho
ca; tocar o mesmo material (exercícios, músi- realizado seja significativo.
cas) de maneiras diferentes; estudar/tocar em
Segundo Beineke (2003), que também
grupo; improvisar e dar prioridade à fluência
concorda que o ensino de música deve es-
musical antes da notação.
tar presente na educação básica, aprende-se
“[...] o ensino de instrumento deve música fazendo música, falando sobre ela,
ser um ensino musical, e não simples- analisando, refletindo, brincando, compondo,
mente uma instrução técnica. Não faz mas sempre garantindo que a vivência musi-
nenhum sentido ensinar música exce- cal esteja presente em todos os momentos
to se acreditarmos que esta seja uma
do estudo da música.
forma do discurso humano, e que o
aluno iniciante estará sendo iniciado
neste discurso desde a primeira aula e [...] a prática instrumental não é a úni-
não estará apenas conhecendo a ‘pau- ca maneira de adquirir conhecimento
sa de semibreve’. Restringir a análise a em música e de demonstrar tal conhe-
um nível técnico superficial, sem uma cimento. A performance que estará
resposta intuitiva do aluno, não leva a presente numa educação musical den-
nada” (Swanwick, 1994, [s.p.]). tro da escola regular vai além da ideia
de virtuosismo instrumental tradicio-
nalmente conhecido. (Couto; Santos,
2009, p. 122).
Qual é a música? | 87
Para saber mais sobre
ensino de música nas A utilização da
escolas: brincadeira tira a
HENTSCHKE, Liane; DEL BEN, Luciana formalidade da execução de
(Orgs.). Ensino de música: propostas para
pensar e agir em sala de aula. São Paulo:
um instrumento, o que permite
Moderna, 2003. que os alunos toquem mais
FRANÇA, Cecília Cavalieri. Para fazer mú- descontraídos e se divirtam
sica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
enquanto aprendem, dando,
ILARI, Beatriz. Música na infância e na
adolescência: um livro para pais, profes-
assim, mais espaço para
sores e aficionados. Curitiba: Ibpex, 2009. a fluência.
Ilustração: Pixabay
Qual é a música? | 89
Exemplos de alguns trechos de música
E a brincadeira continua...
outras formas de se divertir
Qual é a música? | 91
O que podemos
trabalhar com esse jogo:
modelo C(L)A(S)P
Os cinco parâmetros do modelo
Além de ensinar música de forma diverti- C(L)A(S)P estão presentes na
da e de motivar os alunos, o jogo/brincadei- atividade “Qual é a música?”
ra “Qual é a música?” pode ser utilizado para da seguinte forma:
ensinar conceitos, técnica do instrumento, • Compor, criar – Na variação da ativida-
treinar a percepção, desenvolver a atitude de, quando os participantes criam as
necessária à apreciação musical, desenvolver frases que devem ser reproduzidas pelo
ou treinar a leitura da notação musical, entre grupo adversário.
outros conteúdos. • Apreciar – Ao ouvir os trechos ou melo-
dias tocadas, para identificá-las.
França e Swanwick (2002) trazem a ideia
de educação musical abrangente, que está • Performance – Ao tocar as melodias que
deverão ser reconhecidas.
baseada no modelo criado por Swanwick
(1979), intitulado C(L)A(S)P, que compreen- • Técnica – É necessário ter o conheci-
mento da técnica e já saber tocar algu-
de as atividades que o autor considera es-
mas notas.
senciais para uma aula de música. Resumi-
• Estudos acadêmicos – As músicas que
damente, o referido modelo considera como
fizerem parte da brincadeira podem ser
principais as atividades de composição, posteriormente trabalhadas pelo profes-
apreciação e performance, que devem estar sor em outros aspectos, como falar so-
amparadas por atividades de técnica e sobre bre o compositor, o estilo, a época etc.
música (leituras, por exemplo).
Significado da sigla do
modelo criado por Keith
Swanwick (1979)
(Composition) composição
(Literature studies) estudos acadêmicos
(Apreciation) apreciação
(Skill acquisition) aquisição de habilidades
Performance
Objetivos
O(A) professor(a) pode eleger um ou
mais parâmetros, citados anteriormente,
como objetivos para a brincadeira proposta
e, assim, dar mais ênfase em determinado(s)
aspecto(s) da mesma. Ou, ainda, pode aten-
tar em cada um deles, desenvolvendo as ha-
bilidades e conhecimentos que possibilitam.
Por exemplo: no momento de tocar, corrigir/
ensinar aspectos da técnica, da interpreta-
ção e da fluência musical; no momento de
ouvir, ressaltar a importância de manter uma
escuta atenta; no momento de criar, esti-
mular e ajudar os alunos a utilizarem os co-
nhecimentos que já possuem; falar sobre as
músicas tocadas durante a brincadeira, seus
compositores, estilos e outras informações
pertinentes.
Outro objetivo bastante pertinente para
essa brincadeira é a apresentação de reper-
tório novo. Entre os trechos de músicas to-
cados, pode ser inserido o trecho de alguma
que se queira apresentar e trabalhar com os
alunos. Ouvir a música no contexto da brin-
cadeira pode despertar o interesse deles
para que conheçam mais sobre ela e assim
aprenderem com mais entusiasmo.
Objetivos:
o que pode ser trabalhado
com essa atividade
• Técnica – Notas, respiração, postura,
articulação.
• Percepção – Reconhecimento de notas
ou melodias.
• Leitura – Tocar a melodia escrita na
partitura.
• Repertório – Apresentar repertório novo.
• Criação – Criar pequenas melodias.
Qual é a música? | 93
O que aprendemos
brincando
Através de uma brincadeira simples, po-
rém estimulante, divertida e motivadora, po-
demos trabalhar diversos aspectos do ensi-
no de instrumentos musicais, sobretudo no
contexto de aulas coletivas, que se aplicam
à realidade das aulas de música nas escolas
regulares. A atividade foi originalmente pen-
sada para o trabalho com flautas doces, ins-
trumento musical muito presente no espaço
escolar, mas não se restringe apenas a esse
instrumento, podendo perfeitamente ser uti-
lizada por classes de outros instrumentos.
Beineke (2011) afirma que as crianças não
precisam saber por que estão brincando e o
que estão aprendendo enquanto fazem as
brincadeiras. Essa tarefa é do professor! O
professor, diz a autora, precisa ter consciên-
cia da importância de cada gesto das brin-
Outras propostas de
cadeiras propostas, e é ele que desenha os
objetivos das aprendizagens e conduz seu
atividades com flauta
aluno, de maneira gradativa, à construção de doce:
uma autonomia do conhecimento musical. BEINEKE, Viviane; VEBER, Andreia. Varia-
É importante que todos brinquem juntos e ções sobre um passeio no parque. Música
é fundamental que o professor goste dessa na educação básica, Porto Alegre, v. 2, n.
brincadeira e se encante com ela tanto quan- 2, set. 2010.
to os alunos. CUERVO, Luciane; PEDRINI, Juliana. Flau-
teando e Criando: reflexões e experiên-
cias sobre criatividade na aula de música.
Música na educação básica, Porto Alegre,
v. 2, n. 2, set. 2010.
CUERVO, Luciane; MAFFIOLETTI, Leda
de Albuquerque. Musicalidade na per-
formance: uma investigação entre estu-
dantes de instrumento. Revista da ABEM,
Porto Alegre, v. 21, p. 35-43, mar. 2009.
SANTOS, Luciana Aparecida Schmidt
dos; JUNIOR, Miguel Pereira dos Santos.
Flauta doce como instrumento artístico:
uma experiência em sala de aula. Música
na Educação Básica, Londrina, v. 4, n. 4,
nov. 2012.
WEILAND, Renate Lizana; VALENTE, Ta-
mara da Silveira. Aspectos figurativos e
operativos da aprendizagem musical de
crianças e pré-adolescentes, por meio do
ensino de flauta doce. Revista da ABEM,
Porto Alegre, v. 17, p. 49-57, set. 2007.
Autoras Referências
BEINEKE, Viviane. O ensino de flauta doce na educação
fundamental. In: HENTSCHKE, Liane; DEL BEN, Luciana
(Orgs.). Ensino de música: propostas para pensar e agir
em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003.
Qual é a música? | 95
Roda de conversa 3
Fundamentos da educação musical
Roda de conversa 3
Moderadores: Sergio Molina e Adriana Terahata
Participantes: Iramar Rodrigues e Sérgio Figueiredo
Sergio Molina – Roda de conversa número 3 do Projeto “A Música na Escola”.Trataremos da educação musical no
século XX e dos chamados métodos tradicionais.
Iramar Rodrigues – O que tenho praticado durante os 30 anos de ensino como especialista, é a metodologia e a
pesquisa de Dalcroze. Ele nasceu em 1865 e morreu em 1950. Até nos seus últimos escritos, sua preocupação era de
como podemos musicalizar – através do corpo – uma “sensibilidade humana”. Quando se diz sensibilidade humana, pode
ser tanto uma criança de fase escolar, como uma pessoa de 65 ou 70 anos que faz um curso de ritmo para poder “viver
seu corpo”.
Dalcroze, na sua perspectiva em relação ao futuro, pensou justamente que o corpo é algo de precioso e, para o bom
músico, essa sensibilização corpórea poderia passar através do ouvido, do olho, da expressão e do gesto.
Ele teve duas definições quando criou algumas bases metodológicas.Antes ele falava de uma educação rítmica (pelo
ritmo), que mais tarde foi trocada por uma educação “por” e “para” a música. E, no fim, ele colocou a educação rítmica
e uma educação “por” e “para” a música, “por” e “para” o gesto e “por” e “para” o corpo.
Mas a grande vantagem dessa perspectiva dalcrozeana é que ele não esqueceu que o corpo humano é evolutivo e
pode aprender e assimilar o que é bom, não falando somente de músicos.Trata-se de uma visão do ser humano integral.
Normalmente, a rítmica de Dalcroze está baseada em três princípios de base que ele estabeleceu em sua metodologia: a
rítmica, o solfejo e a improvisação.
Outras metodologias foram criadas na mesma ocasião por Orff (1895),Willems (1890), Suzuki (1898), nas quais a preo-
cupação era o ser humano e a diversificação. Foram metodologias criadas para os seus países de origem. Cada um teve seu
valor e sua meta, mas o importante é saber como realizá-lo e transmiti-lo com convicção e obtendo bons resultados.
Sérgio Figueiredo – Eu gostaria de pegar exatamente a ideia dos autores que nós estabelecemos como tradicionais.
Com certeza, a formação humana é o que vai dirigir muitas das nossas escolhas metodológicas e dos caminhos que vamos
estabelecer. Aquele era um momento de efervescência no mundo. Não só no mundo da música que o processo de ensino
estava sendo repensado. Os educadores passaram a pensar que lidar com música é um direito de todos os seres humanos.
E como é que a gente transforma e torna essa experiência acessível para todas as pessoas? Nesse sentido, eles não têm
absolutamente nada de tradicional, de antigo.
Temporalmente já passou um século, muitas coisas aconteceram, mas, nos dias de hoje, o grande desafio da educação
continua sendo atingir o ser humano. Como a gente melhora o ser humano? O que temos de fazer da escola para que o
ser humano seja melhor e viva com plenitude? Essa é uma questão absolutamente atual neste momento da educação
brasileira. Nós ainda convivemos muito com essa ideia do século XIX de que música é para quem tem talento, para quem
vai ser virtuose e para quem quer ser músico.
90
Roda de conversa 3
SM – Eu queria levantar uma questão relacionada ao contexto de como são vistos hoje os métodos tradicionais quando
comparados às novas propostas como, por exemplo, do Schafer e do Koellreutter (no caso do Brasil). Uma ideia de que
por meio dos métodos tradicionais não haveria suficiente espaço para o exercício da criatividade e da improvisação.
IR – Temos de pensar em três coisas importantes numa atividade musical por meio das ideias dalcrozeanas. Num
curso, independentemente da idade do aluno, temos uma trilogia inseparável: música, corpo e movimento. Por todo esse
contorno, introduzimos e trabalhamos através da sensibilidade neuro-auditiva e neurossensorial do corpo humano. Um
tema preciso que depois passa a ser vivido corporalmente. Às vezes, esse mesmo tema passa a ser lançado como impro-
visação. Uma improvisação que pode ser corporal, instrumental ou vocal. O processo criativo é continuado em cada ativi-
dade. Essa dimensão é que é importante na criatividade.
Quando ensinamos linguagem musical a um ser humano, é como se estivéssemos ensinando um idioma e uma língua
bem falada tem de ser bem articulada, bem respirada, e bem transmitida. Esse é o problema crucial da educação musical.
Atualmente a grande preocupação é saber o que vamos transmitir, para quem e para o que vai servir.
A segunda situação é saber o que vamos ensinar. O que vamos ensinar tem valor no momento em que estamos en-
sinando? Qual o valor ele vai ter em seguir? Uma matéria não dominada pela pessoa que a transmite será mal transmi-
tida. Na área da educação musical, isso é a coisa mais difícil atualmente. A pessoa ter os recursos de base sólidos e
saber utilizá-los.
Se o professor que vai ensinar música numa escola primária, em uma classe de crianças de cinco anos, tiver princípios
pedagógicos de base claros e precisos, e souber o porquê do trabalho a ser desenvolvido, ele não precisará ser especialista
em Dalcroze.
SF – Eu tenho a impressão de que esbarramos numa questão de profundidade, no entendimento desse material que
foi produzido, quando falamos de improvisação. Parece que a ideia da improvisação e criação é um fenômeno muito re-
cente na educação musical, como se eles nunca tivessem sido pensados como estratégias anteriores. Eu imagino que isso
tem a ver, evidentemente, com a transição.
Talvez a ênfase dada para utilização dos métodos no Brasil não levou em consideração algumas questões relacionadas
à improvisação, por exemplo.
Os métodos, a partir da metade do século, com certeza, trazem uma nova questão: a da música contemporânea. E tam-
bém das outras linguagens musicais e maneiras de fazer música que não estão necessariamente presentes nessas propostas
anteriores.
91
Roda de conversa 3
Fundamentos da educação musical
É preciso compreender com profundidade cada um dos métodos (tradicionais) para fazermos algum tipo de referên-
cia. Os métodos não servem. Mas o que serve? Por que eles se tornaram métodos conhecidos?Tanta gente já pensou em
educação musical e não foi a mídia ou a “moda” que fez com que esses métodos se mantivessem durante tanto tempo.
Cada um desses métodos tem a sua coerência interna. Eu posso não concordar, mas há uma coerência. Há uma tentativa
de tratar o fenômeno musical de maneira organizada.
Essa é uma questão importante não apenas para os métodos tradicionais, mas para qualquer estudo, qualquer matéria
a ser levada para a escola. Temos de estudar mais profundamente e entender os métodos. Vamos enxergar mais coisas
novas do que estamos acostumados.
Adriana Terahata – Há uma pergunta central e que continua presente e pertinente: o que é a educação? De que
edu cação estamos falando? E que espaço é esse?
Um risco das repercussões que a gente faz é a tradução de método, pois ele se fecha quando vem para sala de aula.
SF – Eu fico pensando que essa talvez seja uma mudança paradigmática no processo de educação do mundo. Há al-
gumas décadas, existia um anseio de as pessoas serem “seguidoras de alguém”. Eu sou especialista em Kodály, por exemplo.
Pelo processo educacional ficou claro que o modelo não funciona de maneira igual.
Nenhuma sala é igual à outra. O professor não vai encontrar a mesma coisa. Precisamos de referências.Temos de cons-
truir o nosso processo educativo em bases muito sólidas, mas não mais ser seguidores.
AT – É possível pensar um modelo único, uma referência única na educação musical, no mundo contemporâneo?
SF – Eu não acredito nisso.Temos o exemplo do Kodály que foi responsável pela reformulação da educação musical
na Hungria, e olha o tamanho da Hungria e o momento histórico em que essa reformulação foi possível. Nos dias atuais,
esse método já não se sustentaria em toda Hungria da mesma forma como quando ele foi estabelecido.
IR –Aliás, ele foi o primeiro que introduziu a educação musical na escola. Ele foi o primeiro na Europa e influenciou
outros países que passaram a seguir o modelo.Ter classes de música dentro do horário escolar na qual o professor vai até
o aluno e não o aluno que vai para um curso específico. O aluno sai da escola e vai brincar. Não tem de ir chorando para
o conservatório, forçado.
92
Roda de conversa 3
SF –Talvez este seja um dos grandes dilemas dos cursos de formação de professor em todas as áreas. É preciso coor-
denar a formação técnica da área em que o profissional vai atuar e, ao mesmo tempo, conectar essa questão com uma
maior, a formação humana.
Atualmente se discute muito a experiência contextualizada na educação musical. Por isso, reforça-se a ideia de que a
tradução do método não pode dar certo. Mas não quer dizer que vamos jogar fora a experiência e a perspectiva que
esses pensadores trouxeram. Cada vez mais se discute na área de educação musical que é preciso olhar com muito
cuidado para toda essa experiência.
Todos esses autores falaram do folclore e da tradição musical de seus países e de outros também. O que estamos
dizendo é: olhe para as tradições musicais do seu país. Nós podemos pegar a música alemã e cantar aqui e conhecer
como aquela cultura lida com o fenômeno musical. Nós temos que mostrar para as pessoas como é que nós entendemos
música e como ela se relaciona com a vida.
Se a experiência musical é uma experiência humana, então temos que entender como é que diferentes seres humanos
pensaram a experiência musical. Nesse sentido, é muito válido experimentar a música ou a forma de fazer música de
outras pessoas. Podemos introduzir muitos elementos e trabalhar para ampliar o nosso olhar sobre o mundo.
IR – Quando eu segui o conservatório, eu aprendi tudo ao inverso. Eu aprendi com o intelecto (eu estudei em um con-
servatório tradicionalista puro), e hoje eu transmito isso pelo outro lado. É o princípio de base dalcrozeano que trabalha o
corpo, a sensibilidade, depois a vivência, o analítico e, por último, o intelecto. Eu sou professor de sensorialidade.
AT –Vocês dois trazem a preocupação que é o “ser autêntico”. O professor tem que conhecer o método até para que
esse método possa ser uma boa referência. Nesse sentido, como esses métodos tradicionais podem entrar na escola para
ser essa boa referência?
IR – Eu posso fazer uma comparação popular. Para mim, a pessoa que quer realizar uma boa atividade escolar com
seu aluno corresponde a alguém que está numa cozinha e vai cozinhar. O que você tem na sua cozinha, na sua casa?
Você tem um armário. Se a pessoa é organizada, cada caixinha tem o tipo de produto a ser utilizado. Para mim, o bom
professor é aquele que faz a mesma coisa. Cada caixinha tem os princípios os quais ele conheceu, praticou e viveu, e
ele sabe quando e como usá-los.
Se ele vai elaborar uma atividade de 50 minutos, ele abre o armarinho e escolhe adequadamente o que usar. Isso é o
importante hoje em dia. Não há a necessidade de ser um especialista como eu sou. Não há necessidade de ser um espe-
cialista como alguém que está lá ensinando no Instituto Orff, em Salzburg. Mas, o que esse profissional conhece, ele
precisa saber o porquê, como e quando empregar.
SF – Se esse professor entender essas essências das quais falamos, ele vai se construindo. E ele aprenderia a improvisar
e ser criativo do ponto de vista pedagógico. Eu imaginei uma atividade, mas, na sala de aula, ela não surtiu o efeito que
eu desejava, então eu vou ter que adaptar, transformar e ampliar. Se eu não tiver mais conteúdo eu não tenho o que fazer.
A flexibilidade também vai surgir com a experiência. Em quatro anos de universidade, você não consegue preparar uma
pessoa pra fazer tudo isso. O verdadeiro educador é aquele que vai reconhecer que do outro lado tem o aluno e que
esse aluno não é o mesmo nunca.Você mudou de sala, ele é diferente.Você mudou de dia, ele é diferente.
93
Roda de conversa 3
Fundamentos da educação musical
SM – Eu queria perguntar ao Iramar, que viaja pelo mundo ensinando Dalcroze, se ele já viu experiências de música
na escola que poderiam servir de exemplo para nós no Brasil?
IR – No mês de janeiro, eu estive ensinando no Congresso Internacional Suzuki, em Lima, onde trabalhei com professores,
profissionais do Suzuki e com crianças do método Suzuki. Eles descobriram que a flexibilidade do corpo podia dar uma
qualidade ao som e perceberam que essa prática com a música, com a rítmica, podia ser algo de útil e tem dado muitos bons
resultados. Em Lima, por exemplo, temos 600 crianças que praticam o método Suzuki, mas de maneira adaptada.
Eu estive também em Bogotá, na Colombia, onde grandes professores e instituições querem promover a educação
musical na periferia.
São grupos de educadores que se especializam em diferentes métodos. Eles têm um edifício onde construíram uma
escola e um ônibus que busca a meninada que está jogada na rua. Eles fazem aulas que duram duas horas em média. Na
primeira vez, eles não têm vontade, na segunda, já perguntam quando será a próxima. Dessa forma, eles fazem uma apro-
ximação da educação musical aos desfavorecidos da sociedade. E o resultado é interessantíssimo.
IR – Sim, no caso da Suíça, por exemplo, todas as escolas primárias têm uma coisa muito interessante. O professor
primário na Suíça tem que ter uma polivalência obrigatória para ter o título de professor. O sistema escolar Suíço tem
três professores denominados “professores especiais”: um de rítmica, um de educação física e um de trabalhos manuais.
Esses três professores são integrantes da formação escolar, dos centros escolares na qual eles ensinam. Mas eles são obri-
gados a fazerem parte do corpo professoral. Não é somente vou lá, dou a minha aulinha e adeus. O sistema escolar na
Suíça é estruturado por tema centralizado. Quando um professor trabalha as estações do ano, por exemplo, todo mundo
trabalha as estações do ano. Em educação física, rítmica, matemática etc.
Há uma reunião entre professor de classe e professores especialistas. Mas a professora de classe tem o direito e está
autorizada a fazer a atividade durante a semana, mesmo que ela já tenha sido feita pelo professor especializado, porque
ela é obrigada a saber isso.
SF – Esse é o ponto que eu esbocei nessa formação do professor que vem lá da Pedagogia. Eu acho que, com certeza,
tem de ter educador musical na escola. Mas o pedagogo é responsável por esse processo formativo. Ele tem de com-
preender que música faz parte da vida das pessoas, que música não é só para lavar a mão ou para comer o lanchinho. A
música também pode servir para isso, mas música serve para outras coisas também. E esse professor tem de estar cons-
ciente disso. Ele não tem que ser regente, não tem que ser um exímio instrumentista, mas ele tem que conhecer os princí-
pios essenciais para poder, eventualmente, multiplicar essa atividade que o especialista está fazendo. A educação musical
só vai fazer bem pra formação desse professor.
IR – O professor de escola primária (na Suiça) está habilitado a formar uma classe de flauta doce com os alunos, uma
classe de violão. Ele é livre para fazer um coral. Mas ele faz parte de uma integração cultural e social. Tudo está integrado
porque é obrigatório no sistema escolar pelo Governo Federal. Se você entrou numa escola você faz parte do corpo docente.
Mesmo que você não seja professor de classe precisa estar a par de tudo que está se desenvolvendo durante o ano.
A cada três escolas primárias ou infantis existe um núcleo que se chama sócio-pedagógico, em que há um pediatra,
um reeducador de psicomotricidade e um dentista. Por exemplo, na classe de rítmica tem um aluno que tem instabilidade
94
Roda de conversa 3
neuro-motriz. O aluno é enviado para o reeducador de psicomotricidade, que é alguém capacitado pela universidade e
fará sessões individuais para ajudá-lo a melhorar. Esse trabalho terá influência no aprendizado escolar e as professoras de
classe acompanham todas as aulas que não são delas.
Enquanto eu estou dando a minha aula de ritmo, ela tem de estar lá anotando os problemas que se apresentam. Se ela
perceber que uma criança que tem problema de lateralização, ela dirá ao professor de rítmica e o professor de rítmica irá
consultar o reeducador e ver o que ele pensa. Quando a criança apresenta um problema de visão, vamos dizer ao pediatra.
Já na Universidade de Genebra, temos o que se chama “formador de formadores”. Cada grupo escolar tem um for-
mador de formadores em cada área. É uma pessoa que pode se responsabilizar por outros dez, que vão se responsabilizar
por mais outros dez. Um transmite o conhecimento para o outro hierarquicamente para resolver os problemas de con-
tinuidade.
SM – Me parece que cercamos o tema numa visão que integra os métodos tradicionais em uma perspectiva atualizada
para 2011, no Brasil, mostrando a importância de conhecermos os fundamentos que os nortearam e, como eles podem,
junto com outras tantas ferramentas, ser referência ainda.Termos Iramar Rodrigues e Sergio Figueiredo, separadamente
aqui, já seria excelente para projeto “A Música na Escola”, mas, juntos, a discussão foi muito mais interessante. Se vocês
quiserem fazer uma consideração final.
IR – Eu creio que a motivação é a coisa mais importante que existe. Precisa aproveitar e pensar que essas mudanças
têm de acontecer amanhã e não daqui a 10 anos. Se não pode começar tudo de uma vez, que se faça um núcleo, um pro-
jeto-piloto com um grupo de pessoas em uma escola primária.
SF – Eu quero aproveitar para falar sobre isso que você comentou de estarmos separados e a discussão de várias pessoas
juntas. Esse é um exercício que a gente tinha que trazer mais claramente para os nossos processos educacionais. A gente
ainda é muito separado, falta esse espírito mais coletivo para se tomar decisões. A gente tem que exercitar isso que está
previsto na própria legislação. E mesmo que não estivesse, nós temos que exercitar como cidadãos, como seres políticos
que vivem numa sociedade e que participam dela. Eu quero uma educação melhor, eu quero um Brasil melhor. O que eu
posso fazer com isso? Eu sou educador musical, então eu vou ver como é que na educação musical eu posso fazer isso.
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Folhas de práticas: Pré-escola e ensino fundamental 1
JORDÃO, Gisele; Alluci, Renata R et al. Música na Escola. São Paulo: Allucci & Associados Comunicações, 2012. P. 209-245.
Disponível em: http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/AMUSICANAESCOLA.pdf. Acesso em 1 Ago. 2019.
Práticas
• Educação Infantil
• Ensino Fundamental 1
• Ensino Fundamental 2
• Ensino Médio
207
208
Onde está a gatinha?
DICA:
CO LABO RADO R Luciana Feres N agumo • Pode-se usar também canudinhos
FAIXA ETÁRIA A partir dos 4 anos plásticos e, da mesma maneira, cortá-
DURAÇÃO Aproximadamente 20 minutos los com uma tesoura para dividi-los
CARACTERÍSTICAS Habilidades motoras, subdivisões, canto. em pedaços menores. Assim, há a
possibilidade de, depois de trabalhar
O RGAN IZAÇÃO DO ESPAÇO Sala de aula
criação, leitura e ditado nos exercícios
O RGAN IZAÇÃO DO S ALUN O S Sentados no chão em semicírculo de duração, colá-los numa folha para
RECURSO S N ECESSÁRIO S Massinha de modelar, plástico para forrar o chão. arquivar a atividade. Ou até mesmo
CO N TEÚDO RELACIO N ADO Roda de conversa 3 pegar um dos canudos maiores e
utilizá-lo para assoprar os canudos
menores brincando de conduzi-los até
Objetivo: um determinado ponto, trabalhando
Desenvolver a criatividade e habilidades motoras; trabalhar assim a respiração da criança.
som da abelha: “ bzbzbzbzbzbzbz”, até chegar na flor. Em um segundo momento, o professor não precisará mais
O olhar segue visualmente o caminhar sonoro, como em tocar a flauta, e a criança que levar a abelha inventará
uma partitura! um som próprio para realizar o movimento entre as dife-
rentes alturas.
Pode-se também fazer este exercício utilizando três crianças,
o que possibilita novas direções sonoras. Exemplo:
Objetivos:
Pré-alfabetização musical tendo como ponto de partida a escala pentatônica (Z.Kodaly). A aula pressupõe a vivência
das noções de pulso e subdivisão rítmica. É necessário que os alunos já tenham fixado a sequência das notas (no
mínimo ascendente, mas se possível, também na descendente).
Descrição da atividade:
1. Saudação – Aquecimento e afinação da terça menor descendente (sol-mi)
• O professor saúda os alunos cantando a canção “Bom dia!” com o nome de cada um e rolando uma bola em direção do
mesmo.
• O aluno deverá ser incentivado a rolar a bola de volta, respondendo com o nome do professor.
• O professor sugere agora que se cante a música acompanhando a letra com palmas.
• A seguir, o professor chama atenção para os sons curtos e longos da canção. Repetindo a canção, substitui a letra pelas
sílabas “Ti-Ti” para os sons curtos (colcheias) e “Ta” para os sons longos (semínimas). Em seguida, pede para que os alunos
cantem com ele utilizando essas sílabas rítmicas.
• O professor pede para que os alunos sugiram dois sons corporais diferentes: um para “Ti-Ti” (sons curtos) e outro para
“Ta” (sons longos). Em geral, as crianças sugerem sons agudos para os sons curtos (ex: palmas) e sons graves para os
sons longos (ex: pés). Canta-se agora, seguindo a sugestão.
213
Pré-alfabetização Musical: duração e altura (cont.)
Educação Infantil • Prática 4
• N a sequência, o professor mostra cartas com figuras diversas em proporção de dobro-metade e associa as figuras
grandes com os “Ta” (semínima) e as pequenas com os “Ti-Ti” (colcheia). Assim:
DICA:
• Muito mais importante do que a literalidade
de figuras (tais como semínima e colcheia) é a
conscientização da proporção dobro-metade.
• Cada criança receberá quatro cartas de “Ti-Ti” e quatro cartas de “Ta” e o professor pedirá que ela utilize essas cartas
para montar – enquanto canta – o ritmo da música do Jacaré. É importante que ascrianças recebam desenhos diferentes
para não associarem diretamente o “Ta” e o “Ti-Ti” com um único tipo de desenho. As cartas podem e devem ser utilizadas
para que o aluno faça muitos ditados rítmicos percutidos em instrumentos ou nas palmas. A princípio, o professor dita, pro-
duzindo o som no instrumento enquanto simultaneamente fala as sílabas rítmicas “Ta” e “Ti-Ti” correspondentes. Em um
segundo momento, bastará o som do instrumento para que a criança reconheça a célula rítmica.
• O próximo passo é entregar os palitos de sorvete para cada aluno e associar a unidade com a figura longa (um palito
= semínima) e construir com três palitos o desenho da subdivisão, isto é, a figura curta (três palitos = duas colcheias
unidas). Eles poderão escrever o ritmo da música, conforme figura abaixo:
Ti - Ti Ta Ti - Ti Ta Ti - Ti Ti - Ti Ti - Ti Ta
baixo baixo
• Entrega-se para as crianças cartões com desenhos diversos em alturas diferentes como mostra a figura a seguir, e pede-se
para o aluno escrever a canção posicionando as figuras em cima e embaixo do mesmo modo que havia sido praticado
com as mãos no exercício anterior.
214
Educação Infantil • Prática 4
DICA:
• É importante que as crianças
não associem as figuras rítmicas
• O professor agora colará duas linhas de fita isolante colorida no chão com um espaço com este ou aquele bicho ou
entre elas e pedirá para cada criança – munida de vários bichinhos ou brinquedos de fruta. É a variedade que
pelúcia – “escrever” com os bichos a canção inteira, utilizando as duas linhas. permitirá a fixação natural do
conceito de proporção.
• O professor nomeará a nota da linha de cima de “sol” e perguntará para as crianças se alguém sabe qual é a nota da
linha de baixo. Depois que a criança percebe que deve descer para encontrar a outra nota, o professor aponta a linha
do “sol”, o espaço do “fá” e finalmente a linha do “mi”. O que importa é a leitura relativa, e não a altura absoluta, do
“sol” e do “mi”. Todo o início da alfabetização musical é feito sem a utilização das claves.
• Agora a criança já poderá cantar a melodia com os nomes das notas, acompanhando com os olhos o desenho da par-
titura grafado no chão. Depois, enfim, voltará a cantar a canção do Jacaré com a sua letra original, seguindo a leitura
musical.
mi mi
ré ré
mi mi
lon - ge mi
pé!
• Utilizando este mesmo processo, uma nova canção poderá ser ensinada e incluir da próxima vez a nota “lá”. Assim, à
medida em que a tessitura das canções aumentar, pode-se acrescentar outras linhas à pauta, uma a uma, até completar
por inteiro o “pentagrama”.
215
Desenhando sons: gesto/movimento/grafismo
Educação Infantil • Prática 5
DICA:
• Observe atentamente o movimento realizado
CO LABO RADO R Teca Alencar de Brito pelas crianças, bem como, o registro gráfico
FAIXA ETÁRIA 3 a 5 anos que elas realizam, comentando com elas as
soluções interessantes que emergem. Isso
DURAÇÃO 1 aula ou parte de 1 aula – periodicamente
favorecerá a transformação da percepção e da
CARACTERÍSTICAS Gesto, movimento e grafismo.
consciência de todo o grupo, que ampliará sua
O RGAN IZAÇÃO DO ESPAÇO Sala de aula com espaço livre escuta e também seus modos de expressão.
O RGAN IZAÇÃO DO S ALUN O S Em círculo
RECURSO S N ECESSÁRIO S Instrumentos musicais, objetos do ambiente, sons vocais e corporais com timbres distintos,
folhas de papel branco, de preferência em tamanho A3, lápis de cor e/ ou giz de cera.
CO N TEÚDO RELACIO N ADO Roda de conversa 4
Objetivos:
Em toda brincadeira de criança, mesmo não havendo som, há música. A cultura da infância traz uma riqueza de gestos,
movimentos, ritmos e melodias que constituem um precioso repertório no qual estão presentes os elementos essenciais à
educação musical de crianças no Brasil.
Deve-se priorizar o espaço da brincadeira, sem torná-la um brinquedo pedagógico, sem brincar disso para aprender aquilo,
o que tira o prazer e sentido da brincadeira para a criança.
Acalantos, amarelinhas, brincos, brincadeira com bola, corda, elástico, mão, roda, pegadores, parlendas e quadrinhas
proporcionam o exercício da música em todas as suas dimensões, constituindo um alicerce para a educação musical, a
partir de sua riqueza de elementos rítmicos, melódicos, desenvolvimento da acuidade sensorial e motora.
As brincadeiras cantadas trazem um universo de possibilidades para as práticas musicais. Primeiramente é preciso brincar e
cantar muito, trazendo a diversidade da música da infância, que por si só proporciona o exercício da música.
Descrição da atividade:
1. Brincar, brincar e brincar!!!
• As crianças sentadas em roda e no pulso da música passam uma bola (ou um limão). A cada vez que a música recomeça,
acelera-se o andamento e o desafio é passar a bola cada vez mais rápido, sem deixá-la cair.
218
Brincadeiras cantadas
• Uma roda de mãos dadas com uma criança no centro. A roda gira no andamento da música e se estabelece o diálogo,
conforme descrito acima. Quando a criança do centro canta: “Escolherei a que for mais bela”, escolhe uma criança da
roda que ocupará o centro junto com ela. Quando se canta “Dim Dim lê, lê...”, as duas crianças dançam juntas no centro.
Ao final da música, aquela que foi escolhida permanece no centro para escolher outra quando recomeçar a brincadeira e
quem estava no centro vai para a roda.
219
Brincadeiras cantadas (cont.)
Educação Infantil • Prática 7
• As crianças de mãos dadas em roda, caminham no andamento da música. Cada criança que tem seu nome cantado vai
virando de costas para a roda, passando por debaixo do braço direito, de maneira que fique com os braços em cruz.
2. A partir do repertório proposto, é possível observar como cada uma das brincadeiras possibilita o exercício espontâneo
da música: passa-se a bola no pulso, acelera-se a passagem da bola possibilitando experimentar vários andamentos;
experimentam-se o som e o silêncio na brincadeira de estátua; caminha-se em compassos binários e ternários experimen-
tando como o corpo se adéqua a cada um deles; cantam-se tríades e outros intervalos... Essa brincadeira pode continuar
de outras formas, pincelando o material sonoro de cada uma das canções:
• Propor o acompanhamento das cantigas pelas crianças com instrumentos de percussão diferentes.
• Brincar de adivinhar: cada uma das melodias é tocada inteira na flauta e as crianças devem cantar a música adivinhando
qual é;
• Como todas as melodias começam com a tríade maior, tocar na flauta apenas os quatro primeiros compassos de cada
uma, para que descubram qual foi tocada.
• Explorar essas três notas da tríade de dó maior inventando rimas com os nomes das crianças. Como por exemplo:
• Incentivar a criação musical das crianças, que nessa idade é muito espontânea e criativa. Quando brincam, de repente
inventam canções que são uma mistura de tudo o que ouvem e sabem. Se têm contato com um repertório de qualidade
esse será, com certeza, o extrato para o processo criativo delas. O incentivar pode ser simplesmente deixá-las fazer,
ouvi-las…
220
Brincadeiras ritmadas
Objetivos:
Muitas brincadeiras ritmadas como as de corda, mão, fórmulas de escolha, parlendas e quadrinhas trazem ritmos fáceis,
constituindo-se num rico material para a introdução da leitura rítmica. Brinca-se naturalmente e esse repertório passa a
constituir uma base para todo o processo da educação musical.
Descrição da atividade:
Brincadeira de Corda
• A criança entra na corda e pula no ritmo da parlenda. Quando se diz a última letra U, a criança sai da corda, dando
lugar a outra, que recomeçará a brincadeira.
221
Brincadeiras ritmadas (cont.)
Educação Infantil • Prática 8
1. A partir da experiência de pular corda e dos desafios proporcionados por diferentes brincadeiras desse repertório, brin-
car também de “Uma velha muito velha” e depois explorar o ritmo da parlenda de diversas maneiras:
• Pular corda batendo o ritmo da parlenda nas palmas;
• Andar pela sala fazendo o ritmo da parlenda nos pés;
• Fazer o ritmo da parlenda em instrumentos de percussão.
2. Propor que observem a diferença das figuras rítmicas da parlenda e que reproduzam essas figuras com sons diferentes
no corpo, no instrumento ou outros objetos. Por exemplo, colcheias tocadas na pele do tambor e semínimas no aro;
colcheias na pele e semínimas nas baquetas; colcheias na pele e semínimas nas palmas...
3. Dividir as crianças em dois grupos, sendo que um grupo tocará somente as colcheias e outro somente as semínimas.
4. Propor que criem uma forma de representar as duas figuras, tentando deixar clara a diferença entre elas. É importante
que se deixe as crianças encontrarem essa forma de registro sem a interferência do professor, que cada aluno represente
do seu jeito a diferença percebida.
5. Compartilhar os registros, possibilitando que cada criança fale sobre o seu, sobre o que percebeu e representou a
partir daí. Chamar a atenção para as semelhanças entre os registros.
6. Tal experiência deverá ir sendo ampliada e as crianças poderão adotar sua forma de registro para transcrever outras
brincadeiras.
Outras brincadeiras com a mesma base rítmica que poderão ampliar essa prática.
Fórmula de escolha
• As crianças com as mãos fechadas em punho ficam em volta de quem escolhe, que vai batendo de mão em mão até o
fim da parlenda. O último que ficar, será o pegador.
222
Brincadeiras ritmadas
• Em dupla, uma criança em frente à outra, fazem-se os seguintes movimentos de acordo com o texto da parlenda:
CHOCO: com as duas mãos fechadas em punho, a criança bate nas
duas mãos fechadas da criança em frente.
LA: palmas das mãos batem nas palmas das mãos da criança em frente.
TE: costas das mãos batem nas costas das mãos da criança em frente.
Quadrinha
223
Saltos no tempo – a cruz
Fundamental 1• Prática 1
Objetivos: 2. Conte até quatro e peça ao aluno que pule para frente e
Os conhecimentos musicais necessários são mínimos: ter al- chegue ao quadrado que está a sua frente exatamente
guma noção de regularidade e saber contar até quatro. no próximo “1”;
Vários aspectos musicais e extra-musicais podem, e de- Obs: dê tempo para que ele treine algumas vezes e faça
vem, ser levantados: risco, responsabilidade, trabalho em isso com precisão;
grupo, rigor, atenção ao outro. A ideia inicial é simples:
saltar exatamente para o lugar que alguém estava ocu- 3. Chame um outro aluno e
pando, no exato momento em que este alguém salta para peça que ele fique em um
um outro lugar. A partir daí, seguimos criando uma série outro quadrado bem ao
de desdobramentos. Aqui você vai encontrar o primeiro lado daquele onde está o
“desenho”: a Cruz. Tenha ela como base e pense tam- primeiro aluno;
bém em criar novos “desenhos” junto com seus alunos. Obs: o segundo aluno deve
estar olhando para o
Descrição da atividade: ombro do primeiro aluno (ou seja, o segundo aluno está
Faça uma marcação no chão como um tabuleiro de virado para um lado ortogonal ao primeiro).
xadrez. Teremos um grande quadrado com cada lado
dividido em oito partes. 4. Conte até quatro e os dois devem pular para frente
chegando ao quadrado à frente de cada um exata-
mente no próximo “1”;
Obs: É só nesse momento que, de fato, é possível ter uma
dimensão de onde se pode chegar com o Saltos no
Tempo. Curta esse momento. Fale de responsabilidade,
risco de machucar ou ser machucado, seriedade para
poder brincar.
Você pode fazer essa marcação desenhando-a com giz, 5 . Conte até quatro e os dois devem pular para trás
com fita crepe, com barbante preso em cadeiras ou com chegando ao quadrado que está atrás no próximo “1”;
uma rede. A rede não é
imprescindível, porém ela 6. Chame um terceiro aluno que ficará olhando para o
simplifica bastante o dia a ombro do segundo;
dia, por ser fácil de abrir e
fechar e abreviar, assim, o
tempo dos preparativos.
Construindo a “ Cruz”
1. Chame um aluno (um vo-
luntário) e peça que ele fique em um quadrado localiza-
do no centro da rede, virado para um dos lados;
Obs: encontre referências claras no espaço onde você está
e defina: “o lado que está virado para a janela” ou “o 7. Conte até quatro e os três devem pular para frente, bater
lado que está virado para a porta”; três palmas e pular para trás;
224
Fundamental 1• Prática 1
14. Conte até quatro, todos devem pular para direita,
bater três palmas e voltar;
8 . N este momento, você
pode chamar todos os 15. Conte até quatro, todos devem pular para esquerda,
alunos para participar; bater três palmas e voltar;
9. Para minimizar o risco de 16. Conte até quatro, todos devem pular para frente, bater
alguns errarem e se cho- três palmas, voltar, bater
carem (atenção: esse ris- três palmas, pular para
co sempre existirá e faz trás, bater três palmas,
parte do jogo), você po- voltar, pular para direita,
de pedir que saiam da bater três palmas e voltar,
rede todos que estão vira- pular para esquerda, ba-
dos para, por exemplo, ter três palmas e voltar.
“a janela”, e contar até
quatro para que pulem para frente, batam três palmas e
pulem para trás; Ampliando as Possibilidades
10. E depois, o mesmo com Até agora lidamos apenas com o espaço. Está na hora de
os que estão virados pa- lidarmos com o tempo!
ra “a porta”; 1. Conte até quatro e os alunos devem fazer a Cruz dentro
de uma métrica ternária (ou seja, pulando e batendo
11. Tendo todos na rede, apenas duas palmas);
conte até quatro, todos
devem pular para frente, 2. Conte até quatro e os alunos devem fazer a Cruz dentro
bater três palmas e voltar; de uma métrica binária (ou seja, pulando e batendo
Obs: uma observação importante a ser feita é a ideia de apenas uma palma);
fixar este quadrado do qual se parte e ao qual se volta,
pois, quando a movimentação se tornar mais com- 3. Conte até quatro e os alunos devem fazer a Cruz três
plexa, essa ideia será valiosa para que cada um possa vezes: uma vez dentro de uma métrica quaternária,
se localizar melhor. uma vez dentro de uma métrica ternária e uma vez den-
tro de uma métrica binária;
Avançando na “ Cruz”
4. Conte até quatro e os alunos devem fazer a Cruz em
12. Conte até quatro, todos devem pular para trás, bater compassos alternados: um compasso de 4, outro de 3,
três palmas e voltar; outro de 2, outro de 4, outro de 3, outro de 2 e outro
de 4;
13. Conte até quatro, todos devem pular para frente, bater
três palmas, voltar, bater três palmas, pular para trás, 5. Crie com seus alunos novas sequências para os sete
bater três palmas e voltar; momentos de palmas que existem na Cruz:
. 2, 3, 4, 2, 3, 4
. 2, 3, 2, 3, 4, 2
e incontáveis outros;
Objetivos:
• evidenciar a importância de olhar o movimento do outro para tocar junto (exercício I);
• evidenciar a possibilidade de utilizar o andar para ter referências sólidas ao tocar ou cantar (exercício II).
Esta atividade trabalha habilidades e compreensões caras a qualquer um que queira se aproximar da música, independen-
temente da forma que utilize para este fim:
• a noção de que há diversas informações valiosíssimas (algumas imprescindíveis) no movimento corporal e de que não
estar atento a (ou não saber ler) estas informações pode nos levar (e normalmente nos leva) a uma prática incompleta;
• o necessário equilíbrio entre ênfase no indivíduo e ênfase no grupo, através de exercícios que exigirão atenção ao que
você deve fazer e atenção ao que o outro faz e dialoga com você;
• a noção de lateralidade, fundamental no processo de construção do esquema corporal, através de exercícios que
falarão de “pé forte” e “pé fraco”, tornando, mais à frente, desnecessária a frágil ideia de “tempo forte” e “tempo fraco”;
• a noção de regularidade, essencial para a construção do conceito de “pulsação”, através do andar e as possibilidades
de utilizá-lo para organizar o fazer musical;
Constatando:
Quem conseguir andar junto vai conseguir tocar junto.
226
Fundamental 1• Prática 2
Exercício III – Andar junto Exercício IV – Andar e tocar junto
Descrição da atividade: Descrição da atividade:
1. Você deve mostrar primeiro o que é “andar junto” pedin- 1. Todas as duplas tentam an- DICA:
do a um aluno que ande com você e “lidere” o andar. dar juntas e bater palmas no • Manter as duplas do
O aluno deve fazer variações de andamento e você, pé forte; exercício anterior.
estando atento ao aluno, deve procurar “andar junto”;
2. Todas as duplas tentam andar juntas e bater palmas no
2. “Agora é sua vez de liderar”. Deve haver aqui um tom pé fraco;
de brincadeira na qual o aluno será desafiado a tentar
“andar junto”. Obs: quando o objetivo de andar junto é 3. Todos as duplas tentam andar juntas e um dos integran-
dos dois, não há líder e liderado, os dois lideram e os tes de cada dupla bate palmas no pé forte enquanto o
dois são liderados (a plateia não quer saber quem está outro bate palmas no pé fraco;
certo, ela quer ver todos juntos);
4. Inverter. Quem estava batendo palmas no pé forte bate
3. Definimos o pé forte e o pé fraco (a lateralidade, para palmas no pé fraco e vice versa. Obs: não é necessário
alguns, ainda é uma abstração); aqui uma avaliação individual, apenas algumas cor-
reções bastarão para a turma saber que há “certo e
4. Uma dupla tenta andar junta. Os dois devem sair com o errado” e que o professor está atento.
pé forte. A turma pode contar “1, 2, 3, 4” e bater pal-
mas no próximo “1” e essa será a deixa para que a Uma Conclusão
dupla comece a andar (isto é algo a ser exercitado); Caso você consiga fazer com que seus alunos continuem ten-
tando andar juntos, fora de sala de aula, em casa, no
5. A turma se divide em DICA:
recreio, no ponto de ônibus, em duplas, trios e quartetos,
duplas e todos ten- e continuem tentando sincronizar seus passos com bati-
• Neste exercício é preciso
tam andar juntos. das de palmas de mão, você poderá se considerar uma
haver espaço físico. Quando
uma dupla for formada por um pessoa abençoada. Em todo e qualquer trabalho com
destro e um canhoto, os destros músicas que se estruturem a partir de uma pulsação, você
devem estar pisando com o pé poderá resgatar a experiência vivida nesta atividade e
direito quando os canhotos utilizá-la como base.
estiverem pisando com o pé
esquerdo. A noção de que há
um pé “forte” e um pé “fraco”
simplifica tudo.
227
A descoberta do pulso básico
Fundamental 1• Prática 3
Objetivo:
O caminho do despertar do pulso rítmico é fundamental mente Palma etc. A prática deve seguir sem inter-
para a vivência musical e, para tanto, a utilização do rupção, circularmente;
corpo é ferramenta importante nesse aprendizado.
N esta prática são trabalhados, inicialmente, aspectos 6. Quando todos estiverem à vontade, o professor deve mo-
relativos ao pulso básico e ritmos simples, através de dificar, sucessivamente, os outros tempos, colocando uma
jogos corporais – estimulando a criatividade e a com- palma (ou qualquer outra modificação com som) no
preensão da música. Assim, a prática se vale de simul- segundo, no terceiro e no quarto pulso; é importante que
taneidade, sucessividade e alternância, nessa ordem. seja dado um tempo de prática entre as modificações,
O exercício foi pensado para ser utilizado em uma aula para que a criança se sinta confiante dentro do exercício;
inaugural, como uma primeira forma de contato com o
conceito e pode ser expandido, respeitando o desen- 7. O professor deve, então, parar o movimento e explicar
volvimento do grupo. Como o público-alvo é formado que agora todos vão bater os quatro pulsos nas coxas,
de crianças pequenas, o exercício não será teorizado, novamente – porém, o professor vai iniciar uma sequên-
apenas executado, “brincado” e explorado, como cia de quatro movimentos que deve ser imitada pelo alu-
forma de vivenciar com o corpo o pulso básico. no da esquerda, e assim por diante, sem perder o pulso.
Fundamental 1• Prática 4
CO LABO RADO R Camila Carrascoza Bomfim DICA:
FAIXA ETÁRIA 6 e7
• É fundamental que o
DURAÇÃO 1 aula professor experimente o
CARACTERÍSTICAS Audição de grave, médio e agudo exercício antes de executá-lo,
O RGAN IZAÇÃO DO ESPAÇO Sala de aula, sem cadeiras. Alunos sentados em círculo principalmente se não tiver
O RGAN IZAÇÃO DO S ALUN O S Toda a classe formação musical. Nessa
RECURSO S N ECESSÁRIO S O próprio corpo experiência, o professor deve
elencar os sons que serão
CO N TEÚDO RELACIO N ADO Roda de conversa 3
utilizados: médio, grave e
agudo. Posteriormente,
poderão ser utilizadas notas
musicais escolhidas (cantadas
Objetivo: com nome das notas),
procurando dimensionar as
A experiência melódica, quando unida à prática rítmica e
relações entre estes sons.
ao uso do corpo, se desenvolve de forma orgânica, inte-
gral, remetendo à proposta de educação musical de
Jacques-Dalcroze. São trabalhadas aqui questões relati-
vas à altura do som, procurando demonstrar, e aos 8. O professor, nesse momento, deve pedir que os alunos
poucos dimensionar, as diferenças entre grave e agudo. cantem com ele os três sons: médio – agudo – médio –
Este exercício também foi pensado como uma primeira grave, sucessivamente;
forma de contato com o conteúdo e pode ser expandi-
do, respeitando o desenvolvimento do grupo. Como o 9. Quando todos estiverem à vontade no exercício, o pro-
público-alvo é formado de crianças pequenas, o exercí- fessor deve pedir para que todos fiquem em pé, mas
cio não será teorizado, apenas executado, “brincado” mantenham a posição de círculo;
e explorado, como forma de vivenciar o conceito de
altura em música. 10. Deve, então, explicar que vai estabelecer uma sequên-
cia de quatro sons (por exemplo, grave – grave – médio –
Descrição da atividade: agudo) e que todos os alunos devem imitá-lo;
1. Todos sentam em círculo, com as pernas cruzadas, joe-
lhos com joelhos; 11. Quando todos estiverem à vontade, o professor deve
explicar que, da mesma forma que na prática anterior
2. O professor explica que vai cantar um som – médio – e (prática 3), ele vai inventar uma sequência de quatro
vai posicionar as mãos de frente para o tórax, com as sons e que cada um deve inventar a sua, começando
palmas voltadas para baixo; pelo aluno à sua esquerda; o professor deve, nesse mo-
mento, observar as facilidades e as dificuldades dos alu-
3. Todos devem, então, cantar o mesmo som que o profes- nos em cantar e perceber as diferenças entre as alturas.
sor, imitando seu movimento com as mãos; Como foi apontado na prática anterior, esse é um mo-
mento no qual existe uma tendência da classe se disper-
4. O professor deve, então, explicar que vai cantar um som sar – o professor deve, então, ser firme e terminar o exer-
mais agudo. Deve, nesse momento, posicionar as cício, de forma que todos tenham tentado criar sua se-
mãos na altura da cabeça; quência pelo menos uma vez;
5. Todos devem, então, cantar o mesmo som que o profes- 12. A aula deve se encerrar com uma discussão sobre o
sor, imitando seu movimento com as mãos; que cada um achou do exercício, se houve alguma difi-
culdade, quais foram elas, enfim, para que as crianças
6. O professor retorna ao primeiro som – médio – e é segui- sejam parte ativa da prática.
do por todos;
Obs: fazer esse exercício em pé permite que, posterior-
7. O professor deve, então, explicar que vai cantar um som mente, o exercício se desenvolva no sentido de unir o
mais grave. Deve, nesse momento, posicionar as mãos pulso básico com a noção de altura. O pulso básico
perto das coxas e todos devem imitá-lo, cantando e seria, então, batido com os pés e as alturas executadas
posicionando as mãos da mesma forma; da mesma forma.
229
Rondó dos sapatos
Fundamental 1• Prática 5
1. Uma vez coletados os calçados, peça para que eles Apreciação e avaliação da proposta pelo grupo
escutem os sons de seus próprios sapatos e os compare 7. Após a execução do Rondó, os participantes terão oportu-
com os dos outros participantes. Deixe que essa ativi- nidade de avaliar o resultado de sua criação coletiva. É
dade demore algum tempo, para todos tenham oportu- importante incentivar a participação crítica de todos e
nidade de ouvir e comparar sonoridades. fazer que observem os critérios de organização da obra,
o que escutaram, em termos de ideias musicais e qualida-
2. Peça, então, aos participantes que se agrupem a partir de da execução. É importante, também, que tenham es-
dos sons de seus sapatos: sapatos de materiais seme- paço para comentar se gostaram ou não do que ouviram.
lhantes, provavelmente, soarão de maneira semelhan-
te, mas fiquem atentos, pois pode haver surpresas. O No caso desta atividade, que lança mão de uma forma clás-
principal critério é a sonoridade, e não os materiais, a sica – o Rondó – como meio de organização, é interes-
forma, as cores ou os tipos de calçado. O que se busca sante se o professor retomar a temática em outras aulas,
é formar “naipes” com calçados a partir de sua sonori- mostrando aos alunos outros tipos de Rondó, do repertó-
dade, como se fosse uma orquestra, com os instrumen- rio musical tradicional, para que eles identifiquem as
tos agrupados em famílias. partes que os compõem. A vivência anterior dessa forma,
certamente, abrirá caminhos para a compreensão auditi-
3. Cada grupo surgido dessa maneira terá aproximada- va do Rondó clássico.
mente 10 minutos para propor uma improvisação com
os seus sapatos. É aconselhável que estes grupos traba-
lhem afastados uns dos outros.
Fundamental 1• Prática 6
CO LABO RADO R MarisaTrench de Oliveira Fonterrada
FAIXA ETÁRIA A partir de 8 anos
DURAÇÃO 1 aula
CARACTERÍSTICAS Voz – propriedades do som – criação.
O RGAN IZAÇÃO DO ESPAÇO Sala de aula. 1º: cadeiras em círculo. 2º: grupos separados.
O RGAN IZAÇÃO DO S ALUN O S Sentados, em pé, locomovendo-se ou parados.
RECURSO S N ECESSÁRIO S Cada aluno deverá ter um pequeno texto, de 5 ou 6 linhas, de livre escolha.
CO N TEÚDO RELACIO N ADO Roda de conversa 4
DICAS:
Em seguida, peça para lerem novamente, desta vez, va- Explorar diferentes modos de emissão vocal, de maneira a
riando a intensidade da fala: piano (fraco), forte, meio variar o timbre: voz nasalada, voz estridente, voz som-
forte, ou, então, fazendo as frases em crescendos e bria, e outros.
decrescendos de intensidade.
Obs: chamar a atenção dos participantes para a importân-
A próxima tarefa é ler novamente os textos, desta vez, va- cia de ouvir o som resultante dessas múltiplas maneiras
riando as durações das sílabas ou das palavras, num de lidar com os textos, mostrando que os recursos aqui
espectro que vá dos sons muito curtos aos muito longos, pedidos são recursos musicais. Deixar claro que o que
ou vice-versa, ou buscando efeitos de durações con- importa não é o sentido literal do texto, mas suas possi-
trastantes. A resultante será uma variação rítmica, moti- bilidades sonoras, que serão exploradas na invenção
vada pela ação de cada pessoa. dessa peça musical.
Outra possibilidade é variar o andamento da leitura, alter- B. Começando a construção do sentido musical
nando trechos lidos muito devagar, com outros pronunci- Agora que os parâmetros básicos do som foram explo-
ados em grande velocidade. Cada participante esco- rados e vivenciados, passa-se à etapa em que se explo-
lherá se vai fazer essa variação de maneira gradual ou ra o próprio material que irá constituir a peça musical –
súbita. o texto, e suas sonoridades.
Explorar a tessitura das vozes, levando-as às regiões mais Ler simultaneamente os textos escolhidos. Agora, porém,
agudas e mais graves que cada um pode alcançar. escolher para ler apenas as palavras que tenham fone-
231
Do texto à obra – uma proposta de experimentação musical (cont.)
Fundamental 1• Prática 6
mas com som de CA, CO, CU, QUE, QUI e outros, de C. Criando pequenas peças musicais a partir dos textos
sonoridades semelhantes (KA, por exemplo). escolhidos.
Para esta parte, divida os participantes em grupos de 8 a
Fazer o mesmo, privilegiando, agora, as palavras que con- 10 pessoas. Eles, juntos, devem propor uma maneira
tenham sons sibilantes sem voz (s, x, f) ou com voz (z, v). de ler os mesmos textos, com a intenção de produzir
uma pequena peça musical, com início, meio e fim. Os
Fazer o mesmo com palavras que contenham fonemas participantes devem combinar antecipadamente o que
nasais: ão, ães, ões, ou m e n em final de sílaba, entre vão fazer e executar para os outros grupos. Incentivar
outros. todos os participantes a colaborarem com ideias, não
se limitando a seguir sugestões de uma única pessoa. É
Agora, combinar essas condutas com as anteriores, refe- importante, ao se trabalhar em grupo, dividir a respon-
rentes aos parâmetros do som (altura, duração, intensi- sabilidade da criação entre todos.
dade, andamento, timbre), de modo a criar texturas in-
teressantes no que se refere à organização sonora. D. Escuta crítica e avaliação
Cada grupo, além de se apresentar, ouvirá os outros gru-
Incentivar os participantes a apresentarem outras ideias, pos. É importante incentivar a participação crítica de
não constantes desta proposta, e a prestar atenção nas todos, como também, fazer que notem quais foram os
diferentes sonoridades produzidas. critérios de organização da obra, o que escutaram, em
termos de ideias musicais, a qualidade da execução e
Em qualquer das propostas, atentar para as sonoridades que, também, tenham espaço para comentar se gos-
obtidas com cada seleção de procedimentos. taram ou não do que ouviram.
232
Desenhando sons, esculpindo ruídos
Fundamental 1• Prática 7
CO LABO RADO R Pedro Paulo Salles
FAIXA ETÁRIA Entre 7 e 12 anos
DURAÇÃO 1 aula
CARACTERÍSTICAS Interdisciplinaridade - Representação visual da música e dos sons - Grafia
O RGAN IZAÇÃO DO ESPAÇO Sala de aula
O RGAN IZAÇÃO DO S ALUN O S Sentados em fileiras, ou em roda ou em “U”.
RECURSO S N ECESSÁRIO S Papel, material de desenho, materiais para colagem ou de modelagem,
ou de construção (sucata); instrumentos musicais e equipamento para ouvir música.
CO N TEÚDO RELACIO N ADO Roda de conversa 10
DICAS:
• Escolha músicas instrumentais, de preferência
Objetivos: orquestradas. Selecione um trecho de 1 a 4 minutos.
Desenvolver a escuta atenta e ativa através da represen- Deve ser sugestiva em termos de movimentos que
instiguem a imaginação.
tação visual da música e dos sons. Familiarização com
as características dos sons — objetivas e subjetivas — • Em atividades posteriores, a música poderá ser
contidos nas músicas, e também com as diferentes for- cantada, tendo-se em mente que a letra já sugere
imagens, podendo dirigir e limitar a imaginação.
mas de organização de sons e as diferentes estruturas
sonoras perceptíveis. Apreensão da música pela crian- • A revelação dos nomes das músicas utilizadas e seu
ça, ou seja, a identificação simbólica da criança com contexto histórico pode ser preservada para depois da
atividade, para que não condicione a imaginação dos
as músicas ouvidas.
alunos.
3. N ote que o resultado pode ser também desenhos abstra- C) Observa-se o desenho em silêncio, mas junto com a
tos: traços, campos de cores, texturas, formas, símbolos música; D) Simplesmente observa-se o desenho em silên-
e assim por diante. É desejável que haja uma grande cio, imaginando sons. Seja como for, o primeiro passo é
variedade de modos de ouvir e representar a música. a observação dos desenhos, e essa pode ser com ou
sem a música soando. É fundamental que haja esse
4. Se necessário, repita o trecho escolhido para a finaliza- momento em que os desenhos são observados junto
ção dos trabalhos. com a música.
CO LABO RADO R N úcleo Barbatuques® (André Hosoi, João Simão e Maurício Maas)
FAIXA ETÁRIA A partir de 7 anos
DURAÇÃO 1 aula
CARACTERÍSTICAS Exercício de escuta (percepção fina de timbres) imitação e atenção
O RGAN IZAÇÃO DO ESPAÇO Sala de aula, sem cadeiras
O RGAN IZAÇÃO DO S ALUN O S Em roda, de pé ou sentados
RECURSO S N ECESSÁRIO S Corpo dos alunos e do professor
CO N TEÚDO RELACIO N ADO Roda de conversa 4 DICAS:
• Se o tempo permitir, o professor pode escolher
um aluno para fazer outras combinações de sons
Objetivos: para o grupo todo repetir. Outra possibilidade é
Explorar timbres e possibilidades sonoras que o corpo é que todos os alunos, um de cada vez na ordem
capaz produzir. Aprender a fazer sons com palmas e pés. da roda, façam uma pequena combinação de
sons para que todos os outros repitam.
Descrição da atividade: • Para uma maior concentração, esta atividade
Os alunos devem estar com roupas confortáveis e despoja- pode ser feita em roda com os alunos de pé.
dos de anéis, colares ou ou quaisquer utensílios que pos-
sam vir a prejudicar movimentos corporais. Na maioria É possivel fazer o som de uma chuva usando rapidamente
das vezes, ficarão em uma disposição de roda, alternan- os sons das palmas. Ésó começar pelas palmas de dois
do momentos onde estarão sentados ou de pé. Esta dedos (pingos), depois passar pela palma das costas
posição é favorável para estimular um estado de aten- de mão, palma aguda, palma estrela e palma grave
ção, escuta e visão (numa roda, por maior que seja, to- (aqui é a chuva forte!).
dos conseguem se ver). Sem parar, faça a sequência inversa. Vale lembrar que as
palmas não podem estar juntas, o ritmo das gotas de
1. Aquecimento: ativar o corpo e prepará-lo para o início chuva é sempre aleatório! Para uma maior concentra-
do trabalho de percussão corporal. Leve alongamento ção esta atividade pode ser feita em roda com os alu-
das principais partes do corpo: coxa, ombros, braço, nos sentados e até mesmo de olhos fechados (a inten-
antebraço e pulsos. Percutir os pé no chão de forma rápi- ção é focar a percepção na escuta).
da para aquecer as pernas. Percutir com as mãos de
baixo para cima: canelas, coxa, barriga, peito ombros e 3. Jogo do Eco: jogo de imitação que prioriza o exercício
braços. E massagem no rosto e couro cabeludo com as da escuta (percepção fina de timbres) e da atenção.
mãos. Esta atividade pode ser feita em duplas em que Estimula o desenvolvimento da noção indivíduo/ coleti-
um aluno percute as mãos de leve nas costas do outro. vo, a capacidade de imitação/ criação, a exposição
da individualidade e a desinibição.
2. Sons Corporais: estimular os alunos, por imitação, acom- O professor lança uma combinação de sons simples para
panhar o professor na apresentação dos seguintes sons: ser imitada pelo grupo (por exemplo, duas palmas
Som tocado com os pés: Bater os pés no chão com a graves e um pé no chão). Repita isso algumas vezes va-
sola inteira. riando os timbres explorados no início da aula (usando
Sons tocados com a mão: Bater as mãos na coxa, bar- o exemplo anterior, dois pés no chão e uma batida no
riga e peito (na região do osso esterno). Variação dos peito). É possível variar também as figuras rítmicas,
sons de palmas (grave, estrela, aguda, costas de mão e criando frases que podem ficar mais complexas depen-
pingo). dendo da resposta dos alunos à atividade.
Palmas
Fundamental 1• Prática 10
CO LABO RADO R N úcleo Barbatuques® (André Hosoi, João Simão e Maurício Maas)
FAIXA ETÁRIA A partir de 7 anos
DURAÇÃO 1 aula
CARACTERÍSTICAS Exercício de escuta (percepção fina de timbres) imitação e atenção
O RGAN IZAÇÃO DO ESPAÇO Sala de aula, sem cadeiras
O RGAN IZAÇÃO DO S ALUN O S Em roda, de pé ou sentados
RECURSO S N ECESSÁRIO S Corpo dos alunos e do professor
CO N TEÚDO RELACIO N ADO Roda de conversa 4 e 10
DICAS:
Objetivo: • Ao término deste levantamento de
Continuar a explorar as possibilidades sonoras que o corpo timbres, o professor pode perguntar se
é capaz produzir. Relembrar os timbres aprendidos na algum aluno faz algum som diferente que
prática anterior (9) e introduzir as possibilidades de não foi visto. Todos repetem.
sonoridades com a boca, incluindo variações com a voz Para uma maior sensibilização dos alunos,
e percussão vocal. Utilizar os recursos corporais sonoros o professor pode também sugerir sons
para reproduzir sons exteriores (instrumentos musicais, curiosos e não convencionais: o som fundo
do mar, o som de dentro de uma caixa de
sons da natureza, do mundo entre outros).
fósforo, o som da amizade, o som de uma
lesma com dor de cabeça, etc.
Descrição da atividade:
É interessante o professor incluir em seus
1. Aquecimento: usar a mesma sequência da primeira
comentários aspectos musicais que podem
aula (prática 9). O aquecimento antes de fazer qual- ser percebidos nas atividades tais como o
quer prática de percussão corporal deve se tornar uma reconhecimento de graves, médios e
rotina. Esta atividade pode ser feita com todos em uma agudos, duração de cada som e densidade
roda onde cada aluno percute as mãos de leve nas das texturas sonoras.
costas do outro.
Concepção sonoro-musical para ser interpretada por todos os alunos divididos em dois grupos
GRUPO A (1 2 3 4) GRUPO B
Contagem com os dedos
1 2 3 4 – – – –
1 2 3 4 – – – –
– – – – 1 2 3 4
– – – – 1 2 3 4
1 (2 3 4) (F, mantêm os braços no alto) – – – –
1 (2 3 4) (P, descem os braços lentamente) – – – –
– – – – 1 (2 3 4) (F, mantêm os braços no alto)
4 3 2 1 4 3 2 1
(1 2 3 4)
Movimento lento de descida dos braços, regido
4 4 3 3 – – – –
2 2 1 1 4 4 3 3
4 4 3 3 2 2 1 1 Esta parte é realizada
enquanto cânone,
2 2 1 1 4 4 3 3
encerrando-se, após a
4 4 3 3 2 2 1 1 breve suspensão, com
2 2 1 1 4 4 3 3 o 4321 em conjunto
pelos dois grupos.
1 1 1 1 2 2 1 1
Breve suspensão
1 2 3 4 1 2 3 4
(1)
Objetivos:
• Preparação para o estado de escuta. de ruído mínimo. Uma vez alcançado, a criança deverá
• N oção de silêncio “ativo”. fechar os olhos – e abrir os ouvidos.
• Treinamento da escuta. Quando os “silenciadores” observarem que todos estão no
• Autodisciplina e concentração. mesmo nível de baixo ruído, passam a circular pela
classe em movimentos lentos, na ponta dos pés, emitin-
Descrição da atividade: do longos e suaves “Psiu”.
A classe toda é orientada a produzir sons.
A classe toda vai ao volume sonoro zero, e esse silêncio
Cada aluno deverá eleger apenas um som, seja com a voz, deverá perdurar por, pelo menos, um minuto.
com o corpo ou com um objeto escolhido. Eles serão os
Trata-se de um estado de “silêncio ativo”. Sempre de olhos
“emissores”.
fechados, a criança deverá ficar muito atenta e concen-
Dois ou três alunos ficam responsáveis por silenciar a classe trada no ambiente sonoro, pois a qualquer momento
aos poucos. São os chamados “silenciadores”. poderá ser convocada.
Eles se aproximam cuidadosamente dos “emissores”, um a O silêncio só será quebrado quando os silenciadores se
um, com o sinal apontado (dedo indicador sobre os transformam em despertadores e acordem a classe, de
lábios). Em resposta, o emissor deve diminuir o seu volu- novo, um a um, aleatoriamente.
me, intensidade ou frequência de som ou ruído.
Uma após a outra, cada criança é “despertada” por um leve
Um “silenciador” não deve sinalizar duas vezes seguidas chamado, ao longe, de seu nome (ou número ou letra), ou
para um mesmo “emissor”, mas circular pela classe. por um toque no ombro com uma baqueta improvisada.
À medida que a criança recebe “comandos de silêncio”, ela Cada criança acordada deverá “cantar” livremente, prolon-
vai diminuindo gradativamente o barulho que faz, ao gada e seguidamente (e não apenas falar) a palavra
ponto do sussurro ou ruído mínimo. “um”, de forma baixinha.
Cada criança estipulará para si mesma qual é o seu grau Uma bela e caótica sinfonia de um’s.
240
Música de armar 2 – o pulso
Fundamental 1• Prática 13
CO LABO RADO R Regina Porto
FAIXA ETÁRIA Dos 8 aos 11 anos
DURAÇÃO 1 aula
CARACTERÍSTICAS Pulso
O RGAN IZAÇÃO DO ESPAÇO Sala de aula, sem cadeiras.
O RGAN IZAÇÃO DO S ALUN O S Em círculo
RECURSO S N ECESSÁRIO S Metrônomo
CO N TEÚDO RELACIO N ADO Roda de conversa 5
Objetivos:
• N oção de tempo, andamento e métrica. Repetir os mesmos procedimentos em compasso ternário
(1, 2, 3...).
Descrição da atividade:
N otar que também aqui a ênfase recai sempre sobre o 1º
Acionar o metrônomo em compasso binário. tempo.
Ajustar o metrônomo a um andamento médio. Repetir os mesmos procedimentos em compasso quater-
nário (1, 2, 3, 4...).
Observar aos alunos que o sino do metrônomo corres-
ponde ao 1º tempo. Manter a ênfase no 1º tempo, agora com leve realce sobre
o 3º tempo.
Ouvir várias vezes em silêncio para captar o pulso e a regu-
laridade métrica. Apenas quando o professor notar que a ideia de pulso e
métrica foi bem assimilada e que o sentido de tempo foi
Alguém começa a contagem (1, 2, 1, 2...), de forma pau-
incorporado, repetir a experiência sem o suporte do me-
sada e tranquila, e puxa outro. Até que todos contem
trônomo.
juntos.
Como teste, prosseguir a prática rítmica e, em seguida, re-
O mais importante é que cada um sinta internamente o
tomar a aplicação do metrônomo para constatar algu-
pulso.
ma possível defasagem.
Se houver defasagem, repassar o exercício individual-
mente.
Alterar o andamento para mais e para menos.
Repetir a contagem sempre em sincronia com o andamento.
Uma vez assimilado o tempo musical, pedir que a classe
dê ênfase ao 1º tempo, o que pode ser marcado pelos
pés, pelas mãos ou por ambos (apenas o 1º tempo).
241
Música de armar 3 – a altura
Fundamental 1• Prática 14
Fundamental 1• Prática 15
CO LABO RADO R Regina Porto
FAIXA ETÁRIA Dos 8 aos 11 anos
DURAÇÃO 1 aula
CARACTERÍSTICAS Altura (consciência)
O RGAN IZAÇÃO DO ESPAÇO Sala de aula, sem cadeiras.
O RGAN IZAÇÃO DO S ALUN O S Em círculo.
RECURSO S N ECESSÁRIO S Marimba de 7 ou 8 teclas
CO N TEÚDO RELACIO N ADO Roda de conversa 5
Objetivos:
Afinação, conscientização do sistema diatônico. A sequência deverá ser escrita na lousa.
243
Música de armar 5 – a criação
Fundamental 1• Prática 16
Objetivos:
Senso de forma, memória, criação coletiva.
Descrição da atividade:
Agora é hora de combinar as “cores” (ou seja, as notas) O exercício deve então evoluir para a combinação entre afi-
livremente. nação vocal de diferentes alturas, de tempos em tempos
reforçada pelas notas do diapasão, e a métrica, com
O professor e um aluno – cada qual com uma baqueta – uso do metrônomo, apoiado nos tempos fortes pelos pés
emitem pausadamente notas aleatórias da marimba. e/ ou mãos.
Outro aluno soa o diapasão como se fosse instrumento de O fim da improvisação será anunciado por um toque rápi-
sopro, isto é, sustentando cada nota com intenção musi- do e suave de vuvuzela, seguido de pausa e de um
cal e por tempo indeterminado. segundo toque ainda mais suave.
Os demais alunos deverão então, cada um, escolher e pro- A música se encerra com longo toque baixíssimo.
curar seguir vocalmente uma nota ou mais notas (do dia-
pasão ou da marimba), de acordo com a percepção e a A experiência deve ser repetida várias vezes,
intuição de cada um. até que a classe se dê conta de que estão
construindo estruturas musicais.
Fundamental 1• Prática 17
CO LABO RADO R Ricardo Breim
FAIXA ETÁRIA A partir de 9 anos
DURAÇÃO 2 aulas ou mais
CARACTERÍSTICAS Pulso, forma e arranjo.
O RGAN IZAÇÃO DO ESPAÇO Sala de aula
O RGAN IZAÇÃO DO S ALUN O S Toda a classe
RECURSO S N ECESSÁRIO S Aparelho de som com toca CD, lousa, próprio corpo.
CO N TEÚDO RELACIO N ADO Roda de conversa 8
Objetivos: DICAS:
Ao final da sequência de atividades, os alunos terão vivido
• Utilize 1 aula para as atividades
uma primeira experiência de elaboração de arranjo de
de mapeamento da forma.
uma canção, que envolve conteúdos conceituais, pro-
• A elaboração do arranjo pode
cedimentais e atitudinais da linguagem musical.
ser distribuída nas aulas
seguintes.
Descrição da atividade:
1. Enquanto escutam a gravação de uma canção que irão
arranjar e interpretar, os alunos experimentam pulsos
lentos, médios e rápidos que combinem com a música
até poderem identificar, com a ajuda do professor, o 4. A partir da sequência de quadradinhos proposta e ano-
pulso do compasso (uma marcação a cada início de tada na lousa pelo professor, os alunos discutem as pos-
compasso). síveis diferenças entre as propostas de notação indivi-
duais e tentam encontrar a melhor maneira de identi-
2. Enquanto escutam novamente a gravação desde o início, ficar os diferentes trechos e representar a forma associa-
os alunos desenham uma sequência de quadradinhos da ao que escutaram.
equidistantes, alinhados da esquerda para a direita, de
maneira que o gesto para grafar cada lado de cada 5. Uma vez concluída a notação da forma por quadradi-
quadradinho possa ser percebido como expressão do nhos, utilizam-na como referência para elaborar e rea-
pulso do compasso. lizar coletivamente um arranjo com canto, e acompa-
nhamento do professor utilizando pulso básico, pulso
3. Os alunos reiniciam o processo, mas agora, em lugar de do compasso, levada e ritmo da melodia, escolhendo
manter equidistantes os quadradinhos, devem perceber entre essas alternativas as que pareçam combinar me-
adicionalmente as mudanças ou reinícios de trechos da lhor com cada trecho da canção. Anotando sob os
gravação para agrupar os quadradinhos de cada tre- quadradinhos as alternativas escolhidas para cada tre-
cho e até mesmo interromper o desenho de um qua- cho, os alunos obtêm uma espécie de mapa que pode
dradinho para iniciar o seguinte quando isso for com- servir de guia para ensaiar o arranjo elaborado coleti-
patível com a percepção de mudança ou reinício. vamente.
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