Liliana Scatena
Ribeirão Preto
2010
SCATENA, LILIANA
FACULDADE DE MEDICINA
TOMBO:_______________SYSNO.:_______________
MONOGRAFIA 2010
TOMBO:_______________SYSNO.:_______________
Ribeirão Preto
2010
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Scatena, Liliana.
3. grupanálise
Sumário
1.Introdução.............................................................................................................. 06
2.1.Grupos Psicoterápicos.......................................................................................... 14
2.3.Grupos Operativos................................................................................................ 17
4. Objetivo do trabalho............................................................................................. 30
5. Metodologia........................................................................................................... 31
6. Resultados.............................................................................................................. 32
7. Discussão................................................................................................................ 38
8. Conclusão............................................................................................................... 40
9. Referências bibliográficas.................................................................................... 42
6
1. Introdução
Grupo.
Porém, para entender como este cenário está constituído hoje é necessário um
funcionamento dos grupos e na produção da cultura, por meio de alguns trabalhos como
Totem e Tabu (1913), Psicologia das Massas e Análise do ego (1921) e Mal-estar na
civilização (1930). Nessas obras, Freud traz descobertas significativas para a compreensão
dos grupos humanos como, por exemplo, o fato de que, por meio de processos e rituais
Assim, embora o campo psicanalítico seja delimitado pelo analista e cliente, em que a
sua mente por parte do material aportado pelo paciente e apenas refletir em suas intervenções
interpretativas, tal qual um espelho, o que se passa na mente do cliente, quando incluímos o
capaz de descrever a realidade objetiva do que se passa no grupo, por estar inserido na sua
1
Obras completas de Freud vol. II, (1913), p.1745-1849 ; (1921) vol,. III, p.2563-2610; (1930) v. III, p.3017-
3067.
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observador modifica o fenômeno observado, tanto quanto é ele afetado pelo que observa, ou
seja, terapeuta e grupo são influenciados reciprocamente pela relação entre eles. As mudanças
psíquicas obtidas nas grupoterapias seriam uma co-construção entre todos os membros do
grupo (terapeuta e cliente) e não apenas fruto das intervenções do terapeuta dirigidas aos
um estado de equilíbrio, e até mesmo uma busca de uma melhor adaptabilidade nas inter-
que vive. Em um dos textos que trouxeram contribuições à análise dos grupos, Freud (1921,
p.2.563) assinala:
grupo, pode-se dizer que se trata de uma invenção americana do século XX, trazida pelos
autores: Joseph Hersey Pratt (1922); Cody Marsh (1931); Edward Lazell (1921); Trigant
Burrow (1927); e em 1930 Jacob L. Moreno, Samuel R. Slavson, Fritz Redl, Louis Wender,
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O insight se processa pelas seguintes etapas: o intelectivo, que são processos intelectuais; o cognitivo, que se
trata de conhecimento de atitudes que estavam inconscientes; o afetivo, onde a cognição vem acompanhada de
vivências afetivas; o reflexivo, que significa refletir e aprender com as experiências passadas; o insight
pragmático, que representa a mudança psíquica proporcionada pela aquisição de insights.
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Paul Schilder e Alexandre Wolf. E em 1935 com o surgimento dos Alcoólicos anônimos.
Joshua Bierer e John Rickman. Depois em 1945, com Siegmund H. Foulkes, líder mundial da
literatura especializada (KAPLAN & SADOCK, 1996, p. 6), ele era um tisiologista americano
Proferia palestras aos seus pacientes tuberculosos, semanalmente por uma hora e meia com
melhor entendimento eram convidados a sentarem-se a seu lado. Pacientes em alta quando
informações para ajudar os pacientes crônicos a lidar com sua doença. Estendeu seu trabalho
para pacientes diabéticos e em seguida a pacientes neuróticos. Este tipo de trabalho, método
de classe, está baseado na identificação desses pacientes com o médico, compondo uma
estrutura familiar fraternal que exerce função continente do grupo (KAPLAN & SADOCK,
1996, p. 7).
Cody Marsh (1931) era um padre episcopal e utilizou um método grupal com
pacientes em hospital psiquiátrico, também denominado método de classe. Ele dava aulas e
fazia provas, os participantes chamados de estudantes, que por ventura fossem reprovados
eram novamente submetidos ao curso. Ele pretendia que os estudantes tomassem nota,
comunicar com a população de todo o hospital (KAPLAN & SADOCK, 1996, p. 7).
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D.C., trabalhava com pacientes esquizofrênicos, sua técnica era composta de terapias
exortivas3 que agem pelo grupo. Utilizou debates em grupos seguindo linhas psicanalíticas
eram trabalhados ao ar livre. Nesses grupos seu trabalho era realizado através de debates com
Burrow quis estabelecer uma ponte entre as palavras e as ações, entre o sintoma e sua
significação, baseando-se não apenas nas palavras, mas na própria dinâmica do social
presente em cada indivíduo. Por não ter sido acreditado, foi expulso da Associação
grupo”; Samuel R. Slavson, educador progressista e operador de grupo, mais tarde tornou-se
psicoterapeuta; Frit Redl, estudioso vienense, introduziu em 1942, grupos diagnósticos com
O amor de Moreno (1959) pelo teatro desde a sua infância propiciou a utilização da
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Pratt foi utilizou de forma sistemática e deliberada as emoções coletivas seguindo uma finalidade terapêutica.
Os métodos que seguem as diretrizes de Pratt são denominados genericamente terapias exortivas paternais, que
atuam pelo grupo. Atuam pelo grupo porque se valem das emoções coletivas, porém, sem compreendê-las.
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A instalação do setting vai além de combinações mínimas, como horários, honorários, férias e afins. O
enquadre promove a criação de um novo espaço, no qual os pacientes irão reviver primitivas experiências
emocionais. A figura do terapeuta é parte essencial do setting grupal.
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formação, foi figura de grande importância na grupoterapia dos anos 30, ficou mais conhecido
pela sua grupoterapia ativa. Observou que as atividades espontâneas das crianças em certos
grupal de atividade” na qual o líder é permissivo e receptivo e as crianças estão livres para
interagir espontaneamente. Acreditava que o fato das crianças verem o terapeuta como figura
parental que permite a expressão de impulsos hostis e agressivos, poderia ser uma experiência
grupo. Acreditava também que o ambiente terapêutico era responsável pelo processo
Louis Wender (1930) era psiquiatra, trabalhou num contexto de pacientes internados,
com interpretações de transferências familiares nas transações grupais. Wender teve o início
grupais. Wolf, impressionado pelos trabalhos de Wender (1936) e Schilder (1936), também
Paul Schilder entendia que o grupo recriava a família, utilizava a técnica da livre
psiquiatras foram forçados a utilizar métodos grupais de tratamento por pura necessidade. São
eles: Samuel Hadden, Alexandre Wolf, Irwing Bergen, Donald Shaskan e Eric Berne. Quanto
aos líderes britânicos achavam-se: E.James Antony, S.H.Foulkes, Wilfred R. Bion; Joshua
psicoterapia de grupo, teve contatos com Freud e trabalhou sob orientação de Adler,
Contato de Foulkes com a Gestalt o levou a perceber cada vez mais o grupo como uma
realidade primordial . Foi capaz de integrar uma visão psicobiológica psicanalítica (manteve-
se sempre fiel aos ensinamentos freudianos) e psicossocial. Contudo, ele já dava elevada
Kurt Lewin (1936) tratou a psicologia como uma ciência substituindo conceitos de
classe por conceitos de campo. Lewin postulava que qualquer indivíduo por mais ignorado
que seja, faz parte do contexto do seu grupo social, o influencia e é por este fortemente
influenciado e modelado. Este autor é considerado o pai da dinâmica de grupo. Com formação
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A associação livre é um método psicanalítico que consiste em deixar o paciente livre para falar o que lhe vier à
mente, e as associações das idéias assim expostas devem ser interpretadas pelo analista a fim de trazer à tona o
trauma responsável pela origem da perturbação nervosa.
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Usou a topologia para representar os problemas relativos aos eventos possíveis ou não num
espaço de vida.
ambivalentes dos membros individuais uns com os outros e com o líder de um grupo. Os
fenômenos descritos por Bion referem-se ao líder do grupo. Ele não postulou um instinto
gregário ou mente grupal, antes acreditava que as idéias da forma que se desenvolvem em
grupo, são os produtos da regressão dentro dos membros individuais que ocorre quando as
pessoas são ameaçadas por uma perda de sua distinção individual. Observou que os grupos
em sua presença, invariavelmente pareciam terem se reunido para dois propósitos: funcionar
como grupo de trabalho ou funcionar como grupo de pressupostos básicos. Dessa última
categoria três processos distintos foram inferidos: dependência, luta e fuga, e acasalamento.
reformulados pela escola de Lacan (corrente psicanalítica também baseada na obra inaugural
de Freud). Com as concepções teóricas desses dois autores, o edifício que abrigava as
Na década de 60, vários autores argentinos foram importantes para o estudo da terapia
de grupo como: Grimberg, Langer, Rodrigué, Geraldo Stein, Ruben Zuckerfeld, Janine Puget.
No Brasil, nessa mesma época, surgiram no cenário de psicoterapia de grupos: Alcion Bahia,
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Walderedo Ismael de Oliveira, Werner Kemper no Rio de Janeiro; Bernardo Blay Neto, Luiz
Miller de Paiva e Oscar Rezende de Lima em São Paulo; Cyro Martins,David Zimerman e
movimento da terapia de grupo como um todo. Tal como relatado por Robert Dies (1992)
apud Sheidlinger (1996), apenas durante o período de cinco anos de 1977 a 1981, publicações
sobre terapia de grupo apareceram em quase 400 periódicos. (KAPLAN & SADOCK, 1996,
p. 11).
tema de classificação geral dos grupos como: grupos de auto-ajuda, grupos de reflexão,
psicoterapia de grupo para pacientes internados e egressos, grupos com drogaditos, grupo com
autistas, grupos comunitários, grupos na escola, grupo com crianças (ZIMERMAN &
grupos (OSÓRIO, 1986); terapia de famílias (OSÓRIO, L.C., & VALLE, M.E., 2002).
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ativamente em busca de novos caminhos de uma assistência mais ampla e abrangente com
aplicação dos recursos da Dinâmica Grupal. A diversidade de tipos de grupos também é vasta
aprendizado, que ocorre nas relações interpessoais e na vivência do grupo como um todo. As
principais teorias que apóiam este tipo de trabalho são as de inspiração psicanalítica e existe
hoje uma preocupação mundial em pesquisar e elaborar teorias próprias de grupo. Outra
pois ajuda o psicanalista de grupo enriquecer a sua prática clínica. Há a Gestalt-terapia onde
sofrimento. O terapeuta é a figura central, exercendo o papel de líder que acolhe o grupo e
Deve ser levado em conta o fato de que, em se tratando de um país como o Brasil,
com uma enorme população desassistida no que diz respeito à assistência médica
geral e à psicológica em particular, juntamente com uma escassez de recursos e de
técnicos, ainda é bastante precário o aproveitamento das terapias grupais, as quais,
quando bem empregadas, têm se mostrado comprovadamente eficientes.
ocasionando o maior interesse dos profissionais nesse campo de estudo, o que justifica um
Os grupos de auto-ajuda, como o próprio nome designa, são compostos por pessoas
semelhantes, reunindo-se para trocar informações e oferecer apoio mútuo. Essas associações
auxiliam tanto o próprio doente quanto os respectivos familiares e amigos, e são dirigidas por
sejam bem sucedidos e alcancem bons resultados é a otimização de fatores terapêuticos, tais
pressuposto de que cada membro do grupo é agente de sua própria mudança (BECHELLI,
crianças, já que as produções artísticas das crianças oferecem informações ao terapeuta, que
poderiam não ser obtidas através de meios verbais, beneficiando a criança que necessita de
rápida, “pontes para a intersubjetividade, um contato rico, íntimo e profundo que, dependendo
do caso, pode prescindir de palavras ou enriquecer com elas” (CIORNAI, 1995, p. 62 apud
SEI, 2005). A expressão verbal vem para enunciar o que se elaborou plasticamente, sendo que
a utilização terapêutica das artes plásticas se mostra útil tanto em situações individuais como
algo mais flexível e que permite a captação da riqueza do mundo emocional e relacional do
indivíduo. Pode ser utilizada com fins diversos, como possibilidade de catarse, de insight ou
como elemento projetivo que propicia a intervenção terapêutica (SUÁREZ; REYES, 2000
suscita dois medos básicos: o medo da perda das estruturas existentes e conhecidas, apesar de
estereotipadas, que ocasiona ansiedade depressiva e o medo do ataque da nova situação que,
por ser desconhecida e suscitar insegurança pelo receio de faltar recursos para enfrentá-la, cria
a ansiedade paranóide.
entre seus membros. Os papéis desempenhados por cada membro no grupo são entendidos
começa pela afiliação, onde a pessoa não se incorpora totalmente ao grupo e transforma-se em
O processo grupal principia com a fase de pré-tarefa, na qual o grupo divaga tendo
dificuldade de centrar-se na tarefa. Evolui para a fase da tarefa, quando há a elaboração das
para o futuro e enfrentam a situação de perda que advém do término da tarefa com a
separação do grupo.
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Para se trabalhar com esses grupos são permitidos técnicos sem formação completa,
mas com treinamento, assim, como psiquiatras, médicos de outras especialidades, psicólogos,
incentivo às capacidades positivas, desde que fiquem unicamente centrados na tarefa proposta
Grupo Balint trata-se de discussão de casos em equipe, que seria para discussão de
operativas, são os grupos de discussão próprios para Congressos, Jornadas e outros eventos.
Após três ou quatro apresentações em mesa redonda, passa-se a discussão dos temas em
temas, situações, tarefas, proporcionando algum aprendizado que favoreça o progresso das
comunicativo vincular pode ser aprimorado por meio de treinamento adequado visando
aperfeiçoar a execução das tarefas. Não se trabalha com o objetivo de interpretar aspectos
relacionar essas leis com os acontecimentos vivenciados e com o curso teórico (BLEGER,
1980).
Este trabalho se aproxima muito ao trabalho terapêutico, mas não tem o mesmo
objetivo do grupo terapêutico. É um espaço para que os componentes possam expressar seus
sentimentos, dúvidas sobre sua instituição, sobre sua equipe de trabalho, etc. Como não existe
um tema pré-fixado, não seria correto falar em grupos de reflexão sobre hipertensão,
tabagismo, álcool ou qualquer outro assunto. Para o trabalho com grupo de reflexão, é
necessário que o coordenador tenha uma boa formação, estudo teórico e supervisão, fatores
que aliados a sua análise pessoal, criarão condições para um trabalho grupal proveitoso. É
importante lembrar que para este tipo de trabalho, não é necessário ser formado como
psicoterapeuta, mas ter uma boa formação como coordenador de grupo pré-estabelecido em
Há ainda o trabalho grupal com pacientes internados, onde se busca maior aderência
ansiedade, visão de que os outros também têm problemas semelhantes. Nesse caso, trabalha-
Tais grupos têm um papel fundamental no esquema terapêutico das comunidades, como por
pacientes e grupos em hospital geral, desempenham diferentes funções, entre elas: assessorar
No entanto, como Zimerman (2000) afirma, torna-se difícil delimitar uma linha
divisória clara entre as tendências de psicoterapia, grupo operativo e grupo de apoio nas
diversas práticas:
Para Zimerman (2000), o importante é que o técnico que venha a utilizar o grupo
como recurso de atuação, tenha bem claro qual é o seu papel, seus objetivos, que tipo de
resultados pretende, que referenciais teóricos e técnicos possui para utilização, que tipo de
Hermine von Hug-Hellmuth (1917) foi uma das precursoras nesta tentativa de se criar
uma técnica psicanalítica infantil. Começou, então, observando sonhos, jogos e desenhos de
seus pacientes. Ela afirmava que a criança não possuía consciência de doença, estando ainda
presa a seus objetos originais (pais), e por isso não poderia estabelecer uma neurose de
transferência com o terapeuta. Afirmava que o terapeuta deveria apenas reforçar os aspectos
positivos do vínculo, sempre num nível de orientação educativa, considerando, ainda, que em
nada o brincar da criança poderia ser comparado aos sonhos ou à associação livre do adulto.
Sugeriu que o brinquedo poderia servir de complemento espontâneo e até mesmo substituir a
comunicação verbal. Hugh Hellmuth e Anna Freud (1922) apresentaram pressupostos muito
parecidos. Ambas compreendiam que o jogo deveria ser um instrumento inventado pelo
conscientes. Para ambas, a criança não tinha consciência da doença, e nem iria ao tratamento
uma menina de quase três anos, percebeu que é possível praticar a interpretação com crianças
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a partir de três elementos básicos: angústia, fantasia inconsciente e defesa. Este fato provocou
uma guinada no que estava ocorrendo na técnica com crianças. Surgiram diferenças não
apenas técnicas, mas teóricas, pois Melanie Klein compreendia que é só a interpretação
poderia tranqüilizar a angústia. O pressuposto de Klein era que o jogo tratava-se de uma
linguagem da criança e não uma invenção do terapeuta. Ela dizia que o terapeuta deveria ter
A autora entendeu que as crianças poderiam, sim, ser motivadas dentro de si mesmas
para a análise, insistindo que elas poderiam ser analisadas, do mesmo modo que os adultos,
Preconizando a aplicação do jogo, colocou o brinquedo num lugar de destaque na luta contra
a angústia mobilizada pelas pulsões sexuais. Ela dizia que, ao brincar, a criança domina
Isso seria possível, porque desde pequena, a criança adquire a capacidade de simbolizar.
Assim, para Klein o brincar era a linguagem típica da criança, equiparando a linguagem
lúdica infantil à associação livre e aos sonhos dos adultos. Portanto, a neurose de transferência
internalizadas, que são projetadas no analista, que teriam como principal função interpretar
psicanalista Arminda Aberastury (1978). Ela entendeu que a criança não só estabelece uma
transferência positiva e/ou negativa com o psicoterapeuta, como dizia Klein, como também é
capaz de estruturar, através dos brinquedos, a representação de seus conflitos básicos, suas
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encontros, o seu funcionamento mental; que esses fenômenos surgem possivelmente devido
ao temor da criança de que seu psicoterapeuta repita com ela a conduta negativa dos objetos
assuma uma função através da qual lhe dê condição para melhorar. Além disso, o brinquedo
seria um meio de elaborar situações traumáticas. A criança que não brinca estaria num
movimento de retração do ego, pois a criança se fortalece ao brincar. A brincadeira seria uma
Ruth Blay Levisky (1997) em seu capítulo: “Grupos com Crianças” do livro de
Zimerman & Osório et al. “Como Trabalhamos com Grupos” , faz um breve histórico da
grupoterapia infantil. Ela inicia explanando sobre Anna Freud, que também trabalhou com
grupos de crianças, a partir de 1945, quando publicou suas idéias sobre a indicação para
análise infantil, houve uma grande difusão e aumento da credibilidade e da eficiência sobre a
Slavson (1951) que primeiro trabalhou com grupos psicoterápicos infantis, acreditava
diminuição da ansiedade. Nessa época, ele dizia que não emergiam “sintomas grupais”, mas
grupos psicoterápicos com crianças, baseados nos critérios de Slavson. No entanto, ela
também tinha uma preocupação diferente da dele, que era a busca da compreensão do
dinâmica de grupo, e houve uma tendência a trabalhar com o todo grupal, e não com
indivíduos. Em Paris, no Centro Alfred Binet, Lebovici e Diatkine, na década de 60, iniciaram
instituição, no sistema de hospital-dia. Esta experiência, que permanece até hoje, trouxe
com grupoterapia infantil, na maior parte das vezes, ligada a instituições, de Di Loretto, na
década de 70, Blaya (1963), Zimermann (1969), Osório (1970), Pez (1981), Outeiral (1986),
Nos últimos tempos também pode ser observado um aumento de interesse e estudos no
Deakin (2008) esclarece que psicoterapia com crianças pode ser definida como uma
intervenção que visa atender problemas diversos, que causam estresse emocional, interfere no
psicanalítica com crianças é derivada da psicanálise e pode ser conceituada como uma forma
dinâmica de grupo aplicado à escola (ZIMERMAN, 2004), oficinas (MOTTA, 2007), oficinas
grupal (ALMEIDA, 2007). Pois embora não objetivem o alcance de insight e obtenção de
Numa outra linha dessa modalidade de grupo, existem também os grupos de apoio ou
sexualmente abusadas (SEI, 2003) e em situação de risco social (CARVALHO, 2007). Com
atendimento para falar de assunto específico, como fantasias sexuais por exemplo, e publicar
quanto aos limites da faixa etária e ao tipo de patologia das crianças selecionadas (psicóticas
A participação de dois ou mais técnicos deve ser considerada, já que pode haver um
desgaste do terapeuta, o qual também exerce uma função de contenção física. Deve ser
observada a linguagem motora e lúdica. O setting deve contar com material que propicie o
pacientes dentro da faixa ideal de idade para o nosso grupo; b) às vezes o diagnóstico não
momento, têm vaga mas a dinâmica grupal não permite novas entradas. Tais dificuldades
devem ser contornadas e assimiladas pelo terapeuta para que o grupo possa ser montado e
mantido. Mas também existem os facilitadores: a) o grupo terapêutico como escolha para o
atendimento desta faixa etária é uma técnica de muito sucesso; b) é multipessoal e facilita
identificações; c) adota a regra natural de seus participantes que é: crianças sempre estão em
grupos.
Fernandes (2001) vai mais além, e baseada em sua prática clínica, descreve
orientações importantes:
Quanto a nós terapeutas, penso que também somos selecionados pelos nossos
clientes. Eles nos testam, nos questionam, nos observam e precisamos com certeza
ser aceitos por eles. De nossa parte, creio que é preciso ser flexível, aberto para
idéias novas, ser atualizado, conhecer o mundo desses futuros jovens, seus filmes,
seus desenhos animados, seus jogadores preferidos, como anda o futebol, a moda, a
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música própria para essa idade, caso contrário, ficaremos à margem de uma
realidade vivida por eles.
logo, exige de quem a pratica, ao menos o interesse por compreender melhor o mundo infantil
de Grupo com Crianças, pois o trabalho norteia-se pelos princípios básicos da psicanálise
freudiana.
na infância, foram estabelecidas por Freud, em 1909, com o tratamento do pequeno Hans.
Posteriormente, Freud reconheceu, a partir de experiência terapêutica de sua filha Anna, que a
teoria psicanalítica não só poderia ser comprovada por meio da observação direta, como
o que até então estava reprimido. Associação livre, transferência6 e interpretação foram os
freudiana, mas sim na técnica para o acesso ao inconsciente. Sendo assim, a especificidade da
psicoterapia infantil implica a utilização de outras técnicas, pois a criança não faz associação
livre como os adultos. Podemos dizer que Freud estabeleceu os marcos referenciais da técnica
do jogo, demonstrando que o brincar não é somente um passatempo para viver situações
prazerosas, mas também uma maneira de elaborar circunstâncias traumáticas. Freud dizia que
as crianças brincam para fazer alguma coisa que, na realidade, fizeram com elas. É através do
brinquedo que a criança tem a possibilidade de realizar o desejo dominante para sua faixa
etária, por exemplo, o de ser grande e de fazer o que fazem os adultos. Na situação do
procurando construir e recriar essa realidade. Através do brinquedo, a criança não só realiza
seus desejos, mas também domina a realidade, graças ao processo de projeção dos perigos
Deve-se levar em conta que no trabalho com crianças tudo acontece muito mais
deve conter violentas explosões de turbulência que possam vir a ocorrer, e recuperar sua
6
Os clientes desenvolvem para com seu terapeuta relações emocionais, tanto de caráter afetuoso como hostil,
que não se baseiam na situação real, mas que derivam de suas relações com os pais (complexo de
Èdipo).
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fácil, já que o setting analítico desperta variáveis do mundo interno e externo, tanto da
criança, quanto do analista, que por sua vez deve manter postura analítica e preservar sua
é mais complexo, e o analista terá que conseguir uma leitura mais abrangente da situação, a
fim de perceber os efeitos que exercem as fantasias inconscientes dos pais na determinação
atenda também aos pais. Entretanto, pode e deve fazer entrevistas de seguimento com os
Sendo assim, esta técnica psicoterápica com crianças substitui muitas vezes a
associação livre pela linguagem pré-verbal da criança através de seus jogos, desenhos,
e de estabelecer uma transferência com o terapeuta, esta técnica se torna tão eficaz quanto
oferece um terreno fértil e uma ótima oportunidade para o analista aprender a ser mais
simples e lúdico, pois quanto mais breves e simples forem as intervenções, maiores são as
comunicação.
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4. Objetivo do trabalho
publicações brasileiras.
Para validar o objetivo deste trabalho, as palavras de Santos (2005), em seu editorial
sobre cem anos da psicoterapia de grupo, faz uma reflexão a respeito da necessidade de
das bases teórico-práticas que sustentam o trabalho com grupos em diferentes contextos, mas
Para Dejours (2000) apud Santos (2005), o grupo pode ser o meio mais humano de
construir o sentido do trabalho e buscar resgatar seu potencial transformador, sua centelha
criativa. Temos a responsabilidade de pensar e ressignificar os conflitos, mas isso se torna uma
tarefa menos árdua quando pode ser feita entre humanos, permeado pela afetividade e pela
5. Metodologia
grupos em geral, categorias de grupos; levantamento histórico dos principais autores sobre o
foram quatorze entre autores brasileiros e de outras nacionalidades que tratavam de assuntos
Para obtenção de dados através dos artigos online foram utilizadas publicações
levantamento bibliográfico foram realizadas buscas nos indexadores Lilacs, ScIELO , Portal
da Capes, e nas seguintes fontes eletrônicas: site da biblioteca digital da USP; e do Google
Acadêmico, nessas fontes foram localizados e selecionados vinte e dois artigos. Dos artigos
pesquisados, quinze estão relacionados a estudos de caso e sete são estritamente teóricos.
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6. Resultados
grupos de psicoterapia infantil demonstrou que, apesar dos avanços alcançados, ainda existe
uma escassez de pesquisas na área. Ainda hoje temos dificuldade em encontrar bibliografias
Os artigos encontrados sobre essa temática versavam sobre diversos tipos de grupos e
trabalho foi refletir sobre essa metodologia, a partir da experiência com grupos de crianças e
com grupos de adolescentes. A oficina é um trabalho com grupos, no qual se focaliza uma
questão central que o grupo se propõe a elaborar, em um contexto social. Nas Oficinas
Psicossociais a tentativa era que o grupo levantasse temáticas que fossem discutidas,
Soares (2004). Desse modo, inferia-se que por meio do trabalho com as oficinas psicossociais,
A aplicação da dinâmica de grupo na escola foi publicada por Zimerman (2004), em seu
trabalho ele pretendeu enfatizar a importância que a dinâmica de grupos representa nos
importância dos fatores inconscientes de todos participantes, e a natureza dos vínculos que
Para atender crianças e mulheres vitimizadas foi criado em Ribeirão Preto, cidade do
Doméstica e Agressão Sexual). A autora Sei (2003) desenvolveu um protocolo onde a vítima
atendimento individual não estava sendo capaz de atender à demanda, gerando espera e
adolescentes, onde poderiam trabalhar suas angústias, vivências e sentimentos, fazendo uso
Carvalho e Térzis (2009) relataram sua experiência sobre um pequeno grupo de crianças
que freqüentavam um Centro Comunitário, com idades entre dez e onze anos, de ambos os
sexos, homogêneo, fechado e com a mesma queixa de desajuste escolar, através da aplicação
hipótese do uso de instrumentos musicais como uma alternativa lúdica para as crianças
manifestarem suas emoções. A análise qualitativa do conteúdo foi realizada por dois
conscientizarem deles, fazendo com que atingissem o sentimento de pertinência grupal, que
uma experiência de um grupo arteterapêutico, de cunho profilático, com crianças entre nove e
onze anos. Foram realizados oito encontros e foi possível promover um espaço de maior
trabalhadas em outros contextos, além de uma rica experiência profissional e pessoal para as
coordenadoras do grupo.
O estudo sobre grupo de atividades com crianças (TÉRZIS, 2005) objetivou descrever
psicoterapêutica quando em casos de dificuldades de adaptação. O grupo foi formado por sete
crianças de ambos os sexos, com idades entre quatro e seis anos. A análise do material
coletado foi qualitativa. O grupo de atividades facilitou o contato das crianças entre si e com o
grupo e contribuiu para fortalecer o ego em desenvolvimento nas crianças. O brincar foi uma
forma de comunicação que facilitou o estabelecimento de uma relação mais íntima entre as
(2007) participaram de grupos de triagem e diagnóstico que é uma das portas de entrada para
realização dos grupos, são utilizados referenciais advindos da tradição psicanalítica grupal,
do objetivo geral é claro, de aliviar o sofrimento psíquico. Bodstein e Arruda (2006) fizeram
sexuais edípicas. Estas crianças foram atendidas por dois anos, em um ambulatório de um
serviço público; o grupo era aberto e constituído por crianças de ambos os sexos, de 10 e 11
eram menos freqüentes e menos evidentes, pois eram recalcadas ou apareciam de forma
O artigo de Rago (2009) se propôs a trazer para o leitor uma reflexão feita a partir do
crianças com baixa visão e paralisia cerebral. A intenção foi mostrar como essa forma de
trabalho, realizada com atividades bem planejadas e com objetivos claros, pode contribuir
grupo, para lidar com suas dificuldades, buscando o desenvolvimento integral e a realização
de seus desejos.
36
com crianças com múltiplas deficiências em uma escola filantrópica. Foram realizadas
Operativo, cuja tarefa foi a de facilitar a interação e convivência entre a clientela da escola.
instituições, tomando como referência o trabalho em grupo com crianças em uma clínica-
escola. A pesquisa foi desenvolvida a partir do projeto “Oficina terapêutica Conto e Traço”,
adaptação à escola e resistência a participação em grupos. Com base nos pressupostos teórico-
deu ênfase à discussão sobre o encaminhamento clínico das queixas e sobre os agenciamentos
municipal que atende 40 crianças e adolescentes autistas e psicóticos. Analisou, a partir dos
âmbitos de atuação desta equipe. Trouxe ainda exemplos práticos ocorridos no cotidiano
dessa instituição.
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Medeiros (2009) pensou sobre a chegada da criança à clínica onde se faz as consultas
implantou o grupo de sala de espera para crianças com câncer, visto que dessa forma, seria
possível prestar assistência a um maior número de crianças no menor espaço de tempo. Este
trabalho foi iniciado em fevereiro de 2008. O grupo funcionava semanalmente, tendo duas
horas de duração. O horário coincidia com o atendimento médico das crianças. Enquanto os
pacientes aguardavam a vez de serem atendidos pela médica, participavam do grupo facilitado
por uma psicóloga, saindo e retornando à medida que iam sendo atendidos. O grupo era aberto
e recebia aproximadamente sete crianças por semana, na idade entre 1 e 12 anos em diferentes
7. Discussão
É necessário que essa especialidade de grupo com crianças procure criar seu campo de
trabalho na busca de uma maior consistência, teórica e técnica, e da organização dos conceitos
próprios dos profissionais, acaba por influenciar na decisão da técnica a ser utilizada dentro
dos trabalhos com psicoterapia de grupo com crianças, ou mesmo no encaminhamento para
Teixeira (p.197, 2007) levanta outra hipótese sobre o pouco interesse em grupos:
geral:
grupo, voltamos à polêmica a qual podemos verificar, que permanece ainda a questão do
Porém, ao empreender estudos nessa área, pode-se colaborar com uma nova tendência
que parece surgir, concernente a uma maior aceitação e delimitação de estudos de campos
abordagens grupais.
A psicoterapia de grupo, tanto no que se refere aos grupos de adultos, quanto com
relação ao grupo de crianças, na atualidade alcança status de maior maturidade e parece, por
Acredita-se que com mais esse trabalho de revisão bibliográfica, se consiga agregar ao
campo de estudo ligado às psicoterapias de grupo com criança, exigindo, além do saber ligado
mundo mental infantil individual e sua interação nos grupos. Ainda há um vasto campo para
8. Conclusão
Espera-se que neste trabalho estejam contidas reflexões férteis sobre as publicações e
culturais dos tempos atuais e chegar a alguma hipótese sobre a escassez de estudos nessa área.
autora coloca que talvez uma das qualidades seja o espaço de mediação e instrumento de
articulação dos grupos internos com o grupo atual. Espaço onde as crianças se expressam,
mas também escutam relatos que são outras tantas atualizações ressonantes dos vínculos de
cada uma. Espaço vazio, que cada individualidade povoa com personagens biográficos. Às
vezes um espaço repleto de sentidos que propiciam, onde o biográfico fica como mero
contexto que pode ou não se interpor, sem que ele tenha inicialmente valor para o outro.
Fernandes continua sua linha de raciocínio dizendo que o espaço terapêutico grupal
grupo interno e grupo atual, e para isto ele conta com a aliança de trabalho, não se excluindo a
sentido mais restrito refere-se aos produtos da fantasia, essa forma de pensamento particular
que segue o livre curso interno das tendências, sem adaptar-se à realidade externa.
Este estudo teve como intuito proporcionar uma visão global de práticas grupais com
deve ser lembrado que são algumas das possibilidades encontradas em um leque de opções,
que provavelmente não estão sendo publicadas e dessa forma dificultam o acesso às
informações. Vale ressaltar também que foram pesquisados somente artigos brasileiros,
internacionais para se tomar como exemplo outras experiências com grupos de crianças.
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