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Stress Oxidativo

APONTAMENTOS RESUMO PARA ESTUDO DA MATÉRIA MINISTRADA NA AULA COM


O APOIO DA APRESENTAÇÃO DOS DIAPOSITIVOS

Vamos iniciar o estudo de um outro capítulo importante em Bioquímica e em


qualquer âmbito Biomédico: “Stress Oxidativo”. Os organismos aeróbios usam
oxigénio para produzir grandes quantidades de energia a partir de moléculas
orgânicas. No entanto, estes organismos têm de enfrentar os efeitos tóxicos das
chamadas “espécies reativas de oxigénio” (ROS), produzidas durante o consumo de
oxigénio no metabolismo normal das células (por exemplo na cadeia respiratória
mitocondrial e em reações catalisadas por várias oxigenases).

As ROS indicadas no próximo diapositivo podem danificar componentes


celulares por oxidação de proteínas, hidratos de carbono, lípidos e ácidos nucleicos.
Em condições fisiológicas normais, os mecanismos de defesa antioxidantes mantêm a
concentração de ROS a níveis mínimos e degradam ou reparam as moléculas oxidadas.
No entanto, quando os níveis de ROS excedem a capacidade antioxidante, as células
ficam sujeitas a um stress oxidativo, sofrendo consequentemente danos oxidativos. As
circunstâncias que podem causar danos oxidativos são várias, incluindo o consumo de
drogas que induzem a formação de ROS, um aumento de pressão de oxigénio
(hiperoxia e re-oxigenação de células em hipoxia), exposição a radiações ionizantes,
diminuição de defesas antoxidantes (por exemplo por carência nutricionais, doença,
envelhecimento).

O oxigénio molecular é uma espécie pouco reativa, apesar de ser um di-radical


(contém dois eletrões desemparelhados): como os dois eletrões têm spins paralelos, o
oxigénio só pode aceitar um eletrão de cada vez e não reage com a maioria das
moléculas, com exceção de radicais. No entanto, a sua reatividade aumenta por
redução a radical superóxido, peróxido de hidrogénio, radical hidroxilo ou conversão a
oxigénio singleto.

Não vamos estudar em pormenor as condições de formação de cada uma das


espécies reativas de oxigénio. No entanto quero que prestem atenção a alguns dados
particulares sobre estas ROS:
a) O radical superóxido é gerado principalmente em sistemas associados a
membranas, provocando danos em fosfolípidos por ataque nucleófilo a grupos
carbonilo e oxidando vitamina E.
b) O peróxido de hidrogénio é produzido nas mitocôndrias, citosol e peroxissomas
por redução de oxigénio ou radical superóxido. Como o peróxido de hidrogénio
não tem eletrões desemparelhados, não é um radical. Sendo um agente

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oxidante fraco, apenas consegue inativar diretamente algumas enzimas,
principalmente por oxidação de grupos tiol.
c) A toxicidade do peróxido do hidrogénio é mais um fenómeno indireto, uma vez
que é muito derivada da sua conversão em radical hidroxilo (na presença de
iões Fe2+ ou Cu+ (reação de Fenton). A baixa reatividade do peróxido de
hidrogénio e a rapidez com que atravessa as membranas celulares permite que
o radical hidroxilo se forme em qualquer parte de célula.
d) O radical hidroxilo é extremamente tóxico, reagindo à velocidade de difusão
com todas as biomoléculas. Radicais como o hidroxilo são particularmente
perigosos porque podem iniciar reações auto-catalíticas, como por exemplo a
peroxidação de lípidos.
e) O oxigénio singleto resulta de um estado excitado criado quando o oxigénio
absorve energia suficiente para um eletrão ser transferido para uma orbital de
energia superior. Apesar de não ser um radical, o oxigénio singleto é um
oxidante muito forte, provocando danos por adição a ligações duplas
conjugadas.

Em geral, as células toleram um stress oxidativo suave, uma vez que são capazes de
induzir as defesas antoxidantes. No entanto, um stress oxidativo severo provoca danos
em ácidos nucleicos, lípidos e proteínas, perturbando o metabolismo celular, o que
pode levar à morte das células.
a) Oxidação de DNA
As lesões de DNA e nucleoproteínas são provocadas pelo radical hidroxilo e podem ser
devido a danos em bases e açucares, quebras em cadeias e ligações cruzadas entre
DNA e proteínas. Estas lesões induzem mutagénese ou bloqueiam a replicação.
b) Oxidação de lípidos
A oxidação de ácidos gordos poli-insaturados é um processo auto-catalítico,
descontrolado, que leva à produção de hidroperóxidos de ácidos gordos e de produtos
secundários, incluindo aldeídos. A peroxidação lipídica começa após a remoção de um
átomo de hidrogénio de um ácido gordo insaturado (LH L .). O radical lipídico
reage com 02 formando um radical peroxilo LOO. O radical peroxilo extrai um atomo
de hidrogénio de um outro ácido gordo, provocando uma reação em cadeia
autocatalítica. A presença de metais de transição como o Fe2+ inicia nova formação de
radicais, que são fragmentados a aldeídos (incluindo malonaldeído), epóxidos e
alcanos, os quais danificam DNA e inativam proteínas. A formação de cadeias de ácidos
gordos mais curtas aumenta a fluidez das membranas e diminui a sua integridade
estrutural. A atividade das ATPases e translocases é inibida e o balaço osmótico é
destruído. A diminuição do pH favorece a formação de HOO. a partir de O2. e portanto
acentua o stress oxidativo. O aumento de Ca 2+ ativa proteases, fosfolipases e
nucleases que vão degradar proteínas, fosfolípidos e ácidos nucleicos, respetivamente,

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levando à morte celular. Vejam os diapositivos seguintes que ilustram a descrição que
vos dou acima por favor.
c) Oxidação de proteínas
As lesões provocadas em proteínas são devidas à oxidação de resíduos de
aminoácidos. A oxidação de prolina provoca uma hidrólise espontânea de ligações
peptídicas, enquanto que a oxidação de tirosina e cisteínas induz a formação de
ligações cruzadas e de ligações dissulfureto, respetivamente, entre duas cadeias
polipeptídicas ou entre aminoácidos da mesma proteínas. A oxidação de proteínas
diminui a sua atividade biológica e aumenta a sua suscetibilidade à degradação
proteolítica.

Reflitamos agora sobre algumas alterações fisiológicas associadas à produção


de espécies reativas de oxigénio.Uma acumulação de danos oxidativos provocados por
espécies reativas de oxigénio tem sido observada em várias alterações fisiológicas
normais, como o envelhecimento, e durante o desenvolvimento de vários estados
patológicos, incluindo carcinogénese e arteriosclerose, as duas principais causas de
morte em países industrializados ocidentais.
A) Envelhecimento
B) Nos anos 30 (1930’s) foi demonstrado pela primeira vez que restrições
calóricas aumentam a esperança de vida em 33%. Isso parece ser devido a uma
diminuição de danos oxidativos na mitocôndria. Esta hipótese é apoiada pela
observação de que a concentração em radical superóxido e o peróxido de
hidrogénio em mitocôndrias de ratos sujeitos a uma dieta restrita em calorias é
muito inferior à dos ratos alimentados normalmente, assim como nesses ratos
essas concentrações aumentam muito menos com a idade. Um número
crescente de evidências experimentais tem apoiado a hipótese de que danos
na mitocôndria e outros componente celulares, provocados por ROS,
contribuem em grande extensão para o envelhecimento. O aumento da
produção de ROS pela mitocôndria e a diminuição de defesas antoxidantes
durante o envelhecimento resulta na oxidação de proteínas, lípidos e DNA. A
acumulação de danos diminui a capacidade das células em se adaptarem ao
stress oxidativo, favorecendo a formação de mais ROS e portanto, o
envelhecimento progressivo do organismo.
C) A arteriosclerose caracteriza-se por uma acumulação de esteres de colesterol
em células diferenciadas de monócitos, proliferação de células do músculo liso
e fibrose. O risco de desenvolvimento de arteriosclerose está diretamente
relacionado com a concentração de colesterol nas LDL e inversamente
relacionadas com a concentração nas HDL. A arteriosclerose resulta de
modificações oxidativos das LDL, as quais são ricas em ácidos gordos poli-
insaturados. Para combater essa possibilidade de oxidação as LDL possuem

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várias moléculas antioxidantes, sendo particularmente ricas em vitamina E
(mas também beta-caroteno, licopeno e ubiquinol).
O desenvolvimento da arteriosclerose ocorre em 3 fases:
1) Laténcia: depleção de antioxidantes endógenos e consequente aumento dos
níveis de ROS;
2) Propagação: peroxidação de ácidos gordos poli-insaturados (LH).
3) Decomposição de peróxidos lipídicos (LOOH) em aldeídos, cetonas e alcanos.
A oxidação de resíduos de aminoácidos apoB, assim como a sua derivatização por
aldeídos produzidos durante a fragmentação de peróxidos lipídicos, impede o
reconhecimento das LDL oxidadas pelos recetores de apoB. As LDL oxidadas têm
propriedades quimiotáxicas potentes em relação a monócitos plasmáticos, que
aderem à parede arterial e migram para o subendotélio, onde se diferenciam em
macrófagos. Os macrófagos captam as LDL oxidadas de uma forma descontrolada
através de recetores “scavenger”, acumulando esteres de colesterol e dando origem a
células esponjosas. A distorção do subendotélio e a secreção de citoquinas e fatores de
crescimento, que estimulam a proliferação de células do músculo liso. A morte das
células esponjosas resulta numa acumulação de lípidos que estimulam uma fibrose. A
placa arteriosclerótica resultante estreita o vaso sanguíneo, podendo provocar, por
exemplo, um enfarte de miocárdio ou um acidente cerebrovascular.Os danos em
tecidos que ocorrem durante um enfarte de miocárdio ou acidente cerebrovascular
são causados pela isquemia, uma condição em que o fluxo sanguíneo é inadequado.
Geralmente, isso é provocado por arteriosclerose. Ao contrário do músculo
esquelético, o coração e o cérebro são extremamente sensíveis a condições de hipoxia.
As células respondem rapidamente a uma isquemia, estimulando a glicólise
anaeróbica, o que leva à produção de lactato e portanto a uma acidose. Uma vez que a
produção de energia por glicólise é ineficiente, os níveis de ATP começam a diminuir.
Na ausência de ATP, as células são incapazes de manter concentrações de iões
intracelulares apropriadas. Como consequência do aumento da pressão osmótica, as
células começam a inchar e a perder o seu conteúdo. As enzimas lisossomais também
são libertadas dos lisossomas, hidrolizando componentes celulares. Se o oxigénio não
for rapidamente fornecido, as células afetadas ficam irremediavelmente danificadas.
No entanto, a re-oxigenação de um tecido isquémico, designada por “reperfusão”,
também pode resultar em mais danos, devido à produção de ROS. A acidose resultante
de lactato provoca um fornecimento anormal de grandes quantidades de oxigénio da
hemglobina, facilitando a formação de ROS. A administração de vários tipos de
antoxidantes, como superóxido dismutase, catalase, glutationa, vitamina E, ascorbato.
“scavengers” de ROS e quelantes de iões ferro favorecem a redução de peróxido de
hidrogénio a radical hidroxilo), durante a reperfusão de tecidos isquémicos, protege
esses tecidos de danos oxidativos.

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