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Acadêmico do Curso de Tecnologia em Comunicação Institucional da UTFPR
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Acadêmico do Curso de Tecnologia em Comunicação Institucional da UTFPR
1
CADERNO CRH, Salvador, v. 21, n. 53, p. 269-288, Maio/Ago. 2008. Disponível em
<http://www.scielo.br/pdf/ccrh/v21n53/a06v21n53.pdf>. Acesso em 01/06/2009.
2
GALINDO, Rogério. Noam Chomsky e Gilmar Mendes. Caixa Zero. Disponível em
<http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/blog/caixazero/?id=867653>. Acesso em 03/08/2009.
movimento social são transmitidas no telejornal com maiores índices de audiência de nosso
país3.
3
Fonte: Pesquisa IBOPE Telereport. Disponível em:
http://comercial.redeglobo.com.br/programacao_jornalismo/jnac5_globox.php. Acesso em 25/05/2009.
4
Banco de dados da luta pela terra. Instituto do NERA (Núcleo de Estudos Pesquisas e Projetos da Reforma
Agrária) da Unesp (Universidade Estadual Paulista) que faz levantamento de dados acerca da questão agrária no
Brasil.
5
GIRARDI, Eduardo Paulon. Atlas da Questão Agrária Brasileira. Disponível em:
http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/index.htm. Acesso em 25/05/2009
Bernardo Mançano Fernandes chama de questão agrária. Para ele, este termo é “o movimento
do conjunto de problemas relativos ao desenvolvimento da agropecuária e das lutas de
resistência dos trabalhadores, que são inerentes ao processo desigual e contraditório das
relações capitalistas de produção.” (FERNANDES apud GIRARDI, 2008)6.
Na luta contra esta realidade está o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
do Brasil, criado a partir de um encontro realizado em janeiro de 1984, em Cascavel, no
Paraná. Deste encontro participaram diversos pequenos grupos de trabalhadores rurais sem
terra e grupos de ação social ligados à Igreja Católica, principalmente à Comissão Pastoral da
Terra (CPT), órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) criado em 1975 e
que tem por objetivo amparar trabalhadores rurais de todo o país.
6
Op. Cit.
7
Disponível em www.mst.org.br. Acesso em 25/05/2009.
e greves de fome e também manifestações em grandes cidades do Brasil (MORISSAWA,
2001, p. 199-203).
A escolha do mês de abril como foco desta pesquisa se deu devido ao grande enfoque
que a mídia dá ao Movimento neste mês, alcunhado pelo MST de “Abril Vermelho”. Todo
mês de abril, o Movimento dos Sem Terra promove diversas ações em todo o território
nacional. Este mês é especial para o movimento, pois é uma forma de protesto ao episódio
conhecido como Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido à beira da rodovia PA-275,
próxima à cidade de Eldorado dos Carajás, sul do estado do Pará, aproximadamente a 140
quilômetros de Xinguara, município onde ocorreram os fatos analisados neste estudo.
O massacre se deu no dia 17 de abril de 1997, quando duas mil famílias marchavam
para a sede do INCRA na capital do estado, Belém, para cobrar uma posição quanto à
desocupação da Fazenda Macaxeira, de 42.448 hectares, utilizada para a extração de madeira.
O governo do estado havia prometido assentar e prover alimentos para os assentados, porém,
devido à morosidade governamental, as famílias iniciaram uma marcha de 800 Km rumo à
capital paraense. Ao bloquearem a estrada em forma de protesto, foram cercados por
contingentes policiais sem identificação em seus uniformes, que começaram a disparar contra
os manifestantes. O resultado desta operação foi de 19 mortos, 69 feridos e 7 desaparecidos.
Segundo o Nélson Massini, legista da Unicamp, 13 dos mortos foram executados depois de
rendidos. (MORISSAWA, 2001, p. 156).
A Rede Globo de Televisão iniciou suas atividades no dia 26 de abril de 1965, fundada
pelo empresário Roberto Marinho. Todavia, se efetiva como tal, uma rede de emissoras
afiliadas espalhadas por todo o país, a partir da estréia do Jornal Nacional, no dia primeiro de
setembro de 1969, quando foi ao ar pela primeira vez. O Jornal Nacional (JN), fortemente
influenciado pela tradição dos jornais anteriores, “A noite” e “Globo”, fundados por Irineu
Marinho, seguiu a mesma convicção de seu fundador, “de que a um jornal não cabe formar
opinião, mas oferecer ao leitor as informações relevantes para que ele forme suas próprias
opiniões.” (JORNAL NACIONAL, 2004, p. 9). Inspirado no modelo estadunidense, inovou
em diversos aspectos. Segundo Marinho, ”no Jornal Nacional, palavra e imagem tiveram
desde o início a mesma importância” (IDEM, 2004, p. 9).
O discurso sobre algo específico, neste caso relativo ao MST, transcende a existência
concreta do movimento social. Afinal, nessa perspectiva, o que se sabe sobre algo é
necessariamente proveniente de um discurso. Logo, há uma relação direta entre a construção
8
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Tradução de Edmundo Cordeiro e António Bento. Disponível em
<http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/foucault/ordem.html>. Acesso em 25/05/2009.
9
Como pode-se ler na transcrição do texto de Foucault: “a maior das verdades já não estava naquilo que o
discurso era ou naquilo que fazia, mas sim naquilo que o discurso dizia: chegou porém o dia em que a verdade
se deslocou do acto ritualizado de enunciação, eficaz e justo, para o próprio enunciado: para o seu sentido, a sua
forma, o seu objecto, a sua relação à referência.” (FOUCAULT, 1971).
discursiva decorrente, proclamada por agentes de intrínseca visibilidade social, e o
conhecimento do objeto exposto por indivíduos que não tenham acesso a discursos
divergentes. As coisas ditas estão atreladas às relações de saber e de poder do seu tempo.
Por fim, sendo a publicidade uma das principais fontes de renda das emissoras de TV e
considerando essa dependência, seria espantoso se, por exemplo, fossem tratados assuntos de
interesses contrários a esses patrocinadores, quanto mais se o fator de noticiabilidade não
interessar à classe dominante, pois, segundo Marx e Engels,
10
Muito além do cidadão Kane. Direção Simon Hartog. Realização: Channel 4 (Reino Unido), 1993. 1
videocassete (105 min.): sonoro, colorido/p&b. VHS.
11
AMORIM, Paulo Henrique; PASSOS, Maria Helena. Plim Plim: A peleja de Brizola contra a fraude
eleitoral.São Paulo: Conrad. 2005.
12
Vide Anexos.
Antes de prosseguir no texto, faz-se necessário distinguir os termos “invasão”,
utilizado pelo Jornal Nacional, e “ocupação”, empregado pelos trabalhadores sem terras para
nomear suas ações. Em Morissawa (2001), lê-se a diferenciação de ambos os termos, feita
pelos juristas Fábio Comparato, Luiz Edson Facchin e Régis de Oliveira, em que estes
afirmam que
13
MST esclarece acontecimentos ocorridos no Pará. Disponível em http://www.mst.org.br/node/6757. Acesso
em 03/08/2009.
corrobora a afirmação emitida na nota supracitada, negando que os jornalistas tenham sido
usados como “escudo humano” ou mantidos como reféns14.
No artigo de Max Costa, publicado no jornal Brasil de Fato, são levantadas algumas
questões acerca do modo como foi dada a cobertura ao evento da ocupação da fazenda
Espírito Santo. Uma questão pertinente refere-se ao fato de como teria sido possível o acesso
dos jornalistas à fazenda, visto que a própria notícia (assim como o MST em nota) afirma que
a entrada da fazenda estaria bloqueada pelos manifestantes.
14
COSTA, Max. Repórter da TV Globo desmente versão de cárcere privado. Brasil de Fato. Disponível em <
http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/reporter-da-tv-globo-desmente-versao-de-carcere-privado>.
Acesso em 03/08/2009.
15
Vide Anexos.
16
Vide Imagens em Anexos.
neutra (a opinião do secretário de Segurança Pública do Estado do Pará reconhece a falta de
pessoal preparado para atuar em conflitos agrários) e outra é pró-MST (prestada por um
trabalhador sem terra, em que ele justifica a ação dos manifestantes). As seis opiniões
restantes, três paráfrases e três depoimentos, atingem a integridade do Movimento,
deslegitimando suas ações. De acordo a opinião de membro da federação que reúne
fazendeiro do Pará, “Se cumprir a lei, nós vamos ter paz no campo”, apontando que o MST é
descumpridor da lei e único responsável por causar conflitos agrários naquele estado. Outra
opinião, de Mary Cohen, da comissão de Direitos Humanos da Organização dos Advogados
do Brasil (OAB) do Pará, de acordo com o trabalho de edição da reportagem, aponta que o
Movimento teria desrespeitado o direito de trabalho da imprensa.
A partir desta análise, surgem algumas questões pontuais: de acordo com a notícia,
trabalhadores sem terra estão acampados em torno da fazenda desde fevereiro de 2009; sendo
assim, qual o motivo da imprensa estar no local justamente quando da ocorrência de um
conflito? Por que há este desequilíbrio em relação ao posicionamento das fontes de
informação para a construção de uma notícia? Por que o MST é apontado como infrator,
causador de conflitos e criminoso, posições tão diferentes daquelas que o próprio Movimento
reclama para si, afirmando que luta por uma sociedade mais justa e fraterna17?
17
Nossos Objetivos. MST. Disponível em < http://www.mst.org.br/node/7703>. Acesso em 03/08/09
operações daquilo que as campanhas de propaganda significam. (CHOMSKY &
HERMAN, 2003, p.62).
Esta pesquisa pretende, portanto, levar a uma reflexão quanto ao assunto, pois a grande
visibilidade que possuem as notícias veiculadas no Jornal Nacional conferem a elas um
enorme poder, visto que este é o programa jornalístico mais assistido em todo o Brasil18. A
partir disso, a busca por fontes alternativas de informações e debate e reflexão sobre o modo
como funciona a imprensa neste país faz parte da luta pela sedimentação da democracia.
REFERÊNCIAS
AMORIM, Paulo Henrique; PASSOS, Maria Helena. Plim plim: A peleja de Brizola contra a
fraude eleitoral. São Paulo: Conrad. 2005.
CHOMSKY, Noam; HERMAN, Edward S.. A manipulação do público: política e poder
econômico no uso da mídia. São Paulo: Futura, 2003.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Tradução de Edmundo Cordeiro e António
Bento. Disponível em <http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/foucault/ordem.html>. Acesso em
25/05/2009.
GIRARDI, Eduardo Paulon. Atlas da Questão Agrária Brasileira. Disponível em
<http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/index.htm>. Acesso em 25/05/2009
HASS, Mônica. O linchamento que muitos querem esquecer. Chapecó: Argos, 2007.
Jornal Nacional: a notícia faz história. Projeto Memória Globo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2004.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. Lisboa: Editorial Presença, 1976.
Muito além do cidadão Kane. Direção Simon Hartog. Realização: Channel 4 (Reino Unido),
1993. 1 videocassete (105 min.): sonoro, colorido/p&b. VHS.
ORLANDI, Eni. Análise do Discurso: princípios & procedimentos. São Paulo: Pontes, 2005
18
Fonte: Pesquisa IBOPE Telereport. Disponível em:
http://comercial.redeglobo.com.br/programacao_jornalismo/jnac5_globox.php. Acesso em 25/05/2009.
______________. Discurso e leitura. Campinas: Cortez/Ed. da Unicamp, 1988.
ANEXOS
Notícias
18/04/09
20/04/09
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Disponível em <http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/JN/0,,MUL1090641-10406,00-
INTEGRANTES+DO+MST+INVADEM+FAZENDA+NO+PARA.html>. Acesso em 03/08/09.
20
Disponível em <http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/JN/0,,MUL1092366-10406,00-
TIROTEIO+EM+FAZENDA+DO+PARA+DEIXA+OITO+FERIDOS.html>. Acesso em 03/08/09.
Os repórteres Victor Haor e Felipe Almeida, da TV Liberal, afiliada da TV Globo no
Pará, estavam na propriedade. Felipe ficou no meio do fogo-cruzado. “É o objetivo de
qualquer repórter cinematográfico que tem no sangue essa coisa de imagem. Você tem que
registrar”.