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Chernobyl19961.arquivopdf PDF
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GREENPEACE
1996
A Ucrânia, ex-integrante da
União Soviética (U RSS) situada no
extremo leste da Europa, é hoje
uma república independente. Con-
ta com uma população de quase 52
milhões de habitantes, um razoá-
vel parque industrial e um dos so-
los mais férteis do mundo. Sua ca-
pital. Kiev, é uma cidade antiga,
construída às margens do rio
Dnieper. Nela vivem ce rca de 3 mi-
lhões de habitantes.
Chernobyl fica 100 Km ao nor- ROl\lJ'~NIA
te de Kiev. Minsk, ca pital de Belarus,
está a 320 Km e Moscou, capital da
Rússia, a 600 Km. Antes da cons-
trução da usi na nuclea r, Chernobyl
era um tranquilo porto fluvial que
Localização de Chernobvl na Ucr ân.a
abrigava bosques, parques públicos
e pequenos lagos. Muitas famílias lá passavam férias e feriados prolon-
gados. Podia-se nadar e pescar nas águas Limpas do Pripyat.
A usina nuclear foi construída num dos pontos mais bonitos da
região, 14 km acima da cidade, nas margens do Pripyat. afluente do
Dnieper. Um grande rio que, antes de atravessar Kiev e desaguar no Mar
Negro, alimenta o principal reservatório de água da Ucrânia.
A região da usina nuclear era intensamente ocupada por centenas
de fazendas e vilas, além de duas cidades: Chernobyl e Pripyat. Milha- 9
res de pessoas ali viviam e trabalhavam na terra fértil. A fazenda mais
próxima da usina, a 14 Km desta, tinha mais de Lj·OOO empregados, 6500
cabeças de gado, 1500 suínos e ovinos.
As mudanças na região
começaram com a construção da
usina, em 1970. Em 16 anos, o
povoado de Pripyat transfor-
mou-se numa cidade com cerca
de 45.000 habitantes, na sua
maioria jovens trabalhadores e
suas famílias.
O pri mei ro reator de
Chernobyl levou sete anos
para ficar pronto. Logo em
seguida iniciou-se a constru-
ção de mais três. O quarto
reator, que explodiria no aci-
dente de 1986, foi inaugura-
do em 1983. Estava prevista
a construção de mais duas
unidades, a serem inaugura-
das em 1988. Com elas a usi-
na de Chernobyl tornar-se-
Chernobyl e arredores
ia a maior central nuclear do
mundo, gerando um total de
6.000 megawatts de energia elétrica, o suficiente para iluminar todo um
país (sessenta milhões de lâmpadas comuns de 100 watts).
Enfim, uma enorme usina nuclear que atendia não apenas as gran-
des cidades próximas, como Kiev e Minsk, mas também vendia energia
elétrica para a Polônia e outros países da Europa e da Ásia.
Um acidente é impossível!
2· Produção d. hi-
drogênio através
da reação entre o
vapor d'água e a
grafite.
cessário. o sistema de refrigeração de emergência, de fundamental im-
portância em caso de acidente, havia sido desativado, assim como os
alarmes e dispositivos de proteção automática. E apesar de muitos pro-
blemas e contratempos, os testes prosseguiram sem que o reator esti-
vesse e m condições. adequadas.
A sequência de equívocos acabou por levar ao descontrole total
do reator. As reações de fissão nuclear que se produzem no núcleo do
reator aumentaram repentinamente, provocando um superaquecimento
do combustível. Surgiram vários focos de incêndio, os fortes vapores
liberados explodiram, provocando um rombo no reator e arrancando o
teto de cimento de 700 toneladas. ALém da bola de fogo da explosão,
lançou-se no ar, a mais de mil metros de altura, uma mistura complexa
de elementos radioativos.
E assim deu-se início à longa viagem da nuvem radioativa, que
espalhou sua carga sobre toda a Europa e para muito além dela. Deixou
vestígios, ainda que pequenos, até nos Estados Unidos, Canadá e Índia.
Na ocasião do acidente, muitos di rigentes e técnicos da usi na
estavam ausentes em razão do feriado prolongado. Para agravar a situ-
ação, os planos de emergência foram acionados com atraso e muitos se
mostraram i nefi cazes.
Uma centena de bombeiros vindos de Chernobyl e de Pripyat per-
maneceu por mais de uma hora em meio ao fogo nuclear, sem roupas e
equipamentos adequados. Na falta de pessoal para efetivar o rodízio
recomendado, esses homens arriscaram suas vidas para evitar que o
desastre fosse ainda pior. Dois deles morreram na hora, todos os outros
ficaram marcados irremediavelmente: medula espinhal esmagada e quei-
maduras por todo o corpo. Todos os médicos, enfermeiros e funcionári-
os da usina, a maioria jovens com menos de 30 anos, que se encontra-
vam na área do acidente, também sofreram as terríveis consequências.
Dez horas depois da explosão, 299 pessoas haviam sido hospi-
talizadas, com lesões diretamente constatáveis. Em poucas sema-
nas, mo rrera m 31 de las.
Os dias seguintes
1S
Palavras co mo becqueréis, curies, radtonucitdeos, urânio-235, césio-
13 7, fissão nuclear e outras tantas, que quase só eram conhecidas por
especialistas, passaram a fazer parte do vocabulário de muita gente.
Aqui no Brasil, elas foram bastante propaladas na época em que ocor-
10 ltoidente do
reu o acidente de Goiânia, em 1987.1
Goiânia .• m
setembro ~. 1981.
10i cousodo pala
contamllloçbo Que significado têm esses termos? O que é, afinai, energia nucle-
radioativa da uma
tnnte da 0IlsI0-131.
ar? Como funciona um reator nuclear? Para que serve? O que são radia-
usada em modinina
nuchtllr,oncontrada
ções? Como contaminam as pessoas e o ambiente?
por dois sucotctiros
Dum prédio
.bondonado. São questões como essas que vamos desenvolver aqui, procu-
rando torná-las compreensíveis para os estudantes e professores de
modo geral. Questões estas que merecem ser desenvolvidas e
aprofundadas tanto na escola, quanto através da Leituras de jornais,
revistas e livros de divu lqação científica. Existem ta mbém filmes e
vídeos que tratam do tema. Ao final desse texto, apresentamos algu-
mas sugestões de leitura.
Energia nuclear
o
nome 'energia nuclear'
Núcleo deve-se ao fato de que essa for-
Prótons e Nêutrons
ma de energia está associada a
reações que ocorrem no núcleo
.-.-~ Órbita atômico.
dos Elétrons
O núcleo de um átomo
contém prótons, que são partí-
culas com carga elétrica positi-
va, e nêutrons, que como diz o próprio no me são neutros. Ao redor do
16 núcleo orbitam elétrons, com carga elêtri ca negativa.
Átomos "mal" comportados:
a desintegração radioativa
~
Alfa
Po Pb
Um núcleo de Polôruo emite uma pu rticu!a alfa, transformando-se em um núcleo de Chumbo
Radiação bela:
• São elétrons ou pósitrons (partícula semelhante ao
eLétron, mas de carga positiva).
• São mais penetrantes que as partículas alfa, Atra-
vessam a peLe, podendo penetrar cerca de 1 cm no
tecido humano. Podem ser blindadas com placa de
alumínio de alguns poucos mHimetros.
• Alguns eLementos que emitem partícuta beta: po-
tássio-40, estrõncío-90, céslo-137.
Radiaçiío gama:
Fissão nuclear
nêutron Kr
raio
garml
•
nêutron
nêutron •
u
Ba •
nêutron
Fissão da Urânio: Um nêutron choca-se com um núcleo de urânio O núcleo se quebra, dando
origem B dois novos núcleos munuras. liherando nêutrons 8 anar qi a
18
Para isso, o núcleo é "bombardeado" com nêutrons, como se fos-
sem pequenos projéteis. Ao colidir com o núcleo, essas partículas pro-
vocam sua fissão. Como resultado, o núcleo origi nal dá origem a dois
novos núcleos de elementos mais leves, liberando uma grande quanti-
dade de energia e emiti ndo nêutro ns.
Para se ter uma idéia de quanta energia é liberada numa reação
desse tipo, imagine que se uma amostra de 1 kg de urânio tivesse seus
núcleos fissionados, a energia liberada seria mais de um milhão de
vezes maior que a liberada na queima de 1 kg de carvão. Suficiente para
manter acesas cerca de 30.000 lâmpadas de 100 watt durante uma ano!
Daí o enorme potencial da energia nuclear e o i nteresse suscitado há
algumas décadas por esse 'poderoso' combustível.
Reação em cadeia
00 mesmo modo que em usinas hidrelétricas ou e pressão elevadas, provoca a rotação das turbinas.
termoelétricas, nas usinas nucleares uma série de trans- Nas usinas nucleares, assim como nas termoelétricas,
formações ocorre para colocar em movimento grandes as turbinas são movidas por vapor d'água 50b pres-
turbinas que acienam geradores de eletricidade. são. A diferença ê que o combustível usado para pro-
Nas usinas hidrelétricas, utilfza-se a energia de que- dução de calor, no lugar de petróleo ou carvão, é o
das d'água. Nas termoelétricas, grandes caldeiras de urânio. E a "queima" desse combustível não se dá
água são aquecidas queimando-se combustiveis como por uma reação quimica de combustão, mas uma re-
carvão ou petróleo. O vapor d'água sob temperatura ação n uclea F, de fi ssâc.
Rl'lIl1••r...•etôrlo
Ct;'I:
"f ~
)"'1"·.~~/
RQ'rlljDJf.CYti•..•.
o:> TurbinlJ
~Q çQlubUlIllyul
usina hidroelétrica
usina termoelétrica
moderado a grafite e
Água
refrigerado a água, Água Rafrigaradora
,,270 "C
com uma potência
elétrica de 1.000
megawatts (um bi-
lhão de watts). Bomba d'águll
Esquema de reator nuclea r do tipo de Chsrnubvl IRB MKI.
Enriquecimento do urânio
o lixo atômico
No interior dos reato res, à medida qu e ocorre a fi ssão do com bus-
tivel, geram-se muitos elementos radioativos, os produtos da fissão.
Esses resíduos constituem o chamado lixo atômico,
O reator de Chernobyl, por exemplo, acumulava cerca de uma to-
nelada de elementos residuais altamente radioativos a cada ano. 21
Alguns fragmentos desse lixo tornam-se estáveis em pouco tem-
po (minutos ou dias). entretanto, existem outros que levam cente-
nas ou até mi lha res de an o s para dei xar de emiti r radiação. É o
caso, por exemplo, do césio, do estrôncio e do plutônio. Esse últi-
mo, além de extremamente tóxico e perigoso, leva cerca de 500.000
anos para se tornar inócuo.
Um dos grandes problemas gerados pelos reatores nucleares, é o
que fazer com esse lixo: onde guardá-lo durante um enorme período de
t.empo, de modo a não produzir danos às pessoas e ao ambiente?
Meill"vida
o tempo que uma certa amostra de átomos radioativos Leva para se desintegrar varia multo,
podendo levar desde segundos até bilhões de anos. Depende de cada núcleo.
Chama-se meia-vida o intervaLo de tempo no qual metade dos núcleos Inicialmente Instá"
veis de uma amostra se desintegram.
Por exemplo, o Césio-137, um dos radionuclfdeos liberados em ChernobyL (e "causador" do
acidente em G(liãnia) tem meia-vida de 30 ancs, Isso significa que depois de 30 anos desse
acidente. ainda restará metade do número de átomos de Césio-i37 depositados no solo.
Passados mais 30 anos (60 ao todo), restará um quarto do número inicial e assim por diante.
Veja abaixo os vaLores de meta-vida de alguns isótopos radioativos.
Isótopo Meia-vida
urânio-235 4 bilhões de anos
rádio-226 1602 anos
césio-137 30 anos
estrõnctc-so 28 anos
iodo-l31 8 dias
protoactinio-234 1,17 minutos
Rem é uma unidade que mede a dose da radiação absorvida pelo oryanismo.
24 Hoje em dia a unidade utilizada é a Sievert (Sv) 1 Sv = 100 rem
de Chernobyl são com plexos e difíceis de quantificar. As estimati vas
sobre números de pessoas afetadas, incidência de certas doenças e
casos de morte podem ter muitas incertezas e, assim, ficam sujeitas a
diferentes interpretações.
Contaminação e irradiação
Caminhos da contaminação
Os efeitos das radiações sobre o organismo são em geral dados pela dose absorvida, medida
em rad, Entretanto, essa medida nâo Informa completamente os danos causados, pois depen-
dendo do tipo de radiação eles podem ser maiores ou menores. Por Isso, exíste outra grandeza,
a dose equivalente, medida em rem, que leva em conta o tipo de radiação absorvida.
26
p ...
As imediações do "sarcófago"
Dados e testemunhos
(Volga Semiantchuk, aluna da I1ª série da 29ª Escola Média da cidade de Gómel)
Eu era amiga de alga, desde que éramos bem pequenes .., Nós éramos
mais que irmãs, éramos inseparáveis ... Na prima vere, alga sentiu-se mal
e os médicos descobriram que ela tínha um sercome, um tumor
mortal..Mais tarde, um dos médicos disse bruscemente para levarem-
na para morrer em casa ..,Agora não sei como viver sem ela. Eu sei que
nunca mais vou encontrar uma amiga como Olga. Perdi metade da mi-
nha vida, metade de mim, metade do mundo. Por que os adultos criaram
esse tipo de desastre? Nós não fizemos nada de errado. Eu e minha amiga
tínhamos apenas três anos quando o reator explodiu, Eu fico pensando
se não vou ter o mesmo fim que ela. 29
-----~~~~~----------------------------_ .. _-
(Volga Semisntchuk; aluna da 11ª série da 29{j Escola Média da cidade de Gómel)
31
i Esses dados 10m Chernobyl em números"
números.
ap,oximados) .io da
rentes divBNlBS. 160,000 km' de áreas consideradas contaminadas
citadas n-o ht.Kto, Et
400,000 pessoas foram retiradas de suas casas
rofBrom~se aos tros
pafs.ea mais 600 pessoas vivem na "Zona de Exclusão"
.l.l"dos: llcrânin. (30 km ao redor do reator)
Bo)a",o e Rússin,
9,000,000 pessoas vivem em áreas contami nadas
3,000,000 de crianças vivem em áreas contaminadas
3.000.000 de cidadãos da Ucrânia são considerados oficialmente vítimas
do acidente (não incluindo Kiev, a capital),
sendo 650.000 crianças e adolescentes,
6.000 pessoas trabalham na central nuclear
800.000 pessoas participaram dos trabalhos de emergência e limpeza
(Iiquidadores)
30 anos é o tempo estimado de vida útil do reator
3% do combustível do reator vazou após a explosão
(versão oficial)
60 a 80% do co mbustivel do reator vazou após a explosão
~nVIHd~mir (versão de Chernousenko)"
Chorn.lIsonk.,
US$ 5,86 bilhões foram gastos na li mpeza da reqiüo e no deslocamento
di,.t., cionll1io. da
lona da •• ol.sil., da população entre 86 e 89
31 é o número oficial de mortos
7 a 10,000 é o número de mortos segundo estimativa de
Chernousenko, em 1991.
32
nu
Origens e desenvolvimento
Me 1
--- ------------------- -- -------------------------~--------,
Crise e situação atual
Fontes alternativas
Uma questão cada vez mais presente, especia lmente se o mundo
abrir mão da energia nuclear, é:
Que fontes podem fornecer a enorme demanda energética do planeta?
A resposta a essa questão não é simples e não existe uma única
solução; as alternativas são muitas.
As fontes convencionais de energia, como os combustíveis fósseis -
petróleo, carvão mineral e gás natural - usados nas usinas termoelétricas,
têm contribuído com a maior parcela de recursos energéticos no mundo,
cerca de 80%. Entretanto, essas fontes têm reservas limitadas, não são
renováveis e lançam na atmosfera gases tóxicos e poluentes, causando
danos ao ambiente e podendo provocar sérios problemas no futuro.
Contudo, existem inúmeros recursos naturais no mundo ca pazes
de gerar energia elétrica, como a luz solar, o vento, as quedas d'água,
as marés e as ondas oceânicas, os vapores provenientes da terra e a
biomassa, entre outros (veja quadro). 35
Para que a humanidade possa usufruir desses recursos, é preciso
pesquisar e desenvolver novas tecnologias e adequar a escolha a cada
país ou região, de acordo com suas particularidades: fontes e recursos
disponíveis, características topográficas, geológicas, climáticas, con-
dições econômicas, entre outras.
Além disso, o problema não se limita apenas à produção de mais
energia, mas também exige mudanças nos padrões de consumo da po-
pulação, para uma maior economia e racionalização de seu uso.
É de se questionar se não seria o caso e o momento de transferir
pelo menos parte das consideráveis somas de dinheiro empregadas na
energia nuclear para pesquisa de novas fontes alternativas, materiais,
tecnologias e maior eficiência energética.
No mínimo, isso reduziria o enorme preço que a humanidade paga
pelos riscos da energia nuclear, E esse mínimo pode representar muito
pa ra as futuras gerações.
Fontes de Energia
Fontes convencionais não-renováveis
• Combllstfvels fõssets : petróleo, carvão mineral, gás natural.
Uso para geração de energia elétrica: usinas termoeletricas
Problemas: [onte não-renovável, reservas limilodas, produçõo de polI/entes na atmosfera (monóxido
de carbono, óxidos de enxofre e nitrogenio) que causam danos ambientais e climáticos (chuva
ácido, efeito estufa), prablema.\ ombtentuis na extraçao, purijicoçõo e tronsporte.
o
Brasíl não escapa do que se passa no resto do mundo, guarda-
das as suas particularidades.
Já na década de 50 havia interesse, por parte de cientistas, de se
desenvolver tecnologia na área nuclear.
Os Estados Unidos, constatando o inevitável crescímento do setor
nuclear em vários países, decidiram deixar de ter o monopólio dessa
tecnologia e passaram a difundi-la, "orientando" os países menos de-
senvolvidos e criando um mercado para vender os produtos nucleares
produzidos pelas indústrias norte-americanas. Era o programa denomi-
nado "Átomos para a Paz".
Usinas nucleares Angra I e Angra II (em construção).
Foi no âmbito desse programa que, ainda na década de 50, foram
instalados os dois primeiros reatores nucleares no Brasil: um em São
Paulo e outro em Belo Horizonte. Esses reatores destinavam-se à pes·
quisa e produção de radioisótopos para uso na medicina e na indústria.
Em 1968, no governo Costa e Silva, foi decidida a compra de um
reator de potência, com vistas à geração de eletricidade. Não por acaso
foi escolhido um reator da empresa Westinghouse, norte-americana.
Tratava-se, contudo, de um
pacote tecnológico fechado, uma
compra do tipo 'chaves na mão'. O
reator foi adquirido pronto e aca-
bado. Era um reator do tipo PWR
(reator de água pressurizada), de
627 Mw de potência elétrica. O
combustível, urânio enriquecido,
uma vez usado deveria ser devol-
vido para reprocessamento. Bati-
Lo callz açãu du An!]nl dos Reis em r elnção a Hiu d u
Janeiro, S~O Paulo e Balo Horiwnte. zado de Angra f, a construção do
reator foi iniciada em 1971.
A grande crítica à aquisição do reator de Angra 1, especialmente
por parte da comunidade científica brasileira, era a política imediatista
adotada, de total dependência externa, tanto do combustível como de
know-how científico e tecnológico. A participação de cientistas e da
indústria nacional era praticamente nula nesse programa.
Mais tarde, por interesses políticos e militares, o programa nu-
clear brasileiro sofreu algumas mudanças. A vantagem que a Argen-
tina levava na área nuclear, pois desde o início desenvolvera seus
próprios reatores, pesou nas preocupações dos militares brasileiros,
que decidiram investir num programa nuclear de grandes proporções.
Assim, em 1.975, foi assinado um tratado com a República Federal
da Alemanha, o chamado "Acordo Nuclear Brasil-Alemanha". Esse acor-
do previa a implantação de oito usinas nucleares, com transferência de
tecnologia nuclear para o Brasil, incluindo o enriquecimento do urânio,
com uma perspectiva de maior autonomia do país nesse setor.
A primeira consequência prática do acordo foi a compra de dois
reatores da empresa alemã KWU, Angra II e Angra III.
Apesar de uma pequena abertura em relação à política totalmente
dependente que vigorava até então, após algum tempo o acordo com a
Alemanha também revelou-se inviável, gerando para o Brasil mais pro-
38 blemas do que soluções.
Atransferência de tecnologia foi mínima e o método de enriquecimen-
to do urânio empregado Gatos centrífugos), sem comprovação industrial,
tem apresentado inúmeros problemas operacionais e um custo altíssimo.
Vale lembrar que todas as medidas adotadas pelo exército e pelo
governo brasileiros ao longo desses anos foram feitas à reveLia da socieda-
de, sem levar em conta a opinião da comunidade científica e da população.
A situação atual
As previsões iniciais para Angra I eram que ficasse pronta em 1977,
a um custo de US$ 5 milhões. Contudo, devido a uma série de dificulda-
des administrativas e a vários incidentes, inclusive um incêndio no can-
teiro de obras, a usina só entrou em operação comercial em 1985, sete
anos depois do previsto e muito aci ma do orçamento inicial. Segundo
dados oficiais de Furnas Centrais Elétricas, os custos de Angra I foram de
US$ 1,5 bilhões e segundo o
TCU (Tribunal de Contas da
União), US$ 3,9 bilhões.
Mas nem por isso a situ-
ação de Angra I se normalizou.
Incidentes continuam ocorren-
do e os custos vêm superando
todas as estimativas. Além dis-
so, desde 1981 foi detetado um
sério erro no projeto da
Westinghouse do gerador de
vapor. Devido a estes e ou-
tros problemas, Angra I já foi paralizada mais de 20 vezes, além de
operar com baixo fator de produção de eletricidade.
Quanto ao Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, apenas dois dos oito
reatores previstos estão em construção - Angra II e Ang ra III - e com
bastante atraso.
Assim como no caso de Angra I, os problemas vêm sendo muitos.
A construção de Ang ra II fi cou paraLizada por quase 10 anos, devido em
parte à falta de verbas, a uma menor demanda de eletricidade, e a
inúmeros movimentos de oposição. Atualme nte, cerca de 70% da cons-
trução está concluída, e anuncia-se para este ano uma questionável
retomada das obras.
Seg undo Furnas, já fora m gastos em Angra Il US$ 5 bilhões e a
estimativa é de se gastar mais US$ 1,5 bilhões. Segundo dados de um 39
"lido Luis âauer, do técnico indepe ndente", a ob ra co mpleta de Ang ra II já consumiu cerca
1001;1"10 de E•• rgi.
Elótrica. usp de US$ 10 bilhões e deverá ati ngir US$ 12 biLhões até 1998.
O que se verifica, de fato, é que o programa nuclear brasileiro
está "em ponto morto", O próprio governo reconhece hoje o que sempre
negara enfaticamente: pelo menos nas próximas duas décadas a energia
nuclear no Brasil não é competitiva com a hidrelétrica.
40
Livros de divulgação SAGAN, Carl, TURCO, Richard. O caminho
ou paradidáticos que nenhum homem trilhou: oi nverno nu-
clear e o fim da corrida ao armamento,
Série Ciência Aberta, n" 48, Lisboa, Gradiva
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