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pesq uisa e texto: SÔnia Salém

coordenação: Ruy de Góes Leite de Barros


publicação: Greenpeace, Apeoesp, Sinpro-SP
ilustrações: Linco ln A. de (amargo
revisão: Marta Nehring
projeto gráfico e capa: Ruth Klotzel e Paulo Labriola
impresso na gráfica da Apeoesp

GREENPEACE
1996

APEOESP" Sindicato dos Profassores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo


Praça da República 282 5' uncar " Centro" São Paulo" SP " CEP D1045-000
tel 10111222 8200 fax (01112208939
SINDICATO DOS PROFESSORES DE SÃO PAULO
Rua Borges l.aqoa 208 - Vila Mariana - Silo Paulo .. SP - CEP 04033-000
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GREENPEACE
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tal 102111621282 fax 102112401690
Abril de 1986, Ucrânia: acidente na usina nuclear de Chernobyl.
Grandes quantidades de material radioativo vazam do reator; os efeitos
sâo sentidos em praticamente toda a Europa, com muitas vítimas e
mortes na vizinhança de Chernobyl. Nos anos seguintes, disseminam-
se efeitos nocivos como grande incidência de câncer, crianças com ano-
malias genéticas, campos de agricultura abandonados, cidades fantas-
mas, abandonadas pela população.
Março de 1996, Brasil: o governo federal assina contratos para a
montagem da usi na nuclear de Angra Il, trazendo pa ra mais perto de
nós os riscos da tecnologia nuclear.
Estes dois momentos históricos motivam o GREENPEACE a pu-
blicar este caderno, em parceria com a APEOE$P e o SlNPRO-SP. O
objetivo é divulgar as causas e os efeitos do acidente, bem como
apresentar a tecnologia e a ciência envolvidas na geração de ener-
gia em reatores nucleares.
Acreditamos que o cidadão deve con hecer os riscos i nerentes à
tecnologia nuclear para que consiga promover a proteção do meio am-
biente e do futuro das novas gerações, colocados em risco em 1986 na
distante Ucrânia - e hoje também em risco no Brasil, dada a existência
de Angra I e a tentativa de montagem de Angra Il.
o que aconteceu em Chernobyl? 9
Chernobyl: uma cidade na Ucrânia 9
Um acidente é i m possivel! 10
O impossível acontece 12
Os di as segui ntes 13
A notícia chega ao mundo 14
Para compreender um pouco mais 16
Energia nuclea r 16
Bomba atômica 19
Reatores n uclea res 20
O lixo atômico 21
Os riscos de aci dentes 23
Efeitos das radiações 23
Contami nação e irradiação 25
Chernobyl: dez anos depois 27
As imediações do "sarcófago" 27
Dados e testemun hos " 28
Energia nuclear no mundo 33
Origens e desenvolvi menta 33
Crise e situação atual. 34
Fontes alternativas 35
E o BrasiL? 37
Breve histórico 37
A situação atual 39
O Brasi l necessita de energia nuclear? 40
Bibliog rafia ""'" 41
Chernobyl:
uma cidade na Ucrânia

A Ucrânia, ex-integrante da
União Soviética (U RSS) situada no
extremo leste da Europa, é hoje
uma república independente. Con-
ta com uma população de quase 52
milhões de habitantes, um razoá-
vel parque industrial e um dos so-
los mais férteis do mundo. Sua ca-
pital. Kiev, é uma cidade antiga,
construída às margens do rio
Dnieper. Nela vivem ce rca de 3 mi-
lhões de habitantes.
Chernobyl fica 100 Km ao nor- ROl\lJ'~NIA
te de Kiev. Minsk, ca pital de Belarus,
está a 320 Km e Moscou, capital da
Rússia, a 600 Km. Antes da cons-
trução da usi na nuclea r, Chernobyl
era um tranquilo porto fluvial que
Localização de Chernobvl na Ucr ân.a
abrigava bosques, parques públicos
e pequenos lagos. Muitas famílias lá passavam férias e feriados prolon-
gados. Podia-se nadar e pescar nas águas Limpas do Pripyat.
A usina nuclear foi construída num dos pontos mais bonitos da
região, 14 km acima da cidade, nas margens do Pripyat. afluente do
Dnieper. Um grande rio que, antes de atravessar Kiev e desaguar no Mar
Negro, alimenta o principal reservatório de água da Ucrânia.
A região da usina nuclear era intensamente ocupada por centenas
de fazendas e vilas, além de duas cidades: Chernobyl e Pripyat. Milha- 9
res de pessoas ali viviam e trabalhavam na terra fértil. A fazenda mais
próxima da usina, a 14 Km desta, tinha mais de Lj·OOO empregados, 6500
cabeças de gado, 1500 suínos e ovinos.
As mudanças na região
começaram com a construção da
usina, em 1970. Em 16 anos, o
povoado de Pripyat transfor-
mou-se numa cidade com cerca
de 45.000 habitantes, na sua
maioria jovens trabalhadores e
suas famílias.
O pri mei ro reator de
Chernobyl levou sete anos
para ficar pronto. Logo em
seguida iniciou-se a constru-
ção de mais três. O quarto
reator, que explodiria no aci-
dente de 1986, foi inaugura-
do em 1983. Estava prevista
a construção de mais duas
unidades, a serem inaugura-
das em 1988. Com elas a usi-
na de Chernobyl tornar-se-
Chernobyl e arredores
ia a maior central nuclear do
mundo, gerando um total de
6.000 megawatts de energia elétrica, o suficiente para iluminar todo um
país (sessenta milhões de lâmpadas comuns de 100 watts).
Enfim, uma enorme usina nuclear que atendia não apenas as gran-
des cidades próximas, como Kiev e Minsk, mas também vendia energia
elétrica para a Polônia e outros países da Europa e da Ásia.

Um acidente é impossível!

Poucas pessoas colocavam em dúvida a segurança da usina de


Chernobyl. As autoridades diziam que um acidente naquela central nu-
clear era impossível. Em 1985, o engenheiro-chefe de ChernobyL, Nicolai
Fomin, declarava para a revista Soviet Life que a usina era absoluta-
mente segura, tanto para as pessoas quanto para o ambiente. Dizia ele:
':.. Mesmo que acontecesse o impossível, os sistemas de controle
10 automático e de segurança desligariam o reator em questão de sequn-
dos. A usina tem sistemas de emergência para refrigeração do núcleo,
além de diversos outros dispositivos tecnológicos de segurança. "
Nessa mesma entrevista, também declarava o ministro de energia
ucraniano, Vitali Skiyerov:
"As chances de fusão de um núcleo são de uma a cada 10.000 anos.
As usinas são dotadas de controles seguros e confiáveis, protegidos de qual-
quer colapso por três sistemas de segurança diferentes e independentes ... "
Muitos empregados também acreditavam na segurança da usina. Boris
Chernov, de 29 anos, operador de turbina, afirmava na mesma ocasião:
"Esse medo que se costuma ter das centrais nucleares não tem
fundamento. Eu trabalho de avental branco. O ar lá dentro é puro e
limpo, porque é cuidadosamente filtrado. "
Mas nem todos os habitantes da região compartilhavam essa con-
vicção. Em 1982, o jornaL do sindicato "Trud" pesquisou a opinião de
seus leitores sobre as usinas nucleares. A declaração de um operário
que trabalhava na construção de um reator em Smolensk, ao norte de
Chernobyl, ilustra bem a desconfiança da população:
"As pessoas chegam a parar de comprar legumes, verduras e frutas
cultivados em locais próximos a usinas nucleares. Será que os especialis-
tas não poderiam ser um pouco mais sobre o que acontece dentro das
usinas, a fim de surgirem menos boatos?"
Nessa mesma época, uma série de denúncias envolvendo os pa-
drões de engenharia empregados na construção da usina de Chernobyl
vieram reforçar essa desconfiança. No entanto, prevalecia a palavra dos
especialistas e autoridades: um acidente é impossível!

o impossível acontece ...

No dia 26 de abril de 1986, a uma hora e vinte e três minutos da


madrugada, acontece o "impossível": explode o reator na 4 de Chernobyl.
Ouve-se uma primeira explosão, em seguida outra, e uma grande bola
de fogo sobe no céu noturno.
Tudo começou no início da tarde do 25 de abril, uma sexta-feira,
no meio de um fim-de-semana prolongado. Nesse dia estava prevista a
realização de serviços rotineiros de manutenção da unidade 4. No en-
tanto, antes de desligá-la completamente para a manutenção, houve
uma mudança no cronograma original. Alguns técnicos resolveram apro-
veitar a ocasião para realizar uma experiência.
Tratava-se, ironicamente, de um teste sobre a segurança do rea-
tor. Porém, tudo ocorreu para precipitar o acidente. As reações nuclea-
res no interior do reator foram mantidas sem o nível de segurança ne-

6 ..• Fnrma-s e nuvem


v'~';"[4';'"
" ('-?'SSi':'·"~'t!~\
que se espalha
com n vento

3 - A pre ss iIo do gás em-


pena 3.5 barras de gra,·
fite; a temperatura M-·-~
núcleo. aumenta.

2· Produção d. hi-
drogênio através
da reação entre o
vapor d'água e a
grafite.
cessário. o sistema de refrigeração de emergência, de fundamental im-
portância em caso de acidente, havia sido desativado, assim como os
alarmes e dispositivos de proteção automática. E apesar de muitos pro-
blemas e contratempos, os testes prosseguiram sem que o reator esti-
vesse e m condições. adequadas.
A sequência de equívocos acabou por levar ao descontrole total
do reator. As reações de fissão nuclear que se produzem no núcleo do
reator aumentaram repentinamente, provocando um superaquecimento
do combustível. Surgiram vários focos de incêndio, os fortes vapores
liberados explodiram, provocando um rombo no reator e arrancando o
teto de cimento de 700 toneladas. ALém da bola de fogo da explosão,
lançou-se no ar, a mais de mil metros de altura, uma mistura complexa
de elementos radioativos.
E assim deu-se início à longa viagem da nuvem radioativa, que
espalhou sua carga sobre toda a Europa e para muito além dela. Deixou
vestígios, ainda que pequenos, até nos Estados Unidos, Canadá e Índia.
Na ocasião do acidente, muitos di rigentes e técnicos da usi na
estavam ausentes em razão do feriado prolongado. Para agravar a situ-
ação, os planos de emergência foram acionados com atraso e muitos se
mostraram i nefi cazes.
Uma centena de bombeiros vindos de Chernobyl e de Pripyat per-
maneceu por mais de uma hora em meio ao fogo nuclear, sem roupas e
equipamentos adequados. Na falta de pessoal para efetivar o rodízio
recomendado, esses homens arriscaram suas vidas para evitar que o
desastre fosse ainda pior. Dois deles morreram na hora, todos os outros
ficaram marcados irremediavelmente: medula espinhal esmagada e quei-
maduras por todo o corpo. Todos os médicos, enfermeiros e funcionári-
os da usina, a maioria jovens com menos de 30 anos, que se encontra-
vam na área do acidente, também sofreram as terríveis consequências.
Dez horas depois da explosão, 299 pessoas haviam sido hospi-
talizadas, com lesões diretamente constatáveis. Em poucas sema-
nas, mo rrera m 31 de las.

Os dias seguintes

Na ma nhã segui nte ao acidente nada parecia ter sucedido na região


de ChernobyL Crianças brincavam nos parques, os animais eram levados
aos pastos, os frutos colhidos da terra e muitas pessoas passeavam, apro-
veitando a tranqüilidade aparente do feriado. Com a justificativa de não 13
provocar o pânico na região, e talvez sem a noção da gravidade do proble-
ma, as autoridades omitiram à população a notícia do acidente.
O alarme só foi soar na manhã de domingo, e ainda assim apenas
para os habitantes de Pripyat. No inicio da tarde, 36 horas após a ex-
plosão do reator, deu-se início à evacuação da cidade: 45.000 pessoas
são retiradas de suas casas, levando apenas a roupa do corpo. Enquanto
isso, o rádio noticiava um defeito na usina, sem mencionar a verdadeira
intensidade dç acidente e suas possíveis consequências.
Nove dias depois, eram removidos todos os habitantes num raio
de 30 km ao redor da usina, incluindo a população de Chernobyl. O
êxodo dessa área, segundo o balanço oficial na época, chegou a 135.000
pessoas, das quais 45.000 crianças.

»••• Lembro-me que na estação havia uma multidão. Os pais


enfileirados de um lado, as crianças e os professores em pé ao lado do
trem. Todos choravam e se abraçavam, como se nunca mais fossem se
reencontrar, A cena foi muita triste","

(DIga Antánovitcn, aluna da 8ª série da Escola Média da cidade de Gómel)

"... Só soubemos do acidente de Cbernobyt quando estávamos na


3!l ou 4ª série. Ouvimos dizer que acontecera a explosão de uma usina
nuclear distante de nossa região. Na ocasião, não ouvimos comentários
sobre a nossa cidade e seus arredores terem sido atingidos ... Ninguém
nos avisou sobre o perigo em colher os morangos e os cogumelos no
bosque durante os próximos 2 ou 3 anos. Nós tomamos o suco de bétulss
brancas de Cnetnobvt, comemos morangos e cogumelos contendo césio,
estrôncio e plutônio, tomamos banho de sol com o ar pcluido de radia-
ção e nadamos nos rios e lagos contaminados ..."

(Victor Biso v, 15anos, aluno da 811série da 2ª Escola Média na cidade de Kritchíova.)

A notícia chega ao mundo

As notícias sobre o acidente chegam ao mu ndo somente alguns dias


depois. Inicialmente, as informações dadas peLo governo soviético são
poucas e não dão a verdadeira dimensão e significado do acontecimento.
Contudo, o vento, ao carregar os radionuclídeos emitidos na explo-
são, acaba por "dizer" mais que os comunicados oficiais e noticiários. No
14 dia 28 de abril, a Suécia, e em seguida a Finlândia e a Noruega, notam um
aumento repentino e alarmante na taxa de radioatividade no ambiente.
Além da Ucrânia, Belarus e Rússia, os três países mais afetados, prati-
camente todo o Leste Europeu e a Europa Ocidental são contaminados.
Chernobyl passa então a ser manchete de jornais e revistas em todo o mundo.
Foi preciso uma catástrofe como a de Chernobyl para ficar patente
que um acidente nuclear não representa só uma ameaça localizada, mas
tem dimensões planetárias. E não apenas isso, como também deixar
claro que a questão nuclear não diz respeito somente a técnicos, cien-
tistas e governantes, mas atinge todo e qualquer cidadão.

"Mesmo depois de anos, séculos


Esta dor não nos abandonará
É uma dor tão grande, tão infinita
Que não podemos afundar e esquecer
É uma herança da derrota.
Ficará por séculos acompanhando nossos descendentes
Permanecendo nos corações deles
E tirará a tranquilidade para sempre
Quero que cada um que vive sobre a Terra
Se lembre daquele ano, daquele dia terrível ... rr

(Maria Gelúbovitct; 13 anos, stun» da 1Msérie da Escola Média Sacava,


do município de Saligórsk)

1S
Palavras co mo becqueréis, curies, radtonucitdeos, urânio-235, césio-
13 7, fissão nuclear e outras tantas, que quase só eram conhecidas por
especialistas, passaram a fazer parte do vocabulário de muita gente.
Aqui no Brasil, elas foram bastante propaladas na época em que ocor-
10 ltoidente do
reu o acidente de Goiânia, em 1987.1
Goiânia .• m
setembro ~. 1981.
10i cousodo pala
contamllloçbo Que significado têm esses termos? O que é, afinai, energia nucle-
radioativa da uma
tnnte da 0IlsI0-131.
ar? Como funciona um reator nuclear? Para que serve? O que são radia-
usada em modinina
nuchtllr,oncontrada
ções? Como contaminam as pessoas e o ambiente?
por dois sucotctiros
Dum prédio
.bondonado. São questões como essas que vamos desenvolver aqui, procu-
rando torná-las compreensíveis para os estudantes e professores de
modo geral. Questões estas que merecem ser desenvolvidas e
aprofundadas tanto na escola, quanto através da Leituras de jornais,
revistas e livros de divu lqação científica. Existem ta mbém filmes e
vídeos que tratam do tema. Ao final desse texto, apresentamos algu-
mas sugestões de leitura.

Energia nuclear

o
nome 'energia nuclear'
Núcleo deve-se ao fato de que essa for-
Prótons e Nêutrons
ma de energia está associada a
reações que ocorrem no núcleo
.-.-~ Órbita atômico.
dos Elétrons
O núcleo de um átomo
contém prótons, que são partí-
culas com carga elétrica positi-
va, e nêutrons, que como diz o próprio no me são neutros. Ao redor do
16 núcleo orbitam elétrons, com carga elêtri ca negativa.
Átomos "mal" comportados:
a desintegração radioativa

A maioria dos átomos existentes na natureza são "bem com-


portados", ditos estáveis. O número de componentes existente em
seus núcleos não se modifica. Entretanto, existem átomos cujos
núcleos nã o estão e ne rgeti ca me nte ba lan ceados, ou sej a, possuem
excesso de um tipo de partícula e, portanto, um excesso de ener-
gia. São átomos instáveis. Para se tornar estáveis, eles "jogam fora"
esse excesso de energia, liberando partículas. Dizemos que se de-
sintegram e irradiam.
Isso ocorre especialmente com os núcleos de átomos mais pesados.
Como consequência da desintegração, o núcleo original, instável.
transforma-se no núcleo de um outro elemento químico. Esse novo nú-
cleo pode ta mbém ser i nstável e desi ntegra r-se, emiti ndo partículas, e
assim sucessivamente até formar-se um núcleo estável.
Esse processo, chamado de desintegração radioativa é espontâ-
neo e contínuo. Os núcleos instáveis que emitem partículas, são cha-
mados núcleos radioativos ou radionuclideos.

~
Alfa

Po Pb
Um núcleo de Polôruo emite uma pu rticu!a alfa, transformando-se em um núcleo de Chumbo

As radiações emitidas pelos núcleos instáveis são ElQiações


ionizantes, que possuem muita energia e podem causar danos
sobre os seres vivos.
Sempre que ocorre desintegração de um núcleo, há emissão de
radiação ionizante, que pode ser uma partícula ou onda. Os princi-
pais tipos de radiação emitidos por núcleos pesados são as radiações
alfa, beta e gama. 17
~_------- ..•.•..•...----- ..•...--
-------_~~_---------------_

• Partlculas alfa são em geral emitidas pelos eLementos


mais pesados, como urânio, tório, pLutônio e rádio.

Radiação bela:
• São elétrons ou pósitrons (partícula semelhante ao
eLétron, mas de carga positiva).
• São mais penetrantes que as partículas alfa, Atra-
vessam a peLe, podendo penetrar cerca de 1 cm no
tecido humano. Podem ser blindadas com placa de
alumínio de alguns poucos mHimetros.
• Alguns eLementos que emitem partícuta beta: po-
tássio-40, estrõncío-90, céslo-137.

Radiaçiío gama:

Radiilções alfa, beta e gama • São ondas eLetromagnéticas, semelhantes ao raio-


X, mas cem energia maior.
Radiação alia: • São as mais penetrantes. Podam atravessar uma
• São formadas por dois pr6tons e dois nêutrons (nú- superfície de aço e também o corpo humano. So-
cleo do Hêl lo}, mente uma parede gr05511 de concreto ou de me-
• Tem pequeno poder de penetração na matêria. No tal pode detê-Ias .
corpo humano, atingem apenas a superfície da pele. • A maior parte dos elementos radioativos emite ra-
Podem ser contidas por uma folha de papel. diação gama.

Fissão nuclear

o átomo de urânio, o mais pesado que se encontra na natureza, é


bastante instável. podendo desintegrar-se espontaneamente. No en-
tanto, esse processo é bastante lento.
Uma grande descoberta científica desse século foi a de que certos
átomos altamente instáveis, como o urânio, poderiam ser desintegra-
dos artificialmente se fossem rompidas as enormes forças que mantêm
o seu núcleo. Esse processo de quebrar o átomo, ou seja, de provocar
sua fissão, recebeu o nome de fissão nuclear.

nêutron Kr
raio
garml

nêutron

nêutron •
u
Ba •
nêutron

Fissão da Urânio: Um nêutron choca-se com um núcleo de urânio O núcleo se quebra, dando
origem B dois novos núcleos munuras. liherando nêutrons 8 anar qi a
18
Para isso, o núcleo é "bombardeado" com nêutrons, como se fos-
sem pequenos projéteis. Ao colidir com o núcleo, essas partículas pro-
vocam sua fissão. Como resultado, o núcleo origi nal dá origem a dois
novos núcleos de elementos mais leves, liberando uma grande quanti-
dade de energia e emiti ndo nêutro ns.
Para se ter uma idéia de quanta energia é liberada numa reação
desse tipo, imagine que se uma amostra de 1 kg de urânio tivesse seus
núcleos fissionados, a energia liberada seria mais de um milhão de
vezes maior que a liberada na queima de 1 kg de carvão. Suficiente para
manter acesas cerca de 30.000 lâmpadas de 100 watt durante uma ano!
Daí o enorme potencial da energia nuclear e o i nteresse suscitado há
algumas décadas por esse 'poderoso' combustível.

Um efeito importante na fissão do núcleo do urânio é que, além


da energia, há liberação de nêutrons. São esses nêutrons que permi-
tem a reação em cadeia que se produz nas bombas atômicas e nos
reatores nucleares.
Os efeitos da explosão de u ma bomba atô mica são terríveis. A
explosão de uma bo mba com 5 kg de urã nio tem resultados equivalente
explosão de 20 mil toneladas de trinitroqlicerina." Em 1945, bombas 'A tr;nilroulicerin8 li
um axpleaive 161
tipo foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, com resultados como a dinamite ou a
ia!;solrnbl'os()S que podem ser notados até hoje. pólvora. UIIIkg ua
1rintlrllglicoril16 podo
destruir uma CfI!!i8.

Reação em cadeia

É o excesso de nêutrons na fissão do 11


M
urânio que permite a reação em cadeia. ,. f.1I
Se cada um dos três nêutrons libera- .". """
dos na fissão de um núcleo de urânio •••• ·0':c@
atingirem um outro núcleo, vão pro-
vocar três novas fissões, liberand o
nove nêutrons. Cada um desses ••••. ,.,,"';gp
"" .3SI@
atinge outro nücleo e aí já se-
rão vinte e sete nêutrcns, que por sua
".•.•"",:.~ "",",",li
'i%.
VêI vão atingir outros viote a se te nü- "".é~·.
produzindo oitenta e um nêu-
e assim por diante, numa pro-
",.:~,..•••w multo r~pida. É a chamada re-
em cade+a, que resu Lta nu ma
grande explosão em milésimos de se-
"y.gUlldo, Esse é o prindplo de fundo-
:<.·nan~enlO da bomba atâmíca,
Reatores nucleares

Nos reatores nucleares também se produzem reações em cadeia. A


diferença, contudo, em relação a uma bomba atômica, é que nos reato-
res essas reações de fissão são controLadas. Não ocorre explosão, A
energia, Liberada controlada mente nas fissões do urânio, é transforma-
da em calor e utilizada para a geração de energia elétrica.
Exi stem dite rentes ti p os d e reato res nucleares para gera o çã

de eletricidade. Mas alguns elementos e princípios são comuns a


todos eles.

Usinas geradoras de eletricidade

00 mesmo modo que em usinas hidrelétricas ou e pressão elevadas, provoca a rotação das turbinas.
termoelétricas, nas usinas nucleares uma série de trans- Nas usinas nucleares, assim como nas termoelétricas,
formações ocorre para colocar em movimento grandes as turbinas são movidas por vapor d'água 50b pres-
turbinas que acienam geradores de eletricidade. são. A diferença ê que o combustível usado para pro-
Nas usinas hidrelétricas, utilfza-se a energia de que- dução de calor, no lugar de petróleo ou carvão, é o
das d'água. Nas termoelétricas, grandes caldeiras de urânio. E a "queima" desse combustível não se dá
água são aquecidas queimando-se combustiveis como por uma reação quimica de combustão, mas uma re-
carvão ou petróleo. O vapor d'água sob temperatura ação n uclea F, de fi ssâc.

Rl'lIl1••r...•etôrlo
Ct;'I:
"f ~
)"'1"·.~~/
RQ'rlljDJf.CYti•..•.
o:> TurbinlJ
~Q çQlubUlIllyul
usina hidroelétrica
usina termoelétrica

Funcionamento básico de um reator

Os reatores nucleares possuem um núcleo que contém o com-


bustível, um fluido refrigerante, um moderador e barras de controle.
O combustível, na forma de pastilhas, é disposto em hastes metáli-
cas (pilhas nucleares).
A função do moderador, em geral a grafite, é a de desacelerar os nêu-
trons emitidos na fissão para possibilitar que as reações em cadeia ocorram.
As borras de controle são feitas de boro, que é um material
absorvedor de nêutrons. Elas são inseridas e retiradas do núcleo do
reator, de modo a controlar o fluxo de nêutrons em níveis desejados,
20 assi m como o calor produzido pelas fissõ es.
o controle da temperatura no núcleo do reator é feito por um siste-
ma de refrigeração. O fluido refrigerante, em geral a água, circula pelo
núcleo do reator, retirando calor, que é utiLizado para produzir vapor a
altíssima pressão. Esse vapor é usado para mover as turbinas que irão
acionar o gerador de eletricidade.
Depois de passar pelas turbinas, o vapor é resfriado, condensado e
a água é bombeada de volta ao reator. O resfriamento é feito usando-se
água de rio ou mar
Turbina
próximo à usina.
O reator de
Chernobyl utilizava
urânio Levemente
enriquecido como
co m b u stt 'Lve, era PilhEIS
Nuclellres

moderado a grafite e
Água
refrigerado a água, Água Rafrigaradora
,,270 "C
com uma potência
elétrica de 1.000
megawatts (um bi-
lhão de watts). Bomba d'águll
Esquema de reator nuclea r do tipo de Chsrnubvl IRB MKI.

Enriquecimento do urânio

o elemento combustível usado na maioria dos reatores nucleares é o urânio.


No entanto, o urânio encontrado na natureza é formado poruma mistura de dois
isótopos desse elemento: o urânio-235 e o ur~nio-238, Nessa mistura, o urânio-
238 é muito mais abundante: cerca de 99,3% deste para 0,7% do outro.
É o urãnio-235 que permite as reações de fissão em cadeia, sendo utilizado tanto
para cen+ecção de bombas como nos reatores. Para isso. o urânio natural deve ser
"enriquecido". ou seja, deve-se aumentar a proporção de ur1lnlo-235. Reatores nu-
cleares usam, em geral urânio enriquecido a 3%,
Esse processe é extremamente complexo. caro e consome muita energia. Poucos pa-
íses no mundo têm tecnologia para produzi-lo.

o lixo atômico
No interior dos reato res, à medida qu e ocorre a fi ssão do com bus-
tivel, geram-se muitos elementos radioativos, os produtos da fissão.
Esses resíduos constituem o chamado lixo atômico,
O reator de Chernobyl, por exemplo, acumulava cerca de uma to-
nelada de elementos residuais altamente radioativos a cada ano. 21
Alguns fragmentos desse lixo tornam-se estáveis em pouco tem-
po (minutos ou dias). entretanto, existem outros que levam cente-
nas ou até mi lha res de an o s para dei xar de emiti r radiação. É o
caso, por exemplo, do césio, do estrôncio e do plutônio. Esse últi-
mo, além de extremamente tóxico e perigoso, leva cerca de 500.000
anos para se tornar inócuo.
Um dos grandes problemas gerados pelos reatores nucleares, é o
que fazer com esse lixo: onde guardá-lo durante um enorme período de
t.empo, de modo a não produzir danos às pessoas e ao ambiente?

Meill"vida

o tempo que uma certa amostra de átomos radioativos Leva para se desintegrar varia multo,
podendo levar desde segundos até bilhões de anos. Depende de cada núcleo.
Chama-se meia-vida o intervaLo de tempo no qual metade dos núcleos Inicialmente Instá"
veis de uma amostra se desintegram.
Por exemplo, o Césio-137, um dos radionuclfdeos liberados em ChernobyL (e "causador" do
acidente em G(liãnia) tem meia-vida de 30 ancs, Isso significa que depois de 30 anos desse
acidente. ainda restará metade do número de átomos de Césio-i37 depositados no solo.
Passados mais 30 anos (60 ao todo), restará um quarto do número inicial e assim por diante.
Veja abaixo os vaLores de meta-vida de alguns isótopos radioativos.

Isótopo Meia-vida
urânio-235 4 bilhões de anos
rádio-226 1602 anos
césio-137 30 anos
estrõnctc-so 28 anos
iodo-l31 8 dias
protoactinio-234 1,17 minutos

Até hoje não existem soluções adequadas e definitivas para isso.


Não se trata apenas de um problema científico e tecnológico,
mas envolve questões de outras naturezas. Um tempo como dez mil
anos é maior que a duração de civilizações conhecidas. Quem pode
saber o que será do planeta num prazo tão longo? Por quantas mu-
da n ç a s potíticas e sociais, i nteresses eco nômicos, guerras, alte ra-
ções no ecossistema, terá passado o mundo duranteto do esse tem-
po? Por mais eficazes que sejam as soluções que possam vir a ser
implementadas, ainda assim é de se perguntar se poderão garantir
a segurança para daqui a muitas gerações.
Na maior parte das usinas nucleares, esses resíduos são tem pora-
riamente armazenados em tanques ou piscinas de resfriamento no edi-
22 fício do reator, aguardando um destino permanente.
Os riscos de acidentes
"a energia nuclear representa probabiUdades infinitamente.
pequenas de causar desastres infinitamente qrandes'" , Extraído de O
dilema nuclear.
Em condições normais de operação, a radiação liberada para o Carlo Hubbia.

ambiente pelos elementos radioativos gerados nos reatores e relativa-


mente pouco intensa. No entanto, é potencialmente muito perigosa
na ocorrência de um acidente, pois nesse caso, como vimos em
Chernobyl, as consequências podem ser catastróficas e irremediáveis.
A origem mais comum de acidentes em reatores nucleares é o seu
superaquecimento causado por falhas no sistema de refrigeração. A tempera-
tura muito elevada pode levar ao derretimento do núcleo do reator, que pode
acabar enterrando-se no soLo junto com sua plataforma e liberando quase
todo seu conteúdo radioativo ao ambiente. Esse é o acidente mais grave que
pode ocorrer, resultando numa catástrofe de consequências inimagináveis.
Desde os primeiros reatores nucleares, na década de 50, vários
têm sido os problemas de segurança. Incidentes considerados de pe-
quena gravidade são frequentes, aLguns dos quais, muitas vezes, "por
um triz" não se transformam em acidentes graves. Desde então, as me-
didas de segurança vêm se tornando cada vez mais sofisticadas. Contu-
do, não impediram a ocorrência de acidentes em vários países, sendo
Chernobyl amai s sério deles ate hoje.
É comum ouvirmos dizer que as chances de ocorrerem acidentes
são muito pequenas. Segundo cálculos feitos por especialistas, a pro-
babilidade de ocorrência de um acidente grave seria de 1 em 10 mi-
lhões' por ano / por reator. Pois bem, se fôssemos nos basear nos nú-
meros e estatísticas, poderíamos ficar relativamente tranquiLos. Entre-
tanto, o mundo não é perfeito, e os homens e máquinas muito menos.
As chances podem ser mínimas, mas existem. Chernobyl foi um exem-
plo, e exi stem outros.
Populações inteiras podem ser vítimas de um acidente nuclear, ao
Longo de muitos anos, sem possibilidade de defesa.

Efeitos das radiações

Toda radiação é i nvisivel, i nodora, i nsípida e i naudível. Quando


somos "atingidos" por um feixe de radiação, nen huma tesão visível ocorre
no momento da irradiação. Por isso não podemos perceber ou sentir se
estamos sendo irradiados. 23
Entretanto, a radiação ionizante, que tem energia suficiente para
arranca r um elétron da sua órbita, provoca alterações profundas no mate-
rial irradiado. No organismo humano, os efeitos podem ser muitos, causa n-
do desde pequenas indisposições até diversos tipos de câncer e mutações
genéticas. Podem, ainda, modificar a com-
posi ção sa ng uínea e destrui r o sistema
imunológico do organismo. Em certos casos,
os efeitos são letais.
Os danos das radiações sobre as pes-
soas ou sobre o ambiente dependem de uma
série de fatores, tais como a energia da radi-
ação, o tempo de exposição, a dose absorvi-
da, a parte do corpo atingida e a própria sen-
sibilidade da pessoa.
Os seus efeitos podem se manifestar a curto prazo, em dias ou
semanas, quando as doses são muito altas, ou a longo prazo, meses,
a nos, décadas ou gerações, no caso de doses menos elevadas.
No caso de doses muito elevadas sobre o corpo todo, ocorre a
chamada Síndrome Ag uda de Radiações, podendo causar a morte em
poucas sem anas.
É importante enfatizar que a principal conseqüência dos efeitos
tardios é a incidência de um maior número de certas enfermidades em
relação ao normal. Um câncer produzido por irradiação, por exempLo, é
indistinguível de qualquer outro. ALém disso, o intervalo de tempo en-
tre a exposição e o efeito causado pode ser gra nde. especialmente no
caso de doses não muito elevadas.
Por esse motivo, os estudos sobre efeitos de acidentes como o

Efeitos das radieções sllbre os seres humanos

dose da radIação prazo para aparecerem efeitos sobre o corpo


(rem) os sintomas (semanas)
O a 100 náusea 11 vGmltos; não ê fatal;
100 a 200 pequena queda no número de leucócitos no sangue;
risco de câncer a longo prazo
200 a 600 quatro a seis queda acentuada do número de leucóclos; manchas na pele;
derrame intestinal; 50% de probabilidade de morte
600 a 1000 quatro a seis semelhantes ao anterior, tom 80 a 100% de probabldade
de morte
1000 a 5000 uma a duas diarréia, febre; desequllibrlo na composição do sangue;
100% de probabilidade de morte

Rem é uma unidade que mede a dose da radiação absorvida pelo oryanismo.
24 Hoje em dia a unidade utilizada é a Sievert (Sv) 1 Sv = 100 rem
de Chernobyl são com plexos e difíceis de quantificar. As estimati vas
sobre números de pessoas afetadas, incidência de certas doenças e
casos de morte podem ter muitas incertezas e, assim, ficam sujeitas a
diferentes interpretações.

Contaminação e irradiação

Existe uma diferença importante entre contaminação e irradiação.


Ser irradiado significa estar exposto à uma fonte radioativa exter-
na. Afastando-se suficientemente da fonte, a irradiação cessa e a pes-
soa irradiada não emite radiação sobre outras pessoas ou sobre o ambi-
ente. Já a contaminação Ocorre quando a pessoa inala, ingere ou absor-
ve pela pele certas qua ntidades de materia L radioativo, de modo que
passa a ter dentro de si núcleos instáveis e, então, passa a irradiar. ELa
própria transforma-se em fo nte radioativa.
A contaminação se dá em geral atravês da cadeia alimentar. Quando o solo
é contaminado, os alimentos direta ou indiretamente também se contaminam.
No acidente de Chernobyl, quase todo o solo europeu foi contami-
nado, sendo que o grau de contaminação variou de região para região.
Em locais onde não se suspendeu o pasto nos campos, como ocorreu na
Irlanda, ou onde o feno seco se contaminou, o gado e, conseqüentemen-
°
te leite ou carne fo ra m contaminados. Parte desse leite foi, na época,
importado pelo Brasil, gerando muita polêmica.

Caminhos da contaminação

Elimlriaçáo " •• nu •••. lnalação _._ •••••. Deposição __ .• _ •••.


biológica
< .......•

Para fazer comparações:

• Em um ano a radiação de fundo a que estamos submetidos é cerca de


0,2 rem. Disso, aproximadamente metade se deve à radiação natural
e metade à radiação artificial (0,1 rem)
• Uma chapa do tórax pode irradiar uma dose quase equivalente radi- ã

ação natural de fundo (~0,1 rem).


• O limite anual máximo de dose equivalente estipulado no Brasil pelo
• CNEN - Comi,do CNEN4 para a população em geral é 0,5 rem para o corpo todo (esse
NaciDl1:al do En.ergia
Nucloar limite depende da parte do corpo irradiado); o mesmo limite estabe-
'IC RP - Comi •• iio
loternnçional de
lecido internacionalmente em 1985 pelo ICRpo é de 0,1 rem.
Protação • No acidente em Chernobyl, cerca de 200 pessoas estiveram expostas
Radiolôgica
a radiações de 100 rad, 50 pessoas a 500 rad e diversas foram irradi-
adas com doses superiores a 1000 rad.

Os efeitos das radiações sobre o organismo são em geral dados pela dose absorvida, medida
em rad, Entretanto, essa medida nâo Informa completamente os danos causados, pois depen-
dendo do tipo de radiação eles podem ser maiores ou menores. Por Isso, exíste outra grandeza,
a dose equivalente, medida em rem, que leva em conta o tipo de radiação absorvida.

26
p ...

As imediações do "sarcófago"

Passados 10 anos, ChernobyL é ainda uma cidade bastante marcada


pelo acontecimento de abril de 86. O reator número 4 assemelha-se a
um imenso sarcófago de cimento, coberto por milhares de toneladas de
substâ ncias pa ra co nter as radiações.
Um deserto cobre a re-
gião em um raio de 30 km em
torno da central. É a chamada
"Zona de Exclusão", que inici-
almente constituiu uma espé-
cie de cordão de isolamento da
área mais gravemente afetada.
Hoje é também um símbolo da
terrível catástrofe.
Milhares de quilômetros
quadrados de terra foram lim-
pos, com a retirada de uma ca-
mada superficial do solo. Mas
mesmo assim, solo, fauna e f Lo- Sarcófs\jo: estrutura de concreto construida para
ra ainda estão comprometidos conter a r arlia ç ãn

e poderão permacê-lo por décadas. Calcula-se que os efeitos do césio-13 7, o


mais significativo radion uclídeo emitido na explosão. podem comprometer a
agricultura e as áreas florestais por um período entre 8 e 20 anos.
Estranhamente, e apesar das proibições, algumas pessoas volta-
ram a habitar a área de exclusão. Recebem uma pequena pensão do
governo, que também fornece alguns mantimentos para limitar o con-
sumo de produtos extraídos da terra. Mas ainda plantam sua própria
comida. Em geraL, são pessoas idosas que decidiram voltar para sua
terra. Mas contam que no verão costumam receber seus netos.
Um segundo Limite, dessa vez bem mais guardado, é uma região
de 10 km em torno da usina. Para entrar nessa área, eventuais visitan-
tes recebem máscaras e roupas especiais, trocam de ônibus e são acom-
panhados por seguranças e autoridades. O "passeio" é várias vezes in-
terrompido para se medir os níveis de radiação. 27
A cerca de 300 metros do "sarcófago", os níveis de radiação gama
continuam entre 30 e 50 vezes maiores que a radiação de fundo normal.
Mas, no verão, podem ser ainda três vezes maiores que isso.
Hoje em dia, aproxi mada mente 6000 pessoas trabalham na usi na
e, malgrado as recomendações da IAEA (Agência Internacional de Ener-
gia Atômica), os reatores nO 1 e 3 continuam em operação, sendo que o
governo ucraniano planeja recolocar em funcionamento a unidade 2 no
próximo verão.

Dados e testemunhos

"Hoje em dia a referência é Ctiemobvt: antes de Chernobvl, depois


de üiemobv), Isso se tornou um capítulo muito triste da hist6ria. rr

(Maria Galúbovitch, 13 anos, aluna da 7/1 série da Escola Média Sacava,


do município de Saligórsk)

Chernobyl foi um acidente sem precedentes, o maior ocorrido no pla-


neta. Suas conseqüências são tão espantosas e incomuns quanto difíceis de
quantificar. Os dados sobre os efeitos do acidente desde 86 até hoje, bem
como as estimativas para as próxi mas décadas, ainda não são totalmente
conhecidos. Também o balanço dos impactos humanos e ambientais e os
custos econômicos variam dependendo da fonte de informação.
Até hoje i nvestiga-se a quantidade de radionuclideos produzida
no ambiente pela explosão. Segundo relatório das Nações Unidas, o
desastre teria lançado na atmosfera muito mais material radioativo que
'Fonte: Naçlla. as bombas que explodiram em Hiroshima e Nagasaki juntas.'
Unid ••• Relal6,i. d.
Soe,aro,ia Gorai. 1995. Passados dez anos, os problemas não acabaram. Em certos aspec-
tos tornaram-se até mais graves. Como muitos dos efeitos sobre as
pessoas expostas às radiações são tardios, doenças como o câncer e os
defeitos genéticos tendem a aumentar .

...Naquela época, havia censura sobre os diagnósticos relaciona-


dos a Chernobyl. Tratar pacientes hoje, dez anos após o acidente é es-
pecialmente difícil. Estamos pagando o preço por aquela censura. Deví-
amos ter contado ao mundo que o acidente de Chernoby/ fora um de-
sastre complexo e sem precedentes, único na história da humanidade.
Que não era comparável nem a Hiroshima e nem a Nagasaki. Mas por
causa da proibição, nós perdemos experiências vitais e várias informa-
28 ções científicas que poderiam estar ajudando ...
",Nós estamos agora começando a ver os efeitos de longo prazo de
Chernobyt. Hoje, as crianças que tinham seis a oito anos em 1986 estão
tendo seus próprios filhos, Estudos preliminares sugerem que estes be-
bês são mais propensos a vária patologias no sistema nervosos central,
especialmente se suas mães vivem em áreas contaminadas. As conclu-
sões finais só aparecerão daqui a vários anos.

(Dr. Anatoly Mateyko é o chefe do "Ukrenien Diagnostic Parental Center".


À época do acidente, era membro do Parlamento e foi parte da Comis-
são Parlamentar formada para estudar a situação)

Deve-se considerar também o tremendo impacto psicológico so-


bre os habitantes das regiões afetadas. Além do enorme trauma causa-
do pela evacuação a que foram submetidos de uma hora para outra,
levando apenas a roupa do corpo, estas pessoas sofrem com a perda de
parentes e amigos, o desemprego e a falta de recursos para sobrevivên-
cia, entre muitos outros problemas. Sofrem também a terrível insegu-
rança de desconhecerem o quanto as radiações sofridas afetam sua saú-
de atua I e futura, assi m como a de seus desce ndentes. Um senti mento
sempre presente de que graves doenças e mesmo a morte podem surgir
de uma hora para outra causa um profundo estresse, impedindo que as
pessoas ten ham u ma vida normal.

"Chernobyl é terror; é terror para todas as coisas do futuro. Faz-nos des-


confiar do bosque, da água límpida e até do céu. Agora tenho medo de ir
ao médico. Não sei o que ele dirá após o exame, O ataque invisível da
radioatividade poderá levar algum tempo, mas virá com certeza. "

(Volga Semiantchuk, aluna da I1ª série da 29ª Escola Média da cidade de Gómel)

Eu era amiga de alga, desde que éramos bem pequenes .., Nós éramos
mais que irmãs, éramos inseparáveis ... Na prima vere, alga sentiu-se mal
e os médicos descobriram que ela tínha um sercome, um tumor
mortal..Mais tarde, um dos médicos disse bruscemente para levarem-
na para morrer em casa ..,Agora não sei como viver sem ela. Eu sei que
nunca mais vou encontrar uma amiga como Olga. Perdi metade da mi-
nha vida, metade de mim, metade do mundo. Por que os adultos criaram
esse tipo de desastre? Nós não fizemos nada de errado. Eu e minha amiga
tínhamos apenas três anos quando o reator explodiu, Eu fico pensando
se não vou ter o mesmo fim que ela. 29
-----~~~~~----------------------------_ .. _-

(Eugênia Oudarova, 13 anos, foi evacuada de Pripyat, assim como sua


melhor amiga, O/ga, que mais tarde morreu de câncer.)

Alguns danos são difíceis de se contabilizar. Por exemplo, o caso


das cerca de 4.000 famílias que perderam seu sustendo por morte ou
invalidez decorrentes do acidente, das milhões de crianças e adoles-
centes que vivem longe de parentes, com sua saúde comprometida e
sofrendo limitações de todos os tipos.

"Para quê nós estamos vivendo?


Está proibido entrar na floresta. Também não se pode brincar no campo.
É proibido pescar.
Porém, é permitido viver."

(Evguéni Petrechévitcb, a/uno da TOi! série da escola Média Mikhnovitch


do município de Kolinkovitch)

Do ponto de vista econômico, os dados também são imprecisos e


controversos. Mas de qualquer modo, trata-se de cifras altíssimas.
Como consequência do acidente já foram gastos muitos bilhões
de dólares. Apenas em BeLarus, fala-se em prejuízos de US$ 255,00 bi-
lhões até o ano 2015 (21 vezes o orçamento do país em 1991).
Aos custos demandados pela Limpeza, evacuação e reconstrução
de muitas cidades, soma-se a necessidade de equipamentos médicos e
de atendimento especial para a população. Também deve ser considera-
da a inutilizarão. por décadas, de extensas áreas de terra, comprome-
tendo seriamente a produção agrí co la, atividade de grande importância
na região. Para a Ucrânia, particularmente, ainda acrescentam-se os
problemas e gastos com o reator, que ainda não está "morto".
Os dois quadros seguintes mostram alguns dos efeitos devastadores
que a radiação emitida no acidente nuclear de Chernobyl vem causan bdo
até hoje nas populações afetadas. Ainda que sejam números e estimativas
aproximados, provam que Chernobyl não é um problema do passado, mas
uma tragédia humana viva, que está marcando muitas gerações.

"...Mesmo assim, estou ansiosa para que, na história de minha pátria,


esta seja a última página sobre o acidente de Chernobyl. Tenho um so-
nho: que algum dia, pelo menos na época de nossos netos, os rios e as
lagoas vivam outra vez e a chuva proporcione novamente a vida. E outra
30 vez o sol, com sua luz mágica, aqueça meigamente a minha querida e
cansadíssima Terra. Devo dizer, sinceramente, que estou sonhando. Mas,
se não for assim, não conseguirei viver. rr

(Volga Semisntchuk; aluna da 11ª série da 29{j Escola Média da cidade de Gómel)

Os depoimentos de crianças e adolescentes foram fei tos para um concurso de redação


entitulado "Chernobyl e Meu Destino", realizado em 19% na República de Belarus.
Parte deles foram extraídos do livro "Bonecos de Neve e Chernobyl". publicado pela
Academia de Ciências do Estado de São Paulo, em abril de 1996. (Toda renda do livro
será destinada às crianças vítimas do acidente de Chernobyl).

Dados relativos aos três países mais afetados:


Ucrânia, Belarus e Federação da Rússia,' ~ Fonte:
Do partame"lode
• População evacuuda - número mínimo estimado de pessoas forçadas a sair de suas casas A.sunlo •
Humanitarios das
- 400.000, sendo: 150.000 bielo-russus, 150.000 ucranianos, 75.000 da federa~ão da Rússia.
Naçõtls UI.idllS,
• Pcpulcção afetada - os três países oficiaLmente estimam que pelo menos 2...tl1.illli~.de pessoas ".Ialô,io de
estão de aLgum modo afetadas pelo acidente, vivendo em áreas consideradas contaminadas, Socra1aria Geral.
1995.
BieLo-Russia :..1...2mJ1Mli (segundo o Comitê de Chernobyl do Parlamento BieLQrU5SQ)011
2 milhões (segundo UNICEF), vivem em regiões com contaminação superior a 5 Curle/km',
- Ucrânia (segundo MinistÉrio da Ucrânia para Chernobyl); J..JLm.!.l.hÕtl de pessoas,
incluindo 800,000 crianças foram afetadas.
- Rússia - JmHMu de pessoas ainda vivem no território onde o níveL de radiação é
mais que 5 curiejkm'.
• Crianças - Crianças são as mais susceptíveis ao desenvoLvimento de doenças. O câncer de
tlreóide é a mais séria delas.
Na Ucrânia, 2 milhões de crianças, de um totaL de 12 milhões, vivem em ronas contami-
nadas (mais que 5 curle/km'), Em BeLarus, 500.000 crianças com menos de 14 anos e na o C.,i. (CO ê unia
Rússia, outras 500.000, unidade de medida
o Câncer de tirôide ' os três países têm registrado aumentos dramáticos de casos em crianças. d•• li. idade de uma
substância rauluau-
BieLo-Rússia: 21 casos entre 1966 e 85; 379 casos entre B6 e 95. Ucrânia: 25 casos VA. R19pr939l1ta o nu~
entre 81 e 85; 208 entre 86 e 94.Rússia: 1 caso entre 86 e 89; 23 entre 90 e 94. mero de desintegre-
• Contaminação ambiental - Bielo-Rússia: estima que 30% dos seus 208.000 km' foram çOes por uuulade d•
talllpo.
contaminados em vários graus.
1 Ci ê iguol • 3,7 x
Ucrânia: estima que 7% dos seus 600.000 km' tornaram-se inutilizáveis. lO" do.integrações
Rússia: 1-6% de seu território europeu, ou 57.650 km' estão contaminados por radioa- p-or sog unrlo.

tividade em taxa maior que 1 curle de césio / km'.


• Custos' A Ucrânia dlspenda 4% de seu orçamento an uat para remediar os problemas
causados pelo acidente, enquanto o necessário deveria ser pelo menos 20%; BieLo-Rússia
tem gasto 20% de seu orçamento e a Rússia 1 %.

31
i Esses dados 10m Chernobyl em números"
números.
ap,oximados) .io da
rentes divBNlBS. 160,000 km' de áreas consideradas contaminadas
citadas n-o ht.Kto, Et
400,000 pessoas foram retiradas de suas casas
rofBrom~se aos tros
pafs.ea mais 600 pessoas vivem na "Zona de Exclusão"
.l.l"dos: llcrânin. (30 km ao redor do reator)
Bo)a",o e Rússin,
9,000,000 pessoas vivem em áreas contami nadas
3,000,000 de crianças vivem em áreas contaminadas
3.000.000 de cidadãos da Ucrânia são considerados oficialmente vítimas
do acidente (não incluindo Kiev, a capital),
sendo 650.000 crianças e adolescentes,
6.000 pessoas trabalham na central nuclear
800.000 pessoas participaram dos trabalhos de emergência e limpeza
(Iiquidadores)
30 anos é o tempo estimado de vida útil do reator
3% do combustível do reator vazou após a explosão
(versão oficial)
60 a 80% do co mbustivel do reator vazou após a explosão
~nVIHd~mir (versão de Chernousenko)"
Chorn.lIsonk.,
US$ 5,86 bilhões foram gastos na li mpeza da reqiüo e no deslocamento
di,.t., cionll1io. da
lona da •• ol.sil., da população entre 86 e 89
31 é o número oficial de mortos
7 a 10,000 é o número de mortos segundo estimativa de
Chernousenko, em 1991.

"",Se me perguntassem qual o meu maior desejo, eu


responderia assim: que nunca mais se repita o dia 26 de
Abril de 1986 sobre um planeta azul chamado Terra,"

(Elena Jingunova, 16 anos, aluna da Escola Técnica


Profissionalizante da cidade de Gómel)

32
nu

Origens e desenvolvimento

A fissão nuclear provocada artificiaLmente teve seu nascimento


pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Mostrou que seria
possível controlar e transformar as i ncríveis energias do núcleo atômi-
co em potentes armas nuclea res.
Esse passou a ser o objetivo de cientistas e militares das grandes
potências, no final da década de 30. As intensas pesquisas reaLizadas
foram "coroadas" em 1942, quando um grupo de cientistas da Universi-
dade de Chicago construiu o primeiro reator de fissão controlada do
mundo. Foi o início da chamada "era atômica",
Desde as suas origens, a indústria nuclear teve um estreito víncu-
lo com interesses bélicos e militares. E por isso, em todo o mundo,
sempre esteve envolta por um clima de grande sigilo. O reator de Chica-
go, por exemplo, serviu como protótipo para a construção das bombas
atômicas que, três anos depois, em agosto de 1945, seriam lançadas em
duas cidades japonesas, Hiroshirna e Nagasaki.
Os resultados do bombardeio foram catastróficos e assustadores:
até o final de dezembro de 1945, haviam morrido em Hiroshima aproxi-
madamente 140 mil pessoas (40% da população) e 74 mil em Nagasaki
(26% da população).
Os primeiros reatores nucleares construídos no mundo, nos Esta-
dos Unidos, França, Grã-Bretanha e União Soviética destinavam-se a
fi ns bélicos: obter plutônio a parti r da fissão do urâ nio, para a constru-
ção de armas nucleares.
A utilização da energia nuclear para obtenção de energia elétri-
ca só surgiu algum tempo depois. Em 1956, na Inglaterra, foi inaugu-
rado o primeiro reator para produção de energia elétrica em escala
i ndustrial, em Windsca le.
A indústria nuclear, desde então, teve um desenvolvimento as-
sombroso. Mas, se por um lado passou a ser "vendida" como a grande
esperança do século para as soluções energéticas do planeta, também
gerou grandes problemas e oposições. 33

Me 1
--- ------------------- -- -------------------------~--------,
Crise e situação atual

Em 31 de dezembro de 1995 havia no mundo 430 reatores nucleares


comerciais. Somavam uma capacídade de 340 Gigawatts (340 bilhões de watts),
representando 17% da energia elétrica consumida no planeta, Sem dúvida, um
número muito grande para uma
fonte de energia que foi desco-
berta há apenas 50 anos. Contu-
do, esse número é inferior às es-
timativas feitas em outras épo-
cas, e indica que hoje essa fonte
de energia está em crise.
Na década de 60 e 70 vá-
rios incidentes com reatores
nucleares levaram a muitas crí-
ticas, receios e oposições ao
seu uso. O caso da usina de
Three Mile Island, nos EUA, em
1979, veio acentuar essa crise.
Desde então a produção mundial de reatores nucleares vêm
desacelerando visiveLmente. A partir de meados da década de 70, o número
de usinas canceladas foi maior que o de usinas construídas. Só nos Estados
Unidos, entre 1975 e 1983, 87 centrais nucleares foram canceladas.
Com o acidente de ChernobyL essa tendência aumentou ain-
da mais. Além da queda no número de encomendas, muitos reato-
res foram desativados.
Ao longo das últi-
60
mas décadas, o aLto cus-
50 to das usinas mostrou
que, aLém do risco de
40
acidentes e do probLema
30
do lixo atômico, a ener-
gia nuclear não apresen-
20 tava vantagens econô-
micas. Muito ao contrá-
10
rio, demonstrou ser al-
o tamente dispe ndiosa,
1910 1975 1980 1985 além de esta r associada
19DO
Ano
à proliferação das bom-
Declínio nas encomendas de r e atur es
n 11 G 16 A res fi o nJIInd o bas atômicas.
Diante dessa soma de problemas, o otimismo da década de 50 desapa-
receu. A indústria nuclear enfrenta, hoje em dia, uma grande crise de
confiabilidade na maior parte do mundo. O acidente de Chernobyl sem dúvi-
da representa um marco nessa crise. Foi, possivelmente, o golpe mais pro-
fundo no "sonho nuclear". Ativação e desatlvaç ãn
40
. No entanto, o uso
da energia nuclear ainda
está em debate. Há quem
o defenda ferren ha mente,
e os seus "vendedores" 20

procuram resistir à crise.


Mas também cresce a opo-
sição e a resistência nos
mais diferentes níveis.
Muitos países vêm
1965 1960 196G 1970 1975 1980 1985 1990
assumindo uma posição de Ano
Reatores construídos
"moratória": aceitar os re- Re ato r a si c h ad os
B

atores que já existem não


construir novos. Com isso, em alguns anos, o uso da energia nuclear para
geração de eletricidade estaria abandonado, pois os atuais reatores não se-
riam substituídos. EUA, Alemanha e Itália são alguns dos países próximos
dessa posição. Na Suécia, Áustria e Holanda, essa medida já foi adotada.

Fontes alternativas
Uma questão cada vez mais presente, especia lmente se o mundo
abrir mão da energia nuclear, é:
Que fontes podem fornecer a enorme demanda energética do planeta?
A resposta a essa questão não é simples e não existe uma única
solução; as alternativas são muitas.
As fontes convencionais de energia, como os combustíveis fósseis -
petróleo, carvão mineral e gás natural - usados nas usinas termoelétricas,
têm contribuído com a maior parcela de recursos energéticos no mundo,
cerca de 80%. Entretanto, essas fontes têm reservas limitadas, não são
renováveis e lançam na atmosfera gases tóxicos e poluentes, causando
danos ao ambiente e podendo provocar sérios problemas no futuro.
Contudo, existem inúmeros recursos naturais no mundo ca pazes
de gerar energia elétrica, como a luz solar, o vento, as quedas d'água,
as marés e as ondas oceânicas, os vapores provenientes da terra e a
biomassa, entre outros (veja quadro). 35
Para que a humanidade possa usufruir desses recursos, é preciso
pesquisar e desenvolver novas tecnologias e adequar a escolha a cada
país ou região, de acordo com suas particularidades: fontes e recursos
disponíveis, características topográficas, geológicas, climáticas, con-
dições econômicas, entre outras.
Além disso, o problema não se limita apenas à produção de mais
energia, mas também exige mudanças nos padrões de consumo da po-
pulação, para uma maior economia e racionalização de seu uso.
É de se questionar se não seria o caso e o momento de transferir
pelo menos parte das consideráveis somas de dinheiro empregadas na
energia nuclear para pesquisa de novas fontes alternativas, materiais,
tecnologias e maior eficiência energética.
No mínimo, isso reduziria o enorme preço que a humanidade paga
pelos riscos da energia nuclear, E esse mínimo pode representar muito
pa ra as futuras gerações.

Fontes de Energia
Fontes convencionais não-renováveis
• Combllstfvels fõssets : petróleo, carvão mineral, gás natural.
Uso para geração de energia elétrica: usinas termoeletricas
Problemas: [onte não-renovável, reservas limilodas, produçõo de polI/entes na atmosfera (monóxido
de carbono, óxidos de enxofre e nitrogenio) que causam danos ambientais e climáticos (chuva
ácido, efeito estufa), prablema.\ ombtentuis na extraçao, purijicoçõo e tronsporte.

Fontes naturais renováveis


• Sotar - captação terme sotar: uso da luz solar concentrada para aquectmento de catdel-
ras, gerando vapor,
• geração fotovoltalca: conversão direta da luz solar em eletricidade, através de célu-
las fotovoltaicas.
• Eótlca· aproveitamento da energia dos ventos, através de cata-ventos.
• Geotérmlca - jatos
naturais de água quente ou vapor proveniente de grandes profundi-
dades da terra (gêiseres); podem ser usados para geração de energia termoelétrica.
• Hldróulica· usinas hidrelétrtcas. aproveitamento da energia de quedas d'água represadas
• cata-água: aproveitamento da correnteza natural de rios, sem construção de barragens.
• Marês· aproveitamento dos desníveis de água provocados pelas marés, com construção
de barragens e instalações geradoras de eletricidade,
• Gradiente térmico das O(o1anos " geração de energia a partir das diferenças de tempera-
tu ra entre a superfície e o fundo do mar.
• Ondas - aproveitamento da energia de movimento das ondas.
• Correntes oceânicas -uso da energia de movimento de massas de água dentro dos oceanos
• Biomassa : uso de materiais constituídos de substâncias de origem orgânica (animais,
vegetais, micro-organismo): lenha; plantas cultivadas (cana-de-açúcar, beterraba, dendê,
mandioca, 3guape, sorqo): óleos vegetais; carvão vegetal; ãlccot etilico, resíduos agri-
colas, pecuários e urbanos (biogás),
36
Breve histórico

o
Brasíl não escapa do que se passa no resto do mundo, guarda-
das as suas particularidades.
Já na década de 50 havia interesse, por parte de cientistas, de se
desenvolver tecnologia na área nuclear.
Os Estados Unidos, constatando o inevitável crescímento do setor
nuclear em vários países, decidiram deixar de ter o monopólio dessa
tecnologia e passaram a difundi-la, "orientando" os países menos de-
senvolvidos e criando um mercado para vender os produtos nucleares
produzidos pelas indústrias norte-americanas. Era o programa denomi-
nado "Átomos para a Paz".
Usinas nucleares Angra I e Angra II (em construção).
Foi no âmbito desse programa que, ainda na década de 50, foram
instalados os dois primeiros reatores nucleares no Brasil: um em São
Paulo e outro em Belo Horizonte. Esses reatores destinavam-se à pes·
quisa e produção de radioisótopos para uso na medicina e na indústria.
Em 1968, no governo Costa e Silva, foi decidida a compra de um
reator de potência, com vistas à geração de eletricidade. Não por acaso
foi escolhido um reator da empresa Westinghouse, norte-americana.
Tratava-se, contudo, de um
pacote tecnológico fechado, uma
compra do tipo 'chaves na mão'. O
reator foi adquirido pronto e aca-
bado. Era um reator do tipo PWR
(reator de água pressurizada), de
627 Mw de potência elétrica. O
combustível, urânio enriquecido,
uma vez usado deveria ser devol-
vido para reprocessamento. Bati-
Lo callz açãu du An!]nl dos Reis em r elnção a Hiu d u
Janeiro, S~O Paulo e Balo Horiwnte. zado de Angra f, a construção do
reator foi iniciada em 1971.
A grande crítica à aquisição do reator de Angra 1, especialmente
por parte da comunidade científica brasileira, era a política imediatista
adotada, de total dependência externa, tanto do combustível como de
know-how científico e tecnológico. A participação de cientistas e da
indústria nacional era praticamente nula nesse programa.
Mais tarde, por interesses políticos e militares, o programa nu-
clear brasileiro sofreu algumas mudanças. A vantagem que a Argen-
tina levava na área nuclear, pois desde o início desenvolvera seus
próprios reatores, pesou nas preocupações dos militares brasileiros,
que decidiram investir num programa nuclear de grandes proporções.
Assim, em 1.975, foi assinado um tratado com a República Federal
da Alemanha, o chamado "Acordo Nuclear Brasil-Alemanha". Esse acor-
do previa a implantação de oito usinas nucleares, com transferência de
tecnologia nuclear para o Brasil, incluindo o enriquecimento do urânio,
com uma perspectiva de maior autonomia do país nesse setor.
A primeira consequência prática do acordo foi a compra de dois
reatores da empresa alemã KWU, Angra II e Angra III.
Apesar de uma pequena abertura em relação à política totalmente
dependente que vigorava até então, após algum tempo o acordo com a
Alemanha também revelou-se inviável, gerando para o Brasil mais pro-
38 blemas do que soluções.
Atransferência de tecnologia foi mínima e o método de enriquecimen-
to do urânio empregado Gatos centrífugos), sem comprovação industrial,
tem apresentado inúmeros problemas operacionais e um custo altíssimo.
Vale lembrar que todas as medidas adotadas pelo exército e pelo
governo brasileiros ao longo desses anos foram feitas à reveLia da socieda-
de, sem levar em conta a opinião da comunidade científica e da população.

A situação atual
As previsões iniciais para Angra I eram que ficasse pronta em 1977,
a um custo de US$ 5 milhões. Contudo, devido a uma série de dificulda-
des administrativas e a vários incidentes, inclusive um incêndio no can-
teiro de obras, a usina só entrou em operação comercial em 1985, sete
anos depois do previsto e muito aci ma do orçamento inicial. Segundo
dados oficiais de Furnas Centrais Elétricas, os custos de Angra I foram de
US$ 1,5 bilhões e segundo o
TCU (Tribunal de Contas da
União), US$ 3,9 bilhões.
Mas nem por isso a situ-
ação de Angra I se normalizou.
Incidentes continuam ocorren-
do e os custos vêm superando
todas as estimativas. Além dis-
so, desde 1981 foi detetado um
sério erro no projeto da
Westinghouse do gerador de
vapor. Devido a estes e ou-
tros problemas, Angra I já foi paralizada mais de 20 vezes, além de
operar com baixo fator de produção de eletricidade.
Quanto ao Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, apenas dois dos oito
reatores previstos estão em construção - Angra II e Ang ra III - e com
bastante atraso.
Assim como no caso de Angra I, os problemas vêm sendo muitos.
A construção de Ang ra II fi cou paraLizada por quase 10 anos, devido em
parte à falta de verbas, a uma menor demanda de eletricidade, e a
inúmeros movimentos de oposição. Atualme nte, cerca de 70% da cons-
trução está concluída, e anuncia-se para este ano uma questionável
retomada das obras.
Seg undo Furnas, já fora m gastos em Angra Il US$ 5 bilhões e a
estimativa é de se gastar mais US$ 1,5 bilhões. Segundo dados de um 39
"lido Luis âauer, do técnico indepe ndente", a ob ra co mpleta de Ang ra II já consumiu cerca
1001;1"10 de E•• rgi.
Elótrica. usp de US$ 10 bilhões e deverá ati ngir US$ 12 biLhões até 1998.
O que se verifica, de fato, é que o programa nuclear brasileiro
está "em ponto morto", O próprio governo reconhece hoje o que sempre
negara enfaticamente: pelo menos nas próximas duas décadas a energia
nuclear no Brasil não é competitiva com a hidrelétrica.

o Brasil necessita de energia nuclear?


Al.ém de todos os problemas envolvidos no uso da energia atômi-
ca, no caso brasileiro somam-se outras questões, como as dificuldades
operacionais, o baixo aproveitamento energético de Angra e uma peri-
gosa desconsideração pelo lixo atômico. Não há nada previsto na cons-
tituição brasileira para regulamentar esse problema e Furnas se exime
das responsabilidades.
Deve-se ainda considerar que o Brasil tem um enorme potencial
de energia hidrelétrica, taLvez o maior do mundo, devido à sua imensa
rede fluvial. Além de ser limpa, não poluente e renovável, essa fonte de
energia apresenta uma série de vantagens em relação à nuclear: é segu-
ra e mais barata, gera mais empregos e tem tecnologia nacional.
E não apenas isso.
Dadas as características do Brasil, de dimensões continentais e
com graves problemas sociais e econômicos, muitas outras alternativas
podem ser desenvolvidas em escalas menores para atender a um consu-
mo localizado, como é o caso da energia solar eólica, e da biomassa.
Uma produção descentralizada de energia a partir de fontes alter-
nativas, que aproveite os recursos locais, possibilita soluções mais ade-
quadas e custos globais menores. Nas regiões mais pobres e isoladas,
onde os sistemas convencionais têm difícil acesso, essas soLuções po-
dem contribuir para a melhoria da qualidade de vida das populações.
Finalmente, uma solução a curto prazo é o investimento em medi-
das e tecnologias que visem mais eficiência e conservação da energia.
Economizar e racionalizar o uso é um exceLente caminho para reduzir a
demanda e os custos.
Esses são apenas alguns indícios e caminhos que respondem a nos-
sa pergunta inicial: o Brasil tem inúmeros recursos energéticos disponí-
veis e pode adotar medidas que dispensem totalmente a energia nuclear.

40
Livros de divulgação SAGAN, Carl, TURCO, Richard. O caminho
ou paradidáticos que nenhum homem trilhou: oi nverno nu-
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MENEZES, Luis Carlos de. O Brasil nucle-


ar: um triste balanço. São Paulo em Pers,_
~, 3(4). São Paulo, 1989.
42
or
o acidente nuclear de Chernobyl, tratado neste texto, não é propriamen-
te um tema curricular. Não faz parte do rol de conteúdos disciplinares do
ensino de primeiro ou segundo graus. Isso pode ser motivo de inquietações e
dúvidas quanto a tratá-lo em sala de aula.
Contudo, assim como muitos outros problemas do mundo contemporâ-
neo, os varias aspectos envolvidos na opção pela energia nuclear são de gran-
de importância para a formação de qualquer cidadão. É um debate atua l que
atinge a todos, em qualquer parte do mundo. E o Brasil não está fora disso.
Infelizmente, são acontecimentos como esse acidente que acabam por
levar informações, substituindo quem tinha antes o dever de informar e, mais
que isso, de formar a população. E essa é uma função prioritariamente da
escola. É nela que importantes conhecimentos podem ser adquiridos pelos
jovens, permitindo que desde já e até sua atuação como cidadãos e profissio-
nais, possam participar critica e ativamente do mundo em que vivem. E quem
sabe, assim, possam contribuir para que desastres desse tipo sejam evitados.
Para julgar e decidir, antes de tudo é preciso conhecer.
Esse texto é um subsídio para que, mesmo não dispondo de muito tempo
e material, o professor possa levar esse debate à sala de aula. Ainda que seja
apenas para começar, pa ra 'levantar a bola', suscitar questões, responder algu-
mas dúvidas e curiosidades.
°
Como tema é amplo, envolvendo muitas informações, idéias e concei-
tos, as formas de abordá-lo podem ser diversas, de acordo com as condições de
cada escola, professor ou aluno: o tempo disponível, as informações e con he-
cimentos prévios, o interesse ou motivação.
Por isso não há receitas.
São muitas as possibilidades de tratá-lo: desde uma breve exposição das
questões mais gerais, ocupando uma única aula, até o desenvolvimento com
os alunos de pesquisas e trabalhos com maior profundidade ou abrangência, ao
longo de um período maior. Entre uma coisa e outra, há espaço para diversas
dinâmicas ele trabalho em sala de aula: levantar questões para serem
aprofundadas em outras oportunidades, sugerír trabalhos de pesquisa sobre os
diferentes aspectos envolvidos, reunir bibliografias - livros, textos, matérias
de jornais e revistas, vídeos - para constituir um pequeno acervo para uso da
escola ou da classe, confeccionar murais, propor aos alunos que façam entre-
vistas a especialistas das várias áreas, dividir a classe em turmas que defen-
dam e ataquem O uso da energia nuclear, passar questionários, levar os alunos
a exposições, centros de ciência ou eventos sobre o assunto.
É importante considerar, também, que o tema tratado no texto é
interdisciplinar. Abrange conteúdos de muitas áreas de conhecimento: física,
química, biologia, matemática, geografia, história, e OSPB, Em cada uma des-
sas disciplinas o assunto pode ser desenvolvido segundo as suas especificidades.
Esse caráter interdisciplinar possibilita um trabalho conjunto na escola,
envolvendo vários professores. Uma idéia interessante, por exemplo, seria rea-
lizar em toda a escola algo como uma "Semana Chernobyl". Durante uma sema-
na, cada matéria selecionaria um aspecto de interesse, desenvolvendo traba-
lhos em sala de aula, que culminariam com atividades conjuntas: apresenta-
ções de trabalhos, murais, seminários, debates, esquetes de teatro, projeção
de filmes ou qualquer outra.
Mas voltamos a enfatizar que mesmo que um professor dedique uma única
aula para conversar com os alunos sobre o assunto, usando o texto como um mate-
rial de apoio, já estará dando um passo importante na formação de seus alunos.
As questões que seguem podem ser usadas como um guia para a discus-
são, eventuais trabalhos e atividades a serem realizadas pelo professor.
üuestõ pa p red
A. Algumas questões para introduzir e/nu encerrar
os trabalhos em classe.

Essas questões, de caráter mais pessoal, poderiam ser colocadas aos


alunos antes e depois do assunto ser tratado, comparando-se e discutindo-se
as respostas nos dois momentos.
1. Você já tinha alguma informação anterior sobre o acidente em Chernobyl?
Quais? Como se informou?
2. O que mais impressionou você em relação a esse acidente?
3. Quais as suas principais dúvidas ou curiosidades sobre esse tema?
4. Como você relataria esse acidente a alguém?
5. Para que você acha que serve um reator nuclear?
6. Quais os aspectos positivos e negativos da energia nuclear a seu ver?
7. O Brasil possui reatores nucleares?
8. Você acha que seria possível ocorrer um acidente como esse no Brasil?
9. Na sua opinião, o Brasil necessita de energia nuclear? Por que?
10. Você acha que esse tipo de assunto deveria ser tratado na escola? Como?
Por quê? Em quais disciplinas?

B. Roteiro de questões para tratar dos


aspectos mais gerais do texto:
1. Localização e caracterização de Chernobyl: onde fica, cidades próximas, popu-
lação, descrição das características principais da cidade antes do acidente.
2. Em que época foram construídas as usinas nucleares de Chernobyl? Quantas
eram? Qual o seu potencial de geração de energia elétrica?
3. O que se dizia sobre a segurança das usinas, antes do acidente?
4. Como ocorreu o acidente em abril de 1986?
5. Quais as principais consequências do acidente em Chernobyl?
6. Quais os países mais afetados?
7. Como vivem as pessoas hoje em Chernobyl e arredores?
8. Qual a atual situação do reator acidentado?
9. Quais os principais problemas associados ao uso da energia nuclear?
10. Que outras fontes de energia podem ser usadas para a geração de eletrícidade?
11. Qual é a situação atual da energia nuclear no mundo?
12. E no Brasil?
C. Outras questões para aprofundar .
(utilizando o texto mais bibliografia sugerida)
1. O que é fissão nuclear?
2. Como se produz uma reação em cadeia?
3. Qual a principal diferença entre um reator nuclear e uma bomba atômica?
4. O que significa dizer que um certo elemento ou material é radioativo?
5. De que maneira um reator nuclear produz energia elétrica? Qual o seu prin-
cípio básico de funcionamento?
6. O que é o urânio enriquecido?
7. Compare o funcionamento de uma usina hidrelétrica, uma termoelétrica e
uma nuclear. Quais as semelhanças e diferenças mais importantes? Quais
as principais vantagens e desvantagens de cada uma delas?
8, O que significa um "meqawatt"?
9, O que é e como é produzido o lixo atômico? Por que é um problema?
10. Quais as consequências de acidentes nucleares?
11. O que é radiação ionizante? Por que pode causar danos às pessoas?
12. Quais os principais efeitos das radiações?
13. O que são radiações alfa, beta e gama?
14. Como uma pessoa pode ficar contaminada? Qual a diferença entre con-
taminação e irradiação?
15. O que é radiação de fundo?
16. Quais as principais fontes de radiação artificial a que estamos expostos?
17. Que outros acidentes nucleares ocorreram no mundo?
18. O que são e para que servem os "testes nucleares"? Eles são permitidos?
19. Quais as principais consequências das bombas lançadas sõbre
Hiras hi ma e Nagasa ki?
20. Qual a situação da energia nuclear no mundo? (Quantos reatores, como
estão distribuídos no mundo, qual a posição de diferentes países, quais já
abandonaram a energia nuclear, etc .. )
21. Quais as principais fontes de energia que podem ser usadas para geração
de eletricidade? Que vantagens e desvantagens apresentam?
22. Quantas usinas nucleares possui o Brasil? Onde se localizam e em que
situação se encontram?
23. O que se diz sôbre a segurança das usinas de Angra dos Reis? Existem
estudos e normas sobre medidas a serem tomadas em caso de acidente?
24. Quais os principais "prós" e "contras" ao uso da energia nuclear no Brasil?
25. Quais os principais recursos energéticos do Brasil? Existem estudos e pro-
postas sôbre o uso desses recursos?
26. Quais as principais usinas hidrelétricas do Brasil? Onde se localizam?
E as termoelétricas?

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