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Parintins/Am
2018
1
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS – UEA
Parintins/ Am
2018
2
IDÁLIA HENRIQUES DE MELO
BANCA EXAMINADORA
Parintins/Am
2018
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Sumário
RESUMO: .................................................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 6
A LITERATURA INFANTIL E JUVENIL NO BRASIL: SUA TRAGETORIA ATÉ OS
DIAS ATUAIS ............................................................................................................................. 7
A LITERATURA DE LYGIA BOJUNGA ............................................................................. 10
METODOLOGIA ..................................................................................................................... 14
A BOLSA AMARELA: UM MUNDO ESCONDIDO ........................................................... 16
CONSIDERAÇÕES FINAIS: .................................................................................................. 24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 26
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A LITERATURA INFANTO JUVENIL DE LYGIA BOJUNGA: UMA
IMPORTANTE ANÁLISE SOBRE AS CRÍTICAS SOCIAIS PRESENTES NA
OBRA A BOLSA AMARELA
RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo analisar uma obra da Literatura Infantojuvenil produzida
pela escritora Lygia Bojunga, levando em conta as críticas sociais presentes em A bolsa amarela, publicado
em 1976 e desde então traduzido em vários idiomas. A obra trata dos problemas existentes nas relações
humanas e faz críticas importantes, por meio de vasta simbologia da realidade social. A narrativa traz o
conflito interior e familiar que Raquel vive, porém, de forma bem humorada. A personagem cria um mundo
imaginário onde é possível viver sonhos com amigos que entendem e respeitam suas vontades. Nesta análise
proponho-me a investigar como a crítica social se permeia entre o real e o fantástico colocado pela autora.
Como suporte teórico, fez-se necessário estudiosos que contribuem significativamente com a temática deste
trabalho, como: Arroyo (2011); Cristófono (2010); Lajolo e Zilberman (1988), Malheiros (2000) entre
outros que vieram cooperar para o desenvolvimento do trabalho.
Palavra-chave: Literatura Infantojuvenil. Lygia Bojunga. A Bolsa amarela.
ABSTRACT: The present work has the objective of analyzing a work of the Child and youth Literature
produced by the writer Lygia Bojunga, taking into acciunt the social critics present in The yellow bag,
published in 1976 and since translated in several languages. The book deals with the problems that exist in
human relations and makes important criticisms, through a vast symbology of social reality. The narrative
brings the internal and familiar conflict that Raquel lives, however, in a humorous way. The character
crestes na imaginary world where it is possible to live dreams with friends who understand and respect their
wishes. In this analysis i propose to investigate how social criticismo permeates between the real and the
fantastic placed by the author. As a theoretical support, it became necessary for scholars to contribute
significantly to the therme of theme of this work, as: Arroyo (2011); Cristófono (2010); Lajolo e Zilberman
(1988), Malheiros (2000) among others who came to cooperate for the development of the work.
Key- words: Infantojuvenil literature. Lygia Bojunga. The yellow bag.
1
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Letras do Centro de Estudos Superiores de Parintins
da Universidade do Estado do Amazonas.
2
Profª. Msc. Do Curso de Licenciatura em Letras da Universidade do Estado do Amazonas-UEA.
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INTRODUÇÃO
A literatura Infantojuvenil consiste em um gênero literário dedicado
especialmente para crianças e jovens, com características próprias e originais veem
ganhando espaço e consequentemente se promovendo no âmbito literário.
Na esfera educacional, as literaturas infantis e juvenis apresentam várias
modalidades e estabelecem novas possibilidades de leitura conforme as crianças e os
jovens leitores exploram os livros. Porém, essas novas possibilidades não estão apenas
ligadas ao caráter pedagógico, mas também no campo da construção do senso crítico do
indivíduo. É desta forma que esta pesquisa se permeia sobre o campo da literatura, através
de uma análise da obra A bolsa amarela da escritora Lygia Bojunga e propõem-se
evidenciar as críticas sociais feitas por Bojunga levando em conta o plano real e fantástico
da narrativa, como objetivo central dente artigo, uma vez que o trabalho com textos
literários tem um importante papel no processo de formação de sujeitos críticos e
reflexivos.
O interesse por essa linha de pesquisa surgiu a partir da disciplina Literatura
Infantojuvenil, ofertada pelo curso de Letras. Através desta disciplina tive o primeiro
contato com a autora e consequentemente com a literatura produzida por ela, haja vista,
que Bojunga constrói as suas narrativas usando a infância como tema principal. Suas
obras permeiam entre realidade e fantasia, o que pode proporcionar à criança um caminho
para a maturidade e para a busca de sua identidade e isso se torna evidente no decorrer da
pesquisa. Desse modo, a relevância em abordar essa temática consiste na promoção da
literatura Infantojuvenil e reflexão sobre o papel do texto literário para a construção de
sujeitos críticos.
Ao analisar a obra A bolsa amarela, compreende-se a necessidade que o
indivíduo tem de ser compreendido em qualquer fase da vida, principalmente na infância,
pois a não compreensão desse indivíduo, influência para o surgimento de conflitos
internos que afetam na sua aceitação e reafirmação de sua identidade.
O trabalho é de cunho bibliográfico, pois se trata de uma análise do livro A bolsa
amarela, por isso a necessidade de recorrer a autores que discutem sobre a literatura
Infantojuvenil desde o seu surgimento até a atualidade. As etapas da pesquisa se deram
por meio de pesquisas de estudos relacionados ao tema, leituras e fichamentos, escolha
dos principais autores, pois são muitos os que discorrem acerca da temática proposta,
análise e produção do texto. Os autores escolhidos para compor o corpus do trabalho são
referência na área literária. Também no que diz respeito à escolha de tais autores, explica-
6
se o fato que seus trabalhos contêm informações de que necessitei ao longo da realização
desta pesquisa.
7
No começo do século XX esse cenário começa a mudar, pois Monteiro Lobato
publica em 1921, Narizinho arrebitado. A partir daí, surge um novo rumo da literatura
Infantojuvenil no Brasil, iniciando assim uma nova fase literária da produção brasileira
destinada a crianças e jovens. Segundo Arroyo (2011, p. 198)
Embora estreando na literatura escolar com Narizinho arrebitado,
Monteiro Lobato trazia já com seu primeiro livro as bases da verdadeira
literatura infantil brasileira: o apelo À imaginação em harmonia com o
complexo ecológico nacional; a movimentação dos diálogos, a
utilização ampla da imaginação, o enredo, a linguagem visual e
concreta, a graça na expressão – toda uma soma de valores temáticos e
linguísticos que renovava inteiramente o conceito de literatura infantil
no Brasil.
9
Desde o reconhecimento da necessidade de uma literatura voltada para o público
infantil e juvenil, muitas foram as faces dessa literatura, mesmo que no início ela fosse
vista apenas como um instrumento pedagógico usado com o intuito de instruir e
moralizar. Hoje sabe-se que a literatura infantojuvenil vai muito além disso. Para
Zilberman (2005, p. 79) “a literatura infantil brasileira deu um grande passo, ampliando
as possibilidades de representação do mundo interior da criança, sem ter de renunciar à
comunicabilidade com o leitor, nem ter de apelar ao socorro dos adultos na condição de
auxiliares mágicos ou decifradores dos sentidos ocultos dos textos”.
A literatura infantil contemporânea no Brasil chama atenção pelo “brincar”
lendo, além da solidariedade, do amor à natureza, do humanismo e do exercício da
cidadania desde a infância; ainda aborda um conteúdo de caráter pedagógico rico em
recursos para discussões e reflexões em família, em espaços de socialização e em salas
de aula de escolas sob gestão democrática, compromissadas com a formação de cidadãos,
desta maneira tem mais a contribuir com os jovens leitores, criando possibilidades de
discursão e não apenas impondo.
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A escritora, que iniciou suas atividades literárias ainda no período da ditadura
militar, foi uma ativista da resistência. “Essa luta surge e depois é transposta para o
domínio da literatura infantil, já que segundo a escritora, os generais não liam livros
destinados a crianças e adolescentes” (CRISTÓFONO 2010, p. 3). Os textos de Bojunga
baseiam-se intimamente na perspectiva da criança. Ela observa o mundo através dos olhos
das mesmas. Sobre esse aspecto, Pires (2013, p. 12) contribue dizendo que:
A obra da autora gaúcha tem potencial expressivo e representa um
movimento renovador na literatura Infanto-juvenil brasileira. Além
disso, seu acervo destaca-se por grande qualidade literária e alto nível
de criação, sendo sua originalidade seu aspecto singular.
Pode-se dizer que a escrita de Bojunga está voltada para a experiência do leitor,
uma vez que a partir da sua leitura, ele vai construindo sua própria interpretação baseado
em seus conhecimentos do mundo, seja ele adulto ou criança. O que pode parecer mais
interessante nas obras de Bojunga é a relação que o leitor faz com situações do dia a dia.
É nesse sentido que a autora procura envolver leitor e texto, possibilitando que o texto
seja interpretado de acordo com as vivências do cotidiano do jovem leitor. Entre os
autores contemporâneos que escrevem para crianças e jovens, a escritora Lygia Bojunga
destaca-se por abordar em suas obras essa particularidade literária.
Bojunga não propõe uma literatura paternalista, onde as histórias têm o intuito
de repreender, admoestar. A autora quase sempre se utiliza da criança, tomando como
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plano de fundo a infância para contestar o universo dos adultos, que costumam achar que
esses pequenos indivíduos não são capazes de levantar questões tão importantes.
Geralmente, suas personagens apropriam-se da fantasia a fim de ultrapassar experiências
pessoais difíceis no mundo de gente grande e se transportam para um mundo particular.
Segundo Cristófono (2010, p. 3):
Para a autora, o dia a dia encontra-se repleto de encantamento de bom
humor: onde despertam os desejos tão intensos que não são possíveis
sustentá-los, onde personagens como alfinetes e guarda-chuvas
dialogam tão convincentemente com os peões e as bolas, onde animais
e objetos vivem vidas tão diversificadas e vulneráveis como as das
pessoas.
No mundo infantil, tudo se torna possível; o mundo real abre espaço para o
imaginário, cheio de fantasia. E no interior da fantasia, que é o mundo da escrita, está a
criança, muitas vezes só, sentindo-se abandonada, sempre emotiva e cheia de vontade de
mudar essa realidade. É nessa perspectiva que Bojunga constrói histórias envolventes,
com personagens dos mais variados, vivendo seus dramas particulares, porém de forma
bem humorada, tornando a leitura agradável. Esses elementos insólitos não possuem
ligação fixa ou verdadeira com a realidade e são responsáveis por despertar o imaginário
do leitor, fazendo com que ele sinta a estranheza dos fatos e ao mesmo tempo não busque
explicações na realidade.
Nesse aspecto é consenso entre estudiosos do fantástico que o importante é a
maneira como o autor dispõe os elementos insólitos no enredo e a habilidade em liga-los
aos outros elementos da narrativa. Assim afirma Todorov (2008, p. 11) “um texto não é
somente o produto de uma combinatória preexistente (combinatória constituída pelas
propriedades literárias virtuais); é também uma transformação desta combinatória”. Esses
elementos insólitos são integrados à literatura Infantojuvenil com o intuito de facilitar a
interpretação pelo leitor enquanto criança, uma vez que Lygia usa esse artifício fantástico
para tratar de situações do âmbito social. “Por entender o papel social da literatura, a
autora faz de suas obras um meio de reflexão sobre problemas que atingem crianças e
adolescentes” (PIRES, 2013, p. 13). Para que isso aconteça, é necessário tornar o
cotidiano mais interessante para a criança, já que as histórias se perpassam nesse
ambiente, e de fato a autora o faz com graça e clareza. A prova disso está em suas
personagens.
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Usando o recurso da fantasia, as personagens de Lygia Bojunga Nunes
superam os obstáculos e os conflitos e estão prontas, meninos e
meninas, a empreender a caminhada pelo mundo, com os olhos no
futuro, de mãos dadas com seus iguais: os que acreditam na humanidade
do homem e têm esperança no futuro. Os que sabem que o presente e o
futuro ninguém os recebe de graça, são frutos do trabalho e da luta
organizada”. (MALHEIROS, 2000. p. 3)
METODOLOGIA
Esta pesquisa partiu do interesse em analisar críticas sociais presentes na
literatura Infantojuvenil, especificamente em uma obra escrita por Lygia Bojunga, uma
escritora contemporânea que dedica-se a escrever para crianças e jovens. Para
compreender a necessidade de Bojunga de escrever para esse público e levantar questões
sociais, fez-se necessário abarcar de forma resumida a história da literatura infantil, como
se deu esse processo no Brasil até os dias atuais. A abordagem dessa pesquisa é
qualitativa, segundo Oliveira (2002, p. 117).
A abordagem qualitativa nos leva, entretanto, a uma série de leitura
sobre o assunto da pesquisa, para efeito da apresentação de resenhas,
ou seja, descrever pormenorizada ou relatar minuciosamente o que os
diferentes autores ou especialistas descrevem sobre o assunto e, a partir
daí, estabelecer uma série de correlações para, no final, darmos nosso
ponto de vista conclusivo.
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A pesquisa é, portanto, de cunho bibliográfico, pois, “a pesquisa bibliográfica
tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se
realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno” (OLIVEIRA, 2002, p, 119). Desse
modo, foi necessária uma vasta pesquisa sobre obras e artigos científicos publicados sobre
o tema, desde o processo da consolidação da literatura Infantojuvenil no Brasil aos dias
atuais, até a Literatura de Lygia Bojunga, incluindo biografia da autora, acervos de obras,
características de suas narrativas, principais temas abordados, contexto histórico, e seu
papel e contribuições para a literatura Infantojuvenil.
Para a realização da pesquisa biográfica, foi indispensável seguir as fases
necessárias para o desenvolvimento do trabalho. Essas fases correspondem a: escolha do
tema, elaboração do plano de trabalho, identificação, localização, compilação,
fichamento, análise e interpretação e por fim, a redação. Para a escolha do tema e
delimitação considerou-se a necessidade de estudos sobre a literatura e autora em questão.
Após a escolha do tema seguiu-se a elaboração do plano de trabalho, segundo Marconi e
Lakatos (2014, p, 46). “Na elaboração do plano deve-se observar a estrutura de todo o
trabalho científico: introdução, desenvolvimento e conclusão”. O plano consistiu em
identificar o que cabe a cada parte do artigo. Já a identificação contribuiu para saber que
livros, teses, artigos, entre outros, seriam necessários e relevantes para a pesquisa. Após
ser feita a identificação, fez-se a localização de pesquisas na biblioteca da universidade,
artigos e teses publicados disponíveis na internet. A compilação foi a reunião de todos
esses materiais, em seguida foram feitas as leituras e fichamento dos textos lidos. Em
seguida, a análise e interpretação e então a redação.
Essas oito fases foram essenciais para a construção deste artigo. Após ser
observada e compreendida o que correspondia cada parte que compõe o trabalho, foi
desenvolvido o referencial teórico, dividido em dois tópicos, que discutiu sobre a
trajetória da literatura Infantojuvenil até os dias atuais e as especificidades dos textos de
Lygia Bojunga, enfatizando aspectos críticos e sociais em suas obras. Após a elaboração
do referencial teórico, parti para os resultados e discussão. Nesse tópico, foi feita uma
breve apresentação do enredo e informações sobre a obra analisada. Tendo o aporte
teórico como base e a interpretação feita através da leitura da obra, foram levantados
pontos pertinentes sobre as críticas feitas pela autora, sempre buscando mostrar com
trechos da obra analisada. Desta forma, aporte teórico, pesquisador e objeto da pesquisa
estiveram sempre interligados.
Assim, a pesquisa bibliográfica, permitiu-me a leitura de um vasto conteúdo
sobre literatura Infantojuvenil e a partir dessas leituras é que foi possível analisar a obra
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proposta, tomando como pressuposto os estudos de outros autores. “Sua finalidade é
colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre
determinado assunto, com o objetivo de permitir ao cientista o reforço paralelo da análise
de suas pesquisas ou manipulação de suas informações” (TRUJILLO, 1974) apud
(MARCONI e LAKATOS 2014, p, 44). É desta maneira que a pesquisa bibliográfica
contribue para a construção deste trabalho, dando o devido suporte para a construção de
minha interpretação e escrita do texto, a partir de estudos já realizados anteriormente.
O método de abordagem qualitativo permitiu que a pesquisa abordasse situações
complexas ligadas as várias possibilidades de interpretação de um único objeto. Uma vez
que uma obra pode ser analisada de várias formas e sob olhares e perspectivas diferentes.
Desse modo, compreende-se que o presente trabalho consistiu na capacidade de leitura,
compreensão e interpretação, respeitando as fases impostas pela pesquisa bibliográfica.
Os resultados apresentados no artigo, se deu através de todo um processo até chegar a sua
conclusão. Porém, vale lembrar que a literatura e a sociedade estão em constante
transformação, permitindo múltiplas interpretações, abrindo portas para novos
questionamentos, oportunizando novas pesquisas e consequentemente, novos
conhecimentos que virão a enriquecer e promover mais ainda essa literatura ainda
considerada nova, porém, indispensável para o despertar do senso crítico infantil.
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conhecia bem as três vontades que cresciam dentro de si e por isso achou melhor esconde-
las. Por mais que seja uma criança, Raquel, a caçula entre quartos irmãos, tem uma
personalidade forte, possui senso crítico aguçado, criatividade peculiar e questiona a todo
o tempo os conceitos e padrões sociais impostos por sua própria família.
No decorrer da história é possível entender o porquê dos seus três desejos
secretos. O de crescer é porque os adultos não a levavam a sério pelo fato de se tratar de
uma criança. A de ser menino, porque ela queria fazer o que quisesse sem ser julgada pelo
fato de ser menina. E ser escritora, porque ela adora inventar histórias e personagens.
Esses desejos reprimidos por Raquel é uma crítica à estrutura familiar tradicional, onde
criança não tem vontade própria.
Prezado André:
Ando querendo bater papo. Mas ninguém tá a fim.
Eles dizem que não têm tempo. Mas ficam vendo televisão. Queria
contar minha vida. Dá pé?
Um abraço da Raquel. (BOJUNGA, 2013, p. 10)
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Quando eu expliquei que desde pequenininho eu sonhava com um
galinheiro legal, todo mundo dando sua opinião, resolvendo as coisas,
achando furada essa história de só um galo mandar e desmandar a vida
toda, sabe o que elas fizeram? Chamaram o dono do galinheiro e deram
queixa de mim.
- No duro?
- Fiquei danado. Subi no puleiro e berrei: “Não quero mandar sozinho!
Quero um galinheiro com mais galos! Quero as galinhas mandando
junto com os galos!”
- Que legal!
- Legal coisa nenhuma; me levaram preso.
- Mas por quê?
- Pra eu aprender a não ser um galo diferente. (BOJUNGA, 2013, p. 36)
Conforme relata na obra, o galo Rei insatisfeito com o seu nome, muda e passa
a chamar-se Afonso. Vivendo uma vida reclusa dentro da bolsa amarelo, Afonso decide
que vai lutar por suas ideias, mas apenas no final consegue compreender pelo o que deve
lutar. Outra personagem que também representa esse período difícil na história do Brasil,
é o galo Terrível, que teve seu pensamento costurado, com uma linha bem forte, pelos
seus donos, a fim de que só conseguisse pensar em uma coisa, ganhar de todos.
Foi ai que os donos disseram:
- o jeito é fazer o Terrível pensar do jeito que a gente quer que ele pense.
Mas, que jeito? Bolaram, bolaram, e acabaram resolvendo que o jeito
era costurar o pensamento do Terrível e só deixar de fora o pedacinho
que pensa: “Eu tenho que ganhar de todos!”. (BOJUNGA, 2013, p. 94-
95).
[...]
- Tá vendo? Falaram que tanta coisa era coisa de garoto, que acabei até
pensando que o jeito era nascer garoto. Mas agora eu sei que o jeito é
outro. Vamos lá na praia soltar pipa? (BOJUNGA, 2013, p, 126)
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Sabe, Raquel, elas não botavam um ovo, não davam uma ciscadinha,
não faziam coisa nenhuma sem vir me perguntar: “Eu posso? Você
deixa?” E se eu respondia: “Ora, minha filha, o ovo é seu, a vida é sua,
resolve como você achar melhor”, elas desatavam a chorar, não queriam
mais comer, emagreciam, até morriam. Elas achavam que era melhor
ter um dono mandando o dia inteiro: faz isso! Faz aquilo! Bota um ovo!
Pega uma minhoca! Do que ter que resolver qualquer coisa. Diziam que
pensar dá muito trabalho. (BOJUNGA, 2013, p. 35)
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No trecho acima Raquel decidiu que iria escrever independente se as pessoas
iriam rir ou gostar das suas histórias e isso fez com que sua vontade de ser escritora
voltasse ao tamanho normal e que não fosse um peso para ela. Essa atitude de Raquel faz
parte da sua afirmação pessoal, ela começa a assumir sua identidade e seus sonhos. Nessa
passagem da narrativa é possível perceber que os elementos reais e fantásticos na história
de Raquel estão de maneira particular relacionados a sua busca de identidade, vivida por
toda criança. Ao mesmo tempo que acontecem episódios reais e fantásticos, uma aventura
espiritual acontece, e a menina segue o rumo da sua afirmação como pessoa.
O desfecho ou a solução dos conflitos ocorre no momento em que a protagonista
descobre que as coisas podem ser diferentes. Seu contato com as pessoas da Casa dos
Consertos foi crucial para sua descoberta: “E eu fiquei achando que gente grande não era
uma turma tão difícil de entender que nem eu pensava antes”. (NUNES, 2013, p. 115).
Esse momento de reflexão da narradora sobre o mundo adulto acontece quando ela
conhece a família da casa do conserto, essa família é um modelo de família ideal, onde
todos desempenham funções importantes para o bom relacionamento familiar e todos têm
vez e voz. Nesse sentido prevalece a crítica à entidade familiar por meio do fantástico,
uma vez que a família da casa dos concertos está no plano fantástico da narrativa.
Outro recurso que colabora para a construção do caráter crítico e que torna a
narrativa leve para o leitor é a linguagem. É importante ressaltar o efeito do uso da
primeira pessoa na narrativa, isto porque a narração dos fatos pelo próprio personagem
indica a veracidade dos acontecimentos e ao mesmo tempo confere um tom de incerteza,
pois este personagem narra episódios que podem estar em sua imaginação. Esse recurso
é muito bem utilizado por Lygia em A bolsa amarela. A personagem Raquel que narra a
história nos traz de maneira espontânea os acontecimentos e lhes conferem veracidade,
mesmo em fatos imaginários.
Mas na porta eu parei: “E se alguém abre a bolsa amarela enquanto eu
tô fora? e se descobrem o Afonso lá dentro? e se o Terrível foge pra ir
brigar? e se as minhas vontades saem também – crescendo, engordando,
tomando conta do quarto, de tudo?” Me apavorei. O jeito era não
arriscar, era levar a bolsa comigo. Levei. (BOJUNGA, 2013. P. 68)
Nessa passagem da narrativa, Raquel por meio de várias indagações faz com que
o leitor também pense sobre o risco que ela corre deixando a bolsa em casa. Isso permite
um envolvimento maior com o leitor e reafirma a veracidade de sua fala, ou seja, ela
conduz o leitor a não duvidar se realmente estão dentro da bolsa tudo que ela disse. A
linguagem é simples, de fácil compreensão. Raquel narra os fatos com muita clareza,
usando expressões do dia a dia. Nos trechos a seguir, percebe-se que o uso de gírias,
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desvios das normas gramaticais e a escolha do vocabulário reproduzem a fala de uma
criança na idade da personagem e isso possivelmente aproxima personagem e leitor.
Um dia fiquei pensando o que é que eu ia ser mais tarde. Resolvi que ia
ser escritora. Então já fui fingindo que era. Só pra treinar. (BOJUNGA,
2013, p. 10)
- Ah, pera lá, Afonso! A bolsa já tá lotada. (BOJUNGA, 2013, p. 63.)
Essa linguagem simples causa uma aproximação do narrador com o leitor, pois
essas expressões e gírias estão presentes em seu cotidiano, na sua interação com amigos
e família, possibilitando, com facilidade, a construção da imaginação do fato narrado
devido a espontaneidade com que é narrado. De acordo com Malheiros (2000, p, 2) “as
palavras do cotidiano são usadas e combinadas com maestria e muitas vezes deixam de
lado o prosaico e se embrenham no poético”. A obra toda é de linguagem simples,
composta por diálogos e reflexões da narradora sobre situações que surgem dentro da
narrativa, por seu vocabulário informal e pela criação de palavras, fato comum nessa fase
da vida humana. O fato de ser narrado com a linguagem simples de uma criança, não
impede a reflexão dos temas propostos, pelo contrário, torna-se mais fácil o
envolvimento, por conta da inocência do mundo infantil. “O estilo implica agilidade por
parte do narrador, rapidez na comunicação e interação com o leitor, características que
desenham o relacionamento da escritora com a literatura infantil e com suas expectativas
perante o leitor” (ZILBERMAN, 2005, p. 71).
É assim que Raquel narra episódios da vida real e do fantástico, que se passa
dentro da bolsa. É de forma simples e lúdica que a narradora apresenta e conta sua história,
os acontecimentos do seu âmbito familiar e do seu universo infantil, possibilitando uma
ampla imaginação. Como já dito anteriormente, “as bases da literatura Infantojuvenil
consiste no apelo à imaginação, a movimentação do diálogo” (AROYO, 2011).
Dentro desses episódios narrados por Raquel, muito se disse sobre o plano
imaginário, que consiste no fantástico, insólito, costumeiramente presente nas obras de
Lygia Bojunga, em A bolsa amarela isso está bastante presente. Os elementos insólitos
na narrativa estão na constituição das personagens guardadas dentro da bolsa e também,
nos acontecimentos no decorrer da história, como as vontades da menina Raquel que
engordavam e emagreciam, a possibilidade de carregar dentro de uma bolsa nomes, galos,
alfinete, guarda-chuva e vontades. Nota-se isso com frequência no decorrer da narrativa,
quando o leitor se envolve tanto com a leitura a ponto de torcer pro galo Terrível ter um
final diferente do previsto, que o galo Afonso consiga encontrar uma ideia e que possa
lutar por ela, que a guarda-chuva destrave e comece a viver sua vida de onde parou, e
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principalmente, que Raquel se aceite como menina, criança e seus desejos sejam
respeitados.
Dentro do penúltimo capítulo, finalmente, as vontades se esvaem, menos a de
escrever, e a bolsa fica vazia, torna-se leve e consequentemente a menina também se sente
leve. A bolsa amarela nesse sentido, corresponde a própria Raquel, é dentro do seu íntimo
que ela guarda as suas vontades e seus amigos imaginários, é no seu inconsciente que ela
guarda suas frustações, preocupações, desejos, medos e críticas e é nesse mesmo ambiente
que ela se reencontra e reafirma como criança.
Mesmo sendo personagens reais dentro de um plano fantástico, suas histórias
permitem inúmeras possibilidades de interpretação. De forma bem humorada abordam
críticas sociais consideravelmente relevantes para o despertar do senso crítico do pequeno
leitor. O propósito da autora de considerar o leitor em sua obra faz toda diferença, dessa
forma a narrativa dialoga com o universo do leitor a todo momento de forma intensa, mas
sem se tornar exaustiva. Percebe-se que há uma preocupação por parte da autora no que
diz respeito à relação entre leitor e livro. “É nesse sentido que se verifica a posição da
autora em proporcionar ao leitor infantil histórias que fazem parte da sua vida, de forma
a contribuir com sua formação social” (PIRES, 2013, p, 14).
A partir da história de Raquel, uma garota que entra em conflito consigo mesma
e com uma estrutura familiar repressora, a autora estabelece uma análise da família
patriarcal. A menina, afetiva e sonhadora, conta-nos o seu dia a dia. Nesse contar, mundo
real e mundo imaginado, povoado de amigos ocultos e fantasistas, interligam-se na
medida em que fatos reais e fantásticos cruzam-se numa aventura íntima de auto
aceitação. Essa sua postura a leva a questionar e contradizer os pré-julgamentos impostos
pelos adultos contra as crianças e a mulher: a imagem feminina vai se revelando também
nas histórias de outros personagens, porém, sob outros aspectos. Mas a autora deixa à
criança leitora a hipótese de construir a sua imagem e não lhe impõe a possibilidade um
perfil único, permitindo diferentes interpretações. “Ler e reler os livros de Lygia é
descobrir e redescobrir um mundo cada vez mais rico. Seus leitores saem de lá menos
pobres” (MALHEIROS, 2000, p, 4)
Em síntese, a narrativa de Lygia Bojunga, por meio de uma abordagem lúdica
da realidade social, constitui-se de grande utilidade ao abrir caminho para ampla reflexão
sobre o papel do ser humano na sociedade. Ela, a narrativa, apela a cada leitor para a
percepção da sua identidade própria, ressaltando a existência das diferenças. Além de
contribuir para a aceitação pessoal, colabora com a promoção da literatura Infantojuvenil
no âmbito literário.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Ao se analisar o contexto em que a literatura infantojuvenil se desenvolveu,
percebe-se que a função pedagógica sempre esteve muito presente. A intenção educativa
do livro destacou-se, carregando consigo a função de dirigir e orientar a criança, quase
sempre sem a possibilidade de decidir e escolher o que ler.
A partir de 1970, iniciou no Brasil uma produção de livros para as crianças e
para os jovens, voltada para questionamentos dos valores sobre os quais estava assentada
a sociedade. Assim, formou-se uma literatura inquieta que focava nas relações entre a
criança e o mundo em que ela vivia. Dentre os autores dessa época, encontra-se Lygia
Bojunga Nunes, apreciada pela sua originalidade de temas e pela capacidade de criar
personagens que derrubam tais valores carregados de preconceitos, abrindo espaço para
a criança enquanto ser crítico.
Diante do exposto, não é difícil constatar que a bolsa amarela e os demais
elementos mágicos da narrativa contribuem com maior ou menor intensidade para o
aparecimento do fantástico na obra.
Esses objetos mágicos e toda a ambientação insólita servem não para criar
apenas um clima mágico, muito comum nas narrativas para crianças e jovens, mas os
recursos fantásticos servem para realçar a crítica social existente na narrativa. Ou seja, é
através desses elementos insólitos que a crítica da autora sobre a sociedade se faz de forma
mais precisa. É importante ressaltar ainda que por meio deste trabalho foi possível
compreender a importância das narrativas fantásticas e que os recursos utilizados nestas
ficam muito expressivos quando voltados para as crianças. O limite entre o real e o
imaginário para elas é leve, sem falar que essas histórias vêm ao encontro dos seus desejos
de magia e fantasia. Ficando claro na narrativa analisada que a relação entre os elementos
reais e imaginários vão além da fantasia de Raquel, esse forte jogo entre o real e o
imaginário colabora para a construção de críticas à sociedade, na verdade, esses fatos,
aparecem de certa forma para refletirmos.
É através da interpretação das histórias das personagens que se torna possível a
reflexão sobre os temas abordados pela autora na obra. A história nos comove, nos
permite adentrar no mundo das personagens, no tempo das mesmas e sentir as emoções
delas. É nesse momento que de forma involuntária surgem os questionamentos, a
necessidade de reflexão.. Isso porque além de deleitar-se e divertir-se com os episódios
inusitados narrados, o leitor torna-se conhecedor de seu papel como individuo social,
mesmo que seja o papel de seguir seus sonhos infantis. Com o trabalho, mostrou-se a
riqueza de abordagem literária que se encerra no interior de A bolsa amarela, seja a partir
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de Raquel ou a partir da análise do processo de busca de identidade pelo qual passa até
sentir-se feliz consigo mesma. É uma história cujo final não é o já conhecido nos contos
maravilhosos, “felizes para sempre”, mas fica aberto; há apenas a certeza de que a menina
aprendeu a conviver com as vontades e amadureceu como pessoa.
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