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O SILENCIO DE DEUS

Tanto judeus como cristãos protestantes reconhecem que o ano 397 a.C.
marcou o início de um período de cerca de quatrocentos anos ao longo dos
quais nenhuma atividade profética de destaque foi realizada em Israel. Nesse
ano, o profeta Malaquias escreveu as últimas palavras do Antigo Testamento,
encerrando a composição desse conjunto de livros que, inspirados por Deus,
fazem parte da Bíblia.Os trinta e nove livros do Antigo Testamento foram
escritos ao longo de cerca de mil anos. Desde Moisés (século 15 a.C), o
primeiro autor sagrado, até Malaquias (século 4 a.C.), aproximadamente 40
autores, vários deles desconhecidos, foram movidos pelo Senhor na
composição daqueles preciosos escritos que moldaram a história e a cultura
da nação de Israel e serviram de alicerce para toda a teologia cristã que veio
à luz no século 1 da presente era.Passado, porém, o tão glorioso milênio da
revelação verbal de Deus, um prolongado silêncio profético se iniciou,
estendendo- -se por quatro séculos. Nesse tempo Deus, é claro, agiu. E agiu
de formas magníficas, controlando a história e preparando o mundo para o
advento do Messias prometido. Porém, essa atividade foi apenas
controladora, nunca reveladora no sentido verbal, pois nenhum profeta se
levantou naqueles dias provocando impacto nacional — ninguém mais que
tivesse a ousadia de dizer ao mundo a frase “Assim diz o Senhor”, como
bradaram Moisés, Elias e outros profetas; nem tampouco quem narrasse sua
própria experiência usando a fórmula “Veio a mim a Palavra do Senhor e
disse”, como tantas vezes declarou Ezequiel.Os judeus que viveram ao longo
dos séculos em que Deus se calou, ou mesmo aqueles que, em tempos
posteriores, analisaram esses quatrocentos anos de silêncio, perceberam a
mudança. O autor de Macabeus, escrito no início do século 1 a.C., deu
mostras de entender que, mesmo considerando a história a partir de sua
época, há muito os profetas tinham desaparecido. Esse escritor, ao descrever
a situação dos judeus nos tempos do Império Grego, disse: “A opressão que
caiu sobre Israel foi tal, que não houve igual desde o dia em que tinham
desaparecido os profetas”.6Também o famoso historiador judeu Flávio
Josefo, tendo vivido no século 1 d.C., deixou claro que, para o seu povo, os
livros sagrados não abrangiam nada escrito depois dos tempos de Mala-
quias. Em sua obra Contra A]non, ele afirmou:Pois não temos um número
incontável de livros, discordantes e contraditórios entre si, [como os gregos
têm], mas somente vinte e dois livros, os quais contêm os registros de todas
as épocas passadas, livros que cremos ser divinos. Entre eles cinco são de
Moisés, os quais contêm suas leis a as tradições acerca da origem da
humanidade até a morte do autor. Esse período de tempo abrange pouco
menos de três mil anos; mas desde o tempo da morte de Moisés até o
reinado.

De: Fundamentos da Teologia Do Novo Testamento, Marcos Graconato

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