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Por sua vez, 0 curso de Odontologia figira como um das mais seletivos, sendo que nenhum estudante pertencente aos meios sopulares conseguiu aprovacéo nele em 1996, razdo pela qual esse curso 130 figura em nossa pesquisa Entendemos agui por trabalho escolar todas aquelas aces ~ ocasionais ou precaria ‘mente organizadas ~ empreendidas pela famfia no sentido de assegurar a entrada e 2 permanéncia do iho no interior do sistema escolar, de modo a influenciay atrajetéria es colar do mesmo, possibiliando a ele alcanear os niveis mais alios de escolardadle, como, ‘por exemplo, ter acesso ao curso superior. Essas agbes nao nos parecem compleramen teauténomas, As vezes elas se sustentam e adquirem clareza mediante aintereréncia de cutros sujeltos e mesmo insttuigées que detém um cenhecimenta mais completo das possibildades escolares e materiis do sujeito pertencente aos meios populares. As pesquisas mais recentes que tratam da relacdo escola/familae privilegiam como objeto de estudo as eamadas populares (D'Avila, 1998; De Queiroe, 1995, Dubet & Mertuccoll, 1996; Lahire, 1994, 1997: Laurens, 1992;Portes, 1998; Viana, 1998; en- tre autres) indicam que o trabalho escolar & algo complexo, que nao vern obediecendio a modelos, dif de sr compreendido e que nao se pode generalizélo. Esse trabalho se dé emum tempo proprio, muites vezes estabelecido pelas condighes materais de existéncia da constituicbo histérica das familias das camadas populares, quase sempre marcado pelo desconhecimento da estrtura edo furcionamento dos sistemas escolares por parte dessas familias, além da evidente auséncia de um capital eseoler. Para nos acuparmas com a questéo, que dz respeto a0 trabalho excolar das fmilas cfetuamos uma primeira letura de uma percela espectfica de dados mais amplos proven entes de uma pesquisa que fo feta com um grupo de sesuniverstarios que tveram acesso A UFMG nos cursos anteriormente mencicnadios. A escoha desses estudantes obedecen a dois artérios basicos: serem fos de familias pertencertes aos meios Populares e terem conseguide aprovacao no vestibular naquelas carreras mais seleivas da UEMG. Esse grupo de entrevistados - trésrapazesetrés mocns- titham na épaca a idade mé- ade 19 anos. De forma geal, sto provenientes de familias pequenas (és flhos) e fe 63 jientaram o primeiro e o segundo graus em escolas piblicas', Eles so flhos de motorista de cominhao (tes), auxiier de topografia, carpintetro e raspador de tacos. Apenas duns Mies se apresentaram com atividade rerunerada regular no momento da pesquisa, ‘Abas so vitvas e exercem a fun¢ao de costurcira. Quanto ao capital escolar desses pais, {uma mée concluiu a 8" série e outra fol além: terminou 0 2° grau, Os outros [pals e mées} ossulem ma excolardade que ndo ultrapassa a4 série primar. Quando se observa on vel de eseolaridade dos ancestrais, deparamos com apenas um avd que cultivava o hébito da leitura ¢ redigia um dicionario da lingua portuguesa, cujos manuscrites se encontram, ainda, de posse dos familiares. Essas familias tem casa propria, no vivenciando, portanto, ‘aquela preocupardo constante e desestabiizadora para os meios populares” Para conchur esta caracterizacao, ¢ importante ainda citar um dado mais geral que nos possibiita compreender, de fortna ampla, a trajetbria escolar desses jovens: eles se aproxiinam daquele tipo de aluno, denominado por Pierre Bourdieu (1998: 46) de su- pperselecionado, pols compensaram "a desvantagem inicial que dever a atmosfera cultu- ral de seu meio”, Eles tveram uma trajetéria escolar brithante, marcada por sucessos € Cconquistes em todo o seu percurso. Foram, até final do 2* grat, os melhores alunos das turmas eseolares pelas quais passaram. Porém, esses estudantes representatn uma im- probabilidede estatistica: pouquissimos alunos provenientes das camadas populares tem acesso a esses cursos através do vestibular. O sucesso nos niveis que antecedem a ‘entrada no eurso superior néo assequra a eles sairem diplomados da UEMG. Tanto é ver- dade quea preacupacao de muitas familias dos meios populares, a0 constatarem a apro= vagdo de seus filhos e fihas na Universidade Federal, era de outra ordem, expressan- do-se da seguinte forma: “Meu filho chegou la. E agora?” E que essas familios, mesmo nao possuindo um amplo dominio do significado da entrada do filho em uma universida de pdblica de qualidade, sabem, sem vivencar essa circunsténcia, 0 custo objetivo e sub- jetivo de ele ter ultrapassado essa barteira. as agdus desses estudantes, em seus diferen- tes campos de atuacéo, sevao marcadas muito de perta pelas necessidades materiais. Retomando nossa preocupacéo inicial, que outras ages ~ embora néo meramente escolares/pedagogicas, mas com reflexos sobre o escolar, sobre a pedagogico ~ teriam 8380s pais empreencida no sentido de fazer atuarem circunsténcias favoraveis a0s filhos «© cas quals estes pudessem tirar proveito escolar? Essa questao, pensada a partir dos dados empirices e daquela literatura anterior ‘mente mencionada, pode nos ajudar a compreender que as ages de determinadas fami lias pertencentes és camadas populares, com relacéo & escola, so diversas e se reco- 1. Fag a nara una ontedetada ge regina omen 03! ano do ru er exola pater, vzando se de ‘eon de ese consua p um vereodr de a ae. cusp curso grams atmacccb por "lor de rope dura pia, mas eer afungo de mero em woca de eruablae Dregne neon ss esdarar 0 cx apo ao 692/71, mot pa qual reelnos ante no erp dete baho so. encltraestocacn pl ee es 2, Obseriameos em aro mab Pore, 1998 252} que cass prin in aor inporante de bike na jets ‘soc (esse dospesqurado pressor dere ma Nowa Snot persue, apes ellison ‘ problern da rain qd da eutatas Preblara qu pase a sccm ia cans omprss ‘era desde dietoe por au, acrato com a ia conde par a ifearso de morals Enter saberon asa a ae mod pre a sonata 64 bbrem de significados proprics que podem ser ocultados, dependenilo do olhar que se Tige a elas, Por exemplo, acreditamos que hé uma armadilha na forma de se anallsat 0 possivel trabalho escolar de famfias populares atvavés de regularidades tipicas observa das em fragbes das classes médias ~ que configurariam investimento escolar ~, como a série apontada por Nogueira (1998): acompanhamento estrito da escolaridade ~ tanto ha escola como fora dela ~; estratégias de escolha do estabelecimerto; relagées frequen. tes com os professores; ajuda regular nos deveres de casa; reforgo e maximizacao das aprendizagens escolares; assiduidade as reunides convocadas pela escola; utilizacao do tempo extra-escolar com atividades favorecedoras de sucesso escclar; controle do temn- po de exposicdo a televiséo, ete, No nosso caso, retiramos os elementos que nos prapiciam pensar, aquelas questdes anteriormente colocadas, das representagoes produzidas pelos estucantes universtatios nas entrevisias efetuadas, o que permite ainda reconstitui ndo 36 as trajetGrias socials © escolares desses sujeitos, mas também suas vivéncias universtéras. O acompanhamento efetuado com esses universitrios no previa ouvir os pats. Entretanto, os condicoes reais de entrevista propiclaram que se otvissem duas macs ¢ lum pai, Trabalhévamos com a hipdtese de se efetuar a entrevista onde e quando 0 entre- vistado sugerisse. Assim, em duas visitas as casas dos jovens tivemes a oportunidace de ‘ouvir seus pals, registrar suas manifestacdes diante das perguntas drigidas a seus filhos. Ernesse sentido que se afirma nao serern os pais objeto direto de nossa investigacio, € sim seus fihos. Nesse caso, as intervencdes dos pais revelaram um material importante para as nossas analises sobre o trabalho escolar das familias, mesmo que tais analises se Jam centradas nos depoimentos dos jovens. Portanto, quando se atenta para a questdo familia/escola, o quese buscou com essa primeira andlise dos dades foi, a partir da identficagéo de unidades significativas que aparecem nos discursos, construir um “conjunto de circunstancias atuantes”, comple- x28, que poder variar de familia para familia, mas que guardam relagdes entre si. Essay citcunsténcias atuantes caracterizam-se por um planejamento precatio, por um horizon. te temporal bastante curto, diante da frig situacto material da famila que se desestabi- 2a freqtientemente frente és exigoncias escolares. Essas circunstancias se combinam en. te sie 36 fazem sontido se inseridas “na rede de seus entrelacamentos concretos” (Lahi- re, 1997; 72), sendo que nio parecem possuir efeito importante de forma isolada, Elas atuam no decorrer da trajetéria, diante des necessidades e questionamentos eotidianos a serem enfrentados pela familia Exig@ncias intrinsecas e periféricas ao académico e exigdnclas caracteristicas de cada curso exercem ai uma forte influéncia. Aquelas dizer respeito atransporte, compra de livros, xerox, material escolar, roupa, calcado, aluguel, aimentacao e lzer, ete. en- ‘quanto que as iitimas se configuram por necessidades como: pot exemplo, para quem faz Comunicagio Social, coloca'se a exigencia de se assinar revistas e jomais diversos: para quem faz Ciencia da Computagao exige-se ter em casa um computador, para quem faz Direito, deste muito cedo, exige-se usar palet6, gravata, sapates (@ no tenis), etc ‘Tudo isso iré propictar uma instabiidade econémica familar capaz develleir-se de forma preocupante naquilo que ao longo da trajetéria escolar (e socal) mais parecia aicergar fesse estudante: sua seguranca nas questées atinentes ao escolar. 65 Entretanto, as limitacdes de ordem econémica das familias nao nos impedem de ‘observar todo urn trabalho escolar empreencido, visto naquilo que convencionamos cha- mar conjunto de circunstancias atuantes, Algumas dessas familias vivern umn certo de- sespero econdmico que certamente afeta suas relagées intemas de convivencia no la. ‘S80 familias que vivenciam uma realidad material que néo conseguem prever (nem con- ‘rolar). Apenas conseguem ir fazendo adaptagées possiveis para que o filho néo jogue por terra o esforco empreendido, como ber ilustram os pais de Mauricio, estudante de Engenharia Elétrica, Diz D. Teresinha [Nao set como esse menino dé conta... Fle nunca me deu trabalho na escola Jno coniréri, os outros dosfhos no soguram em frente). Sempre foi Bomaluno, ‘qoerida por todas as professores. . Mas agora est demas! Para tudo precisa de di ‘heir. Para osenhor ver, j costurl, antigamente. Hoje, ndoda, Tinha was tres ‘quatro Freguesas, Floje qasto meio dia de trabalho em uma peca ea pessoa quer ‘agar um real, Té deido! Faga algumas coisas para mim e cemisas para o doit, NSO ‘posto ahidar! Tem més que oie no conseque mandar um centavo para o Maur Gio Ele [o pail fica num estado de nervo que voce num imagine. NBo set como fesse menina dé conta. E pres muito esforeo.. [Noutro momento, distante da esposa e dos filhos, o Sr. Jair se questiona: "Como & ‘que eu ia continuar no hospital, ganhando um salério minimo e ria manter essa feria? ‘tha, tom dia que dé um desespero, rapaz... Olha s6, pra vocé v2...” Levanta as barras rotas des calgas ¢ moztra os joelhoe eefolados e ralejaros pelo ato de trabalhar ajoethado hha raspagem de tacos e aplicacso de sinteco, como se necessitasse demonstrar 0 esforco que ele faz para manter a casa, como ele di ‘Assim, o trabalho escolar das familias aparece ¢ ganha sentida atrevés das acoes que configuram o conjunto de circunstancias atuantes capaz de auxilar na possivel compre- ‘enséo das preocupagSes levantadas no corpo deste texto. Essas ages guardam similar ddades entre sie operacionalizé-as diz respeito a um modus operandi de cada feria. (O nosso esforco de construcao de clrcunstancias atuantes ¢ trazer uma contribui- «¢ho para se entender o trabalho efetuado pelas families populares que, por extenséo, ‘pode assegurar 0 possivel sucesso escolar de estudantes egressos de familias popular es. Para o caso brasileiro, uma discusso atual e esclarecedora sobre. longevidade es- colar nos meios populares pode ser encontrada no trabalho de Viana (1998). No nosso ‘caso, procuramos examinar aquelas circunstancias que a pesquisa, até o momento, permitiu ehucidar e que revelam parte do esforco das familias para garentir uma situa- {Gao escolar improvdvel e precarlamente planejada. Néo é sem razio que 0 sucesso rho vestibular para as familias de nossos investigados é visto (vido) como um golpe de sorte, uma ajuda de Deus, um milagre, mesmo que 0s resultados escolares construi- dos anteriormente indieassem uma passagem sem muitos atropelos, Além, claro, da descrenca que esta sempre presente ao se conferir o nome na lista dos aprovados no vestibular: Seré que € meu nome mesmo? {A sequir, abordaremos aquelas circunsténclas que dizem respeito & presenca da or- dem moral doméstica, & aten¢o para com o trabalho escolar do filha, 20 esforco para compreender e apoiar ofilho, @ presenca do outro na vida do estudante e a eterna apro- 66, -ximagio dos professores, & busca da ajuda material & eaisténeia e importéncia de um duradouro grupo de apoto construido no interior do estabelecimento escolar, Circuns: tancias atuantes que leaitimam e déo visibidade ao trabalho escolar empreendido elas familias populares. 1. APRESENCA DA ORDEM MORAL DOMESTICA Entio cé..eu acho assim, se todos os pais ver forea de ventade pra edvcar os hos dle, ees consogue, mas & muito dill! E€ sso que acontece, Mui pes fons fala assim, igual miitas, amo tar daquela...daquela.. @... Leonardo Pare Jn®-né? Fol um menino que a me dele aleg6 que ele tha condigdes financeiras, depois perdau pa, perdeu tixo ele virou una... [ola da cache interrompe! jum éisso que faz virar marginal, Endo, stuscSr finance num fez ninguém virar ‘marginal Vai é2 edvcacSo que um pai Zuma me pode dar. Quese o paious mse {eve uma vida dif, mas explica pro flho, que agente tem que se um pobre, ras hhonesto © aprender respettar as pessoas, ele aprende a enfrentar a stuacéo sem roubar Entso, €que todo mundo devia de fazer, @ensinar pros fiho alevar ava tc atientar vida que tem, com honestidade ecom mais hmanidade, né? Eisso-que ‘mais importante na vida das pessoas. Néo & s6 porque pessoa perdeu tudo que vai irer um marginal, nfo! Porque se fosse 0 caso deter un marginal, na ina fa mri todo mundo era marginal. porque a genteriunca, desde a minha familia, as- sim, quando eu era erianga, 0 meu pai no levou uma vida muito fil também, A sinha fafa toda enfrentou, assim. meus iemdos sS0 muito respeltader, eles leva ‘vida com dificuldade mas vida com honestidade. Euracho quea familia por ser po: bre, ele deve ser um pobre honesto, honrado e exgir rexpeito, pra que ele seja um dado reconhecido, (Mie de Mércio, estilante de Direto,) Oeesforge continuo para inculeagso de uma ordem moral doméstica no flho, desde tenra idade, sulicientemente forte para balizar 0s procedimentos sociais, como dispos- ‘¢a0, esté presente em todas as entrevstas, Parece funcionar como um lastro para o con- Junto de ages a serem empreendidas pelas familias e pelos filhos. Trata-se de um esfor- {G6 continuo que ndo tem como alvo espectfico o sucesso escolar e, sim, uma edueagéo mais abrangente, uma edlucagdo para a vida. ( conjunto de entrevistas efetuadas com asses sujettos revela com bastante clareza ‘que nao 56 seus procedimentos socials, mas tannbém os escolares, possuem a marca dis: ‘intiva dessa formacao adquirida de forma lenta e processual nointerior da familia. Nao é sem razo que Lahire (1997: 25) afitma que [L-lfora dessa aga socializadora, que se concentrano aspecto moral das con- dutas infantis, o universo doméstico, através da ordem materia, afetiva e moral {que reine al a todo instante, pode desernpenhar um papel importante na atitude da crianga na escole 8. Transedeurnjuem dese whi da ide de Goria cepecilsa en as sqicto oc, Pres, certterte fe sine rea gh de atenion. 67 Os sujetos investigadas sao estudantes que aprenderam desde muito cede o valor & ‘2 importincia da escola, possuem um comportamento escolar elogiavel e uma grande dis- posigéo no apenas para as tarefas escolares cotidianas, como ainda para as tarefas do- Iésticas @ as ajudas no lar. Eles sd0 08 “bons fihos, aqueles que ruanca dao traballio", nos dizeres dos pois, Trata'se aqui de uma referencia ao desempenho escolar do filha, com re lado a outros irmaos que “no foram adante e nao deram para a escola”. Mas néo parece ser uma desvalorizagso social destes om fungao do desempenho escolar daqueles. Essa dis- posigéo parece ser uma heranca proveniente de geracdes anteriores que, dante de cit Ccanstincias favorecedoras, como oferta escolar de qualidade minima, pode se realizar. retanto, 0 fato de terem internalizado uma imagem de pais sérios, trabathadores e honestos parece contribuir para a fixacéo dessa ordem moral doméstica 2. A ATENCAO PARA COM O TRABALHO ESCOLAR DO FILHO Isso [ajudar nas tarefas escolares] ela [sua me} nunca fez no. Ela até hoje eu reclame com ea, que ea sempre me dedxou muito. 6. sempre fl muito inde- pendente nas minhas tarefas, eu... Fa... Eunsa esperava pra ela me ajuda, fo 2a antes de ela querer me ajar. || Mas se eu tvesse... perguntar como que f sha sido assim, eu num lembro disso, mas se eu chegawva pra ela pra falar alguna coisa da escola, la me ouviaateniamente. Se eu chegava pra perguntar elguma coisa, 6 oa nfo sable ela procurava sabor. Entdo sernpre tava tentando fazer algu- ‘ma coisa. Por exemplo, néo era uniforme novo, né? Mes o uniferme tha, But ‘ha.como ir pra escola, um caderno... Até mesmo quando nao tinha alauma coisa, ‘minha tia me ava, ajudava etl, Ent... [| H8! Todo mundo queria que eu fos. se pra Ié |Colégia Tiradentes, da Policia Miliar de Minas Gerais, Unidace de Bom Despacho}, né? Porque minha mnie, inclusive, sabia que eu era una aluna multe boa, que eu tinha capacidade, entSo.. Ela incentivay, ela estudou comigo, © que a podia, que ela sabia, ola me ensinou, me ajudau [ate a 4* série do 1" graul ¢ Parque no colégio, no outro colégio que tinha, nas autres colégios era. ere. ‘eam considerados piores, né? Ents todo mundo queria que eu fosse. Minha ta, ‘essa que au te falei que eu tenlio muito vinculo, todo mundo queria que eu Fosse pro Colégio Tiradentes, né? Estudel,E eu também queria ir pro Colegio Tiraden- tes, mesino pra dar ur... um feedback pros meus pais, n? Pra minha fariia, @ ra mim mesma, né? AI fu, entre no colégio na 5* série, e sempre fui uma aluna ito boa, até. quando eu sai de a. (Alice, estudante de Fisioteania.) No depoimento acima identilica-se uma atencdo para com o trabalho escolar do fir tho, sequida de acompanhamento e vigilincia, mesmo quando a mae esté impossibilita- da de interferir no proceso pedagégico propriamente dito, depois do ensino primario, ‘em fungao des pouicos conhecimentos escolares acumuulados Note-se torio un cuidado, um rol de preocupacées, pequenas intervencses das !ées principalmente}, naquilo que se refere ao trabalho escolar ou inditetamente a ele ggado. Nos nossos casos, o que parece ser rentivel éa presenca possive, a disponibilida- deem escutar, oir e dar atencao ao fiho, permit que ele dé conta de stas tarelas ene- cessidarles escolares, indagar-lhe de seu dia escolar. Essas agdes so perceptiveis na bus- ado estabelecimento escolar e na escolha da escola (sempre pilblca) quando vivel, na 68 lua pela matricula, nos possiveis contatos com outras mes, nas aproximagées (mesmo esporidicas) com os professores, nas reuniGes escolares (quando convidadas), na manu, tengo fisia da crianga e dos equipamentos necessirios &freqiiéncia da escola, na aten. S80 para as companthias dos flhos, no ato de levar a escola (e buscar), na vigléncia da tua, ete. Essas situages revelam todo um cuidaco dessas mées para com a escolaridade dos filhos, mesmo que elas nao pensem nisso como um projefo, mesmo que néo se trate de uma ago racional visando a um fim futuro, dstante (por exemplo, achegada & univer, sidade). Pora elas, trata-se de uma obrigacdo cotidiana que tem que ser feta, necesséria para a formago do filho, para seguir em frente* 3. UM ESFORGO PARA COMPREENDER E APOIAR © FILHO ‘Méreio:~ Aqui. efco preocupado com © negécto, ah, tem que pagar iso, tem ‘que pagar aqui... Inclusive, dais meses a eu t0 com... som o arcamenta tale comprometido... tava pagando prestago ls, ainda bum que termina & semana que vem, agora, tenmina, Dona Jandira: ~ Ee queria trabalhar, ele queria tor diner, Entrevistador: ~ Ab, tove essa eis, também? ona Jandira - Teve. Esso mesma siuacdo. Ele té onfertando agora, que quer tna dinheiro, Entao, ee teve ese peiodo que ee nfo tina nti erm € cleguerie ter dio, Eni ee quer trabalhar Nao achava gue er 0 ficer por conte de estudo, no. [| Ah... eu falava: ~ Ce num tem condigdes pra abelhar ‘agora. Cé vai pegar um servente de padre, ai, 8 va careger saco de cimenta? & ‘sso que eles vio dor pra voc. El Eu falava pra ele: = Coal enfentar ose eat sa primeiro, depots vé um emprego melhor pra voe2. Quenéo adianta e@ corer ‘agora pra trabalher. Cé vai pegar um serico ai de fazer entrege nos camino ai, fazer entrega de compra af, c@ val pega caixa pesode, cé vai pegar saco de camer to, trogo pasado, of num vai aglenta, Al cé vai desanimar Enige prepara sees. fudo primeiro, pra voe® pegar um servigo mai lave. Fol indo. fino. que elo sentendeu ¢ acetou, né?...Mas fo fell Marcio: ~ {Hoje} num ligo mesmo... posse estar com 0 maior problema do mundo 1s... se a tiver que estudar Is, vou estudar e... me abstraio do resto, de problemas Entrevistador: ~ Tem conseguilo fazer sso? ‘Mércio:~ Mais cu menos tenho... sorindol fel. fic, mas dé pra fazer sim lbigarreial. Eu (9 dando um valor muto grande, agora, pro uso, sabe? ‘Dona dandiras ~ Bu fico querendo acaimar dl... mas eu num feo calma...crisos 4. Ao centro dos rons anaes, D'hula (1998: 47 aerate gu aaa de ua “exungeneesa/nca/ben ‘hrm cor qe perro larares be sali de enim elackoo) 69 ‘Aparece, no conjunto das entrevstas, um trabalho de persuaséo afetva (que se toma fet), no sentido de se continuar a escolaridade, diante de complexos momentos vir vvenciados no decorrer da trajetéria escolar e universitéria, Trabalho executado pelasfa- rmillas no interior do lr, para que o flo néo se renda diante da escola em fungi de siuua- ‘bes pessoaisdifceis de serem vidas, e necessidacies materia de dificil controle, Essas situagdes néo marcam hora e dia para acontecerem, Por exemplo, a auséncia do pai (morte ou abandono do lr) -situacéo vivida por ts entrevistados ~ coloca a fama em situagdo de instabiidade, diante da fata de recursos materiais ou pens6es signficativas, 0 «que jogard inevitavelmente a mée ot flho mais velho no mercado de trabalho. A vida fem que continuar 0 seu curso. Aqui, aparece todo um esforgo da mae para que o filho no se ocuipe com o trabar Iho remunerado antes de terminar o 2 arau (horizonte que se vai vislumbrando para al

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