Tendinopatia do
Tendão de Aquiles
Índice .................................................................................................................................... 2
Introdução ............................................................................................................................ 4
Caso Clínico ....................................................................................................................... 5
Revisão de Literatura ...................................................................................................... 6
2
Observação dos Tecidos Moles ....................................................... 17
Palpação .......................................................................................... 17
Movimentos fisiológicos ativos e passivos da tibiotársica direita .... 17
Movimentos acessórios da tibiotársica direita .................................. 18
Força muscular ................................................................................................... 18
3
Introdução
4
Caso Clínico
O utente L.C. de 19 anos de idade, chegou ao ginásio de fisioterapia
com uma dor na região posterior do tornozelo direito, tendo esta aparecido
repentinamente há cerca de 3 semanas durante um jogo. Pratica futsal de
alta competição, sendo um jogador que pertenceu à última convocatória
para a Seleção Nacional sub-21, tendo os seus treinos uma periodicidade de
cinco vezes por semana com duração de 2 horas.
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Diagnóstico Diferencial1
Quando um indivíduo aparece com uma dor localizada
posteriormente no tornozelo, devem ser consideradas no diagnóstico
diferencial as seguintes condições:
Fatores de risco1
Os fatores de risco podem ser classificados como fatores de risco
intrínsecos e extrínsecos ao indivíduo. Entre os fatores de risco intrínsecos
encontram-se o elevado peso corporal ou desalinhamentos anatómicos tais
como:
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Contexto Anatómico
O tendão de Aquiles é o tendão mais forte e maior no corpo humano
e também entre os tendões mais comumente lesados. 2 O tendão de Aquiles
insere-se na superfície posterior do calcâneo, distalmente à tuberosidade
póstero-superior.3
Ele liga-se ao tríceps sural (composto pelo gastrocnémio medial e
lateral, e pelo solear) e na parte posterior do calcâneo (osso do pé), sendo
responsável pela movimentação do tornozelo. O solear juntamente com os
gastrocnémios realizam o movimento de flexão plantar através do tendão .4
O tendão roda cerca de 90º no seu percurso até à inserção no
calcâneo, entre os 12-15 cm, por isso, as fibras localizadas medialmente na
sua porção proximal tornam-se posteriores a nível distal e as fibras
posteriores tornam-se laterais. Esta configuração permite o alongamento,
confere elasticidade e facilita a libertação e posterior absorção elástica de
grande quantidade de energia potencial. Estas características são essenciais
à locomoção.3
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Fig 1. Legenda do Tendão de Aquiles
Código CID-10
De acordo com a classificação internacional CID 10, a tendinite
aquiliana tem o código M76.6 correspondente ao capítulo de Doenças do
Sistema Osteomusculares e do Tecido Conjuntivo.
Exame Subjetivo
Dados Pessoais
Nome: L. C.
Data de nascimento: 24/10/1999
Sexo: Masculino
Profissão: Estudante
Hobbies: Jogar futebol, jogar no computador
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Principal Problema
Dor na região do tendão de Aquiles direito.
Dor 1: Localizada,
Intermitente, Forte
(8/10 EVA)
10
não era funda”, levando me assim a concluir que é uma dor
Superficial.
Tipo/Intensidade dos Sintomas: O utente refere uma dor
localizada e forte. Segundo a Escala Visual Analógica da Dor,
a dor apresenta um valor de 8.
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Padrão Diário
Como/Quando começou
A sintomatologia álgica surgiu há três semanas, durante um jogo de
Futsal ao realizar um “sprint” de forma repentina sem motivo aparente.
Medicação
Toma anti-inflamatórios (AINE`s) para alívio da dor e do edema.
Exames Complementares
Realizou uma ecografia, onde se verificou um espessamento do
tendão na sua parte mais distal, permitindo assim inferir uma tendinopatia
do tendão de Aquiles.
Perguntas Especiais
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Raciocínio clínico baseado no exame subjetivo
Fonte/Causa dos Sintomas:
Ecografia
Dor localizada
Vascular Edema Não refere para outras
áreas
Dor localizada
Edema localizado Dor intermitente
Bursa
Melhora com o repouso Pior com o movimento
Dor superficial
Dor superficial
Dor localizada
Dor localizada
Articulação Presença de rigidez
Presença de rigidez
matinal
matinal
Piora com a atividade
Dor superficial
Dor localizada
Idade
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Tendo em conta a tabela anterior é possível constatar que existem
estruturas com maior probabilidade de serem responsáveis pelas queixas do
utente.
Desde logo podemos excluir as hipóteses de osso uma vez que não
apresentam qualquer evidência positiva, apenas têm evidência negativa.
Também podemos excluir nervo porque apresenta bem mais evidencia
negativa e tendo em conta os dados recolhidos até à altura, denotamos logo
que não há características nervosas perante o caso clinico.
Relativamente às estruturas vasculares, estas também podem ser
descartadas pois, apesar de o indivíduo apresentar edema, não existem
evidências positivas suficientes para considerar esta hipótese uma vez que a
dor é localizada e não existe qualquer tipo de dor referida para outras áreas
nem é difusa.
Analisando as evidências positivas e negativas relativas à bursa
podemos também excluir esta possibilidade, embora haja a presença do
edema e o facto de a dor piorar com a atividade, estas características não
permitem concluir que esta estrutura possa causar a dor.
Sendo assim, com o raciocínio acima realizado, é possível concluir
que existem três estruturas que devem ser tidas em conta: músculo, tendão
e articulação.
Relativamente ao tendão, a ausência de evidência negativa e a
presença de vários aspetos que vão de encontro ao principal problema do
doente, sugerem que esta estrutura esteja na origem da dor do indivíduo.
Não podemos descartar a possibilidade de serem as outras duas estruturas
(articulação e músculo), porque apesar da abundancia de evidencia
negativa, a dor tem características que pode ter relação com ambas as
estruturas e temos de terem em atenção.
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Causa/fonte dos sintomas relativos à principal dor do doente
Mecanismo dos
Evidência Positiva Evidência Negativa
Sintomas
Intermitente Pior desde o início;
Nocicetiva Mecânica Localizada Pior durante o dia
Pior de manhã
Edema
Dor localizada
Piora com o aumento
Alívio com o repouso
Nocicetiva da pressão nos tecidos e
Tempo de evolução
Inflamatória efeito do movimento
Localizada
Alívio da dor e edema
Intermitente
graças a anti
inflamatórios
Piora com o
movimento
Nocicetiva Isquémica ____________________ Melhora com o
repouso
Responde à medicação
Melhora com o
Neuropática Periférica Responde à medicação
repouso
Responde à medicação
Tempo de evolução
Central ____________________
da condição (3
semanas)
Indivíduo motivado
Afetiva ____________________
para volta à competição
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Ao analisar a tabela, podemos excluir alguns dos mecanismos, que só
apresentam evidência negativa, tal como neuropática isquémica e afetiva.
Em relação à neuropática periférica e central apesar de
apresentarem evidência positiva e negativa, não se adequam ao caso clínico
inerente.
Em conclusão, existem dois mecanismos, o nociceptivo
inflamatório e mecânico, que têm mais probabilidade de serem os
mecanismos responsáveis dos sintomas. Embora o nociceptivo inflamatório
esteja mais de acordo com este caso, uma vez que se trata de um problema
devido ao desporto praticado e o sintoma aparece após o esforço repetido,
produzindo assim processos inflamatórios cada vez que existe uma pressão
dos tecidos e movimento, não nos podemos considerar ser um processo
mecânico devido ao mecanismo da lesão.
Importa, ainda, referir que será necessário um exame objetivo
detalhado para que dessa forma, consigamos descartar hipóteses e
confirmar estas suposições para que possamos inferir um diagnóstico
diferencial para descobrir melhor planp de tratamento.
Exame Objetivo
Observação
O utente chegou ao ginásio de fisioterapia de forma independente,
vindo a “manquejar”, não conseguindo apoiar totalmente o pé direito no
chão. Ainda assim, apresenta-se motivado para voltar à competição.
Características Antropométricas
Peso: 72 Kg
Altura: 1,75m
IMC: 23,45 kg/m2
Postura
A análise postural, foi realizada com o sujeito em posição anatómica,
observando a vista anterior, posterior e de perfil direito e esquerdo, sendo
que as alterações encontradas foram:
Pés cavos
Hiperlordose lombar
Protração da cabeça
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Marcha
Foi avaliada a marcha ao longo de um percurso em linha reta, na
vista anterior, posterior e de perfil e foram observadas alterações:
Elevação da anca direita durante a fase de oscilação, de
maneira a não recrutar a flexão plantar (que causa a dor)
Palpação
Foi palpada de forma a não realizar muita pressão, a zona do tendão
de Aquiles, que se encontra edemaciada. A dor foi imediatamente
despertada pelo que é de notar uma hiperalgesia.
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Movimentos acessórios da articulação tibiotársica
Foram testados os movimentos ântero-posteriores, póstero-interiores,
longitudinais cefálico e caudal, transversos para dentro e para fora, bem
como as rotações e em nenhum movimento, a dor foi o fator limitante,
apesar de a mesma estar presente.
Força muscular
Foi testado usando o Teste Muscular Funcional:
Testes Isométricos
Foram realizados os testes isométricos, sendo estes positivos para os
músculos gastrocnémios e solear. Uma vez que o utente referiu dor, no
movimento de flexão plantar.
Testes Especiais1
Teste de Thompson
O paciente é colocado em DV com pés fora da
marquesa. O terço médio do tricípite sural é comprimido pelo
examinador, e em caso de ausência de uma flexão plantar
normal, deve-se suspeitar de rutura do tendão.
Resultado: Negativo
Arc Sign
O paciente em DV, com os pés fora da marquesa,
pedimos para fazer alternadamente, movimentos de
dorsiflexão e flexão plantar. Se o edema, juntamente com o
tendão se mover de proximal para distal, significa “presença
de tendinopatia”.
Resultado: Positivo
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Revisão de Sistemas
A revisão de sistemas tem como objetivo a identificação de alguma
alteração nos vários sistemas do corpo humano, musculosquelético,
cardiovasculares/ pulmonar, tegumentar e neuromuscular e verificar se há
necessidade de reencaminhar o utente para outro profissional de saúde.
Sistema Músculo-Esquelético: devido ao facto, de haver
diminuição de força dos músculos posteriores da perna direita,
bem como a diminuição das amplitudes articulares
Sistema Cardiovascular e Pulmonar: devido ao edema (não é
muito considerável)
Sistema Tegumentar e Neuromuscular: não há nenhum
problema ao nível destes sistemas
Padrões de Diagnóstico
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Padrão de
Critérios de Inclusão Critérios de Exclusão
Diagnóstico
Incapacidade de
treinar
Padrão 4C – Subir e descer escadas
Redução da força no
MI direito
Padrão 4D -
Disfunção da
mobilidade articular, Diminuição de certas
função motora, amplitudes
performance muscular Dor _____________
e amplitude de Diminuição de força
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Objetivos do Tratamento
Curto Prazo
Diminuir a intensidade da dor
Eliminar edema
Eliminar pequenos processos inflamatórios, na região
Aumentar a amplitude articular
Médio/Longo Prazo
Eliminação da dor
Normalização da amplitude articular da tibiotársica
direita
Normalização do equilíbrio muscular entre os flexores
plantares e dorsais
Aumentar a flexibilidade dos músculos flexores
plantares
Aumentar força dos músculos flexores plantares
Corrigir as alterações posturais
Adoção de uma postura adequada
Prevenir reincidências
Regressar aos treinos de futebol, sem limitações
Plano de Tratamento
O plano de intervenção deve ser ajustado às necessidades de cada
utente, por forma a ir de encontro aos seus objetivos e a motivá-lo até ao
final do tratamento, atingindo a completa funcionalidade e bem-estar do
atleta.
Inúmeras intervenções têm sido empregadas por profissionais para o
tratamento da tendinopatia de Aquiles. Níveis variados de sucesso e as
evidências estão disponíveis para cada uma dessas intervenções poderão ser
encontradas.
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Banhos de contraste7
A crioterapia/termoterapia poderão ser usadas, de modo a provocar a
vasodilatação na zona do tendão de Aquiles. O objetivo passa por diminuir
o edema na zona, e consequente diminuição da dor. Será a aplicada a razão
de 4:1 min de quente/frio no máximo de 20 min.
Eletroterapia7,8
Laser: laser com uma densidade energética de 3 j/cm2 (efeito
analgésico, anti-inflamatório e circulatório) no ponto de dor e de tensão.
Será utilizado também sempre que possível as ondas de choque, que
recentemente têm mostrado ótimos resultados e melhorias nesta patologia
(6 sessões, 1x por semana).
Em caso de dor podemos recorrer à Estimulação eléctrica nervosa
transcutânea convencional (TENS) (15/20 Min)
Treino excêntrico9,11
Executar 3 séries de 15 repetições, 2x por dia, 7 dias por semana
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Joelho fletido – Solear
De pé na beira do degrau e mãos no
corrimão, levantar ambas as pernas
para ajudar a empurrar a perna afetada
(A)
Transferir para a perna afetada o peso,
como o joelho fletido a cerca de 45º, e
controlar LENTAMENTE essa descida
ate o calcanhar ficar abaixo do degrau
(C)
Transferir o peso de volta para a perna
não lesionada para levantar ambas as
pernas (A)
Alongamentos 1
Alongar tem sido muito recomendado fazendo parte de uma
intervenção das tendinopatias do tendão de Aquiles. Surpreendentemente,
pouca evidência suporta que os alongamentos são validos tanto na
prevenção como no tratamento.
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Enquanto fisioterapeutas devemos ter em conta, a prevenção de
recidivas e devemos informar o paciente, neste caso sendo um desportista,
para a realização de um bom aquecimento, alongar constantemente e para o
uso de um bom calçado para a prática desportiva. Deverá ainda parar
quando voltar a sentir dor, e procurar com urgência o fisioterapeuta para se
proceder à avaliação.
Intervenção
Os 50 participantes foram divididos em dois grupos aleatoriamente,
sendo que todos receberam injeções locais de anestésicos ou
corticosteroides, e a prescrição de um anti inflamatório.
Grupo 1- 25 pacientes
Os pacientes receberam trabalho excêntrico.
Grupo 2- 25 pacientes
Os pacientes foram administrados com repetitivas ondas de
choque de baixa energia.
Resultados
25
De salientar, que em ambos os grupos houveram utentes que
afirmaram estarem completamente recuperados ou muito perto da
recuperação, totalizando um numero de 7 pacientes no grupo 1 e 16 no
grupo 2.
Reavaliação
Durante o processo de reavaliação realizam-se testes e medidas
específicas após a avaliação inicial de forma a avaliar o progresso do
indivíduo e assim modificar ou redirecionar, se necessário, as intervenções.
A reavaliação é feita no início de cada tratamento, durante a
aplicação de uma técnica, após ter sido aplicada uma técnica e no final de
cada sessão de tratamento, para ter informações na evolução do tratamento
e se necessário mudar o tratamento para atingir os objetivos finais. Se os
sintomas melhorarem significa que o tratamento está a ser eficaz e deve ser
mantido, mas se piorarem indica-nos que a intensidade ou o método da
intervenção deve ser reajustado.
Neste caso específico, a reavaliação irá ser efetuada após 5 semanas
de tratamento, observando as diferenças nesse momento e o início do
tratamento e espera-se que os objetivos sejam atingidos.
Conclusão
Após a realização deste trabalho podemos concluir que a
Tendinopatia do tendão de Aquiles é uma patologia bastante comum e que
afeta sobretudo desportistas.
Foi possível aprofundar os conhecimentos sobre a patologia bem
como o tratamento, que deve incluir banhos de contraste, eletroterapia
exercícios de alongamento e o trabalho excêntrico. Por outro lado obrigou a
uma complexa pesquisa através do Google Académico, PEDro e PubMed
26
acerca do tema e da seleção e organização da informação sobre o mesmo o
que foi muito positivo para o treino da nossa capacidade de síntese.
Concluo, portanto, que com base no caso apresentado consegui
efetuar todas as fases do processo da fisioterapia, o que me permitiu
desenvolver o meu raciocino clinico, assim como a capacidade de tomar
decisões ao longo deste processo.
O papel da fisioterapia na tendinopatia do tendão de Aquiles é muito
importante, tanto no tratamento destas patologias como na prevenção de
novas ocorrências e neste caso, dar importância do retorno à prática
desportiva como fase integrante do tratamento.
É fundamental, enquanto estudantes de Fisioterapia e futuros
profissionais, sermos cada vez mais rigorosos e metódicos no exame e na
avaliação clínica do indivíduo.
Bibliografia
1. Carcia CR, Martin RL, Wukich DK. Achilles Pain, Stiffness, and
Muscle Power Deficits: Achilles Tendinitis. J Orthop Sport Phys
Ther. 2010;40(9):A1-A26. doi:10.2519/jospt.2010.0305
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9. Tendinopathy MA. Eccentric Heel Drop Exercise Protocol.
2017;(November 2015):2017.
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