A animação de Cutts retrata a sociedade contemporânea através da corrida de ratos,
um exercício auto-destrutivo que evoca a imagem de ratos - que representam os seres humanos - estimulados por meio do bombardeio de ordens fantasiadas de sugestões de felicidade através de bens ou ações (“beba”, “comba”, “seja”, etc), acreditando que podem encontrar sentido para suas vidas mas ao fim não atingem nenhum objetivo coletivo ou individual. Ao substituir seres humanos por ratos que competem para sair do labirinto sem saída da felicidade sugerida pelos meios midiáticos, Cutts espera causar distanciamento e reflexão sobre a sociedade contemporânea, alimentada por consumismo e alienação, onde a competição já está encravada, tornando-se a própria razão. Como pode ser sugerida a felicidade em uma sociedade de competição generalizada? Na antiga filosofia grega, “felicidade” era um termo ligado à ética, a estreita relação entre a virtude de caráter, a felicidade e a importância dos bens externos como a saúde, a riqueza e a beleza. Na sociedade contemporânea, apenas os bens externos são considerados, sendo a virtude de caráter esquecida, pois espera-se dos “competidores” muito menos virtude e muito mais adaptação a cada novo bombardeio de ordens. Em um contexto onde muito se fala em meritocracia, empreendedorismo e status social, a noção de suposta felicidade individual em detrimento da infelicidade generalizada tornou-se natural. Estamos todos propensos a viver tentando completar lacunas vazias com uma felicidade, imposta pela sociedade, formada por objetos e poder aquisitivo. Sendo assim, compartilhando os mesmos ideais dos filósofos Aristóteles e Epicuro, que acreditavam que a felicidade não estava ligada a riquezas, o animador Steve Cutts, através de uma animação mostrando o cotidiano frenético de uma população de ratos antropomorfizados, retrata que a busca desenfreada por prazeres presente na sociedade contemporânea não traz felicidade, mas apenas sofrimento e desgaste físico e emocional.