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5 PILARES PARA A FORMAÇÃO DO OBREIRO DO SÉC.

XXI

INTRODUÇÃO

O Deus Obreiro (Gn.1:1; Is. 64:4; Jo. 5:17) chamou filhos não apenas
para a salvação, mas para o serviço no seu Reino (Mc. 3:14). Esse chamado
divino – ao serviço, está muito bem apresentado na Palavra de Deus, e deve
ser entendido como uma honra, visto que o Deus suficiente em si mesmo
decide incluir pessoas limitadas e falhas no seu fazer divino no meio de sua
criação.
Assim, podemos observar desde o livro dos Gênesis, com o chamado de
Adão, até o livro do Apocalipse com João, o discípulo amado, que por causa do
seu serviço ao Rei Jesus estava aprisionado naquela ilha-prisão Deus usa
homens e mulheres de todas idades, extratos sociais, língua e capacidades
para manifestar seu amor por suas obras poderosas.

“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” Mt. 5:16.

Ao longo do seu ministério de ensino, Jesus, repetidas vezes, enfatizou


não apenas a necessidade de os discípulos cumprirem seu chamado, mas de
cumprirem bem esse chamado – o que glorifica ao Pai são as BOAS OBRAS
dos seus filhos (Mt. 7:24-27; Mt. 25:14-30; Lc. 17:7-10) pois assim estariam
honrando ao Senhor que os chamou para o serviço, segundo o exemplo do
Senhor Jesus que fez tudo ao seu alcance dando até sua vida (até a última
gota do seu sangue) para cumprir a tarefa que o Pai lhe havia confiado como
seu ungido.
O apóstolo Paulo escrevendo para seu filho na fé, Timóteo, o adverte
que ele deve ser um Obreiro bem capacitado a fim de manifestar da melhor
maneira, que lhe fosse possível, o Deus excelente a quem ele representava
como pastor na igreja da cidade de Éfeso – 2Tm. 2:15. Note que a orientação
de Paulo admite duas realidades: Deus havia escolhido Timóteo como seu
cooperador (1Tm. 4:14); mas era Timóteo quem tinha que “procurar
apresentar-se” de acordo o chamo que Deus lhe fez.
“PROCURA APRESENTAR-TE a Deus aprovado, como obreiro que não
tem do que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” 2 Tm.
2:15.

Entre tantos personagens bíblicos que poderiam ser tomados como


referencial para o nosso aprendizado a respeito do preparo necessário para a
obra do Bom Mestre, quero tomar, aqueles que para mim são os maiores
ícones da Palavra: Moisés, Jesus e Paulo. Três servos de Deus que são,
indiscutivelmente, divisores de águas quando tomamos em consideração a
singularidade da tarefa que tinham que executar e os resultados ao longo da
história da fé no Deus de Abraão além de seus tempo e contextos. Moisés para
Israel, Paulo para os gentios e Jesus o tudo em todos para todos.
Moisés, pois é o grande legislador chamado por Deus não apenas para
tirar os filhos de Jacó da servidão no Egipto, mas foi através dele que o Eterno
deu a estrutura social, espiritual e “profética” de Israel. Jesus, pois é a fonte o
centro e o final onde todas as coisas, seres, propósitos e ideários convergem e
se encerram. E Paulo, pois é através dele que Deus alcança os outros filhos
que estavam guardados para o novo tempo inaugurado pelo Senhor do tempo,
Jesus. Esses três servos de Deus não se destacam apenas pelo espectro de
seus chamados, mas pelo preparo que tiveram para cumprir o chamado, e é
essa a parte que nos interessa.
A respeito de Moisés, Estevão dá testemunho, segundo a tradição
hebraica, que foi um homem que recebeu toda a formação ou preparação que
os membros da corte, de sua época podiam ter acesso nos palácios dos
Faraós. Ele era homem instruído em “toda a ciência dos egípcios” e os 40 anos
que viveu no Egipto somado aos outros 40 na terra de Midiã lhe permitiram ser
o melhor líder que o povo hebreu poderia ter ao longo dos 40 anos que
andaram pelo deserto – At. 7:22.
Paulo da cidade de Tarso da Cilicia dá testemunho (verdadeiro) de si
mesmo que aprendeu aos pés de Gamaliel e era tal seu brilhantismo que
mesmo sendo solteiro se tornou um fariseu, destacando-se entre os seus
pares, com excelência. Sua cidade natal era um grande centro da filosofia
estoica e Por nascer em uma cidade que ficava na intercessão entre a região
da Europa e da Ásia, Paulo era um homem cosmopolita e essa vivência
multicultural lhe habilitou a viajar meio mundo como embaixador de Cristo entre
os gentios.
No seu evangelho Lucas dá testemunho de Jesus em como seu
desenvolvimento era integral: espiritual, graça, sabedoria e estatura diante de
Deus e dos homens – Lc. 2:40;52. Ao encarnar Jesus se fez homem e em sua
humanidade ele teve todo o preparo espiritual e humano que lhe eram
necessários para cumprir sua missão, pois não é difícil entender que o silêncio
de 18 anos que os evangelhos fazem a respeito da vida de Jesus (dos 12 aos
30 anos) foram vividos na normalidade da vida daqueles dias e do seu próprio
contexto.
Assim, entendemos que todos os que receberam a honra de serem
alistados como servos de Deus, tal como foi com Moisés, Paulo e o nosso
Cristo, devem entender a recomendação de Paulo à Timóteo e aplicarem todo
o esforço necessário para serem bons servos de Deus para seu tempo,
discernindo o tempo e as estações, a partir de uma leitura mais assertiva da
realidade em que estamos inseridos e interpretando-a à luz da santa, eterna,
perfeita, plena e poderosa Palavra de Deus – Is. 50:4.

“... Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com
Deus” Gn. 6:9.

Consideramos que ao menos 5 disciplinas são necessárias para que a


Formação do Obreiro do Reino de Deus na Assembleia de Deus Pentecostal
de Angola seja o mais abrangente e eficaz possível:
- Vida de intimidade com Deus;
- Vida familiar saudável;
- Treinamento teológico consistente;
- Treinamento filosófico esclarecedor;
- Treinamento ministerial/pastoral prático.
1 - VIDA DE INTIMIDADE COM DEUS

“E subiu ao monte, e CHAMOU A SI os que ele quis; e VIERAM A ELE. E


nomeou doze para que ESTIVESSES COM ELE e os mandasse a pregar”
Mc. 3:13-14.

Todos nós que fomos separados por Deus como seus servos para sua
seara, devemos nos empenhar no serviço a que fomos convocados. Na carta
aos Romanos 12:7-8 o apóstolo Paulo diz que devemos nos empenhar em
exercer bem o dom que recebemos de Deus. O tom da recomendação sobe
em Jeremias 48:10a visto que se incorre em maldição quando decidimos fazer
a obra do Senhor, mas de maneira displicente e irresponsável. Porém, antes
mesmo da ação em seu nome, Deus nos chama para a comunhão consigo
mesmo.
E é na comunhão com Ele que as coisas devem começar e sempre
continuar. No texto destacado antes, depois de passar a noite em oração (Lc.
6:12) o Senhor Jesus separou dentre seus seguidores 12 homens a quem os
chamou de enviados ou missionários (que é o significado da palavra apóstolo).
Mas, antes mesmo de os constituir seus apóstolos, como o texto destaca e a
própria narrativa bíblica falam de cerca de 3 anos de preparo ministerial, Jesus
os chamou a si mesmo e antes de irem para outro lugar eles vieram a ele
para estarem com ele e só depois da comunhão estariam aptos para a
missão.
Ao olhar para a vida de Moisés o próprio Deus diz à Josué que ele era
com Moisés (Js. 1:5) e na vida desse libertador muito mais do que fazer
alguma coisa mandada pelo próprio Deus, a alegria e motivação estava na
comunhão com o próprio Deus:

“E falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer


fala com o seu amigo; depois tornava-se ao arraial; mas o
seu servidor, o jovem Josué, filho de Num, nunca se
apartava do meio da tenda. E Moisés disse ao Senhor:
Eis que tu me dizes: faze subir a esse povo, porém não
me fazes saber a quem hás de enviar comigo; e tu
disseste: conheço-te por teu nome, também achaste
graça aos meus olhos. Agora, pois, se tenho achado
graça aos teus olhos, rogo-te que me faças saber o teu
caminho, e conhecer-te-ei, para que ache graça aos teus
olhos; e considera que está nação é o teu povo. Disse
pois: Irá a minha presença contigo para te fazer
descansar. Então lhe disse: se tu mesmo não fores
conosco não nos faças subir daqui” Êx. 33:11-15 (ACF).

O mesmo padrão de prioridade para a relação antes da realização na


vida dos embaixadores do Reino de Deus está presente na vida de Paulo.
Segundo as próprias palavras do apóstolo sejam as registradas no livro de Atos
(20:24) ou seu relato de gratidão aos filipenses e a Deus (3:7-11) a mudança
em sua vida veio através do encontro e a vida de comunhão que mantinha com
o Senhor Jesus. Antes de ser um apóstolo, ele era um discípulo e só por causa
de sua vida de discipulado com Jesus ele foi o servo que conhecemos.
É a vida com e em Deus que nos habilita a sermos filhos e não apenas
servos, sendo essa filiação o alvo final do processo da salvação. Visto que
alguns há, conforme as palavras de Jesus que viverão fazendo coisas em seu
nome mas, não terão parte da vida eterna pois não tinham comunhão como
ele:
“Nem todo que me diz: Senhor, Senhor! Estrará no Reino
dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que
está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor,
Senhor! Não profetizamos nós em teu nome? E em teu
nome não expulsamos demónios? E em teu nome não
fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi
abertamente: nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vos
que praticais a iniquidade” Mt. 7:21-23.

A vida com Deus acontece na dedicação a oração, leitura e meditação


na Palavra de Deus e essas são as atividades prioritárias dos filhos de Deus,
pois é nessa comunhão com Deus que nossa nova identidade segundo a
santidade de Deus é formada. É na comunhão com Deus que o velho homem
deixa de ser o dominador e o Espírito de Deus vai nos guiando para sermos
mais parecidos com o Senhor Jesus – o varão perfeito. Retomando o texto de
Marcos 3, vemos que Jesus estabelece um padrão para o chamado: um
chamado à comunhão com ele, para depois de haver aprendido dele poderem
cumprir bem, pelos motivos corretos o chamado para levar outros à essa
mesma comunhão.
2 - VIDA FAMILIAR SAUDÁVEL

“Mas se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua
família, negou a fé, e é pior do que o infiel” 1Tm. 5:8.

O Deus bíblico é trino e família. Ele existe em três pessoas distintas que
se apresentam a nós por designações familiares: Deus Pai, Deus Filho e Deus
Espírito Santo. Esse mesmo Deus decidiu por sua sabedoria e soberania criar
seres vivos em pares complementares e dar a todos (animais e humanidade)
uma missão comum “multiplicar-se e encher a terra”, “ser fecundos e encher a
terra”. Assim, a família é essa instituição que existe desde a eternidade (na
realidade divina) e que é estendida a criação para dar alegria, proposito e
participação (no agir de Deus) para aqueles que se inserem nela.
A importância da família não é determinada por opinião pública, familiar
ou particular de qualquer pessoa, mas pelo próprio Deus, visto ser Ele mesmo
o autor dela e o fim para o qual ela foi criada (Rm. 11:36; Ef. 3:15). Deus criou
a família para ser uma realidade de: amor, respeito, companheirismo,
harmonia, segurança, refrigério, compreensão, aceitação. É no casamento e na
família que Deus quer prover à humanidade a comunhão necessária para que
juntos possam viver e superar as dificuldades inerentes a existência humana.
O alerta é urgente e grave, a família está sob forte, sistemático e
constante ataques vis, e em especial as famílias dos servos e servas de Deus.
Esses ataques vêm de fora, do diabo e todas as artimanhas que ele usa para
realizar seus planos: poderes das trevas, ideologias, leis civis e criminais,
mídia, cultura secular, religião, heresias, etc. Mas resta ainda um perigo que se
esconde dentro “de casa” e que é tão nocivo quanto as setas do diabo contra
nossa família – o descaso com a família em nome de Deus.
Isso mesmo, não é incomum, infelizmente, tomarmos conhecimento de
casamentos que se acabam, famílias que são afastadas e outros tipos de
relacionamentos familiares que se destroem e a justificativa é que esses
homens e mulheres, tementes a Deus, estavam ocupados com as coisas do
Reino de Deus. E segundo essa lógica de entendimento, não seria equivoco
dizer que foi a Obra de Deus que acabou com tal relacionamento. Mas será
isso verdade? Ou, será que era essa mesma a vontade de Deus para esse
relacionamento? Pelas escrituras podemos crer que sejam poucas as chances
de ser assim, é da vontade de Deus que vivamos em família e de maneira feliz.
O problema começa com as prioridades que elegemos em nossa vida.
Se for possível elencar realidades prioritárias na vida do cristão,
inequivocamente, Deus tem primazia – Dt. 6:5; Mc. 12:30 pela simples, mas
intrínseca razão de Ele ser a fonte da vida, a verdadeira vida. Logo, depois, é
bastante comum entre aqueles que já descobriram em Deus ou estão
buscando entender nele a vocação que receberam dele colocarem como
segunda prioridade a vocação ou ministério, vindo depois a família e outras
realidades relacionais que precisamos para viver. Mas segundo a Palavra de
Deus, essa ordem de prioridades está incorreta.
O apóstolo Paulo, quando escreve a igreja de Corinto sobre a vida de
serviço ao Senhor em sua primeira carta, ele faz várias recomendações para
aqueles que são solteiros e para os que estão casados, e para esse último
grupo, ele diz de maneira bastante taxativa que os casados devem cuidar das
coisas desse mundo a fim de gradarem seus conjugues (v.33 e 34). O que a
princípio pode parecer uma contradição em relação a instrução de Jesus
advertindo que qualquer que amar mais a seu parente do que a Jesus não
seria digno dele, ou ainda a recomendação do Espírito através de João para
que não amemos o mundo nem as coisas inerentes a ele na verdade em nada
se contrariam com a adoração exclusiva e verdadeira que devemos à Deus.
O texto de Paulo a Timóteo, em destaque no começo do tópico é
singular em sua advertência – aqueles que na igreja de Éfeso afirmassem não
dar assistência (fosse emocional, relacional, financeira ou de qualquer outra
espécie) aos seus familiares por causa de quaisquer motivos, incluindo os
religiosos, eles eram considerados reprovados diante de Deus, como tendo
negado a fé (fides qua creditur / fides quae creditur) e se tornando pior que o
incrédulo (o ateu está em melhor posição?). Quão grande falta contra Deus é o
negligenciar a família e mais ainda, fazer tal coisa tendo como motivação um
pretenso serviço ao Reino de Deus?!
Como bem lembra o pastor Elinaldo Renovato a família é,
acertadamente, considerada a primeira instituição criada por Deus, isso antes
mesmo da igreja (organismo e organização). Ela é na verdade a célula base a
partir da qual se forma a igreja universal e local. E por essa razão ela, a família,
é a nossa primeira igreja pela qual devemos zelar amorosamente. Entendendo
que essa instituição é tão importante diante de Deus, que Ele a criou antes de
outras instituições (como a Igreja, o Estado, etc) e por meio de uma Ele decidiu
abençoar todas as famílias da terra (Gn. 12:3). E é tão serio o assunto que
Paulo diz a seu filho na fé que uma das recomendações de um pastor local é a
boa governação de sua casa 1Tm. 3:1-5.
Cuidar e dar a devida prioridade à família é uma maneira correta de
honrar a Deus visto que Ele mesmo é que a dá ou forma:
- Para as Esposas - Pv. 19:14 “A casa e os bens são herança do pais; porém
do Senhor vem a esposa prudente”;
- Para os Maridos - Ef. 5:28 “Da mesma forma os maridos devem amar cada
um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama a si
mesmo”;
- Para o casal – Pv. 5:18-20 “Seja bendita a sua fonte! Alegre-se coma esposa
da sua juventude. Gazela amorosa, corça graciosa; que os seios de sua
esposa sempre o fartem de prazer, e sempre o embriaguem os carinhos dela.
Por que, meu filho, ser desencaminhado pela mulher imoral? Por que abraçar o
seio de uma leviana?”;
- Para os filhos – Sl. 127:3 “Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto
do ventre o seu galardão”;
- Para pais e filhos – “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor,
porque isto é justo. Honra a teu pai e tua mãe, que é o primeiro mandamento
com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra. E vós,
pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e na
admoestação do Senhor”.
3 - TREINAMENTO TEOLÓGICO CONSISTENTE

“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado,


sabendo de quem o tens aprendido. E que desde a tua meninice sabes as
sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé
que há em Cristo Jesus. Toda Escritura é divinamente inspirada, e
proveitosa para ensinar, para redarguir, para instruir e corrigir em justiça;
Para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para a
boa obra” 2 Tm. 3:14-17.

“O que tem lhe prejudicado excessivamente nos últimos


tempos e, temo que seja o mesmo atualmente, é a
carência de leitura. Eu raramente conheci um pregador
que lesse tão pouco. E talvez por negligenciar a leitura,
você tenha perdido o gosto por ela. Por esta razão, o seu
talento na pregação não se desenvolve. Você é apenas o
mesmo de há sete anos. É vigoroso, mas não é profundo;
há pouca variedade; não há sequência de argumentos.
Só a leitura pode suprir esta deficiência, juntamente com
a meditação e a oração diária. Você engana a si mesmo,
omitindo isso. Você nunca poderá ser um pregador
fecundo nem mesmo um crente completo. Vamos,
comece! Estabeleça um horário para exercícios pessoais.
Poderá adquirir o gosto que não tem; o que no início e2
tedioso, será agradável, posteriormente. Quer goste ou
não, leia e ore diariamente. É para sua vida; não há outro
caminho; caso contrário, você será, sempre, um frívolo,
medíocre e superficial pregador. Faça justiça à sua
própria alma; dê-lhe tempo e meios para crescer. Não
passe mais fome” (17/08/1760).

O texto acima é a parte final de uma longa carta de cunho pastoral que
John Wesley escreveu para seu “amigo” John Trembath para o confortar,
aconselhar e repreender no que era necessário para que ele se torna-se na
pessoa que Deus o chamou para ser, e podemos perceber que nessa parte
final da carta, Wesley entende que o problema de má fama e da fraqueza
ministerial e espiritual de seu interlocutor está diretamente associado com sua
pouca ou quase nenhuma dedicação ao estudo. Isso em 1760, 259 anos atrás!
Quanto mais para nós que vivemos em uma era também chamada de era da
informação?
Ao olharmos para a vida dos homens que elegemos no começo do
nosso estudo como nossos modelos de analise – Moisés, Paulo e Jesus,
podemos perceber que uma das características que tinham de distintivos era
seu preparo educacional para a tarefa que Deus lhes confiou. Moisés educado
em todas as ciências do Egito; Paulo treinado segundo a escola rabínica de
Gamaliel e com bons conhecimentos (inferindo de algumas passagens do livro
de Atos dos Apóstolos) das escolas filosóficas de sua época; e Jesus era
claramente bom conhecedor da Lei mosaica e da tradição dos anciãos
segundo as escolas dos fariseus, dos saduceus e dos essênios. Resumindo, os
três eram homens que tinham um bom preparo teológico.
Infelizmente em nossas igrejas (de corrente pentecostal) ainda existem
muitas resistências quanto ao estudo e preparo teológico dos obreiros das
nossas igrejas. Argumentos como: estudar teologia mata a fé; a teologia apaga
o fogo; a teologia faz confiar apenas na razão e silenciar a voz do Espírito; a
letra mata e o espírito vivifica; etc. têm sido ainda usados como razões válidas
para não encorajar os crentes e em especial os Obreiros a dedicação no
estudo teológico. Mas se considerarmos que a teologia no seu nível mais
básico é o falar sobre Deus, então todos os cristãos falam teologicamente.
Logo se vamos falar de teologia, falemos acertadamente, para a glória de
Deus.
Paulo descreve para Timóteo no capítulo 3 da sua segunda carta, o perfil
reprovado por Deus, e para o santo ministério, de alguns homens, e insiste
com ele que permaneça na doutrina que aprendeu dele. Essa doutrina que ele,
Timóteo, aprendeu de Paulo associado com o ensinamento na Palavra de Deus
que Lóide e Eunice lhe deram quando ainda era criança iriam contribuir para
seu bom desempenho enquanto ministro do Evangelho e principalmente para a
sua própria salvação – 1Tm. 4:16. Aprender a doutrina da fé que professamos
é uma clara maneira de honrar a Deus, visto que poderemos prestar então um
culto com entendimento ao Deus que servimos – Rm. 12:1.
No que se refere a teologia, a dificuldade vai além da resistência que
alguns têm com a ciência ou com as pessoas formadas na área, mas um
cuidado do qual não se deve descorar, nessa era da informação, é que a
quantidade não é sinónimo de qualidade e em especial de um preparo que nos
leve para mais perto de Deus e sua glorificação. Entender, ainda que de
maneira introdutória, as várias nuanças da teologia cristã é uma tarefa
necessária para todo o cristão
Tomando em consideração a vida de Moisés, Paulo, Jesus, as
recomendações de Paulo à Timóteo e a carta de John Wesley a John
Trembath, então devemos considerar que não se trata apenas de se dedicar ao
estudo teológico, mas de um preparo teológico que seja: bíblico, cristocêntrico,
espiritual, contextual, aplicável e coerente teologicamente (com o Reino de
Deus e a igreja local). Existem muitas opções de formação teológica, porém
várias dessas opções não atendem os requisitos básicos daquilo que é o
padrão divino segundo aparece na Palavra de Deus. Não podemos confundir a
postura missionária de Paulo em não fazer recurso aos seus conhecimentos
teológicos e filosóficos (1Co. 2:1-5) como uma reprovação a tais, mas sim que
para aquele momento de seu serviço tais ferramentas não eram necessárias.

Norman Geisler e Paul Feinberg escrevem juntos um excelente livro de


Introdução à Filosofia: uma perspectiva cristã, publicado pela Editora Vida
Nova e neles eles tratam de apresentar a importância, características e os
limites da filosofia a partir de uma leitura bíblica. É deles a seguinte colocação:

“A filosofia apresenta um desafio específico para o


cristão, de modo tanto positivo quanto negativo. A filosofia
é útil na construção do sistema cristão e na refutação de
pontos de vista contrários. Há um texto crucial no Novo
Testamento que corresponde a estas duas tarefas. Paulo
disse: ‘Anulamos sofismas e toda altivez que se levante
contra o conhecimento de Deus [aspecto negativo],
levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo
[aspecto positivo]’ (II Co 10.5). Sem um conhecimento
eficiente da filosofia, o cristão está à mercê do não cristão
na arena intelectual. O desafio do cristão é ‘superar no
pensamento’ o não cristão tanto na edificação da igreja
quanto em derrubar sistemas de erro.
Se esta é a tarefa do cristão na filosofia, como, pois se
explica a advertência do apóstolo Paulo no sentido de
‘cuidar que ninguém vos venha a enredar com sua
filosofia’ (Cl 2.8)? Infelizmente, alguns cristãos têm
entendido este versículo como sendo uma injunção
contra o estudo da filosofia. Esta ideia é incorreta por
várias razões. Primeiramente, o versículo não é uma
proibição contra a filosofia propriamente dita, mas, sim,
contra a falsa filosofia, pois Paulo acrescenta: ‘e [cuidado
com] as vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens’.
Na realidade, Paulo está advertindo contra uma filosofia
falsa específica, um tipo de gnosticismo incipiente que
tinha se infiltrado na igreja em Colossos (o grego tem um
artigo definido que indica uma filosofia específica).
Finalmente, não podemos realmente, ‘acautelar-nos’ da
falsa filosofia a não ser que primeiramente tenhamos
consciência dela. Um cristão deve reconhecer o erro
antes de ir contra ele, assim como um médico deve
estudar a doença antes de poder tratá-la com o devido
conhecimento” (GEISLER, FEINBERG, 1989, p.60).

Não seria exagero dizer que Paulo conseguia ser bastante fecundo em
seu trabalho de evangelista entre os gentios fossem quaisquer o seu grau de
instrução por causa da sua familiarização com os temas e abordagens das
escolas filosóficas de seus dias, desde sua cidade natal, mesmo em Jerusalém
até a capital do império, Roma. Ele advoga contra as vãs sutilezas dos
pensamentos humanos, usando suas próprias estruturas para demonstrar que
a loucura de Deus sempre vai se mostrar incomparavelmente mais sábia que
toda a sabedoria humana acumulada. Quanto mais em nossos dias de uma
sociedade que se acredita esclarecida, madura e cada vez mais pulverizadada
de pretensas verdades que querem reformar, reformular e até mesmo substituir
o genuíno Evangelho da graça a partir da lógica ou razão?
Um outro aspecto que nós leva a enfatizar a necessidade de um preparo
teológico o mínimo consistente está na necessidade da apologética da fé de
maneira melhor preparada o possível, uma vez que toda vez que nos
propomos a explicar a fé (os pilares doutrinários de nossa crença) estamos nos
engajando num exercício de apologia, e dependendo do nosso preparo,
poderemos plantar uma semente que vai crescer e florescer ou poderemos
simplesmente reproduzir mais religião e confusão. William Lane Craig e James
Porter Moreland são dois cristãos filósofos que têm se destacado para além
das fronteiras dos Estados Unidos das Américas (de onde são naturais), seja
em debates públicos como através de inúmeras e consistente publicações no
campo da apologética. Juntos eles escreveram um livro que é celebre nessa
área: Filosofia e Cosmovisão cristã, onde apresentam, entre outras tantas, 7
motivos do porque a filosofia é importante para uma vida cristã e
principalmente de testemunho, mais pujante e eficaz.
4 - TREINAMENTO FILOSÓFICO ESCLARECEDOR

“Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como também


alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração”
At. 17:28.
“Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de
filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os
rudimentos do mundo e não segundo Cristo” Cl. 2:8

A fim de apresentar as considerações que cremos serem boas


justificativas para a necessidade de um treinamento filosófico esclarecedor dos
Obreiros de Cristo nesse século XXI, estaremos tomando um belíssimo,
objetivo e pontual artigo publicado pelo pastor e professor Gilson Soares, em
sua página de internet a respeito do assunto. Vale antes salientar que o
treinamento a que nos referimos não se refere, ainda que não o exclua, a
frequência de um curso regular de filosofia pela filosofia, mas sim em tomar os
princípios argumentativos, as correntes e tendências, e interpreta-las todas a
luz da Palavra de Deus. Não se trata de ler a Bíblia a partir da filosofia, mas o
contrário, a Palavra de Deus interpretando e corrigindo a filosofia a fim de que
ela se torne um instrumental válido para o serviço do Reino de Deus – Fp. 3:8
(NVI).

A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NO CONTEXTO CRISTÃO


(http://pastorgilsonsoares.blogspot.com/2014/06/a-importancia-da-filosofia-no-
contexto.html)
Pr. Gilson Soares dos Santos

Qual a importância da filosofia para um cristão? Recorreremos, no primeiro


momento ao que escreve Geisler e Feinberg (1989, p. 60):

“A filosofia apresenta um desafio específico para o cristão, de modo tanto


positivo quanto negativo. A filosofia é útil na construção do sistema cristão e na
refutação de pontos de vista contrários. Há um texto crucial no Novo
Testamento que corresponde a estas duas tarefas. Paulo disse: ‘Anulamos
sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus [aspecto
negativo], levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo [aspecto
positivo]’ (II Co 10.5). Sem um conhecimento eficiente da filosofia, o cristão
está à mercê do não cristão na arena intelectual. O desafio do cristão é
‘superar no pensamento’ o não cristão tanto na edificação da igreja quanto em
derrubar sistemas de erro.
Se esta é a tarefa do cristão na filosofia, como, pois se explica a advertência do
apóstolo Paulo no sentido de ‘cuidar que ninguém vos venha a enredar com
sua filosofia’ (Cl 2.8)? Infelizmente, alguns cristãos têm entendido este
versículo como sendo uma injunção contra o estudo da filosofia. Esta ideia é
incorreta por várias razões. Primeiramente, o versículo não é uma proibição
contra a filosofia propriamente dita, mas, sim, contra a falsa filosofia, pois Paulo
acrescenta: ‘e [cuidado com] as vãs sutilezas, conforme a tradição dos
homens’. Na realidade, Paulo está advertindo contra uma filosofia falsa
específica, um tipo de gnosticismo incipiente que tinha se infiltrado na igreja em
Colossos (o grego tem um artigo definido que indica uma filosofia específica).
Finalmente, não podemos realmente, ‘acautelar-nos’ da falsa filosofia a não ser
que primeiramente tenhamos consciência dela. Um cristão deve reconhecer o
erro antes de ir contra ele, assim como um médico deve estudar a doença
antes de poder tratá-la com o devido conhecimento.”

1 – A base bíblica para a filosofia cristã

Continuemos com Geisler e Feinberg (Idem, p.61):

“Deus não dá prêmio à ignorância. Os cristãos não recebem uma recompensa


espiritual por uma fé ignorante. A fé pode ser mais meritória do que a razão
(‘sem fé é impossível agradar a Deus’ Hb 11.6), mas a razão é mais nobre
(‘Estes eram mais nobres que os de Tessalônica; pois... examinaram as
Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram de fato assim’ At 17.11). Na
realidade, o ‘grande mandamento’ ao cristão é: ‘Amarás o Senhor teu Deus...
de todo o teu entendimento” (Mt 22.37). Pedro diz que devemos sempre estar
preparados “para responder a todo aquele que vos pedir a razão da esperança
que há em vós” (I Pe 3.15). Paulo diz que estamos ocupados ‘na defesa e
confirmação do evangelho’ (Fp 1.7), e ele mesmo ‘arrazoou... acerca das
Escrituras’ (At 17.2)
É verdade que somos advertidos contra a ‘sabedoria do mundo’ (I Co1.20).
Mas esta, também, faz parte do desafio da filosofia para o cristão.”

2 – Os papéis da filosofia para um cristão

Moreland e Craig (2012, p. 31) apresentam sete razões da importância da


filosofia para o desenvolvimento de uma vida religiosa consistente:

“Primeira, a filosofia auxilia a tarefa da apologética, cujo objetivo é estabelecer


uma defesa plausível do teísmo cristão em face das objeções que lhe são
apresentadas, oferecendo evidências positivas a seu favor. As Escrituras
ordenam que nos ocupemos da apologética (I Pe 3.15; Jd 1.3). Os profetas do
Antigo Testamento frequentemente recorreram a vastos argumentos sobre a
natureza do mundo para justificar a religião de Israel. Por exemplo, eles
ridicularizaram os ídolos pagãos por sua fragilidade e insignificância. O mundo
é muito grande, afirmavam, para haver sido feito por algo tão pequeno (v Is 44
e 45). Argumentos como esses admitem uma posição filosófica sobre a
natureza da causalidade; por exemplo, que um efeito (o mundo) não pode advir
de algo menos poderoso do que ele próprio (o ídolo). Da mesma forma, os
profetas frequentemente recorriam aos princípios gerais do raciocínio moral
para criticar a imoralidade das nações pagãs (p. ex., Am 1 e 2). Argumentos
como esse utilizam a lei moral natural e os princípios filosóficos gerais do
raciocínio moral.”

“Segunda, a filosofia auxilia a igreja na atividade polemista (contestação).


Enquanto a apologética envolve a defesa do teísmo cristão, a contestação tem
por tarefa criticar e refutar as visões alternativas de mundo.”

“Terceira, a filosofia é uma manifestação central da imagem de Deus em nós. É


muito difícil propor uma definição incontestável da imagem de Deus, mas a
maioria dos teólogos concorda que ela inclui a habilidade em se ocupar do
raciocínio abstrato, especialmente nas áreas relacionadas às questões éticas,
religiosas e filosóficas. O próprio Deus é um ser racional, e os humanos são
como ele nesse sentido. Essa é uma das razões pela qual os homens são
ordenados a amar a Deus de todo o seu entendimento (Mt 22.37). Uma vez
que a filosofia, assim como a religião, é uma disciplina que enfoca
principalmente as questões fundamentais acerca do âmago da existência,
então a reflexão filosófica a respeito de Deus, de sua revelação especial e
geral faria parte do nosso modo de amá-lo e de refletir em seus pensamentos.”

“Quarta, a filosofia permeia a teologia sistemática e atua como sua serva,


ajudando de várias maneiras a clarificar seus conceitos. Por exemplo, os
filósofos cooperam na explicação dos diferentes atributos de Deus, ao
demonstrar que as doutrinas da Trindade e da encarnação não são
contraditórios; ao esclarecer, também, a natureza da liberdade humana e assim
por diante.”

“Quinta, a filosofia pode facilitar a disciplina espiritual do estudo. O estudo em


si mesmo é uma disciplina espiritual, e o simples ato de estudar pode mudar o
eu”.

“Sexta, a disciplina da filosofia pode elevar a ousadia e a autoimagem da


comunidade cristã em geral. [...] Gager afirma que foi principalmente a
presença dos filósofos e apologistas dentro da igreja que elevou a
autoconfiança da comunidade cristã, pois esses primeiros estudiosos
mostraram que a comunidade cristã era tão intelectual e culturalmente rica
quanto a cultura pagã que a circundava”.

“Sétima, a disciplina da filosofia é absolutamente essencial para a tarefa da


integração. Integrar significa misturar ou formar um todo. Nesse sentido, a
integração ocorre quando as convicções teológicas do indivíduo,
principalmente as baseadas nas Escrituras, estão misturadas e unidas a
proposições julgadas racionais por outras fontes, dentro de uma cosmovisão
cristã coerente e intelectualmente adequada”.
Concluímos lembrando que a própria história da igreja cristã revela que a
filosofia sempre exerceu papel de grande importância na educação dos crentes
para a proclamação da cosmovisão cristã.

BIBLIOGRAFIA

GEISLER, Norman L. FEINBERG, Paul D. Introdução à Filosofia: Uma


Perspectiva Cristã. São Paulo: Vida Nova. 1989.

MORELAND, J. P. CRAIG, William Lane. Filosofia e Cosmovisão Cristã. São


Paulo: Vida Nova. 2012.

5 - TREINAMENTO MINISTERIAL/PASTORAL PRÁTICO


“Mas você tem seguido de perto o meu ensino, a minha conduta, o meu
propósito, a minha fé, a minha paciência, o meu amor, a minha
perseverança” 2Tm. 3:10.

“Quanto a Tito, ele é meu companheiro e cooperador entre vocês; quanto


a nossos irmãos, eles são representantes das igrejas e uma honra para
Cristo” 2Co. 8:23.

“E levantou-se Moisés com Josué seu servidor; e subiu Moisés ao monte


de Deus” Êx. 24:13.

“E falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu
amigo; depois tornava-se ao arraial; mas o seu servidor, o jovem Josué,
filho de Num, nunca se apartava do meio da tenda” Êx. 33:11.

“E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar”


Mc. 3:14.
“E Jesus, andando junto ao mar da Galiléia, viu a dois irmãos,
Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, os quais lançavam as
redes ao mar, porque eram pescadores; E disse-lhes: Vinde após
mim, e eu vos farei pescadores de homens” Mt. 4:18-19.

Os rabinos judeus, diziam aos meninos que estavam iniciando a


caminhada de aprendizado rabínico que eles deveriam observar atentamente,
ouvir com bastante atenção a tudo o que seu mestre dizia, não deveriam
perder nenhum detalhe da vida de seu mestre, porque ele, o rabino, era o
modelo do homem que eles estariam se tornando. Essa prática dos talmidim só
era possível porque o mestre rabino os escolheu como discípulos. E
claramente, tal escolha pressupõe uma disposição em ensinar. Mas não
apenas ensinar os conceitos, ideias e verdades que ele, na qualidade de
mestre acreditava, mas fundamentalmente ensinar a viver o quotidiano de
acordo a essas verdades.
No livro dos Juízes, no seu segundo capítulo temos uma narrativa
bastante perturbadora, pelo seu peso histórico, e preocupante pela
possibilidade de repetição. O texto diz que depois da morte de Josué servo do
Senhor que por 40 anos viveu e aprendeu aos pês de Moisés, uma outra
geração surgiu que não conhecia ao Senhor nem as suas obras e por causa
disto ela viveu em idolatria e constantes derrotas à mão do diabo. Josué
mesmo, foi vitorioso não apenas por ser um bom soldado, mas porque
aprendeu aos pês de Moisés, e foi esse ensinamento prático ministerial que o
capacitou a ser um bom líder (ao menos quanto em fazer o povo atravessar o
Jordão e começar o processo de conquista da terra prometida).
Paulo, conforme ele mesmo nos dá a conhecer, tinha uma estima muito
especial por Tito e Timóteo, a quem os considerava filhos na fé. Ele os
doutrinou, mas sua doutrina, diferente da dos rabinos judeus, e de Gamaliel,
seu mestre no farisaísmo, não era essencialmente teórica, antes prática e
depois teórica, tal como aprendeu de Jesus – João 13:14;34; Lucas 6:31;
Mateus 7:12, que vai além da repetição de princípios e verdades da Lei (escrita
ou oral) e se dedica em encarnar para si e para seus discípulos o espírito da
Lei, vivendo-o de maneira integral. É fundamental que haja um treinamento
prático para o exercício do ministério, assim como o Senhor Jesus treinou a 12,
Paulo a Tito e Timóteo e Moisés a Josué. Para tal duas necessidades precisam
se encontrar: a disposição para ensinar e o desejo verdadeiro de aprender.
Fazer a obra de Deus é dos maiores privilégios que uma pessoa pode
ter em toda sua vida, pois não se trata apenas de fazer coisas por ou em nome
de Deus, mas sim de andar com Ele, nele e para Ele – o que maravilhoso é
servir a Cristo. Mas esse chamado exige que nos preparemos a fim de nos
apresentarmos como aquele obreiro que Paulo diz à Timóteo (2Tm. 2:15) em
especial para o nosso tempo e a nossa geração, pois é isso que vai de fato
abençoar e mudar todas as realidades da nossa nação. Necessitam-se
Obreiros que estejam: diante de Deus, com suas famílias, manejando bem a
palavra da verdade, discernindo com sabedoria a mente deste tempo em um
serviço amoroso que glorifique e manifeste o Deus Eterno. Assim nos ajude o
Senhor!

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