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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
MORFOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO
PROFESSORA DRª EDJA BEZERRA FARIA TRIGUEIRO
ESTAGIÁRIO DOCENTE: ÍTALO MAIA

CARLA ELIZABETH GODEIRO DE ARAÚJO

VISIBILIDADE E ACESSIBILIDADE NA APROPRIAÇÃO:


O caso do estacionamento do Carrefour Candelária em Natal/RN

NATAL/RN
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
MORFOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO
PROFESSORA DRª EDJA BEZERRA FARIA TRIGUEIRO
ESTAGIÁRIO DOCENTE: ÍTALO MAIA

CARLA ELIZABETH GODEIRO DE ARAÚJO

VISIBILIDADE E ACESSIBILIDADE NA APROPRIAÇÃO:


O caso do estacionamento do Carrefour Candelária em Natal/RN

Trabalho apresentado à disciplina de


Morfologia do Ambiente Construído, como
requisito para avaliação da terceira unidade do
semestre letivo de 2018.1.

NATAL/RN
2018
Visibilidade e acessibilidade na apropriação:
O caso do estacionamento do Carrefour Candelária em Natal/RN

Carla Elizabeth Godeiro de Araújo


Graduanda no curso de Arquitetura e Urbanismo
2betharaujo@gmail.com
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo

Este estudo visa a confirmar os motivos e resultados da apropriação da faixa do


estacionamento do Carrefour mais próxima à Av. Sen. Salgado Filho/BR-101, através da
análise sintática de visibilidade. O material é uma organização dos dados levantados para a
investigação que constitui o Trabalho Final de Graduação da autora, aliados à identificação
dos elementos implantados na área, bem como dos fluxos de veículos, e seguidos da
verificação de resultados quanto aos níveis de visibilidade com o auxílio do StepDepth.
Partindo das respostas adquiridas, será possível associá-las às características físicas do lugar
analisado, averiguando a sua importância.

Palavras-chave: ​sintaxe espacial; barreiras; permeabilidades; campos visuais.


O espaço público na propriedade privada

O tema da apropriação de espaços livres na relação público-privada tem sido


recorrente na contemporaneidade, apesar de pouco explorado. Sua emergência se dá pelo uso
de espaços que têm diferentes funções ao serem planejados. A experiência do morador da
cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, por exemplo, permite a percepção de algumas
formas de uso do espaço para fins de lazer e esporte.
Ao longo do tempo, tornou-se clara, mesmo que discretamente, a maneira com que
diversos locais da cidade deixaram de ser frequentados, ao passo que outros, improváveis, se
tornaram focos dos usuários. Estes expõem seus interesses maiores, que acabam sendo por
atividades físicas e esportivas, e práticas de diversão em grupo. São necessidades
identificadas entre um público composto por diferenciadas faixas etárias que ocupam um
mesmo ambiente. O que acontece é que a maioria das praças presentes no dia a dia do
natalense é foco de lamentação por serem apontadas como caso de abandono pela gestão
municipal e pela própria população. Pela falta de manutenção e infraestrutura, por exemplo,
elas acabam se tornando um ponto repulsivo por oferecerem perigo.
É neste quadro que começam a surgir novas alternativas de local que cumpra os
desejos inerentes à sociedade sem que a exponha ao risco iminente. Um deles, talvez o mais
vibrante atualmente, é o estacionamento do supermercado Carrefour, no bairro de Candelária
na Região Administrativa Sul da cidade de Natal (Carrefour RSN). Estando localizada sobre
um talude, em terreno de topografia elevada, a área é a parte do empreendimento que não
estava tendo utilização constante desde o início de seu funcionamento. Por isso, em uma
superfície prevista para carros, os moradores do bairro e clientes do supermercado já notam,
há mais de três anos, a prática de diferentes atividades como caminhada, corrida, apreciação
da paisagem, e dinâmicas de lazer em grupo na extremidade mais próxima à Av. Sen. Salgado
Filho/BR-101.
Sendo atividades características dos espaços públicos, elas passam a ser vigiadas por
acontecerem dentro de uma propriedade privada. Assim, os serviços de fiscalização do
estacionamento acabam tendo que dar conta da apropriação, principalmente quando estão em
seus períodos mais intensos na semana pela presença de jovens. Apesar disso, a grande
dimensão do terreno garante um significativo afastamento entre a faixa apropriada e o acesso
do supermercado, fazendo com que as atividades praticadas por um público não interfiram ou
sejam percebidas pelo outro.
Nessa perspectiva, o ponto de partida para o desenvolvimento deste estudo será a
questão a ser investigada, sobre como os aspectos visuais, aliados às características físicas do
estacionamento do Carrefour RSN, interferem na dinâmica de apropriação do lugar. A
intenção é a de confirmar os motivos e resultados da apropriação através da análise sintática
de visibilidade para a área. Mais especificamente, busca-se identificar a procedência dos
usuários que frequentam o “platô”, revisando todas as formas de utilização e percursos no
local; inserir nele tudo aquilo que pode ser considerado barreira ao usuário; averiguar quais
das suas áreas são as mais acessíveis; interpretar de que forma a arquitetura interfere nos
resultados adquiridos.
Para tanto, será feita seleção de dados nos levantamentos e resultados de
questionários e entrevistas já realizadas; a identificação de todos os elementos
construídos/instalados e fluxos de veículos na área; a verificação de resultados quanto aos
níveis de visibilidade no local, com provável auxílio do StepDepth; e a comparação entre os
dados adquiridos e as características físicas do estacionamento.
Tudo isso à luz de estudos como o título “Padrões de visibilidade, permeabilidade e
apropriação em espaços públicos abertos: um estudo sintático” (2014), de Caio Sabbagh e
outros autores, além de conceitos básicos de Bill Hillier e Julienne Hanson (1984), como
aspectos de produção do espaço, barreiras e permeabilidades, bem como urbanidade,
desurbanismo e copresença, entre outros. Complementando essa base, serão incluídos ensaios
representativos do espaço através do ​StepDepth, e esquemas e registros fotográficos, parte do
acervo da autora.

Breves contribuições da sintaxe espacial


As áreas livres são bons pretextos para estudos de visibilidade e acessibilidade.
Ambos estão interligados e permitem novos significados, interações e comportamentos,
graças à relação entre o “ver” o espaço e nele “mover-se”. Assim, as áreas que são vistas com
mais facilidade, tendem a ser utilizadas com mais frequência (SABBAGH et al., 2014). Isso
porque as pessoas podem ser percebidas, ter domínio visual sobre tudo o que acontece - o que
as incentiva a participar de outras atividades -, e ter noção do quanto podem ser vigiadas por
pessoas em suas adjacências (JACOBS, Jane, 2000 e KAHNEMAN, Daniel, 2011 apud
SABBAGH et al., 2014).
[...] via de regra espaços com maior visibilidade tendem a ser associados com
conceitos como importância, distanciamento, poder, formalidade, legibilidade,
destaque, coletivo, público, sagrado e especial. Por outro lado, espaços com menor
visibilidade são comumente associados a introversão, segredo, auxiliar, secundário,
comum, cotidiano, privado e assim por diante. [...] (SABBAGH et al., 2014)

Apesar disso, essas não são regras gerais. Existem outros fatores que estão
associados aos níveis de visibilidade, como a configuração espacial, os costumes e cultura de
determinados usuários e, não menos importante, a facilidade de acesso ao local.
As barreiras e permeabilidades de uma área aberta também têm sua relevância. Elas
criam possibilidades e restrições, unindo ou apartando pessoas e ações. As relações espaciais
apresentam de que forma um sistema de espaços se estrutura, definindo padrões de articulação
entre elas. A interação entre ambas resulta na acessibilidade, que pode ser “ao olho” ou “ao
pé”.
Todas essas relações que podem ser estabelecidas apontam para o termo denominado
“urbanidade”. Este, de acordo com Bill Hillier (1996), implica em copresença de visitantes e
habitantes no espaço público, com usos do solo diversos, densidade e movimento. Já de
acordo com Frederico de Holanda (2013), a urbanidade envolve intensa participação na vida
urbana, onde os limites que conectam o espaço público e o privado são suaves.
Urbanidade, nós sugerimos, não é tão misteriosa. Bom espaço é espaço usado. A
maior parte do uso do espaço é feita através do movimento. A maior parte do
movimento ocorre através do movimento, e consequentemente, é assim que a malha
urbana oferece rotas de um lugar para todos os outros lugares. A maior parte dos
usos informais do espaço também são relacionados ao movimento, assim também
como a sensação de segurança urbana [...]. (HILLIER, 2007, p. 127)

De onde vêm os usuários?


Considerando os dados obtidos, tanto na pesquisa iniciada em 2017, quanto no
desenvolvimento do Trabalho Final da autora em 2018, é possível identificar várias das
procedências do público diversificado que desfruta do espaço livre descoberto no
estacionamento do Carrefour RSN.
Na primeira etapa realizada em 2017, o foco do estudo era o público jovem, cuja
maioria foi identificada numa faixa etária entre 19 e 25 anos, representativamente LGBT
(Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) e “pintas natalenses”, estes principalmente aos
sábados e numa faixa etária entre 12 e 15 anos1. Eles afirmaram ir ao local para paquerar, se
encontrar e conversar com os amigos, além de consumir bebidas alcoólicas e usar drogas
ilícitas.

1
Os demais usuários foram identificados como “nerds”, “rockeiros”, “alternativos”, simplesmente casais, ou estudantes do
Ensino Médio ou Superior.
Os questionários e as entrevistas abertas contavam com uma pergunta primordial:
“Em que bairro você mora?”. Os resultados adquiridos entre segunda-feira e sexta-feira
indicaram Nova Parnamirim e Tirol como os bairros mais respondidos, seguidos de Capim
Macio, Candelária, Satélite, Mãe Luíza e Pajuçara. Aos sábados, foi possível identificar que a
segunda tribo citada acima, dos “pintas natalenses”, era em maior parte proveniente da Região
Oeste da cidade: Quintas (“Favela do Mosquito”, e Novo Horizonte ou “Favela do Japão”),
Nossa Senhora da Apresentação (Vale Dourado), Mãe Luíza, Rocas, Bom Pastor e Cidade da
Esperança (Figura 01).
Figura 01. ​Mapa de Natal com destaque para os bairros de onde vêm os jovens do Carrefour RSN (ponto
laranja).

Fonte: ​questionários e entrevistas respondidas via ​internet e em visitas de campo, 2017 e 2018.
Nota: ​base cartográfica da SEMURB, 2008. Adaptada pela autora, 2018.
Por estar localizado em um dos núcleos mais integrados de Natal, com limite que
coincide com uma das vias arteriais mais acessíveis do sistema viário, o terreno do
hipermercado tem muitos pontos de ônibus vizinhos a ele que são abastecidos por diversas
linhas, as quais levam à maioria dos bairros da cidade (Figura 02). Isso ajuda a entender a
facilidade de acesso do público que vem até das localizações mais distantes.
Figura 02. ​Mapa do entorno do Carrefour RSN com destaque para os pontos de ônibus mais próximos a
ele/Quadro com as respectivas linhas.

Fonte: ​Poty Bus, 2018.


Nota: ​base cartográfica da SEMURB, 2015. Adaptada pela autora, 2018.

Além desse público, os outros usuários frequentes na área, inclusive há mais tempo
(mais de 10 anos), são os adultos e idosos que lá costumam caminhar, tanto pela manhã,
quanto ao final da tarde. Estes, ao serem questionados sobre o bairro onde moram, em
entrevista aberta, responderam, em maior parte, Candelária. Isso justifica que, pela atividade
física, todos esses preferem ir a pé ao local2.
O resultado dessas diferentes atividades e usuários é o que se vê em implantação
abaixo, com o zoneamento de toda a área do estacionamento, com foco na faixa apropriada
demarcada em amarelo escuro com ícone de grupo (Figura 03). Complementando-o, está o
mapa dos principais fluxos de todos os que circulam no espaço (Figura 04).

2
Acrescenta-se a isso que o bairro de Candelária teve o início de seu desenvolvimento estimulado pela alta demanda
habitacional com os iniciais conjuntos, como Bairro Latino, por exemplo (CAPISTRANO, Luciano, 2015). Por isso, tem hoje
grande parte de sua área ocupada por uso residencial.
Figura 03. ​Implantação do platô com seu zoneamento.

Fonte: ​Google Maps e visitas de campo, 2018.


Nota: ​base cartográfica da SEMURB, 2015. Adaptada pela autora, 2018.
Figura 04. ​Principais fluxos no platô do Carrefour RSN.

Fonte: ​Google Maps e visitas de campo, 2018.


Nota: ​base cartográfica da SEMURB, 2015. Adaptada pela autora, 2018.
Além disso, é importante frisar que o platô está descolado 11,00 m do nível da via
principal (Figura 07), o que possibilita boa visualização do entorno formado pelo Conjunto
Mirassol (bairro de Capim Macio), praças de Mirassol (incluindo a Árvore de Natal), Viaduto
de Ponta Negra, monumento dos Três Reis Magos, Natal Shopping Center e Shopping Via
Direta (Figura 06).
Figura 05. ​Perfil da faixa apropriada no estacionamento do Carrefour RSN.

Fonte: ​elaborado pela autora, 2018.

Figura 06. ​Principais pontos referenciais do entorno.

Fonte: ​Google Maps, Google Street View e acervo da autora, 2018.


Nota: ​base cartográfica da SEMURB, 2015. Adaptada pela autora, 2018.
A partir dessas espacializações, serão demarcadas as possíveis barreiras ao usuário
de acordo com as interpretações da autora, e elas serão inseridas nos devidos ​softwares para
ser possível descobrir como se dá a visibilidade e a acessibilidade nessa área.

Identificando níveis de visibilidade


Utilizando o ​software DepthMap como ferramenta de análise, buscou-se investigar
os níveis de conectividade e visibilidade na área específica do platô do estacionamento do
Carrefour RSN. Através de isovistas (traçando-se um exemplo básico de Isovist Path), de
VGA (integração HH visual), mas principalmente do Step Depth - VGA, verificou-se a
profundidade do sistema em relação a diferentes pontos. A escolha destes foi feita de acordo
com o mapa de fluxos principais dos usuários do estacionamento, considerando a pista de ​kart
(Figura 04), considerando áreas onde sempre há pessoas (olhares) de diferentes grupos.
Nas Figuras 07, 08 e 09 é possível observar, respectivamente, os pontos escolhidos
para os usuários que chegam ou permanecem próximos à escadaria, os que ficam na
extremidade da faixa, geralmente sentados na calçada, e os que ficam próximos ao final dela,
que é o caso do grupo de jovens mais reservados ou de famílias/casais que gostam de tirar
fotos com a Árvore de Natal quando ela está acesa.
Figuras 07, 08 e 09. ​Resultados de três pontos diferentes apresentam unanimidade quanto à faixa de
apropriação.

Fonte: ​DepthMap (Step Depth/VGA), 2011-2017.


Nota: ​adaptado pela autora, 2018.
Nesses resultados observou-se que a faixa ganha destaque com maior visibilidade em
relação às áreas que se aproximam do hipermercado (para a esquerda das imagens). Os dois
últimos pontos permitem maior alcance visual para/de outras frações do estacionamento.
Já nas Figuras 10 e 11, foram considerados, respectivamente, os usuários que chegam
pela entrada da Rua Alameda Marechal Sucupira - que são aqueles que vão a pé para fazer
compras, alguns daqueles que vão para caminhar e moram em Candelária, ou outros que vão
para a academia de ginástica -, e os usuários que chegam ou saem da academia de ginástica de
carro, bem como os usuários que entram ou saem do supermercado pelo acesso lateral que
fica vizinho a ela.
Figuras 10 e 11. ​Resultados para a área mais próxima ao hipermercado.

Fonte: ​DepthMap (Step Depth/VGA), 2011-2017.


Nota: ​adaptado pela autora, 2018.
Os resultados observados indicam que as coberturas das vagas3 acabam dificultando
a conectividade entre esses usuários e os que estão além delas, funcionando como barreiras.
O outro caso foi testado para aqueles que utilizam (ou oferecem) os serviços da
oficina mecânica ou da pista de ​kart (Figuras 12 e 13). Na área próxima à oficina há mais
circulação de pessoas que no ​kart. Neste, apenas aqueles que pagam para ter acesso ao
equipamento é que adentram seu limite demarcado por grades.

3
Apesar de serem em estrutura metálica e terem certa área livre sob sua superfície, compreendeu-se que os resultados não
seriam tão distintos destes que consideraram sua geometria completa. Seus elementos (incluindo os carros estacionados)
também impedem a circulação de usuários, bem como a visualização que estes podem ter do espaço (as alturas dos carros são
quase equivalentes à altura do olho, e dependendo do veículo até passa dela).
Figuras 12 e 13. ​Resultados para os equipamentos de serviços específicos que ocupam o estacionamento.

Fonte: ​DepthMap (Step Depth/VGA), 2011-2017.


Nota: ​adaptado pela autora, 2018.
Novamente, a geometria das coberturas das vagas acabam dificultando a integração
da oficina com o restante do espaço. Em contrapartida, para o usuário do ​kart a visibilidade se
torna maior, sendo interrompida apenas pelas árvores que demarcam o que antes eram vagas
descobertas.
Por fim, e não menos importante para a reflexão, foram escolhidos pontos por onde
passam os veículos (Figuras 14, 15 e 16). Por ser a linha central do estacionamento, ela é
rodeada por diferentes situações ao longo do percurso (no que diz respeito aos elementos
instalados na área).
Figuras 14, 15 e 16. ​Resultados para quem entra ou sai do estacionamento utilizando algum veículo.

Fonte: ​DepthMap (Step Depth/VGA), 2011-2017.


Nota: ​adaptado pela autora, 2018.
À medida que o veículo se desloca, ele ganha maior alcance visual para a faixa
apropriada. No entanto, por ser um meio de locomoção com maior velocidade, não garante
percepção apurada do que se passa na área, até porque boa parte dos usuários jovens, que são
os que ocupam em maior quantidade, estão quase sempre sentados à beira do talude.

Em discussão: de que forma a arquitetura interfere na dinâmica do espaço apropriado?


As tentativas de análise realizadas no platô do estacionamento do Carrefour RSN
permitiram confirmar que as características físicas do espaço contribuem para o que pensam e
vivenciam os jovens e demais usuários daquela área: a faixa que eles apropriam garante a
sensação de privacidade e liberdade, bem como de segurança em relação aos veículos (neste
caso, principalmente para os que caminham).
Como se pode perceber, a escala de cores não chegou sequer a variar até os tons mais
frios. Isso significa que a área é, no geral, bem visível. No entanto, as pessoas que lá
frequentam para fazer compras ou ir à academia estão quase sempre em movimento, e nas
áreas mais próximas ao hipermercado (com exceção daquelas que acessam a área pela
escadaria. Estas talvez sejam as que melhor percebem o fenômeno da apropriação da faixa).
Dessa maneira, a depender do lugar onde se está, alguns espaços são mais visíveis e
mais facilmente acessados que outros, tanto “ao olho”, quanto “ao pé”, graças às barreiras que
constituem a configuração espacial do local. Para a maior parte do público, que é a de clientes
do hipermercado, a faixa apropriada é muito pouco percebida. A distância entre esta e a loja
faz com que o alcance da conectividade perca força. Até mesmo a partir do ​kart ela se torna
menos percebida, graças às árvores da área descoberta e à extensão que possui.
Tudo isso reafirma o aspecto da copresença entre grande diversidade de usuários, que
desenvolvem variadas atividades, vêm facilmente de diferentes bairros da cidade, têm
distintas condições sociais, culturais e econômicas, mas que no geral não interagem
constantemente entre si. Cada magneto tem seu horário de maior atratividade, o que não
garante a permanência deles todos ao mesmo tempo no platô do terreno. Apesar disso, Bill
Hillier (2007, p. 127) ainda afirma que “[...] Bom espaço é espaço usado. [...]”.
Enfim, mesmo não sendo vista com maior facilidade, como foi citado na breve
discussão de conceitos neste trabalho, pela maior quantidade de “olhos” que permeiam o
estacionamento, a faixa apropriada tem suas particularidades de elevação e extensão que
possibilita sua atratividade. São os seus usuários, principalmente os jovens, que na verdade
acabam se tornando aqueles que podem ter domínio de tudo ao seu redor. Eles muito vêm e
pouco são vistos.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Carla. ​O que há entre o público e o privado? ​Vitalidade e tensões na apropriação


do estacionamento do Carrefour na Região Sul de Natal/RN. Trabalho Final de Graduação.
UFRN. 2018.

HILLIER, B.; Hanson, J. ​The social logic of space. Cambridge: Cambridge University Press,
1984.

HILLIER, B. ​Space is the machine: configurational theory of architecture. London, United


Kingdon: UCL, 2007.

HOLANDA, F. de. ​10 mandamendos da arquitetura.​ Brasília: FRBH, 2013.

JACOBS, Jane. ​Morte e vida de grandes cidades.​ São Paulo: Martins Fontes. 2000.

MEDEIROS, Valério. ​Curso em sintaxe do espaço. MóduloA – Depthmap® básico. Natal:


PPGAU/UFRN, 2013.

SABBAGH, C. et al. ​Padrões de visibilidade, permeabilidade e apropriação em espaços


públicos abertos​: um estudo sintático (2014). Arquitextos. Ano 14.

SILVA, Jessyca Alencar e; ARAÚJO, Carla. ​Mirante Pinheiros e estacionamento do


Carrefour: o reflexo da apropriação espontânea de espaços coletivos pela juventude potiguar.
Planejamento e Projeto Urbano 06. UFRN. 2017.

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