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Licenciatura em Música
2016
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 3
2 APRESENTAÇÃO DA ESCOLA ..................................................................................... 4
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E ANÁLISE DOCUMENTAL .................................... 4
3 RELATO DA PRÁTICA .................................................................................................... 6
3.1 OBSERVAÇÃO DOCENTE: TURMA 62 ............................................................. 6
3.2 OBSERVAÇÃO DOCENTE: TURMA 72 ............................................................ 11
1 INTRODUÇÃO
2 APRESENTAÇÃO DA ESCOLA
Meu primeiro contato com a Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro
ocorreu informalmente, durante o recesso escolar de Julho. Visitei a escola pessoalmente e fui
atendido gentilmente pela vice-diretora. Assim que expus minha intenção de estagiar na
escola, se prontificou a conversar com a professora de artes e entrar em contato
posteriormente. De forma muito atenciosa, telefonou alguns dias depois, informando que
minha vaga estaria reservada, assim que iniciassem as aulas.
Tive acesso ao Projeto Político/Pedagógico da escola no meu segundo dia de visita.
No entanto, o material que me foi dado para análise estava bastante desatualizado e com
pouca informação (possuía apenas 13 páginas). A diretora da escola informou que havia um
documento atualizado, mas não sabia onde estava. Também não sabia quando aquele que me
disponibilizaram tinha sido feito e nem o que constava nele. Considerando que o documento
ainda usava a nomenclatura „„série‟‟ ao invés de ano, para as subdivisões das etapas de
estudo, suponho que o PPP tenha sido escrito há, no mínimo, dez anos.
A escola foi fundada em 1936, com o nome Aulas Reunidas. Foi em 1978 que se
estabeleceu no atual endereço, na Rua Lima e Silva, nº 400, bairro Cidade Baixa, Porto
Alegre/RS. A escola conta atualmente com 288 alunos no ensino regular. Era descrito que os
alunos, na sua maioria, pertenciam à classe econômica média/baixa e residiam nas mediações
da escola. Porém, um número considerável era oriundo de bairros distantes, cujos pais
trabalhavam neste bairro.
O documento informava que o corpo docente era formado por 51 funcionários.
Na referência à prática pedagógica da escola, as informações eram muito
contraditórias. Em um primeiro momento, informava que a escola adotava uma prática
pedagógica tradicional. Em seguida, expunha que „„em nosso projeto político/pedagógico
estamos propondo uma nova ação educacional, o que irá exigir do grupo de professores uma
caminhada no sentido de subsidiar-se para incorporar uma nova concepção pedagógica, social
e epistemológica‟‟ (PPP, p. 3). Já no capítulo 1.2 - Principais Problemas era citada a falta de
definição de uma linha pedagógica.
O que constava sobre a estrutura curricular era igualmente contraditória. No capítulo
1.2 – Principais Problemas era exposto que „„a estrutura do currículo é desvinculada da
realidade do aluno e há um afastamento dos professores na busca de qualificação‟‟; no
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No que se refere à área das artes, encontrei relatos de um projeto chamado „„folclore
Brasileiro‟‟, com objetivo de valorizar e preservar o conhecimento popular e a identidade
nacional. Também era oferecido na escola um intercâmbio com o Chile, onde 25 alunos eram
atendidos por voluntária que trabalhava dança moderna e ballet. No entanto, conversando com
a diretora da escola posteriormente, me informaram que nenhum desses projetos estava mais
ativo atualmente.
No quesito avaliação (capítulo 6, p.11-12), era descrito que abrangia:
A) a avaliação da escola e a auto avaliação, onde trimestralmente professores, pais,
alunos e funcionários aproveitavam reuniões e conselhos de classe para emitir seu parecer.
B) Avaliação do aluno, que se baseava em „„parecer descritivo até a primeira série do
ensino fundamental e avaliação através de nota (zero a cem), a partir da segunda série do
ensino fundamental‟‟ (PPP, p. 12). Ainda constava que a avaliação do aluno:
3 RELATO DA PRÁTICA
A escola dispunha de uma „„sala de artes‟‟, contando com alguns poucos recursos
(duas pias para lavar mãos e alguns armários para guardar materiais). As classes eram
grandes, dispostas no centro da sala, encostadas, o que permitia aos alunos sentarem um ao
lado do outro, em volta delas, ao invés das tradicionais classes pequenas colocadas em fila.
A aula iniciou com a professora me apresentando para a turma como estagiário e,
posteriormente, destinando o período para que os alunos terminassem uma atividade iniciada
na aula anterior, que consistia em „„desenhar cartas com o rosto de cinco familiares, cinco
amigos e cinco personagens‟‟. Era usada linguagem coloquial, sem formalidades. A primeira
coisa que pude observar nesse primeiro contato foi que a turma, de modo geral, conversava e
ria muito alto, o tempo todo. Alguns alunos caminhavam pela sala, fazendo brincadeiras com
os colegas, enquanto um menino brincava com um guarda-chuva aberto dentro da sala.
Algumas meninas estavam conversando, viradas de costas à classe. Efetivamente, cerca de
50% dos alunos estavam fazendo a atividade proposta. No entanto, é possível que alguns já
tivessem acabado ainda na aula anterior. Diante dessa postura da turma, a professora não
repreendia ninguém nem pedia silêncio ou aumentava o tom de voz. Parecia não se incomodar
com o barulho e agitação dentro da sala de aula. Circulava um pouco pela sala, oferecendo
ajuda caso alguém tivesse dúvidas, depois voltava a sentar em sua classe.
No início do segundo período de aula, dois alunos começaram a batucar com copos de
plástico e batendo palmas. Ao final da aula, a professora me contou que eles já haviam tido
aulas com um estagiário de música, que havia trabalhado percussão corporal e com copos,
com a turma. Demonstravam boa coordenação motora fazendo os ritmos e brincadeiras com
os copos.
Um acontecimento peculiar foi que, enquanto a maioria da turma não me olhava
diretamente e parecia envergonha, uma menina veio falar comigo, com expressão de
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desconfiada, e perguntou: „„E aí? Tu vai ser o nosso, como é mesmo... estagiário?‟‟ Eu a
cumprimentei e disse que sim. Então ela fez um sinal afirmativo com a cabeça e se juntou aos
colegas que estavam batucando com os copos na mesa. Também demonstrava boa
coordenação motora para executar os ritmos.
A aula finalizou quando o sinal tocou e a turma entregou os trabalhos rapidamente,
correndo em direção à porta.
A aula iniciou com a continuidade das atividades anteriores (desenhos dos cartões).
Foram sugeridas algumas ideias para os alunos, mostrando alguns trabalhos de outras turmas.
Enquanto eles se preparavam, pegando os materiais, a professora explicou como seria o
fechamento das notas até o momento e quais trabalhos fariam parte da avaliação.
Diferentemente das observações anteriores, a turma aparentava estar mais calma nesse
dia. Conversavam bastante entre pequenos grupos, mas não estavam correndo pela sala ou
jogando coisas uns nos outros. Um dos alunos veio até mim e perguntou de que eu seria
professor. Depois de responder que seria de música, ele fez sinal que entendeu com a cabeça e
sentou com os colegas. Esse mesmo menino já tinha chamado minha atenção anteriormente
por demonstrar comportamento bastante ativo e desinibido nas aulas, sendo o que mais
caminhava entre os colegas, brincando com todos. Pensei que ele poderia ter algum papel de
destaque nas atividades, quando fosse o momento da minha regência, pois vinha
demonstrando bastante energia e iniciativa.
Percebi que dois alunos olhavam juntos alguma coisa no celular, desde o início do
período. Não demonstravam interesse pela atividade ou, talvez, já tivessem terminado.
Percebi que a professora passou toda a aula sentada, corrigindo trabalhos em sua mesa, depois
que passou as orientações, no início.
Uma das meninas que brincava com o celular (a mesma que veio falar comigo na aula
anterior), percebendo as minhas anotações, exclamou: „„Nossa! Já escreveu tudo isso? Você tá
anotando tudo o que a gente faz?‟‟. Então respondi que precisava anotar tudo o que acontece
na aula, inclusive o que a professora faz. Ela fez sinal que entendeu e voltou a sentar com os
colegas.
O mesmo aluno que falou comigo anteriormente começou a provocar outros dois
colegas com brincadeiras, até o momento em que um deles se desequilibrou e caiu de costas
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no armário de ferro, fazendo bastante barulho. A professora então chamou os três e advertiu
firmemente o menino, ameaçando tirar um ponto de sua média final se ele não parasse de
bagunçar. Os meninos riam da situação e pareciam não levar a sério, mas em seguida foram
sentar em seus lugares.
Antes do início dessa aula, todos os alunos da escola foram levados até o pátio para
cantarem o Hino Nacional e o Hino Rio-grandense, devido à semana da pátria. A vice-diretora
e alguns professores ficaram responsáveis por organizar as turmas em filas, por ordem
crescente, de acordo com o ano. Todos os alunos gritavam e conversavam alto, ao mesmo
tempo, exigindo muita energia dos funcionários para acalmá-los e colocá-los na ordem
desejada. Durante a execução dos Hinos, a grande maioria dos alunos não cantou. Alguns
riam e faziam brincadeiras, enquanto outros chegavam atrasados, com a gravação já em
andamento.
Assim que a turma 62 subiu para a sala de aula, a professora chamou a atenção deles
por terem faltado com o respeito durante o Hino. Desde que iniciei as observações, essa foi a
primeira vez que ela agiu de forma mais severa com a turma. A cada interrupção, pedia
silêncio e falava de forma dura, pedindo silêncio. Disse que eles não a respeitavam em
nenhuma aula e precisavam aprender. Um aluno falou mal da professora, baixinho, mas ela
ouviu, dando uma bronca nele. Enfatizou que podia mandá-lo para fora da sala se ela
quisesse. O aluno a desafiou e disse „„Vai, me manda!”, mas ela não o fez. Depois disso, a
turma diminuiu as conversas e as brincadeiras, de modo geral. Contando o tempo da execução
dos Hinos e da Conversa com a turma, restou cerca de 10 minutos para a aula, propriamente
dita.
Com a proposta de trabalhar sobre a cultura Egípcia, foi relembrado o conteúdo visto
na disciplina de história, sobre a hierarquia social no Egito, onde o Faraó e os Sacerdotes
eram os mais poderosos. Na sequência, vinham os Escribas, responsáveis por registrar tudo
através da escrita. Na base, encontravam-se os escravos (povo judeu).
Um jogo foi idealizado pela professora, dividindo as turmas em grupos, mas o tempo
restante da aula não foi suficiente para iniciá-lo.
Dando continuidade ao que foi proposto na aula anterior, a turma deveria se dividir em
três equipes, de cinco a seis integrantes. De forma bastante desorganizada, os alunos corriam e
gritavam pela sala, trocando de grupo a todo o momento. Passados uns 15 minutos de bastante
tumulto, a professora avisou que colocaria para fora da sala quem não colaborasse. Em
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seguida, pediu para que a turma conversasse baixinho e decidisse o nome das equipes, mas
fizeram isso gritando muito. Enquanto isso, a professora escrevia no quadro o nome das
equipes e seus integrantes. Alguns alunos foram ao quadro, tentando mudar os colegas de
grupo, enquanto outros arrastavam suas cadeiras de um lado para outro, fazendo muito
barulho. Os nomes escolhidos foram „„sete anões‟‟, „„Os Batatudos‟‟ e „„Milhopã‟‟. Como o
tumulto continuava, foi ameaçado cancelar o jogo se a turma não se acomodasse. Finalmente,
a professora conseguiu explicar como funcionaria o jogo: Figuras com Deuses Egípcios
seriam distribuídas entre a turma e, posteriormente, as características desses Deuses seriam
lidas. O grupo que descobrisse a correspondência deveria gritar „„achei‟‟. Os alunos
continuavam gritando muito e ela ameaçou pela segunda vez cancelar o jogo se eles não se
acalmassem. Uma das meninas gritou para que a turma fizesse silêncio. Passados cerca de 35
minutos de aula, as figuras finalmente foram distribuídas entre os grupos.
Iniciada a atividade, alguns alunos simplesmente „„chutavam‟‟ qualquer resposta, sem
prestar a atenção no que era lido, além de não deixar a professora terminar de falar. Quando
um grupo acertava a resposta, comemorava euforicamente. Momento depois se ouviu o sinal,
que encerrou o período.
A professora iniciou o período informando as notas de cada aluno em voz alta, pois
disseram que estavam ansiosos para saber. Em seguida, a atividade proposta foi a criação de
um alfabeto com símbolos/desenhos que deveria ser trocados com os colegas para que
fizessem a „„tradução‟‟. Iniciaram com alguma conversa paralela, mas nesse dia estavam mais
focados, sem gritar ou correr pela sala como em observações anteriores.
Ao final, a professora entregou com a minha ajuda uma lista que eu havia preparado,
contendo os materiais necessários para algumas atividades da minha regência com eles, que
iniciariam na semana seguinte. A turma não prestou atenção no que estávamos explicando,
mas levaram a folha impressa com eles. Um dos alunos esboçou um „„ah‟‟ em tom de
desânimo quando explicamos que eles teriam aulas de música.
O primeiro período de aula foi reservado para que a turma terminasse um trabalho
iniciado anteriormente, sobre „„Toy art‟‟. O foco seria a criação de algo que fosse tanto arte
como brinquedo, utilizando argila ou outro material de livre escolha.
Os alunos sentaram em volta das mesas grandes e começaram as atividades,
demonstrando um comportamento parecido com o da turma anterior: muita conversa e
barulho na sala. Alguns jogavam bolinhas de papel uns nos outros. Na pia, algumas meninas
foram lavar as mãos e começaram a jogar água umas nas outras. Alguns alunos, no fundo da
sala, pegavam aviões de papelão feitos por outra turma e jogavam no chão. Nesse momento, a
professora ficou incomodada e se dirigiu a eles, tirando os aviões de suas mãos. Na sequência,
um aluno atirou tinta no rosto de uma colega, que foi reclamar com a professora. Ela então
pediu para que a turma parasse a bagunça. No entanto, eles não demonstravam respeito por
sua autoridade, permanecendo do mesmo jeito.
Ao final do período, os trabalhos foram recolhidos. As meninas começaram a batucar
na classe e com batidas de palmas, de forma sincronizada. Demonstraram, assim como alguns
alunos da turma anterior, boa coordenação motora e musicalidade.
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Enquanto a professora foi buscar a chave da sala de vídeo, para levar os alunos até lá,
uma aluna atirou álcool no rosto de uma colega, achando que era água. A aluna foi correndo
ao banheiro para lavar o rosto. A professora voltou à sala em seguida, mas não viu o ocorrido.
A turma entrou na sala gritando e conversando muito alto, todos ao mesmo tempo.
Quando a professora tentou explicar a atividade da aula, não conseguiu a atenção dos alunos.
Depois de pedir três ou quatro vezes, gritou com eles, dizendo que já havia ministrado dez
períodos naquele dia e, apesar de ser ainda segunda feira, já estava cansada e queria
colaboração. A turma se acalmou por alguns instantes e ela explicou que deveriam terminar a
atividade iniciada na aula anterior (sobre Toy art). Os que já tivessem terminado, deveriam se
dividir em grupos e escrever uma história que serviria de roteiro para o filme proposto
anteriormente. O tema deveria ser: „„ Uma família rica com problemas que seria ajudada por
sua empregada que, apesar de pobre, tinha uma família feliz‟‟.
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Ao longo da aula, um dos meninos gritava e jogava papeis em uma colega, que
revidava. Quando a professora tentava falar alguma coisa, a grande maioria da turma não
prestava atenção e sua voz simplesmente desaparecia em meio aos gritos deles. Enquanto isso,
percebi que uma menina, vestida com um moletom da banda Guns n’ Roses, sentou junto ao
quadro com a cabeça encostada nele, ouvindo música com fones de ouvido. Depois de tentar
acalmar um pouco a turma, a professora chamou essa aluna. Conversaram um pouco em
particular e, em seguida, ela foi sentar no fundo da sala para começar a escrever o texto.
Enquanto alguns alunos construíam bonecos usando argila, percebi duas alunas
mexendo e ouvindo músicas no celular. Ao mesmo tempo, um menino e uma menina
atiravam argila no rosto um do outro. A professora tentava parar a bagunça, mas os alunos
não levavam a sério o que ela dizia.
A aula teve início com a leitura, em voz alta, de uma das histórias escritas
anteriormente. A professora pediu silêncio para que pudesse ler, sendo atendida pela turma,
que demonstrava interesse. Dois outros textos foram lidos na sequência para que a turma
escolhesse o preferido. Todos tinham o tema proposto na aula anterior: “Uma família rica com
problemas que seria ajudada por sua empregada que, apesar de pobre, tinha uma família
feliz”.
Em seguida, a turma discutiu possibilidades de modificações nas histórias para que
fosse mais fácil transformá-las em roteiros para um filme. A turma estava relativamente calma
e interessada nessa aula, prestando mais atenção à professora que nas aulas observadas
anteriormente.
Por fim, um tempo foi destinado para que cada grupo pensasse nas alterações
necessárias, devendo terminá-las. Apesar de algumas conversas, de modo geral a turma
trabalhou até o final desse período na atividade proposta.
No início desse período houve um pouco de dispersão por parte dos alunos. Alguns
começaram a atirar bolinhas de papel uns nos outros, enquanto uma das meninas ficou
praticamente toda a aula mexendo no celular. Uns dos meninos foi até a professora dizendo
que um de seus colegas havia xingado a mãe dele. Ela então chamou a atenção do aluno que
foi acusado, que negou tudo.
Assim que a situação se acalmou, a professora sugeriu que as filmagens fossem
iniciadas em casa pelos alunos, pois não haveria tempo para fazer tudo em aula, já que as
minhas atividades como estagiário iniciariam nas próximas semanas.
Alguns minutos mais tarde, um dos alunos falou alto que estava sofrendo preconceito
por ser branco. No entanto, aparentava estar debochando da situação. Então o colega negro a
que ele se referia disse: “e tu vai passar toda a tua vida sendo branco e vai morrer branco”.
Também me pareceu não levar a sério a situação. A turma ria da forma como os dois falavam,
mas a professora pediu para que eles parassem. Disse que deveriam parar de se chamar de
“negão” ou “brancão” e passar a usar seus nomes. Logo em seguida os dois alunos já estavam
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rindo e brincando juntos, demonstrando, a meu ver, que não era uma briga séria. Minutos
depois, o sinal que encerraria o período tocou.
A aula iniciou com a entrega da mesma lista de materiais necessários para a minha
regência, que havíamos entregado para a turma 62. Explicamos como seria a atividade e, por
sugestão da professora, avisamos que quem trouxesse os materiais ganharia dois pontos na
média.
A atividade dessa aula foi dedicada à construção do roteiro para a foto novela e para
um documentário, que a turma deveria começar a fazer nos próximos dias (em casa, pois farei
as regências do estágio com eles nas próximas quatro semanas). O tema do roteiro era
„„família‟‟. Foi explicado que a noção de família atual é muito mais ampla que antigamente.
Em seguida, itens foram colocados no quadro para o trabalho: 1) responder o que é família na
sua visão; 2) Elaborar um questionário com três questões relacionadas à estrutura familiar
atual, para fazer uma entrevista posteriormente; 3) Escreva o nome da pessoa que você vai
entrevistar.
Faltando cerca de 20 minutos para o fim desse período, alguns alunos começaram a
atirar bolinhas de papel uns nos outros, sendo advertidos pela professora. Um dos alunos já
estava com todo material guardado e mochila nas costas, caminhando pela sala, apesar de
saberem que teriam mais um período ainda, na sequência.
JUSTIFICATIVA: Quando pensamos em uma aula de música típica, é provável que venha à
mente da maioria das pessoas algo relacionado à Performance Musical: „„tocar um
instrumento‟‟. No entanto, quando pensamos na realidade do ensino público brasileiro,
algumas dificuldades surgem para o professor de música, dentre elas, a ausência da música
como disciplina autônoma e, consequentemente, a falta de recursos materiais (sala adequada,
instrumentos musicais) para as aulas. Nesse contexto, é extremamente difícil trabalhar com a
performance musical em primeiro plano, como tipicamente acontece em escolas de música
privadas.
Por outro lado, o foco unicamente no „„tocar um instrumento musical‟‟ pode resultar
em uma formação musical desequilibrada, ao se analisar os diversos elementos musicais que
estão sendo negligenciados durante o processo de ensino. Como afirma Reimer „„há muito
mais para se ganhar em termos de compreensão musical, aprendizado, experiência, valor,
satisfação, crescimento, prazer e significado musical do que a performance sozinha pode
oferecer” (REIMER apud FRANÇA, 2002, P. 8).
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Tendo como referencial teórico o modelo „„Tecla‟‟, desenvolvido por keith Swanwick,
entendo que o processo de educação musical deva trabalhar em equilíbrio os elementos -
Técnica, Execução, Composição, Literatura e Apreciação - sendo a Técnica e a Literatura
elementos secundários, a serviço dos outros. Cecília Cavalieri França (2002) expõe que:
No que se refere à falta de recursos materiais, uma solução possível foi construir
instrumentos musicais utilizando materiais, em sua maioria, recicláveis e de fácil aquisição.
Dentre as vantagens dessa prática podemos citar que:
AVALIAÇÃO: Através de exercícios práticos ao longo das aulas, a avaliação será constituída
pela observação de três critérios:
Entendimento dos princípios que regem métrica musical do compasso 4/4, sendo o
aluno capaz de identificar os tempos fortes e fracos e executar pequenos trechos
rítmicos musicais, respeitando a regularidade do pulso e da métrica.
A) AULA 1
2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
4 – RECURSOS MATEIRAIS:
B) AULA 2
2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
4 – RECURSOS MATEIRAIS:
C) AULA 3
2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
4 – RECURSOS MATEIRAIS:
D) AULAS 4 e 5
2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
4 – RECURSOS MATEIRAIS:
E) AULA 6
2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
3 – CONTEÚDOS:
4 – RECURSOS MATEIRAIS:
F) AULA 7
2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
3 – CONTEÚDOS:
4 – RECURSOS MATEIRAIS:
G) AULA 8
2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
3 – CONTEÚDOS:
4 – RECURSOS MATEIRAIS:
Teclado
Partitura da melodia e levada rítmica das músicas que serão trabalhadas
Instrumentos de percussão (construídos pela turma nas aulas anteriores)
Folhas com o desenho das figuras musicais utilizadas
Cheguei à escola cerca de 30 minutos antes do horário da aula para que pudesse
preparar a sala. Depois de testar no aparelho de televisão o pendrive com o vídeo que
utilizaria, montei vários instrumentos sobre a mesa (ganzá, agogô, xilofone, flauta doce,
tamborim, triângulo), com o intuito de trabalhar os quatro parâmetros do som com a turma,
mostrando os instrumentos. A professora me ajudou a organizar a sala e depois me deixou
sozinho com a turma.
À medida que os alunos entravam na sala, iam pegando os instrumentos que estavam
na mesa, sem pedir permissão, tocando todos ao mesmo tempo. Enquanto os restantes
chegavam, tentei explicar rapidamente, para os que me cercavam, como funcionavam alguns
deles. Quando todos estavam na sala, pedi para que largassem os instrumentos por um
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instante, para que eu começasse a aula. A conversa entre eles estava muito alta. Precisei bater
com força no tamborim para que a turma olhasse para mim por alguns instantes. Iniciei
falando sobre o parâmetro do som „„altura‟‟, tocando a escala musical no xilofone. Então um
aluno veio até a mesa dos instrumentos e começou a tocá-los novamente, sem pedir
permissão. Como não conseguia convencê-lo a voltar para o seu lugar, pedi para que tocasse
para a turma o tamborim com força e depois mais fraco, com o intuito de explicar o parâmetro
do som „„Intensidade‟‟. Precisei gritar muito para que a turma ouvisse, pois não prestavam
atenção nem em mim e nem no aluno que tocava. Em seguida, falei que ia tocar um pouco a
flauta doce para eles. Nesse momento consegui alguns minutos de atenção, quando pude falar
sobre o parâmetro „„Timbre‟‟, mostrando a diferença da nota Dó na flauta e no Xilofone, e
„„Duração‟‟, mostrando notas em staccato e longas. Outros alunos vieram até a mesa e
tentaram pegar mais instrumentos. Pedi que deixassem na mesa e voltassem para suas
cadeiras, pois assistiríamos a um vídeo mostrando exemplos de instrumentos agudos, médios
e graves. A conversa aumentou novamente. Tentei explicar que a música é feita de som e é
impossível ouvir música e conversar ao mesmo tempo, mas não se importavam. Coloquei o
vídeo, demonstrando o Ganzá, a caixa clara e o bumbo. Os alunos assistiam um pouco, mas
não prestavam atenção nos detalhes, fazendo brincadeiras e debochando dos músicos que
tocavam no vídeo. Uma aluna pegou a flauta doce e queria aprender a tocar. Enquanto os
outros assistiam o resto do vídeo, tentei explicar pra ela como colocar os dedos na posição
para a nota „„Si‟‟. Finalizado o vídeo, distribuí uma folha impressa para cada aluno, com um
resumo de todos os parâmetros que havia explicado. Pretendia tocar os instrumentos para que
a turma exercitasse as diferenças entre os parâmetros, mas antes que eu tivesse chance, vários
alunos foram até a mesa e pegaram vários deles sem pedir. Eu tentava explicar que faríamos
uma atividade, mas não prestavam atenção e gritava e tocavam muito alto, todos ao mesmo
tempo. O mesmo aluno, mencionado anteriormente, pegou o tamborim e, chegando de
surpresa por traz dos colegas, batia o mais alto que podia ao lado do ouvido deles. Precisei
tirar da mão dele o instrumento, falando de uma forma mais dura. Um aluno veio até mim
querendo saber como tocava o triângulo. Expliquei rapidamente como segurar e tocar, mas o
tumulto era tanto que, tentando um último recurso, disse que a professora deles faria prova
sobre esse conteúdo depois que voltasse. Uma aluna tentou furar a pele do tambor feito com
garrafa pet, cravando uma baqueta de madeira. Precisei guardar todos os instrumentos na mala
porque eles não me ouviam e podiam quebrar algum. Faltando cerca de 15 minutos para o
final, uma parte da turma saía da sala sem pedir permissão e voltava quando queria. Pedi que
os alunos achassem algum objeto da sala que tivesse som grave e outro que tivesse som
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agudo, mas a conversa era tanta que não era possível ouvir os poucos alunos que fizeram o
que foi proposto. Pedi com voz alta e voz firme se eles sabiam quanto custava uma aula de
música particular. Alguns responderam que não e queriam saber. Então respondi que era
muito caro, e que eles estavam tendo de graça e não aproveitavam. Continuei dizendo que era
impossível fazer a atividade se eles não fizessem silêncio, e que não podia forçá-los a querer
aprender. Como não demonstraram se importar com o que eu tinha dito, sentei em uma classe
e aguardei o período terminar para liberá-los. Uma aluna veio até mim e disse: „„essa turma é
complicada, né?‟‟. Então respondi que dependia deles se iam querer aprender ou não.
Depois que a turma saiu, conversei com a professora de artes sobre a situação,
explicando que foi bastante difícil de conduzir a aula. Ela me disse que essa turma era assim
com todos os professores, e que estavam pensando em ameaçar negar a eles uma viagem que
fariam no final do ano, se não mudassem de postura na aula. Em meio a isso, tive uma
surpresa totalmente contrastante em relação ao que tinha acabado de acontecer: Uma aluna da
mesma idade, mas com necessidades especiais, entrou na sala e disse: „„bom dia professor,
tudo bem?‟‟. Veio em minha direção, me deu um abraço e se apresentou de uma forma muito
carinhosa. Em seguida começou a me contar sobre o que ela estava aprendendo nas aulas e
disse que também tinha aula de música, cantando um trechinho de uma música da cantora
Maria Gadú. Depois ela exclamou „„como você está bonito hoje professor!‟‟. Eu agradeci o
elogio. A menina ficou na sala com a gente até a hora que saímos e, ao final, recolheu do chão
algumas das folhas que eu havia entregado para os alunos, mas que eles tinham rasgado ou
feito aviõezinhos. Então, se ofereceu para levar no lixo, dizendo que os alunos não deviam ter
estragado a folha. Foi inevitável a comparação entre sua postura e a dos alunos anteriores.
direcionava a fala para todos ao mesmo tempo, posicionado na frente do quadro, mas não
conseguia a atenção esperada.
As atividades tiveram início com a distribuição de duas garrafas pets pequenas para
cada aluno, que deveria cortar o bico delas para fazer o instrumento. Circulei entre os
pequenos grupos explicando o que deveriam fazer. Todos os alunos pediam a minha ajuda ao
mesmo tempo. Apesar da correria para atendê-los, fiquei bastante satisfeito com o interesse
deles pela atividade. Nenhum estava bagunçando ou atrapalhando os trabalhos. Na sequência,
as duas partes da garrafa foram unidas com fitas e enchidas com pedrinhas coloridas (que
levei de casa).
Um dos alunos chegou atrasado (aquele que batia com o tamborim no ouvido dos
colegas). A primeira coisa que fez foi pegar um balão que estava no chão e estourá-lo. Para
evitar que tirasse a atenção dos outros, dei uma atenção especial para ele, explicando que o
ajudaria a fazer o instrumento. Fui junto com ele escolher uma garrafa e ajudei a cortá-la.
Tentei ser o mais amigável possível, evitando xingá-lo ou levantar a voz. A cada passo do
trabalho, o elogiava. Acredito que isso fez a diferença, pois ele pediu minha ajuda até o fim da
aula e não fez mais brincadeiras que dispersassem a turma.
A construção desse chocalho de garrafa pet se adaptou perfeitamente à duração do
período de aula. Por fim, todos os alunos deixaram seus instrumentos na escola.
tempo, e não queriam esperar até eu terminar de ajudar o colega. Pedi calma, dizendo que
ajudaria a todos. Os alunos que já estavam com essa parte pronta, foram orientados a fazer as
baquetas, usando os palitos de bambu e as tampinhas de garrafas que eu havia trazido.
Finalizamos a atividade dentro do período, mas novamente precisei ficar mais tempo,
ajudando a professora a limpar a sala, que ficou bastante suja, apesar dos pedidos que fizemos
para que a turma limpasse antes de sair.
Como havia planejado anteriormente, reservei essa aula para concluir a construção dos
instrumentos. Muitos alunos que haviam faltado na aula anterior, não sabiam o que tínhamos
trabalhado. Expliquei para eles o objetivo da atividade. Paralelamente, ajudei os mais
adiantados a finalizarem. Como alguns alunos já haviam terminado, um pequeno grupo se
formou em um canto da sala, conversando entre si, mas não estavam atrapalhando as
atividades dos outros.
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Faltando cerca de 20 minutos para o final da aula, percebi uma movimentação estranha
na porta da sala, seguida pela visita da vice-diretora. Ela, então, pediu a atenção da turma e
informou que quatro alunos (que deviam estar fazendo as atividades, mas saíram da sala sem
permissão) estavam suspensos por quatro dias, pois estavam se batendo com pedaços de um
guarda-chuva estragado. Ao final da aula, conversei com a professora sobre o ocorrido. Ela
disse para eu não me preocupar porque o problema já havia sido resolvido. Mesmo assim,
fiquei um pouco chateado por não ter conseguido manter esses alunos focados na atividade.
Iniciei a aula circulando entre os alunos e questionando se eles sabiam de que forma os
músicos de uma banda conseguiam manter a sincronia, tocando ao mesmo tempo. Depois de
obter algumas respostas como, por exemplo: “pelas notas” e “pelo ritmo”, expliquei que o
elemento responsável por guiar os músicos era chamado de “Pulso”. Depois de relacioná-lo
com a nossa pulsação sanguínea e as batidas do coração, expliquei que o pulso pode variar
entre mais lento e mais rápido (antecipando a noção de andamento musical). Em seguida,
usando um aparelho de som que havia levado, mostrei para a turma trechos de várias músicas
(pertencentes a vários gêneros distintos). Pedi que eles identificassem e acompanhassem com
palmas o pulso de cada música. Como havia muita conversa paralela entre os alunos, estava
difícil de ouvir as gravações, já que o aparelho de som não era muito potente. Depois de pedir
a atenção deles, sem sucesso, subi em cima da classe central e sentei com as pernas cruzadas,
ficando rodeado pelos alunos. Assim, ia girando e interagindo com pequenos grupos de
alunos de cada vez, batendo palmas e mostrando o pulso da música. Dessa forma, consegui
um pouco mais de atenção.
Em seguida, destaquei que em todas as músicas ouvidas por eles, a levada rítmica
sempre agrupava o pulso em grupo de quatro, acentuando sempre o primeiro um pouco mais
que os outros. Dessa forma, trabalhei a noção do que seria a métrica típica de um compasso
quaternário.
Por fim, mostrei à turma o que significava os movimentos que o regente faz na frente
da orquestra. Assim, enquanto os regia, pedi para que uma parte da turma marcasse com
palmas todos os pulsos, enquanto os outros deveriam marcar apenas o primeiro tempo.
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Essa atividade exigiu muita energia da minha parte, pois os alunos dispersavam com
muita facilidade. Acredito que, apesar das conversas e dificuldade para manter o foco, os
alunos conseguiram entender a noção de „„Pulso‟‟.
Para essa aula, confeccionei em casa, utilizando folhas grandes coloridas, modelos da
figura de nota e figura de pausa que correspondem a 1 tempo musical (semínima), além do
símbolo 4/4 (fórmula de compaço).
Antes de iniciar as atividades, fui informado que uma professora havia ficado doente
e, portanto, a turma 82 ficaria na sala juntamente com a turma 62, naquele período.
Iniciamos com uma rápida revisão do que havia sido trabalhado na aula anterior.
Expliquei que existiam alguns símbolos utilizados pelos músicos para saber quando deviam
„„tocar o instrumento‟‟ ou „„fazer silêncio‟‟. Em seguida, mostrei os cartões com as figuras
musicais. Montamos inicialmente, sobre a classe, uma sequência de quatro figuras de nota,
demonstrando para a turma que deveríamos bater quatro vezes na mesa. Depois, inseri um
cartão que continha a figura de pausa, demonstrando o que acontecia quando substituíamos
uma das figuras de nota por ela. Após mostrar para eles algumas combinações e executá-las
em conjunto, um dos alunos começou a ordenar por conta própria os cartões. Aproveitei o seu
interesse, instigando a turma a executar as combinações rítmicas que o colega criava. Fiquei
satisfeito que a maioria da turma conseguia entender e executar os pequenos trechos rítmicos,
demonstrando que entendiam as funções respectivas das notas e das pausas.
Em seguida, perguntei se eles conheciam a música que iríamos trabalhar: “We Will
Rock You”, da banda QUEEN. Toquei na classe a batida característica da música com palmas
e batidas, pedindo para que eles imitassem. A conversa paralela estava muito alta,
dificultando bastante a sincronia rítmica entre eles. Quando finalmente consegui uma
regularidade razoável na levada, toquei a linha melódica da música na flauta doce. Nesse
momento, distribuí entre eles alguns dos instrumentos que havíamos confeccionado para que
executassem o mesmo ritmo. Com o tempo necessário para pegar o material e distribuí-lo, a
turma dispersou bastante e perdeu o foco na atividade. Tentei sincronizar novamente o ritmo,
mas não obtive o mesmo sucesso de antes.
Encerramos o período, informando que a próxima aula seria minha última com eles.
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Buscando mais sucesso na realização das atividades com essa turma do que tive com a
anterior, iniciei diretamente com o vídeo que continha com os exemplos dos instrumentos
agudos, médios e graves sendo tocados. Dessa vez, deixei os instrumentos de percussão que
havia trazido escondidos. Para minha surpresa, a turma ficou bastante interessada nos músicos
que executavam os instrumentos no vídeo. Em seguida, me posicionei no centro da sala ao
invés da frente do quadro, questionando a turma sobre as diferenças entre o som dos
instrumentos eles haviam assistido. Dessa forma, chegamos gradualmente aos conceitos
relativos aos parâmetros do som, que era o foco da aula. Todos pareciam bastante
interessados, o que propiciou que eu mostrasse, finalmente, alguns dos instrumentos que
haviam trazido na bolsa. Ao invés de expor todos ao mesmo tempo, mostrei apenas um por
vez, o que resultou em uma organização muito melhor. Por fim, entreguei a cada um uma
cópia com a definição e exemplos dos parâmetros sonoros explicados.
Pude observar que essa aula fluiu muito melhor que a anterior (da turma 62). Não sei
se o motivo disso foi o fato dos alunos serem um ano mais velhos, se foi a mudança de
abordagem da aula e meu posicionamento, ou se foi um pouco dos dois. De qualquer forma, o
mais importante é que a aula fluiu muito melhor.
nada em suas aulas. A turma deixou a sala bastante suja, apesar dos pedidos para que
limpassem. Dessa forma, eu e a professor precisamos ficar mais um tempo limpando a sala.
Na saída, encontrei sozinha, no corredor, aquela aluna com necessidades especiais que
apareceu no final da primeira aula com a turma 62. Fui até ela e a cumprimentei, dando um
abraço. Ela então pediu se eu lembrava dela. Quando disse que sim, chamando-a pelo nome,
ficou muito feliz e repetia euforicamente pra uma professora que chegou em seguida, que eu
era amigo dela e lembrava dela. Foi impossível não me emocionar novamente com o ocorrido.
Assim como ocorreu com a outra turma, muitos faltaram a essa aula devido à forte
chuva. A turma 72, no entanto, como sempre tem dois períodos juntos, acabaria ficando mais
atrasada nas atividades por causa dos ausentes.
Com o intuito de construir o instrumento de percussão com equivalência sonora à
caixa (som médio), informei aos alunos que eles deveriam utilizar a metade que sobrou das
garrafas pequenas utilizadas na aula anterior. Circulei pela sala, ajudando quem precisava. O
primeiro passo foi colocar a fita durex na borda da garrafa, seguido pela colocação de um
balão na abertura (que serviria de pele para um instrumento). Da mesma forma que com a
outra turma, os alunos pediam minha ajuda todos ao mesmo tempo.
Na sequencia, distribuí àqueles que haviam terminado um palito de bambu, com o qual
seria construída a baqueta. Como era necessário fixar uma tampinha de garrafa no palito,
através de um pequeno corte, foi necessário que eu mesmo fizesse essa parte, pois os alunos
não tinham força para cortar a tampinha usando as tesouras infantis. Também achei melhor
dessa forma, para evitar que algum deles se machucassem.
Por fim, a fita colorida foi usada para dar o acabamento final no instrumento.
atividade. Reservaria também a aula seguinte para que finalizassem o trabalho, juntamente
com os alunos ausentes.
Como planejado, reservei essa aula para concluir a construção dos instrumentos de
percussão. Semelhante ao que ocorreu com a turma 62, muitos alunos que estavam ausentes
na aula anterior, apareceram e não sabiam o que tinham que fazer. Três meninas, que
aparentavam ser mais velhas que a média da idade da turma, apareceram na aula pela primeira
vez. Quando expliquei que estávamos que era uma aula de música e que estávamos
construindo instrumentos musicais com materiais recicláveis, começaram a rir, debochando
da atividade. Tentei explicar como construir um dos instrumentos, e depois fui ajudar os
outros alunos. Foquei minha atenção nos que estavam interessados e que precisavam de ajuda.
Alguns dos alunos que estavam ausentes nos períodos anteriores foram orientados a escolher
um dos dois instrumentos que ainda não tinham construído, para que trabalhassem durante a
aula e finalizassem.
Ao final da aula a maioria da turma conseguiu finalizar a atividade.
Iniciei a aula com a mesma estratégia utilizada na outra turma. Questionei os alunos
sobre qual elemento guiava os músicos de uma banda para que conseguissem tocar
sincronizados. Obtive maior atenção com essa turma, não havendo, por consequência, tanta
conversa paralela. Propus novamente o exercício da marcação do pulso, sobre os exemplos
musicais que mostrei com o aparelho de som que havia levado. Percebi que essa turma
conseguiu bater palmas sincronizadamente, com mais facilidade, que a turma 62. Quando
mostrei o que significava os movimentos que o maestro faz na frente da orquestra, alguns
alunos ficaram bastante interessados.
Perto do final da aula alguns alunos iniciaram espontaneamente a batida rítmica da
música we will rock you, da banda QUEEM, acompanhados de forma muito sincronizada por
praticamente todos os alunos. Aproveitei a oportunidade para mostrar para eles o pulso dessa
música, assim como o agrupamento em quarto tempos (métrica quaternária). Enquanto eles
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tocavam na mesa o ritmo, eu os regia e contava em voz alta os tempos. Como o ritmo dessa
música funcionou muito bem, tive a ideia de trabalhá-la novamente na aula seguinte e também
com a outra turma. Para isso, adaptaria a melodia da música para tocá-la na flauta doce.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Minha trajetória formal com a música iniciou aos meus nove anos de idade, quando fui
apresentado ao piano nas aulas do Conservatório Verdi, na Cidade de Nova Prata/RS. No
entanto, o conhecimento musical informal vem sendo passado pelas gerações da minha
família desde o meu bisavô paterno, que veio ao Brasil diretamente da Itália, no período de
imigração Italiana no RS. Minha infância foi marcada pela música ao vivo nos encontros
familiares, executadas pelo meu avô, meu pai e meus tios. Aos 14 anos, formei minha
primeira banda de Rock, passando posteriormente também a outros gêneros como o Pop, o
Reggae, o Blues, o Choro e a MPB. Esse contato com a música popular faz parte da minha
formação, paralelamente a música erudita, até hoje.
Apesar de já ser graduado em Musica pela UFRGS, com habilitação em composição
musical, e trabalhar com educação musical a pelo menos 15 anos em escolas de música,
cursos livres e aulas particulares, meu ingresso no curso de licenciatura em Música do IPA
abriu um campo de possibilidades ainda não explorado por mim: O ensino musical no ensino
básico. Durante as disciplinas pedagógicas do curso, estou tendo a oportunidade de conhecer
métodos e educadores musicais renomados, além do embasamento teórico necessário para
ampliar minha visão como educador, adquirindo ferramentas que possibilitem oferecer uma
aula de música cada vez melhor aos alunos.
Durante as primeiras observações em sala de aula, fiquei um tanto impactado com a
agitação constante em sala de aula. Os alunos corriam pela sala e conversavam todos ao
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mesmo tempo, exigindo um esforço enorme da professora para ser ouvida. Nesse momento,
percebi que minha experiência com aulas particulares não iria ajudar muito, já que a relação
professor/aluno nesse contexto é completamente diferente. Os Alunos particulares que já tive
na faixa etária dos 11 ou 12 anos de idade, sempre se portaram com muito respeito e até com
certa timidez em minhas aulas. Talvez por estarem buscando aquelas aulas por interesse
próprio, sempre demonstravam dedicação e vontade de aprender. Não era essa a impressão
que tinha durante as observações das turmas que iria estagiar.
Durante a primeira regência, para a turma 62, a maioria das atividades que havia
planejado não ocorreram como esperado. Quando falava, em frente à turma, os alunos
mostravam nitidamente que não estavam interessados no que eu estava tentando ensinar, já
que conversavam e debochavam o tempo todo. Quando pedia a atenção dos alunos, não
atendiam. Tentei mostrar alguns instrumentos de percussão que havia exposto na mesa, mas o
resultado foi um caos absoluto, já que todos começaram a tocar coisas diferentes ao mesmo
tempo e não ouviam minhas orientações. Consegui, com muito esforço, expor o mínimo do
que havia planejado, mas saí da aula totalmente desgastado, física e psicologicamente. Percebi
nesse dia que precisava modificar totalmente a forma de interação com a turma, para as aulas
seguintes.
Com a turma 72, modifiquei diversos elementos para ensinar o mesmo conteúdo.
Percebi que falar na frente do quadro, em voz alta, não funcionava com eles. Passei a circular
pela sala e conversar em pequenos grupos. Mesmo que precisasse repetir várias vezes a
mesma coisa, não era necessário gritar e eles me ouviam. Sentei no meio da sala, deixando os
alunos em minha volta, o que deu resultados bastante positivos. Mostrei os instrumentos de
percussão um por vez, também do centro da sala, o que resultou em maior interesse da
maioria. Desse modo, com a experiência dos erros da primeira aula e pequenas adaptações, a
segunda regência teve um resultado bastante positivo, assim como a maioria das aulas
seguintes.
Ao longo do estágio, pude conhecer melhor os alunos, o perfil de cada um,
possibilitando saber qual deles precisavam de uma atenção especial para que participassem
das atividades. Fiquei bastante satisfeito ao conseguir, posteriormente, o interesse de diversos
alunos da turma 62, diferentemente da primeira aula, quando haviam dificultado bastante o
meu trabalho e não estavam interessados nas atividades propostas. Um dos alunos, inclusive,
me disse que, no primeiro dia, „„a turma estava preparada para uma aula chata igual a do outro
professor, do semestre passado, mas depois vimos que a tua aula era diferente‟‟ (Descobri que
ele estava se referindo às aulas de percussão que haviam tido no projeto „„mais educação‟‟,
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oferecido pela escola). Por outro lado, senti certa frustração quando quatro alunos da turma 62
foram suspensos, no quinto dia de regência, porque tinham saído da sala sem permissão e
estavam se agredindo com pedaços de um guarda-chuva estragado. Fiquei pensando que, se
eles estivessem fazendo as atividades, poderiam não estar envolvidos no ocorrido.
Esse trabalho estimulou também minha reflexão sobre as condições de trabalho a que
o professor está submetido, no ensino fundamental, atualmente. A professora de artes da
escola comentou, durante uma conversa, que ministrava aulas das 8hs até às 17hs, nas
segundas feiras. Além do desrespeito constante de alguns alunos, estava recebendo seus
salários parcelados. Uma situação, no mínimo, triste. Muito ainda precisa ser feito, do ponto
de vista legal e cultural, para possibilitar um melhor reconhecimento e melhores condições
para que o professor da escola básica trabalhe com dignidade.
Por fim, acredito que essa experiência de estágio, no ensino fundamental, me
possibilitou enxergar melhor as diversas habilidades que o professor precisa ter para trabalhar
nesse contexto, que vão muito além do domínio dos conteúdos musicais. Desse modo, ter em
mãos diferentes estratégias para trabalhar o mesmo tema, além de uma capacidade de
adaptação rápida e de improvisação, são habilidades necessárias para que o professor consiga
a melhor resposta possível dos alunos, dependendo de seu perfil, para que as aulas de música
sejam cada vez mais produtivas e transformadoras para a realidade de cada um.
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REFERÊNCIAS
AMATO, Rita de Cássia Fucci. Breve retrospectiva histórica e desafios do ensino de música
na educação básica brasileira. Revista opus 12. 2006.
GARCIA, Daniele Munhoz. Som e Vida Após a Lata: Construção de Instrumentos Musicais
com Material Alternativo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Música
do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista - UNESP, 2013.
JANEIRO, Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de. Projeto Político Pedagógico.
Documento da Escola. Porto Alegre-RS.
CRONOGRAMA OBSERVAÇÕES
CRONOGRAMA DE REGÊNCIAS
FOTOS
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