edições makunaima
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Casa Doze Projetos e Edições
Inclui bibliografia.
E-book acessível pelo formato PDF.
ISBN : 978-85-65130-19-6
http://edicoesmakunaima.com.br/
CDD 23. ed. 809.3
http://edicoesmakunaima.com.br/
Variações sobre o romance
Organizadores:
Andréa Sirihal Werkema
Marcus Vinicius Nogueira Soares
Nabil Araújo
Rio de Janeiro
2016
Variações sobre o romance
dados), para só então daí derivar, a posteriori pois, algo como uma
teoria (do romance, ou, antes, das “formas romanescas”).
O fato, contudo, é que os “dados quantitativos” em questão
referem-se, eles próprios, a entidades como “subgêneros do ro-
mance” (os dois principais gráficos do livro a esse respeito intitu-
lam-se, justamente: “Os gêneros romanescos ingleses, 1740-1900”)
– algo que, por si só, implica já uma visada interpretativa [theoría]
sobre o objeto. Afinal, reconhecer determinado conjunto de nar-
rativas, digamos, “góticas”, ou “de mistério”, ou “de fantasia”, ou
“policiais”, como sendo um conjunto de narrativas romanescas (à
guisa de um “subgênero”), implica diferenciá-las de outras narrati-
vas “góticas”, ou “de mistério”, ou “de fantasia”, ou “policiais” não-
-romanescas – o que pressupõe uma orientação, de antemão, para
o romanesco como traço distintivo de um determinado gênero li-
terário (entre outros).4 Eis aí teoria – uma questão de olhar, não
nos esqueçamos.
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***
A visada que Moretti dirige à literatura, sua theoría da lite-
ratura, é conformada pelo gênero – ou, antes, pela genericidade
do gênero. Essa mira(gem) genérica acaba por cegá-lo para tudo
aquilo que, no objeto contemplado, se encontra fora do compri-
mento de onda genericamente visível; cego para todo o espectro
infragenérico, por assim dizer.
O infragenérico – como aquilo que simplesmente não pode
ser captado por uma visão genericamente orientada por estar
aquém do comprimento de onda do gênero – não se confunde,
aqui, com o “subgenérico”. O subgenérico é aquilo que, apenas um
grau abaixo do gênero, ganha em especificidade e detalhe o tanto
que perde em genericidade, mas essa perda (e o ganho a ela asso-
ciado) está a serviço da própria genericidade do gênero, retroali-
mentando-a (“o romance é, em suma, o conjunto dos seus subgê-
Andréa Sirihal Werkema, Marcus Vinicius Nogueira Soares, Nabil Araújo
neros”).
Moretti condena as teorias do romance por negligenciarem
os matizes subgenéricos do gênero romanesco. Ele próprio não in-
corre nesse erro, é claro, e vai mesmo, quanto a isso, muito além do
esperado: no terceiro e último capítulo do livro, em que os objetos
de análise passam a ser árvores ao invés de gráficos (ou mapas,
objetos do segundo capítulo), Moretti mergulha num único subgê-
nero romanesco, o policial, a fim de investigar suas divergências
internas. Assim:
Em A origem das espécies, divergência de caracteres, seleção
natural e extinção são como as três Parcas da história natural:
na medida em que as variações divergem umas das outras, a
seleção intervém e condena à extinção a grande maioria. E visto
que também em literatura os textos que sobrevivem no tempo
são poucos, aliás, pouquíssimos, em um seminário de alguns
anos atrás decidi verificar se os três fatores individualizados
266 por Darwin conseguiam explicar também a dizimação das obras
literárias. Pegamos umas 20 histórias escritas nos primeiros
anos do gênero policial inglês (a metade de Conan Doyle, a ou-
tra metade de outros autores), individuamos os indícios como o
caráter morfológico potencialmente mais revelador e acompa-
nhamos as metamorfoses por meio das várias bifurcações, das
quais surgiu a (modesta) árvore da figura 30. (Ibid., p. 117)5
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REFERÊNCIAS
NOTAS
1
Professor de Literatura Comparada na Universidade de Stanford, onde fundou
e dirige o Centro de Estudos do Romance. Organizou o monumental Il romanzo
(2001), compêndio de autoria coletiva, em cinco extensos volumes, dos quais
apenas o primeiro, até agora, ganhou edição brasileira (Cf. MORETTI, 2009). É
autor, entre outros, de Segni e stili del moderno (1987), Atlante del romanzo euro-
peo 1800-1900 (1997) e The Bourgeois: Between History and Literature (2013),
todos disponíveis em edições brasileiras.
2
Trata-se de um gráfico intitulado “O romance na Inglaterra, 1710-1850”, que
quantifica, para o referido período, o “número de novos títulos por ano, média
quinquenal” (Ibid., p. 20).
3
Trata-se de um gráfico intitulado “Os gêneros romanescos ingleses, 1740-1900”
(Ibid., p. 39).
4
Concluir, quanto a isso, como o faz Moretti, que “o romance é, em suma, o con-
junto dos seus subgêneros” antes acentua do que soluciona a evidente petição de
princípio na qual ele se encontra enredado.
5
A figura em questão intitula-se “Os indícios e a gênese da narrativa policial”
(Ibid., p. 119).
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