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© Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41
MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2
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MARPE: uma alternativa


não cirúrgica para o manejo
ortopédico da maxila - parte 2

Túlio Andrade

INTRODUÇÃO CASOS COMPLEXOS

O uso da expansão maxilar em pacientes adultos Uma questão muito frequente é a definição de uma
com ancoragem em mini-implantes vem ocupan- idade limite para se executar com segurança a téc-
do um espaço cada vez maior nas abordagens or- nica MARPE. Como já discutido anteriormente, a
todônticas em indivíduos com deficiência trans- idade cronológica do paciente ou a maturação da
versal da maxila. Os limites são testados a cada vez sutura, avaliada por meio de tomografia, não de-
que nos deparamos com um caso mais complexo vem ser critérios de contraindicação, e sim servir
ou, até mesmo, quando observamos insucesso to- para determinar o prognóstico de possibilidade1,2.
tal ou parcial na execução da técnica. A experiência Considerando, então, os pacientes adultos mais
mais recente na avaliação tridimensional através maduros (com 30 anos ou mais) e aqueles que na
da tomografia de feixe cônico trouxe luz à existên- avaliação tomográfica apresentem, ao menos par-
cia de uma série de características específicas que cialmente, ossificação da sutura (classificação  D
tornam alguns casos mais complexos que outros. ou  E)3, podemos inferir que a força necessária
O ponto central é que, ao identificar esses aspectos, para romper a sutura palatina mediana deve ser
podemos determinar protocolos bem definidos que mais elevada. Partindo dessa premissa, nesses ca-
permitam ao clínico tratar de seus pacientes com sos eu prefiro não exceder o limite de 1/4 de volta
maior segurança e consistência, mesmo em situa- por dia na ativação do torno expansor, garantindo
ções mais desafiadoras. maior tempo de concentração de forças na sutura

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e menor risco de perda dos mini-implantes devido nesse cenário é que a ancoragem dos mini-im-
à sobrecarga. Adicionalmente, a realização de cor- plantes pode ser de maior qualidade. É importante
ticoperfurações ao longo da sutura é utilizada com destacar que, com o aumento da espessura, au-
a intenção de fragilizá-la . 2
mentam as chances de falha na obtenção de bicor-
ticalidade e, portanto, faz-se mais importante a
A espessura óssea na região parassutural é variá- realização de medidas precisas para maximizar
vel em diferentes pacientes. Considero mais deli- as chances de sucesso, já que as chances de in-
cadas as situações de osso muito fino (menos de sucesso aumentam muito com a ancoragem mo-
2”mm de espessura) e de osso muito espesso (mais nocortical (Fig. 2).
de 6”mm de espessura).

Quando a espessura óssea é muito reduzida, a an-


coragem dos mini-implantes fica comprometida
e, por isso, a preferência no protocolo de ativação
é de no máximo 1/4 de volta por dia no torno ex-
pansor. O risco de perda de ancoragem dos mini-
-implantes é aumentado nesses casos e, portanto,
é importante redobrar a atenção aos dentes de
suporte do expansor, para identificar se eles estão
sofrendo vestibularização (Fig. 1). Figura 2: Corte sagital da maxila de um paciente que
apresenta espessura aumentada nos sítios utilizados
para fixação dos mini-implantes MARPE e na região da
sutura palatina mediana, demonstrando grande área de
interface entre as hemimaxilas.

Outro aspecto que adiciona complexidade é a pre-


sença de assimetrias ao longo da sutura palatina
mediana: as mais comuns que encontramos e que
interferem na execução da técnica são da sutura
em si com desenho sinuoso, da espessura diferen-
te entre os lados direito e esquerdo e da inclina-
ção do septo nasal.
Figura 1: Corte sagital da maxila de um paciente que
apresenta espessura extremamente reduzida nos sítios
utilizados para fixação dos mini-implantes MARPE, de- Nos casos em que se observa um desenho atípico
monstrando fragilidade na ancoragem. da linha que define a sutura palatina, seja um des-
vio para um dos lados ou até mesmo um contorno
Já quando a espessura óssea é muito alta, o que preo- sinuoso na vista oclusal, a definição da posição dos
cupa é que a interface sutural entre as hemimaxilas mini-implantes se torna crítica. Obviamente, se
possui área maior e, portanto, pode ser necessária um ou mais mini-implantes ficarem posicionados
maior força para o rompimento. O fator positivo de forma a tocar tridimensionalmente na região

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ocupada pela sutura, o rompimento dessa pode


ser comprometido ou a abertura pode ocorrer de
forma assimétrica3. Como a posição de instalação
dos mini-implantes é definida pela posição do tor-
no expansor conforme ficar definido no momento
da construção do aparelho, essa etapa é crítica no
processo e deve, necessariamente, estar associada
ao diagnóstico. Na prática, é necessário que se de-
fina a posição do torno levando em consideração
as variações anatômicas observadas nas imagens
da tomografia, de forma a definir a melhor posi- Figura 4: Corte coronal da maxila de um paciente com
ção. A  transposição das características anatômi- diferentes espessuras de tecidos moles e duros entre os
lados direito e esquerdo, demonstrando dificuldade em
cas para o posicionamento físico durante a etapa
posicionar o torno expansor e definir o comprimento dos
laboratorial deve ser realizada de forma bastante
mini-implantes.
criteriosa ou, preferencialmente, com o auxílio do
planejamento virtual (Fig. 3).

Nessas situações, os maiores desafios são definir


a correta inclinação do torno expansor e o com-
primento dos mini-implantes de forma a garantir
a ancoragem bicortical, que deve ser inegociável4.
Essa  inclinação deve ser definida com muito cri-
tério, respeitando o plano oclusal que, em geral,
coincide com o plano palatino. Como o impacto es-
quelético da técnica MARPE é muito grande, uma
inclinação inadequada pode resultar em indesejá-
vel desnível do plano oclusal (Fig. 5). De acordo com
as espessuras, tanto de tecidos moles quanto de te-
cidos duros, são diferentes entres os lados, muitas
vezes é necessário selecionar configurações dife-
rentes de comprimento dos mini-implantes para
Figura 3: Corte axial da maxila de um paciente, na região cada lado. Mais uma vez, a avaliação tridimensio-
da sutura palatina mediana, com aspecto de desvio si- nal, garantida pela tomografia, se faz necessária.
nuoso, demonstrando a necessidade de atenção na cons-
A transposição das medidas de espessura, obtidas
trução do aparelho para MARPE.
preferencialmente seguindo protocolo rigoroso5
ou com o auxílio do planejamento virtual, deve ser
observada, para garantir a ancoragem na cortical
Alguns casos apresentam a anatomia bastante di- do soalho nasal. O planejamento virtual também
ferente entre os lados direito e esquerdo, com dife- pode ser utilizado como recurso para definição da
rentes espessuras de tecidos moles e duros (Fig. 4). inclinação do torno expansor de forma precisa.

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Figura 5: Cortes coronais de um paciente adulto, antes e depois de expansão ancorada em mini-implantes, demons-
trando desnível do soalho nasal, provocado pelo procedimento coincidente com a inclinação do torno expansor. Obser-
va-se, também, alto impacto esquelético transversal, inclusive na altura do arco zigomático.

Outra característica anatômica importante que Essa invasão poderia impedir o rompimento da su-
pode interferir na execução da técnica MARPE tura ou interferir na sua abertura, resultando em
é a inclinação acentuada do septo nasal. Se con- movimento assimétrico da maxila. Uma possibili-
siderarmos a instalação vertical e paralela dos dade de lidar, na prática, com essa condição seria
mini-implantes na direção do septo, existe um ris- instalar o mini-implante relacionado com a assi-
co aumentado de invasão tridimensional da sutura. metria, de forma inclinada para a lateral (Fig. 6).

Figura 6: Corte coronal na região de primeiro molar, onde nota-se a inclinação do septo nasal, demonstrando a necessidade
de atenção extra na direção de inserção dos mini-implantes, para evitar que ela ocorra na área da sutura palatina.

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Finalmente, uma das condições clínicas mais desa- torno expansor para MARPE do tipo EX, fabricado
fiadoras é a que chamamos de atresia extrema. São pela Peclab (Belo Horizonte, Brasil), que possibilita o
casos onde a anatomia do palato é bastante cons- posicionamento suspenso, assim ampliando a indi-
trita, dificultando inclusive a acomodação do torno cação de MARPE para os pacientes que apresentam
expansor de forma adequada para a construção do atresias extremas. A possibilidade de individualizar
aparelho. Nesses casos, a solução sugerida é o uso a altura de cada um dos quatro pés do expansor
de um expansor desenvolvido especialmente para também confere a ele características ideais para a
essa finalidade. Atualmente, temos à disposição o aplicação em casos de assimetrias (Fig. 7).

Figura 7: Detalhes do ex-


pansor EX: (A) Corte coronal
de um paciente com maxi-
la atrésica e, em detalhe, o
expansor de 11mm posicio-
nado durante planejamen-
to virtual, com a impossi-
bilidade de adaptação mais
profunda nesse caso indi-
cando o MARPE suspenso EX;
(B) desenho esquemático
demonstra como, em casos
A de extrema atresia, o tor-
no expansor precisa ser des-
locado em direção oclusal
para que possa se adequar
em tamanho e possibilitar o
correto posicionamento dos
mini-implantes; (C) ima-
gem renderizada do expan-
sor EX, com detalhe para os
B
pés configuráveis em dife-
rentes alturas, individuali-
zando cada caso; (D) expan-
sor EX instalado.

C D

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O aparelho construído com o torno do tipo EX, mesmo em casos complexos. Chamamos o pro-
chamado de expansor MARPE suspenso, pos- tocolo de MARPE guide, o qual foi desenvolvido
sui características biomecânicas diferentes que com o auxílio dos radiologistas Vinícius Macha-
merecem atenção especial. A distância entre os do e Cristiane Barros.
mini-implantes anteriores e os posteriores é
maior, de forma que é possível que os anterio- Com o MARPE guide é possível definir as dimen-
res fiquem localizados em uma área de maior sões exatas dos mini-implantes de forma indi-
espessura óssea (na distal de primeiros pré-mo- vidualizada. É impossível correlacionar cortes
lares) e os posteriores mantenham sua posição tomográficos em planos coronais padrão com a
bem posterior (em geral na distal dos primeiros trajetória dos mini-implantes na anatomia real
molares). Essa dinâmica parece combinar uma do paciente, já que essa varia para cada caso.
excelente ancoragem na região anterior, com a As  medidas de espessura realizadas nos cortes
aplicação de forças bem para posterior e próxi- coronais da tomografia são um guia importante,
ma das regiões de resistência, o que torna seu mas, se desejamos um alto nível de precisão ou
uso ainda mais interessante no tratamento dos se estamos diante de um caso complexo, o plane-
casos complexos. jamento virtual é desejável.

O MARPE suspenso também possibilita uma


quantidade maior de expansão, pois, como o
torno se afasta do palato, o espaço transversal CASO CLÍNICO
disponível aumenta e possibilita o uso de um pa-
rafuso de maior tamanho. O torno maior permite Um caso clínico planejado com o protocolo
expandir mais sem precisar substituir o apare- MARPE guide ajuda a demostrar a precisão da
lho, aumentando a qualidade da expansão de técnica. A paciente, do sexo feminino, com 32
forma simples. anos de idade, apresentando face com caracte-
rísticas de equilíbrio vertical e sagital, procurou
tratamento para melhorar a estética do sorriso,
queixando-se que esse era estreito. Observou-se
PLANEJAMENTO VIRTUAL presença de corredores bucais, mordida cruzada
posterior bilateral e maxila deficiente em relação
A Odontologia contemporânea tem se apropria- à mandíbula (Fig. 8).
do da tecnologia de ponta nas mais diversas
áreas. É notório o protagonismo que a tecnolo- Para a realização do planejamento virtual, foi feita
gia CAD/CAM vem ganhando nas diversas espe- a separação dos elementos #16 e #26 com o auxílio
cialidades, trazendo previsibilidade, precisão e de elásticos separadores. Os separadores foram re-
qualidade final aos tratamentos clínicos. Na Or- movidos após 7 dias em posição e, no mesmo mo-
todontia não é diferente e, com toda a tecnologia mento, foi feito o escaneamento intrabucal com o
disponível, foi possível desenvolver um protoco- scanner Trios (3shape), além de tomografia da face
lo de planejamento virtual para a realização da com o tomógrafo i-CAT (cortes de 0,2”mm). Foram
técnica MARPE de forma precisa e consistente obtidos, então, o modelo 3D da maxila e o volume

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A B

C D E

Figura 8: Fotografias iniciais intrabucais e extrabucais: (A) presença de corredores bucais; (B) morfologia adequada
da arcada, apesar da deficiência observada no sorriso e na relação oclusal; (C e E) mordida cruzada direita e esquerda;
(D) maxila mais estreita do que a mandíbula, na avaliação intrabucal frontal.

da face, os quais foram digitalmente sobrepostos anatomia real da paciente. Esse modelo foi esco-
com o uso de software. O modelo 3D garante a pre- lhido porque é o único que possui uma perfuração
cisão principalmente nos limites dos tecidos mo- cilíndrica e sem abertura anterior, o que impede
les, enquanto a tomografia registra todos os deta- qualquer variação na inclinação dos mini-implan-
lhes anatômicos importantes ao planejamento do tes e, portanto, garante a precisão do protocolo
caso (Fig. 9). guiado. O uso do modelo SL permite a inclinação
anteroposterior e, com a alteração de trajetória,
Um modelo 3D do torno expansor EX é, então, adi- podemos ter alteração nas distâncias atravessadas
cionado para definir a exata posição do aparelho pelos mini-implantes e consequente falha no obje-
e dos mini-implantes, usando como referência a tivo, que é a ancoragem bicortical. No corte coronal,

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é possível definir com precisão a inclinação do considerando-se, inclusive, as regiões com espes-
expansor, relacionando-a com o plano palatino sura óssea mais adequada para ancoragem dos
(definido pelo soalho nasal) e com o plano oclu- mini-implantes (Fig. 11). Finalmente, no corte axial
sal (Fig. 10). Nos cortes sagitais, faz-se a definição se define a trajetória dos mini-implantes de forma
do posicionamento anteroposterior e, também, da precisa, evitando proximidade com a sutura, bila-
inclinação, de acordo com a anatomia do paciente, teralmente, mesmo em casos assimétricos (Fig. 12).

A B

Figura 9: (A) Tomografia de feixe cônico renderizada, com destaque para a trajetória dos quatro mini-implantes finali-
zando dentro da cavidade nasal; (B) modelo 3D renderizado, com o torno posicionado e as trajetórias dos mini-implantes
sendo definidas.

Figura 10: Vista do corte coronal da tomografia, com o torno posicionado (em vermelho), durante o planejamento virtual
para definição precisa da inclinação desse em relação aos planos oclusal e palatino.

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A B

Figura 11: (A, B) Vistas dos cortes sagitais direito e esquerdo, respectivamente, com o modelo 3D sobreposto (linha roxa)
e torno representado em vermelho, durante o planejamento virtual para definir as trajetórias ideais dos mini-implantes
e posição precisa do expansor MARPE.

Figura 12: Corte axial feito durante o planejamento virtual, no momento de determinar a trajetória dos mini-implantes
em relação à sutura palatina mediana.

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Uma vez definida virtualmente a posição do ex- ancoragem bicortical deve ser obtida e, dessa for-
pansor, medidas são realizadas aferindo a espes- ma, o transmucoso deve ter 2”mm para atravessar
sura óssea e espessura da mucosa na trajetória os anéis do aparelho, 1”mm para superar a distância
exata dos mini-implantes (Fig. 13). Essas medidas do aparelho ao palato, e um comprimento variável
são, então, utilizadas para definir o comprimento para passar pela mucosa. A parte ativa deve ter o
mais adequado do mini-implante, tanto de trans- comprimento necessário para atravessar o osso e,
mucoso (região lisa) quanto de ponta ativa (região no mínimo, 1mm a mais, para garantir ancoragem
com espiras). Como já discutido previamente, a adequada na cortical do soalho nasal.

A B

Figura 13: (A, B) Cortes sagitais parassuturais, respectivamente direito e esquerdo, mostrando a trajetória planejada para
os mini-implantes e as medidas de espessura de tecidos ósseo e mucoso a serem utilizadas para selecionar o compri-
mento dos mini-implantes.

Para transpor o que foi planejado virtualmente posicionados e fixados, preparando-os para serem
para a boca do paciente, uma guia é gerada vir- soldados (Fig. 16). Um aspecto importante quanto
tualmente (Fig. 14) e impressa em 3D, junto com o ao expansor EX é que a soldagem dos pés deve ser
modelo 3D da maxila. A guia se encaixa nos dentes feita com solda a laser, pois o aquecimento exces-
anteriores do modelo e possui um encaixe perfeito sivo da solda a prata destempera as guias. Se ocor-
para a peça central do expansor, de forma a defi- rer superaquecimento das guias, elas podem sofrer
nir sua posição tridimensional (Fig. 15). Após a sol- deformação durante a expansão, devido às forças
dagem das hastes nas bandas, os quatro pés são muito elevadas características da técnica.

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Figura 14: Renderização de uma guia do MARPE guide em Figura 15: Etapa laboratorial com a posição do torno EX
posição, encaixada no modelo e com o torno EX posiciona- tridimensionalmente definida pela guia do MARPE guide e
do para a construção do aparelho, transpondo o posiciona- estabilizada para realização da soldagem a laser.
mento planejado virtualmente.

A B

Figura 16: (A) Etapa laboratorial de construção de


um aparelho MARPE EX com a fixação dos quatro
pés em posição; (B) detalhe da solda a laser uti-
lizada para fixar os pés à parte central do torno;
C (C) aparelho pronto para utilização na paciente.

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Considerando-se que, pela idade da paciente, o foi de realizar perfurações bem centralizadas na
caso poderia apresentar maior dificuldade para rafe palatina, iniciando-se logo atrás da segun-
o rompimento da sutura, optou-se por realizar da ruga palatina e se estendendo distalmente a
corticoperfurações ao longo da sutura palatina cada 2”mm, até o fim do osso palatino. A fresa uti-
mediana. Esse procedimento tem por objetivo lizada foi a broca corticoperfuração, desenvolvi-
fragilizar a sutura palatina mediana, na inten- da pela Peclab (Belo Horizonte, Brasil), que pos-
ção de aumentar as chances de sucesso da ex- sui 1,5”mm de diâmetro e 6mm de comprimento,
pansão maxilar mesmo em pacientes adultos com um stop que impede a penetração além dos
maduros ou em casos considerados mais com- 6mm de profundidade (Fig. 17). O procedimento
plexos, com osso da maxila muito fino ou muito de perfuração pode ser realizado manualmente
espesso. O  protocolo utilizado no presente caso ou com o auxílio do motor elétrico.

A B

Figura 17: (A) Fotografia oclusal com de-


talhes das corticoperfurações realizadas
antes da cimentação do aparelho expan-
sor; (B, C) respectivamente, cortes axial e
sagital da tomografia realizada logo após
a instalação do MARPE, demonstrando
o posicionamento e a profundidade das
perfurações realizadas para fragilizar a
C sutura palatina mediana.

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Para os ortodontistas que não possuem motor com bastante firmeza manual, é possível realizar
elétrico, recomenda-se realizar as perfurações o procedimento com segurança e previsibilida-
palatinas manualmente, usando a chave de mão de (Fig. 18). Para os que preferirem usar o motor
ortodôntica fabricada pela Peclab (Belo Horizon- elétrico e o contra-ângulo redutor 20:1, o proce-
te, Brasil). Sendo mais preciso, é necessário com- dimento pode ser realizado de forma mais con-
binar a peça de mão que compõe essa chave com fortável. Nesse caso, o protocolo é usar 800”RPM
um contra-ângulo 1:1 convencional, de forma que e sempre com irrigação, para prevenir aqueci-
torne-se possível girar a fresa manualmente e, mento ósseo e consequente necrose.

Figura 18: À direita, a chave de mão ortodôntica desmontada; à esquerda, a peça de mão para encaixe no contra-ângulo
de baixa rotação.

É relevante destacar a importância de se reali- os tamanhos disponíveis comercialmente: meu


zar as perfurações antes da instalação do apare- critério é sempre adicionar pelo menos 1”mm,
lho, para que toda a extensão do palato possa ser para garantir a penetração da cortical do soalho
acessada, pois, do contrário, somente seria possí- nasal. A preparação de uma tabela é bem-vinda,
vel fragilizar a sutura nas regiões anterior e pos- para organizar os números e facilitar o plane-
terior ao torno. Logo após a finalização das corti- jamento, determinando o comprimento de cada
coperfurações, foi feita a cimentação do expansor um dos quatro mini-implantes (Fig. 19). É inte-
e, com a mucosa já anestesiada, procedeu-se a ressante observar que, nesse caso em especial,
instalação dos mini-implantes. nenhum dos mini-implantes planejados e utili-
zados teve a mesma dimensão. Com isso, temos
Como já discutido previamente, o comprimento um bom exemplo, que destaca a importância do
dos mini-implantes foi selecionado de acordo planejamento virtual do MARPE guide.
com as medidas determinadas pelo planeja-
mento virtual. Os mini-implantes utilizados são Instalados os mini-implantes, temos, então, uma
produzidos pela Peclab (Belo Horizonte, Brasil) perfeita adaptação do expansor e dos mesmos em
em diversas dimensões, facilitando a indivi- boca (Fig. 20). A precisão do posicionamento dos
dualização de acordo com as condições clíni- mini-implantes, inclusive com perfuração da cor-
cas de cada paciente. Após calcular as medidas tical nasal, foi obtida e, enfim, todo o procedimento
de forma precisa, é necessário adaptá-las para de instalação foi finalizado.

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TUBO E
ESPESSURA ESPESSURA DA
DISTÂNCIA DA TOTAL (mm) MINI-IMPLANTE
ÓSSEA (mm) MUCOSA (mm)
MUCOSA (mm)

A1 (dir.) 6,51 1,78 3 13,5 7 x 8 mm

P1 (dir.) 1,80 1,44 3 9,09 7 x 4 mm

A2 (esq.) 6,32 1,59 3 10,91 7 x 6 mm

P2 (esq.) 3,75 1,15 3 7,90 5 x 4 mm

Figura 19: Quadro utilizado para organizar as medidas obtidas com o MARPE guide e facilitar a seleção do mini-implante
adequado para cada sítio.

A B

Figura 20: (A) Vista oclusal após finalizada a instalação do aparelho e ancoragem esquelética; (B) renderização no
pós-operatório imediato, com destaque para a penetração dos quatro mini-implantes no soalho da cavidade nasal.

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O início das ativações foi imediato, aplicando-se removidas, mantendo-se o núcleo do torno expan-
o protocolo definido em 1/4 de volta, ou 0,2”mm, sor e os mini-implantes como recurso de ancora-
por dia até o rompimento da sutura, com a ob- gem, para aguardar a neoformação óssea (Fig. 21).
servação da abertura do diastema entre os in-
cisivos centrais. Nesse momento, as ativações Por meio da sobreposição das tomografias inicial
foram aumentadas para 2/4 de volta por dia, de e pós-expansão, foi possível observar a consis-
forma a acelerar a conclusão da expansão, já que tência do impacto esquelético obtido, com desta-
não existia mais resistência tão grande na região que especial para as regiões posterior e superior.
da sutura palatina mediana. Na expansão maxilar clássica, a abertura é bem
maior nas regiões anterior e oclusal; mas, na ex-
Após 21 dias de ativações, a expansão maxilar foi pansão ancorada em mini-implantes (especial-
finalizada e uma reavaliação tomográfica foi rea- mente quando temos a ancoragem bicortical), o
lizada, a fim de verificar o impacto esquelético ob- impacto esquelético se reflete de forma mais am-
tido com o procedimento. Para a sequência clíni- pla inclusive ao nível do soalho das órbitas e da
ca ortodôntica, as hastes ligadas às bandas foram espinha nasal posterior (Fig. 22).

A B

Figura 21: (A, B) Fotografias intrabucais imediatamente após finalizada a expansão com MARPE e removidas as hastes,
mantendo-se o núcleo e os mini-implantes como ancoragem, e já com os braquetes instalados, para início da biome-
cânica ortodôntica; (C, D) imagens renderizadas da tomografia realizada após expansão, mostrando abertura da sutura
palatina mediana de forma quase paralela.

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Figura 22: (A-C) Respectivamente, vistas frontal, superior e


oclusal da sobreposição tomográfica, demonstrando a mag-
nitude do impacto esquelético da expansão com MARPE, in-
clusive na espinha nasal posterior e ao nível da órbita.

Figura 23: Corte tomográfico axial quatro meses após a


expansão, demonstrando boa qualidade de neoformação
C óssea na região da sutura palatina mediana.

A B

Figura 24: (A, B) Fotografias oclusais imediatamente antes e depois da remoção do núcleos do torno expansor EX e dos
quatro mini-implantes, destacando-se a condição de inflamação observada no entorno dos mini-implantes, devido à
higienização dificultada na região.

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Após o período de quatro meses pós-expansão, REFERÊNCIAS:


uma avaliação tomográfica na região da sutura pa-
latina mediana demonstrou um bom nível de ma- 1. Andrade T. MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o
manejo ortopédico da maxila: parte 1. Rev Clín Ortod Dental
turação óssea já calcificada (Fig. 23). Foi realizada, Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55.
então, a remoção dos mini-implantes e do núcleo 2. Suzuki H, Andrade TR. Ancoragem Esquelética na Expansão
da Maxila. Ortod SPO. 2017;50(2):174-81.
do expansor, e conduzida a sequência da biome-
3. Cantarella D, Dominguez-Mompell R, Mallya SM, Moschik C,
cânica ortodôntica planejada. Na mucosa ao redor
Pan HC, Miller J, et al. Changes in the midpalatal and
dos mini-implantes, foram observadas áreas de in- pterygopalatine sutures induced by micro- implant-
supported skeletal expander, analyzed with a novel 3D
flamação, provocadas pela deficiência de higieni- method based on CBCT imaging. Prog Orthod. 2017;18:34
zação no entorno dos mini-implantes. A  remoção 4. Lee RJ, Moon W, Hong C. Effects of monocortical and
bicortical mini-implant anchorage on bone-borne palatal
mecânica da placa fica bastante comprometida na expansion using finite element analysis. Am J Orthod
região, pela barreira física imposta pelo aparelho Dentofacial Orthop. 2017 May;151(5):887-97.

expansor; dessa forma, pode ser adequado com- 5. André CB. Análise tomográfica para a técnica MARPE.
Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Ago-Set;17(4):50-3.
plementar o controle bacteriano na região com o
6. Bazargani F, Magnuson A, Ludwig B. Effects on nasal
uso de clorexidina tópica (Fig. 24). airflow and resistance using two different RME appliances:
a randomized controlled trial. Eur J Orthod. 2018 May
25;40(3):281-4.

7. Ludwig B, Baumgaertel S, Zorkun B, Bonitz L, Glasl B,


Wilmes B, et al. Application of a new viscoelastic finite
element method model and analysis of miniscrew-
CONCLUSÃO supported hybrid hyrax treatment. Am J Orthod Dentofacial
Orthop. 2013 Mar;143(3):426-35.

8. Carlson C, Sung J, McComb RW, Machado AW, Moon W.


A ancoragem esquelética vem quebrando paradig- Microimplant-assisted rapid palatal expansion appliance
to orthopedically correct transverse maxillary deficiency
mas na Ortodontia nos últimos anos, e na expansão in an adult. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2016
maxilar não é diferente. Desde que a técnica seja May;149(5):716-28.

aplicada de forma precisa e consistente, podemos


ampliar o número de pacientes que se beneficiam da
abordagem ortopédica não cirúrgica. A magnitude
do impacto esquelético também aumenta significa-
tivamente, melhorando os resultados nas bases al-
Túlio Andrade1,2,3
veolares3 e nas vias respiratórias6. A possibilidade de
1. Graduado em Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais,
se aplicar esse efeito esquelético para tração anterior Faculdade de Odontologia (Belo Horizonte/MG, Brasil).
em pacientes com deficiência no desenvolvimento 2. Especialista em Ortodontia, Faculdade de Medicina e Odontologia São
Leopoldo Mandic (Campinas/SP, Brasil).
anterior da maxila também vem sendo bastante ex-
3. Mestre em Ortodontia, Faculdade de Medicina e Odontologia São Leopoldo
plorada, com o aumento da idade em que é possível Mandic (Campinas/SP, Brasil).

se obter bons resultados ortopédicos7,8.

Como citar: Andrade T. MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da
maxila - parte 2. Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41.

Enviado em: 03/10/2018 - Revisado e aceito: 27/11/2018


O autor declara não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros
que representem conflito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo.
DOI: https://doi.org/10.14436/1676-6849.17.6.024-041.epa
O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publi-
cação de suas fotografias faciais e intrabucais, radiografias ou outros exames imagiológicos
Endereço para correspondência: Túlio Andrade
e informações diagnósticas.
E-mail: tulio.andrade@gmail.com

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