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Frederico Viegas (Organizogao) DIREITO CIVIL CONTEMPORANEO 19 Edicao a Ono Brasilia /2009 Luiz Edson Fachin Ensaio sobre a Incidéncia dos Direitos Fundamentais na Construgio do Direito Privado Brasileiro Contempordneo Mediante 0 Direito Civil-Constitucional no Brasil Maria Celina Bodin de Moraes ‘A Constitucionalizagio do Direito Civil e sens Responsabilidade Civil Marcelo Cama Proenga Fernandes ‘A Eficiicia da Relagio Contratual Privada na Perspectiva Civil-Constitucional Paulo Lulz Netto Lobo Direito Civil Constitucional na Contemporaneidade Brasileira Ronaldo Rebelo de Britto Poletti Princfpios Gerais e Terminologia Juridica Suzana Borges Viegas de Lima Por um Estatuto Juridico das RelagSes Homoafetivas: uma Perspectiva Civil-Constitucional Zeno Veloso A Sacessio dos Conjuges. 267 275 295 33 337 355 363 A FUNCAO SOCIAL DA EMPRESA NA CONSTITUIGAO DE 1988 © Awa Feazio 1, CONSIDERAGOES INICI «5 discussdes a respeito da fungao social da propriedade ¢ da empress iniciaram-se ainda na segunda metade do século XIX, intensificando-se depois da positivaco do principio pelas primeiras constituig&es sociais. Destaca-se, nesse processo, a Constituigdo de Weimar de 1919, clara ao prever que “a propriedade obriga”. IS A partir dai, « doutrina ea jurisprudéncia, anto na Europa como ne Brasil, foram paulatinamente construindo a orientagdo segundo a qual a funglo social determina lima mudanga da prdpria estrutura da propriedade e da atividade empresatial, impondo estas no apenas limitagaes e abstengdes, mas também deveres positives e obrigagdes de fazer decorrentes da interdependéncia social © grande problema é que a dimensie ativa da fungio social, que obriga 0 proprietério e 0 empresirio a agirem em favor da coletividade, sempre encontrou rmuitas dificuldades interpretativas para a sua efetiva aplicaglo. Até hoje, salvo nas hipdteses em que a propria Constituigdo ou lei jé contemplam as obrigages positivas impostas aos proprietérias ou empresaios', o aspecto impulsivo da fungao social ainda se encontra cereado de dividas e questionamentos. “Todos esses problemas potencializam-se em paises que, como 0 Brasil, pretendem ser Estados democriticos de direito, reconhecendo como principios fundamentais @ wopriedade privada ea live nicativa, mas 0s condicionando a realizagao da dignidade dapessos humana, d construgdo de uma sociedade live, justae solidéria, & erradicaga0 da pobreza, da marginalizagao e & redugo das desigualdades sociais. “Sa ee apion agp ies CoN Te GTO fetoe de despre ets. 122 " = £ imequivoca a necessidade de um exame criterioso da Constituigio, para o firm de precisar © sentido da fungio social da empresa, evitando interpretagdes que restrinjam, indevidamente © seu conteddo ou que impossibilitem a construgio de um discurso juridico coerente sobre 0 assumto. E sob essa perspectiva que o presente artigo pretende analisar 2 Frngo social da empresa diante da Constituigdo de 1988, Para isso, retomard, em um primeiro momento, as discussdes que possibilitaram o surgimento e a consolidagae do principio para, em um segundo momento, contextualizé-las com a nova ordem constitucional, destacando as repercussdes desta iltima sobre o aleance e © sentido da fungio social, 2. A CONSOLIDACAG DO PRINCIPIO DA FUNCAO SOCIAL DA PROPRIEDADE E DA EMPRESA 2.1. A origem do prin: jo da funcdo social da propriedade A primeira metade do século XIX foi caracterizada, no que se refere ao direito, por um grande individualismo e formalismo. Por essa razio, 05 direitos subjetivos ¢ as liberdades individuais eram entendidos como imunidades em relagao ao Estado, totalmente alheias ao contexto social. Esse foi um dos motivas pelos quais a liberdade de iniciativa foi associads ao uissez-faire e compreendida exclusivamente sob a dtica das interesses econsmicos, A partir da metade do século XIX, esse modelo exageradamente individualista passou a ser alvo de uma violenta critica, com o que se tornou necesséria a revisdo do formalismo que caracterizava 0s direitos subjetivos ¢ as liberdades individuais,a fim de se buscar solugdes que as haratonizassem com 0s interesses da sociedade, E nesse contexto que Auguste Comte props aidia de que a propriedae teria uma fungdo social, devendo ser exercida em pl da coletividadee nfo em beneficio do seu titular, diane da primaziaabsoluta da sociedade sobre os seus membros? Esta abordagem, que mitigava por completo a individualidade, teve influéncia sobre o pensamen(o uridico, como se observa pelo pensamento de Leén Duguit, cslebre ‘autor francés que, no inicio do século XX, propos a extingio dos direitos subjetivos, sob © fundamento de que os individuos teriam apenas fungdes sociais a eumpeit’ > “Les transformationsgenraes du dour depous lo ose Napoen, Pave Alea, 1912 portant avert qe, apenar dsr costa i de drt sabjetivon,Dugutnasera contr popicdae vada enendendo gos {ius extingto implierainchsive o retro a babar Porta, verdadeterasho da iNconornidade do ast ‘ecoria du circunstincia de que oe dives subjtinos eum asttiados a ntereseeBistico dos seu ular me 2 Todavia, no obstante as teorias mais extremistas, 0s esforgos da doutrina e da Jrisprudéneia voltaram-se prioritariamente para tentar compatibilizar 0 aspecto funcional e o individual que simultaneamente havi sido atriouides a propriedade © 0s demais diteitos subjetivos, como se vers em séguida 2.2. 0 aspecto funcional da propriedade A constitucionalizagao da fungao social de propriedade, tanto na Europa como no Brasil, veio acompanhada da garantia constitucional & propriedade privada. Dai porque fas teorias que reduziam a propriedade & funedo social, desconsiderando © aspecto individual, ndo tiveram muita aceitagao, salvo nos periodos marcados pelo totalitarismeo, ‘A doutrina ea jurisprudéncia procuraram encontrar uma solugao intermediéria, que assegurasse a efetiva realizagto da fungao social da propriedade, a0 mesmo tempo em {que fosse contréia & sua completa funcionalizacao, até para evitar 0 intervencionisme Opetpe Be 2» 3. A FUNCAO SOCIAL DA EMPRESA NA CONSTT 2.1. Os fandamentos do Fstado Democriitico de Direito e suas repereussies sobre a compreensio do problema 3 Um dos objetivos fundamentais de um Estade Demoeritico de Direito € superar 8 suposta tensip existente entre a liberdade € a igualdade, buscando vé-las a partir da ideia de intersubjetividade, no contexto de uma sociedade em que todos os cidadaios se veem como individuas livres € iguais em direitos e deveres. Para isso, tem sido resgatada a ideia de autonomia, segundo a qual cada cidadio tem o diteito de realizar o seu projeto de vida desde que este niio seja incompativel com 6 igual direita dos demais membros da sociedade. A autonomia traz em si a necessaria compatibilizagao entre a liberdade e a igualdade a partir de um critério de justiga A experineia do Estado liberal deixou claro que © mero reconhecimento das berdade cai no vvario sem os recursos materiais para implementé-la, & inequivoco que nfo pode haver autonomntia sem que se encontre uma forma de compensar as desigualdades existentes por meio de um critério de justiga distributiva. Por outro lado, a pretensio do Estado social de assegurar uma igualdade material absoluta mostrou-se inexequivel ¢ violadora dda autonomia. liberdades formais nao € suficiente para assegurar a autonomis, pois a Uma das formas pelas quais as Constituigdes democriticas vém procurando destacar a importineia da autonomia & por meig da consagragio do principio da ignidade da pessoa humana”, que traz em si a ideia kantiana de que cada um tem o direito de decidir, de forma auténoma, sobre o seu proprio projeto de vida”. O grande ‘avango € que, com a constitucionalizagao do principio, « mesmo deixa de ter um valor ‘apenas moral e passa a assumir a vineulagio e a obrigatoriedade que sio caracteristicas ‘dys comandos juridicos No caso brasileiro, o principio da dignidade da pessoa humana foi apontado, logo no art. 1° da Constituigio de 1988, como fundamento do Estado Democritico de Diveito, 20 lado da soberania, da cidadania, dos valores socinis da (rabatho e da livre iniciativa, do pluralismo politico ¢ do reconhecimento expresso de que a legitimidade do poder Pertence a0 povo, > Tago Sara (Digridade da Peon Tomana ® Dios Puiamenas Pa Aare: Livan do Navona, 63-65) desta que howe 0 tconbecimenta expresso do principio da dignfade Uy pessoa human. pels CConssuies da Aleranba, Eapanha,Greca anda, Portal Ma gc, Paros, Cu, Venezu, Per, Bolivia, Chie, Gastemalne Rissa Blo gue ica mc clar als de fae Sas (pit pS. 2 zm Por outra lado, o art, 1° & complementado pelo art. 3°, ao afirmar serem objetivos fundamentais da Repiblica a construgao de uma sociedade livre, justa ¢ solidaria, 0 desenvolvimento nacional, aerradicagtio da pobreza e da marginalizagio, aredugin das desigualdades sociais e regionais e a proroyio do bem de todos, setm qualquer tipo de preconceito ou discriminago, ‘Ao elencar tais principios como fundamentos da Repiblica, € inequivoco que a prépria Constituig8o considerou-os como elementos estruturantes da ordem constitucional, de forma que compiem diretamente 0 pano de fundo em fungao do qual todos os demais direitos e principios serao interpretados. Dat porque a dignidade da pessoa humana e os demais principios fundamentais apresentam uma importaacia paradigmatica, impondo uma seleitura de todo o texto constitucional a partir do sentido que ¢ inerente ao paradigma, inclusive no que se refere a dispositivos que jé estavam presentes em outras Constituigdes Esse aspecto € bem ressaltado por Ingo Serlet, 0 chamar a atengao para a fungi integradora ¢ fermenéutica do principio da dignidade da pessoa humana, “na medida em que este serve de pardmetro para aplicagéo, interpretacdo e integragdo nie apenas dos diretios fundamentais e das normas constitucionais, mas de todo 0 ordenamento juridico’*®, Em outras palavras, é a dignidade, em seu sentido paradigmitico de ‘autonomia, que confere unidade de sentido & Constituigio © aos demais direitos fundamentais". Assim, a autonomia resgata 0 sentido de gure a orem constitucional temo propésito de assegurar 0 igual direito de todos de realizarem os seus respectivos projetos de vida, enquanto estes sejam compativeis com os projetos dos demais. Consequentemente, a sua influd ia direta sobre a compreensio dos direitos subjetivas & a de mostrar que estes so relagdes sociais, intersubjetivas e comprometidas com uma sociedade formada por cidadaos livres e iguais, Como sintetiza Habermas, as direitos subjetivos nag podem mais se-restringir 9 tuma relagao entre individuo e Estado, como se a sociedade fosse composta por sujeitos atomisticos e estranhos que, autopossessivamente, se empenham uns Contra os outros” Se a sociedade pressupie 0 reconhecimento reciproco de uns aos outras como sujeitos de dieito, livres ¢ iguais, a responsabilidade que decorre dos direitos, Jonge de ser uma restrigdo & autonomia, 6 ums consequéncia necessaria da mesma, de acordo com a ligio de Konrad Hesse*. 1 Digeadade Ua Pavan mana = Dire Pandan 5h 6 “Esse sxpeso jf vem send recanhecido amplomate pe dina nacional, valendo deste além da sta do prptio ngn Save opi. p 70-710 persaenta de Gide Casi (Panam, Diet «uss Dist bur tomentose Flosofa ConrncionalContenparinea, ed Rio delat Laren Mii, 3000, 9.13) {© Facsicidady Vole. Tradugao de Manuel imines Redoody. ed. Mah Boal Tota S/A, 201, 14. "© Derecho Canstitacanal y Derecho Privade ep. #7 = n Dessa maneira, os direitos subjetivos, inclusive os direitos fundamentais, apenas fazem sentido enguanto instrumentos de realizagio da autonomia, motivo pelo qual pressupdem necessariamente responsabilidades e deveres que decorrem da intersubjetividade que thes ¢ inerente. Mesmo a propriedade ¢ a livre iniciative devem ser vistas, antes de tudo, como instrumentos da realizagdo da autonomia, © que pressupde a liberdade do proprietirio € do empresirio enquanto compativel com o igual direito de liberdade dos demais ‘membros da sosiedade. Consequentemente, « fangio social da propriedade e da empresa, expressamente reconhecida pela Constituigao Federal (art, 5*, XXIII e art. 170, capud), no pode ter outta finalidade sendo a de estabelecer o compromisso da propriedade e da atividade empresarial com a dignidade, inclusive para o fim de ressaltar os deveres que resultam para o proprietério e para a empresa. Dai porque Ingo Sarlet, ao analisar a relagiio entre a propriedade e a dignidade da pessoa humana, conclui que esta “ndo exclui 0 jé referido contetido social da propriedade, mas, pelo contrario, owtorga-the ainda maior sentido" Em um stado Democritico de Direito,alicergadona dignidade eautonomia de todos (0s seus membros, ndo existe qualquer oposigo conceitual entre a propriedade privada ©. livre iniciativa, por um lado, ¢ a fungSo social, por outro. Os refers principios fazem parte de ume estratura harménica cuja unidade de sentido The € conferida pela autonomia ou, como prefere a Constituo, pela dignidade da pessoa humana A propriedade ¢ a livre iniciativa empresarial recebem a total protege constitucional enquanto manifestagBes da autoniomia do proprietario, do empresétio, do controlador ou do administrador. Deixam de merecer 0 amparo constitucional quando estes desconhecem os limites € deveres que decorrem da intersubjetividade inerente a autonomia e a responsabilidade, transformando o seu direito em inseramento de afirmagao exclusiva do egofsima e da gandncia. 3.2. A fungio social da empresa e suas relagdes com os dem: ordem econémica © art. 170, da Constituigio Federal, assim contempla os principios da ondem econémica: “Art. 170, A ordem econdmica, fundada na valorizagdo do trabalho humano € na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existéncia digna, conforme os ditames da justica social, observados as seguintes principios: > Digidode d Posos Franae Direox Fords, po PT 2 me I~ soberania nacional: L- propriedade privade: HII funeao social da propriedade: IV - livre coneorréncia; V— defesa do consumidor; VI defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme 0 impacto ambiental dos produtos e servicos & de seus processus ce elaboracdo ¢ prestagdo: (Redagie dada peta EC n, 42/03); VII reducdo das desigualdades regionais ¢ sociais VIII ~ busca da pleno emprego: 2X tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte”. (Redagao dada pela EC n. 6195) Uma leitura apressada da Constituiglo poderia sugerir que a mesma procura liar principios conflitantes, como a livre iniciativa e a propriedade privada, de um lado, ea fungio social da propriedade e a justiga social, de outro. No entanto, ji foi esclarecido que 0 paradigma do Estado Democritico de Direito raz ‘em si uma unidade de sentido que permeia toda a Constituigo € orienta a compreensao, dos demais principios: a dignidade da pessoa humana. Logo, mais importante do que discutir qual é o “grau de capitalismo” adocado pela Constituigao saber que a ordem esondmica é “fundada na valorizacdo do trabalho e da livre iniciativa” e “tem por fim assegurar a todos uma existéncia digna, conforme os ditames da justia social”, tal ‘como acemtua 0 préprio caput do art, 170, Se 0 caput do art. 170 ja permitiria a compreensio da hase comum que une os principios da ordem evonémica brasileira, esta conclusao é reforgada pelos principios fundamentais constantes dos arts. 1° ¢ 3°, da Constituigao, Estes mostram claramente que ndo existe oposigao entre a liberdade de iniciativa ¢ as responsabilidades inerentes A.autonomia, © mesmo podendo ser dito em relagio a propriedade privada, E imequivoco que a livre inieiativa, enquanto manifestagdo da autonomia, da emancipagao do homem ¢ do desenvolvimento da personalidade, recebe a protegio constitucional em todos os seus desdobramentos que, como sintetiza Manuel Afonso ‘Vaz (1998, p. 165), so @ liberdade de investimento, a liberdade de organizagio e 9 liberdade de contratagao. essa maneira, a fungao social nao tem a finalidade de se substituir livre iniciativa nem a de inibir as inovagdes na érbita empresarial. O seu papel ¢ 0 de assegurar que © projeto do empresirio seja compativel com o igual direito de todos os membros da = a sociedade de também realizarem os seus respectivos projetos de vida, Como resume Alfredo Lamy Filho (1992, p, 59-60), a fungio social da empresa ¢raz em si uma proposta de re-humanizasao, # fim de que os individuos possam ser reconhecidos como, valores supremos e no como meros instrumentos da atividade econdmica, A propria Constituigio ja previu alguns prineipios que necessariamente orientam direcionam o exereicio da livre iniciativa empresarial ~ tais como a livre eoncorréncia, a protegiio do empregado, a defeso do cansumidor e do meio ambiente, a redugao das desiguaidades regionais ¢ sociais ¢ © tratamento diferenciado a empresa de pequeno porte, sendo inequivoco que a fungao social relaciona-se com todos eles“ Consequentemente, 0 fim da empresa passa a ser o de proporcionar beneficies ‘para todos os envolvidos com tal atividade (clos, empregados e colaboradores) e também para a coletividade, como & 0 caso das consumidores e dos demais cidados Nao € sem razdo a atuacao considerdvel do legislador nos assuntos deseritos no art, 170, da Constituigéo, buscando coneretizar varios destes prineipios por melo de tuma regulagdo juridica especifica ‘Com efeit, o principio da fivre concorréncia (CF, art. 170, 1V) pretend assegurar ‘um cetto nivel de competitividade que tanto possibilite a liberdade dos agentes fecontmicos, para os fins de ingresso © permanéncia no mercado, como também assegute aos consumidores 0 menor prego que decorre da competigao e a liberdade do escolha ¢ de difusdo do conhecimento eeonémico. Da a necessidade da legislagio em favor da concorréneia ¢ do controle € repressio estatal sobre divers0s atos praticados por detentores de poder econdmico" Jé 0 principio da defesa do consumidor (CF, art, 170, V) exige uma protegdo diferenciada aos destinatarios fina de produtos servigos em suas relayBes contra extracontratuais, 0 que se obteve por meio do Cédiyo de Defesa do Consumidor, ceditado em 1990, com ampla aplicagd0 a todas as atividades empresarais, ineluindo 0 setor bancétio®. ‘Ya esa a Sequins Teo Be Calato SRD FT 70 Poder Coral na Soci Ann. pr IS2133). "No Bras heise fang soil da empresa também deriva da previo Cpstiiiona sobre rng soil ds propiedade (ar. 17 ciao Esendla 3 empresa, a ea de uns8osocial da empresa & {shee uma das ngs de mals elevaneinuenca praia giv no aietobralr, Eo pineal eineio orcad 8 epuamenagie externa dos inerem>e enolic ela rade empresa. Su enc pe tr ‘Enis em eampor to uapares como o diet anturarte, diteto do consumore diet ambiental. Em odes ties ¢da comico da inflenca dh grande empress robe o meio em que ata que rv» scorecmento da tecessnde de impr sbiggtes prativas 8 empresa Baten pa mgosga de deverespostvns «58 0568 tag caaceristn 9 deimgutta ds apiesyan do Peincipo geal eminem lee, Ai eta consepsto Social inervencioni, de influent eeuiiradora de eagoes sons Ushi “Nal restr que aa ede dees da concrtencia, 2 Lei 4844, pasiou por diversas aleraes, 1 ats recente implementado pela Les i A822007 Emm que pee 10, vem seo considrada inadegta “ivapssoa, mtv pla gua rh dos debates atu di eset eatamente amas do projeo de ova ‘drconcorencn Por ens raz STF, 0 olen da ADI 2S) (Reno pra o acdc Ministo Eros Grau, DI 13062007), onside ue sy ities francis, fda el aconcaday pea icine ca norma veiewadas pelo Cig de Dafa co Consimudor to 2 ma [No que toca ao principio da protegdo #0 pleno emprego (CF, art. 170, VII), deve estar ele associado aos diteitos fundamentais dos trabalhadores previstos no art. 7 da Constinuigao, inclusive 0 previstono inciso X1, que asseguraa “participagdo nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneragao, ¢, excepeionalmente, participacdo na sgestdo da empresa, conforme definido em lei" ‘Dessa maneira, além de todas as protegdes que se projetam sobre os eonteatos de trabalho, previstas no art. 7°, da Constituiglo, ns CLT¢ em leis especificas, a dimensio ativa da fungdo social famlém implica, no tocante aos empregados, a implementagao de _mecanismos para a distribuigao dos resultados da atividade empresarial (participaydo 1s lueros), bem como para a implementagio de iniciativas de cogestao empresarial Vale ressaltar que este ultimo desdobramento da fungo social da empresa foi regulamentado, no que se refere & participagao dos trabalhadores os fucros cempresarinis, pela Lei 10.101/2000", e, no tacante d cogestio, pela Lei 10,303/2001 que, acrescentando um § nico ao art. 140 da Lei das S/A (Lei 6404/1976), passou a adiir 2 possibilidade de que o estatuto das companhias contenha regra permitindo {que representantes dos trabalhadores componham 0 Conselho de Administragao E claro que a disciplina legal nestes dois aspectos acabou sendo timida, uma ver que € meramente facultativa, de modo que fica submetida a discricionsriedade do cempresério, Entretanto, o mero respaldo legal para @ adogd de tas iniciativas ja mostra a tentativa de se conceber a fungdo social da empresa em uma maior extensao. Ainda merece destaque a protegao a0 meio ambiente (CF, art. 170, VI), que deve ser interpretada em conformidade com 0 art. 225, da ConstituigZ0, claro ao prever que “todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao pader piblico ¢ & coletividade 0 dever de defendé-lo ¢ preservi-lo para as presentes e futuras gera¢Bes” Se a responsabilidade pelo meio ambiente cabe a todos, divida no pode haver de que a atividade empresarial deve assumir deveres positivos em prol deste objetivo, bem como deve estar sujeita a inimeras limitagdes em prol da conservagao deste bem. 1 sit 2 da ea asi dete A partepanto os Tacar ou rere send Ojo de nego feniea empresa e seus empresas mediante um don reocesimentt a egut derrts eRdos Peas pares {fe coma avorda = comissboecotida plas partes, negrada, tn por am representantes eld nial de epectia eategoria II -convengdo ou 97d Coleg ‘= A Lei 103032001 inci § Unico, no a. 10 da Lei 6408197, com segust ea“ estate poder prevera participa no conseho de reretetontes des enpresadorecobides plo voto desta, em ee ‘iret, organizaa pea empresa, em conn com a etdades indica que 3 Fepresetem = % £ este 6 entendimento do Supreme Tribunal Kederal®, que jf teve oportunidade dd considerar constitucionais no apenas limitages& livre iniciativa em prol do meio ambient, como também deveres positives, tis como a cobranca de compensaglo devida pela implantagio de empreendimentos de significativo impacto ambiental, Sob o fandamento de que o referidainstrumento seria "um mecamismo de assungd0 partithada da responsabilidade social pelos custos ambientais derivados da ativtdade ‘Vale ressltar que, para assegurar o cumprimento da protegio ao meio ambiente ede ‘outros prineipios constitucionaisjé mencionados, tais como « defesa do consumidor, 0 Jegislador igualmente ampliow 2 cesponsabilidade dos empresérios, tornando-a objetiva ‘emdiversashipsteses. E manifesta, inclusive, a relagao entre a responsabilidade objetiva «a fungao social da empresa, jé que a primeira ¢ motivada por razes de equidade & justiga, a fim de impular a responsabilidade pelo risco empresarial a quem 0 criou ou dele tira proveito ‘Além dos principios jé expestos, nfo se pode exquecer da protegio e fomento as ‘empresas de pequeno porte”, da soberania nacional ¢ da redugao das desigualdades regionaise sociais que, juntamente.comos principiosjanalisados, esto intrinsecamente relacionados a fungio social da empresa", ainda que esta tena um sentido que ultrapassa todos eles, como se passard a demonstra. r—“—esSCs_CsCLC_lC——=—~-_Er_—_— FL r™—E™”—r— ee —“—ss——---T— —r———C—=——"". daa epee Ch eros Yh me wobec age tt eee rr———e——F™-_E eer——“—C—s— SS —™rrtrtr—“—rsSssrst————CP a —r—r—“=EERR9E ee —— =, aie et esc daingruct eps sd, dct abled ma STA ABR STF ett 2 Bin. exo een d ADL ST Ret Mn Cor Bin 946200, coer ee tere Snppenar S00 cm rr Comin Nee ee sate cart ta Sal te powers hh, Ee ar re cece hen ey aye ee ,—t—“itsSsse- een eae nt hier pr on mas sin rr ———C——C——C“€’€EE mapttsnrmealented on ipens eserves ee— rE UL” ——C<“‘i 7 we 3.3. A fungdo social da empresa como principio que orienta a atividade ‘empresarial 4 realizacio da justica socist Os principios descritos nos incisos do art. 170, da Constituigao, embora estejam diretamente associados a fungaio social da empresa, ndo esgotam o sentido desta dltima. Afinal, 0 equilibria entre a liberdade empresarial ¢ © igual direito @ liberdade dos demais membros da sociedade é extremamente delicado e envolve a questo da justiga social, Esta, por sua vez, nfo tem como ser reduzida a frmulas fechadas e que sejam insensiveis a0 processo democritico ¢ a0 contexto social ehistdrico em que é analisada. Dai porque o principio da fungo social da propriedade, euja decorréncia necessiria a fungdo social da empresa, pode ser considerado como uma forma que a Constituigdo ‘encontrou de condicionar o exercicio da atividade empresarial & justiga social sem ter que recorrer a nenhum compromisso previamente deter minado, Consequentemente, a fungdo social da empresa, embora nao se dissocie dos demais principios dx ordem econdmica, no se restringe 20s mesmos, diante do compromisso maior € mais amplo que assume com a justi¢a social’, Como sintetiza Celso Anténio Bandeira de Melo (1987, p. 44), a fungdo social é um meio de exigir 0 comprometimento da empresa com “o projeto de uma sociedade mais igualitaria ow ‘menos desequilibrada ~ como & 0 caso do Brasil ~ no qual 0 acesso & propriedade & ‘0 uso deler sejam orientados no sentido de proporcionar amptiacdo de oportunidades a todos os cidadios independentemente da uilizacdo produtiva que jé esteja tendo” A fuasdo social no tem, portanto, a finalidade de aniquilar as liberdades © os direitos dos empresarios nem de tornar a empresa um simples meio para os fins sociais™, Afinal, os direitos e liberdades tém uma fungi social, mas no se restringem a cla. 2 Eo aur dctendeualieie Sin Vela Brana OP.SR_ pT) ao masta que a Trdade deine “empresrial. porno. gue ined const cnaitactona, hd de wr exerted ni some cm vitat ‘20 fucro, mas lamb ome israment te eliza, atia sot= metho tbe de ronda co ‘eva watorzaraodo trabalho hemano, im forma de acegurr ton w exstiadgnc Asim, > ti 10 legtima pr ser mara dnorrénea Propiedad dos meio de pra, at Come promo ou neem Goreguarcvenvohimets da atidadeempresaria segundo a nla sci estahelciat em et” ‘A cessalva €tnportane porque signe autores alam na posigao ras exter en favor de neestes soci. Como exempn, eae Fabio Kener Comparate (0) Poder de Cntrofe na Stedade Anna, Op 369), quande detende que “a hrmonitaydo dos ereyes terns centers & empresa fie. nturnente Ino senian a apremacia dos segundos solve os primers na hpatse de conftto™, areata aan (0 Sits. o Seguin "Tondo sipficn, excure dilo que doravunte ods compara e ron em E30 pblico eno por objets primordia senda unica 0 wana mtrese let Mas semfca qué ndo oan [firma legal de sex escopo Irae fart 2°) dee He cedar aos ners coma «mins em qualquer hipotese de confi" Nao Se zo Ge 9 aor lope p. 558) conl MO Senda de gue“ poder conamico ¢ wma fngdo Sosa de rervga clsirdide "Ora, talabordaper scab levahgo in publictasS0 “empresa, questo deve have supremaciad fungi svi! sobre ve ncaa, mas sim ego nite ambos os prises = 28 objetivo da fungio social é, sem desconsiderar a autonomia privada, reinserir a solidariedade social na atividade econdmica, tal como jé entendeu o Supremo Tribunal Federal" Especialmente em um pas como © Brasil, onde a pobreza © a miséria impedem parte substancial da sociedade de ter o fegitimo diseito & autonomia, a funggo social da ‘empresa implica aecessariamente um padrio minimo de distribuigio da riqueza e dos beneticios da atividade econdmica, aspecto que também ja foi reconhecido pelo proprio Supremo Tribunal Federal No célebre julgamento da ADI-QO 319, assentou o Tribunal o entendimento de que a livre iniciativa nao sera legitima enquanto exereida com objetivo de puro luero & realizagio individual do empresario, mas o ser enquanto propiciara justiga social, vista aqui igualmente no seu aspecto distributive, como se observa pelo voto do Ministro Moreira Alves" “Portanto, embora um dos fundamentos da ordem econdmica seja a livre iniciativa, visa aquela a assegurar a todos existencia digna, em conformidade com 0s ditames da justiga social, observando-se 0s principios enumerados nos sete incisos deste artigo. Ora, sendo a justica social a justica distributiva ~ e por {sso mesmo é que se chega @ finalidade da ordem econdmica (assegurar a todos uma existéncia digna) por meio dos ditames dela -, € havendo a possibilidade de incomparibilidade entre algens dos principios constantes dos incisos deste ‘artigo 179, se tomados em sentido absoluto, mister se faz, evidentemente, que se thes dé sentido relativo para que se possibilite a sua conciliacdo a fim de qu ‘sem conformidade com os ditames da justia distributiva, se assegure a todos — €, portanto, aos elementos de producio e distribuicao de bens e servigos ¢ aos elementos comuns deles — existéncia digna” Por essa raza0, decidiu 0 Tribunal no sentido da constitucionalidude da Lei 8.039190, ave dispunha sobre eritérios eogentes de reajuste das mensalidades escolares, sob © fundamento de que a livee iniciativa empresarial precisaria ser conciliada com os de- ‘mais principios da ordem econémica, especialmente 0 relacionado a justiga social Em julgamento mais recente, 0 Supremo Tribunal Federal teve que voltar ao tema dos fundamentos da ordem econdmica, para o fim de apreciar a constitucionalidade de stadual que assegurava a"*meia entrada” para estudantes regularmente matriculados em instituigdes de ensino. Acabou prevalecendo o entendimento de que a fiveeiniciativa precisaria ser harmonizada com o direito 4 educarae, a cultura e ao desporto, motivo pelo qual a “meia entrada” seria constitucional”. [Vale veal as gui pave do Mino Rat Calo de Maio Wo Julareato da ADT 1005" (STR, Resto Minis Cleo de Mell, DJ 100999} “Campre hai que a Continieda Federal ao fara ries (que repemaalvidadecconimiea equ uel odes de prpriedede.prociama, como valores adamentat Serom espotads,asypromacia do nerestepblicg, os damer do sea social, ged das desiguldade rexlonis, dando especial efase. dentro dessa perspectiva, ao principio da solidaiedode STF, ADI.QO 319, Relaor Ministo Moceira Alves, D! 3008 1993, ° STF, ADI 1980, Relator MinistoExos Grou, DJ 02062006 a * Outea importante decisio do Supremo Tribunal Federal sobre o tema ocorreu em. 2008, oportunidade em que foi declarada constitucional a Lei 8.899/94, que concedia © passe livre aos portadores de deficigncia. Neste caso, entendet a Tribunal que a lei cera constitucional por implementar “a igualdade de oportunidades ¢ a humanizagtio das relagdes sociais, em cumprimento aos fundamentos da Repiiblica de cidadania e dignidade da pessoa humana." E certo que so inimeras as dificuldades de se estabelecer critérios de justiga Social, ainda mais quando estes nao dizem respeito a uma distribuigao de beneficios pelo Estado, mas sim dos resultados de uma atividade privada, Por outro lado, sabe-se que @ imposigdo de Gnus & atividade empresarial & normalmente repassada para os Dregos finais dos produtos e servigos, de forma que a sociedade acaba pagando, ainda ue reflexamente, pela implementagdo positiva da funeao social, ainda mais quando se trata de atividades desenvolvidas em mereados competitives Mais dificil ainda é exigir a referida distribuigio de resultados da atividade cempresarial em hipoteses nas quais no hi a prévia identficago das obrigagdes pelo onados dizem, Fespeito a casos em que as obrigagdes positivas impostas aos empresirios haviamn sido previamente determinadas por I legislador. Nao € sem razio que os tréstiltimos precedentes acima men cabendo ao STF :do sonente a andlise sobre a compatibilidade de tais leis com as normas constitucionais. Todavia, a questdo, embora complexa, no pode deixar de ser enfrentada, ja que @ fungao social da empresa requer, de fato, a andlise ds distribuigdo social dos beneficios gerados pela empresa. Consequentemente, resta saber que efeitos concretos podem ser extraidos do principio, mesmo quando ndo hd a prévia disciplina legal, e se tais efeitos podem ser exigidos niio apenas das sociedades empresérias, mas também dos seus _gestores, especiaimente diante da previsio dos arts. 116, § nico, ¢ 154, da Lei das SIA, que condiciona o exercicio do poder de controle ¢ dos poderes de administragaio das ‘companhias a fungdo social da empresa Vale dec asus reso ou ene AD TSO TSTE Roa nia Cin Ui BUTTTO SORT D £m 3003.2007,0 Bray aio, ma sede dat Organiser das Mapes Uniden Convene sobre os iron shar Pessoa com Deftiincia bem come seu Protcolo Facts, cmprometende te 2 mplomentar meds morc efsividate 0 que fo ons Lim 494/94 parte das ples piblics pra ert portaderes ‘de necestdadesexpecias a socledae oj a gua de oportunidad a hamanzapto das Mlogbet Socials. ems cumprinemo aor fandamentos da Repabica de edadamia¢sgnidade do pestoa humana, ou oe concrete pea dfingdo de meos para gue els sojam alcongaby* Resetse tai, que cso core Una a pecularidade de cnvaler cuneate dese¥iges piblice, mative pela enensed Tribunal eo Ss 3 Fr imposto as vansportadoes poderia sex compensedo pos props irumtentos ASminsaivo, come (evisode cai, oe » da empresa como principio que amplia e modifica 0 interesse social das saciedades empresirias ¢ 0s objetivos da atividade empresarial Até por ser principio que condiciona a atividade empresarial & realizagao da {ustga social, a fungdo social da empresa tem impactos dretos sobre a conipreensio do interesse social das sociedades empresdrias, que é importante pardmetro para guiar as condutas dos sécios, controladores e administradores. Pela visdo liberal, fortemente influenciada pelo contratualismo, 0 interesse de uma sociedade empreséria corresponderia exclusivamente ao interesse dos proprics sécios. Além do grande individuslismo, taf concepgo igualmente impossibilitava 8 compreensio da empresa por autras formas que nao o contrato de sociedade © a propriedade dos bens de produeao. A partir das discussaes a respeito da Fungo social da empresa, o interesse social comerou a ser visto de forma distinta. Merece destaque a contribuiga0 da teoria institucionalista, a0 destacar @ importéncia da empresa como um instrumento de crescimento das paises e de geraro de beneficios também para os trabalhadores e para a comunidade. E claro que, em suas verses mais extremadas, 0 institucionalismo acabou propondo uma indevida publicizaedo da empresa, desconsiderando que ela igualmente se justificaria para atendimento do interesse dos seus sécios. Entretanto, em suas vertentes mais moderadas, o institucionalismo mostrou que os interesses dos sdcios, ‘embora sejam importantes, no s20 0s dinicos que esto relacionados a empresa, Afinal, 1 exploragdo empresarial diz respeito igualmente aos trabalhadores, aos consumidores, a0 meio ambiente, ao Poder Puiblico e a propria coletividade como um todo, que sofre as externalidades da atividade empresarial Dai o acerto da observacio de Calixto Salomao Filho", no sentido de que o maior saldo do institucionalismo foi mostrar que a empresa é uma “institwigdo ndo redutivel a0 interesse dos sécios.” Ta) afirmagao, que & valida na atualidade para todas as sociedades empresarias, © & com maior razio em relago as companhias abertas, em face do seu carater marcadamente institucional e “quase puiblico” 2 % Por essa dtica, até mesmo 0 Ivero passa a ser visto como um meio para assegurar 2 existéncia a longo prazo da empresa e a consequente satisfagio dos acionistas, consumidores, empregados e a sociedade em geral. Logo, a fungao social da empresa imp0e que a racionalidade empresarial, naturalmente voltada para 0 lucto, seja dire mos de justiga™ jonacta igualmente a padrdes mit E inequivoco que a redefinigdo do interesse social traz consequéncias coneretas para os deveres a que esto sujeitos 0s gestores de companhias. Como ensina Teubner (1985, p. 157), tal tipo de perspectiva tompe com a relagtio tradicional entre recursos, controle © responsabilidade, jd que mo é mais a contribuigdo para os recursos da companhia o que determina a quem os administradores devem suas obrigagbes, mas sim 0 interesse da sociedade no sucesso da companbia, No caso brasileiro, divida ndo hi de que o atendimento dos prinefpios da ordem econdmica, tal como previstos no art. 170, da Constituigae Federal, passam a fazer parte igualmente do inte do nivel de complexidade da gestio das companhias, suscitando diversas discussdes © perplexidades, tais como a de que grupos sociais devem ser beneficiérios diretos da atividade empresarial™ sse social. Consequentemente, ha um aumento considerivel Outra importante questio &2 de saber até que ponto e em que medida se pode exigic dos gestores 0 cumprimento da “miss universal” de mediar, equilibrar e atender ‘adequadamente todos 0s interesses envolvidos na atividade empresarial, quando nfo ha clareza nem mesmo sobre a exata delimitagao desses imeresses. Nao obstante a dificuldade desta questo, uma consequéncia pode ser extraida, de modo relativamente simples, desta nova ¢ mais ampla nogdo do interesse social das ‘companhias: a necessiria legitimago da responsabilidade social voluntatia. Consequentemente, hi que se considerar como licitas ¢ pertinentes ao interesse social as doagdes ¢ atividades altrufstas des sociedades empresérias, salvo em casos de manifesta desproporgio ou da possibilidade de comprometimento da propria realizagio do objeto social ou da manutengao da empresa 7 Evin ig eo Seman 955, p. -TOT ja GSE TO Wena Da ROT TE ae sca anecenidade equ stint de compete pair os ines cafes dos soto ger ‘vas ssn enprapadr, imnestcidncem e-em te frme ue oh euros dein dese un fim cm cam a am insta pare coli de tes os tres {it p.417 deena neessdale de um ucro minim, como condicso da eistznca dace Tener (98S. e157) por enempo tac a pcale Guess» fem os dentes deere 42 erponsbil dade soi dos companias sh) as ros st ts prema Seneeiias Sse ‘ever i apa escape ameto do piso i) aut papel do deta Wetter dee tepensabildade dcr Teen abvere © as que sample do ree sei ar companies ls ‘rec um crite para dings narmvamente as nesses 5 ‘eget ve de Clgao {964 VIl,p 9) seanda eal edo compeidde da esto ds aan amphi, ocean omecam chu» co sims comms wna = 2 Isso porque a fungdo social da empresa, neste aspecto, nao implica que os interesses dos empresérios e Socios de sociedades empresirias devame ser desconsiderados, sob pena de haver uma indevida publicizacao da empresa. Como ja se adiantou, a solugio dda questdo envolve o delicado equilibrio entre as dimensées individual ¢ funcional da livre iniciativa empresarial Entretanto, desde que sejam razoaveis ao implementar @ que 0 direito anglo-saxdo chama de “social responsibilty”, estardo 0s gestores das companhias agindo em conformidade a0 interesse social, conclusio que decorre diretamente do texto constitucional, ainda que seja igualmente objeto de pre musiness conscience” ou “corporate altruism”, 0 legislativa especifica no Brasil 3.5. A fungao social como principio que impée o estimulo e a preservacio da empresa {Além dos desdobramentos retratados anteriormente, cumpre ressallar que a fang social ainds tem a importante consequéncia de assegurar a preservagio e manutengio da atividade empresarial como geradora de empregos, tributos © riquezas para a comunidade. Sob essa perspectiva, uma das principais consequéncias da fungao social ¢ impedir que a subsisiézicia da sociedade empreséria fique sujeita & vontade de um dos sécios ou contra a sociedade. mesmo de eredores que estejam movendo agiio de exec ‘Tal questao jé havia sido apreciada pelo Supremo Tribunal Federal antes mesmo da Constituigdo de 1988, a0 tratar do pedido de dissolugdo de saciedade ito por um dos ‘oportunidade, entendeu 0 Tribunal que “pedida a dissoluedo total por um sécio, e a dissolucdo parcial pelos dois outros, 0 interesse social da conservagdo séeios, Nes do empreendimento econdmico, vidvel ou préspero, indica a adocao da segunda formala."® Ji sob a éyide da Consttuigio de 1988, o Superior Tribunal de Jostga reforgou 0 entendimento do Supremo Tribunal Federal, alegando que nem mesmo a maioria dos sécios poderia requerer a dissolugo total da sociedade quando existisse interesse de pelo menos um sécio em prosseguir com a atividade empresarial. Alegou o Tribunal, referindo-se ao empreendimenta empresarial, que “a sua continuidade ajusta-se ao ‘interesse coletivo, por importar em geracde de empregos, em pagamento de impostos, ‘em promocao do desenvolvimento de comunidades em que se integra, e em outros eto grotto razoves om bests ds empreaesou da comands de qu particpea empresa, fends ¢m ses responsabilidad soca © STR RE o104, Relator Minsto Deco Miranda, DJ 31.08.1979, 3 me beneficios gerais*. Em tais hipéteses, a nica solugdo possivel seria a dissolugao parcial da sociedade, a fim de possibilitar a retirada dos scios descontentes, Tal orientagao foi recentemente confirmada em julgado no qual 0 Superior ‘Tribunal de Justiga asseverou que “ndo é plausivel a dissolueao de sociedade anénima de capital fechado sem antes aferir cada uma e todas as razies que militam em prot da preservacao da empresa e da cessaedo de suer fungdo social, tendo em vista que as interesses socials hdo que prevalecer sobre os de natureza pessoal de alguns dos acionistas."* Vale ressaltar que 0 principio da manutengdo da empresa jé justificou, inclusive, a posigdo do Supremo Tribunal Federal de que sociedade formada por apenas dois s6cios

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