Você está na página 1de 14
Capitulo 6 LETRAMENTO(S) Praticas de letramento em diferentes contextos este capitulo, ler posters ‘setainar mais @roftirsobre-os toAcetes de letroment, em sis erst forte face, na Dpersonctiog stirs e desta, de vamos imctipis. ‘multscernotings Rico). Pooes. tembén reveraigumes rena, (pre oancetes e respeto doe Jeuamentesiocsis, pobats, fsenkares a valriados, clea eno ume stnic ds jrvestearso se ertudo des oriieas oe letramenia gloss loons nos, ‘uals a6 pessoas eid envoivids, ‘eso pogerd despertar 0 interesse ‘emviablzer a silegs entre 6 lateamantas jd pvontisse pelos shines nom ttre pinitegades pate escnta 08 do patron cura walrizade, sme OS Letramenio ndo pura simplesmente um canjunte ce hnbilidades individuats: 0 cunyunio de prdticas socials Igedasd leur © eectita em que os tndividuo we cevalvem enn set Camtesto poeiel (Soares, 1008; 72) Podo-te attimor que # excala, a maia importante as fagénefus de letromento, preocupa-s, 20 com 2 lelzamento, pética social, maz cain apenos um lipo de préten de [ettuinento, « allabetizopto, 0 processo de aqalusda de Gidigas fetlabéties, rumarica), proceso eralme te peresbidle em Yesmnas de vung competericia Individual Frecessd:fa para sucesso © promosda na escola, J4 outros fageneie de letramento, cam a lerelto,« igrejo, # ra coma ugar de teabalho, mostram arieatagées de Ietrament muito eventes (Kleiman, 1995: 20) Nossa personayem, prafessora Dora, entra na sala de aula, faz a chamada # em seguida pede a Tadew que abrac livre na pagina 27 e leia @ texto em voz alta — praticas de letramento, Josias, 22 anos, vestide com uma calga caqut esfarrapada ¢ uma eamiseta regata branca cheia de buracos, aproxima-se de meu carro pa- rado né sinal ¢ peadura no espelho um saquinho de balas de hortelé em que hé grampeado um bilhete com os seguintes dizeres: "Sou pai de familia e estou desempregadio, Vendo balas para sustentar meus filhos, ‘Compre um saquinho, Somente RS 2,00". Leio o bilhete e comproas ba- tas — préticas de letramento. Suzana esta sem dinheiro vivo na carteira e precisa comprar semédios. De duas uma: ou vai ao caixé sutomaticn e segue as instrugtes na tela, digitando e6digos alfanuméricos para retirar dinkelro vivo, ou vai direta- mente a farmaciae usa o-cartie de crédito oude débito, também seguinde as instragSes da tela no terminal e digitando cédigos alfanuméricos, para realizar a compra sem precisar do dinheiro — préticas de letramento. “Tocador de atabacue num terreiro de umbanda om Vila Medeiros, na zona norte de Séo Paulo, Renato Dias ficou intrigado, certa noite, com: as frases balbuciadas, em aparente Lanse, por um guia espiritual. Dis- seram-the que talvez fosse uma lingua indigena. Uma das entidades da. umbanda ¢ 0 caboclo, que zepresenta o indio brasileiso, Independente- mente de quaisquer conviegSes religiosas, aquela cena acabou se mate~ Nl ivcitinananemenrommmnnt Halizando no primeira cb de mop com as letras em tupl de que ve tem no- ticia. 'Fiquel interessado na sonoridade daguelas palavras’, diz Renato, quese prepare para lancar, neste més, as milsicasde 'Kaumeelat, que, em tupi, significa uma entidade espiritual maligna. O projeto s¢ foi possivel gracas a uma inusitada mistura de um terreira de umbanda com o rigor académieo da Universidade de Sao Paulo"! — préticas de letramento. Mas afinal que conceito é esse tao complexa 6 diversificada que re- cobre desde a leitura escolar em voz alta de um texto escrito até um co de rap em tupi, assessorado por um professor da USP, passando pelo uso de meios eletrinicos e digitais? ‘Como diz Kleiman (1995; 15-16), "a conceite de letramento come- cou a ser usado nos meios académicos numa tentativa ce separar os estudos sobre 6 ‘impacto social da escrita’ (Kleiman, 19890) dos estudas ‘sobre a alfabetizacdo, cujas conotagdes escolares destacam as compe- téneias individeiais no uso @ na prética da escrita"? ‘Usamos até aqui o conceito de alfabetisi para cesignar 0 conjunto de competincias e habilidades ou de.capacidades envelvidas nos alos de leitura ou de escrita dos lndividuos, conjunto esse que se diferencia particulariza de um para outro individuo, de acordo com sua histéria de praticas sociais, e que pede, como vimos, ser medido e delinido por niveis de desenvalvimento de leitura e de escrita, como fazem o INAF ¢ 0s exames nacienats, ‘Alfabetisino 6 um concatto bem mais antigo, Sequnde Ribelre (1967: 145), © lermo alfabetisma funcional fol cunhado ios Estados Unidos na déeaca de 1920 2 utiizade pelo exército norte-americano durante aSequnda Guer- ra, indicando a capacidade de entender instrugies escrtias necessérias part a realizacio de tarefas mulltares (Castell. Luke & MacLennan, 1986). A par- lide entio, o terma passou 4 ect wlilizado para desigmar a capacidede de aco de hitmé/wwwl.solha.uolcom.brrtetha/dimenst acess ern 16/02/2008, ® autora einda informa que o prime iso da pelavie no Brasil, tacts literal do inglés de Merocy — Magus om que, abids, recobie ap mesina tempo o4 vigniticados de lfabetinacio e de letramento—, fi de Mary Kato, em seu lvro-de 1986, vonies Q7 infeotunsa/ga84 D6. utilizara loltura © a escrita para fins pragmsticos, em contextas cotidianos, domésticos ou de trabalho, multas vezes colocada em contraposicgo.a uma concencdo mais tradicional e academia... Entéo, podemos dizer que as priticas sociais de Jetramento que exer cemos nos diferentes contaxtos de nassas vidas Vao constituindo nossos niveis de allabetismo ou de desenvalvimento de leitura ¢ de eserita, dentre elas, as préticas escolares. Mas nio exclusivamente, como mestram nos sos exemplos, £ possivel ser néo escolarizaco ¢ anallabeto, mas participar, sobretudo nas grandes cidades, de priticas de letramento, senda, assiin, letrado de uma certa manoira, Nada exclu, por exemplo, que Josias, no nosso segundo exemplo, nunca tenha frequentado a escola © seja anal- fabeto, tendo. pedido para alguém escrever e imprimir os bifhetes. Ainda assim, ele recorre a préticas letradas em suas vendas, cobra o faz 0 troco. Podemos também diger que, nos textos e pesqutsas da década de 1980 no Brasil, aliabetismo ¢ Jeframento (assim, no singular) recobriram signifi- cados muito semelhantes e préximos, sendo, por vezes, usados indiferente- mente au como sinénimosnos textos. Soares (20413 [1295]: 41), por exemplo, chega a afirmar que “o neologismo [letramento] parece desnecessério, jé que a palavra verndcula atfabetisme [...] tem o mesmo sentido de lveracy* Como se vé, 05 varios sentidas da palavra literacy em inglés (alfabetizacdo, letramento, alfabetismo} tém um papel nessa aparente sinenimia, ‘No entanto, vale a pena insistir na disting’o: 0 termo alfabetismo tem um foco individual, bastante ditedo pelas eapacidadies e competén- cias (cognitivas e linguisticas) escolares e valorizadas de leitura © escri- ta (letramentos escolares ¢ académicos), nuina perspectiva psicaldgica, enquanto 0 termo Ietramento busea recobrir os usos e praticas socials de linguagem que envolvem a escrita de uma ou de outa maneira, se~ jam eles valorizados on nao valorizados, locais au globais, recobrinde contextos sotiais diversas (familia, igreja, trabalho, midias, escola etc,), numa perspectiva sociologice, antropalégica e sociocultural. Isso fico bastante mals claro para os estudiasos do letramento, & partir da obra divigora de aguas de Street (1984), que inaugura os novos estudos do letramento [xet/nts) € que foi divulgada no Brasil, sobretudo por Kleiman (1995), Nela, Street propunka uma divisao entre dots enfo- 08 \LETRAMENTOS MOLTILOS: ES0OLAE ICLISAGSODAL | RANE BORD ques do letramento nos estudas, para os quais ele escolheu as denomi- nagdesde enfoque auténame © entoque ideolégico do letramento’, Segundo Street (1993: 8), 0 enfoque auténomové o letramento "em termos técnices, tratando-o come independente de contexte social, uma ‘aridvel auténoma cujas consequéncias para asociedade- a cagnigao sho derivadas de sua natureza intrinseca”. Ou seja, o contate (escolar) com. a leitura e a eserita, pela propria natureza da eserta,faria com que 6 tn- dividue aprendesse gradualmente habilidades que o levariam a estégios universais de desenvolvimento (rivets). Eo que, até aqui, denorinamos niveis de allabettam. E & 0 que Bartlet (2003; 69) qualifica de 0 retrato a educacdo a partir do enfoque auténemo, no qual essas habilidades resultariam ‘no pansamento racional individual, no desenvelvimento in telectual, no desenvolvimento social e na mobilidade econdmica’ Ae contrério do modelo auiénomo dominante, 0 enfoque ideolégica “vé-as préticas de letramento como indissoluvelmente ligadas as estruturas cultarais ¢ cle poder da sociedade © reconhece a varledade de préticas cul- tturais associadas a leitura e & escrita em diferentes contextos" (Street, 1993 7), 0 *signifieado do letramento” varia através dos tempos edas culturas ¢ dentro de uma mesma cultura, Por isso, préticas téo diferentes, em contex- ls to diferenciador, so vistas como letramento, embora diferentemente velorizadas ¢ designando a seus participantes poderes também diversos. Outra distingdo interessante, ligada reflexdo de Street (1984), € feita por Soares (1998), quando fala tle uma versao fracae de uma ver- sao forte do conceite de letramento, Para ¢la, a verséo fraca da conceito de letramento, que estaria ligada ao enfoque autonomo, é (neajliberal e eslaria ligada a mesanismos de adaptaco da populacdo as necessida- des e exigencias sociais do uso de leitura e eserita, para funcionar em sociedade, E uma viséo adaptativa que esté na raiz do conceito de alfa betismo funcional e de muitos reclamas indignados a respeito dos resul- tados dos exames ¢ medigées de competéncias e habilidades: como ser cidadao, funcionarem sociedade de maneira adequada, sem dominar as competéncias requeridas? O que faz.a escola que nao as desenvolye? 1 Para saber mais eotalar duas posigues estintas, e. Kleiman (1995) @ Shares (L008), SENS 99 ne Jaa versa forte do letramento, para Soares (1998), mais préxima do enfoque idealogico e da visio panlo-freirlana de alfabetizacéa, seria revoluciondria, critica, na medida em que colaboraria ndo para a adap- tagdo do eidadao as exigdncias sociats, mas para o resgaie da autoesti- ‘ma, para a construgio de identidedes fortes, para a potencializacan de poderes (empoderamento, empowerment) dos agentes socials, em sue ‘cultura Jocal, na cultura velorizada, na contra-hegemonia glebol (Sousa Santos, 2005), Para tanto, leva em conta os muilliplos Fetramemlos, sejam valorizadios ou néo, globais ou locais. zee Enfoque autnomo.e enfoque ideoligico do letramento Le acordo com a discuasde felts sobre os enfoque do(s} letramento(s), preen- ‘cha o quadro com as citagées abatxo, avaliando em qual tinha @ colina acd colocaris cada uma das citaeoas: ‘Enroque meOLbaICO TEnibora uni navies poses ber ‘Aes, wn prgjeto, educative eomprometide com 9, damocrs fieago gocial © cultural atria 2 fesenka fungio 6 a responsabl dado de contztuar parm garentir 4 tole ei aliaios 1 acenad aoe saberox “inguistics niscesatrios pata 0 exeieioo ca cicada. [Esa rosponsabilidade ¢ tanto imaior quanta menor Tor © giau de Yetramonto des conn icaaies fem ce viver os alunos. Co sxierspde 05 cerentes_ iv Me conhectinento previa, cabe & eseola promaver sua ampliegso, 6 fortoa due, progmessivanimte ‘durante 9s oto anos do ensind fundamental, cada eluno oe tox ‘cy do inerpretar diferentes tox fa competéncia re(uanda Partiipar de qusisquer coment dads de texte au da letrarsenta, peecleo-tasnbdus admit 0 tato de que qanlguer seelacind wall gandeada «tame dou corpo ele ciengae, por Hates exprowins pouina forma textual, culo srext ¢ uine fonte de poder © de prow igo. Nunta woctsdace burperat as question Ligure giosae, Fpolticas, ilenticat © Menarins Sonstituem esse dersinia privile glade, « o acesco © patinpsrio esses dominios latina uma fot min parlieulaw se Iaeasnento. E 0 lipe de leremments que conceme Termeni inainughes ecavese- || [los que o 5 qos rculams socklaeaip, de perspsc- ||| assum palavre in asd Wesdepptlana hqencl duels Wetton Ee ‘gata aa seaiey aeons dace das sung fio proviiegiacen’ (Olron, 1954 F/MEC, 1908.19, dit BH, balan adiconn mn contiecieaenty mats prof ie Veriotors || dy da cralldade primitive ow pei-|| cial, plurals = situetes, que pidria permite-noe compreender || | combi orale e escrito jlhor o neva muti da eacrta, ||| de formas diletenies em sventon 0 que ele veidadeiramente de nabness dilerente, © ujo3 (us oe seres hina uncic ele mento ndo qascein da capact “ ‘cada ues destinars. Teeth podeniae diest que dati wagde deseo cepacl- enter sho ili ilades, clteta ou kndiretamiente de ‘inetd pela tecnologia da escete, Seam = cultvraie sot esciiia, a inente Jetreda rido||| bibles llagiticos dos grapes 80 pode fone pemia, no apenas quanda se ceupa da escriia, mas normal: mente, até meine quande cith ‘ompondo seus pentamentos de ferma oral, Mais do que qual: quet ovine invencao mdsricaal 4 eicilla Waasformod & const ucla homane” (Gog, 1982; 93, énfase adiclonaday Pensar| || tale pedercnos ne contenta a0- fem que 38 jratitados, n nquisicho dos letraman- 168 Hominantes por gr hhoherwes pode cemetituir-se vim ineease confiiase = sumbol comente vilente. ues ‘umdes sf muito pouca previ- sfveis” (Bucato, 2007: 153-154 rane acticionaiia, stitaigdee pblioas, partion a A clisgie Ado Ong. (oi quilificeds como um enfoque auiduenis een Vardi fai pois atibit A etctita, de cancizn avtbnoma, isto é por ela mesaia, mudangae aa consciincin, na comnigde © aa Tingvagem humana. Ji a ctaghe 1, de Cleon, seria sina verse fraca do enfosque eutinorns, ‘autonome da sparta ede sins TlagSes conta distribute do poder © a hicrarquia socal @ coin ns institulgBes Aindo astic, enfoca o letiainento como uns competéacia adlquinda para fondlenar sem doterminadas instituigSes. A cing 3, retiradau doa PCN de ansino fundamental (BRASIL/SEF/MEC, 1998}, Ini considerads uma versio traica de enforuis identi whorafale em democratizagSa sacia) 2 cultural, ainda via serola com 0 papel «= 101 P ‘Assim, as abordagens mais recentes dos Jetramentos*, em es- peclal aquelas ligadas aos noves estudos do letramento (we./t1s) tém apontade para ® heferage neidade das praticas socials de leitura, escrita euso da lngua/lin- guagem em geral em sociedades a afte 0s va: letradas ¢ tém insistido no carater ne sococultural @ situado das prdéti- a cas de letramento, Esta posicao, : como nota Street (2003: 77), san Empeevisre etched 08 uncianar social 2, da Rusa Jie arte do enfeque ielbision, na implica o reconhecimento dos miltiplos letramentos, que variam no tempo eno espaco, mas que sa também contestadas nas relagiies de poder. AS- im, 05 Mts nijo pressupdem coisa alguma como garantida em relagio aos Jotramentos 2 as priticas sociais com que se associam, problematizando ‘equilo que conta como letramento em qualquer lempo-espace « intsiTo- gando-se sobre “quals letramentes" so dominantes ¢ quals séo marginal zados ou de resistbncla (@nfase adscionada} Nesse movimento, o conceits de letramento passa aser plural: letra ‘mentoS. Hamilton (2002: 4) chama 08 letramentos dominantes de *ins- titucionalizados" ¢ os distingue dos letramentos Jocals “vernaculares" {ou “autogerados”), Entretanto, ndo os vé coma categorias independen- tes on radicalmente separadas, mas interligadas, Para a autora, 0s letra- imentos dominantes estio associados a organizagies formais tais como ‘a escola, as igrejas, 0 local de trabalho, o sistema legal, o comércio, as ‘purocracias, Os letramentos domiinantes preveem agentes (professoras, autores de livros didaticos, especialistas, pesquisadores, burocratas, pa- dres e pastores, advogads e juizes) que, em relagio ao conhecimento, sao valorizados legal ¢ culturalmente, sie pederoses na proporgéo do poder da cua instituigio de origem, Ja os chamados fetramentos “verna- culares” nao so regulades, contralados ou sistematizados por institul- 00s ou organizagéas sociais, mas tem sua origem na vida cotidiana, nas “Faxio baseatlo em Rojo (20000), OID nicnstvinnicsccineniasi eulturas Iocais. Como tal, frequentemente s80 desvalorizados ou despre- zedos pela cultura oficial ¢ sde préticas, muitas veres, de rasisténcia Letramentos dominantes e marginalizados 4. Um exemple de desprezo pelos letramentos locals e marginalizaclos € o que 8 ‘esoola (instituige oficial) ven dlspensando ae. intamnetés ou blagués. € comurn ‘yermas professores e @ midla “reclamanda” da migragaa dessa linguagem so- ‘ial da midia digital para outras estaras de eomunieaigaa, como um “ataque & Fingua portuguesa”. Vela, oor exempio, a posigde da Prof Elenice a respetto, ppublicada no Jornel santista A Truna, em 30/05/2005: Para a professora Elenice Rodrigues Lorenz, de lingua portuguesa, I teratura © produgito textual, o prablema esta na caréncla do dominio da lingua matema, “As pessoas nao leon, ito procutary ampliar seu vocabuldrio, erram na regéncia ¢ na concordancta das frases.e das pa- avras; t6m dificuldade de conectarideias e de interpretar textos”. Para, Etenice, portanto, a preocupagao é “adatar” 0 intemetés como Gnico recurso escrito altemativo, exatamente por sér simplificads © pobre de regras gramaticals e linguisticas. [..] "Nao hd condieses de tolerar © desrespeito 20 idloma, principatmente dentro da sala de aula, Uma coisa é usar girias e internets na Informatidade e com amigos, Outra é evar esses vielos para toda a comunieaedo", argumenta Eleniee, (Retirado de 7 acesso em 21/02/2008, énfase adiclonada), Como veins, 0 inteinetés ¢ clessificade como desrespeta ao idioma, vicia, um ‘estilo de lingua escrita simpificacio © “nobre de regras gramaticals e linguisticas™ (ecma ge isso pudesse existir. No verdade, 0 internets & uma linguagem social adaptada rapider de escrita cos géneros digitals em que ciicula ~ bategapo am chats, comunisagéo sineron por escrito em ferramentas como MSN ¢ blogs. sao 03 2, Veja esseo dois: «os. por jovens. amigos: OO ‘gkemplos de internetés: um dilaga ne MSN € um exmait, enviar a) [VEVEIN AKI EM KAZA OM KEM E KD? TRAZ XOCOLATE E+ CERVEIA? AKO Q NAUM TENHO+ Uz? bb) Danial: Hoan blz mik 77? edo: bic cnt 72? Daniel: manerow, mas Iaew cmu vai a vida 79? Pedro: tenhu idua prale © saidn com ms amlgust Danial! Ig ka, valaw! A. Tente mortar um gloesério com as palavras da interetds © suas cor respondenies da escrite padréo. Qual © prinelpal mecanisrme que opera no interatés, ne su8 Op ldo? Por qué? A que necessldo- des atende? “A. Considere pales como Wt 0, 912, WK, CEL, MS, LoL, KA? @ cS holes ou Yerotives” coma+, 6.0%, @ etc. Lembrando a breve hist tia da escrite que fizemas no capt 1ulo 4, voce considera essa escrita ‘coma mais préxima do eifabeto, do stiatéria ou do ideagrama/picto- ‘grama? Justifique sua resposta, 5, Considerando as propriedadies do Internets que anallsou, vooe dria quo: a) © internets deve permane- er fora des salas de aula Para saber mais, vero “plossarto aa revistaenfoque,comubr’ index:phptedica~ [OA erneirestnancrarcranenn oui \Voc$ dei ter petcebida qua um dsp coca de pala, mas tara wr fava arentiagga, dimilaese a Tiaguo oral ‘em fagisto colidiann « inom, bam =e lingungem e gittas oe grupo, atmalnnda lima ouverea face-a Took, Alonde-se a wring peeemdados da “ermve!s Internet: aserever tapicamente em itu (glo ancions s10@, quando dies pessoas faem # mesma cise —conworsam —80 imesmn lempo, nko deeear @ interlocutor ‘capers, simplifior 0 uso dp tecindo, ‘eviabelece! contate mals tite fant Har informal can ainferlgcutar, incase ‘erever ui identdaie de grup. gyre mic rein oe poi velo unandeieoyranon 28 Mn tro piaogramny, poe reas tion Sr come Shas pox ves wend festa abet nme acu Ge aprecnso do agin tl or Sve uns nt, At au Porn, ene oP tae gusts excrvn, tones ah tguetca¢ consid onli + in sn no dior ver pvr Me elu, aso em P08 b) 0 imernetés: deve ser estudado nas saiss dé aula de linguas, como uh ‘mod situsdo de funcionamente da linguastem, Justifidue sua tesposta. Os novos estudos do Ietramente tém se voltado em especial para os letramentos locais ou vernaculares, de maneira a dar conta da hereto.7en} dade das praticas nao valorizadas ©, portanto, pouco investigadas. No eh“ tento, cabe também ume reviséo dos letramentos dominantes na contéie pafaneidade, em especial dos letramentos escolares, por diversas razbos. «/ Em primeire lugar, por causa de como se apresenta omunde contem- pordneo. Podemos dizer que, por efcite da globalizagao, 0 munde mudou Hullo nas duas Gltimas décadas. Em tormos de exigéneias cle novos le- bumentos, ¢ especialmente importante destacar as mudancas relatives 420s meios de comunicagaa e a cireulagio da informagéo, O surqimento © aampliagdo continua de acesso ds tecnologias digitais da comunicaggo da informacao {computadores pessoais, mas também célulares, tocadores de mp3, Tvs digitais, entre outras) implicaram pelo menos quatro mudan- gas que ganham tmportaneta na reflexéo sobre os letramentos: + avertiginosa intensiticacde & a diversificagdio da clreulagdo da infor ‘magdo nos meios de comunicacao analégicos e digitais, que, por isso mesmo, distanciam-se hoje dos metes impressos, muito mais mora- 580s €seletivos, implicancio, segundo alguns autores (cf, por exemplo, Chartier, 1997; Beaudouin, 2002), mucangas signifcatives nas ma- neiras de ler, de produzir e de lazer circular textos nas saciedades; + a diminuiedo das dlistancios espaciais — tanto em termos geogréti- ‘cos, por efeito dos transpartes réipidos, como em termes culturais © informacionais, por efeita da midia digital e analdgica, deconraizan- o as populagdes ¢ desconstruindo identidades + a diminuigéa des disténeias temporais ow a contragtio do tempo, determinadas pela velocidade sem procedentes, a quase instanta- neidede dos transpartes, da informagao, dos produtos culturats das midias, caracteristicas que também colaboram para mucangas nas praticas de letramento; + a multissemiose ou a multiplicidade de modos de significar que as possibilidades multimididticas e hipermidistices do texto cletrénica 105 ahh h tracer para 6 ato de leitura: ja nao basta mais s leftura do texto verbal escrito — 6 preciso relacioné-Io com uri conjunto de signos de outras modalicledes de linguager (imagem estética, imagem ex mevinen to, mésica, fala) que © coream, ou interealam ou impregnam; esses textos multissemibticas extrapolaram os limites dos ambientes digitals e invadliram também os impresses omels, revistas, livros didlicos), Por outro lado, a escola — em especial, a pitblica — também mudou bastante, como vimos, nos ditimos cinquenta anos no Brasil, mes nao na mesma diregio, Buscou-s¢ — © atingiu-se, na década de 1990 —a universalizacdo do acesso @ educacao publica no ensino fundamental ehoje so busca a mesma ampliagaa e universalizago de acesso no en- sino médio e superior, para melhor qualificacio da mao de obra, Como também vimes, acesso no quer dizer permanéncia ¢ nem qualidade de ensino. Ainda assim, a ampliagie de aceseo tem impactos visiveis nos Ietramentos escolares: o ingresso de olunado e de professorade das classes populares nas escolas publicas trouxe para os intramuros escol res letramentos locais ou vernaculares antes desconhecidos e ainda hoje iqnorados, como o rap @ 0 funk, por exemplo, Isso cria uma situacao de conflito entre préticas letradas valorizadas e no valorizadas na escola, comio apontam os trabalhos de Kleiman (1985, 1998), por exempio, Hamilton (2002: 8} vai apontar para 0 fato de que muitos dos Letra- mentos que séo influentes ¢ valorizados na vida cotidiana das pessoas ¢ que tém ampla etreulacéo séo também ignorados ¢ desvalorizados pelas instituigSes educacionais: “Nao contam como letramento 'verdadeira” Um exemplo ¢ ointemetés que abordamos na stividede 13, usado inten- samente polos jovens fora da escola e, nela, ignarado ou execrada come degradacao da Knqua. Da mesma maneira, as tedes sociais ¢ informais que sustentam esses praticas letradas (por exemplo, as redes @ comu- hidades virtuais de que jovens de todas as classes soclais participam) permanecem desconbecidas ¢ apagadas nds escolas, quando nao tém ‘Seu acesso proibido, como é o casa da proibicao de acesso ao Orkut e ao nian’ em muitas escolas ¢ universidades conectadas, Essas mudangas fazem ver a escola de hoje como um universo onde conviver letramentos miltiplos ¢ muito diferenciacis, coticiamas @ insti- tucionais, valosizados ¢ ni valorizados, locals, globais e universais, ver Oy saereenorvees neculares © autdnomos, sempre em contato @ en coniflito, sendo alguns jeitados ou ignarados @ apagados © outros eonstantemente unfatizados, Por fim, nessas circunsténcias, 0 que significa trabalhar a leitura © a escrita para o mundo contemporineo? Qu, como diz Hamilton (2002), come esbogar politicas de letramento ao longo da vida que realmente sustentem @ desenvolvam os recursos, processes © metas qué existem & sie requerides na vida cidadé contempordinea? Um dos objetives prineipais da eseola é justamente possibilitar que seus alunos possam participar das varias praticas socials que se utilizam ‘da leiturae da escrita (letramentos} na vida da cidade, de maneira ética, silica e democratica, Para faz6-0, 6 preciso que a educacéo linguisticn leve em conta hoje, de maneira étiea # democratica: - = os multiletramentos ou letramentos miiltiplos, deixando de ignorar ouapagar os letramentos das culturas locais de seus agentes (profes sores, alunos, comunidade escolar) ¢ colocando-os em contato cam 8 letramentos valorizados, universais © instttucionais; como diria ‘Souza-Santes (2005), assumindo seu papel casmopolita', + osletramentos multissemidticos exigicios pelostextos contempora- ‘neos, ampliando a nogéo de letramentos para o campo da imagem, da mmisica, das outras semioses que néo somente a escrita, O c0- nbecimento e as capacidades relativas a outros meias semidticos esto ficando cada ver mais necessérios no uso da linguagem, tendo em vista os avancos tecnolégicos: as cares, as imagens, os sons, 0 design ete-, que esto disponiveis na tela de computador ‘em muitos materiais impressos que tem translormadoo letramento tradicional (da letre/livro) em um tipo de letramento insuficionte para dar conta dos letramentos necessérios para agic na vida con- tempordnea (Moita-Lopes & Rojo, 2004); Sousa Saaes (2005: 74) aponta por a glabalzario ou catgacto conta-hogeménia, awe nove basi no nceaent ena pons do eal envznda — ena 0 pega sii valrestagis, dexigand o ane leaner sate begeadlea mat eta fama as iicatvse, organise & movimento lets deconnoplltes opti cmum a menace can vocacastansmscona™ mos ancafadas en lus localsconceion Dente els cescola |. 1-0 gl acute caren, E reso fact com quo ocal cana agemdnico ibn conn glbatmcite” 19), 7 Tet ine ets casei, week sorts eee te Gn ljursuomae uae ork cvwoex 7 ee «os Jetramentos crilices e protagonistas requeridos para 0 trate etieo miose ou mnultimodalidade das midias digitais que lhe deu origem, pelo dus diseursos am uma sociedade saturada de textos © que nao pode menos duas facetas: a muitiplicidade de prdticas de Istramente que ei lidar com eles de maneita instantanea, amoria € alienada; come afir- ulam em diferentes esferas da sociedade # e multiculturalidade, isto 6, mam Moita Lopes & Rojo (2004; 37-98}, € preciso levar em conta ofato de que diferentes culturas locais vivem essas praticas de maneira diferente, Por exermplo, um analfabeto habitante de zona rural que, tado nia Vida social. Os siqniticadas s40. contextualizados didi ae gable: fitis, ambos, de maneiras muito diferentes — inclusive em termos de schoceoest ee siabcance. “tang coke es pater Windec a ie a ae fort gua stualonskdade soca ou neu cantaxto de produho a nter- quem era o-interlocutor projetado etc. Tal teotizagae tem uma implicacdo Le nN Pe cite ce car sca p tata de que-a linguagem néo ocorre ein um vacuo social ¢.que, portanto, textos oraise eseritos nao tim sentida ens sl mesmos, mas interlocutores (es: chitores 6 letores, por exemplo) situados no mundo social com seus valores, Como organizar, na escala, a abordagem do tal multiplicidade ae priticas? Que eventos de Ietramento © que tesios selecionar? De que esforas? De que midias? De quais eulturas? Como aborda-lost {guage que fomece attics para os sliunos aprenderem, na prética esco- Dois conceitos bakhtinianos podem auxiliar nossa refloxéo: 0 con- lar, a fazer escothas éticas entro os discursos em que clrculam. Isso possibi- ceito de-esfera de atividede ou de cireulagao de discursose 0 concelto de lita aprender 3 problematizar © discursa hegem#nico da globalizagio © os 1eros discursivos (Bakhtin 1992 [1952-53/1979]). Na wida cotidian, significades antiéticos que cesrespeltem a diferenca, (énfase adicionada) circulamos por diferentes esferas de alividedes (doméstica ¢ familiar, da trabalho, escolar, académica, jornalistica, publiciténia, buroerética, re- ligtosa, artistica etc), em diferentes posigées sociais, como produtores ou receptores/consumidores de diseursos, em géneros variados, mielias diversas em culturas também diferentes: Escas miltiplasexigénelas que o mundo contemporaine apresentaa escola vo multipliear enormemente as praticase textos quenela devem circular e ser abordados. © letramento escolar tal como 0 conhecems, ‘voltado principalmente para as priticas de Jeitura escrita de textos em igéneros escolares (anotacées, resumos, resenhas, ansaios, dissertacbes, O dia da professora D, Nané, com que comegamos 0 capitulo 3, descrigdes, narragdes © relatos, exercicios, instruges, questiondrios, mostra bem isso: ele se inicia para ela, como dona de casa, na estera dentre outros) e para alguns poucos géneros eseolarizatios advindas de domésiica ou cotidiana, deixando bilhete para sua diarista e telefonan- outros contextos (Literério, jomnatistico, publiciténio) ndo serd suficiente do @ oficina autorizada; neste meio tempo, ela liga a Tv e toma contato para atingir as trés metas emunciadas acima, Seré necessirio amptiar & com a esfera jornalistica, como consumidora de noticias, e cam a publi- democratizar tanto as praticas @ eventos de letramentos que tém lugar citéria, como consumidora de produtos; em seguida, como consumidora, na escola camo e universo ¢a nalureza dos textos que nela circular. se desloca para a esfera burocrdtica do comércio, fazendo uns depésito bancério pelo computador € ceslocando-se par meio de transporte pile blico, para adentray, em seguida, come professora, a esfera escolar. Re- fernando sua casa, embora cansacia, ainda tem energia para assumir 0 © conceite de Ietramentos mitltiplos é ainda um concelte complexe papel de espectadara de produtes da eslera do enlzetenlmente (midls- € muitas vezes ambiquo, pois envolve, alam da questao da multisse- tico), vendo a novela televisiva, para, depois, como namorada, dialogar NR nemersenccccsscmcene meme 109 | Mas precisamos ainda, para isso, aprofundar um pouco mais 0 conceito | deietyamentos meltipios ou muliiletramentos ¢ 0 de Jetramentos eriticos. USS com seu parceiro pele mst na esfera intima e, finalmente, voltaré esfera escola; dessa vez como aluna, pata fazer atividades on-line de seu curso, semipresencial, Portanto, as esferas de atividade e de circulacdo de discursos nao sig estanques ¢ separadas, mas ao contrério, interpenetram-se o tempo toda em nossa vida cotidiana, organizando-a © organtzando nossas po- sigées e; logo, nossos direitos, deveres © discursas em cada uma delas, Talvez 0 diagrama abaixo possa captar vagamente esse nosso movimen- to constante pelas esferas de atividade: Ny \- (tomate ( A Zy | PA Figure & Esforas de atvidede socal ou de wirculngie dos ciscursos \ Segundo Bakhtin (1992 [1952-53/1979)}, cada uma dessas esferas de atividade humana é também uma eslera de circulagdo de discursos 2 de utilizagao da lingua # ‘eada esfera do utilizagao da lingua elabora seus tipos relativamente esidveis de enunclados, sendo isso que deno- minamos géneros do discurso" (p. 279). Ouseja, ha géneros admitidos & nao admitides, prépries de cada esfera. Para. autor, o texto ou enunciado reflote as condigbes especttices eas finalidades de cada uma dessas este a5, nde 86 por seu conteido (terético) & por sew estilo verbal, ou seja, pela selecdo operadia nos recursos da lingua — recursos lexicais, fraseologicos © 10 vmvsin erence gramaticais—, mas também, e sobretude, por sua construgéio eompasicis- nal (p. 273} Neste sentido, o jovem usa internatés no ew @ em seus ¢.mails) no seu blog @ em bilhetes escolares para colegas obedecendo as condicées especificas de circulagio da lingua em uma esfera de comunicagio. Mas 0 letramentos multiples também podem ser entandictos na pers. pectiva multicultural (multuletramentos), ou seja, diferentes culturas, nas diversas esforas, teréo priticas « textos em géneros dessa estera também diferencias, Deverdo as prdticas, ostextos, as inguagens @ as variedades da lingua ndo valorizadas, locals ou "yernaculares", como quer Hamilton (2002), ser abordadas na escola? Por qué? Para qué? Uma resposta pode ser conduzida pela analise do mundo globalivado emn que vivemos hoje Avctitica a globalizacao cultural jé fora denunciada ¢ prenunciada os estudos sobre indstria cultural e a comunicacéo de massas. A existéncia de meios de comunicagao capazes de colocat uma mensagem ao alcance de grande nimero dé individuos nao basta para caracterizar aexisténcia de uma inddstria cultural e le uma cultura de massa. A in- Sustria cultural 6, justamente, fruto da sociedade industrializada, de tipo capitalista liberal ou, ainda, da Sociedade dita de consumo. No campo das culturas, ¢ consideradia coma condigéo para a esxis- tencia dessa industria uma oposigéo entre a cultura dila superior ou va- lorizada, como a patrimoniada pela escola, ea de masso, difundida nos meios de comunicacdo, apesar dos aquivacos onvelvides nesea divisdo, Admitida essa diviséo, pade-se falar na existéncia de uma cultura sus perlar, outra média (mideuit), de valor cultural, mas nao estétice, e uma tercetra, de massa (masscull, inferior). A segunda distingue-se da tercei- *, basicamente, por sua pretensdo de apresentar produltas que se fijes ‘em superiores, mas que 30, de lato, formas desbastadas daquelgs, Ao Passo que a masscuil se contenta com fomecer produtos moreaf y sem. qualquer pretenséo ou: alibi cultural, & possivel, ainda, esféBelé=«/ corse uma oposicio entre a culture popular ou docal, entendida como * Texto baseado em Rojo (20088). Para cant com rrojoKoxane_Ro}a/Espace Blog/Arekive hte. ‘completo, acesse htips//websmac ow’ 4 ‘os valores ancestrals de um povo ou de uma comunidade especifica, & a cultura dita pop, outra designagio de cultura de massa, Ox mesmes ‘exeessos de valorizacioda cultura superior diante da de massa, também ‘so encontrados na defesa da popular diante da pop. ‘Com seus produtos, a industria cultural busea o reforco das normas socials, repetidas até a exaustiio e sem discussdo. Em consequéncia, tem uma outra fungdo: a de promover o conformismo, a alienacdo. Ela fa- brica seus produtos, cuja finalidade € a de serem trocados por moeda; promove a deturpagao ¢ a degradacéo do gosto popular; simplifica ao maximo seus produtos, para obter uma atitude sempre passiva do con- sumidor; assume uma atitude patemalista, disigindo o consumider ao invés de colecar-se a sua disposigae, ‘Accultura de massa da globalizagio é padronizada, monofonica, ho- mogénea © pasteurizada, a ponto de alguns éstudiosos da globalizagao falarem de Mundo Me, de "medonaldizac’o" da cultura, tendo como centro dominante e irradiador @ ocidente, branco, masculing, heterosse- xual, norte-americano: cultura da rapidez, da instantaneidade (fast food, zapping, clipping) e do excesso (lat food, inegalépoles, stress, hipertu- da}! Por isso se tornam téo importantes hoje as maneiras de incrementar, LJ Yoonpscola e fora dela, os letramentos criticos, capazes de lidar com os twafos © discursos naturalizados, neutralizados, de maneira a perceber seus valores, suas intencées, suas estretéglas, seus efeitos de sentido, ‘Assim, 0 texto jd ndo pode mais ser visto fora da abrangéncia dos dis- cursos, das ideologias e das significagdes, como tanto a escola quanto a5 teatias so habituaram a fazer. Como jé dizia Bakhtin (199% {1952.53/1979}), a compreensao de um discurso ¢ ativa, é uma agho de xéplica e nao de repeticio: (O ensina das diseiplinas vorbals conhece duas modalidades bésices esco- lares de tranamissio que agsimila © discurse de outrem (do texto, das regras, dos exemplos}: “de car" © “com suas prdpries pelavres*,[...] © abjetive da assimilagia ca palavta de outrem adquire um sentido ainda mais profunda fe mais importante no processo de formagao ideolégiea do homam, no sen- tido exato do termo. Aqui, @ palavre de outrem se epresenta no mais na qualidade de iformagées, indicacées, ragras, modelos etc. — ela procura 1 1 ? LETRAMENTOS MULTIPLGS: ESCOLA & PYGLISHO SOCIAL | ROXANE ROJO definir as préprias bases de nossa atitude ideoligica em relagao ao mundo e de nosso comportamento, ela surge aqui como a palavra awtorttaria © como a palavra intornamente persuasiva (Bakhtis, 1988 |1934-95/1975 ‘Além disso, como frisa Sousa Santos (2005: 26), a globalizacde inte- rage forlemente — quande ado provoca ou intensifica — com outros fe- namenos de depreciacao® e de diminnigao da qualidade ds vida no pla- neta; tais como 0 aumento dramético des destgualdades e da exclusdo entre/de paises, pavas, classes, etnias e individuos, a superpopulagao, a catéstrofe ambiental, 08 éenlTitos étnices, a migragao intemacianal mas- siva, a proliferagdo de guerras civis, 0 crime gioboimente arganizado, © incremento consequente da violénefa, a democracia apenas formal ¢ desprovida de sentido, o isolamento, Sousa Santos (2005: 27) afirma ain- da que, embora a globalizagao esteja longe de ser consensual ¢ soja “um vasto.¢ intenso campo de conflitos entre grupos sociais, Estados interesses hegeménicos, por um lado, © grupos sociais, Estados e inte- resses subaltemos, por outro", o campo hegeménico atua com base em ‘um consenso entre os mais influentes e poderosos membros: 0 consense de Washington o¥ consenso neoliberal, responsavel pelas caracteristicas dominantes da globalizagéo. A isso, 0 autor vai denominar globalizagdo ou coligagde hegeménica. No entanto, como todo [endmeno sécio-histérico, a globalizagao he- geménica gesta seu polo contratio, a Jocalizagao, o que leva mutes au tones a falarem de glocalizacde ou de g-locdilizagde, Ainda nos termos de Sousa Santos (2005: 26), a sociedade contampordnea parece combinar a universalizacdo a eliminagao de fronteiras nacionais, or umn lado, © particularismo, a diversidade local, aidentidade étnica © 0 regreseo ao comunitariama, por outro. O movimento de localizarao é visivel tanto no eampo politico-eco- némico, nas “novas" formas de exganicacio da sotiedade civil em orga- nizagdes néo-governamentais (aNcs), associagdes, cooparativas, dentrs ou:res, como principalmente, no campo cullwal e das identidades, par 1 Reasee hitpe/Tor-youtnbe. cam wateh2v-hRjsOREeSHU patra ver um pi que ponsara respoito dos efeitos da globalizagao, Sin que dé mom 13 a icio das identificagses comunitérias agregadas a interesses comums ou a producao das culturas locais. Fendmenos desse po sao encontrados tanto nas comunidades locais, coma, principalmente, nas virtuais, Sendo os ambientes digitais interatives © pouco controlados, préstam-se @ no- vyas formas de sociabilidada, Assim, as armas da globalizagao fortalecem ‘os lacos e as contra-hegemonias da localizagio, A isso, Sousa Santos 2005) vai chamar de globalizapto ou coligacdn contra-hegemdnica. Na verdade, hi duas formas de resisténcia: « localizacdo assumica — ou seja, o fomento a iniciativas locals de varios tipos ao reder do mun- do, por inelo da “espagns de sociabilidade em pequena escala, comuni+ térios [...), regidos por légicas cooperativas © participativas © a globali- zagao ou coligagéo contra-hegembnica” (Sousa Santos, 2005: 72), que ‘nao se baseia no incrementoe na protecio do local enraizado— embora sno neue seu valor estratéqico, designanda-o coma jocalizacdo conira- hegeménica —, mas no que ele chama de @s “iniciativas, organizagies © movimentos integrantes do cosmopolitismo © do patriménie comum da humanidade, com vocagao transnacional", mas encoradas em. "lulas locais concretas. [..] Q global aconleee localmente. & preciso fazer com que o local contra-hegemdnico também arontega globalmente' (p. 74). Logo, duas armas a favor da conétragao da coligacao contra-he- geménica seriam justamente a escola ¢ as tecnologias digitals. Por um lade, novamente aqui, so eruciais os letramentos criticos que tratam. 0s textos/enunciarlos como materialidades de discusses, carregados de apreciacdes ¢ valores, que buseam efeitos de sentido 2 ecos e ressa- nancias ideolégicas. £ preciso, portanto, um eenfocar de texte, fora da escola, mas principalmente nela, por sua. vocag3o cosmopolita, por sua capacidade de agenciamenta de populacdes locais na diregde do univer- sal, des patriménios da bumanidade. Mas também é muito importante um possivel outro caminho. vlar inteligibilidlade reeiproca entre as difarentes Tutes locais, aprofundar co que tém cm comum de modo @ promover o interesse em aliangas transio- cals © a criar capacidades para que esses possam efetivamente ter lugar & prosper (Sousa Santos, 2005: 74), 1 Ah ecasetasccinssccrasasn jnsaceon Neste sentido, o papel da escola na contemporancidade seria de rolocar em didlogo — néo isento de conllitos, pall(Gnico em termos bekhtinianos — os textos/enunciados/discursos das diversas culturas lo. cais com as culturas valorizadas, cosmopolitas, patrimoniais, das quais ¢ guardia, néo para servir A culture global, mas para criar coligagoes con- trachegeménicas, para translocalizar lutas lecais, Como gosto de dizer, pera transformar patriménios em fratriménios. Nesse sentido, a escola pede formar um cidadao flexivel, democritica © protagonista, que soja multicultural em sua cultura e poliglota em sua lingua. ‘Cabe, portanto, também @ escola potencializaro diéloge multicultu- ral, razendo para dentro de seus muros nao somente a cultura valoriza- da, dominante, canGnica, mas lambém as culturas locais € populares ¢ a cultura de massa, para torné-las vozes de um didlogo, objetos de estucdo de critica, Para tal, € preciso que a escola se interesse por e admita °° culturas locais de alunos e professores, ue Culturas locais S Oe Culturas valorizadas Culturas escolares Figuea 2: Multiculturalisra e evil ou transletrementos Ti see Letramentos miltiplos © multissemisticos na esfera da arte popular — 0 desfile de Escola de Samba 4. Em 2008, uma escola de samba da zona leste paulistana, Grémio Recreativo Cultural Escola de Samba Nené de Vila Matilde, lavau ac Sembécroma de-S80 Faulo um enrede em homenagem a Luis da Camara Cascudo, 0 professor que go gostava de ser chamade de folciorista. Lota a letra da samba-enredo: owes 115 \Nené de Vita Matilde -Samba-enreda 2008" (Nené, Adriana Bajar e Sulu) Um voo da Jigula come nunca se viu! Também somos fololare do nosso Brasil - 110 anos eprendondo.com Camara Cascada Pra encantara avenida A Sgula.vern mistifcar De boce em boes, pal pra fh W Para saber miaie sobre assa escola © exse anredo, vaja mais dotios sobre a Nené de Vila Matilde e confira sua ficha Wdeniea acessanda htip://pL.wikipedia.org/ wiki) Neate C2%AA de_ Vila Maliide. Veja também as noticing sobre ease desl, aces- hitp://wwwinomlanio.com/culturafnene da_vila.matitdehomenagela_cama: aca lipllg}.glebo.com/Carnsval2000/0,.M ro_cascudo_e.0 folclose brasilelro/14262/ ULI64445-8772,00- NENE+LEVA+DANCAS}COMIDAS+E+LENDAS:PABASASPA SSARELA.btml ot hitp-//youtube.com/watehv= WETVC8Sqa5 Ubiealure=user. Voct também pode ver parie dn deaf, embora com baixa qualidadte de tmagem, em: ‘:yontube.com/walchTwsO2D1c?stcAgslestaresrrlaied. Se vast aio conhece, tam Iném. 6 importante tomar contato com os critérios de julgamento des quesitos do desfle propedas pola Liga das Escola de Samba da Sao Paulo. Para fa26-In, acosse hitp ‘ara va1208tevra.com.tueintermaf 0,.012241886,811 0937 00m 116 sensor serine ‘0 modo Ge gir, sentir e pensar(8 potiguar) (Camara Cascudo mastrou para o mundo 0 folclore popular Brasil da miscigenseso, nosse rove estende as maos Vartios mestigar Costumes da nordesta...Oxente, eabra oi peste Vem pro fered dangsr, posira levantar Maracatu, festa junina BohBumba no Norte, Palinting, 0 porta notre Pro mou olhade tem reza forte 0 paié pade salvar Ferraduras e cavrances,. Paluds Quem foi que deinau 0 espetho se quetrar? No Cento-Deste nie pesque sem o7aséio (porque) Assombrago vaite pogar ‘No su! bringue De cabra coga e amsrelinta E repare! num lindo canto qué ouvia ARB 0 Saci seencantou ‘Nao € chula, nem tandango E perguntou: Que som & esse? Que cadéncia diferente Protegida pelos deuses, Me resonda quem vem tl Eu sou Nenét Da cutingria, batueade e camavall No Sudeste 2 festa é pra valer! Folclore vivo nese amanhecer Minha escola de samba & eyolucso! Bateria de bamba, toca até jonge & beige Anossa bandeira, mania sagrado ‘Gueto ezu! ¢ branca, mito respeitado Dentre outras possibilidades, voct Agora, vamos raflatir; ‘a tmimimo e 0 ‘do folebare bros 2. Que olementos da cutura valoriza: da esse (samba Jerredo-envalve? de Camara Cascuco, eosin 17 nn ”"*7—=ee b, E da cultura popular, das cultue ras locals? todos os tema Um desfile de escole de samba 6 um aventa muttiscamistico. . regionals diversas hens dax culnara Que linguagens entramine com [zanussi posisdo da desfile da escola? iar Masica e letra (cantada e eset ie" 1), no sama... Quals mais? Saci-Pera 1d, Nesse ano, 0 carmavalesco da a juni ete escola Toi Augusto de Olvera, umn cearense cuo pal Tundow & primsira nagao de maracatu do Ceard. Com que atividades letra dase letramentos ole teve dese enas an tas alg; © lingwagjem ena dang, no samba e erwolver para produzir esse enre- doe esse destile? Cite algumas. 8, Nesse cammval, a G.ACES. Nené.de Vila Matikte-conseguiu,, Pussivelmania, le tere de 1 © folelore barter @ let Com esse enredo, colocar a cuk Caccudo, “Tove também do plunojar 0 ura valortrada em contato com snrecio, azalae o alogonas, fe as culturas locals do Brasil ess SunepancTiny suas ouster com:a culture de massa. Pens: ve 1 letra co samnba-enroda dro re um exemplo de atividades esco corr fda a ented # fazer monsia Ao 1 esta reprosentado axe alae te lanes que se podria propor pare atingjr este mesmo cbjetivo, Come conclusde, podemos di- eberirarhs wer que trabalhar com @ Jeiture ©. doy stunos, a cultura vaborizad escrita na escola hoje é muito mais cpiareade que trabathar com a alfabetizacdéo ou 05 alfabetismos: é trabalhar com 9s letramentes miltiplos, com as Jesturas miltiplas — a leltura ma vida e @ leitara na escola — © que os ‘conceitos de géneros discursivos e suas esferas de circulacao podem nos ajudar a organizar esses textos, eventos ¢ préticas de letramento. 1S nner ens pm jades even: no minima, p00 & enfocar, portanto, 08 usos © pralieas de linquagens (millliples Semioses), para produair, compreender @ responder a efelios de senti do, em diferentes contextos © micias. Trata-se, antao, de qarantir que o ensino desenvelva as diferentes formas de uso das linguagens (verbal, corporal, plastica, musical, grafica etc.) ¢ das linguas {falar em diversas variodades e linguas, ouvir, ler, esctever). Para participar de tais préticas com proficiéncia © conscléncia cidaca, ¢ precise também que 0 alune desenvolva certas competénelas bésicas para o trato com as linguas, as linguagens, as midias © as malliplas préticas letratlas, cle maneira criti ca, ética, democratiea e protagonista, Assim, 9. Como Tespanderfamos &s questées propostas neste capihalo? Retomando-as, nos perguntamos: 0 que significa trabalhr a leitura @ aeserita para @ mundo contempordineo?, ou, como diz Hamilton (2002). camo esbocar politicas de letramento ao longo da vida que Tealments Sustentem e desenvolvamn 05 recursos, processos e metas que existem @ sio requeridos na vida cidada contemporénea? A resposta a essa primeira pergunta reside principalmente na dis- posigaa em trabalhar: ‘© 05 Jeiramentos multissemiéticos, on seja, a leltura e a produgio de ‘textos em diversas linguagens @ semioses (verbal oral e escrita, mu- sical, Imagética [imagens estaticas @ em movimento, nas fotos, no ‘nema, nos videos, na TV], corporal e do movimento [nas dancas, performances, esportes, atividacies de condicionamento fisico], ma- tematica, digital etc), j4 que essas multiplas Inguagens e as capa- cidades de Ieitura ¢ produgia por elas exigidas sao constitutivas dos textos contempordneos. Isso enicaminha, é claro, para a necessidade de um trabalho interdiseiptinar, jé que nao somos formados para en- sind-las todas, Por outro lado, € importante também hoje abordar as diversas midias e suportas em que os textos circulam, jd que ha tempos 0 impresso @ 0 papal deixaram de sera principal fonte dein- formacio e formacao. Assim, impde-se trabalkar com os imjressos, mas também com at midias analégleas (rv, rio, videos, cinema, fotografia) ©, sobretudo, com as digitals, J& que a digitalzagio é 0 ween 19 eee E #08 Jetramentos multicultureisou muitiletramentos, ou seja, abordar os produtos culturais letrados tanto da cultura escolar-e da dominan- te, como das diferentes culturas locais © populares com as quais alu- nos e professores estao envotvidos, assim como abordar criticamen- te 08 produtos da cultura de massa, Essa triangulagéo.que.a escola pode fazer, enquamto agéncia de letramento patrmontal ¢ cosmo- polita, entre as culturas locats, global e valonzada é particularmente impartante — em especial no Brasil — quando reconhecemos a rele- vvancia de se formar um aluna ético @ democratico, critico e isente de preconceltos e disposto a ser “multicultural em sua cultura" ¢ a lidar com as diferencas socioculturais, + Os Jetramentos cvfticos, ou seja, abordar esses textos © produtos das diversas midias ¢ culturas, sempre de maneira critica ecapaz de des volar suas tinalidades, intengies @ ideologias. Nesse sontida, 6 im- portante @ presenga na escola de uma abordagem nao meramente formal ou conteudista dos textos, mas discursiva, localizando a texto em sett espago hist6rico e ideoléqico e desvelancdia seus efeitos de sentido, replicando a ele e-com ele dialogando Como essa multiplicidade tao grande de préticas © textos que po- dem e devem ser objetos de estudo @ critica levanta problemas para a eiganizacae curricular e do espaco-tempo escolar, perguntamo-nos tam- bem: “Como organizer, na escola, a abordagem de tal multiplicidade de praticas? Que eventos de letramento e textos selecionar? De. que esfe- ras? De que midias? De quais culturas? Come abordé-los?”. ‘Vimos que alguns conceites podem ser organizadores da selecdo © Progressdo do ensino desses objetos. Principalmente, 0 concetto de Ie- tramentos muillipios, se operationalizade pelo conceito de esferas de cir culagaa dos textos ¢ de géneres discursivos que nelas vivem. Ou seja, a0 organizar programas de ensino, professor pade considerar que géne- 105 de que esferas (e com que praticas letradas, capacidades de leitura © producao agregadas) devemypodem ser selecionados para abordagem e estudo, organizando uma progressdo curricular. A questao é que, para responder a essa questio, 6 precise ter principios norteadores. Nesta questo, os PCN de ensine fundamental r/lingua portuguesa fornecem algumas pistas quando distinguem necessidades de ensino e QO crsetna nna anes pessibilidades de aprendizagem, revozeande o conceito vygotskiano d= zona proximal de desenvolvimento {ze0). As possibilidades de apren- disagem respondem 4 pergunta sobre quais objets de ensino ¢ aluno pedera aprender, de quais poder se apropriar nese momenta do seu desenvotvimento (zr0), Nao posso querer ensinar a leiture de um edite- iz] complexo se meu aluno ainda nao 1é urna noticia simples. E preciso averiquar seu trato com os objetos de ensina propostos, diagnosticar, para verifiear aquile que é ansinavel No entanto, entre os muitos "ensinaveis”, tenho de escolher alguas E essa escolha poderd ser regida pelo principio des necessidades de en- sino, que respondem & pergunta: para esses alunos, dessa escola, desea comunidade de priticas, visando formar um cidadée com tais caracte- risticas, que géneros e esferas escolhor dentre os ensinaveis? Na depen- déncia dos critérios que escolher (aqui mencionamos protagonismo, cri- ticidade, democracia, ética, multiculturalidade) e da comunidade de pra- teas 4 que a escola © os alunos pertencam, poderemes restringir nosso universo de escollsa dentre os “ensindveis": seré mais importante ensinar agora uma carta de amor? Ou uma earta de leitor? Ou um requerimento? Essas escolhas nunca sie neutras, nem impunes, pois o tempo esco- Jar que tomo com um objeta de ensino nao seré dedicado a outro: cada escolha presentifica um dentre multos outros perdidos, Mas nuda em educagao nunca é neutre e nossa tarefa ¢ justamente a de fazer oscolhas @ encaminhamentos conscientes, wonees] 21

Você também pode gostar