Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HISTÓRICO
O Instituto Homeopático foi criado no dia 10 de dezembro de 1843 pelo médico francês Benoit
Jules Mure, considerado um dos introdutores da homeopatia no Brasil, e por Vicente José Lisboa.
Com fins de propagar a homeopatia em favor das classes pobres, nesse mesmo dia foi aberto o
primeiro consultório homeopático da cidade do Rio de Janeiro, situado na rua São José, nº 59.
Segundo seus estatutos apresentados naquela ocasião (Apud GALHARDO, 1928, p.305-307), o
Instituto tinha por fim "propagar a homeopatia por meio de ensino, publicações, experiências e
prática desta ciência; e pela preparação dos remédios homeopáticos, os mais puros e
homogêneos que seja possível obter" (art.1º). A entidade era constituída por médicos, cirurgiões e
outras pessoas que se mostrassem interessadas em contribuir "com seus serviços, meios
pecuniários e valimento, na conformidade dos regulamentos e por espontaneidade"(art.2º).
Os estatutos estabeleciam ainda que a sociedade se dividia em duas seções: central e filiais
(art.3º). A primeira era sediada na capital do Império e compunha-se de um número ilimitado de
sócios que elegiam um conselho de oito membros e quatro suplentes. Mais tarde, este conselho
elegia, dentre os sócios da instituição, uma diretoria de três médicos ou cirurgiões e um
representante de cada filial, à medida que estas fossem implantadas pelo país. As exigências para
a constituição de uma filial eram as de se localizar fora da Corte, ter de 20 a 50 sócios, que
também escolhiam uma diretoria de três médicos ou cirurgiões ou pessoas hábeis a exercer a
homeopatia, além de sustentar pelo menos um consultório gratuito.
O Instituto realizava duas reuniões gerais por ano nas casas da seção central, sendo uma no dia 2
de julho, com intuito de homenagear Samuel Christian Friedrich Hahnemann (1755-1843) - autor
da obra "Organon da arte de curar" ( Dresden, 1810), expressão do princípio da homeopatia. Além
disso, visava-se o registro dos progressos dessa ciência. A outra reunião, realizada todo dia 10 de
janeiro tinha por fim deliberar sobre os negócios da associação e renovar o conselho.
Benoit Jules Mure (1809-1858) foi considerado um dos introdutores e grande incentivador da
homeopatia no Brasil. Médico formado pela Faculdade de Montpellier, praticou a homeopatia pela
Europa e veio para o Brasil em 1840. No ano seguinte tentou implantar um projeto de colonização
de orientação socialista francesa, no Saí (Santa Catarina), onde chegou a organizar a Escola
Suplementar de Medicina e Instituto Homeopático de Saí (1842). Fracassado seu projeto, em 1843
transferiu-se para o Rio de Janeiro, uf ndando aí o Instituto Homeopático do Brasil, do qual foi
presidente até 1848, quando regressou à Europa.
Mure e seus seguidores eram defensores da teoria do médico alemão Samuel Christian Friedrich
Hahnemann (1755-1843), cuja obra "Organon da arte de curar"(Dresden, 1810) deu origem ao
princípio da homeopatia. Esta obra propunha um método terapêutico baseado na "lei dos
similares", nos quais "semelhantes curam-se pelos semelhantes", opondo-se aos princípios da
Inicialmente, a sociedade contou com 72 sócios fundadores, incluindo entre eles membros da
Academia Imperial de Medicina como José Pereira Rego (Barão de Lavradio), e José Maria de
Noronha Feital. No entanto, como representantes dessa última associação, esses dois mais tarde
foram um dos que combateram com veemência a doutrina homeopata. Mesmo antes de surgirem
as primeiras instituições de homeopatia no Brasil, já se tinha notícia desde 1818 da publicação de
artigos de Antônio Ferreira França, professor da então Academia Médico-Cirúrgica da Bahia,
contra a terapêutica homeopática. Quanto a homeopatas estrangeiros que se estabeleceram no
Brasil, antes da chegada de Benoit Jules Mure, são conhecidos Frederico Emilio Jahn, que, em
1836, apresentou à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro tese intitulada "Exposição da
doutrina homeopática"; Thomaz Cochrane, médico escocês formado pela Universidade de
Londres, que chegou ao Rio de Janeiro em 1829; e o francês Emílio Germon, autor do Manual
Homeopático, editado em 1843.
O Instituto, através de João Vicente Martins, exerceu influência fundamental junto a membros da
Igreja Católica para a fundação, no Brasil, da Irmandade de São Vicente de Paulo, uma das
primeiras congregações de caridade instituídas na França. Em 1848, a instituição pedia auxílio à
população pelos jornais, com o objetivo de darem o "exemplo vivo da caridade cristã" pelo socorro
aos doentes pobres, órfãos ou velhos abandonados. Em julho de 1849, foi instalada a primeira
Irmandade de São Vicente no Brasil, mandando vir da França irmãs de caridade.
Entre novembro de 1848 e março de 1849, João Vicente Martins escreveu artigos nos jornais
alertando a população para o perigo de uma epidemia de cólera, quando chegou a oferecer
medicamentos homeopáticos ao Imperador Pedro II, para tratamento da doença na Santa Casa da
Misericórdia do Rio de Janeiro.
Por ocasião da epidemia de febre amarela que afetou várias cidades do Brasil em 1850, o Instituto
atuou no Rio de Janeiro, oferecendo tratamento gratuito aos pobres recolhidos na enfermaria de
São Vicente de Paulo, fundada e mantida pela Sociedade Portuguesa de Beneficência, e no seu
consultório central.
Além disso, o seu primeiro secretário João Vicente Martins dirigiu-se à Câmara dos Deputados em
fevereiro de 1850, oferecendo medicamentos homeopáticos para tratamento da febre e propondo
que fossem criados hospitais onde estes pudessem ser ministrados, deixando a cargo do doente a
escolha pelo tratamento alopático ou homeopático. No mês seguinte, não tendo obtido resposta,
encaminhou novo oferecimento, sendo então ameaçado de deportação por sua insistência e crítica
ao tratamento utilizado pela medicina alopática.
Diretorias:
A primeira diretoria do Instituto Homeopático do Brasil ficou constituída por Benoit Jules Mure,
também conhecido como Bento Mure (presidente); Vicente José Lisboa (1º secretário) e Domingos
de Azevedo Coutinho Duque-Estrada (2º secretário).
Em 10 de janeiro de 1846, foram eleitos membros da diretoria do Instituto: Pedro de Araújo Lima
(Marquês de Olinda), Bernardo José da Gama (Visconde de Goiana), o Conselheiro Candido José
de Araújo Vianna, Manoel Duarte Moreira, e para secretários João Vicente Martins e Francisco
Alves de Moura, mantendo-se Benoit Jules Mure na presidência da instituição.
Devido à decisão de Benoit Jules Mure de não voltar mais ao Brasil, em reunião de 26 de outubro
de 1851 o Instituto Homeopático do Brasil manteve seu título de "presidente perpétuo fundador" e
elegeu Alexandre José de Mello Moraes, escritor, jornalista e médico homeopata da Bahia,
presidente perpétuo efetivo.
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO
Na reunião anual do Instituto, em julho de 1844, João Vicente Martins, um de seus membros,
apresentou o plano de uma Academia de Medicina Homeopática e Cirurgia. Redigidos seus
estatutos e aprovados em 12 de janeiro de 1845, foi instalada então com a denominação de Escola
Homeopática do Brasil na rua São José, nº 59, sob a direção de Benoit Jules Mure.
Em 1847, surgiu uma dissidência entre os homeopatas que admitiam certos princípios e práticas
da alopatia, e que por isso julgavam primordiais os diplomas de médico ou de farmacêutico
conferidos pelas instituições de ensino oficiais alopatas, para o exercício da medicina e farmácia
homeopáticas. Denominados "evolucionistas", opunham -se aos chamados "puristas", reunidos em
torno de Benoit Jules Mure e do Instituto, que defendiam a liberdade de profissão, entendendo que
a homeopatia podia ser praticada por quem desejasse, após receber noções na Escola
Homeopática do Brasil (1845), ou por meio de livros para os que residissem fora da capital do
Império. Estes consideravam que a alopatia, diversa da homeopatia, não podia habilitar ninguém a
exercer a doutrina de Hahnemann.
No dia 7 de outubro de 1847, a diretoria do Instituto apoiou e apresentou novos estatutos, por ela
redigidos, para a Sociedade Hahnemanniana, entidade científica criada em 29 de junho de 1846.
No mês seguinte à sua criação, fez circular a revista O Hahnemannista, um novo órgão em defesa
da doutrina homeopática.
Segundo os novos estatutos, a Sociedade tinha por fim "o exame e o aperfeiçoamento teórico e
prático da homeopatia", e era constituída por todos os alunos e professores aprovados pela Escola
Homeopática do Brasil, além de membros do Instituto que tivessem contribuído para a propagação
e desenvolvimento da ciência. Suas sessões eram realizadas nas salas da própria Escola.
Na reunião do Instituto, no dia 9 de março de 1847, foi apresentada uma proposta de reforma dos
seus estatutos, por Luís Antônio Vieira, sugerindo que o seu conselho e diretoria passassem a ser
perpétuos; aumento do número de conselheiros até 30; e criação dos cargos de vice-presidente e
de terceiro secretário, que exerceria a função de arquivista e substituiria os outros, quando
necessário. Nesta ocasião, foram eleitos para vice-presidente Manoel Duarte Moreira e para
terceiro secretário Francisco Manoel Soares de Souza.
Foram eleitos para presidente José Bernardino Pereira de Figueiredo, para primeiro secretário
Antônio Antunes Guimarães Filho, para segundo secretário Patrício Adriano Pereira Mendes e para
tesoureiro Carlos Chidloé.
Também em outubro de 1847, o primeiro secretário João Vicente Martins fundou a Sociedade
Homeopática Baiana, como filial do Instituto, sediada no primeiro consultório homeopático gratuito,
instalado em Salvador desde maio do mesmo ano, na rua da Gameleira, nº 10. Segundo a ata de
instalação da Sociedade, seus membros seriam integrados ao Instituto como sócios efetivos; o
presidente e secretários seriam escolhidos e nomeados pela diretoria da seção central. João
Vicente Martins, então primeiro secretário do Instituto, nomeou Antônio Pereira de Mesquita,
homeopata da cidade, para presidente e autonomeou -se secretário enquanto estivesse residindo
em Salvador.
A partir de abril de 1848, com a partida de Benoit Jules Mure para a Europa, a presidência do
Instituto ficou a cargo do vice-presidente Manoel Duarte Moreira, que acumulou esta função com a
de diretor da Escola.
No dia 11 de março de 1849, Carlos Chidloé, professor formado pela Escola Homeopática do
Brasil, e o homeopata baiano Sabino Olegário Ludgero Pinho instalaram em São Luís (Maranhão)
a Sociedade Homeopática Maranhense, como mais uma filial do Instituto. Tendo Chidloé
conseguido uma das salas da Santa Casa da Misericórdia local para funcionamento de um
consultório gratuito para os pobres, a Sociedade foi fundada dentro das mesmas bases que a
Sociedade Baiana. Foram nomeados para presidente José Maria Barreto, vice-presidente Antonio
do Rego, primeiro secretário Carlos Chidloé, e segundo secretário e orador, João da Cruz Santos.
PUBLICAÇÕES
O Almanak Laemmert de 1850 anunciou as obras sobre homeopatia que eram vendidas na Botica
Central Homeopática, pertencente ao Instituto:
pelo dr. Sabino Olegário Ludgero Pinho; "Doctrine de l’École de Rio de Janeiro et pathogénésie
brèsilienne", por dr. Mure, A. Paris, 1849.
FONTES
FICHA TÉCNICA