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Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Cachoeira, 07 de setembro de 2018


André Felipe Malta Santos

ATIVIDADE DE ANÁLISE FÍLMICA

1. Reflexões Preliminares:

- Análise de filmes e história das formas cinematográficas

A análise de um filme passa pela prática de situá-lo num contexto ou história, isto é, muitos
diretores e roteiristas trabalham em seus filmes referências a movimentos, correntes, tendências e
escolas estéticas, através de citações, pastiches ou paródias, para ratificar a ideia de que um filme
nunca está só, mas sim, está constantemente vinculado a alguma tradição.

- O cinema dos primeiros tempos e a não-conformidade

Os filmes do primeiro tempo se destacavam pela não continuidade (1990-1908), onde, segundo
Noel Burch, três elementos se destacavam: a não homogeneidade, que representava uma espécie de
“não unidade”, onde elementos e formas cinematográficas como quadros, legendas e o desempenho
dos atores apareçam em tela de uma maneira “não orgânica” e com falsas continuidades; não
rematamento, onde as cópias do filme eram vendidas e não alugadas, processo este que permitia aos
compradores mudarem a estrutura do produto como entendessem, desencadeando desta forma em
uma situação em que a mesma obra tinha versões distintas; e a não linearidade; onde se
intensificava a ideia de falsa continuidade, destacando-se os encavalamentos temporais de uma cena
a outra, de um plano a outro. Tais características de descontinuidade imperavam devido à existência
de referências como o music-hall, vadeville, HQ’s, entre outros espetáculos variados.

- Instalação da continuidade narrativas

D. W. Griffith é considerado um expoente no que se refere a forma narrativa de e fazer cinema, pois
em conjunto com o surgimento das produções ofertadas pelos estúdios hollywoodianos, subverteu o
que vinha sendo apresentado pelo cinema dos primeiros tempos apresentando enfim continuidade
narrativas com base em princípios como: a homogeneização do significante visual e depois do
significante audiovisual, com o incremento do som, fazendo com que dessa forma as produções
cinematográficas ganhassem um aspecto de maior unidade; e também a linearização, que destaca o
potencial de todas as funções técnicas que formam o filme, seja imagem, som, montagem, para
apontar uma transparência e deslocar quem assiste de um lugar onde se era um leitor de planos, para
tocar em seu imaginário e torná-lo um espectador, vivenciando a experiência em tela de forma
linear., através de raccords, a montagem alternada, ou o insert, sendo estes dois últimos, ambos
orquestrados por Griffith.

- A narração fílmica “clássicas”

Com claras influências literárias, a mídia cinematográfica enveredou-se pelo viés narrativo clássico
destacando o uso da câmera no que se refere ao ponto de vista. As técnicas cinematográficas serão
portanto subordinadas à clareza, homogeneidade, linearidade, à coerência da narrativa e seu
impacto dramático. O encadeamento de cenas e das sequências se desenvolve de acordo com uma
dinâmica de causas e efeitos clara e progressiva. A narrativa costuma-se a se concentrar em um
protagonista ou num casal, que com o desenvolvimento do filme, oferta ao espectador respostas às
questões levantadas. A instauração dos grandes gêneros também proporcionaram uma
homogeneização de narrativas cinematográficas, devido aos elementos e características que
carregam. Para além disso, o termo transparência passa a ser utilizado como sinônimo de uma
narrativa fluida, sem maiores “choques” ou sem mostrar o dispositivo cinematográfico. O que não
exclui o fato de que por mais transparentes que fossem considerados os filmes da narrativa clássica,
existiram filmes que fugiam deste senso comum, tornando-se mais complexos, sofisticados, a frente
de seu tempo.

- Algumas tendências rebeldes ao classicismo

Com o cinema americano tornando-se popular e praticamente postulando uma hegemonia ao redor
do mundo, surgem movimentos que atuam como um contraponto ao modelo clássico norte-
americano, representando de forma clara uma ação de resistência. Dentre tais movimentos e estilos
podem-se citar: O cinema soviético dos anos 20, que afastava-se do cinema americano por usar o
cinema como uma ferramenta de ensino e propaganda, destacando-se a função de “tornar patético”
ao amplificar os acontecimentos e os conflitos através de ferramentas estilísticas sobretudo da
fotografia, assim como também, a função de argumentação, através da montagem que distanciava-
se da transparência regrada pelo modelo linear clássico; a primeira vanguarda: o impressionismo
francês, que buscava se distanciar da narrativa clássica dominante, sustentando um cinema livre de
contar histórias e voltado a uma arte que se sustentasse apenas com suas riquezas formais; a
segunda vanguarda: o dadaísmo e o surrealismo, influenciados pelas pesquisas plásticas feitas por
pintores, eram subversivos e transgressores no modo em como narravam, se afastando em muito do
cinema clássico, o dadaísmo provocava com imagens de impacto e uma montagem acelerada,
enquanto os surrealistas capitaneados em sua época por Buñuel e Dali, apresentavam uma narração
que rechaçava a narrativa clássica através do cultivo de rupturas, o onirismo, as imagens mentais, as
visões provocantes, a confusão entre objetividade e subjetividade; o expressionismo alemão,
marcado como um grande movimento estético que cruzava diversos tipos de mídias artísticas se
opondo ao realismo e a verossimilhança, em que no cinema apresentava-se em visões, alucinações,
criando um universo através do exagero das formas em que se destacava o jogo de luz e sombras, o
caligarismo, cidades labirínticas, espaço teatralizado, criaturas estranhas, festas populares maléficas,
onde a maquiagem, o figurino e a performance dos atores incrementavam este universo fictício,
alucinado e inquietante. Todos estes movimentos, apesar de terem chegado ao fim dentro de certo
prazo de validade, misturaram-se ao cinema clássico e influenciaram todo o cinema que veio a
seguir.

- Os cinemas da modernidade

A modernidade cinematográfica encontra suas raízes na Europa pós guerra através do neorrealismo
italiano, movimento marcante por apontar o mundo contemporâneo em sua verdade. Depois desta
fase, a concepção do diretor como autor passa a surgir ainda mais forte, sobretudo com a nouvelle
vague. A influência da literatura e do teatro também é forte. Cineastas se tornam mais
independentes, os orçamentos se tornam menores e as filmagens mais livres e flexíveis. Comparado
ao modelo clássico, o filme moderno apresenta narrativas mais frouxas, finais abertos, menos
dramatizadas, com lacunas abertas, refletindo muitas vezes os elementos de uma “minitrama”. Os
personagens têm menos nitidez e apresentam crises de casal ou psicológicas. Procedimentos visuais
ou sonoros confundem as fronteiras entre subjetividade e objetividade, mistura-se o gênero do
documentário e da ficção e manipula-se o tempo do filme passando confusão ao espectador. Além
disso, existe a presença forte do autor inserindo sua identidade narrativa e estilística, apresentando
também, a capacidade de falar de si mesmo enquanto autor de cinema e do próprio cinema em sua
práxis. Todo este processo objetiva sensibilizar o analista para a necessidade de situar o filme na
evolução das formas, isto é, saber reconhecer formas de linguagem, alusões e referências em um
filme, através de obras anteriores que fundaram tais formas, ainda que em outros contextos, com
outros significados.

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