Você está na página 1de 22

a) Alimentos de origem e inspiração creme (assim chamado) feito do

indígena que são consumidas com sumo


farinha de mandioca: do mandioca exposta ao s·ol (isto
1 . ABUNÃ (prato). Mexido de ovos de se chama arumé), engrossado com a
tartaruga, tracajá ou muçuã com fécula e temperado com tucupi.
farinha d´água e açúcar para ficar Resulto
bem amarelinho sem ir ao fogo ou d·epois d•.; pronto uma posto
cozinhar. Comida da estação seca e cremosa, espêsso, não endurecido,
geralmente do época das variações. maleável, que pode ser conservada
Muito indigesta. em garrafa fechada paro uso imediat
2. AÇAI (vinho) com farinha seca, ·o. Come-se com peixe, bem
(almoço, sobremesa ou merenda). temperado
Bebida de grande consumo na com pilll'ento.
Amazônia, entre a população pobre, 8. BACABA (vinho) com farinha
com casas especiais para a venda, sêca ( almôço, sobremesa ou
assinalados por bandeiras vermelhas. merenda}.
e imprescindível o farinha. Ê indispensável a farinha sêca
3. AGUA-FRESCA (beberagem) • Fa· na bebida. O mesmo comportamento
rinha de tapioca 1.; água fervida, ou para com o aça1, porém a bacabo
mesmo água fria. Dessa beberagem é menos preferido.
dá n·otícias u dr. Alexandre 9. BEIJU. Espécie de bôlo chato,
Rodrigues com a forma mais comum de disco,
Ferreira 46. 56
4. ANGU. Vd. PIRAU (pirão). variando para meia-lua, losangular.
5. ALUA (bebida fermentada, não E depois da farinha o alimento mais
temulenta). Apesar de di.;cantado pelos cronistas de tôdos
costumeirom1.; as épocas, que todavia nem sempre
nt·e fazer-se aluá de milho e de distinguiram as castos. Não só no
abacaxi, tratamos aqui da bebida Brasil, mos em muitas regiões da
feita de farinha de mandioca ou da América
macaxeira, posta de môlha nágua pré-colombiana era êle conhecido.
para E confecctonado com a mossa do
fermentar durante uns sete dias, mondioca-puba e que foi ralado. Das
quando se adoço com açúcar vários costas e formos conhecidas e
mascava referidas 48 damos o relação e o
ou caldo de cana e erva-doce rec.>
47. Claro é que êstes últimos ingredl zita, e em apêndice duas fotos:
·~ntes são de recurso moderno, a} curucáua, chato, grande, feito
pois o indígena odoçáva-o com mel de tipioca granulada, a que se
silvestre. Parece haver uma adiciona
referência castanho de caj1.1 rolada ou tocar1;
obscura o essa bebido no podre b) beijua~u ou catimpuêra (vide
Fernão bebida
Cordim, quando d.iz que faziam do mesmo nome) é o maj.or e
os índios um vinho fresco e medicinal em forma discóide (vide foto em
do aipim. Vd. nossa noto 24. apêndice) e mais bem tratado no
6. ARABU (prato). Idêntico ao iapuna. Até o permitem tostar um
abunã, preferindo-si.; os ovos d·e pouco e depois mofar, pois é dêle
tartaruga. que se preparam as estimulantes
7. ARUB~ (conduto). Espécie de bebidas
r·eservados às funçanotos: nome ao ritual;
cauim, caxiri, etc. Não é muito i) teíca, feito da massa da tapioca;
cuidado, j) oa·rimã, feito com a farinha do
por isso mesmo, e fazizm-no até mesmo nome;
de farinha grosseira; 1) maropatá, idêntico n·o processo
e) puqueca é um tipo especial de da fabricação do farinha de mandioca,
beiju, com sal e pimenta, envolvido sõment·e que é l•avodo a assar
a massa em fôlhos de pacovo- sôbre cinza quente, protegido por fô·
sororoca lhas de pacova-sororoca
(bananeira). Só então é leva· ( bananeira);
d·o ao iapuno; m 1 enrodilhado, tipo comum, ape·
d) curuba, quase semelhante ao nas que enrolado invés de dobrado
curucáua, porém menos empolado, em dois;
misturada a massa com castanha de n) cobá, variedade de beiju abonado
caju quebrada ou tocari; por A. J. de Sampaio sem mais
e) cica, o menor e o mais delicado d>talhes 49.
entre a casta dos beijus, apresenton· o) ca-mbraia, casta de beiju alvíssimo
do a forma losangular ou semilunar. e tenro, quase transparente, fô·
A tipioca de que é feito é pisada fo como pastel, bem caprichado, feito
depois com a massa da tipioca e torrado
de rolada a mandioca (que não levemente;
é puba 1 e p.=neirada. Até no torrar 10. BURílTI (vinho) com farinha sê·
se exigem cuidados especiais paro co (sobremesa ou rnarenda). Uma
que não toste. Dêste conhecemos das bebidas mais requeridas, pelo
ainda duas subvariedades: uma fei· grande teor vitamin·oso da fruta. Não
fa de farinha amarela e a outra, é obrigatório acompanhar o vinho
mais tenra , solúvel na bôco, de com a farinha.
massa 1 1 . CAIÇUMA 50 (bebida
alvíssima e porosa. Esta é fermentada,
conhoacida temulenta). Despojada a raiz
em certas regiões ( Lages) por d\l macaxeira da casca, é cozinhada
«orelha de macaco:., em razão da em cornetins de barro, depois
sua forma hemicircular e chata. amassada
Ammas ou socada com tocori. Preparada
são fôfas como pastéis e levíssimos. a massa, vai para as grandes iga·
A estas castas de beijus po· çáuos com água, onde fermenta por
de-se adicionar leite de tocari; tempo 11unca inferior a uma semana,
f) membeca é um beiju mole em quando então é temperada com
forma de disco, sem ser torrado. gangibre
Vai ao iapuna apenas para que a e sumo de cana. Fica de conserva
massa aglutine bem; por mais dois ou três dias e
g) tinin ou branco, preparado pelos está pronta para ser bebida. E
mesmos processos, sob a condi· utilizada
ção especial de nã·o ir ao iapuna, nas grand-es festas indígenas.
mas ao sol poro secar e endurecer; 12. CAIOE (vinho), com farinha
h) cariamã, segundo Ermano Strodalli sêca. Muito alimentício, pode servir
1 Vocabutário, 402) é uma «casta de queima-bôca ( desjejum J, almôço
de beiju com que se prepara o ou merenda. Torna-se necessária o
caxiri para a festa da puberdade das presença da farinha sêca.
môças» 1 môça nova), e que dá o 1 3. CARi BE (beberagem). Feita d..,
beiju dissolvido nágua. E mais um ali· o auxílio dela, como vimos antes, os
mento mágico, ligado ao ritual da nossos andrófagos avós
puberdade. Os meninos iniciados aos s>zdimentaram
oito a dez anos são levados para as o valor moqueando carnes nutridas
caatingas do alto rio Negro, e ali o de portuguêses, franceses,
alimento único, por espaço de dez espanhóis
dias, é o caribé. Pode-se também e inglêses52. ·E feita de beiju
fazê- apropriado, daquele famoso beijuaçu
lo diretamenl·~ da mandioca puba, deixado de môlho nos granc:Ms
torrada segundo os preceitos, mas camotins e igaçáuas perclusos,
d·epois tem que ser amassado com durante
as dias seguidos; ou de mandioca
mãos e dissolvida nágua, ficando rala cortada em discos, segundo a mais
ou espêssa, conforme a exigência. antiga receita fornecido pelos sédulos
Rec·omenda-se fazê-la no verão. Um cronistas. De um modo geral se
dos mais notáveis médicos do chama assim a outros b-ebidas
Amazonas, queimani•
dr. Hermenegildo da Campos, zs e embriagantes.
recomendo essa bebida como 17. CAXIRI (bebida fermentada,
bastan· temulenta). Faz-se do beijuaçu
te nutriente. O dr. Alexandr·e Rodri· dissolvido
gues Ferreira diz que os índios a em água fria, deixado fermentar
chamavam por uma semana. Há uma festa
tiquara. indígena dêsse nome, sem qualq!
14. CATIMPUÊRA (beberagem. Feita J'er cunho religioso • pelo menos
de macaxiaira cozida, amassada e atualm•.znte, onde se bebe ô larga o
peneirada, com água e mel de abelha. caxiri. Faz-se geralmente paro os
Ou com o beiju do mesmo nome putiruns
dissolvid·o nágua. de plantação da mandioca,
15. CAUl-ÇAI (vinho azêdo, desmancha do roçado, etc.
fermentaclo 18. CHIBE (beberagem, queima·
e temulento l. Bebida em· bôca, olmôço). Cimé ou cimbé ou
briagant~ feita de mandioca doce xibé,
( macaxeira) ou batata ( cará), cozi- é alimento de circunstância,
57 preparado
da duas vêzes, mastigada simplesmente com farinha de
ferm·entar com o auxílio mandioca e água fresca, a que ho~
Referida por von Martius se adiciona açúcar invés de mel de
323, nota 19). abelha. Esse alimento, comum na
e posta a Amazônia, principalmente como
do saliva. desjejum
(Viagem, ( qLJ1zima-bôca), não vem referido
16. CAUIM (bebida fern>•ntada, no cronicon, mas parece-me haver
temulenta) 51. É a bebida clássica do surpreendido uma claro insinuação
indígena brasileiro, de referência a êle em Gabriel Soares de Sousa
obrigatória ( Op. cit., 193). Quando bem api-
e extensa bibliografia. Apar 58
·ece citada em todos os cronistas e mentando, o chibé é denominado
viajantes, inclusive com gravuras. cação.
Com Vd. também tacu.ba e tiqucra.
19. CHICHA (bebida ferm••ntada, a porte residual f cure·ra) da farinha
temulenta), de macaxeira. dágua ao induá (pilão) onde é bem
Descascase pisada, reduzida a pó; e esprimida
a macaxeira e deita-se nágua, indo depois a massa, repetindo-se a
oo fogo até amolecer bem. Mastiga- operação
se uma outra porção 53 e amassa- tantas vêzes quanto necessárias
se com as mãos outro bocado, depois para que a massa se torne alva
junta-se tudo, coa-se •a põe-se e fina. Após o que, se passa em uru·
ao fogo. Após cozida novamente em f:'.!ma de retículos miúdos; vai ao
água, esfria-se e deixo-se fermentar iapuna
durante quatro dias, findo os quoi5 ( fôrno), mas não é t·orrada,
pode ser ing·erida. conservando a forma impalpável.
20. CUDIÁRI (prato). Cozido de Posta ao sol para secar de todo, deve
peixe esm.igalhado com tipioca ser revolvida vez em quando para
(pimenta) desfazer os bolos. Com essa mosso,
•a goma de tapioca. E alimento muito decantada pelos cr·onistas,
que se dó aos iniciados, entre os fazem-
indios lurupixunas do oito rio Negro se bolos envoividos em fôlhas de
e também entre os Uaupés. pacova·sororoca { banan·~ira), que
21. CURADÁ (prato). Feito com são apregoados nas ruas ou
tapioca vendidos
misturada com um pouco de em feiras ·e mercados. Pela sua
b·eiju dissolvido. leveza
22. FARINHA dágua amarela ( con· e fácil digestão é empregada em
dutoJ. E a melhor farinha indicada caldinhos paro gestantes,
para conduto de certos pratos convalescentes
especiais em geral, crianças novos. Entra
como cozido de tartaruga, de também na confecção da própria fa·
trocajá, i:piaito» e «casco» de rinha sêca e de outras massas. As
tartaruga, broas e roscas feitas dessa farinha
enchiment·o de oves, farofa são excelentes.
composta, etc. Após o amolecimento 24. FARINHA DE GUERRA ( uiuari·
da mandioca por tempo que varia niçáua) (conduto e prato auxiliar).
entre três o quatro dias conforme a • Essa é a famosa farinha a que alu·
água siaja respectivamente parada dem os cronistas freqüentemente e
ou que tanto s•~rvia ·às guarnições de
corrente, o casca se torna mais fá· navios
cil de remover. O processo seguinte portuguêses e franceses como a
para se obter êsse tipo de farinha é soldados e índios, bandeirantes e es·
o mesmo: depois de bem ralado e cravos. Foi a principal e necessária
escorrido fonte alimentícia a que se recorria em
o tucupi, passa-se na urupema tempos ruins ou entrzveros. O nom·e
~ então vai ao iopuRa para torrar. que recebeu dos selvagens se
O local onde se deposita a raiz explica
de môlho pode variar: ou uma ubá porque usavam dela nas suas
(casco monóxilo) ou buracos abertos incursões
à beira dágua. predatórias e punitivas, e dependiam
23. FARINHA de carimã ( alimenkl dela por t·empo ind•zterminado,
auxiliar). Pelo processo já conhecido pois não se estragava, apesar de não
de fazer-se a farinha comum, levo-se exigir especial tratamento.
O processo de fazer-se é o mesmo de pedra), já quente para recebê-la. De·
sempre, porém a fécula aglutino ve ser mexida continuamente, como
muito, tôda farinha, com pós apropriadas
formando pequenos bolos. Nem ( turuiua) ou cabaças (cu ias). Essa
todos os cronistas 1zxplicam como farinha é considerada d·e baixa
·era extração
transportada ou co-nservada, mas pilo teor de <<caroços>> ( grâ ..
nós nulos} porque além de conter fibras
sabemos que geralmente era lenhosa' s, não é bem tratada na fase
envolvida da torração.
em fôlhas e enterrada em lugar 27. FARINHA sêca branco (conduto).
seguro, provàvelmente no acampa· Pelo mesmo processo, lavando-se
menta ou mesmo na maloca. Quando várias vêzes a tipioca, obtém-se a
se fazia n·ec~ssáría dissolvia-se unia mesma farinha clarificada. Durante
parte em água. O espiritu·oso Ambró· êsse procedimento não se deve lavar
sio Fernandes Brandão (o Brandônio) demasiado a farinha, do contrário
cios diálogos 54, por via de «iuem 59
sabemos ela perde o melhor do seu que
muitas coisas referentes ao tapioca, ficando rala e portando
passado brasileiro, diz dela que «po· n·or teor de calorias.
ra ser boa lhe hão d·~ lançar tapio· e' a
cu, quanto mais lh·e lançam, tanto me-
melhor dá a farinha, das quais é feita 28, FARINHA surui (conduto), Depois
por êste modo se chama farinha de resolvida a ralação da mandioca
de guerra>>, etc. Veja-se MIAPE. não puba ( púia), a massa vai
( bôlo ao induá (pilão) para ser macerada,
de guerra). r·eduzidos os grãos a pó finissimo e
25. FARINHA de macaxeira {con· passado na urupema de rolo miúdo.
duto l. Rec.·~be o mesmo tratamento Só é utilizada essa farinha no
que as congêneres na fabricação, aplicação
variando d•z caldinhos para enfermos,
apenas no capítulo tucupi, que alimentos leves, enchimento de aves,
a macaxeira não possui. E branca e farofa, por ser muito fina e propensa
bem torrada. a aderir à garganta. A torração é
26. FARINHA sêca escura (mane~ muito leve.
ma}, de mandioca (conduto). Depois 29, FARINHA de tapioca 55 (conduto).
de raspada a casca da mandioca, la· O processo de fabricação é
vada e ralada •zm ralos rústicos { iu~ idêntico ao da farinha branca, porém
quicé) ou na roda ( caitetu) a a mandioca é lavada várias vêzes
maniquera e deixada granular propositadamente
(raiz), escorre-se a t1p1oca, n·o iapuna pouco aquecido.
prensando-se no tipiti, urupema ou Obtém-se uma farinha de
prensa de madeira, a fim de perder <<caroços>>
o suco amar·elo chamado tucupi ( Vd. grandes, brancos, que é utilizada
decalques em apêndice). Uma vez para
sê· doces.
ca, a massa é deixada azedar e 30. FOLHA tenra de mandioca
espalhada (condimento). Pisada, temperada
na bacia do iapuna1 {fôrno) com
ou alguidar do itacuruca (sapo de
sal e pimenta, é usada p·elas outro qualquer ingrediente, assa-se
populações inteira na brasa e come-se sem
do interior nos guisados. Aproveita- deixar
se também o grêlo da mandioca esfriar muito. Tem gôsto de castanha
•a da macaxeira. européia ossada, como diziam
31 , GOMA (conduto), Repete-se os cronistas das fndias.
o mesmo tratamento dado às farinhas, 36, MACAXEIRA cozida (prato).
com a condição de não ir ao Corta-se a macoxeira ·~m pedaços,
iapuna (fôrno) em hipótese alguma, descasca-se e cozinha-se nágua e
curando-s·e a massa ao calor do sol, sal.
bem espalhada em tendais de zinco Come-se fria.
ou de fôlha de pacova-sororoca 37. MA·ÇOCA {massa alimentícia).
( banar.•= E extraída das aparas da mandioca
ira). Pela sua consistência e leveza { curera) que ficam na urupema
é utilizada na confecção de biscoitos, quando
bombons; constitui parte essencial se peneira a massa integral. Tritura-
do tacacá, para tanto· devendo se e pen•zira-se até se conseguir
ser conservada sempre fresca em um subproduto farináceo finíssimo.
água mudada di·àriamenflz. Para o Serve paro mingaus de crianças,
tacacá papinhas
é cozida, ficando gelatinosa. para convalescentes, gestantes.
Neste ponto, com temperos, é Registado pelo dr. Alfredo da
também Mata { C1ontribui~ã·o aio Estudo d·o·
chamada goma, grude, angu de ta- Vocabulário
p1' oca. A·mazo1nense, 219).
60 38. MANDIOCÁUA (prato), Mingou
32, GRUDE (prato), E feito da farinha diz arroz feito com o suco doce
de tapioca na forma usual de da macaxeira.
goma, deixando-se aferventar com 39. MANIÇAUA ou maniçoba ( prato
um nadinha de sal e algumas fôlhas J. Guisado de fôl has novas e gre·
comestíveis de agrião ( jambu). Pode los da mandioca, pisados no induá
ser comido assim m•asmo ou então (pilão) e temperado à vontade.
com tucupi e implementes outros. Antigamente,
( Receita entre os pov,os indígenas,
de dona Leoniza Santos, Manaus, adicionava-se peixe moído ou carne
1962), de tartaruga; hoje mistura-se com
33, GUARIBA (bebida fermentada, carne
temulenta). Feita à base de mandioca de gado, toucinho, língua, tripa,
amarga , fermentando vários dias. livro e fiambre. Dessa comida disse o
Referida sábio brasileiro dr. Alexandre
também pelo naturalista Ale· Rodrigues
xandre Rodrigues Ferreira {Op. cit., Ferreira { Op. cit ., LI: 89) :
115) sem mais detalhes . <<Maniçoba
34, JARAQUI (bebida fermentada 1, no Rio Negro é uma comida,
Feita com o sum·o da mandioca, diz que se foz das fôlhas da maniba,
A. J. Sampaio (Op. cit. 268) sem pisadas
maiores explicações. e cozidas iuntamente com a
35, MACAXEIRA assada 1 prato), carne, ou com o peix1.:, ou com a
Sem remover-se a casco ·~ sem sal tartaruga,
ou também temperados com o
sal e com a pimenta>>. E o viaiante fotografia, tem-se achado muitos,
Bernardo da Costa ·e Silva ( Op. cit ., inteiros
113) diz que é <<composto de carne e conservados ou em fragmenmentos
ou peixe, envolto em fôlhas, como endurecidos, ·~m locais ,onde
guisado>>. se presume tivessem existido
40. MANIUARA (prato). Comida aldeamentos
feita à base do abdome da formiga indígenas ou miracãueras
içá ou tanaiura fêm·~a (Atta sexdena) (cemitérios),
e tucupi, com farinha sêca. Tudo pois eram também colocados
torrado em frigideira à moda de ao lado do defunto. Dissolvido
farofa. O pov·o chama para o abdome nágua podia ser utilizado como
da formiga <<bunda de tanajura>>. farinha.
Ê um prato clássico, ref·erido no Os que temos visto têm aparên·
passado eia estranha: !l~ssequidos,
por alguns viajantes e ainda hoje encoscorados,
conhecido entre as populações de coloração exterior amarelo~
indígenas. pardo.
41 MANIQUERA (beberagem J. Cal· Só encontramos nas pesquisas
do da mandioca já fervido mas sem referentes
~i~r engrossado. Não porta princípio ao suposto pão de guerra uma
tóxic·o, porque a mandioca que o que se adapta perfeitamente ao que
produz conheo~mos sôbre o assunto,
é a mandiocáua, variedade que embora
se come assada. A maniquêra é dêle falem os cronistas: <<Para o
fervida sustento,
com grãos de arroz e de milho, canudos ou cabaças de sal e
a que se pode acrescentar pedaços pães de farinha de gu1erra>> /
de macaxeira. A beberag1.=m é doce <<Cozem-
e agradável ao paladar indígena ou na, de forma a tornar-se compac·
caboclo. ta, e envolvem·na em fôlhas>>.56
42. MANZAPE (doçaria). Bôlo de Também temos conhecimento de
milho ou de farinha de mandioca. qu1.=
Referência ditos pães são assados n·o biari·bó
de A. J. Sampaio (Op. cit. (buraco cavado no chão; sôbre o que
281 1 . se pretende assar põe-se terra e
43. MIAPÉ (pão de guerra). É um fazse
pão de regular tamanho, mais ou o fogo em cima).
menos arredondado, fabricado da 44. MIMOI (prato). Guisado de ma·
massa da mandioca misturada com coxeira com fôlhas tenras 1~ grelos
massa de milho. Vai ao iapuna (forno), da
aglutina muito e se faz dela o mesma ou de couve.
pã·o ou bôlo de conserva chamado 45. MINGAU PITINGA ( mingau bran·
pão de guerra. Envolvido em fôlhas co, prato). Em Pernambuco se chama
e entaniçado, é enterrado, assim ao mingou feito com a
guardando- mandioca-
se de 1 1 ~serva para os dias ruin1. puba.
Dêsses pães, de que damos em 46. MOCORORÓ (bebida
apêndice fermentada).
dois decalques do natural e uma Ê feita de arroz ou de mandioca,
fermentado durante uma semana, das virações 59. Mistura de farinha
adcionando- sêca ou dágua com ovos crus de
se depois açúcar 1.= ervadoce. qualquer
t' servida às môças que se tor· quelônio ou de gaivota, com
61 açúcar e condimentos outros de
O pão de guerra (mia pé) entaniçado ocasião.
para ser enterrado. Desenho Também se desfaz essa massa
baseado em água fi•asca e bebe-se. É uma co·
no espécime existente no museu do mida indigesto, mas comum 60.
Instituto Geográfico e Histórico do 49. MUJICA (prato). Comida feito
Amazonas. à base de peixe cozido ou moqueado,
nam mulheres na primeira menstrua· fragmentado, sem espinhas, cozido
ção como único alimento de sustân· em caldo grosso de tapioca ou
eia 57. Florival Seraine CSôbre o farinha
Torém, dágua. O dr. Alfredo da Mata
3) diz ser feita do suco do caju distingue-a de mugica {com g), sem
e reservada a diaterminadas nenhuma razão plausível.
pess·oas 50. MUQUECA (prato). Bôlo de
da festa do torém. Nunes Pereira (0 goma de mandioca, •.znv·olvido em
Sairé e o Marabaixo, 15/16), na fô·
descrição que faz das danças lha de pacova-sororoca (bananeira)
populares e assado no forno. Existem várias
do sairé e do marabaixo, informa castas
que é servida a tôdas as pessoas de moqueca no Brasil e sôbre
presentes. Essa bebida, que elas discorre A. J. de Sampaio ( Op.
Al•.zxan· cit., 290/91 J: no Pará - <<guisado
dre Rodrigues Ferreira cita de de peixe ou de mariscos ou de carne,
passagem com pimenta e azeitia, formand·o
sem comentários, dando-a como mossa
62 a qual é dividida em porções que
ordinária entre os índios do alto rio são então envolvidas em fôl has de
Negro, na nossa opinião é de cará· bananeira (no que tem analogia com
ter religioso. Em Manaus temos abará, abarém, beiju·muqueca, grude,
obs1arvado pamonha, manuê (bôlo manuê) e
servirem-na nos candomblés de malcassá;
negros e nas festas do Divino Espírito e mesmo com a mariola, e pamonha
Santo e de Cosme e Damiã·o. Pelo de milho viarde (que se enroIam
menos nas que temos assistido em palha de milho 1 e molopan·
freqüentement• ça que se leva ao forno, entre fôlhas
a. c~e mandioca, para tostar. Gilberto
47. MOQUECA (prato). «Apreciado Freire, em seu livro <<Açúcar>>
alimento preparado com o peixe, indica
azeite de dendê ou de caiaué, bôlo do mato e bôlo·manuê, en·
pimenta rolados em fôlha de bananeira. Vi·
e outros condimentos>>58, que de moqueca, para verificar uma di·
se come com farinha sêca ou dágua. ferença de poqueca. / A muqueca
O mesmo que pubi~ca. também pode ser simples guisado de
48. MUJANGUÊ ( muiauê 1 (pro to 1. peixe ensopado e pirão de farinha,
C·omida de circunstância, apreciada sem ser envolto em fôlha. de
geralmente nos taboleiros, à época bananeira
(V.ide Alma1naque do Cor. ••
rei'o da Manhã, 1939, p. 338). As •
moquecas na Bahio, seg. Sodré •
Viana, •
não são envôltas em fôlha de '
bananeira. '
Em São Paulo, no vale do Pa· .''
raíba, o caipira usa a fôlha de '•
bananeira •
ou de caeté (Gentil de (amargo); •
·e foz. assim muquecas de peixes Golba l9d2 •
( guarus e piquiras, do rio)>>. '
51. PAÇOCA (m'•renda, quebrajejum, '
farnel). Misturado de farinha Miapé (pão de guerra). Desenho
sêca, tocarí {castanha) e açúcar. baseado
Pila-se a castanha com a iarinha ao em um espécime encontrado
mesmo tempo e vai-se adicionando em Manaus, em 1949, por ocasião
açúcar. Também invés da castanha e da abertura da BR 17.
do açúcar pode-se pilar carne velho quatro a ci,nco dias até mofar. Então
desfiada, cozida ou assada que sobra é peneirado em igaçáuas e bebese.
de vésp·era. E tudo reduzido a mosso Se se des·~ja a bebida muito forte,
no induá {pilão). Geral menti~ se deixa-se azedar mais dias. Pode-se
toma ajuntar ao líquido o sumo de frutas 61.
com café por causa da fácil Houve uma fábrica dessa bebido em
circunstância Monaus (Barra l, ao tempo da
de aderir õ garganta. E farnel Capitania,
de seringueiro. Também se chama quando da proibição da entrada
ca(1;::fa e panomõ. de aguardente. Os bandos contra
52. PAJUARU, paiuaru (bebida fer• a aguardente à~ cana eram severos
mentada, temulenta). Ê vulgarmente mas inúteis como se pode ver do
conhecida por aguardente de pajauru, seguinte
mas não contém aguaró~nte de trecho escrito pelo dr. Alexandre
cana. Já teve um grande prestígio e Rodrigues Ferreira: «Reparou o
difusão na Amazônia, principalmente _doutor ouvidor Ribeiro de Sampaio,
à época da importaçã·o de cachaça que o eÍ'3ito desta tinha sido o mes ..
do reino. E: feita do beijuaçu logo que mo, que o das outras proibições, e
retirado quente do iapuna {forno). des-enganando-se com o
Põem-no de môlho em água fria, governa·dor,
depois amontoam-no entre fôlhas de que não havia meio de eficazmente
imbaúba ou de pacova-sororoco coibir a introdução da aguardente;
( bananeira}, antes coibida esta, se não podia coi-
permanecend·o assim entre 63
'• bir a outra bebida do pajuaru, ·~ a
'' da aguardente dos beijus, em
' prejuizo
'•• das roças da maniba, cujas raizes
• se arrancavam, não para se
' • • • • • . - ------- fabricarem
• as farinhas, mas para se distilarem
•• as aguardentes, e em carta de 5
de junho de 1774 represi~ntou a V. fundo da igaçaba. ~ste liqüido
Ex., que visto ser impossível excluir chama-
absolutamente a intr·odução da se vinho-d·e-pajuaru. E êst1.; vinho,
aguardente, fermentado por dez dias, que dá a
antes ficar servindo a exclu· bebida altamente alcoólica chamada
são da de cana, de introdução da 64
outra dos beijus; e visto não ter a simplesmente pajuaru>>. ( (ndios
câmara desta vila di,; que se assegu· Ticu
rar um rendimento certo para as nas, l 98 /99) 63
despesas 53. PAPA de carimã. Alimento
públicas». (Op. cit., LI: 65) louvado
Hoje só se toma a bebida com mais por alguns cronistas, inclusive
freqüência entre os índios do rio por Gabriel Soares de Sousa e por
Negro Léry, como saudável e 51,;mpre
(parte) e dos afluentes, e do usado
Solimões (parte). Acresc·~ntamos pelas populações brasileiras até os
aqui nossos dias. Gabriel Soares também
uma outra receita fornecida por frei fala em caldo de carimã. O alimento,
Fidelis de Alviano: <<Rala-se a raiz feito da farinha de carimã, é dado
da mais a convalescentes ou a crianças.
mandioca e a massa resultante V'Ci 54. PAPA de farinha sêca. Alimento
para feito como de costume, adicionando-
uma gamela onde fica por espaço se l·~ite fr·esco ou na falta
de quinze h·oras; depois estende-se condensado.
f1lJ· A fari·nha deve ser antes bem
ma espécie de esteira chamada tipi. peneirada e preferentemente a da
ti62; a tal massa assim enxuta que macaxeira, podendo ser substituída
passar por uma peneira (na pino) feita por surui 64, De papas e mingaus de
de talo de várias palmeiras. Esta farinha ocupou-si~ Léry.
pasta 55. PATAUÁ (vinho). Bebido muito
já refinada é achatada nu1na tela refrigerante, feita do fruto da palmeira
de barro de grande formato, ::: dêsse do mesmo nome a que se acrescenta
modo obtém-se numerosos beijus. farinha sêca ou dágua,
Em imprescindível.
seguida empilham-se ·os beijus e 56. PIRAU ou angu (alimento).
põese Mistura de farinha sêca com caldo de
sôbre a pilha o pó das fôlhas torradas peixe cozido, muito b·em temp.;rado
da magacheira (s.ic) manissoba e
(sic). ! Cobre-se tudo com fôlhas com bastante pimenta. A farinha
de magacheira {sic) e deixa-se ferm deve·
·~ntar por espaço de três dias. ró ser antes passada na urupen10, e
Passado posta na panela vai recebendo
êsse tempo põe-se dentro da adições
igaçaba, a qual tem no interior uma pequenas do caldo para engrossar,
grade de paus, a uma altura de mexi~nd·o-se s·empre até que
quarenta resulte
centímetros. Sôbre essa massa uma aglutinação completa. !:sse
deixa-se pingar, por vários dias, a pirou ou pirão ou angu escaldado é
água fria, a qual se vai colocar no implemento necessário ao peixe
cozido.
Como variante há o pirão em fervente, donde resulta o grude ou
caldo de carne, feito por processo «g,oma>>, a que se adiciona logo
idêntico, podendo a farinha sêca ser jambu
substltuida por água ,à vontade. (agrião}, sal, salsa. O camarão
Dêsse cru, tucupi e pimenta são misturados
famoso pirão fala o viajante Ber· depois em porporções a gôsto. Êsse
nado da Costa e Silva, que o provou o
e deve de ter gostado, apesar de tacacá sofisticado que se toma
português: <<e um peixe moqueado, diàriam
que comemos com pirão; êste, fari· ·enti~ nas esquinas movimentadas.
nha de mandioca amolecida nágua Antigamente não comportava
ou um caldo, morno1. em forma de camarão,
papas granulosas e duras>>. mas peixe cozido ou tassalhos
(Viagens de carne, 'ºu nada. O naturalista
no Sertão, 114) brasileiro
57, POLVILHO (conduto ouxilior). dr. Alexandre Rodrigues Ferreira
Usa-se para obtê-lo o mesmo fala dêle (Op. cit., LI: 85} nos
processo seguintes têrmos: <<Os índios têm o
na feitura da farinha de carimã. cuidado de conservar sempre em
Já no iapuna (forno} aquentado a água
fog·o brando, tem a tendência de (refere-se à tipioca) a que lhes serve
óglutinar e embolar, devendo evitarse, para o tacacá. Dentro em uma
mexc:-ido sempre, usando as mCios panela, onde iá está a água a ferver,
de preferência para desfazer os bo· laçam a tipioca diluída em água fria
los. E. consurnic!o na feitura da tapio· e a gelatina que daí resulta, depois
ca65 e tacac6, devendo porta:-itc ser de adubada com o tucup!, é o almôço
conservado sempre fresco, em 6gua quotidiano, e não raras vêzes o
n·ova. jantar e a ceia dos índios>>.
58. QUIÇAMÃ (mingou). Alimento Para um leitor m•2nos familiarizado
para crianças novas feito com o com os costumes europeus, diremos
polvilho, que o ai môço é o desieium, o jantar
carimêi ou goma de mandioca. o nosso almôço comum e a ceia o
59. QUIRÉRA, caruêra, cruêra. nosso jantar de seis e sete horas. Ê
Resquícios preciso convir que o naturalista teve
da farinha que não podem a sua formação européia e vinha d1~
ser peneirados em urupema comum ló para o rio Negro.
e 61. TAPIOCA (alimento). Comida
voltam a ser reduzidos a pó no induá apreciada em desjejum ou merenda.
(pilão). S·~rve essa farinha para a Espécie de bôlo discóide, feito
feitura de mingaus, beijus e doces d·e exclusivamente
várias qualidades. da farinha de tipioca, em
60. TACACÃ (alimento}. De frigideira ou forno p•:queno, dobrada
inspiração d·epois como os beijus ou enrolada.
brasileira, indígena nos ingredientes, Pode-se untá-lo com leite de tocari
popularizou-se, tornando-se (castanha) ou de côco, depois
coqueluche social. Já se verificou em polvilhá-
Manaus uma {•.:!sta d·enominada lo com os resíduos ralados. É
Tacacá alimento que se apregoa nas ruas em
dançante. Entram na sua composição taboleiros e caixas ou nas feiras e
a tipioca que se põe na água m•arcados, já sofisticado, envolvido
em fôlhas de pacova-sororoca tratado, isto é, ralada a mandioca
('bananeira). e escorrida totalmente do tucupi, com
Esta é mole, não é tostada a diferença para notar de que a raíz
e tem uma côr alvíssimo, que forn-ace a massa {tipioc) não
desfazendose deve ser posta de môlho quer dizer,
f,àcilmente. A outra, verdadeira, não é puba. Chama-se'
aglutina mais, fica ligeiramente mandiocapuba
tostada (pua} tôda aquela que antes
e não leva côco. de ser ralada é posta de môlho para
62. TARUBÃ (bebida fermentada, amolecer. Reco] hida depois a massa
1,amulenta l. E: feita do beijuaçu. em panela c·om água limpa,
Com guardase
as fôlhas do curumim {Muutingia ca. para as n•zcessidades. É dessa
laburo L. J reduzidas a pó finíssimo, massa que se faz também o tacacá e
polvilha-se o beiiu, abafa-se com fô· a tapioca.
1 has por espaço de oito a nove dias, 65. TIQUARA (beberagem J. Espécie
find,o os quais é dissolvido nágua de garapa preparada com a farinha
fresca e está pronta para ser bebida. sêca ou dágua, diluída em água
Receita semelhante é fornecida pelo fria e bebida sem outro qualquer
cônego Fracisco Biarnardino d·e acompanhamento. Muito comum
Sousa entre
em Lemb.ranças e Cur:1osidades do as populações indígenas e caboclas,
Vele do Amaz,onos, 157. que às vêzias adicionam açúcar ou
63. TICANGA, ticuanga, tiquanga mel, quando há. Trata-se do famoso
(alimento}. Bôlo feito de farinha de chibé, variando apenas de nome.
mandioca a que se acrescenta tocari Dessa beberagem dizia o
65 escrupuloso
(castanha) ralada ou côco. E assado frei João de São José de Queirós,
no forn·o pequeno ( itacuruca). escandalizado com a atitude das
Comumente esquipações:
se faz em casa, para tomar <<Trazia na canoa 0 despensiairo
com café pela manhã, as casas um pote com quatro arrôbas
pobrozs de açúcar, e depois que se encheu
quando não há pão ou não se durou três dias, porque ao quarto,
pode adquiri-lo. Todavia não é em que foi necessário servir, nao se
conhecido 66
nas cidades por êste nome, achou pó. Supõe-se que o
mas simplesmente por bôlo de misturavam
farinha. com a farinha nas cuias, e metidas
O nome significa mais ou menos nágua faziam por modo de
no nhengatu do Amazonas falus caldo dooz a sua chamada tiquara.
murcho, ou literàriamente indivíduo Porém faça-lhe muito bom proveito,
sexualmente inútil. Não posso que de boa vontade lhe perdoamos
explicar a trav·essura: então experimentamos
a relação que ·~xiste entre uma o que nos ins.inuava o venerável
e outra coisa. pad're
64. TIPIOCA, tipioc, tapioca (massa). fr. Afonso dos Prazeres, varão
Assim se denomina o amido da mortificad.
mandioca depois de íssimo, que o chá sem açúcar
convenientemente tinho mais virtud•as, e é bem pouco
agradável>>. (Viagem 1e Visita ao maniac.a (o sumo misturado com
Ser. água
tão, 349 / 50). Outro bispo em e fervido para perder o alto teor
visitação, venenoso)
frei Caetano Brandão, embora chama-se manipuêra. Sõ·
não provando certam·ente da mente depois de transformado em
bebera .. môlho, temperad·o, é que se chama
gem, faz-lhe todavia o melhor elogio tucupi. Para obtê-lo, espreme-si~ a
que já encontramos em qualquer massa 1 tipioca) da mandioca
cronação amarga
histórica: <<palas confrontações no tipiti, urupema ou prensa de
assentam·os que excediam muito o madeira, recolhendo-se o caldo
número de cem anos: e assim se amarelo.
tinham Deixa-se azedar de um dia para
conservado com tiquara, isto é, o outro, depois tempera-se com alho,
farinha de pau molhada em água, muito ou pouca pimenta, ao gôsto,
que é a iguaria ordinária desta pobre um ou dois pedacinhos d·~ fôll1a de
gente>>. (Memórias, 343). pimenta, salsa, pedacinho de fôlha
66. TIQUIRA (bebida J. Bebida fer· de mandioca, leva-se ao fogo para
m•~ntada, altamente alcoólica, coz:ê-lo, eliminando-se assim o pr1n·
produzida cípio venenoso.
pela fermentação a longo prazo Alexandre Rodrigues F·erreira
do beijuaçu. O doutor Alfredo da classificou-
Mata define-se assim: <<Cachaça ·o como <<mostarda mais graV'~».
resulta Pode-se obter do sumo da mandioca
·n·te da destilação do líqüido em várias castas de tucupi:
que foi dissolvido o beijuaçu>>. ( Op. a) tucu:pi ... pixuna ( tucupi escuro J,
cit., 311 ). quando aquêle tucupi de que falamos
67. TUCUMÃ (vinho). O fruto antes, o natural, é cozido duas
macerado vêzes ao fogo e engrossado para
produz um óleo grosso que adquirir
se bebe, junto com os resíduos, com uma côr escura;
farinha sêca ou dágua. Ê beb•aragem h) tucupiica, quando se junta ao
de ocasião, merenda, refrescativo. tucupi massa de tipioca, e leva·s·e ao
68. TUCUPI (môlho). É o auxiliar fogo para engrossar;
direto da alimentação do indígena e c) Tucupi-quinhãpira, o tucupi de
do caboclo, espécie de môlho nacio .. _genl·~ valente, compósito
nal. Não se come peixe sem tucupi queimante
apimentado e mesmo os carn1~s de pimenta, frutos cortados, sal,
perdem fôJhas
a graça sem a presença dêle. tenras de mandioca, e que se
Ordinário, imprescindível, popular e come com o peixe ·e a carne, e serve
popularizado, dono de uma .também para conservar o pescado
perspectiva ou
histórica qu·e só encontra parelha a caça, de um dia para o outro, à
a farinha. Obtém-se o tucupi do .semelhança dia vinhadalho.
sumo peçonhento da mandioca 69. UNGUI ou tutu (preto). Comida
azêda supostamente geral n·O Brasil, feita
ou amarela. Anl·~s de passar a ser de feiião cozido com farinha de
mandioca ao mesmo tempo. de passagem.
Posteriormente 75. BôlO CRU (doçaria). E feito
par·ece que evoluiu muito, c·om a farinha de tapioca à moda o~
adicionando- cuscuz de farinha de tap'i oca, só
se ao pirão a roupa-velha variando
(vide). E mais conh•acido por tutu, no tamanho. Vide CUSCUZ.
.quase tendo perdido o nome 76. BOLO de farinha sêca (doçaria).
indígena. Põe-se a farinha de môlho para
b) Alimentos de inspira são inchar,
alienígena coa-se e peneira-se, ajunta-se
ou mestiça com base na mandioca. ovos, mistura-se, faz-se o bôlo com
70. ABAZÔ ( bôlo). Perece ter origem as
africana, r.·~lo menos no nome. E mãos e frita-se. Pode-se também
um alimento que se faz de farinha de fazê-
mandi·oca amassada com o azeite lo sem p~neirar a farinha nem
do molhá-la, de ocasião .
côco caiaué, levando muita pimenta 67
e t·emperos comuns. Alfredo da Mata 77. BOLACHA 1 doçaria). Vide a
cita-o com o nome de abrazô e receita
insinua- para BISCOITO. A diferença está
o de origem africana e proced·~nte em que o format·o desta é maior.
da Bahia. Completamente 78. BO-l.INHO de macaxeira
desconhecido ( doçaria).
hoje em dia, a 0 menos com Raie a macaxeira e tire a goma.
êsse nome. Também amazô. Junte leite de tocari (castanha), sal,
71. AÇAI com farinha de tapioca açúcar, ovos, 1zrva-doce, faça os
1 b·eberagem). Serve a~ pequeno bolinhos
almôço, e asse no forno brando. { Receita
merenda, sobremesa. Veja·se o fornecida pela senhora do,na
que dissemos a respeito do uso do Geraldina
açai com farinha sêca. Monteiro, Ma naus, 1962)
72. BEIJU com café (ai mocinho, 79. BOLINHO DE MACAXEIRA com
almôço queijo {doçaria). Receita: um quilo de
ou merenda l. Muito comum entre macaxeira cozida e passada no
as populações caboclas e m•~smo espremedor;
citadinas. meio quilo de queijo ralado
73. BIRORÔ (comido). Variedade de ia sal. Amasse tudo muito bem
beiju, conhecido no Rio de Ja·neiro, amassado,
aliás Guanabara. Abonado por A.J. junte uma colher de manteiga
Sampaio, op. cit., 218. e frite em banha quente. (Receita
7 4. BISCOITO de gomo (alimento). fornecida
Feito de massa de mandioca (não da pela senhora dona Geraldina
farinha) bem tratada, isto é, tramitada Monteiro Ma naus, 1962)
para goma muito leve, adicionando- 80. BO'L INHO DE FARINHA de
se leite, açúcar manl•~iga. Tem macaxeira
a forma mais reduzid'a que a da (doçaria l. Procede-se como
bolacha na f•.;itura do mata-fome 1 doce de
co1n que se parece. A êle faz macaxeira) , mas os bolinhos são
r·eferência Alexandre Rodrigues fritodos
Ferreira em azeite depois de aquentada
a frigideira. (Receita da tacacàzeira frita e farinha de mandioca, sem ser
dona Leoniza Santos, Manaus, moída ou pisada. Na Amazônia i•~m
1962) o mesmo nome>>, segundo A. J.
8 i. BÔLO de macaxeira (doçaria). Sampaio,
Receita: rala-siz dois quilos ou mais op. cit. 224. O dr. Alfredo da
de macaxeira, tira-se a goma em um Mata informa a mesma coisa,
pano, adiciona-se leite de tocari dizendo
(castanha) que o conduto misturad·o é a farinha
à vontade, açúcar, sal, uma surui ou sêca (Contribuição oo
co!l1er de manteiga, dois ·ovos, Estudo
ervadoce. d.o Vocabulário Amazonense, 98).
Assa-se ·em fôrma untada com 86. CAPETÃO {pão). Trata-se de
manteiga. {Receita forn•zcida pela uma casta de <<pão de forma
senhora alongada,
dona Geraldina 'Monteiro, Manaus, que se prepara entre os dedos,
1962) com farinha e feijão>>, diz A. J. d·~
52. BôlO POBRE {doçaria). Faz-se Sampaio (Op. cit., 228), mas nós
com a farinha de tipioca. Ajunte-s·e discordamos
quatro gemas de ovos em litro e meio desta informação o começar
de far:r1ha de tipioca (tapioca) pel·o nome. Realmente trata-se
granulada, de apenas um modo de comer o
ervc:-doce, um côco ralado, feijão.
duas colheres de manf•~iga, uma com a farinha amassados. O ca,pitão
colher e não capetão é um bocado que se
de fermento. Unta-se a fôrma ajunta ent11a os dedos na beira do
com manteiga e leva·se o bolinho ao pra~o para depois comê-lo. Faz-se
forno. (Receita fornecida pela tacacà- isto
68 também para as crianças.
zeira dona Leoniza Santos, Manaus,. 87. CHOU~IÇO de goma {doçaria).
1962) Doce feito corr sangue de porco,
83. BROA DE GOMA 1 doçaria). farinha
Proc.13de-se como na feitura da broa de mandioca e temperos. Cf.
de farinha de trigo, com alguma vaR A. J. de Sampaio, abonando Gilberto
riante: ensopa-se a goma paro ficar Freyre, op. cit., 240.
bem mole, põe-se sal, pisa-se o 88. COALHADA com farinha sêca
ervadoce, (quebra-jejum, almôço, merendo)~
põe-se açúcar, amassam-se os Prato comum às zonas de gado, raro
bolinhos e põe-se em taboleiro dentro nas cidaC:•.;!s como alimento
do forno. Quand·o alourar 1.zstó constante.
pronta a broa. E um doce muito 89. COBU (prato). Angu assado,
apreciado segundo informação de A. J. de Sam.
pela sua leveza e fácil digestão~ Paio, op. cit., 241.
84. CABO RÉ 1 doçaria). Bôlo de 90. CROQUETES de macaxeira
mandioca misturado com farinha de (doçaria).
trigo, assado na brasa, ao espêto~ Essas croquetes podem ser comidas
Informação de A. J. Sampaio, op. cit., sem acompanhamento, com
221. estimulantes
85. CAFOFA {prato). Comida do alcoólicos ou simplesment·e
nordeste (Ceará), <<feita de carne podem ser servidas ao almôço e
sêca mer•.;
nda. Cozinha-se a macaxeira c·on1 fôfo, feito de polvilho azêdo,
sal, passa-se na máquina de moer, coalhada•.;
põe-se ovos e manteiga, amassa-se sal, assado em bandeia ao forno;
para ligar, fazendo-se o bôlo com· cresce muito e fica cheio de ar, pelo
prido e ôco. Depois de recheado de que o tamanho engana, quanto à
carn•.; moída em refogado, obtura-se quantidade de substância; vide
JJ parte ôca e frita-se em azeite também
quente. peca ·e poquinha>>. Referido por
E mais saborosa comida quente. A. J. de Sampaio, op. cit., 249. Invés
91. CUSCUZ DE FARINHA de de Estado do Rio deve ler-se Estado
tapioca da Guanabara. A poca também é co•
(doçaria). Receita: um litro de nhecida na Amazônia, mas não
1~arinha popularizada,
de tapioca granulada, um côco par•zce-nos. Para evitar-se
ralado ou toca ri (castanha) ralada dúvidas declaramos que aqui o
em proporção. Mistura-se com a polvilho
farinha é de mandioca.
de tapioca e deixa-se d•.; lado. 95. FARINHA GORDA «do caipira do
Põe-se um litro dágua a ferver e nela vale do Paraíba, no E. de S. Paulo:
uma boa colher de açúcar com uma farinha ou fubá, molhada nágua e
pitada de sal. Quando a água está cozida depois na gordura até ficar
fervendo escalda-se a farinha, prepa· granulada, mexendo-se sempre na
ra·se o bôlo em pit•~s ou prato, panela>> (Seg. Gentil de Camargo),
abafa- referência de A. J. de Sampaio, op.
se com outro prato. Hora depois cit., 254.
está pronto para ser comido barrado 96. FARINHA SÊCA cam café
de manteiga. (Receita Fornecida pela ( almocinho
tacac-àzeiro dona leon.iza Santos, merenda). Usual na Amazônia,
Ma· à fal't a de coisa melhor como
naus, 1962). Outra receita, também desjejum
comum, mo11da que s1.; abafe o ou merenda.
cuscuz 97. FARINHA DE TAPIOCA com café
com um guardanapo e se o aplique ( alm·ocinho, m·erenda J. fdem.
à bôca da panela, recebendo assim 98. FARINHA SÊCA com leite de
o vapor e cozinhando ràpidamente. vaca (quebra-jejum, almôço, meren·
92. CUSCUZ de farinha de tapioca da). Nas regiões d•.; gado usa-se
com café ( queima-bôca, merenda). muito
93. CUXÂ (prato). Feito de <<farinha comer pela manhã uma boa tigela
de mandioca, quiabo, fôlha de de leite com farinha sêca, havendo
vinagreira { ?) , a qu•.; se junta mais farinha do que leite. Y·erdadeiro
gergeJim pirõo de· leite, como é conhecido sem
torrado e reduzido a pó. Depois que seio univi.;rsalmente assim
de bem cozido, deita-se o cuxá sôbre chamado.
arroz e a isso chamam <<arroz de Em casos difíceis também serve
cuxá>>. R·eferido por A. J. de de almôço e de janta. Na cidade usa·
Sampaio, se fazê-lo com 1 eite condensad·o,
op. cit., 246. mas
94. ENGANO (doçaria). «(no E. do não se junta açúcar como no outro
Rio) : espécie sui gene ris de biscoito caso.
99. FAROFA (conduto). Na feitura
pode-se usar indistintamente de maneira definitiva: filhós d·e fari·
manteiga nha de mandioca e filhós de farinha
ou azeit•.;, sal, postos na frigideira de macaxeira. O processo é o mesmo
b9 para os de farinha de trigo, apenas
e depois ir adicionando a farinha levando farinha de mandioca ou
peneirada farinha de macaxi.;ira ou ainda
ou suruí, até obter consistência. macaxeira
Usualmente, para que a farofa ralada e peneirada e mel.
não fique muito sêca brinda-se com Também no Ceará é feito da
ovos picados, chouriço, az·eitonas e macaxeira
carne miúda. A farofa é implemento denominada pacaré, com mel,
dos pratos onde entra a tartaruga de acôrdo c·Om a versão de A. J.
ou outros quelônios, principalmente a Sampaio,
fam-0sa <<farofa d•.? peito>> ou a op. cit., 257.
não 101. FôFA (doçaria J. Doce de man·
menos «farofa de casco», dioca. Vide ENGANO.
preparadas 70
com a própria carne e miúdos do 1 02. FRITO de farinha de mandioca
animal {doçaria). Reoaita: ponha de môlho,
e levadas ao forno para assar e depois de peneirada, uma boa quan~
torrar. tidade de farinha. Quando tufar, jun-·
100. FILHÓS te ovos, sal, açúcar, e frite em banha.
receitarmos a quente. Numa vasilha à parte misture
{doçaria} . Antes de açúcar com canela em pó e vá
moda do bôlo ma.is passando os bolinhos amassados à
clássico no Brasil, na nosso opinião, mã·o. A mesmo receita podtz ser uso·
convém chamarmos a atenção do da s·em polvilho. {Receita -fornecida.
leitor pela senhora d. Geraldina Monteiro,
para o que diziam os cronistas de Ma naus, 1962),
quatrocentos an·os, e que ió l 03. GUERERÉ (prato). Guisado feito
rzferimos com as vértebras dorsais e a tripa
antes, a resp·eito dos filhós. Apesar grossa do pirarucu. Come-se
do dr. Alfredo da Mata falar dos misturado
nossos com farinha sêca ou d'água.
conhecidíssimos beijus c·omo 104. GELÉIA DE TAPIOCA (almoci·
filhoses, nho, merenda). A. J. de Sampaio {op.
na Amazônia isto não é verdade: cit., 260) fala em decocto espêsso de
beiju é beiju, sempre f·oi, e filhó é tapioca. Deve de ser a mesma coisa
coisa diferente, fizito de maneira que grude.
diversa l 05. GONGUINHA (beberagem per·
e com mat·erial diverso. Realmente nambucana): <<bebida fermentada,
o filhó verdadeiro é feito de d1.;
farinha de trigo, mas com êste há a farinha de mandioca, água e açúcar;
comparação dos nossos beijus pelos tem analogia com o chibé, do nord
cronistas, inclusive pelo bom padre ·este>>, diz A. J. de Sampio, op. cit.,
Anchieta. Talvez a saudade da terra 261 . Não cremos que haja essa anal
levasse algum cozinheiro a ·ogia, desde que a beberagem ou be·
experimentar bida é fermentada; o chibé não o é,
a farinha de mandioca na passando a s·~r mais um refrescativo
feitura dos filhosi.;s e a coisa pegou ~m certas oportunidades e em outras
almôço ou janta, conforme a n·eces:; Desapareceu. A. J. de Sampaio
idade. fornece a receita: ovos batidos,
l 06. INHOQUE ( bôlo). Receita, co· raspas dia mandioca e açúcar. Op.
zinha-se a macaxeira, machuca-se cit., 272.
bem 109. MACAXEIRA cozida n ' a. gua e
ou passa-se na máquina de moer, sal 1 ai mocinho, mer·enda). Toma-
põe-se no panela, adicionando-si.; se
três café no interior da Amazônia com a
gemas de ovos, sal, manteiga (uma macaxeira, onde não há fábricas de
colher); farinha de trig·o só para evitar pão ou mesmo quando há falta dêle.
qu·e a massa depois de bem 11 O. MACAXEIRA com mol de cana
aglutinada (sobremesa l. A macaxeira cozida,
ligue à panela. Quando a mas .. fria, com mel adicionado na hora, ao
sa está pronta, estende-se na tábua, gôsto, é ainda uma das sobremesas
faz-se como na operação pastel e requeridas, pelo m·enos em Manaus.
leva-se a outra panela com água 111. MACAXEIRA frita (conduto,
para ferver, com sal. Quando o bôlo merenda, quebra-jejum). Corta-se a
{inhoquel flutua é que está em ponto macaxeira em rodelas (discos), lava..
de ser retirado, tira-se com se bam e vai-se deitando as rodelas
escumadeira. na frigideira onde ferv·e o azeite.
(Receita de d. Anita Monteiro, 112. MAL-CASADO, malcassá 1
Manaus, 1962). alimento).
107. JACUBA (beberagem); Em Pernambuco é <<beiju de
(alimento). massa de mandioca, recheado de
Por êste nome são conhecidos côco ralado; em Sergipe é beiju die
dois tipos de alimentos, um dos tapioca com leite de côco, assado ao
quais muito comum na Amazônia. A fôrno, a fogo brando, envolto em
jacuba, tiquara ou chibé constituem fôlha de bananeira>>. Referência d•e
a mesma coisa. Por outro lado exist•a A. J. de Sampa.io, ap. cit., 27415.
uma espécie de <<pirão doce, feito 113. MANAMPANÇA, malampança
de (alimento). Beiju sofisticado (de
farinha de mandioca, açúcar (ou origem
mel ou rapadura) e água, levando indígena) em que entram açúcar
às vêzes um pouco de cachaça>>, e erva-doce. E envolvido entre
d•.; fôlhas de mandioca e tostad·o em
que fala A. J. de Sampaio ( op. cit., fogo
267) e que parece ser o mesmo chi· brando.
bé, s·endo que na Amazônia não é 114. MANUÊ 1 doçaria). Bôlo de
adoçado com rapadura, mas o chibé massa de mandioca fresca <<com
mesmo pode ser bebido com uma leite
adição suplementar de cachaça, para de côco, três xícaras d'água, man·
reforçar. teiga, erva-doce, cravo e açúcar; feita
108. LÍNGUA DE MULATA 1 pão a massa é dividida em porções que
doce). Duranl•a muitos anos foi ven· se enrolam em fôlha de bananeira,
dida em Manaus uma espécie de lâ· para assar em fôrno quente>>.
mina de farinha de trigo e de Referência
mandioca, de A. J. dia Sampaio, op. cit.,
amar·elinha e torrada, muito 281.
procurada para substituir o pão 115. MATA·FOME 1 doçaria; bôlo de
matinal. macaxeira l. Rala-se a mocaxeira,
deito-se uma pitada de sal, mistura- não S'.;: usa. A maior importância
se dêsse mingou para o caboclo da
uma colher de manteiga, um côco região do .'v\anaquiri é que serve de
rolado, conduto para os vinhos de caiaué,
erva-d·oc·e, cinco gemas de ôvo, bacaba e patauá. Todavia pode-se
mexe-se bem para aglutinar •a tomar ·O mingou isoladamente.
pÕe·se 119. MINGAU DE CARIDADE ( prato).
açúcar ao gôsto. leva-se ao fôrno Peneira-se a farinha (melhor de
(Receita da tacacàzeira dona leoní· macaxeira) numa vasilha 1,;:
zia Santos, Manaus, 1962). adicionase
Outra receita: Rala-se dois quilos ou aos poucos a água fervida já
mais de macaxeira, tira-se a goma temperada com sal, alho, pimenta do
com um pano, adiciona·s·e leite de reino e manteiga. Pode ser
tocari (castanha) à vontad1ç, açúcar, empregada
sal, uma colher de manteiga, dois a farinha suruí com o mesmo
ovos, erva-doce e asse em fôrma resultado. Há outro process·o em que
untada com ma' nteiga. {Receita da entra a gema d·~ ôvo de galinha. É
senhora d. Geraldina Monteiro, alimento de sustância, empregado
Manaus, para levantar as fôrças aos
1962). combalidos,
116. MAXIXADA (prato). Guisado tomado como desjeium.
de maxixe (maior quantidade), 120. MINGAU DE FARINHA DE
jerimum MANDIOCA (prato). Põe-se a fari-
(obóbora), quiabo, pimenta do 11ha de mandioca de môlho para
reino, o~bola, coentro, alho, vinagre, inchar
salsa, chicória e caldo. Come-se com numa panela à parte, em água
farinha, misturado: fria. Noutra panela cozinha-se o leite
117. MEXIDO (prato); (doçaria). d·~ gado com sal e açúcar. Quando
Vulgarmente é uma comida onde a farinha estiver bem inchada, de
entram maneira que a água tenha
vísceras, carne sêca, etc, que desaparecido,
71 deita-se na panela que está
se come com farinha. É também o fervendo com l•.=ite. Querendo, invés
nome de um doce feito com maca· do leite de gado pode-se usar leite
xeira ralada e p.;n·eirada a que se de côco ou de toca ri (castanha).
adiciona um pouco de casc' a de (Receita fornecida por dona Anita
limão, Monteiro, Manaus, 1962).
calda de açúcar e mel. 72
118. MINGAU DE CARIMÃ (prato e 121. MINGAU DE FARINHA DE
conduto-). Material: farinha de carimã, TAPIOCA
tocari {castanha), açúcar ao gôsto. (prato). O processo é o mesmo
keccita: põe-se primeiramente a da cota anterior, sendo que neste
água a ferver com sal. Quando ·está caso se usa a farinha de tapioca
f•.:!rvendo, umedece-se a farinha de (tipice).
carimã para que fique encaroçada e 122. MINGAU DE GOMA (prato).
deita-se dentro da água fervente. É feito pelo mesmo processo da cota
Rala- 119, diferindo apenas em que a goma
se a castanha ·e mistura-se à água. ilÕO pode ser molhada.
O açúcar depende da vontade, 123. PE DE MOLE:QUE (doçaria).
geralmente Existem duas variedades: escuro e
amar·~linho, conforme o material {sobremesa). Receita: um copo de
usado farinha de tapioca; um copo de leite
na sua fabricação, isto é, de côco; três ovos; uma lata de l•zite
respectivamente condensado; uma cal her de sopa
a farinha de carimã ou a bem
farinha d'água. Faz-se com a farinha cheia de manteiga; duas cal heres de
passada na urupema (peneira), côco ralado. Modo de fazer: põe-se
canela, a farinha de tapioca de môlho no
um côco ralado, erva-doce, sal, leite dz côco. Batem-se os ovos,
açúcar, manteiga (uma colh·er). depois
Mistura- de bem batidos põe-se uma colher
se, amassa-se, dá-se a forma de manteiga -e ·O leite, batendo
achatada, tabular (há vários ta ma· ·se bem. Depois que a farinha estiver
nh·os) enrola-se en1 fôlhas de pa· mole, d·~speja-se o leite e os ovos
cova-s' ororoca (bananeiral e põe-se juntamente
a assar no fôrno ou sôbre brasas. com a manteiga. Enfôrma-se
(Receita do mestre Ariolino Cruz, com açúcar queimado e leva-se ao
vendedor de tabol•=iro. M a n a u s, fôrno para assar.
1951). 128. PURÉ de macaxeira (prato au·
124. POCA. Vide cota 94. Et-IGANO. xiliar). Cozinha-se a macaxeira com
125. PUCHERO ou fervido, << {no sal, amassa-se ou passa-se na
Rio máquina,
Grande do Sul): cozido de carne e põe-se manteiga e leil<z mexe-se
hortaliças, para comer com farinha bem para ligar. Serve-se as' sim
de mandioca>>- Referência de A. J. mesmo.
Sampaio, op. cit., 256 e 307, nesta 129. PURÉ com recheio de carne
última r<!ccita acrescentando-se (composto) (prato j. Cozinha-se a
osso macaxeira com sal, moi-se na
fresco. máquina,
126. PUDIM de macaxeira (sobre~ iunta-se leite •z manteiga. Amassa-
mesa)_ Cozinha-se boa quantidade se bem para ligar. Arruma-se no
de <<pirex>> uma camada do puré e
macaxeira e passa-s·e na máquina. outra
Junta-se à massa dois copos e mais de refogado de carne moída, cobrin·
um bocado de leite de toca ri do-a de puré novamente. Espalha-se
( castanha), por cima gema de ôvo de galinha e
ovos, sal e açúcar a gôsto, l•zva-se ao fôrno. Quando a crosta
deixando ficar a massa cor1sistentia de gema estiver dura, assadinha,
mistura-se mais duas colheres de está
man .. pronto para ir à mesa.
teiga e leva-se a assar em fôrma 130. QUJBÊBE (prato}. Composto
untada de massa de jerimum cozido e leite
com manteiga. Pode-se usar ainda de gado ou de toca ri (castanha) com
o bagaço da casta·nha com·o farinha de mandioca sêca ou d'água.
polvilho. 13 l. RAVIOLA 1 prato J, «rodelas de
A fôrma deve ter o cone no massa de farinha de mandioca,
meio. A macaxeira d•ave ser cozida enrolando
antes de passada na máquina e bem r~cheio de carne ·ou erva>>. A.
escoada da água. J. de Sampaio, op. cit., 31 O.
127. PUDIM de farinha de tapioca 132. ROCAMBOLE de macaxeira
(prato). Cozinha-se a macaxeira com dentro. Depois de tudo cozido tira-se
sal e escorre-se bem. Passa-se na com a escumadeira e passa·5'Z no
máquina, ajunta-se ovos e manteiga liquidificador
e estende-se no taboleiro untado com com um pouco do caldo,
rr1ant•~iga, fazendo uma fina levando a massa para ferver
camada novamente
para d·epois poder enrolar. Leva-se com couve picada, max1xe e
a·o forno a fim de que os ovos fiquem outros legumes ao gôsto.
cozidos, depois tira-se da fôrma com 73
o auxílio de guardanapo úmido. 137. TAPIOCA COM CAFE (desjejum,
Depois merenda). Muito comum na
de frio, encha com carne moída Amazônia tomar-se pela manhã ta·
ou camarão e enrole com cuidado pi oca ( bôlo) com café, na falta do
para não partir-se. pão ou de bziju.
l 33. ROSCA de goma 1 doçaria). 138. VATAPÁ de farinha de maca·
Ma1•zrial: côco, manteiga, goma e xeira (prato), Põ,e-se de môlh·o a
ovos se quiser. Modo de fazer: farinha de macaxeiro para inchar,
aquece- peneira-
se a água com sal e vai-se pondo se e coa-se. O resto é como na
dentro, aos poucos o côco ralado, a receita do vatapá comum.
manteiga e a goma' , mexendo-se 139. VATAPÁ de macaxeira {prato).
sempre. Cozinha-se, •zscorre-se e amassase
Querend-o, ajunte •zntão os ovos. a macaxeira. Faz-se um refogad·o
Quando estiver ligando b·em, tira-se, com azeite de dendê cebola e
modela-se a rôsca, põe-se no camarão,
taboleiro adicionando-se' leite de côco.
untado com azeite e unta-se também A massa da macaxeira é
a rôsca para não aderir e assar desmanchada
melhor. Vai ao fôrno para assar mas separadamente com l·~ite de côco,
não dizve queimar nem tostar. em duas porções distintas. Depois vai
134. ROUPA VELHA {prato). Farnel à fervura duas vêzes e ajunta-se
de seringueira, a Amazônia. tudo, estando pronto para servir.
Preparada 140. VIRADO (prato). Alimento feito
com a carne sobrada de véspera, de carne cozida, alimentada por
migada e temperada, metida um refogado de sustância ( tempêro
dentro da farinha simples ·ou paçoca. a voi•zr: cebolo, cuminho1 pimento
Como é muito sêca os trabalhadores do
rurais acompanham-na sempre com reino, cheiro verde, colorou, etc),
uns golinhos de cachaça. tudo isto depois ajuntado com fori·
135. SARAPÓ. Variedade e!, beiiu n ha sêca de macaxeira.
citado por A. J. de Sampaio, op. cit., 141. CUSCUZ DE VIÚVA '. Mote·
216 e 313, ·em que entra o côco. Sem rio!: um côco ralado, açúcar e sal
mais explicações. dentro d'água. Põe-se a farinha de
136. SOPADEMACAXEIRA {prato). tapioca de môl ho dentro dessa água;
Faz-se um refogado de ceb-ola, quando incha, preparam-se os bolos
colorau, achatados. Rala-se um côco, •a com
tomate, alho, pimentão e pimenta açúcar e um pouquinho d'água só
do reino. Enche-s•z uma panela com para um,edecer polvilha-se por cima
água e quando estiver fervendo põe- dos bolos. Está pronto. Não vai ao
se uns seis pedaços de macaxeira fogo nem cozinha.
142. BOLACHA. Espécie de biscoito muito. Não se deve fazer os pés de
chato, feito da massa da mandioca moleque muito grossos. ( Rizceita
peneirada ou não, água e sal, açúcar fornecida
e g·ordura. Ê chamada cabeça de pela senhora d. Geraldina
macaco bolacha de pedra. Monteiro, Manaus, 1962).
' 147. PUDIM CRU de mandioca
* Tôdas as receitas que seguem (doçaria).
chegaram Ponha a farinha de tapioca
ao nosso conhecimento após de môlho no leite da castanha ou de
a transposição datilográfica, ficando gado. Quando estiver tufada, meio
pois fora da ordem alfabética. mole, adicione açúcar e uma pitada
74 d,e sal. Bata b12m e leve ao gelo no
143. BOLO PODRE FRITO {doçaria J pirex. (Receita fornecida pela
_ senhora
Amolece-sia a tapioca na castanha dona Geraldina Monteiro, Manaus,
ralada em pouca água, adoça-se, 1962).
põe-se uma pitada de sal, ovos e 148. ROSCA DE GOMA (doçaria).
erva-doce. Mistura-se tudo e frita-se Material: goma, erva-doce e óleo.
em banha quente. Ponha a goma para secar, sem lavar.
144. FRITOS (prato). «No sertão Depois de sêca, escalde •.; amass-e
baiano, segundo Sodré Viana: carne com erva-doce e óleo, até enrolar.
de porco ou outra, picada •a frita em faça as rôscas, ponha-se no taboleiro
refogado de cebola, pim,enta do reino, untado com manteiga e leve ao fôrno.
alho e coentro pilados; salga-se (Receita fornecida pela s·enhora
e mexe-se com farinha de mandioca dona
na mesma panela>>. Referência de Virgínia Coelho, Manaus, 1962. E
A'. diferente
J. de Sampaio, op. cit., 258. esta receita da outra).
145. FRITOS DE GOMA (doçaria). 149. SEQUILHOS DE GOMA
Dissolva-s•z a goma numa pouca ( doçaria).
dágua, de modo que fiqu,e um caldo Material: goma, erva-doce, açúcar,
grosso. Ponha dois ovos, sol, açúcar. manteiga e gema. Escalda-se a
A frigideira vai para o fogo com ;orna e vai-se amassando com erva-
azeite. Quando estiver quente, d-oce, açúcar, até adoçar. Põe-se a
dettese manteiga (uma colh•zr) e três gemas
uma colher da goma já preparada de ovos. Já com o taboleiro untado
na frigideira, deixa-se fritar, re· com manteiga, modela-se os
colhe-s•.: a um prato. Qu,erendo põe- sequilhos
, ' se açucar por cima. (Receita e leva-se ao forno. (Receita fornecida
proveniente pela senhora dona Virgínia Coelho,
do regiã·o do Manaquiri, cêrca Ma naus • 1962).
de Ma naus, 1962).
146. PE DE MOLEQUE de mocoxeiro
(doçaria). Rale a macaxeira e tire a
água num pano. Junte açúcar, sal e
erva-doce, m·ex<zndo bem até ligar
tudo. Arrume os pés de moleque na
fôlha de banana e asse no fôrno
que,n·
te, com cuidado para não queimar

Você também pode gostar