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Projeto

Acromatopsia
Caroline Padilha
Orientador Prof. Fabricio Marangon

Trabalho de Conclusão de Curso


Curso de Design
FIRB

São Paulo, 2017


Chanceler da Fundação de Rotarianos de São Paulo BANCA EXAMINADORA
Dr. Eduardo de Barros Pimentel
Caroline Padilha | Projeto Acromatopsia
Presidente da Fundação de Rotarianos de São Paulo
Dr. Nahid Chicani

Direção Geral Das Faculdades Integradas Rio Branco


Prof. Dr. Edman Altheman

Diretor Acadêmico
Prof. Dr. Alexandre Ratsuo Uehara

Coordenação do Curso de Design


Prof. Me. Paulo Carlos Pires da Costa Durão
Prof. Fabricio Marangon
Orientação
Prof. Fabricio Marangon
Prof. Alexandre Iervolino
Profa Dra. Virgínia Maria Antunes de Jesus

Prof. Iara Pierro de Camargo


SILVA, Caroline Padilha
Projeto Acromatopsia
Caroline Padilha - 2017
188 p. ; 21 cm x 21 cm

Monografia (Conclusão de Curso) - Curso de


Bacharelado em Design. Prof.
Faculdades Integradas Rio Branco, São Paulo, 2017.

Bibliografia: p. 183 - 187


1. Acromatopsia | 2.Identidade Visual | 3.Daltonismo

CDD - São Paulo, 07 de dezembro de 2017 | Faculdades Integradas Rio Branco
Agradecimentos

Agradeço especialmente os professores Fabrício Marangon, Virgínia


Maria Antunes de Jesus e Paulo Durão pelas orientações deste
trabalho e por terem transformado este processo árduo em uma
experiência prazerosa.

Aos professores Alexadre Alves, Teresita Hernández, Alexadre Iervolino,


Onofre Portella, Arianna, Marcos Jose Pereira e Iara Pierro de Camargo
por terem contribuído de forma importante e decisiva para minha
formação acadêmica.

À minha família sempre presente, Eliana, Johnny, Angélica e Leandro


que são os alicerces e a base da pessoa que me tornei.

À todos amigos que estiveram presentes e contribuíram no dia a dia


desta longa jornada.

Aos meus guias, por todo o conforto, apoio, e principalmente, por me


manterem centrada e ciente da capacidade que existe em mim.

À todas pessoas que pude conhecer por meio deste projeto,


principalmente aos portadores de acromatopsia que sempre foram
tão positivos e abertos em relação a pesquisa.
Tinha um céu,
mas não era azul
Resumo

Este trabalho propõe o estudo da acromatopsia e como sua influência


pode afetar o processo de aprendizado dos portadores, desde sua
infância até a fase adulta e como o design tem a chance de contribuir
realizando o projeto de uma linha de livros que visam estimular a
percepção sensorial, especialmente para crianças a partir de um
ano de vida. Esse material deve ser usado como apoio, trabalhando
em paralelo com o ensino base nacional e experiências adquiridas
ao decorrer da vida. Foi realizado com base numa ampla pesquisa
teórica, proveniente da psicologia e pedagogia, que destacam a
importância dos estímulos cerebrais e a forte representação da cor
que existe na sociedade em geral; além de pesquisa com portadores
da enfermidade em grupos de reconhecimento e materiais palpáveis.
A partir dessa coleta de dados, desenvolveu-se um experimento de
exploração sensorial e associação das cores. O projeto é pioneiro em
sua área de atuação e tem como objetivo principal sanar o vácuo
educacional do público acromata.

Palavras-chave: Acromatopsia, Daltonismo, Design de experiência,


Design inclusivo, Livro-objeto
Abstract

This paper proposes a look on the study of achromatopsia, and how


its influence can affect the learning process of its carriers, from their
childhood to adulthood, and how Design has the chance to contribute
by producing a line of books that stimulates sensory perception ,
especially for childrens from one year of life.
This material should be used as support, working in parallel with
national-based teaching and lifelong learning experiences. It was
based on a wide theoretical research, from psychology to pedagogy,
that emphasizes the importance of the brain stimuli and the strong
representation of the color on our society; in addition to the research
with disease patients in recognition groups and palpable materials.
From the data collected, an experiment of sensorial exploration and
association of colors was developed.
This project is pioneer and has as main objective to heal the
educational vacuum of the achromats.

Keywords: Achromatopsia, Colorblind, User experience, Design


universal , Object book
Sumário
3.0 Reflexões acerca do design sensorial............................................95

3.1 Introdução aos estudos de caso ..................................................95

3.2 Design de Experiência.......................................................................104


Introdução...........................................................................................15
3.3 Livro-objeto infantil como experiência sensorial.............108

3.4 Leis de inclusão.....................................................................................111

1.0 A cor para a visão humana...................................................................21

1.1 Cor ..................................................................................................................21 4.0 Projeto.............................................................................................................119


1.2 Funcionamento da visão humana...............................................24 4.1 Pesquisa de campo ..........................................................................120

1.3 Distúrbios da visão cromática.........................................................26 4.2 Diretrizes para a execução do projeto....................................123

1.4 Daltonismo acromático.......................................................................30 4.3 Identidade visual..................................................................................124

4.4 Volume I....................................................................................................135

4.5 Processos de produção e defesa de materiais..................141


2.0 Pedagogia e as cores................................................................................35
4.6 Situações de uso..................................................................................152
2.1 Pedagogia das cores ...........................................................................35

2.2 Psicologia das cores...............................................................................37

2.3 O simbolismo da cor como cultura.............................................76 Considerações finais....................................................................161


Anexos................................................................................................163
2.4 Educação ciência ..................................................................................81
Lista de figuras...............................................................................177
2.5 O lúdico como ferramenta pedagógica...................................89 Referências.......................................................................................183
ACROMATOPSIA | 15

Introdução

O design voltado para a sociedade, infelizmente, é ainda uma


realidade um pouco distante. O foco principal do ramo, gira em torno
do mercado consumidor, de cunho materialista e supérfluo às reais
necessidades humanas do ser. Sabemos que os padrões de mercado
tornam-se mais velozes e agressivos a cada dia, exercendo forte
pressão sobre o indivíduo, impondo modelos do que é necessário
para se viver e criando um looping infinito de oferta x procura fora da
realidade em que se encaixa boa parte da sociedade.

O designer influencia e compactua com esse processo diretamente,


e é responsável pelo seguimento e continuidade de muitos projetos
que incentivam esse padrão de consumo. Cabe a ele identificar reais
situações, direcionando seu campo de pesquisa, a fim de atender o
vácuo existente e acolher toda e qualquer necessidade, transformando
o design em ferramenta de inclusão.

Nesse contexto, abre-se espaço para tratarmos de minorias, sejam


elas de cunho religioso, étnico, gênero, idade, linguístico, condição
psíquica, física ou fisiológica. Nesta última, enquadra-se a síndrome
médica ocular acromatopsia, enfermidade rara que atinge cerca de
1% da população mundial. Ela é caracterizada pela incapacidade
na percepção de cores, resultando em uma visão monocromática e
fotossensível. Seus portadores em sua maioria apresentam uma série
de outras imperfeições da vista como o nistagmo e a baixa visão.

Para esse público, o processo educacional é percorrido com maior


dificuldade, principalmente na educação infantil, uma das mais
importantes e memoráveis. O modo como a criança é exposta a esse
universo, como é estimulada e amparada, resultará diretamente em
sua vida adulta e na compreensão do aspecto comum a todos.
16 | ACROMATOPSIA

Por isso, o objetivo desse projeto é criar um material de apoio


educacional destinado inteiramente ao portador de acromatopsia,
capaz de auxiliá-lo específica e inteiramente ao portador de
acromatopsia, capaz de auxiliá-lo específica e inteiramente em
cada fase de seu aprendizado. Ainda que existam diversos suportes
como livros e materiais didáticos atualmente no mercado, nenhum é
capaz de suprir diretamente a este público-alvo.

Para analisarmos o projeto em si, é válido conhecer todos os aspectos


da síndrome em questão, tal como a importância e o peso das cores
na vida de um receptor inteiramente saudável. Após esta etapa, abrir
caminhos para o design de experiência e como ele atua na solução de
problemas como este. Só então, explorar a fundo a proposta descrita,
como ela pretende atuar, seus conceitos e particularidades.
CAP 1 ACROMATOPSIA | 21

capítulo 1

1.0 A cor para a visão humana

A definição acerca do problema de estudo, a síndrome médica


acromatopsia, será desenvolvida sob informações fisiológicas, e sob
o aspecto da percepção do portador em relação a ela. Para uma
compreensão ampla, será descrito como ponto de referência o
entendimento de cor, os diferentes graus de daltonismo, em que se
inclui a acromatopsia, além do funcionamento total e saudável da
visão humana.

O estudo do público-alvo vai além do entendimento teórico, as


situações as quais são expostos, suas limitações e o manejar da
síndrome em paralelo às atividades habituais da vida cotidiana.

1.1 Cor

A variedade de conceitos empregados à cor, cria margem para largas


discussões divergentes sobre sua denominação precisa, mais do
que um fenômeno ótico, mais do que um instrumento técnico. O
significado de cor dado pelo dicionário PRIBERAM, 2013 é: Impressão
que a luz refletida pelos corpos produz no órgão da vista, e ainda,
coloração ou tonalidade que algo apresenta, geralmente por oposição
ao branco e ao preto. Goethe (1993, p.25) definie cor como uma
informação visual, causada por um estímulo físco, percebido pelos
olhos e decodificada pelo cérebro.

Entende-se que os olhos, funcionam como transmissor, uma extensão


que liga o estímulo físico da re-emissão de luz ao cérebro, que funciona
como decodificador, é ele o responsável por interpretar e transformar o
estímulo em sensação, criando efetivamente o efeito da  cor.
22 | ACROMATOPSIA CAP 1 ACROMATOPSIA | 23

mesmo diremos do preto, que representa a absorção total de


As cores são ações e paixões da luz. Nesse sentido, podemos todas as cores, a negação de todas elas. (FARINA,2011, p.78)
esperar delas alguma indicação sobre a luz. Na verdade, luz e
cores se relacionam perfeitamente, embora devamos pensá-las
como pertencendo à natureza em seu todo: é ela inteira que
cor - pigmento
assim quer se revelar ao sentido da visão. (GOETHE, 1993, p. 35)
Luz-pigmento é toda cor que tem sua luz refletida pelo corpo. Cada
A cor não tem existência material, é uma interpretação da luz visível pigmento, pode refratar, refletir ou absorver a luz incidente. Assim, por
localizada entre os raios infravermelhos e raios ultravioletas. O olho exemplo, uma superfície tida como azul, é a impressão resultante da
é capaz de perceber o espectro eletromagnético e as superfícies absorção de todos os comprimentos de onda, com exceção dos azuis.
dos corpos agem de modo seletivo em relação aos raios luminosos, Sua síntese subtrativa corresponde a cor preta, e suas cores primárias
podendo refleti-los ou absorvê-los, produzindo uma sensação. são amarelo, magenta e cyan. Exemplos: Tintas, obtidas da extração
da natureza.
Os sistemas de cores, são formas de organizar todas as qualidades
sobre a percepção cromática humana. O estímulo físico em questão, é
estudado a partir de duas classificações: cor-luz e cor-pigmento. círculos cromáticos
A visão colorida, na vida real, é parte integrante da nossa
experiência total, está ligada a nossas categorizações e valores, Ambas as existências de cor, primeiramente são dispostas em tríades
torna-se para cada um de nós uma parte de nossa vida e nosso de cores primárias, que somadas geram novas cores ditas secundárias
mundo, uma parte de nós. (SACKS, 2006, p.43) e terciárias, que são organizadas em círculos cromáticos.

Esses círculos são de grande importância para o estudo das cores,


cor - luz neles pode-se entender e trabalhar de forma dinâmica, reconhecendo
cores análogas, complementares, e as ligações geométricas que
permitem uma paleta harmônica.
Cor-luz é toda cor formada pela radiação luminosa direta. Suas cores
primárias são vermelho, verde e azul, e tem como síntese aditiva a luz
branca. Exemplos: Lâmpadas, luz solar, luz das estrelas, monitores,
fotografias...

Todas as cores que não percebemos estão presentes na


luz branca. Sua dispersão, isto é, a dispersão da luz, origina
o fenômeno do cromatismo. A luz branca, o branco que fig. 1
percebemos, é, portanto, acromático, isto é, não tem cor. O cor - pigmento
24 | ACROMATOPSIA CAP 1 ACROMATOPSIA | 25

Na parte interior, ele é coberto pela retina, que realiza a conexão


fig. 2
entre o biológico, o físico e o psicológico da visão. Essa é a estrutura
cor - luz
encarregada por transformar o estímulo em impulso nervoso que será
levado ao cérebro pelo nervo óptico. Apresenta cerca de 130 milhões
de células receptoras visuais sensíveis à luz, resumidas em cones,
bastonetes e células de ligação.

Um sistema de ordenamento da cor tem por intenção geral


incluir todas as cores, ao menos em forma teórica, em um modelo
topológico, prevendo uma posição específica para cada uma
delas e propondo alguma lógica que determine a organização
total. Estes modelos têm adotado, segundo diversos autores,
as mais variadas formas: escalas lineares, círculos cromáticos,
triângulos de cor, sólidos de cor. (GUIMARAES, 2001 ,p.57)

O olho humano é capaz de reconhecer 128 tonalidades de cores, para


conhecer e classificar essa grande gama de tons, foi desenvolvido uma
ciência chamada Colorimetria, que estuda dados como a temperatura,
saturação, luminosidade e outras tecnologias envolvidas na cor.

1.2 Funcionamento da visão humana

O olho humano é um instrumento de grande riqueza, apresenta alta


sensibilidade e precisão, desenvolvido para a percepção de cor e luz,
está localizado na caixa orbitária do crânio, e possui uma estrutura Os bastonetes são sensibilizados a partir de pouca luz, e são
fisiológica complexa. responsáveis também pela visão noturna, entretanto, não são capazes
de formar imagens nítidas ou reconhecer cor.
De modo simplificado, ele é composto por uma superfície
fotossensível (córnea) e uma lente (íris). Unidas, a córnea e a íris, Já os cones, são sensibilizados com uma grande quantia de luz e
são responsáveis por focar em estímulos luminosos. O comando de reconhecem detalhes, cor e contraste. Em sua eficiência total, são fig. 3
fechamento e abertura da pupila é feito pela íris, e se assemelha ao os responsáveis por uma visão cromática normal. Ambos estão Fisiologia do olho
movimento do diafragma em uma câmera fotográfica. localizados ao longo da retina, dispersos e de modo irregular. humano
26 | ACROMATOPSIA CAP 1 ACROMATOPSIA | 27

O daltonismo é uma herança genética de caráter comum que pode


As cores reconhecidas pelo olho são categorizadas em três diferentes
afetar homens e mulheres, mas em sua maioria, é encontrada em
tipos que diferem no comprimento de onda de luz, denominadas de
homens, isso porque tem herança autossômica recessiva; o gene
Teoria Tricromática da Visão Cromática. O primeiro tipo de cone é
característico está no cromossomo X. Enquanto o homem apresenta
sensível aos comprimentos vermelhos e laranjas, nomeados de R¹, o
apenas um, a mulher apresenta dois cromossomos X. Logo, para um
segundo responde aos comprimentos verdes e amarelos, nomeado
homem apresentar o daltonismo, basta o gene estar presente em
de G², e o terceiro aos comprimentos azuis e violetas, nomeado de B³.
seu cromossomo, já no caso da mulher, devem estar presentes em
Qualquer outra cor que o olho humano reconheça, é formado a partir
ambos os seus cromossomos X. Se a mulher apresentar o gene em
dessas três cores.
apenas um cromossomo, ela irá apenas servir como transporte para
No cérebro, fica localizada a área de projeção visual, que interpreta os uma geração futura, mas a enfermidade não será manifestada em si
impulsos neurais que partem da retina, completando então o ciclo de própria.
reconhecimento.
Em números, 95% dos daltônicos, são do sexo masculino, isso significa
As cores não estão “lá” no mundo, nem são (como sustentava em média, praticamente 10% da população masculina mundial.
a teoria clássica) um correlato automático do comprimento de Ele pode também ser adquirido ao longo da vida, em decorrência
onda, mas são construídas pelo cérebro. (SACKS, 2006, p.41) de algum possível dano químico ou físico nos olhos ou no cérebro.
Doenças como diabetes, glaucoma e esclerose múltipla são capazes
de desencadear o daltonismo.
1.3 Distúrbios da visão cromática
O daltonismo é então caracterizado pela dificuldade ou incapacidade
John Dalton foi o primeiro a descrever formas de confusão de cor, e de distinguir cores e tons. Fisiologicamente, isso se deve pela ausência
por esse motivo, o distúrbio que conhecemos hoje como daltonismo ou alteração na morfologia das células cones, responsáveis pela visão
é nomeado em sua homenagem. O assunto que era desconhecido cromática.
antes do século XVIII, passou a ser estudado em 1794 pelo cientista
físico e químico que era portador da anomalia, e até então, não sabia tratamento
o motivo de não reconhecer algumas cores. Foi então, que descreveu
o fenômeno da cegueira congênita das cores.Em termos científicos, é
Por hora, é considerado uma enfermidade sem cura. Existem, claro,
tratado como discromatopsia, mas usualmente, é reconhecido como
diversas alternativas e medidas estudadas para melhorar a qualidade
daltonismo.
de vida do daltônico e até uma representação fiel de como é a visão
A visão humana é considerada normal em relação à percepção de cromática em sua totalidade, mas todas elas vêm anexadas a algum
cores, quando uma pessoa é capaz de reconhecer com totalidade o tipo de acessório, como óculos ou lentes, por exemplo, que iremos
espectro solar, caso contrário, é considerada daltônica. descrever em introdução aos estudos de caso.
28 | ACROMATOPSIA CAP 1 ACROMATOPSIA | 29

classificação aprotanopia, deuteranopia e tritanopia.

Daltonismo acromático é caracterizado pela cegueira total no que


É possível categorizar os diferentes tipos de daltonismo de acordo diz respeito ao espectro de cores, enxergando apenas preto, branco
com o grau e a intensidade com que as células são afetadas, desde os e cinzento. Isso ocorre porque os cones responsáveis pela visão
que têm dificuldade de distinguir entre as cores vermelho e verde, ou cromática não correspondem às suas funções, sendo sua única base
as cores amarelo e azul, até a incapacidade total do reconhecimento de informação, a percepção dos bastonetes.
de cor.
A cor para os daltônicos com acromatopsia são vistas a partir de
uma escala de cinza, onde para cada cor terá um correspondente
Protanopia é a percepção anômala da cor VERMELHA, deficiência
de tom na escala, como Oliver Sacks (1997,p.55) escreveu em seu
total nesses cones, resultando na dificuldade de distinção da cor e
livro, a respeito dos testes aplicados na ocasião em que esteve
seus respectivos tons. A protanomalia segue o mesmo padrão, mas
em uma das ilhas do Pacífico, onde existem um número maior
em seus cones, há apenas danos parciais.
de portador de acromatopsia verificado no mundo inteiro. Oliver
Deuteranopia é a percepção anômala da cor VERDE, deficiência total relatou que para fazer o teste com o povo da ilha, eram usados
nesses cones, resultando na dificuldade de distinção da cor e seus cartões com uma série de quadrados cinza que variavam apenas
respectivos tons. A deuteranomalia segue o mesmo padrão, mas em no tom: cinza muito claro a muito escuro, chegando quase ao
seus cones, há apenas danos parciais. preto, com um orifício no centro. O teste consistia em colocar
folhas de papel coloridos atrás desses quadrados – onde um deles
Tritanopia é a percepção anômala da cor AZUL, deficiência total
combinaria com a cor cinza, resultado de uma densidade igual de
nesses cones, resultando na dificuldade de distinção da cor e seus
cor. Observou que para a cor laranja foi indicado um cinza médio.
respectivos tons. A tritanomalia segue o mesmo padrão, mas em seus
(POLIDORO; NOGGOSZEKI, 2011, p.28)
cones, há apenas danos parciais.

Dentre essas percepções de danos, há ainda a classificação quanto a diagnóstico


quantia de receptores ativos ou danosos.
O diagnóstico da doença, tem a função de caracterizar o tipo, o
Daltonismo tricomático é o mais comum, nesse caso, a pessoa
grau, a origem e classificá-lo em congênito ou adquirido. Só assim,
possui todos os receptores, mas em algum deles, há danos que
é possível encaminhar o daltônico para uma direção efetiva de
comprometem seu funcionamento. Nesse caso, se enquadram a
reposicionamento, pertinente às suas limitações.
protanomalia, deuteranomalia e tritanomalia.
O diagnóstico e a categorização de um distúrbio da visão acromática é
Daltonismo dicromático não apresenta um dos três receptores, e por
uma tarefa que exige vasto conhecimento. Infelizmente, não existe um
isso, não enxerga em totalidade uma cor e seus tons. Se enquadram,
teste de cores ideal capaz de distinguir e indicar com precisão. Assim,
30 | ACROMATOPSIA CAP 1 ACROMATOPSIA | 31

¹ O exame é feito com o suporte o uso de dois ou mais testes complementares, tais como o teste que não surtirão efeito, e até mesmo o diagnóstico de alguma outra
de cartões coloridos, cada um de cores de Ishihara¹, anomaloscópio de Nagel², lãs de Holmgreen³, enfermidade, até que se chegue ao veredito final.
possui inúmeros círculos feitos
de cores ligeiramente diferentes seriam idealmente necessário para um diagnóstico certeiro, mas
Segundo pesquisa desenvolvida por alunas da Universidade Federal
das cores daqueles situados colocado muito poucas vezes em prática na saúde atual.
nas proximidades. No mesmo de Minas Gerais, a idade na primeira consulta varia de 3 a 25 anos,
padrão, alguns desses círculos
são agrupados no meio do com média de 10,3 e mediana de 9 anos. Apenas um paciente (5,9%)
cartão formando um número veio encaminhado com o diagnóstico de acromatopsia. Seis pacientes
visível apenas para pessoas aptas
a diferenciar totalidades de cor, (35,3%) foram inicialmente diagnosticados como nistagmo congênito,
que possuam visão cromática
total. Recebe esse nome, pois
três (17,6%) como distrofia de cones, dois (11,8%) como baixa
foi desenvolvido pelo professor acuidade visual a esclarecer, dois (11,8%) como distrofia a esclarecer,
da Universidade de Tóquio, em
dois (11,8%) como maculopatia e um (5,9%) como distrofia mista. fig. 5
1917, o Dr. Shinobu Ishihara.
Anomaloscópio de Nagel
Foi constatado também, a grande dificuldade em diferenciar a
² O exame é realizado por
um aparelho, que divide o
acromatopsia e a distrofia de cones por conta das alterações em seus
campo de visão do paciente exames e na semelhança de seus sintomas.
em dois, sendo que uma
delas é iluminada por uma
luz monocromática amarela 1.4 Daltonismo acromático É importante acompanhar o portador desde sua infância, estar atento
e a outra por diversas luzes à suas dificuldades e confusões, pois o histórico é um dos fatores mais
monocromáticas verdes
e vermelhas. O paciente fortes e determinantes para um diagnóstico correto. Devido a falta
O daltonismo acromático é o grau mais forte dentre suas categorias, e
então, deve tentar igualar de atenção em relação ao histórico do portador, muitas pessoas são
as tonalidades de ambos os também o mais raro. Atualmente, é ativo em apenas 1% da população
campos. Após a comparação da reconhecidas como acromatas apenas após a alfabetização.
tonalidade real e a visualizada mundial, em números equivalem a 7 milhões de pessoas, o suficiente
pelo paciente, é possível para povoar a cidade de Hong Kong, na China. O único exame clínico capaz de reconhecer a enfermidade e classificar
detectar qual o tipo e o grau de
daltonismo. Desenvolvido pelo seus níveis desde a infância, é o eletrorretinograma (ERG) de campo fig. 6
oftalmologista alemão Willibald Como decorrência da sua enfermidade de origem, é também mais
total. Outros exames complementares podem ser feitos para se
Nagel. presente no sexo masculino, manifestando-se em aproximadamente Lãs de Holmgreen
aumentar a veracidade do resultado, como autofluorescência e
setenta e cinco homens, a cada uma mulher. Em relação a sua
tomografia de coerência óptica fourrier domain. É válido também o
³ O exame consiste na avaliação progressão, é considerada estável em termos de acuidade visual.
da possibilidade de separar fios diagnóstico por teste genético para classificação exata do subtipo,
de lã de diferentes cores, criado
O diagnóstico do daltonismo acromático, é ainda mais precário e definição do genótipo e fenótipo do portador.
pelo fisiologista sueca Alarik
Fritniof Holmgreen. difícil, em relação aos outros graus. A fundoscopia (exame do fundo do
As sensações visuais acromáticas podem ser definidas como a
olho) geralmente é normal ou apresenta mínimas alterações, sendo
interpretação da dimensão da luminosidade, elas não são cores
limitada a análise de primeira instância. A falta de conhecimento da
fig. 4 propriamente. Nelas, estão incluídos todos os tons que existem
doença, é mais um fator agravante que favorece o diagnóstico tardio
Teste de cores de entre a cor preta e a cor branca, desde o cinza-claro até o cinza-
e muitas vezes errôneo, deixando o paciente à deriva de tratamentos
Ishihara
32 | ACROMATOPSIA

4
Oscilações de movimentos escuro, criando a escala acromática com ampla variação de luz. A
involuntárias do globo ocular, acromatopsia pode então ser descrita como a cegueira das cores.
geralmente de um lado para o
outro, o que atrapalha na etapa
de focagem de imagens Por ser uma visão baseada apenas nas informações receptivas
recebidas pelas células bastonetes, a acromatopsia aparece
frequentemente interligada já na primeira infância aos defeitos do
Impossibilidade de reconhecer
campo visual como a baixa visão, nistagmo ocular4,prosopagnosia5,
5

rostos, causada por algum tipo


de lesão cerebral ou doença fotofobia6 e altos graus de hipermetropia7. A acuidade visual em geral
neurológica.
se situa em torno de 20/200, mas em ambientes com pouca luz, tende
a aumentar, entretanto, é possível que exista acromatopsia plena com
conservação total da acuidade visual e da visão detalhada para formas
6
Extrema sensibilidade ou até
mesmo aversão a qualquer (SACKS,1995).
fonte de luz causada por
uma disfunção na retina. No reino animal, decorrente da fisiologia diferente, os animais não
Está associada a algumas
causas oftalmológicas como enxergam as cores da mesma forma que nós seres humanos. A lenda
acromatopsia, astigmatismo, de que cachorros possuem visão acromática é falsa, boa parte dos
catarata, glaucoma, meningite,
etc. mamíferos possuem visão dicromática, isso significa que são capazes
de fazer distinção entre algumas cores. Em contrapartida, possuem
uma ótima visão noturna, o que no reino animal, é muito mais
7
Dificuldade de enxergar de vantajoso. O correto, é dizer que roedores e golfinhos são acromatas,
perto.
completamente daltônicos.
CAP 2 ACROMATOPSIA | 35

capítulo 2

2.0 Pedagogia e as cores


Analisar e refletir o peso da cor na sociedade atual, é importante
para compreender a validade e a grandiosidade do projeto final. A
cor como objeto de influência em nossas vidas e escolhas, seu poder
de transmitir informações, sentimentos e sensações, sem limites de
barreiras linguísticas e etimológicas.

Compreender como o processo educacional para portadores de


acromatopsia é diferenciado, e como a educação tem o poder de
ultrapassar limites e transformar o inalcançável em acessível. Como
diferentes processos e formatos educacionais resultam positivamente
na vida das crianças, atrelados a interpretação do mundo cromático.

2.1 Pedagogia das cores

Estudar e compreender a natureza das cores, é essencial para


percebê-las de modo completo, indo além das nossas preferências
pessoais. O estudo das cores está diretamente associado às nossas
respostas fisiológicas e psicológicas, essencialmente dependente da
percepção que tem o observador após o estímulo.

Na educação infantil, crianças expostas a estímulos de cor, tem maior


capacidade de desenvolvimento motor e cognitivo, audição, fala,
aperfeiçoamento do raciocínio e demais capacidades.

As cores simplificam o processo de aprendizado e associação dos


ensinamentos dentro e fora de casa, mas é importante que pais e
36 | ACROMATOPSIA CAP 2 ACROMATOPSIA | 37

educadores estejam equipados e preparados para manejar a cor como A educação colorida não tem a intenção de alterar o currículo escolar,
uma ferramenta forte e importante na educação. apenas auxiliar e acrescentar informação e cor no comum ambiente
ormando um ser completamente são de suas capacidades e educacional, seja ele escolar ou não.
harmônico em suas ações, transformando o processo de aprendizado
em algo agradável e prazeroso para aprendiz e mentor.
2.2 Psicologia das cores
Na pedagogia, a cor como ferramenta se comporta de forma lúdica, o
que moderniza e renova o trabalho na educação infantil, contribuindo No ano de 1666, Isaac Newton (1643-1727) deu início aos estudos das
para o desenvolvimento da criança enquanto ser ativo, possibilitando cores quando observou que a luz branca ao passar por um prisma,
autonomia, conhecimento e expressão. separava-se em diversas cores, e mais tarde ainda, que essas cores,
podiam ser construídas juntas, no processo de adição e subtração.
[...] o pensamento bem orientado sobre a cor e o conhecimento
das suas potencialidades são necessários para salvar-nos da visão
unilateral e do erro de informação sobre à cor quando julgada
pelo gosto isolado. [...] Se podemos encontrar leis objetivas de
validade geral no domínio das cores, então é nosso dever estudá-
las. (GOETHE, 1993, p.26)

Cor como ferramenta de ensino, funciona trabalhando de dentro para


fora, com o objetivo de capacitar o receptor a filtrar estímulos em úteis
e inúteis.

A pedagogia das cores, defende o estudo da percepção, que pode


ser descrito como a elaboração, o detalhamento e a sintetização
da sensação. A sensação, por sua vez, é o primeiro reconhecimento
adquirido por meio dos cinco sentidos que são visão, audição, olfato,
paladar e tato. Há uma sutil, mas significativa diferença entre elas, fig. 7
principalmente acerca das questões que envolvem as formas de Experiência de Isaac
apreensão da informação, e como ela é sintetizada e interpretada. Newton

A hipótese da habilidade afirma que saber como é uma


Já em 1790, o cientista e poeta alemão Johann Wolfgang von
experiência é simplesmente a possessão das habilidades de
Goethe (1749-1832), começou a se questionar sobre a então Teoria
recordar, imaginar e reconhecer. Não é a possessão de qualquer
Newtoniana da cor e inicia uma longa e profunda pesquisa acerca do
tipo de informação, ordinária ou peculiar. [...] Não é um saber
assunto, que o acompanha até o final de sua vida.
que. É um saber como. (LEWIS, 2002, p.293)
38 | ACROMATOPSIA CAP 2 ACROMATOPSIA | 39

Essa incompatibilidade entre teoria clássica da cor e a realidade A psicologia das cores é então, caracterizada pelo estudo dessas, e
impressionou Goethe no final do século XVIII. Com uma forte pela classificação minuciosa de suas capacidades em nosso cérebro.
consciência da realidade das cores, dos efeitos da contiguidade De acordo com a escritora Luciana Silveira (2011), cada cor tem
e da persistência retiniana das cores, das ilusões com cores e sua história, marcada por hábitos e significados, e esse carácter de
outras ilusões visuais, ele sentiu que estas deveriam ser a base bagagem é o que nos possibilita o estudo individual de cada uma
para uma teoria da cor e declarou seu credo: “ A ilusão de óptica delas. As cores influenciam tudo, possuem capacidade de modelar
é a verdade óptica! ”. Goethe estava preocupado sobretudo com nossa percepção, acidental ou intencionalmente.
a maneira como na realidade vemos as cores e a luz, as formas
como criamos mundos, e as ilusões, em cores. Sentia que isso
A construção e atribuição de interpretações das cores, causam efeitos
não era explicável pela física de Newton, mas somente por
comprovados, tanto fisiológicos quanto psicológicos, e é exatamente
regras ainda desconhecidas do cérebro. O que estava dizendo na
nessa direção, que iremos aprofundar nossos estudos
realidade era: “A ilusão visual é uma verdade neurológica. (SACKS, A cor é um fator de estímulo num ambiente e as pessoas
2006, p.34) buscam estímulos o tempo todo. Para as pessoas sem deficiência
visual, cerca de 80% do que percebem é através da visão e a
Foi ele o responsável pela Teoria da Cor descrita como conhecemos
cor é um atributo importante nesta relação. Tem influência na
hoje, que nos diz também sobre a percepção que temos do objeto
percepção da harmonia dos espaços e no bem estar do usuário.
cor, e não somente da luz e do ambiente, sugerindo um espectro
Podemos utilizá-la com diversos fins, para favorecer desempenho,
multidisciplinar para inúmeros tratamentos do fenômeno. Quando
relaxamento, atividade, etc. (FONSECA; PORTO, 2007, p.1)
Goethe deu início aos seus estudos, a cor era relacionada unicamente
ao fenômeno físico (concepção newtoniana), e só então, pode Os variados pontos da simbologia da cor, são resultado da junção
ser relacionada à diversas áreas do conhecimento, em especial, a de determinados valores associados aos sinais e formas, que juntos
psicologia e a fisiologia. Essa nova era de Goethe, é intitulada de compõe tais sistemas ou códigos. Podemos entender assim, que a
Doutrina das cores. simbologia da cor desde os primórdios da civilização humana, nasceu
Podemos classificar então a teoria de Isaac Newton como a origem, de analogias representativas e se desenvolveu posteriormente para
direcionado à análise da natureza da luz, e posteriormente a teoria relativa independência. Como defende o autor Israel Pedrosa (2014)
de Goethe como o significado, direcionado ao fenômeno percebido e o significado das cores nunca teve vida autônoma que iniciasse e
sentido pelo homem, através da cor. terminasse o seu ciclo de ação no próprio âmbito das ideias.

Logo, podemos compreender, que gosto estético pessoal é


fig. 8 [...] cada cor produz um efeito específico sobre o homem ao
revelar sua essência tanto para o olho quanto para o espírito.
contraditório, pois todas nossas preferências são bagagens e influência
Círculo cromático de
Conclui-se daí que as cores podem ser utilizadas para certos fins
de gosto coletivo, assunto que trataremos com riqueza no capítulo
Goethe reproduzido por
sensíveis, morais e estéticos. (GOETHE, 1993, p.154)
seguinte.
Ivette Noemi Alvarado
40 | ACROMATOPSIA

A cor por si só, é capaz de estimular áreas diferentes do nosso cérebro.


Em essência, é muito mais do que um fenômeno óptico. Cada cor
possui uma vibração que atinge nosso corpo e mente e ativa nossas
funções e glândulas, se relacionando diretamente com os sistemas do
corpo humano.

As ondas eletromagnéticas (visíveis e não visíveis) atuam nos


seres humanos desencadeando vários estímulos. Através da
pele, ele viabiliza a produção de vitaminas e outros processos
químicos e, através dos olhos, onde a radiação visível penetra
mais incisivamente, ela estimula reações no corpo e o processo
da visão. (NAKAYAMA, 2007, p.1)

É de conhecimento popular, que no passado, chineses e egípcios


faziam uso das cores com o propósito de cura, de induzir ou favorecer
determinados estados da consciência humana ou direcionar a um
estado emocional particular. Atualmente, esses processos não são
muito diferentes, com aplicações específicas dentro do marketing,
ambientes e no meio cultural em geral. De acordo com Kandiski
(1996, p. 68), a cor exerce influência diretamente sobre nossa alma “[...]
a cor é tela, o olho é o martelo, e a alma é o piano com suas cordas[...]”

A percepção humana da cor, se processa baseada em três níveis de


simbolismos que são o inconsciente coletivo, associações e influência
dos modos e costumes. Será apresentado a seguir, o simbolismo
psicológico de conhecimento popular das principais oito cores que
estão presentes em nossa vida; vermelho, laranja, amarelo, azul, verde,
violeta, preto, branco e a percepção do cinza.
CAP 2 ACROMATOPSIA | 43

VERMELHO

O vermelho é uma cor primitiva, pois está presente no espectro solar,


é a mais antiga denominação cromática. Ele não irradia luz, contém
sua força em si próprio, o que o torna a mais saturada das cores. É
supostamente também, a cor que os bebês enxergam primeiro.

O vermelho é a cor por excelência, a cor arquetípica, a primeira


de todas as cores. [...] O vermelho é o mais fortemente conotado
de todos os termos de cor, mais ainda do que o preto ou branco.
(PASTOUREAU, 1997, p.160)

Fisiologicamente, é capaz de aumentar a respiração e estimular


o aumento de frequência cardíaca. O vermelho simbólico está
diretamente associado a duas vivências elementares, o sangue e o
fogo.

Cor relacionada ao amor e ao ódio, de muitas e fortes emoções,


cheio de sentimentos, nos remete a vida ligada ao sangue, ao calor
extremo provido do fogo, ao perigo, nos deixa em estado de alerta,
em atenção. O vermelho sinaliza proibição do toque porque é a cor
do fogo.É empregado justamente nesse sentido comercial, atraindo
compradores compulsivos, alertando para liquidações e promoções, e
em restaurantes, usado para estimular o apetite.

O vermelho está associado ao formato quadrado dentro das formas


geométricas. O quadrado não é uma forma natural, mas sempre forte
em seus ângulos e planos. A associação de cores e formas geométricas
nada mais é do que abstrata, mas válida para um estudo mais amplo
e diversificado.
fig. 9
Representação gráfica
da cor vermelha
CAP 2 ACROMATOPSIA | 47

LARANJA

Cor de caráter quente, cria a impressão de ser maior do que realmente


é devido à sua característica luminosa. Transmite equilíbrio, alegria
e energia. É ainda menos excitante que o vermelho, mas tão
entusiasmante quanto. É uma cor de cunho ativo e sociável.

Laranja é também uma fruta, o que nos leva a associar tanto seu
aroma doce e cítrico quanto sua textura irregular e sabor.Em nosso
corpo, o laranja é reflexo do otimismo, pode aumentar a confiança e
estimular o sistema respiratório.

O laranja está associado ao retângulo, é próximo ao quadrado


vermelho, mas possui mais massa, criando uma ilusão de grandeza
associada à sua alta luminosidade.
fig. 10
Representação gráfica
da cor laranja
CAP 2 ACROMATOPSIA | 51

AMARELO

O amarelo assim como o vermelho é considerada cor primária por


fazer parte do espectro solar. É a mais clara de todas as cores e numa
escala de tons, é a que mais pode se comparar e aproximar do branco,
mas é em contrapartida, a cor mais instável.

A ele estão associados três ícones simbólicos muito fortes, o sol, o


ouro e a luz. Assim como o sol, o amarelo é revigorante, quente, claro.
É uma cor inteligente, capaz de causar alegria e ativar nosso lado
criativo. Fisiologicamente, capaz de acalmar o corpo de um estado
agitado e até diminuir dores de cabeça.

Como cor do ouro, está associada a elementos ricos, de credibilidade,


ótima para ser empregada por marcas que querem se fixar no
mercado.

O amarelo é relacionado ao triângulo. Pela sua alta clareza, reproduz


uma imagem aguda, simbolicamente, como o olho de Deus,
posicionado no centro do triângulo como centro de luz.

Das cores, é a mais palpável, porque é a cor do ouro, da terra, a mais


concreta dentre elas.
fig. 11
Representação gráfica
da cor amarela
CAP 2 ACROMATOPSIA | 55

AZUL

Segundo pesquisa desenvolvida pela escritora Eva Heller (2013) o azul


é a preferida entre as cores. É a cor predileta de 46% dos homens e
44% das mulheres

O azul é a mais fria das cores, associada a paz, tecnologia e água. É a


cor do céu sem nuvens, transmite a sensação do movimento para o
infinito. Não pode ser tocado porque é a cor do ar, distante e fluídica.

De acordo com Lilian Ried Miller Barros (2006) o azul se mostra como
uma cor imaterial, capaz de despertar no ser humano um profundo
desejo de pureza e de contato com o divino.

É uma cor que transmite frescor e limpeza, capaz de despertar a


produtividade do homem e transmitir sucesso. O azul carrega uma
percepção emocional associada a ternura, simbolicamente é a ponte
do espírito calmo.

No mercado é usado com o objetivo de criar um senso de


segurança, de confiança, algo que podemos confiar instintivamente.
É representada geometricamente pelo círculo, pois sua imagem
material é difusa.
fig. 12
Representação gráfica
da cor azul
CAP 2 ACROMATOPSIA | 59

VERDE

O verde também é uma cor primária, e é considerada a cor de mais


alta visibilidade. É a cor que mais possibilita variações, intermediário
no sentido de temperatura, nem quente, nem frio, de temperatura
extremamente agradável.

Mais do que cor, o verde é visto como associado direto a natureza


e tudo ligado a ela, à saúde e a vida. É uma cor fresca, natural, que
relaxa e alivia o stress.

Os movimentos horizontais anulam-se. Assim como se anulam


os movimentos excêntricos e concêntricos. Tudo fica em repouso
[...] A passividade é a característica dominante do verde absoluto.
(KANDINSKY, 2015, p.87-9)

É a mais calma dentre as cores, caracterizada pelo repouso, e no corpo


humano, representa exatamente isso, sem extremos, sem desejos,
portanto imóvel e passivo.

O verde adota a forma hexagonal, sem causar estranheza ou


movimentação ao olhar.
fig. 13
Representação gráfica
da cor verde
CAP 2 ACROMATOPSIA | 63

VIOLETA

Violeta é o nome genérico que recebem todas as tonalidades


resultantes da união do azul e do vermelho. Ela é sem dúvidas a cor
que mais carrega simbolismos, formada pela união do vermelho
e do azul, do feminino e do masculino, da espiritualidade e da
sensualidade. Essa união de opostos, colabora para uma visão da cor
como mística, exótica, lúdica.

Na natureza, é uma das cores mais raras e singulares, personificada no


formato oval dentre as formas geométricas. O violeta é a cor extrema
do espectro visível, limitando com os raios ultravioleta.

Fisiologicamente, o violeta ativa em nosso cérebro áreas de resoluções


de problemas e de criatividade, sendo associada ao universo da
imaginação.

O violeta é a cor que representa a nobreza, a sabedoria, a riqueza,


segundo Eva Heller (2013) ninguém veste violeta de forma impensada,
quem veste violeta quer chamar atenção.
fig. 14
Representação gráfica
da cor violeta
CAP 2 ACROMATOPSIA | 67

PRETO

O preto não é necessariamente cor, sua existência está associada a


ausência total da luz. Na natureza, o preto absoluto não existe. Já dizia
Batista da Costa “O preto na luz é mais claro que o branco na sombra”.

O preto encontra sua força máxima em contrapartida ao branco,


extremo assim como ele, demarca o fim da escala cromática. Assim
como diz a escritora Eva Heller (2013) tudo termina em preto, sejam
as plantas murchas, a carne decomposta ou o dente cariado.

É a cor que nega todos os positivos, que potencializa seus efeitos. É


uma pausa infinita, o silêncio absoluto, está associada à morte e a
violência. Segundo Kandinsky: “ O preto é como uma fogueira extinta,
consumida, [...] imóvel e insensível como um cadáver sobre o qual
tudo resvala e mais nada afeta”. Psicologicamente, é a cor da perda
irreparável, ativa emoções angustiantes.

Em contrapartida, é a cor mais escolhida para roupas. Quem veste


preto não se preocupa em externalizar sua personalidade, não se
preocupa em se tornar interessante pelas cores que usa. O preto é a
cor menos dependente da moda, por isso tem se tornada cada vez
mais vista como individual e escolhida principalmente entre os jovens.

O preto é uma cor que carrega elegância, sofisticação, que funciona


muito bem no minimalismo e também na manipulação de outras
cores. No design, é uma das cores mais trabalhadas por ser versátil e
flexível.
fig. 15
Representação gráfica
da cor preta
CAP 2 ACROMATOPSIA | 71

BRANCO

O branco é a mais perfeita dentre as cores, não existe ideia de branco


com conotação negativa. Como positivo do preto, o branco também
não é necessariamente considerado cor, ele é a soma de todas elas.

Nas associações de Kandinsky, o branco significa pureza sem mácula,


a alegria, o início e a eterna possibilidade, a esperança. Um estado de
quietude e completa paz.

Ele é o ponto extremo de qualquer escala, se encaixando em


associações de nascimento, morte e renascimento. É a cor da
pureza, da inocência, a cor imaculada, uma expectativa de algo
a se desenrolar. No design, o branco e o preto funcionam como
libertadores, não desviam a atenção, são simples, minimalistas e
atemporais.
fig. 16
Representação gráfica
da cor branca
CAP 2 ACROMATOPSIA | 75

CINZA
Não é sem razão que o banco é o ornamento da alegria e da
pureza sem mancha, e o preto o do luto, da aflição profunda,
símbolo da morte. O equilíbrio destas duas cores, obtido por
uma mistura mecânica, dá o cinza. É natural que uma cor
assim produzida não tenha nem som exterior nem movimento.
(KANDISKY, 2015, p.70,71)

Na pesquisa da escritora Eva Heller (2013) o cinza foi citado como


cor favorita em apenas 1% dentre os homens, não sendo citada pelas
mulheres como favorita.

O cinza é visto como uma cor sem personalidade, fraca de bagagem.


Ela suja o branco puro, e enfraquece o poder do preto. No cinza, nada fig. 17
é definido, tudo é vago, sem caráter. Propriamente, nem sequer é cor, Representação gráfica
é uma cor acromática. da cor cinza
76 | ACROMATOPSIA CAP 2 ACROMATOPSIA | 77

2.3 O simbolismo da cor como cultura de difícil compreensão, a comprovação de uma cor vista como bela
ou não, favorita ou não, partindo de um ponto onde a sociedade já
carrega grande bagagem e que nossa preferência pessoal pode e
A simbologia das cores entra nesse aspecto em sua maior
é influenciada forte e constantemente por símbolos e signos que
contribuição e qualificação para a organização social, transformando
nos cercam em todos os aspectos da vida coletiva. O que vemos
toda sua bagagem elementar em informação cultural.
e as escolhas que fazemos, sofrem em parte com a influência do
Por esse olhar, é válido dizer que, essa simbologia depende da meio cromático, pois a disposição e aplicação das cores, não são
transmissão e do armazenamento de seu significado, que pode ser meramente escolhidas pelo acaso.
fixado por longos períodos ou ser válido por um período de tempo
É certo que não há uma fidelidade absoluta na oposição cultural das
menor, variar geograficamente, etariamente, ou por qualquer outra
cores, mas ainda assim, as cores são passíveis de classificação, mesmo
adversidade que interfira naqueles que participam ativamente do
que em um nível subjetivo. Em um exemplo usado por Luciano
processo de comunicação.
Guimarães (2001) fica claro o peso assimétrico na utilização das cores,
A materialização de significados das cores, está diretamente ligada na sinalização de trânsito por exemplo, o verde recebe valoração
ao tempo e grau de desenvoltura cultural e social da sociedade a positiva significado de permissão e o vermelho valoração negativa
qual pertence. O significado das cores não nasce de modo autônomo, significado de proibição. São significados opostos, mas o vermelho
ele é inteiramente dependente da analogia e adoção consciente de exerce nitidamente um peso mais forte. É observado o teor binário fig. 18
determinados valores pré validados e praticados pela sociedade, inserido no simbolismo das cores, exercendo dois sentidos opostos em Exemplo de consumo
qualificados na utilização. uma mesma cor: um sentido negativo e outro positivo, como amor e sexista masculino
ódio representados pelo vermelho.
As cores podem ter significados mais concretos por via de analogias
representativas ou mais subjetivos, já em um nível maior de Uma das mais fortes e também a mais discriminatória utilização da
independência relacional. Ambos são validados pela sociedade, não cor como informação cultural, é a ultrapassada versão da cor como
sendo colocados em prova ou verificação de autenticidade. Uma cor instrumento do sexismo. Desde pequenos, somos direcionados a viver
carrega uma bagagem simbólica, se assim a sociedade o fizer. em um ambiente rosa, cercado de roupas, brinquedos e tonalidades
rosa, se nosso sexo foi definido como feminino. Caso contrário, no sexo
Historicamente, a maioria das cores carrega o sentido original e vão
masculino, somos expostos ao ambiente de cor azul. Essa proposta
se enriquecendo e adaptando conforme a evolução espiritual, social
de diferenciação, vem desde a Primeira Guerra Mundial, onde os tons
e cultural dos povos, representando fielmente os momentos de
usados para bebês deixaram de ser brancos e passaram a se dividir
transição da sociedade.
entre rosa e azul conforme o sexo da criança. Foi nos anos oitenta que
Nesse contexto, esbarramos com as influências coletivas e as essa classificação ganhou o mundo, deixando qualquer outra cor, não fig. 19
particularidades pessoais, em uma contradição de averiguação natural ao sexo das crianças.
Exemplo de consumo
psicológica de preferência e favoritismo das cores. É muito vago e sexista feminino
78 | ACROMATOPSIA CAP 2 ACROMATOPSIA | 79

A definição da OIT (Organização Internacional do Trabalho) das freiras, adicionando mais interpretações de pureza e virgindade
sobre gênero é que: Gênero é um conceito que se refere ao ao branco da noiva. Hoje, muitas noivas não se importam com esse
conjunto de atributos negativos ou positivos que se aplicam conceito, mas ainda idealizam o vestido ideal como branco por outras
diferencialmente a homens e mulheres, inclusive desde o razões, e nesse caso, a cor como informação cultural, ainda é muito
momento do nascimento, e determinam as funções, papéis, forte e presente.
ocupações e as relações que homens e mulheres desempenham
na sociedade e entre eles mesmos. Esses papéis e relações não
Ainda em relação ao branco, temos casos extremos de simbolismos.
são determinados pela biologia, mas sim, pelo contexto social,
Na cidade de São Paulo, os táxis são popularmente brancos, mas na
cultural, político, religioso e econômico de cada organização
cidade do Rio de Janeiro por exemplo, são amarelos. O uniforme de
humana e são passadas de uma geração a outra... Gênero são as
médicos, veterinários, dentistas, são também em geral brancos, pois
valorizações e definições construídas pela sociedade para moldar
transmitem a sensação de clareza, limpeza e não dispersam a atenção.
o perfil do que é ser homem ou ser mulher nessa sociedade. A As cores nos cultos afro-brasileiros possuem um simbolismo forte
identidade de gênero é desenvolvida durante a infância e a vida e importante papel no desenvolvimento dos mesmos. As cores
adulta. (RABELO, 2008, p.154 apud OIT/MTb, 1998, p. 12-3 citado estão associadas às divindades, e estão presentes nas decorações
por Yannoulas, 2001, p. 70). dos terreiros, nos adornos e paramentos, nos objetos sagrados, e
Essa forma de utilização da cor como cultura, é extremamente vestimentas. Oxalá que tem seu sincretismo em Cristo, é representado
discriminatória, pois reduz e trata de forma preconceituosa um grupo, com vestes e auras brancas. Oxalá é a divindade da criação e assim
nesse caso apenas pelo gênero, além de limitar o desenvolvimento como na religião católica, é associado a cor branca.
infantil em relação a igualdade e equilíbrio das diferenças. Os santos africanos (orixás jeje-nagôs) têm suas cores, e suas filhas
usam essas cores como os fidalgos usavam as cores das casas
O preto por sua vez, é utilizado como forma de externar sentimento
onde serviam como vassalos. Oxalá é branco, Xangô é vermelho,
de tristeza em situações de morte como sinal de luto. Essa atitude,
Omulu é preta, Anamburucu é azul-escuro. (CASCUDO, 1962,
remete a não utilização de cores alegres, em respeito pela morte
p.241)
terrena. Esse costume assim como vários outros, se difere em algumas
culturas, como o budismo por exemplo, que em situações como
essa, utiliza o branco, pois acredita que a morte é o caminho para a
perfeição e a encara com paz e alegria.

No século XIX se iniciou a tradição de vestimenta branca para noivas,


fig. 20 com o casamento da rainha Vitória da Inglaterra, em 1840, que foi
fig. 21
Noiva vestindo o uma das primeiras nobres a se casar por amor. Além do vestido,
tradicional vestido As cores são associadas também aos centros de energia conectados Orixás e suas respectivas
Vitória se dirigiu ao altar usando um véu, fazendo referência ao véu
branco ao nosso corpo, conhecidos como Chakras. Ao total, temos em cores
80 | ACROMATOPSIA CAP 2 ACROMATOPSIA | 81

nosso corpo, sete chakras, cada um representado por uma cor, que tem o poder de nos conectar com povos e culturas diversas sem sair
absorvem energia proveniente do sol (prana) e alimentam nossa alma do lugar, enriquece o nosso intelecto, nos ensina e nos possibilita
energética e espiritualmente. ensinar de modo ativo, transforma tudo com a sua presença, com o
seu singelo toque.
O primeiro chakra, muladhara, é vermelho, o segundo chakra,
swadhistana, é laranja, o terceiro, manipura, é amarelo, o quarto, Ao analisar e perceber a grandiosidade da cor, podemos compreender
anahata, é verde, o quinto, vishudda, é azul-claro, o sexto, ajña, azul- a gravidade de um mundo acromático. Suas consequências são fortes
índigo e o sétimo e último, sahasrara, é violeta. o suficiente a ponto de prejudicar a vida coletiva e individual. Estar
em mundo colorido, e ser privado de cor, provocam uma queda nas
Com esse pequeno estudo de caso sobre como as cores se comportam
experiências físicas e psicológicas em um percentual desastroso. Essa
sendo meio de informação, fica mais claro o seu peso e sua influência
privação provoca inúmeras compreensões prejudicadas.
direta sobre nossas vidas e costumes. A cor exerce poder sobre todas
as áreas às quais estamos inseridos, fazendo parte integral da nossa Para o olho saudável em sua totalidade, a cor passa a ser vista
rotina e sendo uma grande ponte entre o meio externo e o meio como algo corriqueiro, sem valor, se torna habitual e aos poucos vai
interno. perdendo seus encantos e suas riquezas, não nos damos conta do
quão sortudos somos pela visão cromática total, e assim caímos na
A cor não é um assunto trivial; por centenas de anos ela
falha de não nos preocuparmos com aquele que não a possui com
despertou uma curiosidade apaixonada nos maiores artistas,
totalidade. Como diz o poeta Ramón Jimenez “[...] O que é o ser
filósofos e cientistas naturalistas. O jovem Spinoza escreveu seu
humano diante das cores do mundo? As cores do mundo são maiores
primeiro tratado sobre o arco-íris; a mais jubilosa descoberta do
do que o sentimento do homem [...]”.
jovem Newton foi a composição da luz branca; o grande trabalho
de Goethe sobre a cor, assim como o de Newton, teve início
com um prisma; Schopenhauer, Young, Helmholtz e Maxwell, 2.4 Educação ciência
no século XIX, foram todos atormentados pelo problema da cor;
e o último trabalho de Wittgenstein foi seu Observações sobre
O homem em sua vida busca evoluir seu corpo e mente a fim de
a cor. Ainda assim, a maioria de nós, na maior parte do tempo,
alcançar em totalidade sua capacidade como ser pensante. Nossa
despreza o grande mistério da cor. (SACKS,2006, p.19)
capacidade de pensar é nosso bem maior, é o que nos difere de tantos
A cor é um dos meios de comunicação mais universal que existe, outros animais e o que nos mantém vivos e ativos na posição superior
tem o poder de aproximar povos e facilitar o entendimento e a da cadeia alimentar e na seleção natural da evolução.
fig. 22 compreensão coletivamente. Ela é presente em todas nossas ações e
Os processos educacionais são partes essenciais desse
Os sete chackras pensamentos, completamente ativa e participante no modo em que
desenvolvimento, pois são instrumentos divisores que podem
conectados ao corpo percebemos e nos entregamos ao mundo. Ela traz vida e movimento
favorecer ou prejudicar o homem na sua busca e compreensão do
humano para o que é estático, torna mais interessante, aguça a curiosidade,
conhecimento de mundo, e de si próprio.
82 | ACROMATOPSIA CAP 2 ACROMATOPSIA | 83

Algumas práticas e teorias se destacam e servem de base no quesito Já em 1907, teve a oportunidade de desenvolver um projeto completo,
educação infantil voltada para o desenvolvimento e formação de um conhecido como Casa dei Bambini, em Roma, e adaptou uma sala
ser apto a interpretar e transformar o ambiente a qual pertence. Essa de aula inteira as necessidades das crianças, desde altura dos móveis,
contextualização apoiará as escolhas defendidas na elaboração do até atividades que mantivessem todas elas entretidas. Lá começou a
projeto final. aplicar seu próprio método de alfabetização, valorizando a capacidade
pessoal de cada criança, e pôde comprovar a capacidade intelectual
antes observada. Nesse momento, muda o direcionamento e papel do
Maria Montessori educador para a orientação, deixando a criança livre para se descobrir
e experimentar, pois a fonte do conhecimento e a capacidade de
Maria Montessori (1870-1952) é italiana, conhecida mundialmente ensinar habitam em nós mesmos, só sendo preciso oferecer as
na pedagogia por suas pesquisas e defesa do Método Montessori. condições para.
Foi a terceira mulher a se formar em medicina na Itália em 1896,
época de muita segregação e sexismo, onde não se admitia uma Os conceitos básicos do Método Montessori, são a individualidade do
mulher examinando o corpo de um homem. Dra.ª Montessori seguiu ser, sua liberdade e o encaminhamento a atividades, sendo a criança,
então para a psiquiatria, onde pôde conhecer de perto o tratamento objeto e sujeito do ensino ao mesmo tempo. A ideia de ensinar, vai
direcionado a crianças portadoras de necessidades especiais, o que além de adquirir e acumular informações, a proposta principal é
aguçou seu interesse acerca da sensibilidade sensorial da criança e preparar e ativar o potencial criativo para uma vida adulta.
formas de tratá-la. O respeito pela individualidade de cada estudante, variando de acordo
Aos vinte e oito anos, Maria Montessori defendeu a tese de que com sua idade e seus estágios de desenvolvimento, vai de acordo
os atrasos apresentados por crianças portadoras de distúrbios de e no fluxo natural do crescimento humano, por isso comprova-se
aprendizado e comportamento se deviam ao fato de não serem mais eficiente do que métodos convencionais. Cada criança, nesse
expostas a ambientes preparados para o estímulo adequado. ambiente, é responsável por sua própria descoberta, seu próprio
aprendizado, com supervisão respeitosa do orientador que não impõe
A partir desse momento, começa a observar crianças internadas nada além do que ela necessita, com a pedida de “ajude-me a fazer
na escola do médico Giusseppe Montesano, e nota que elas se sozinha”. Diz que a tarefa do professor é preparar motivações para fig. 23
interessavam por qualquer coisa que pudessem sentir. atividades culturais, num ambiente previamente organizado, e depois Exemplo de quarto
se abster de interferir. “[...]todo conhecimento passa por uma prática montessoriano. Objetos
Em 1901, se aprofunda nos estudos pedagógicos e antropológicos, e e brinquedos são
e a escola deve facilitar o acesso a ela[...]” diz a educadora Talita
começa a lecionar pouco tempo depois, quando posteriormente teve organizados na altura
Almeida.
a oportunidade de trabalhar com crianças que não apresentavam da criança, permitindo
nenhuma característica especial acerca do aprendizado e coloca em O foco de seu trabalho é a educação infantil, para ela a criança está independência e
prova suas teorias de ambiente preparado e educação por meio dos aberta e incompleta, disposta a conhecer o mundo por suas próprias exploração
sentidos.
84 | ACROMATOPSIA CAP 2 ACROMATOPSIA | 85

mãos. Os ambientes educativos São previamente preparados e respeitar o tempo de cada um e promover um ambiente quieto,
adaptados, com espaços amplos para locomoção sem privação, com ajudam na concentração e na frequência de ritmo individual sem
objetos e móveis ao alcance da criança, para que ela possa tocar e predeterminação.
testar diferentes texturas, decodificando tudo a seu redor, e o mais
As salas de aula montessorianas, são compostas por crianças de
importante, não poluído, mas estimulante e cheio de objetos que
idades mistas, onde elas podem ajudar umas as outras, desenvolvendo
atraiam a sua atenção, com formas, cores, pesos, cheiros e texturas
também o instinto de proteção em diferentes etapas do
diversas. “O primeiro objetivo do ambiente preparado é tornar a
desenvolvimento, a interação social, aprendizado cooperativo, trabalho
criança independente do adulto”, diz Standing.
em equipe e desenvolvimento emocional.
O que é geralmente conhecido como disciplina nas escolas
[...] Os educadores que utilizam o método de ensino dirigido não
tradicionais não é atividade, mas imobilidade. Não é disciplina,
compreendem como se pode desenvolver o comportamento
mas algo que vai se deteriorando dentro da criança, despertando
social numa escola Montessori. Compor uma sala como uma
seus sentimentos rebeldes. (MONTESSORI, MARIA)
sociedade, organizando o agrupamento de forma “vertical”
Estimular a independência da criança ajuda no processo de torná-la é assegurar o fio da vida social. A constituição de uma classe
equilibrada e posteriormente um adulto consciente de seu corpo e de “mesma idade” é um erro fundamental, que dá lugar a
do mundo ao qual pertence. Compartilhar atividades domésticas, toda a espécie de outros erros; um isolamento artificial, que
cozinhar, deixar que elas errem e aprendam sozinhas, sem um sistema impede o desenvolvimento do sentido social. As nossas escolas
de punição e recompensa por algo, promovendo um verdadeiro demonstram que as crianças e jovens de idades diferentes
estado de satisfação e orgulho pessoal. se ajudam uns aos outros; os menores veem o que fazem os
maiores e pedem explicações, que estes dão voluntariamente.
Os materiais não precisam de sofisticação, podem ser adaptados a É um verdadeiro ensino; há entre ambos uma harmonia, uma
realidade às quais estiverem para num universo sensorial contribuir comunicação, uma natural osmose mental. As crianças acabam
com a formação das atividades sensoriais e psíquicas da criança. por conhecer as características umas das outras, desenvolvendo
uma comunicação superior àquela que têm com os adultos. {…} É
Para a criança nada é mais importante do que os brinquedos,
com esta forma de liberdade que avaliamos os limites diferentes
pois estes proporcionam um mundo do tamanho de sua
da inteligência em diferentes idades, o que nos dá a certeza de
imaginação. Para que uma criança se torne um adulto saudável e
que não é só a idade que conduz ao progresso, mas acima de
bem ajustado é necessário que seu corpo esteja constantemente
tudo a liberdade de se olhar ao redor de nós. (MONTESSORI,
ativo, sua mente alerta e curiosa, seu ambiente dotado de
MARIA)
materiais atrativos e sua inter-relação com as outras pessoas
se efetive de modo natural e efetivamente bem estruturado. O Método Montessori é aplicado em grande escala por instituições ao
fig. 24 (SANTOS; CRUZ, 2010, p. 68). redor do mundo, com resultados sempre positivos e que favorecem o
Brinquedo educativo desenvolvimento pleno do ser humano. Sua dedicação aos estudos,
A paciência é um fator muito importante nesse processo educacional,
sensorial
86 | ACROMATOPSIA CAP 2 ACROMATOPSIA | 87

é reconhecida, colocada em prática e moldada aos costumes e orientador como do aluno, compartilhando a todo momento, e
particularidades de cada um. extinguindo a hierarquia. O professor aqui, tem a função apenas de
levar os conteúdos, não a definindo como uma verdade absoluta,
caracterizando assim uma educação democrática. Paulo Freire diz que
Paulo Freire ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se
educam entre si, mediatizados pelo mundo.
Paulo Freire (1921-1997) foi o educador brasileiro mais reconhecido
internacionalmente, fruto do seu trabalho como orientador Outro fundamento forte em seus estudos, é a adoção da cultura
pedagógico. De origem pernambucana, é formado em direito, particular de cada ser, identificando e catalogando as palavras-chave
mas nunca exerceu a profissão, direcionando seus trabalhos ao do cotidiano e em cima delas, projetar um ensino de alfabetização
magistério. Passou a observar a discrepância do ensino elitista, e do atrelado a representações visuais.
papel da educação na vida da sociedade. Desenvolveu um método Seu método é dividido em três etapas; a primeira e mais natural, o
de alfabetização para o público adulto com cunho educacional reconhecimento cultural do aluno e a interação aluno - professor;
político, que tem como principal objetivo conscientizar o aluno de a segunda, a exploração das questões acerca dos temas e culturas
seu papel social em relação às parcelas desfavorecidas da sociedade, recolhidos na etapa anterior, iniciando o direcionamento do senso
compreendendo a situação de opressão para então estarem adeptos a comum para uma visão crítica da realidade; terceira e última etapa, é
interferir em prol da própria libertação. o início da problematização extensa.
[...] a aprendizagem da leitura e a alfabetização são atos de
Foi perseguido e exilado pelo regime militar do Brasil, por ensinar
educação e educação é um ato fundamentalmente político. Paulo
os pobres. Pode retornar ao país dezesseis anos mais tarde, já com
Freire reafirma a necessidade de que educadores e educandos se
uma carreira consolidada, livros e artigos escritos e divulgados por
posicionem criticamente ao vivenciarem a educação, superando
todo o mundo. Seus estudos e métodos, fazem até hoje, uma grande
as posturas ingênuas ou ‘astutas’, negando de vez a pretensa
diferença na vida de inúmeras pessoas ao redor do globo.
neutralidade da educação. Projeto comum e tarefa solidária de
educandos e educadores, a educação deve ser vivenciada como O conceito de pedagogia crítica está sempre atrelado a seu trabalho,
uma prática concreta de libertação e de construção da história. dizia que a ideia de que nós cultos estamos fazendo um favor em
(SEVERINO, 2003, p.7) educá-los é completamente equivocada, pois é contra a lógica de
que é necessário a inferiorização de uns para assegurar a dominação
Era assumidamente contra o sistema empregado em grande parte das de outros. O respeito é um ponto forte e crítico em seu trabalho,
escolas, pois dizia que a escola acomodava os alunos, não os preparava se preocupar com as memórias, os valores, racionalidade, saberes e
para a realidade do mundo, enquanto sua proposta era totalmente as matrizes culturais do povo, é a chave para aproximar e diminuir
reversa, de instigar nos alunos, a dúvida e a inquietação. diferenças.
Para ele, o ensinar partia de ambos os lados, tanto do professor
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Naturalmente, numa linha profética, a educação se instalaria que colaborem juntamente com outros elementos do projeto do
como método de ação transformadora. Como práxis política a ambiente. (LUFT, 2011, p.288)
serviço da permanente libertação dos seres humanos, que não
A educadora trata a pedagogia das cores como informação pública e
se dá, repitamos, nas suas consciências apenas, mas na radical
livre, promovendo o bem-estar de uma mente tranquila e equilibrada,
modificação das estruturas em cujo processo se transformam as
que tem como consequência um corpo são.
consciências. (FREIRE, 2003, p.102-3)
A pedagogia das cores deve ser aplicada desde a menor idade, seu
ambiente de contato preparado cuidadosamente em detalhes e
Solange Depera Gelles
colorido. As cores são estímulos vibrantes que interagem com nosso
corpo e mente mesmo sem nossa permissão, e por isso, nos preparar
Solange Depera Gelles nascida em Santa Rosa do Viterbo, interior para recebê-las, é a forma mais completa de absorvê-las. Uma criança
da cidade de São Paulo, é um nome atual e ativo nas práticas que aprende desde cedo a interagir com as cores, é uma criança mais
educacionais. Formada em pedagogia e cromaterapia, trabalha como centrada e equilibrada em suas atividades e possivelmente tende a se
escritora defendendo teorias e teses unindo ambas qualificações, desenvolver como um adulto pleno.
metodologia conhecida como A Pedagogia das Cores.

Em 2011 lançou o primeiro volume do livro Manual da Pedagogia das


Cores, oferecido para orientadores, educadores, pais e mestres em
geral. Posteriormente, lançou novos volumes voltados diretamente ao 2.5 O lúdico como ferramenta pedagógica
público infantil e ao reconhecimento das cores da cromoterapia.

Sua pedagogia defende o estímulo através das cores num ambiente O lúdico vem da palavra latina “ludus”, que significa jogo, mas o termo
escolar; pretende ensinar a criança formas de manter sua mente sã lúdico não se restringe apenas ao jogar, ao brincar. O termo lúdico,
em complexidade, de modo que seja capaz de bloquear estímulos se refere às interligações dos fenômenos fisiológicos e psíquicos do
externos indesejáveis e extrair as informações máximas que cada cor comportamento humano. É o espaço para expressão mais genuína
pode oferecer. Sua metodologia pode ser entendida como a criação do ser, um misto de prazer e esforço espontâneo. A ludicidade
de estímulos de dentro para fora. como estado de plenitude, de estar inteiro naquilo que se faz
prazerosamente, pode se apresentar em diversos momentos de nossa
O uso das cores pode contribuir de forma benéfica na vida das vida. Por sua vez, a palavra brinquedo não deve ser reduzida a sentido
crianças, uma vez que as cores sugerem diferentes significados, de jogo, pois tem associação com a dimensão cultural, material e
de acordo com a maneira como forem utilizadas [...] Devido à técnica.
influência da cor no meio onde vivemos, torna-se importante
estudar formas de proporcionar às pessoas a utilização de cores, A presença da brincadeira na vida da criança, é uma atividade natural
buscando composições harmoniosas, equilibradas visualmente, da sua existência que carrega muitos benefícios, pois por meio das
90 | ACROMATOPSIA CAP 2 ACROMATOPSIA | 91

brincadeiras, a criança pode despertar suas emoções, aprendem a O lúdico desperta interesse crescente na criança, pois suscita
lidar com o mundo e com os fatos do seu cotidiano, podem explorar, emoções, estimula os sentidos e mobiliza a energia da criança na
conhecer e reconhecer, experimentar, imitar e repensar sobre todos manipulação do objeto, ajudando-a no seu desenvolvimento. A
os acontecimentos de sua vivência. O processo de brincar, ajuda a manipulação do livro pode acalmar e, ao mesmo tempo, prender
criança na interação social, desenvolve a criatividade e a imaginação, a atenção da criança. (ROMANI apud PERROT, 1987)
sua capacidade de raciocínio e até as coordenações motoras grossa e
O jogo por muitos anos, foi visto apenas como ferramenta de
fina.
recreação, não relacionado como instrumento de informação. Quebrar
A atividade lúdica é aquela que dá plenitude e, por isso, prazer essa ideia de modelo recreativo, é acreditar nessa proposta não como
ao ser humano, seja como exercício, seja como jogo simbólico, formadora, mas como auxiliar e reveladora.
seja como jogo de regras. Os jogos apresentam múltiplas
Pedagogos, professores e pediatras são defensores da brincadeira
possibilidades de interação consigo mesmo e com os outros.
associada ao bom desenvolvimento da criança, pois entendem a
(LUCKESI, 1998, p. 29)
imaginação como atividade psicológica para concretizar desejos e
A experiência lúdica, é carregada constantemente de elementos possibilitam a criação da personalidade individual.
da cultura geral, influenciada diretamente pela escolha do próprio
Para o orientador, é fundamental que se invista em espaço e tempo
ambiente e do adulto consciente, o que dizem e o que fazem,
para ampliar e legitimar a brincadeira. O professor nesse contexto tem
o tempo e os materiais, bem como o espaço que são dispostos,
papel essencial, é preciso que a escola enriqueça seu acervo cultural
são importantes processo de experiência. O jogo, o brinquedo e
e que mantenham as crianças sempre entretidas e estimuladas, sob
a brincadeira, podem ser vistos como resultados de um sistema
supervisão. O educador não deve se limitar a passar informações ou
linguístico que atua dentro de um contexto social.
direcionar caminhos, mas também em auxiliar no reconhecimento de
O lúdico, desde sempre, é uma linguagem natural da criança, por isso, si próprio.
é importante e muito válido associá-lo com o processo educacional
Os professores, aos poucos, estão buscando informações e
para fazer dele um aprendizado significativo e prazeroso. Além de ser
enriquecendo suas experiências para entender o brincar e como
uma oportunidade de desenvolvimento, é uma chance de adquirir
utilizá-lo para auxiliar na construção do aprendizado da criança.
autonomia e confiança nela mesma, e nesse sentido, é onde acontece
Quem trabalha na educação de crianças deve saber que podemos
a troca de informações e explanação de conteúdo, como diz MEYER
sempre desenvolver a motricidade, a atenção e a imaginação de
(2008) “valorizar os conhecimentos que as crianças possuem e garantir
uma criança brincando com ela. O lúdico é parceiro do professor
a aquisição de novos conhecimentos”. É através do lúdico, que a
(MALUF, 2003, p. 29).
criança encontra um meio termo equilibrado entre o que é imaginário
e o que é real. A observação e a intervenção do adulto, são a chave para acrescentar
conteúdo no brincar, representando para ela, uma forma diferente de
92 | ACROMATOPSIA

experimentar a fantasia, linguagem e pensamento.

Através de atividades lúdicas, como as brincadeiras, os jogos, as


cantigas etc..., as crianças aprendem a refletir suas ações e a dos
adultos, experimentam situações novas e criam soluções para
os desafios do seu cotidiano. Lima (1992) nos diz que o brincar
é a forma de atividade humana que tem grande predomínio
na infância e sua utilização promove o desenvolvimento dos
processos psíquicos, dos movimentos físicos, acarretando o
conhecimento do próprio corpo, da linguagem, da socialização e
a aprendizagem de conteúdos de áreas específicas. (PIRES, 2008,
p. 03)

O lúdico como ferramenta pedagógica, contribui grandemente para o


desenvolvimento do ser pensante, facilita os processos de construção
do pensamento, comunicação, socialização e expressão. Ele não é
a única ferramenta facilitadora do ensino-aprendizagem, mas sem
dúvidas, é uma ponte que tem o ganho de bons resultados e objetivos
alcançados. É nesse contexto que vemos a oportunidade de conectar
processos e conceitos do design para possibilitar experiências lúdicas
que favoreçam o desenvolvimento da criança, a fim de orientá-los em
novos aprendizados e possibilidades por meio de experimentações
gráficas.
CAP 3 ACROMATOPSIA | 95

3.0 Reflexões acerca do design sensorial

O design como um todo é projetado para atender a sociedade em seu


caráter unitário, desprendido em ramificações, cria particularidades
para que esse objetivo seja alcançado, e o design sensorial é uma
delas. Como criadores, devemos nos atentar para a forte influência
que nossos sentidos de exercer sobre nossa percepção e nosso poder
cognitivo.

O design sensorial é uma alternativa de ampliar os canais de interação


das pessoas com o ambiente configurado e por si só, uma forte meio
de despertar engajamento emocional nas ligações anteriormente frias.

Nosso sistema nervoso é limitado pelos nossos genes, pelo nosso atual
estado de atenção e até mesmo por experiências passadas, por isso, o
estudo interconectado do uso dos sentidos é de extrema valia para o
completo aproveitamento do corpo humano em totalidade.

[...] a exploração individual dos sentidos oferece apenas uma faceta


da realidade, tornando quase impossível criar o quadro completo.
Cada sentido está inerentemente interconectado com os outros.
Nós saboreamos com o nariz, vemos com os dedos e ouvimos com
os olhos. No entanto, assim como podemos identificar uma marca
olhando para uma garrafa quebrada, podemos dividir os sentidos
para construir e gerar sinergias positivas. Com esta compreensão
holística, podemos bravamente entrar no território inexplorado do
branding sensorial. (LINDSTROM, 2007, p.81-82).

3.1 Introdução aos estudos de caso

Nessa etapa do projeto, é muito importante tomar conhecimento


acerca das várias iniciativas de produção voltadas ao público daltônico
96 | ACROMATOPSIA CAP 3 ACROMATOPSIA | 97

e em especial os daltônicos acromatas, e como essas soluções afetam semiótica, que se originam de três símbolos gráficos que representam
a vida de cada um deles. A exploração dos estudos de caso serve as três cores primárias, vermelho, amarelo e azul. Seguindo o
como ferramenta de direcionamento para a projeção que segue. conceito da Teoria da “Adição de Cores”, os símbolos se relacionam e
trabalhando com a adição, formam toda a paleta de cores identificada
As produções desenvolvidas se estendem em uma vasta gama de
graficamente enquanto o branco e o preto são parâmetros de tons
variações, partindo desde pequenos e simples objetos como lupas e
claros e escuros.
óculos, até a criação genial e específica de um dispositivo eletrônico
que é implantado no corpo humano. Os símbolos também estimulam nosso cérebro a memorizar como
um jogo de reconhecimento, e permitem os daltônicos a adquirirem
uma independência relativa, facilitando o processo de integração
ColorAdd social e acontecimentos em que a escolha da cor é expressiva. O uso
dos códigos, visa minimizar o sentimento de perda dos daltônicos, a
frustração e o envergonhamento gerado pela deficiência, e gerar como
consequência aumento de confiança e bem-estar. fig. 26
Sistema aditivo de
O projeto já é implantado em diversas marcas e em diferentes símbolos
produtos e objetos, como lápis de cor, roupas, tintas, mapas de redes
de metrô de Porto em Portugal, sinalização de hospitais e jogos de
recreação, como uno.

Pouco tempo depois, em parceria com o desenvolvedor Rui Cardoso,


o código ColorADD ganhou sua versão em aplicativo, disponível para
sistema android e IOS, o que o torna ainda mais universal e móvel.

O aplicativo funciona simultaneamente com a câmera do telefone


móvel; basta apontá-la para a superfície desejada para identificação
da cor, e o resultado aparece imediatamente na tela junto com a
legenda de símbolo e nomenclatura da cor.

Caso o usuário queira encontrar uma cor mais fiel, basta com dois
ColorADD é um sistema de reconhecimento universal da
toques, congelar a imagem e associá-la com o anel cromática
fig. 25 cor desenvolvido para daltônicos de caráter inclusivo e não
deslizando o dedo lateralmente.
Identidade visual da discriminatório, desenvolvido pelo designer gráfico português Miguel
marca Neiva, e finalizado em 2008. O código ColorADD é basicamente um Os resultados estão disponíveis para o compartilhamento nas redes fig. 27
alfabeto de códigos visuais desenvolvidos a partir de conceitos da sociais, aumentando a interação entre os usuários. Aplicação em etiquetas
para vestuário
98 | ACROMATOPSIA CAP 3 ACROMATOPSIA | 99

Neil Harbisson diferente delas. Neil Harbisson havia estudado música no passado, e
diz que graças a ela, pode se liberar para ser outra coisa.

O olho é a parte frontal de seu dispositivo, ele reage às cores e envia


uma frequência ao chip que está instalado na parte traseira de sua
cabeça, e então pela condução óssea, Neil recebe as frequências
através do osso.

Ele diz que no começo foi um pouco difícil decorar as inúmeras notas
musicais e associá-las as cores, mas depois isso foi se tornando um
hábito, uma percepção automática, e quando se deu conta, aquela
percepção já era um sentimento.

Um efeito secundário de seu projeto, foi começar a perceber os sons


comuns, como o toque de um telefone por exemplo, se tornando
cores. Essa experiência foi tão boa, que se dedicou a aumentar a
paleta de cores, e adicionou então o infravermelho e ultravioleta.

Antes, usava apenas o preto e o branco em sua vida, nas roupas e em


seus trabalhos como artista pois dizia não haver sentido em usar algo
que não podia apreciar. Hoje, utiliza as cores que soam bem.
Neil Harbisson é um jovem artista audiovisual, nascido em 1984
em Londres, na Inglaterra. Ele é portador da acromatopsia desde Na interpretação de Neil, a associação cultural das cores é bem
seu nascimento, caracterizada pela cegueira total das cores. Seu diferente, o violeta por exemplo é visto como cor violenta devido a sua
diagnóstico final só foi proferido aos onze anos de idade, sendo mais alta frequência sonora, enquanto o vermelho é a mais indiferente e
um entre muitos casos de diagnósticos errôneos, confusos e tardios. pacífica por ser a de mais baixa frequência.

Em 2003 assistiu a uma palestra de Adam Montandon que falava A cor não deve ser a única forma de identificação e classificação

sobre a ampliação dos sentidos para aumentar nossa capacidade utilizada para as coisas. É possível desenvolver outras formas

de conhecimento e o porquê das cores serem tão influentes na vida de interpretação da cor com percepções mais aguçadas, como:

das pessoas. Juntos, Neil Harbisson e Adam Montandon convidaram tom, textura, movimento e profundidade visual. (POLIDORO;
fig. 28 Peter Kese e Matis Lizana a participarem de seu projeto que pretendia NOGGOSZEKI, 2011, p.28) fig. 29
Ilustração do olho criar um olho eletrônico para Neil, capaz de perceber as cores e as Representação de como
Em 2010, Neil Harbisson inaugurou a Fundação Cyborg, uma
eletrônico de Neil transformá-las em sons de frequência, criando assim uma percepção seria a captação das
organização internacional que visa ajudar os seres humanos a ampliar
Harbisson frequências sonoras
100 | ACROMATOPSIA CAP 3 ACROMATOPSIA | 101

os sentidos e suas capacidades através da tecnologia como parte do diferentes modelos incluindo modelos infantis, foram lançados e
fig. 31
corpo e percorre o mundo em eventos culturais garantindo os direitos oferecidos ao público; todos os modelos, tem a aparência semelhante
Propaganda
dos cyborgs. a de um óculos de sol comum.

Por enquanto, a empresa consegue atender apenas dois dos tipos


Óculos Enchroma de daltonismo, o Cx-PT para os daltônicos que tem protanomalia
(não enxergam tons vermelhos) e o Cx-D para os daltônicos que tem
deuteranopia (não enxergam tons verdes).

Os óculos funcionam graças a uma camada extra na lente feita de


um material capaz de filtrar as ondas de luz de modo que certos tons
sejam intensificados. Essa camada extra foi baseada em um modelo
matemático do sistema visual humana desenvolvido e patenteado
pela própria empresa, eficiente ao ponto de prever o efeito de
percepção das cores com a interferência de qualquer filtro posicionado
na frente dos olhos, simulando a visão que pessoas com daltonismo
têm. Com esse modelo, é possível identificar os comprimentos de onda
sensíveis, onde há uma errônea percepção das  cores.

Os óculos EnChroma foram desenvolvidos acidentalmente a favor dos


daltônicos. O doutor em ciência do vidro Don McPherson desenvolveu
um modelo de óculos que pudesse proteger médicos em cirurgias
feitas com laser, mas percebeu que suas lentes transformavam
as cores em cores incrivelmente saturadas. Foi por acaso que um
amigo daltônico experimentou seus óculos, e felizmente, pode notar
corretamente a cor laranja.

Após o ocorrido, McPherson passou um tempo se aprofundando


acerca da doença e juntamente com dois colegas, Tony Dykes e Os óculos são uma alternativa paliativa para promover a inclusão,
fig. 30
Andrew Schmeder, fundou a EnChroma Labs, empresa inteiramente e por hora, ainda pouco acessíveis, pois custam em cerca de 300
Identidade visual da
dedicada a fabricação de óculos para daltônicos. A partir de 2012, dólares, dependendo do modelo e categoria.
marca
102 | ACROMATOPSIA CAP 3 ACROMATOPSIA | 103

Las Palmitas No total, cerca de 452 famílias e 1808 pessoas foram diretamente
influenciadas pela ação, que segundo relatos e relatório divulgado
pelo próprio governo, foram beneficiadas e puderam notar diminuição
drástica e significativa no índice de violência, em especial entre os
mais jovens.

Esse é nitidamente um caso que mostra o poder da cor e sua forte


influência associativa, um estado real onde a cor pode servir de fig. 33
ferramenta contra a violência e o crime.
Comunidade Las
Palmitas antes da
intervenção
Lentes e lupas

Devido a baixa visão atrelada em muitos casos de daltonismo e em


especial os de daltonismo acromático, o uso de acessórios como
lentes de aumento, lupas de aproximação e de apoio, ampliadores de
tela e lentes de contato são regularmente utilizados por portadores
para auxiliar na leitura e reconhecimento minucioso de objetos,
Las Palmitas é uma comunidade situada na cidade de Pachuca,
números e letras. O custo desses acessórios é relativamente baixo, em
no México, onde existe um alto índice de criminalidade e violência.
comparação ao retorno positivo alcançado em sua vida e na facilidade
Foi selecionada e inteiramente financiada pelo governo em um fig. 34
de inserção no meio social e profissional.
projeto social que visava a integração social da comunidade; a ideia Comunidade Las
era mudar a imagem negativa do bairro e reduzir os índices de É considerada baixa visão, a acuidade inferior a 30% percebida no Palmitas depois da
criminalidade da região. melhor dos olhos. Cada pessoa com baixa visão, tem suas próprias intervenção
características, mas em geral, são relacionadas a fotossensibilidade,
Em parceria com o coletivo de arte Germen Crew, o projeto durou
dificuldade de leitura e reconhecimento de pessoas e objetos em
aproximadamente 14 meses até a sua conclusão, com artistas
determinada distância.
pintando em torno de 209 casas que somadas correspondem a vinte
mil metros quadrados. As casas foram pintadas com cores alegres
e vibrantes, do rosa choque ao verde limão, de modo a formar uma Óculos de sol
espécie de arco-íris quando visto de longe, acabando com a imagem
fig. 32 fria e negativa formada pela massa cinza das paredes e muros. Nesse
Os óculos de sol são muito utilizados por daltônicos que tem em sua
Comunidade Las projeto, foram envolvidos muitos moradores da região, o que fez
anomalia ocular, a fotossensibilidade atrelada. A fotossensibilidade
Palmitas aflorar o senso coletivo inédito de cuidado e pertencimento do local.
104 | ACROMATOPSIA CAP 3 ACROMATOPSIA | 105

pode ser caracterizada pelo incômodo e pelo desconforto causado apesar de subjetivas, essas experiências são projetadas por alguém.
pela luz que é percebida de maneira mais agressiva, muito mais Alguém pensou e desenhou a interface digital do caixa eletrônico
“brilhante” do que o comum. para que os clientes do banco pudessem fazer transações sem
precisar da interface humana. É a tal “interação homem-máquina”
Os óculos proporcionam máxima proteção e desempenho ocular, (HCI - Human-Computer Interaction), um campo de estudo
funcionando também como proteção a raios nocivos como UV, grandiosíssimo que mobiliza profissionais de vários perfis ao redor
eliminando frequências que interferem na visão, além da proteção do mundo. (TEIXEIRA, 2012, p.2)
fig. 35 contra luz intensa e clarões repentinos. Essa é uma solução prática
Óculos de grau com e muito útil em questão de usabilidade, pois em geral, é acessível e A intenção do design de experiência é atrelar ao produto ou serviço,
lente acoplada muito presente na cultura atual. algo realmente efetivo e inesquecível, atendendo as necessidades
específicas do cliente/usuário que resultarão numa boa experiência
para ele.
3.2 Design de experiência
Não se trata de enxergar os objetos como instrumentos
facilitadores na execução das tarefas do dia-a-dia, mas pensar as
O termo design de experiência (user experience, UX) se relaciona
relações entre objetos e indivíduos de maneira mais ampla para
com a era pós-industrial, onde a centralidade do desenvolvimento
além da questão do uso, cuidando de outras instâncias e formas
econômico deixa de ser baseado em produtos e passa a ser baseada
de apropriação possíveis. (NARDELLI, 2007, p.101)
fig. 36 em serviços e suas respectivas experiências. É nesse momento que
Óculos de proteção solar nasce a percepção e o cuidado com os resultados dessas experiências, É importante trabalhar a usabilidade, permitindo que a experiência
pois se percebe a relação direta e cotidiana das pessoas como usuárias seja realizada sem maiores dificuldades e em menor tempo, com
e seus objetos e produtos. Como o serviço é de caráter intangível e menos obstáculos e ruídos, fortalecida por uma boa diagramação e
interacional e as experiências são obviamente subjetivas, cada pessoa elementos visuais que refletem o que o usuário espera, associados aos
tem uma vivência diferente ao consumí-lo. Como defende Cynthia princípios da psicologia que tendem a motivar o usuário a continuar
Nojimoto, pode-se dar insumos para que as experiências aconteçam, consumindo tal produto ou serviço. Os conceitos de utilidade e
mas não podemos desenhá-las. desejabilidade, são também, necessários para a ligação perfeita entre
o ponto de contato que associa pessoas a serviços e produtos e sua
Cada pessoa tem uma experiência diferente ao usar um caixa
assertividade.
eletrônico, por exemplo. Essa experiência é influenciada por fatores
humanos (sua habilidade em usar caixas eletrônicos, sua visão, sua O Conceito de utilidade precisa estar extremamente bem definido,
habilidade motora, sua capacidade de ler e entender o que está mostrar o quão funcional é e sua proposta de solução para um
escrito na tela, seu humor naquele momento etc.) e por fatores problema que o usuário possui. A desejabilidade nesse contexto, é o
externos (o horário do dia, o ambiente onde o caixa eletrônico está poder de atração atrelado as soluções oferecidas, o que corresponde
instalado, o fato de ter uma fila de pessoas atrás de você). Mas,
106 | ACROMATOPSIA CAP 3 ACROMATOPSIA | 107

a sensação satisfatória, o encantamento e a conexão que concretiza o podem ajudar os designers a escolher o melhor canal sensitivo
sucesso de uma experiência. para se comunicar uma determinada mensagem ao consumidor.
(SCHIFFERSTEIN ; SPENCE, 2008, p.147)
Esse trabalho, é baseado em um ciclo constante de muita pesquisa,
teste de interatividade, estudos de comportamentos, tecnologias de A experiência do usuário é considerada hoje, a parte de maior valor
navegação, análises de efetividade e também o conhecimento de dentro de um produto ou serviço, pois é a partir da junção desses
como seu usuário irá se portar após ser impactado pela experiência. ensinamentos e teorias que a rígida linha que separa consumidores
de produtos se torna mais tênue e sensível, aproximando novamente
A maioria das pessoas acredita que User Experience é somente
os homens como seres ativos, que valorizam uns aos outros, se
encontrar a melhor solução para os seus usuários — mas não é. UX
preocupam com o bem coletivo e com o bom relacionamento entre
trata sobre definir o problema que precisa ser resolvido (o porquê),
homem e produto.
definir para quem esse problema precisa ser resolvido (o quem), e
definir o caminho que deve ser percorrido para resolvê-lo (o como). A experiência por si só, é a ligação mais rica de nós mesmos com
(TEIXEIRA, 2012, p.2) tudo aquilo que nos cerca e nos influencia direta ou indiretamente,
e é nesse contexto contemporâneo que ela é vista como algo a ser
A aplicação da experiência do usuário pode ser aplicada em almejado pelos indivíduos, colocando-a acima da aquisição de bens e
qualquer área, qualquer marca, produto ou serviço, uma vez que mercadorias. No design de experiência, o indivíduo não é um usuário,
está relacionado com as interações humana e diferentes formas de ele é parte de um sistema, e é essa valorização do ser que vem
sistemas. transformando as relações que estávamos habituados, e trazendo o
O design de experiência nos diz muito sobre a nova e crescente design para perto de sua proposta inclusiva e direcionada a sociedade
valorização da pessoa como centro e não somente como consumidor por inteiro.
final; a utilização e reconhecimento dos seus sentidos, das
informações cognitivas, o incentivo a reflexão e ao despertar sensitivo,
3.3 Livro-objeto infantil como experiência sensorial
são aspectos que dizem respeito única e exclusivamente ao seu
cliente e ao olhar atento e minucioso do ser humano e sua natureza. A
experiência, inclui todas as emoções, percepções, favoritismos, crenças, Johannes Gutenberg foi o responsável pela invenção da impressão
respostas psicológicas e físicas, conduta e realizações do usuário que moderna por volta do século XV, que desencadeou uma constante
acontecem antes, durante e após o uso. evolução das formas e impressão dos livros, superando o contexto
conceitual. O livro, é definido como um conjunto de folhas
Todos os sentidos humanos contribuem para o modo como um transportável, encadernadas ou com brochuras, que contém algum
produto é experimentado sendo, portanto, importante considerá- tipo de informação seja ela textual (manuscrita ou impressa) ou visual.
los no processo de design. Compreender os papéis que diferentes
sentidos desempenham nas interações das pessoas com produtos
A diferença entre um livro-objeto infantil de carácter sensorial e um
livro convencional, é o modo como são praticados os fundamentos
108 | ACROMATOPSIA CAP 3 ACROMATOPSIA | 109

do design. O livro-objeto transcende os limites tradicionais do livro visual deve ser direta e universal, acessível a todas as línguas, por
comum, extrapola o conceito de livro, exige um projeto diferenciado, meio de linguagem objetiva. O livro-objeto infantil, possibilita essa
já que seus conceitos, suas propostas e suas estruturas não são experimentação de diferentes linguagens, segundo Goés (2005),
as mesmas. A leitura do livro-objeto acontece de forma distinta e contudo, elas precisam ser decifráveis para alcançarem seu objeto
com auxílio da interpretação pessoal do usuário. Nesse contexto, as (NODELMAN, 1988).
escolhas acerca do formato, disposição das informações, materiais,
A paginação do livro-objeto é também um ponto de diferenciação
produção gráfica e representações são os pontos que diferenciam
as publicações comuns; ela não precisa impreterivelmente seguir
ambas publicações.
uma sequência natural, contando que sua ordem seja coerente e
Esse tipo de material, trabalha em paralelo com percepção humana, defensável, sua estrutura é predominantemente organizada por meio
viabilizando uma experiência lúdica onde a criança tem a chance de de uma grade diferenciada, que separa elementos tipográficos de
mesclar seu universo particular com o mundo. elementos visuais e táteis e seu ritmo se dá graças aos princípios da
linguagem gráfica que são: proporção, textura, forma e cor, onde a
O design de livro é uma arte que tem suas próprias tradições e um
história cede lugar ao enredo visual. A grade é uma ferramenta de
corpo relativamente pequeno de regras aceitas. Se o design de um
criar hierarquia entre os elementos de composição, quanto mais
livre irá chamar atenção ou não por si mesmo, isso vai depender
complexa e bem definida for, mais possibilidades de manuseio ela
do grau de consciência do leitor acerca do design em geral quanto
viabiliza.
do design de um livro particular ”. (HENDEL, 2003, p.1)
A informação visual comunica de modo não verbal, por meio de
Quando se trata do formato do livro, deve-se pensar em como ele
sinais e convenções que podem motivar, dirigir ou mesmo distrair
será manipulado pelo leitor, visto mais como um objeto do que
o olhar do leitor, e todos os elementos visuais influenciam uns
propriamente um livro. Pensar e prever a forma de seu manuseio,
aos outros. Por isso, o projeto visual de um livro é uma ferramenta
se ele precisa necessariamente ser disposto em uma superfície
importante para comunicação, e não apenas elemento decorativo.
como a mesa ou se é capaz de ser sustentado nas mãos. Nesse caso,
O modo como se organiza a informação numa página pode fazer
é importante o estudo do público-alvo e suas limitações, pois as
a diferença entre comunicar uma mensagem ou deixar o usuário
necessidades de cada público podem influenciar a escolha da forma e
confuso. (ARAÚJO, 2008, p.373)
da matéria.
Na finalização gráfica, existem diversos recursos que favorecem a
O uso da tipografia é singular a cada caso, delimitados também pela
sua produção e propiciam o desenvolvimento do livro lúdico, como
escolha do público-alvo. Um livro-objeto pode ser estruturado no
a tridimensionalidade do objeto, a texturização e a possibilidade de
panorama da tipografia atual ou ser totalmente inapto por questões
uma produção artesanal.
como o anafalbetismo, e nesse caso por exemplo, não fazer uso de
caractere algum. É possível ainda nesse caso, fazer-se entender por A texturização é um meio muito empregado nos livros-objeto como
meio de outras expressões, como Munari (1997) defende, a linguagem ferramenta de interação entre o usuário e o produto. A textura induz
110 | ACROMATOPSIA CAP 3 ACROMATOPSIA | 111

naturalmente ao toque, pois o mundo está cercado de texturas que “só a experiência preenche o espírito com ideias”. Nossa mente 8
O Cinestésico tem a ver com
naturais e artificiais, e é pelo toque, que desde pequenos, começamos seria como um quadro branco (tabula rasa [expressão em latim que a percepção dos movimentos
corporais ou musculares.
a criar consciência do mundo real. A possibilidade de criar uma expressa a ideia de folha de papel em branco]) e nele seria inscrito o Uma pessoa cinestésica
página palpável, carrega mais de uma possibilidade de interpretação, conhecimento, cuja base é a sensação, “nada pode existir na mente centra suas experiências nas
demonstrações físicas, por
ela pode ser manuseada ou lida com o olhar, criando uma sensação que não tenha passado antes pelos sentidos”. exemplo, ao se comunicarem
precisam tocar o seu ouvinte. O
de presença física, real.
Nesse ideal, o livro-objeto funciona como transmissor direto do cinestésico-corporal, processa
melhor a informação através
Em geral, os livros-objeto são produzidos em pequena escala pois conhecimento, pois é rico em experimentação sensorial, estimulando do movimento e também
do toque, e aprende melhor
demandam uma atenção maior na produção, muitas vezes com um ou mais sentidos, sendo base para a restauração dos potenciais da movimentando-se, tocando ou
materiais sensíveis e incomuns aos exemplares cotidianos. São vida no homem, fomentando o contato com a natureza, estimulando mexendo nas coisas.

produções raras e muitas vezes únicas, com tiragens reduzidas. a capacidade sensorial e o prazer cinestésico8 e a sinestesia9.

No Brasil, a produção dos livros-objeto começa com a junção entre 9


Sinestesia tem a ver com
aquilo que é “sensorial”, ou
artistas visuais e poetas no final dos anos 50, começo dos anos 3.4 Leis de inclusão seja, aquilo que é capaz de
60, transformando os aspectos formais e sonoros das palavras em fundir, ou misturar, diferentes
sentidos humanos. Exemplos
poética-visual. Na década de 70, os limites conhecidos transbordam, Foi sancionado em 6 de julho de 2015 pela presidente Dilma Rousseff, de sinestesia: algumas pessoas
e propiciam a experimentação e a criação de artistas, favorecendo o o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei Brasileira de Inclusão Nº
sinestésicas conseguem ouvir
um movimento visual (audição +
aumento significativo de obras como essa. Entre os maiores, temos 13.146), que é um dos mais valiosos instrumentos de emancipação visão), conseguem sentir cheiro
ou gosto de uma imagem visual
grandes nomes na produção de livros-objeto como Julio Plaza, Lygia social e civil das pessoas com deficiência. Com mais de 100 artigos, (olfato ou paladar + visão), outros
Clark, Arthur Barrio, Waltécio Caldas, e diversos outros. a lei visa promover equiparação de oportunidades, acessibilidade e ainda conseguem visualizar
cores ao ouvir uma música (visão
Na filosofia, há uma teoria de conhecimento chamada empirismo, autonomia. + audição).

ela afirma que o conhecimento é fruto exclusivo ou em grande parte De acordo com a nova legislação, é considerada pessoa com
da experiência sensorial. O termo empirismo, vem do grego, cuja deficiência em seu Artigo 2º como sendo:
tradução para o latim é experientia, experiência no português.
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
Grandes filósofos estão relacionados com o empirismo, Aristóteles, impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
John Locke, Nicolau Maquiavel, Francis Bacon e muitos mais. Ela é a ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
causa da enorme e significativa revolução científica, com crescente obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
valorização das experiências humanas em busca do conhecimento de condições com as demais pessoas.
prático e do domínio da nossa própria natureza.
Caracterizada pelo Decreto nº 3.298 de 20 de Dezembro de 1999 em:
John Locke teve destaque ao defender esse ideal, escreveu em 1690
um “Ensaio Acerca do Entendimento Humano” e inicia dizendo Art. 3º Para os efeitos deste Decreto, considera-se:
112 | ACROMATOPSIA CAP 3 ACROMATOPSIA | 113

I - deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao
função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade desporto, ao turismo, ao lazer, à previdência social, à assistência
para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado social, ao transporte, à edificação pública, à habitação, à cultura, ao
normal para o ser humano; amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes
da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e
II - deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou
econômico.
durante um período de tempo suficiente para não permitir
recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos Na contextualização teórica acerca do tema central do projeto que
tratamentos; e segue, a acromatopsia atrelada a outras deficiências da visão, é vista
como:
III - incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade
de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, (...) § 1° Considera-se, para os efeitos deste Decreto: I - pessoa
meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de portadora de deficiência, além daquelas previstas na Lei n° 10.690 de
deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao 16 de junho de 2003, a que possui limitação ou incapacidade para o
seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser desempenho de atividade e se enquadra nas seguintes categorias:
exercida.
c) deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou
Além de resguardar aqueles que mais carecem, também está de menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a
acordo com a Constituição Federal preservando os sabidos princípios baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor
da Dignidade e da Igualdade da Pessoa Humana. A existência de olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória
apoio legal amplia a possibilidade de inclusão e equiparação da da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor
pessoa com deficiência na sociedade de forma geral. que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições
anteriores;
A existência deste decreto ainda afirma que:
A seguir, alguns artigos que se enquadram na defesa acerca do
CAPÍTULO I ambiente cultural e do acesso à informação da Lei nº 13.146 de 6 de
Das Disposições Gerais Julho de 2015:

Art. 1o A Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Art. 55. A concepção e a implantação de projetos que tratem do
Deficiência compreende o conjunto de orientações normativas que meio físico, de transporte, de informação e comunicação, inclusive
objetivam assegurar o pleno exercício dos direitos individuais e sociais de sistemas e tecnologias da informação e comunicação, e de outros
das pessoas portadoras de deficiência. serviços, equipamentos e instalações abertos ao público, de uso
público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na
Art. 2o Cabe aos órgãos e às entidades do Poder Público assegurar
rural, devem atender aos princípios do desenho universal, tendo como
à pessoa portadora de deficiência o pleno exercício de seus direitos
referência as normas de acessibilidade.
114 | ACROMATOPSIA CAP 3 ACROMATOPSIA | 115

Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de incentivo à E ainda defende o direito de toda e qualquer pessoa dos princípios
produção, à edição, à difusão, à distribuição e à comercialização fundamentais a vida dispostos na Constituição Federal de 1988:
de livros em formatos acessíveis, inclusive em publicações da
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
administração pública ou financiadas com recursos públicos, com
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
vistas a garantir à pessoa com deficiência o direito de acesso à leitura,
em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
à informação e à comunicação.
I - ...
Art. 74. É garantido à pessoa com deficiência acesso a produtos,
recursos, estratégias, práticas, processos, métodos e serviços de II - a cidadania;
tecnologia assistiva que maximizem sua autonomia, mobilidade
pessoal e qualidade de vida. III - a dignidade da pessoa humana;

Em relação a produção do livro-objeto como experiência sensorial, IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
aplica-se a Política Nacional do Livro, Lei nº 10.753 de 30 de Outubro
E finaliza ressaltando as diretrizes e bases da educação nacional
de 2003 descrita como:
inclusas na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996:
Art. 1º Esta Lei institui a Política Nacional do Livro, mediante as
seguintes diretrizes:
TÍTULO II
I - assegurar ao cidadão o pleno exercício do direito de acesso e uso
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional
do livro;
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos
II - ...
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem
III - fomentar e apoiar a produção, a edição, a difusão, a distribuição por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo
e a comercialização do livro; para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

IV - estimular a produção intelectual dos escritores e autores Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
brasileiros, tanto de obras científicas como culturais;
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
V - promover e incentivar o hábito da leitura;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
XI - propiciar aos autores, editores, distribuidores e livreiros as pensamento, a arte e o saber;
condições necessárias ao cumprimento do disposto nesta Lei;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
XII - assegurar às pessoas com deficiência visual o acesso à leitura.
116 | ACROMATOPSIA

IV - ...

V - ...

VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;


CAP 4 ACROMATOPSIA | 119

4.0 O projeto

O projeto acromatopsia, surge da necessidade de inserção do público


acromata na sociedade e nas atividades da vida em geral. Atualmente,
a acromatopsia não é reconhecida pela comunidade, dificultando a
assistência necessária para a normalização da rotina, o que desenvolve
a marginalização e o esquecimento dessa parcela de pessoas dentro
do próprio coletivo.

Desenvolvido em paralelo com as propostas disseminadas pelo design


de experiência, o design inclusivo é característica forte e a principal
essência do projeto.

Acromatopsia é composta por uma linha de livros que valorizam a


cultura em seu caráter sensorial, explorando as mais diversas formas
de se adquirir conhecimento e compreender o ambiente a qual
estamos inseridos. Nesse projeto, cada volume será destinado a um
público com faixa etária específica, visando o melhor aproveitamento
e esclarecimento acerca do momento particular em que vive o
indivíduo. A divisão das etapas é essencial para garantir o perfeito
desenvolvimento individual e um processo educacional e cultural de
sucesso.

A proposta é adaptar os conteúdos habituais da visão cromática de


modo que o acromata possa reconhecê-los e interpretá-los em sua
particularidade, aproximando a realidade do mundo colorido a visão
sem cor, experimentando novas formas de associar cultura e educação
com a cultura das cores.

Os livros são claramente desenvolvidos para pessoas com


acromatopsia, mas podem e devem ser consumidos também por
toda e qualquer pessoa, desde as que possuam visão completa e
saudável até as que são inteiramente cegas, pois é muito importante
120 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 121
Sem diagnóstico comprovado antes dos 5 anos entre 5 e 12 anos depois dos 40 anos

Vendas
estarmos sempre abertos e sujeitos a adquirir novos conhecimentos
e interpretações, mostrando compreensão e interesse pelos Em uma escala de 0 a 10, o
problemas e dificuldades de nossos semelhantes. É necessário quanto ser acromata afeta sua
respeitar a sequência de evolução das etapas do projeto, pois uma vida?
será complementar a outra, desenvolvidas e sustentadas a partir do
Volume I.
38% Entre 0 e 5

62% Entre 5 e 10
4.1 Pesquisa de campo
1º Tri 2º Tri

Vendas
Foi realizada uma pesquisa digital com o público acromata a fim
de compreender e analisar suas dificuldades na participação da Você consome mídia impressa
sociedade e suas limitações em alguns casos.
e/ou digital?
A obtenção de informações cruciais como a idade do diagnóstico,
como é ou foi sua experiência na escola quando criança e quais
desejos ou melhorias são necessárias para beneficiar a qualidade de
vida de um acromata.
100% Sim
A pesquisa teve participação de dezesseis pessoas, com idades que
variam de 4 a 59 anos. 1º Tri 2º Tri 3º Tri 4º Tri

(Todas as perguntas serão anexadas ao fim dessa monografia.) Vendas


Na infância, como foi o contato inicial com livros,
Idade do diagnóstico brinquedos e outras pessoas? Você sentiu desvantagem,
Idade do diagnóstico privação, abandono ou desconforto de alguma forma?

7% Sem diagnóstico comprovado “O desconforto sempre esteve presente nas atividades que
envolviam pintura, na escola.”
31% Antes dos 5 anos

“Nunca me senti em desvantagem ou diferente. Sempre tive


31% Entre 5 e 12 anos
contato normal com os itens citados acima. A única adaptação
31% Depois dos 20 anos feita 1ºpor
Tri
meus
2º Tri
pais,
3º Tri
foi colocar etiquetas com o nome das cores
4º Tri

Sem diagnóstico comprovado antes dos 5 anos entre 5 e 12 anos depois dos 40 anos

Vendas
122 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 123

no material de educação artística” 4.2 Diretrizes para a execução do projeto


“A infância é a parte mais difícil, pois nossos pais pouco entendem; as
crianças são muito preconceituosas.” Seguindo a proposta de caráter inclusivo, a sugestão de
desenvolvimento dos livros, está direcionada a pequenos produtores
“Sim. A falta de acessibilidade na vida de um acromata sempre e artesãos autônomos com ateliês e serviços comunitários de
será um problema e até nos conformarmos de que ela existe para capacitação. Além de trazer uma personalidade única para cada
criarmos nossas formas próprias de adaptação, o sentimento é de unidade, traz também a valorização e o apoio aos trabalhadores
muita tristeza e impotência, principalmente na infância quando a manuais que são fundamentais nesse processo. Nesse tipo de projeto,
falta de maturidade dificulte tanto a aceitação de ser diferente.” não é necessária uma produção industrial numerosa pois o público-
alvo e consumidor não representa uma parcela volumosa o suficiente
“Muito desconforto e constraginentos com certeza. Em desvantagem.
para tal, sendo muito bem atendida pela produção artesanal.
Abandono não pois meus pais me encorajaram sempre.”
O mercado editorial no Brasil tem observado inovações em sua
“Tudo foi precário. Esclarecimento e tudo” produção, permitindo que os designers e criadores de conteúdo sejam
livres para explorar novas formas de manipulação.
“Pelo contrário. A impossibilidade de brincar na rua me aproximou
dos livros” O projeto não almeja comercialização de larga escala, seu principal
propósito é estar unicamente direcionado a locais em que o público
acromata esteja alocado e tenha acesso como grupos de apoio,
centros e clínicas médicas da área, editoras não convencionais, eventos
Com base nas respostas obtidas, observa-se que mesmo com e palestras acerca do tema, ateliês e instituições filantrópicas, por
dificuldades de baixa visão e cegueira das cores, todos os exemplo.
entrevistados consomem mídias digitais e/ou impressas pois há no Como chegar até o consumidor representa grande parte do projeto,
mercado uma grande variedade e individualidade em relação a lentes a divulgação dos livros contará com a realização de eventos no
e lupas de aproximação. lançamento de cada volume nas principais capitais do país, como
São Paulo e Rio de Janeiro, possibilitando ao público uma chance de
Sentimentalmente, boa parte dos entrevistados se sentiu
conhecer e se relacionar com outros portadores além de inteirar-se
desconfortável em algum momento da vida, muitos relatando a
acerca do projeto.
infância como período mais conturbado, pois o diagnóstico tardio
e a falta de compreensão por parte de outras pessoas, afetavam Esses encontros servirão de apoio à própria comunidade acromata
diretamente o desenvolvimento do acromata. como também ao familiares e pais que educam crianças acromatas
e que ainda não se sentem confortáveis e firmes em relação a quais
direções seguir para promover o melhor desenvolvimento dessa
criança.
124 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 125

O convívio com outras pessoas que passam pelos mesmos problemas para identificar e assinar, e que pode ser aplicado sobre qualquer
que o seu é muito importante para se descobrir outras alternativas superfície, refletindo sua condição existencial versátil. É a fusão do
e percepções, além da informação atualizada e precisa vinda de um caractere A, letra inicial da Acromatopsia com o círculo, que juntos
corpo médico que estará disposto a lhe oferecer esclarecimentos. funcionam como um símbolo abstrato e intangível.

O apelo visual será feito e disseminado nos grandes grupos já A linha de livros Acromatopsia confia que seus leitores irão se
existentes nas redes sociais, e uma plataforma exclusiva será acionada interessar pela essência de seu projeto e não apenas pela estética,
para a divulgação de peças gráficas e pequenos vídeos institucionais e que encontrarão fundamentos e valores capazes de mudar a
acerca do projeto Acromatopsia. percepção da sociedade em relação a minorias.

4.3 Identidade visual

conceito

A linha de livros Acromatopsia não pode ser vista como uma marca,
pois esse conceito não cabe em sua existência, mas pode e deve ser
pensada como identidade visual. O ponto de partida para essa criação,
foi o apelo visual que pudesse ultrapassar barreiras linguísticas,
intelectuais e fisiológicas.

Acromatopsia busca nos valores visuais, um direcionamento


minimalista, de simples compreensão e fixação. Seu símbolo é
visualmente claro, pois precisa ser reconhecido por um público que
em sua maioria apresenta baixa visão e dificuldade de assimilação,
com contrastes bem definidos, limpo, e misterioso, com o objetivo de
provocar a curiosidade do público para sua real essência.

Seu símbolo trabalha muito bem como memória afetiva por ser de
fácil associação, o uso da tipografia mesclada com a iconografia,
facilita a interação do usuário com o produto.
fig. 37
Ele funciona baseado na ideia de um carimbo, um selo que é usado
Símbolo
126 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 127

construção do símbolo

MONOCROMIA CONTINUIDADE

A monocromia diz muito sobre a O círculo representa o equilíbrio perfeito,


acromatopsia. O mundo de uma só cor. o ciclo infinito de infinitas possibilidades.

MINIMALISMO MONOGRAMA

Simples e elementar, de fácil associação e Monogramas estão historicamente


entendimento. A essência mais pura. ligados a algo de grade valor.

SELO

Representa a qualidade e a
autenticidade comprovada.
128 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 129

A partir da forma ogânica do círculo, foi possível desenvolver o área de proteção


desenho do símbolo com harmonia visual. A espessura do traçado
h = x, serviu como guia para a construção do grid e para a área de Com o intuito de preservar a integridade do símbolo, a área livre em
respiro do símbolo. volta é previamente delimitada pela distância definida por x ,que deve
ser respeitado em toda e qualquer ocasião. Essa regra é válida para
todas as versões de cor e tamanho. X equivale a espessura do traçado
conforme demonstra a figura a seguir:

x
x
x

x
x

A malha construtiva foi dividida


em módulos à partir
do ponto x.
130 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 131

redução máxima As cores institucionais, são


as cores explanadas no
Acromatopsia Volume I,
Para que a legibilidade do logotipo seja preservada, o menor uma combinação das mais
trabalhadas do arco-íris com o
comprimento permitido para aplicação é de 28,5 pixels para materiais contraste do preto e do branco.

28,5 px digitais e 1 cm para materiais impressos.

1 cm
versões

Sempre que possível, o logotipo deve ser aplicado em sua versão


padrão, seja em positivo ou negativo.

Todas as outras utilizações de cor, são utilizadas para representar uma


cor específica.

padrão cromático

O padrão cromático de Acromatopsia é feito a partir do estudo das


principais cores que cercam e fazem parte da vida como um todo. Sua
POSITIVO NEGATIVO
paleta de cores foi definida pelo conteúdo educacional envolvido no
Volume I da produção, com uma grande gama de variação e aplicação
representativa.
132 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 133

A aplicação correta da cor é fundamental para a identidade. A cor tipografia


padrão segue a referência para impressão em policromia (CMYK) e
versões eletrônicas (RGB).
A linha de livros é composta pela família tipográfica Montserrat,
desenhada pela designer Julieta Ulanovsky que mora e trabalha
no primeiro e mais antigo bairro de Buenos Aires na Argentina,
o Montserrat. Ela foi projetada para resgatar as antigas e belas
C 0 C 15 C 14 C 1 C 100 C 77 C 72 C 0
M 0 M 100 M 71 M 20 M 0 M 17 M 86 M 0 tipografias urbanas espalhadas pela cidade e aperfeiçoadas em um
Y 0 Y 100 Y 100 Y 84 Y 0 Y 100 Y 0 Y 0 nível formal, seguindo um estilo geométrico com sutis ajustes ópticos.
K 100 K 6 K 3 K 0 K 0 K 4 K 0 K 0
Montserrat é uma tipografia sem serifa com uma família completa de
pesos que cabem em diferentes comunicações.
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Como a proposta está baseada em uma porcentagem muito maior


80% 80% 80% 80% 80% 80% 80%
em relação aos elementos visuais do que os tipográficos (sendo até
ausentes em seu miolo como ocorre no Volume I) a escolha de uma
tipografia sem serifa, não interfere na leiturabilidade, pelo contrário,
permite um direcionamento mais pontual e preciso, e sua forma
geométrica com variações de pesos (light, medium, bold, black, etc)
R0 R 196 R 209 R 253 R0 R 63 R 105 R 255 permite a aplicação de uma única família em todas as situações
G0 G 23 G 95 G 205 G 159 G 147 G 60 G 255
B0 B 24 B 21 B 55 B 227 B 53 B 144 B 255
institucionais, além da sua capacidade de expressão eficaz e clara.

Julieta Ulanovsky teve sua criação financiada pelo Google Web


100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonts e hoje sua tipografia é disponibilizada gratuitamente em
caráter internacional. Os países que mais utilizam sua fonte são
80% 80% 80% 80% 80% 80% 80%
respectivamente Estados Unidos, Reino Unido e Brasil.

Todo o material é composto


em Montserrat explorando sas
variações de peso.
134 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 135

BLACK ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVXZ 4.4 Volume I


abcdefghijklmnopqrstuvxz O estudo das cores é muito presente no desenvolvimento humano,
está impregnado de informações superficiais e profundas, ligadas a
BOLD ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVXZ todo momento a nossa vida cotidiana, nossos hábitos, preferências
e cultura. A cor por si só, é uma fonte inestimável de valor, capaz de
abcdefghijklmnopqrstuvxz despertar experiências em cada um que a recebe, nos conectando e
nos aproximando nessa informação em comum, ainda mesmo que
MEDIUM ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVXZ um pouco particular.

abcdefghijklmnopqrstuvxz O Volume I do projeto Acromatopsia surge pensando exatamente


nessa experiência particular que temos das cores, as sensações que
nosso corpo recebe, os mecanismos que adotamos e as consequências
REGULAR ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVXZ da visão cromática. A acromatopsia prejudica essa percepção,
abcdefghijklmnopqrstuvxz impossibilita o olho de receber todas essas explosões de sensações e
experimentações, criando um vácuo descomunal entre a cor e o que
ela realmente representa.
ITALIC ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVXZ
A partir desse olhar crítico que trata mais sobre a percepção do que
abcdefghijklmnopqrstuvxz sobre como a cor age propriamente, foi desenvolvido o projeto para
servir de base para todos os outros futuros estudos e volumes de
LIGHT ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVXZ conhecimento, o volume I, o primeiro livro-objeto, que em essência,
converte a cor em algo que pode ser reconhecido e explorado pelo
abcdefghijklmnopqrstuvxz público acromata e percebido como uma sensação, e não mais como
vagas palavras sem significado algum.
THIN ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVXZ Ackerman confirma a necessidade de aprimoramento sensorial ao
abcdefghijklmnopqrstuvxz dizer que é preciso voltar a sentir as texturas da vida, valorizando-
as como condição para recuperar a beleza dos sentidos
(OKAMOTO, 2002, p.110).

A proposta do volume I é aproximar e transformar as sensações e


os sentidos, traçando uma possibilidade paralela à qual estamos
136 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 137

9
Sinestesia tem a ver com habituados, a qual o público acromata não é capaz de alcançar Sabemos por exemplo, que o uso constante de um dedo ao se ler
aquilo que é “sensorial”, ou somente pela visão. Nesse caso, o tato age como acréscimo da visão, em braile leva a uma enorme hipertrofia da representação desse
seja, aquilo que é capaz de
fundir, ou misturar, diferentes trabalhando como complementar em uma situação de uso em que dedo no córtex. E que, com a surdez precoce e o uso da linguagem
sentidos humanos. Exemplos a visão não está inteiramente apta num processo que se aproxima de signos, podem ocorrer drásticos remapeamentos do cérebro,
de sinestesia: algumas pessoas
sinestésicas conseguem ouvir da sinestesia10. A pele é o maior órgão sensorial do corpo humano, com grandes áreas do córtex auditivo sendo realocadas para o
um movimento visual (audição +
visão), conseguem sentir cheiro
chegando a pesar 4 Kg em um adulto, formada por milhões de nervos processamento visual. (SACKS, OLIVER, 2006, p.50)
ou gosto de uma imagem visual que funcionam como receptores sensitivos, responsáveis por levar até
(olfato ou paladar + visão), outros Isso frequentemente ocorre, de ilimitados e diferentes modos,
ainda conseguem visualizar
o cérebro a ideia de que estamos tocando algo. Enquanto a maioria
pois nosso cérebro é infinitamente capaz e mais mutável do que
cores ao ouvir uma música (visão dos sentidos nos dá informação acerca do mundo, é o tato que
+ audição). imaginamos, ele apenas precisa que estejamos abertos e dispostos
propriamente nos possibilita possuí-la de fato.
a vislumbrar em um mar de possibilidades as ferramentas certas
O estudo tátil se relaciona diretamente com o estudo da ergonomia, para incentivar tais descobertas. A mente humana é muito ampla
que pode ser descrita como a valorização do homem em interação para nos limitarmos em utilizar nossos sentidos de modo individual,
com a máquina, e não mais na mecanização deste processo. sem conexão, a melhor forma de instigar esse autoconhecimento é
estimular a consciência corporal das funções desde cedo.
A exploração do prazer tátil consiste em um recurso lúdico
aplicado em muitos livros-objetos. O recurso simula uma textura Uma forma de entender como os sentidos podem ser usados nas
condizente com o real ou pode ser aplicado para causar uma experiências é construir uma taxonomia11 e povoá-la com suas [dos
estranheza, ou seja, quando não há uma correspondência entre designers] próprias opiniões. Vistos que nossos sentidos são tão
a imagem e a textura, incentivando a reflexão do leitor. (ROMANI íntimos e parte de nós, eles tendem a ser difíceis de traduzir para
apud PERROT, 1987) os outros. Isso significa conduzir uma exploração mais completa
não somente das próprias reações aos sentidos, mas também das
Trabalhar com o tátil quando se fala de algo relacionado a visão, pode reações dos outros. (SHEDROFF, 2005, p.244)
parecer confuso e sem sentido para nós de visão cromática total, pois
temos nosso olho desenvolvido tão plenamente e conectado com Com base nessa nova crença de possibilidades, o volume I está
nosso cérebro em uma perfeita harmonia, que nos causa estranheza inteiramente relacionado ao lúdico, à exploração e às sensações que
pensar que a percepção que alcançamos pela visão, pode ser podem ser percebidas pelo tato, mas que dizem respeito a resultados
alcançada semelhantemente por meio de outros sentidos. provenientes da visão.

Os trabalhos da última década mostraram a maleabilidade Antes de conhecer a cor como parte de algo, de associá-la a algo ou
do córtex e a que ponto a maneira como o cérebro “mapeia” ainda decorar nomenclaturas diversas sem sentido, a experimentação
a imagem corporal, por exemplo, pode ser drasticamente é algo essencial para romper o maior problema da visão acromática,
Técnica de classificação
¹¹

reorganizada e revisada, não apenas em consequência de lesões e a falta de sensibilidade e a alienação. Neste volume inicial, serão que lida com a descrição,
identificação e classificação dos
imobilizações, mas do uso especial ou desuso de partes individuais. estudadas oito das inúmeras cores do espectro solar que mais organismos
138 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 139

exercem influência na vida cotidiana e que são essenciais para a linguagem nem todas as palavras têm uma significação clara e
compreensão plena do ambiente no qual estamos inseridos. As cores exata. A experiência convencerá facilmente qualquer um de que
selecionadas são variações das sete cores naturais do arco-íris com a uma definição não pode fazer com que o significado da palavra
adição essencial do preto e do branco, resultando na paleta composta luz seja entendido por um cego; idéias simples não podem ser
por vermelho, laranja, amarelo, azul, verde, violeta, preto e branco. adquiridas por definições. (YOLTON, 1996, p.58)

A primeira experiência por que passa uma criança em seu O acromata tem então a oportunidade de entender cada cor como
processo de aprendizagem ocorre através da consciência tátil. um universo novo e particular, cheio de valor e essência, e pode se
Além desse conhecimento “manual”, o conhecimento inclui o aproximar da visão cromática saudável pois consegue compreender
olfato, a audição e o paladar, num intenso e fecundo contato com como elas se colocam, onde cada uma delas cabe melhor e quais as
o meio ambiente. (DONDIS, 1997, p.6) sensações que nosso corpo responde à sua presença.

Estruturado pelo estudo da psicologia das cores e da pedagogia O reconhecimento das cores, acontecerá de forma particular a cada
das cores, o livro volume I aproxima o que antes era intangível criança, assim como no processo de aprendizado das crianças com
e abstrato de algo que agora pode ser sentido e percebido pelo visão cromática. O objetivo principal deste volume, é fomentar a
toque. Cada cor exerce uma particularidade e nos influencia memória tátil, a idéia de grupo e proximidade e não necessariamente
fisiologicamente de uma forma, logo, podemos encontrar no palpável, impor o que se entende por azul ou amarelo.
outras formas de despertarmos sensações relacionadas a ela. Não
Nesta etapa do projeto, espera-se que a criança faça o
podemos simplesmente definir uma cor como fria ou quente e
reconhecimento daquele agrupamento de texturas e possa memorizá-
por definição querer provocar uma experiência em alguém, pois a
las como uma unidade, percebendo sua duplicidade nas diferentes
natureza sensorial está além dos limites da linguagem falada, mas
abas do livro-objeto, e então, interprete aquele grupo de experiências
podemos por meio de diferentes materiais e texturas, direcioná-
táteis em uma cor, que não necessariamente serão correspondentes
la pelo tato, a experimentar o quente e o frio, e em sua percepção
ao primeiro contato, mas que posteriormente com o auxílio de pais
particular, concluir seu entendimento de cor. Cada sensação de cor,
e educadores, ou até mesmo dos volumes seguintes, reconhecerá as
é relacionada a uma textura diferente, que deve ser percebida e
cores equivalentes aos grupos texturizados.
explorada de modo individual sem influências externas, pois assim
como na visão cromática, as cores são carregadas de definições O volume I do projeto Acromatopsia é destinado a crianças acromatas
e bagagens comuns a todos, mas ainda assim são passíveis de não alfabetizadas, pronto para ser explorado de forma independente,
particularidades. sem roteiros forçados de direcionamento, favorecendo a formação
e a sensação de satisfação pela não dependência, a comunicação
[...] temos poucos nomes para gostos e cheiros, e devemos deixar
sem fronteiras, e o particular sem influências do meio externo. O
que sejam descobertos pelo pensamento e a experiência de cada
livro trabalha como um jogo lúdico e sinestésico, reconhecendo os
indivíduo. É também por experiência que aprendemos que, numa
sentidos da criança, mesclando-os e favorecendo no aprimoramento
140 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 141

das habilidades exigidas como a memória visual e tátil. A abertura e quando existe luz. Isto aparentemente tão trivial é uma das
fechamento da abas fornece à criança a aprendizagem na distinção chaves para entender a identidade da cor e com ela, dar um passo
entre o dentro e o fora (ELIZABETH ROMANI, 2011) e aguça sua decisivo no seu estudo particular e no estudo de sua função geral.
curiosidade e associação de semelhanças. (Sanz, 1993:14)

Com essa bagagem de experimentação em mãos, o acúmulo de O volume I mostra que é possível seguir no caminho, mesmo com
informações e a obtenção de novos conhecimentos relacionados a limitações, dificuldades e empecilhos. Ele abre novas portas para
cor, devem fazer maior sentido na percepção de um acromata. Estar o então ensino tradicional e quebra barreiras de preconceito e
previamente informado do frescor contido na cor verde e da sua doutrinação ultrapassados, deixando claro que aliado ao design, é
temperatura ambiente que mescla perfeitamente o quente e o frio, capaz de percorrer caminhos jamais antes percorridos e atender com
diz muito sobre compreender o porquê das folhas serem dessa cor, eficiência todos os públicos.
possibilitando uma associação mais verdadeira e consciente.

A expectativa de reconhecimento do volume I, está diretamente 4.5 Processos de produção e defesa de materiais
relacionada ao consumo sequencial de toda a linha de livros
Acromatopsia. A leitura de apenas um de seus volumes, implica uma Os processos de produção de um livro-objeto são amplamente
interpretação defasada, irregular e incompleta. O êxito do projeto distintos dos processos que envolvem a produção de um livro
requer o desenvolvimento do acromata em paralelo com o trajeto convencional, desde suas características físicas como formato e
serial dos livros, que tende a explanar criteriosamente novas formas de disposição, quanto suas funções e usabilidades.
se adquirir conhecimento, com ferramentas pertinentes a faixa etária
pré determinada. Não há regra ou direcionamento pré-determinado para sua produção,
em geral seus processos são caracterizados por uma significativa
Os volumes posteriores irão abordar de forma associativa conteúdos liberdade e infinitas possibilidades.
que são explanados no modelo de ensino aplicado atualmente e
poderão ser trabalhados em diversas disciplinas como geografia,
ciências e matemática, além dos conteúdos de informação cultural e formato e estrutura
outras inteligências que estão além do conteúdo pragmático, todos
adaptados e efetivados para o pleno reconhecimento do público O volume I do projeto acromatopsia apresenta o formato quadrado,
acromata. de suporte com abas nas dimensões 20cm x 20cm feitas de papel
triplex 300g empastadas com laminação brilhante. Esse tamanho foi
Receber a informação sobre os corpos que nos rodeiam e não
idealizado para facilitar o manuseio infantil, permite que a criança
chegar a compreender a essência da mensagem cromática, é
tenha total controle sobre ele e possibilita uma exploração ampla
perceber o entorno de maneira incompleta, desperdiçando grande
quando aberto em uma espécie de tabuleiro sensorial, instigando
parte da riqueza cognitiva que, só ao abrir os olhos nos alcança...
142 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 143

a descoberta tátil não só pelas mãos, mas por toda a extensão dos O livro-objeto é revestido por uma firme capa dura numa base
órgãos sensoriais. A laminação brilhante assegura um prolongamento cartonada feita de papel couché 150g/m², ideal para a manipulação
da vida útil do livro-objeto, pois facilita a higienização e garante livre e está fixado ao livro apenas por uma de suas abas, deixando sua
melhor usabilidade, sendo resistente para acomodar as diferentes lombada desprendida e maleável à superfície. É acompanhado de
texturas e suportar os movimentos de abre e fecha das diferentes um estojo tipo luva slipcase produzido sob medida para acomodar
paginações. perfeitamente o livro-objeto e garantir uma estrutura fixa, que é
comprometida na produção devido ao uso de diferentes espessuras e
As abas possuem uma encadernação artesanal, sem costura, sem
gramaturas. A caixa luva cria um vácuo facilitando a conservação e o
grampo, que se aproxima da encadernação mecânica, caracterizada
transporte, deixando a lombada exposta para fácil reconhecimento, e
fig. 38 pelo encaixe de acessórios plásticos ou metálicos por meio de
produzida também com alta gramatura de papelão.
furos revestidos por ilhós e arruelas de ferro, que garantem um furo
Capa
seguro livre de rasgos e alargamentos. A encadernação aparente Fixado na folha de guarda, há um bolso que guarda o gabarito do
foi propositalmente escolhida, para poder ser também livremente livro-objeto. Este pode ser utilizado por pais ou educadores que
manuseada e ser parte do projeto de modo ativo, feita com um tipo queiram uma direção para facilitar a interpretação das escolhas acerca
de cabo resistente e anexados com metal de artesanato. do livro, mas recomenda-se que essa consulta seja feita somente após
tentativas e interpretações pessoais sem interferências externas.

organização da página fig. 40


Gabarito
Todas as páginas do projeto Acromatopsia volume I, seguem o padrão
visual acromático, com tons de branco, preto e cinza, que apelam
visualmente ao expectador de visão saudável e proporcionam reflexão
acerca do impacto acromático.

A estrutura do livro-objeto é inteiramente branca, e as únicas


representações de cor presentes no livro-objeto, são os adesivos que
funcionam como gabarito para o suporte se necessário de pais ou
educadores. Os adesivos seguem a paleta cromática do projeto e
foram impressos em adesivo vinil 120g com corte especial.

Os adesivos sinalizam a cor representada em cada página, sendo


fig. 39 imperceptível ao acromata, que o reconhece apenas com diferentes fig. 41
Aplicação de capa tonalidades de cinza. Caixa luva
144 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 145

A diagramação das páginas não segue uma malha estrutural bem O vermelho é descrito como a cor mais quente, do fogo, perigosa,
definida, mas é possível notar similaridade das manchas gráficas de tato quente como o toque do tecido plush, ideal para invernos e
ao longo da páginas, com margens respeitadas e quando possível, temperaturas amenas, e de natureza parcialmente áspera, que se nota
centradas horizontalmente. certa dificuldade de movimento, como o toque da madeira com suas
fibras e a delicada rigidez da lixa d’água. Ainda assim, é uma cor de
imenso valor, prazerosa como a seda.
particularidades

LARANJA
Cada cor é particular em suas características, ativas como seres
independentes e ricas em bagagem cultural. Por esse motivo,
serão defendidas individualmente e relacionadas ao tátil de forma
fig. 42 autônoma. Para compreender essa associação, é válido estar ciente da
Materiais usados na sua natureza descrita em a psicologia e pedagogia das cores.
representação da cor
vermelha
VERMELHO

O laranja é enérgico, ativo, cheio de filamentos, assim como a


casca da laranja, é caracterizado por uma superfície irregular que fig. 43
pode ser sentida pela rede e pela colméia, cheios de porosidade, e Materiais usados na
harmônico como o movimento das fibras trançadas. É uma cor que representação da cor
fisiologicamente nos chama a atenção, tem o poder de nos prender, e laranja
assim como o toque do silicone, consegue estar realmente em contato
com a pele.
146 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 147

AMARELO VERDE
fig. 44 fig. 45
O amarelo é a cor macia, que mais se assemelha ao branco. Consegue O verde é a cor das possibilidades, de diversas naturezas. Ele é
Materiais usados na acalmar um corpo antes agitado, revigorar um estado cansado, representado pelo frescor, sentido pelo toque frio mas confortável Materiais usados na
representação da cor representação da cor
assim como o agradável toque da espuma e do tecido quente. Em das pastilhas, miçangas e corrente, que se adequam facilmente em
amarela verde
contrapartida, é a cor mais instável, cheia de imperfeições como o fio contato com a pele. Ainda que iguale ao corpo, se mostra sempre
de rami e a cortiça que parecem estar se desprendendo do próprio ativo e presente, com o leve incômodo do toque padronizado da
corpo, e o tule que possui toque único e de sequência regular. tábua.
148 | ACROMATOPSIA CAP 4 ACROMATOPSIA | 149

AZUL VIOLETA
fig. 46 fig. 47
Materiais usados na O azul é a cor favorita pela maioria das pessoas, de temperatura ideal O violeta é a cor irreal, a mais difícil de ser encontrado na natureza Materiais usados na
representação da cor e toque extremamente aderente à pele humana. O silicone em suas por ser tão exótica. Seu toque é irregular, assim como o tecido de representação da cor
azul versões lisa e texturizadas, cumprem esse papel. A espuma caracteriza lantejoulas, lúdico como as bolinhas e os adornos de artesanato, se violeta
um toque incomum, quase que irreal, assim como a cor azul, tão pura associa ao toque único, cheio de pequenas irregularidades como no
que chega a transcender. Os tecidos macios parecem ter vida própria, zíper e ainda assim, real e plana como no toque do acrílico. O violeta
movimento descontínuo e irregular, mas ainda assim, prazeroso. é uma cor de caráter quente, de associação luxuosa, de presença e
unidade como a penugem.
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PRETO BRANCO
fig. 48 fig. 49
Materiais usados na O preto é a cor mais forte, fria, rígida, chapada. De todas as cores, seu O branco é a cor mais pura, quase não se percebe. Expressa tanta paz, Materiais usados na
representação da cor toque é o mais perceptível, o mais desagradável e inconstante, chega equilíbrio, que se perde no contato com a pele. O plástico em suas representação da cor
preta a machucar dependendo da intensidade que é tocado. Expressa sua versões quente e fria, representam sua versatilidade e proximidade branca
agressividade na lixa, no velcro, e nos fios desconexos da esponja de com o psicológico, enquanto o veludo é extremamente macio e
aço. No capacho ele ainda se apresenta irregular e bagunçado, mas presente, o tecido de organza quase some entre os dedos. O protetor
em uma versão menos forte de si próprio e mais delicado. adesivo PU é aderente, nos torna ativos e participantes de sua
existência.
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4.6 Situações de uso

fig. 50
figs. 38 e 41 Capa e Caixa luva
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figuras 51
Folder

figuras 51
Folder
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figuras 52
Aplicações

figuras 52
Aplicações
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fig. 53 fig. 54
Sequência de abertura Capa
do livro-objeto
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Considerações finais

A realidade atual se mostra precária e egoísta no que diz respeito à


produção e inclusão de minorias. Isto torna o design de experiência
uma forte ferramenta contra os ideais exclusivamente capitalistas e
clássicos dos meios de comercialização.

O levantamento realizado durante a pesquisa para este projeto


apresentou um grande despreparo e desinteresse da maior parte da
sociedade em relação a acromatopsia. Comprovou-se necessário
fomentar a discussão sobre o papel social do designer e as formas
possíveis de se disseminar informação. A falta de conhecimento gera
desconforto, angústia, e pode acarretar muitos outros sentimentos
inoportunos no indivíduo portador da enfermidade, podendo até certo
grau, excluí-lo ou afastá-lo do convívio coletivo.

A acromatopsia, avaliada detalhadamente junto às reais necessidades


de seus portadores, nos levou a ultrapassar barreiras de padrões
estabelecidos anteriormente, tais como os princípios da percepção
visual e conceitos estéticos de beleza e funcionalidade, apresentando
particularidades do público acromata que antes não eram valorizadas.

Ainda que sua essência possa ser vista como abstrata em comparação
aos métodos ancestrais de ensino e absorção de conhecimento,
consideramos que o objetivo principal foi alcançado, visto que a série
de premissas estabelecidas para o desenvolvimento do projeto foram
atendidas e sua função foi cumprida.
162 | ACROMATOPSIA ACROMATOPSIA | 163

Anexo I - Entrevistas

As entrevistas a seguir foram transcritas exatamente como os


entrevistados a responderam, preservando erros de português e gírias.

1- Você é acromata?

1. Sim 9. Sim
2. Sim 10. Sim
3. Sim 11. Sim
4. Sim 12. Sim
5. Sim 13. Sim, minha mãe está respondendo
6. Sim 14. Sim
7. Sim 15. Sim
8. Sim 16. Sim

2- Gênero

1. Masculino 9. Feminino
2. Feminino 10. Feminino
3. Feminino 11. Feminino
4. Feminino 12. Feminino
5. Feminino 13. Masculino
6. Feminino 14. Feminino
7. Feminino 15. Masculino
8. Feminino 16. Feminino
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3- Profissão 3. 48 anos

1. Empresário 9. Criança estudante 4. Na infância, não lembro a idade

2. Professora de Matemática 10. Advogada 5. Mais de 30 anos

3. Funcionária Pública 11. Fisioterapeuta 6. 7 anos

4. Técnica Judiciária 12. Relações Públicas 7. 21 anos

5. Redatora publicitária 13. Criança estudante 8. 6 anos

6. Produtora 14. Terapeuta 9. Não tem diagnóstico comprovado em papel

7. Empresária 15. Professor 10. Cerca de 1 ano de idade. Primeiro fui diagnosticada com Distrofia
de Cones e muito tempo depois a palavra Acromatopsia surgiu na
8. Técnica ministerial 16. Biomédica minha vida, salvo o engano por volta dos meus 17 anos. Antes de tudo
eu fui diagnosticada com um disturbio cerebral, tomei medicação
4- Idade erroneamente para tratar este suposto disturbio e tive diversos efeitos
colaterais, inclusive uma convulsão bem grave que quase me matou
1. 56 anos 9. 5 anos e 7 meses
quando eu era bebê e levou meus pais a procurarem outros medicos
2. 54 anos 10. 24 anos que perceberam que o meu “problema” era apenas visual.
3. 58 anos 11. 24 anos 11. 06 meses
4. 29 anos 12. 58 anos 12. Ao nascer. Minha irma foi diagnosticada aos 2 anos. E qdo eu nasci
5. 59 anos 13. 4 anos perceberam que era o mesmo problema

6. 36 anos 14. 42 anos 13. 7 anos

7. 33 anos 15. 50 anos 14. 20 anos

8. 27 anos 16. 31 anos 15. 12 anos


16. 1 ano
5- Idade do diagnóstico
6- O quanto isso afeta sua vida, em uma escala de 0 a 10?
1. 03 meses
2. Há cerca de 04 anos (50 anos) 1. 5 9. 1
2. 7 10. 8
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3. 8 11. 6 6. Sim 14. Sim


4. 6 12. 8 7. Sim 15. Sim
5. 7 13. 1 8. Sim 16. Sim
6. 2 14. 8
9- Caso suas respostas acima sejam positivas, cite quais
7. 3 15. 7
adaptações você utiliza nesses casos. (ex: lentes, lupas, etc)
8. 9 16. 5
1. Lupa
7- Você consome multimídias? (ex: televisão, computador,
2. Aproximação. Raramente uso a lupa
aparelho celular, etc)
(ao pé vejo razoavelmente bem; cerca de 80%)
1. Sim 9. Sim
3. Lupas, telelupas, óculos
2. Sim 10. Sim
4. UTILIZO O APLICATIVO LUPA, NO COMPUTADOR.
3. Sim 11. Sim 5. Óculos para perto, lupa
4. Sim 12. Sim 6. Caso a letra seja muito pequena, utilizo lupa.
5. Sim 13. Sim 7. Lupa e óculos
6. Sim 14. Sim 8. Lentes, lupas no pc, câmera do celular para ampliar fotos daa coisas
7. Sim 15. Sim que não vejo...

8. Sim 16. Sim 9. Nenhuma


10. Nos eletronicos uso as onfigurações de acessibilidade que ampliem
8- Você consome mídia impressa? (ex: jornal, livro, revista, etc) a letra e as imagens, deem contraste e tirem o máximo do brilho da
tela e, para os impressos, uso lupas, além dos óculos que nunca saem
1. Sim 9. Sim
do meu rosto.
2. Sim 10. Sim
11. Régua de aumento
3. Sim 11. Sim
12. Lentes tingidas sem grau, lentes rígidas por cima com grau para
4. Sim 12. Sim miopia, óculos com grau para ler de perto, lupas qdo as letras são
muito pequenas.
5. Sim 13. Sim
168 | ACROMATOPSIA ACROMATOPSIA | 169

13. Nenhuma 8. A infância é a parte mais difícil, pois nossos pais pouco entendem;
as crianças são muito preconceituosas.
14. Ampliacao recursos do sistema
9. Ela não sabe expressar sobre isso ainda.
15. Lupa...fotografia da tela e zoon
10. Sim. A falta de acessibilidade na vida de um acrobata sempre será
16. Proximidade física junto aos aparelhos citados
um problema e até nos conformarmos de que ela existe para criarmos
nossas formas próprias de adaptação, o sentimento é de muita
10- Na infância, como foi o contato inicial com livros, tristeza e impotência, principalmente na infância quando a falta de
brinquedos e outras pessoas? Você sentiu desvantagem, maturidade dificulte tanto a aceitação de ser diferente.
privação, abandono ou desconforto de alguma forma?
11. Sim. Letras pequenas e não identificando as cores

1. Médio 12. Muito desconforto e constraginentos com certeza. Em


desvantagem. Abandono não pois meus pais me encorajaram sempre.
2. Correu tudo com normalidade. Fui sempre considerada igual aos
outros. 13. Não

3. Sim. Algumas situações são difíceis. As pessoas são reconhecidas 14. Tudo foi precario. Esclarecimento e tufo
somente, quando estamos muito perto. E no sol geralmente não
15. Pelo contrario. A impossibiludade de brincar na rua me alroximou
enxergamos/reconhecemos mesmo pessoas bem próximas e de
dos livros
convivência habitual. Não enxergamos no quadro negro. Ao ler temos
que colocar o livro muito próximo. O que torna a leitura cansativa. 16. Não
Quando a leitura é feita em público chama a atenção das pessoas que
não percebem e nem entendem a necessidade. Pode surgir buling e 11- O que poderia ser feito e o que deixou de ser feito para o
situações desagradáveis. seu bem estar e sua inclusão na infância?
4. O DESCONFORTO SEMPRE ESTEVE NAS ATIVIDADES QUE
ENVOLVIAM PINTURA, NA ESCOLA. 1. -

5. Sim 2. Muito pouco.

6. Nunca me senti em desvantagem ou diferente. Sempre tive contato 3. -


normal com os itens citados acima. A única adaptação feita por meus 4. O IMPASSE FOI RESOLVIDO POR MINHA IRMÃ MAIS VELHA, QUE
pais, foi colocar etiquetas com o nome das cores no material de COLOCAVA OS NOMES DAS CORES, NOS LÁPIS, ASSIM, ERA SÓ
educação artística DESCOBRIR “A LÓGICA DAS CORES”.
7. Sim, sem dúvidas 5. Conversas sobre a deficiência
170 | ACROMATOPSIA ACROMATOPSIA | 171

6. Na verdade, nada. Sempre tive muito apoio dos meus pais, 12- O que mais te afeta em relação a sua enfermidade? (ex:
familiares e professores. Nunca fui tratada de maneira especial ou dirigir automóveis, escolha de profissão, etc)
diferente por ser acromata.
7. As pessoas conheceram mais sobre a acromatopsia 1. Dirigir
2. Conduzir automóveis, decididamente. Talvez tivesse sido médica se
8. Não existe acessibilidade. vise bem. No entanto sinto-me muito realizada na minha profissão.
3. -
9. Como mãe quero incluir o braile de cores, porém os professores
creem que seja cedo.... 4. O QUE MAIS ME AFETOU FOI O FATO DE NÃO PODER DIRIGIR, POIS
ISSO ME LIMITA DEMAIS.
10. Eu poderia ter sido mais ouvida, principalmente no ambiente
escolar, para que eu disse adaptada conforme minhas particularidades 5. Não dirigir, dificuldade com as cores
e não conforme o padrão de adaptação de uma pessoa com 6. O grande problema é não poder dirigir, por causa da visão
dificuldade de enxergar que não servem como um todo para mim. A subnormal. No resto, acredito ser bem adaptada e nunca deixei a
acromatopsia é uma doença com características muito peculiares mas acromatopsia influenciar minhas escolhas. Tanto que me formei em
de adaptação quase que completamente possível. Falta nas pessoas Cinema.
ter menos dó ou pseudo compaixão pelo “exemplo de superação” que
7. Dirigir e claridade
o deficiente é e mais real intenção de ouvi-lo e adapta-lo de verdade.
8. Falta de mobilidade, ir aos bancos ě terrível, pois não há
11. Recurso de aumento das letras, recurso para enxergar o quadro
acessibilidade.
negro e leitura de corea
9. Hoje as atividades escolares.... pq tudo é branco ou vermelho ( preto)
12. Tudo o que podia ser feito na época foi feito. Hj tem muitos
auxílios óticos. Na minha época não havia nem diagnóstico correto. 10. Tudo! Embora eu tenha uma vida completamente dentro da
normalidade para quem vê de fora (moro sozinha desde os 17 anos,
13. A minha única necessidade é o uso de óculos escuros para brincar
me formei, trabalho, viajo, namoro, prático atividade física, curto
na rua, mas já os uso desde os 5 meses.
festas...) eu, que estou todo dia comigo sei o quanto eu precisei me
14. O que deve ser feito e ter conhecimento do assunto desdr a reinventar em casa detalhe da minha vida para ter essa “vida normal”.
familia. Amigos escola. Sociedade Da hora que eu acordo até a hora que eu vou dormir eu faço tudo que
15. Jogar bola e empinar pipa todo mundo faz, mas quase tudo de um jeito diferente. Atualmente
o que mais me afeta é não poder dirigir diante da autonomia que
16. Fonte aumentada e material de alto contraste isso me daria, mas isso varia com os momentos da vida. Em geral, no
entanto, a fotofobia severa foi sempre o que mais me atrapalhou.
172 | ACROMATOPSIA ACROMATOPSIA | 173

11. Dirigir automóveis da criança


12. Hj já estou completamente adaptada. Só não dirijo. 7. Dar autonomia para as crianças
13. Por enquanto apenas a necessidade de trocar os óculos para sair à 8. É bom que seja feito de modo que ela possa interpretar, mas
rua, mas já aprendi a trocar sozinho sabemos que mesmo as crianças comuns precisam de auxílio dos pais
nestas idades citadas.
14. Dirigir. Calaridade. Cores
9. Participação dos pais, professores, T.O., Fisio etc... assim educamos
15. Dirigir
mais pessoas....
16. Exatamente: dirigir e efetuar de forma plena em minha profissão
10. Eu acho interessante que quanto ao manuseio (autônomo ou com
auxílio), este seja exatamente igual ao das outras crianças “normais”
da mesma idade e grau escolar da criança acromata. Se as crianças
da sala da criança acromata precisam de auxílio para acessarem seus
Anexo II - O projeto livros, o livro sensorial também deve requerer tal auxílio. Se o livro
das crianças não acromatas serem a estas autonomia, o livro sensorial
também deve dar autonomia a criança acromata. Ou seja: este livro
13- Vocês acham importante o livro ser totalmente destinado
deve promover a igualdade de fato, dando apenas adaptação a criança
e manuseado pelas crianças dando a elas autonomia, ou
acromata na medida de sua deficiência e não tratamento especial.
seria interessante um livro que pudesse ser interpretado e
11. Sim
entendido com a participação dos pais ou qualquer outra figura
cuidadora? 12. Autonomia para a criança.
13. As duas propostas são boas, as criancas acromata tem bastante
1. Sim, acho interessante autonomia
2. Deve permitir que o leitor seja autónomo. 14. Livro onde a crianca tenha autonomia

3. - 15. A participcao de pais e responsaveis tendo em vista a possibilidade


de auxilio aos que nao tem tanta autonomua
4. COMO A LIMITAÇÃO ESTÁ NAS CORES, NÃO VEJO PROBLEMA QUE
16. Ambos
HAJA AUTONOMIA PARA AS CRIANÇAS.
5. Melhor se a criança não depender do adulto
14- Você conhece e recomenda algum outro aparato que lhe dê
6. Acho interessante criar uma autonomia desde cedo. Mas na faixa auxílio? (ex: app de reconhecimento das cores)
etária mencionada, é legal ter a participação dos pais nas atividades
1. -
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2. Não vejo grandes vantagens. Em termos de cor, nós estamos 15. Não
habituados a definir entre que cores pode estar determinado tom de
16. Desconheço
cinzento
3. - 15- Deixo aqui, um espaço aberto para sugestões, comentários,
4. NÃO CONHEÇO. críticas e opiniões à respeito do projeto. Gratidão por todo o
apoio.
5. Lembro que minha mãe marcava os lápis com os nomes das cores.
6. Tenho instalado um app de reconhecer cores, mas o utilizo mais 1. -
quando faço minhas ilustrações.
2. Era necessário mais interesse científico, mas sei que, dado o
7. Aplicativo coloradd
reduzido número de doentes com Acromatopsia não seria vantajoso
8. Lupa em termos económicos. Aqui em Portugal não conheço mais ninguém
com esta doença.
9. Braile de cores (Portugal)
10. Atualmente o que mais me ajuda são umas lentes de óculos 3. -
escuros de uma marca chamada Segment, modelo Blue Block. 4. APENAS, A PARABENIZO PELA INICIATIVA.
Essas lentes são muito responsáveis pela autonomia que tenho
5. Acho interessante uma iniciativa que exponha a enfermidade, que
hoje. Também uso monóculo para enxergar de longe e isso teria
deixe de ser um tabu, um motivo de vergonha para a criança
me ajudado muito se eu tivesse conhecido na minha infância para
6. Parabéns pela iniciativa do projeto! Sucesso! :)
enxergar na lousa, principalmente. Também uso uma lupa de apoio
oval tipo pedra, que é uma lupa acrílica, no entanto não sei a utilidade 7. -
delas para crianças devido ao peso e a fragilidade.
8. Se for fazer um livro, utilize letras grandes e contrastantes com as
11. App de reconhecimento de cores, óculos blue bloco e regi de cores do material. A mesma dica serve para o uso de imagens. Acho
aumento que na infância eu gostaria de ter ganho um livro dizendo COMO SÃO
AS CORES E O QUE É DAQUELA COR.
12. As lentes tingidas de marron pra mim é o melhor que o acromata
pode ter. Nosso maior problema é a claridade. Eu pelo menos não me 9. Mto interessante! Não limite a idade em 4 anos... muitos acromatas
importo com a falta das cores já que nunca as vi. tem outras patologias associadas que causam um atraso cognitivo
e às vezes podem deixá-los com até 2 anos de atraso em relação
13. Conheço mas não uso, perguntar aos outros é bem mais rápido e a
aos “normais”! Use a rotina...tem um efeito melhor no aprendizado!
resposta mais correta, o aplicativo apresenta erros
Faça uma versão que possa explicar de modo lúdico porque eles
14. - são “diferentes” ... essa pergunta deixa os pais mto apreensivos.... se
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pudesse nos nortear seria ótimo! Digo uma versão porque só a partir Lista de Figuras
dos 5, 6 anos eles percebem que são diferentes e isso os machuca...
digo isso pq minha filha com esta idade começou a ranger os dentes Figura 1 - Cor - pigmento, pg. 23 (FACEBOOK, online)
enquanto dorme... e a psicóloga associou a isto....
(AUTORIA PRÓPRIA)
10. A ideia é muito boa e teria me ajudado muito se tivesse na minha Figura 8 - Círculo cromático de
época. Quando vi esse projeto me lembrei da dificuldade que eu tive
Figura 2 - Cor - luz, pg. 24 Goethe reproduzido por Ivette
para entender os mapas e como isso seria diferente se eu tivesse um
livro sensorial para me ensinar, então acho que a ideia poderia ir ate (AUTORIA PRÓPRIA) Noemi Alvarado, pg. 38
além do auxílio de crianças de 1 a 4 anos. No mais, para qualquer (IVETTE NOEMI ALVARADO, online)
projeto de promoção de igualdade, tenham sempre em mente Figura 3 - Fisiologia do olho
este ensinamento de Aristóteles: tratar os igual com igualdade e os
humano, pg. 25 Figura 9 - Representação gráfica
desiguais como desiguais na medida de sua desigualdade de forma a
promover igualdade e justiça. Ou seja: o tratamento diferenciado deve (MUNDO EDUCAÇÃO, online) da cor vermelha, pg. 42
ser apenas para promover iguais condições de acesso, participação e (AUTORIA PRÓPRIA, online)
direitos, não se confundindo com um tratamento especial que fará
Figura 4 - Teste de cores de
da criança um ser humano apoiado na muleta da deficiência. Deve-
Ishihara, pg. 30 Figura 10 - Representação
se dar a criança iguais condições inclusive de passar pelas mesmas
dificuldades das outras crianças. (COLOR-BLINDNESS, online) gráfica da cor laranja, pg. 46
(AUTORIA PRÓPRIA, online)
11. -
Figura 5 - Anomaloscópio de
12. Parabéns e sucesso. Estou as ordens. Fico muito feliz com o
interesse. Nagel, pg. 31 Figura 11 - Representação

13. Achei bem interessante e gostaria de adquirir o livro depois (SISWEB, online) gráfica da cor amarela, pg. 50
(AUTORIA PRÓPRIA, online)
14. Umlongo caminho. Aos poucos os avancos foram vido e com eles
as possibilidades Figura 6 - Lãs de Holmgreen, pg.
31 Figura 12 - Representação
15. Parabens pelo projeto
(UTSIC, online) gráfica da cor azul, pg. 54
Sou professor e sei.o quanto e dificil fazer pwsquisa no Brasil
(AUTORIA PRÓPRIA, online)
Nos de um fedback da pesquisa
Figura 7 - Experiência de Isaac
16. Meus parabéns! Excelente iniciativa.
Newton, pg. 37 Figura 13 - Representação
178 | ACROMATOPSIA ACROMATOPSIA | 179

gráfica da cor verde, pg. 58 consumo sexista feminino, pg. Figura 24 - Brinquedo educativo Figura 30 - Identidade visual da
(AUTORIA PRÓPRIA) 77 sensorial, pg. 84 marca, pg. 100
(JEONG MEE YOON’S, online) (PINTEREST, online) (ENCHROMA, online)

Figura 14 - Representação
gráfica da cor violeta, pg. 62 Figura 20 - Noiva vestindo o Figura 25 - Identidade visual da Figura 31 - Propaganda, pg. 101
(AUTORIA PRÓPRIA) tradicional vestido branco, pg. marca, pg. 96 (ENCHROMA, online)

78 (COLORADD, online)

Figura 15 - Representação (PINTEREST, online) Figura 32 - Comunidade Las


gráfica da cor preta, pg. 66 Figura 26 - Sistema aditivo de Palmitas, pg. 102
(AUTORIA PRÓPRIA) Figura 21 - Orixás e suas símbolos, pg. 97 (FLICKR, online)

respectivas cores, pg. 79 (COLORADD, online)

Figura 16 - Representação (ESTRELAS DE ARUANDA, online) Figura 33 - Comunidade Las


gráfica da cor branca, pg. 70 Figura 27 - Aplicação em Palmitas antes da intervenção,
(AUTORIA PRÓPRIA) Figura 22 - Os sete chackras etiquetas para vestuário, pg. 97 pg. 103

conectados ao corpo humano, (COLORADD, online) (FLICKR, online)

Figura 17 - Representação pg. 80


gráfica da cor cinza, pg. 74 (BIG SHATKTI, online) Figura 28 - Ilustração do olho Figura 34 - Comunidade Las
(AUTORIA PRÓPRIA) eletrônico de Neil Harbisson, pg. Palmitas depois da intervenção,
Figura 23 - Exemplo de quarto 98 pg. 103
montessoriano. Objetos e
Figura 18 - Exemplo de (NEIL HARBISSON, online) (FLICKR, online)
brinquedos são organizados na
consumo sexista masculino, pg. altura da criança, permitindo
77 independência e exploração, pg. Figura 29 - Representação de Figura 35 - Óculos de grau com
(JEONG MEE YOON’S, online) 83 como seria a captação das lente acoplada, pg. 104
(PINTEREST, online) frequências sonoras, pg. 99 (FACEBOOK, online)

Figura 19 - Exemplo de (NEIL HARBISSON, online)


180 | ACROMATOPSIA ACROMATOPSIA | 181

Figura 36 - Óculos de proteção representação da cor laranja, representação da cor preta, pg.
solar, pg. 104 pg. 145 150

(FACEBOOK, online) (AUTORIA PRÓPRIA) (AUTORIA PRÓPRIA)

Figura 37 - Símbolo, pg. 125 Figura 44 - Materiais usados na Figura 49 - Materiais usados na
(AUTORIA PRÓPRIA) representação da cor amarela, representação da cor amarela,
pg. 146 pg. 151
Figura 38 - Capa, pg. 142 (AUTORIA PRÓPRIA) (AUTORIA PRÓPRIA)

(AUTORIA PRÓPRIA)

Figura 45 - Materiais usados na Figura 50 - Capa e Caixa luva,


Figura 39 - Aplicação de capa, representação da cor verde, pg. pg. 152
pg. 142 147 (AUTORIA PRÓPRIA)

(AUTORIA PRÓPRIA) (AUTORIA PRÓPRIA)

Figura 51 - Folder, pg. 153


Figura 40 - Gabarito, pg. 143 Figura 46 - Materiais usados na (AUTORIA PRÓPRIA)

(AUTORIA PRÓPRIA) representação da cor azul, pg.


148 Figura 52 - Aplicações, pg. 154
Figura 41 - Caixa luva, pg. 143 (AUTORIA PRÓPRIA) (AUTORIA PRÓPRIA)

(AUTORIA PRÓPRIA)

Figura 47 - Materiais usados na Figura 53 - Sequência de


Figura 42 - Materiais usados na representação da cor violeta, pg. abertura do livro-objeto, pg. 156
representação da cor vermelha, 149 (AUTORIA PRÓPRIA)

pg. 144 (AUTORIA PRÓPRIA)

(AUTORIA PRÓPRIA) Figura 54 - Capa, pg. 156


Figura 48 - Materiais usados na (AUTORIA PRÓPRIA)

Figura 43 - Materiais usados na


182 | ACROMATOPSIA ACROMATOPSIA | 183

Referências

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188 | ACROMATOPSIA

Monografia composta
com a fonte Montserrat
em papel couché
150g/ m² para miolo e
couché 170g/m² para
capa, com tiragem
de 2 exemplares, em
novembro de 2017.

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