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NOLL, Mark A. Momentos Decisivos na História do Cristianismo.

São Paulo: Editora


Cultura Cristã, 2000. 384 p.

O autor é mestre em história da igreja e teologia pelo Trinity Evangelical Divinity School,
em Deerfield, Illinois, e doutor em história do cristianismo pela Vanderbilt University,
em Nashville, Tennessee. É autor de 30 livros, dentre os quais Turning Points: Decisive
Moments in the History of Christianity; The Old Religion in a New World: The History
of North American Christianity, e The Scandal of the Evangelical Mind.

Noll argumenta na introdução de Momentos Decisivos na História do Cristianismo que


uma das maneiras mais interessantes de se obter uma compreensão geral da história cristã
é analisar os momentos críticos de transição ainda que seja uma seleção subjetiva.1 Nos
capítulos considerados na presente resenha, o autor trata de dois momentos marcantes
durante a Idade Média, a coroação de Carlos Magno (800) e o grande cisma (1054).

No quinto capítulo, Noll trata do evento que, para ele, representou uma nova forma de
existência cristã e antecipou a forma de vida cristã no ocidente para os oito séculos
seguintes. A coroação de Carlos Magno, na noite de natal de 800 na catedral de São Pedro
em Roma foi o principal marco da cooperação entre os governantes francos e a os bispos
de Roma. Em sua análise dos fatos, Noll levanta três perguntas às quais responde ao longo
do capítulo 5; são elas:

(1) Como o papa chegou a ter poder suficiente para coroar um imperador
romano? (2) Como o rei dos francos havia subido à posição de ser assim
coroado? (3) Como esse novo relacionamento entre o papa e o maior
governante do norte da Europa moldou o período de vários séculos da história
ocidental que em geral é conhecido simplesmente como cristandade?2

Ao responder a primeira, ele procura mostrar como a ascensão do poder papal foi um
longo processo através de séculos, desde o momento em que Leão Magno tomou
restritamente o título para si até o ponto em que se a figura foi associada como vigário de
Cristo. Para o autor o estudo da história do papado é significativo até para os que se opõe

1
NOLL, M. A. Momentos Decisivos na História do Cristianismo. São Paulo: Editora Cultura Cristã,
2000. 384 p.
2
Idem.
à figura papal, isto porque invariavelmente tal estudo levanta discussões históricas acerca
da doutrina, eclesiologia e teologia.

A importância de Roma no cenário político, a centralidade eclesiástica no bispo de Roma


no que diz respeito aos embates contra os hereges e a história que a igreja de Roma tinha
desde o tempo dos apóstolos alimentaram a força do que viria ser a figura papal. Noll
destaca os trabalhos de Gregório I como sendo aquele alcançou o auge do pontificado
juntamente com Leão. Suas realizações em diversas áreas da igreja contribuíram muito
para trazer a bispo de Roma a centralidade construída ao longo de tantos séculos.

O autor segue expondo o contexto mais amplo que contribui para a coroação em 800. O
surgimento e o avançado do islamismo trouxe desdobramentos políticos e religiosos de
grande importância. Noll destaca quatro fatores relacionados à expansão islâmica para o
ocidente. Primeiro, a fraca presença do cristianismo no Egito e norte da África permitiram
o avanço do islã nestas regiões. Segundo, a separação entre a igreja ocidental e oriental
foi acelerada pelo avanço da nova religião. Terceiro, o papado oriental passou a
centralizar sua atenção na expansão para o norte. Quarto, a própria influencia islâmica
tanto na religião, quanto nas ciências. Com isso, as relações entre Roma e os povos do
norte se estreitaram, principalmente com os francos.

Noll mostra como a cristandade da Idade Média passa a ver uma integração cada vez
maior entre a igreja e o estado. No que diz respeito às convicções da igreja, o autor traz o
desenvolvimento do sistema sacramental que teve em Tomás de Aquino um dos seus
maiores expoentes.

No sexto capítulo, o autor introduz ao tema da separação entre a igreja do ocidente e do


oriente mostrando como o sistema do papado havia entrado em declínio no século X e
movimento monástico ganhava volume. Uma série de reformas lideradas pelo imperador
ocidental Henrique III e o papa Leão IX, porém o autor apresenta como a relação com o
imperador oriental fora diferente; e uma séria de atritos anteriores desde o século IX já
haviam deteriorado o relacionamento entre os dois lados.

Noll apresenta a sucessão de eventos no ano de 1054 que, historicamente foram


denominados o grande cisma. O autor deixa claro que ainda que tenha havido outras
tentativas posteriores de se reconciliação, a data ficou marcada na história. Após este
breve relato, o autor retrocede em sua análise das circunstâncias que levaram ao cisma
até o século II e o credo Niceno no século IV.

Para Noll, a separação entre oriente e ocidente é um ponto de transição na história do


cristianismo por possuir desdobramentos futuros marcados por afastamento cultural,
diferenças teológicas e eclesiásticas. O autor descreve como tais divergências teológicas
ao longo de diversos concílios entre os séculos IV e VI construíram um clima de
desconfiança eclesiástica entre o ocidente e o oriente; temas como a supremacia papal e
a doutrina iconoclasta assumiram o centro das discussões.

Quanto aos eventos externos às duas igrejas, o autor não deixa dúvidas acerca do papel
fundamental que as cruzadas tiveram no cisma. O movimento cruzado varreu a Europa
com uma onda de violência, e mesmo após a tomada de Constantinopla, tanto o oriente
quanto o mundo islâmico associou as cruzadas à barbárie. Noll destaca ainda que,
internamente a ortodoxia russa foi outro ponto importante para a reafirmação do cisma.
As campanhas orientais para o norte trouxe o fortalecimento da igreja do oriente ao
expandir sua influência sobre a monarquia russa; dessa forma, o autor apresenta os ícones
da cristandade russa do século XV.

Noll traz na ultima parte do capitulo seis uma interessante análise acerca da ortodoxia no
século XX, uma vez que o restante do livro é dedicado à igreja do ocidente e as distinções
entre a fé católica e protestante. O autor mostra quais pontos da teologia ortodoxa se
mantiveram ao longo dos anos, mas também aqueles elementos que sofreram grandes
mudanças após os acontecimentos que marcaram a história do oriente, a exemplo o
movimento comunista nas repúblicas soviéticas. Dentre as mudanças apresentadas, para
Noll, a mais visível e relacioanda ao cisma de 1054 é justamente a reaproximação entre
a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica Romana. Diversos foram os movimentos de diálogo
entre as duas readições nas últimas décadas, ainda que certa ruptura permaneça. Tais
diálogos se iniciaram no alto escalão apenas a partir da década de 60, e Noll apresenta,
inclusive alguns pontos do acordo comum feito entre o papa Paulo VI e o patriaca
Atenágoras I, em 1965.

De maneira geral, a obra de Mark Noll entrega aquilo a que se propõe. Apesar de sucinto,
o panorama histórico focado nos momentos críticos de transição traz uma boa visão do
contexto por traz de cada época abordada.

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