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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE DIREITO

TRABALHO CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO DA DICIPLINA DE EMPRESARIAL IV

MATHEUS PEZZINI BACKES

O INCISO VI, art. 124, LEI 9.279/96 A TUTELA DA PROPRIEDADE


INDUSTRIAL, DA LIVRE CONCORRÊNCIA E DOS DIREITOS DO
CONSUMIRDOR

PORTO ALEGRE

2018
MATHEUS PEZZINI BACKES

O INCISO VI, art. 124, LEI 9.279/96 A TUTELA DA PROPRIEDADE


INDUSTRIAL, DA LIVRE CONCORRÊNCIA E DOS DIREITOS DO
CONSUMIRDOR

Trabalho critério de avaliação da disciplina


de Empresarial IV, da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.

Orientador: Prof. Dr. Rafael De Freitas


Valle Dresch

PORTO ALEGRE

2018
RESUMO
Esse artigo tem por pretensão estudar o registro de marcas que utilizam de termos de
uso comum, genéricos, de uso necessário, meramente descritivos ou evocativos, de
acordo com inciso VI, art. 124, da Lei de Propriedade Industrial, Lei 9.279/96, a partir
do conceito e da classificação de marca, conceitos necessários às conclusões se
analisará a interpretação do referido dispositivo e suas aplicações dentro do direito da
propriedade intelectual e em outros ramos jurídicos, no direito da concorrência e no
direito do consumidor. Dois pontos importantes abordados são a proteção das marcas
para que não haja confusão pelo consumidor e para que não haja o beneficiamento
ilícito de agentes por elementos de marcas de terceiros que possuem boa fama.
Palavras chave: Registro de marca; termos genéricos; uso comum, descritivos;
evocativos; propriedade industrial; apropriação de termo de domínio público.

PORTO ALEGRE

2018
ABSTRACT
This article intends to study the registration of trademarks that use terms of common
use, generic, of necessary use, merely descriptive or evocative, according to clause
VI, art. 124, of the Industrial Property Law, Law 9.279 / 96, based on the concept and
of the classification of the mark, concepts necessary for the conclusions will be
analyzed the interpretation of said device and its applications within the intellectual
property law and in other legal branches, competition law and consumer law. Two
important points are the protection of trademarks so that there is no confusion by the
consumer and there is no illicit processing of agents by elements of well-known third-
party brands.

Keywords: Trademark registration; generic terms; common use, descriptive;


evocative; Industrial property; appropriation of public domain.

PORTO ALEGRE

2018
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 1
2. CONCEITO DE MARCA.......................................................................... 2

2.1. CLASSIFICAÇÃO DAS MARCAS ........2


2.2. REQUISITOS 3

3. INCISO VI, ART. 124 DA LEI 9.279/96 ................................................... 5

3.1. O INCISO VI DO ART. 124 E A FUNÇÃO SOCIAL DA PRORPIEDADE


INTELECTUAL 6

4. VEDAÇÃO DE TERMOS GENÉRICOS E DE USO COMUM COMO


MECANISMO DE TUTELA DA LIVRE CONCORRÊNCIA E DOS DIREITOS
DO CONSUMIDOR ............................................................................................ 7
5. TEMA À LUZ DO PODER JUDICIÁRIO ................................................. 8
6. CONCLUSÃO ........................................................................................ 11
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 12
1

1. INTRODUÇÃO

Esse artigo tem por pretensão estudar o registro de marcas de acordo


com inciso VI da Lei de Propriedade Industrial, Lei 9.279/96.

Sumariamente será apresentado no trabalho, então, o conceito e a


classificação de marca, conceitos necessários às conclusões. Posteriormente,
se analisará a interpretação do referido dispositivo e suas aplicações dentro do
direito da propriedade intelectual e em outros ramos jurídicos, no direito da
concorrência e no direito do consumidor.

Dois pontos importantes abordados são a proteção das marcas para que
não haja confusão pelo consumidor e para que não haja o beneficiamento ilícito
de agentes por elementos de marcas de terceiros que possuem boa fama.

Uma parte especial é dedicada à análise de decisões judiciais, é


observada sua adequação com as conclusões expostas nesse trabalho e a
precisão jurídica das razões trazidas nos acórdãos.
2

2. CONCEITO DE MARCA

Sumariamente, para se chegar a afirmativas exatas é necessário à


correta definição de pressupostos. O primeiro conceito que se deve
compreender para o estudo do Art. 124 é o de marca.

A marca é o meio de identificação visual dos produtos e serviços, é o


sinal aposto a um produto, uma mercadoria, ou o indicativo de um serviço,
destinado a diferenciá-lo dos demais1. Conforme o próprio artigo 122 da Lei
9.279/96 as marcas “São suscetíveis de registro como marca os sinais
distintivos visualmente perceptíveis”, ademais, não é qualquer elemento visual
que deve ser registrado, existem vedações legais, fato que será analisado a
frente.

Finalisticamente, para o empresário, as marcas funcionam como meios


de atrair clientela distinguindo os produtos ou serviços em relação aos dos
seus concorrentes, além de servirem para resguardar os interesses do
consumidor em relação à qualidade ou proveniência de determinado produto
ou serviço. Sendo assim marca tem dupla finalidade: resguardar os direito do
titular e proteger os interesses do consumidor2. Interesse do consumidor que
consiste na (i) garantia de segurança na relação de consumo e (ii) acesso à
produtos oriundos de um mercado sem abusos de poder econômico –
ambiente de mercado tutelado pelo direito da concorrência.

2.1. CLASSIFICAÇÃO DAS MARCAS

Pela forma de composição das marcas elas podem ser classificadas


como:

a) Nominativa: Formada apenas de palavras, letras, algoritimos ou


combinações destes sinais – sinais linguísticos;
b) Figurativa: Formada por desenhos imagens, formas figurativas ou
desenhos estilizados de letras ou algoritmos;

1FRANCO, Vera Helena de Mello. Manual de direito comercial. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2001, v.1, p. 132.
2 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2016, v.1, p 152.
3

c) Mistas: formada pela mescla de sinais linguísticos (nominativos) e


formas figurizadas (figurativas), de modo que não podem ser
isoladamente classificadas como nominativa ou figurativa, e;
d) Tridimensionais: Se constituem pelo formato característico de
produtos que tenham a capacidade distintiva e que estejam
dissociados de qualquer efeito técnico3.

Tal classificação se mostra importante para a presente análise visto que


a exclusividade de uso de elementos figurativos ou nominativos, mesmo
quando se interseccionam em uma marca mista, é assegurada pelo registro,
que garante ao detentor do direito de fruição da marca que ela possa ser
distinguida de outras. Isso implica que mesmo quando se utiliza apenas as
características nominativas ou apenas as características figurativas de uma
marca mista para a constituição de outra, ocorre a violação do direito alheio.

2.2. REQUISITOS

Neste subcapítulo, se começa a responder o objeto do estudo, ademais


antes de se analisar o dispositivo legal que trata sobre o registro de termos
genéricos os requisitos doutrinários e legais são essenciais para seu estudo
correto.

A partir da Lei de Propriedade Industrial, especificamente seus artigos


122, 123 e 124 a doutrina extraiu três requisitos essenciais que uma marca
deve atender.

Segundo Tomazette, são eles a (i) Capacidade Distintiva, (ii) Novidade e


o (iii) Desimpedimento4.

A capacidade distintiva trata-se da necessidade de uma marca, a partir


de seus elementos figurativos e/ou nominativos, distinguir-se de forma razoável
de outra marca. Não é admitido pelo ordenamento brasileiro que duas marcas
possuam elementos semelhantes o suficiente para induzir o consumido a erro
ou tornar duvidosa a procedência do produto.

3
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2016, v.1, p 153.
4
Ibid., p 154.
4

Nas lições de VERÇOSA, a marca tem a finalidade de orientar o


consumidor sobre os bens e serviços e suas respectivas origens. “A marca,
atualmente, não é mais somente uma “assinatura” do produtor, mas, sim, “é um
sinal destinado aos consumidores, como forma de identificar um produto ou
serviço diferentemente de outros da mesma natureza”5, a ela agregando-se,
pois, verdadeiro sentido social de comunicação inequívoca ao consumidor.

Além disso, a utilização de elementos constitutivos de marca de terceiros


o agente incorre em conduta abusiva sob a ótica do direito da concorrência,
como disposto no inciso XIV, §3, do artigo 36 da lei 12.529 de 20116.

A novidade é um elemento relativo, o empresário não necessita criar


sinal visual totalmente novo, mas dentro do nicho de mercado que ele ira
empreender é necessário que a marca seja suficientemente nova para que não
possa ser confundida pelos consumidores.

Segundo COELHO, não é necessário que o requerente tenha criado o


sinal, em sua expressão linguística, mas que lhe dê, ou ao signo não linguístico
escolhido, uma nova utilização7. Ademais não é permitido sequer elementos
similares que possam gerar confusão entre uma marca nova e uma marca
estabelecida no mercado. Aqui se protege a concorrência, se protege o abuso
por parte de um novo player que se utiliza de elementos de uma marca que
representa produtos ou serviços de boa fama8.

5
VERÇOSA, Haroldo Malheiros Ducrlerc. Curso de Direito Comercial. São Paulo, Malheiros,
2008, p.357.
6
Art. 36. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob
qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos,
ainda que não sejam alcançados:
o
3 As seguintes condutas, além de outras, na medida em que configurem hipótese prevista
no caput deste artigo e seus incisos, caracterizam infração da ordem econômica:
XIV - açambarcar ou impedir a exploração de direitos de propriedade industrial ou intelectual ou
de tecnologia;
7
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002, v.1, p.
158.
8
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2016, v.1, p 155.
5

Por último, o desimpedimento, trata-se da não defesa em lei, ou seja, o


ultimo requisito é a não vedação pela lei dos elementos presentes na marca
que se pretende registrar.

O Artigo 124 da Lei 9.279/69 apresenta 23 incisos de proibições, tais


incisos delimitam as possibilidades de registro de marcas. Ademais, não se
trata de rol exaustivo, visto que por meio de outros textos normativos ou pela
interpretação sistemática dos incisos um registro pode ser vedado9.

3. INCISO VI, ART. 124 DA LEI 9.279/96

O artigo 124 em seu inciso VI10, conforme colacionado abaixo, limita


marcas que usam termos genéricos, de uso comum e ou necessários:

Art. 124. Não são registráveis como marca:


VI - sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou
simplesmente descritivo, quando tiver relação com o produto
ou serviço a distinguir, ou aquele empregado comumente para
designar uma característica do produto ou serviço, quanto à
natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de
produção ou de prestação do serviço, salvo quando revestidos
de suficiente forma distintiva;

A leitura desse artigo revela que se verificado o preenchimento de algum


dos seguintes pressupostos, deve-se concluir pela inviabilidade de concessão
do direito de exclusividade:

a) que se trate de sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar,


simplesmente descritivo ou evocativo; e
b) que esse sinal ou tenha relação com o produto ou o serviço que a
marca visa distinguir; ou seja comumente empregado para designar
alguma característica do produto a ser distinguido.

Ou seja, esse dispositivo veda marcas “fracas” e evocativas que não


possuem suficiente caráter distintivo. Trata-se de dispositivo que protege a

9
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2016, v.1, p 156.
10
Brasil. Lei 9.279 de 14 de maio de 1996. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9279.htm. Acesso em: 24 de nov. de 2018.
6

própria concepção de marca, o requisito da capacidade distintiva, citada no


capítulo anterior, é exigido por essa norma sob pena de vedação do registro.

Ademais nada impede que palavra que tenham relação com o produto
ou que possuam o uso necessário em certo ramo da economia não sejam
usados em outros ramos, como por exemplo o temo “café” para a indústria de
perfume e o termo “seda” para a indústria de cosméticos11.

3.1. O INCISO VI DO ART. 124 E A FUNÇÃO SOCIAL DA PRORPIEDADE


INTELECTUAL

Conforme o princípio constitucional da função social da propriedade


intelectual, consagrado pelos incisos XXVII, XXVIII e XXIII do artigo 5º da
Constituição Federal12, a propriedade dos bens imateriais também deve
respeitar a função social como meio de garantir que a propriedade intelectual
ofereça parâmetros reais para o desenvolvimento brasileiro. O Estado ao
conceder ao indivíduo o direito de exclusividade sobre aquele bem imaterial,
assim como na função social dos contratos e na função social da propriedade,
surgem não só direitos ao titular, mas também deveres de de agir para que a
finalidade do instituto seja cumprida.

O inciso VI também é uma norma que tutela a função social da


propriedade intelectual. Ora se a finalidade da marca é distinguir, é certo que
não pode haver uma marca que não distinga. Uma pessoa não pode se
aproveitar de um sinal que é franqueado a todos13.

11
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2016, v.1, p.159
12
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de
suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz
humanas, inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que
participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e
associativas;
13
TOMAZETTE, Marlon, op. cit., p 158.
7

Portanto, uma tentativa de retirar do domínio público uma expressão


corriqueira, sem qualquer contrapartida criativa, é inadmissível sob a já citada
perspectiva da função social da propriedade industrial e vedação de registro de
termos genéricos e de uso comum.

4. VEDAÇÃO DE TERMOS GENÉRICOS E DE USO COMUM COMO


MECANISMO DE TUTELA DA LIVRE CONCORRÊNCIA E DOS DIREITOS
DO CONSUMIDOR

Como já mencionado no capítulo que trata sobre o conceito de marca,


além de tutelar a própria disponibilidade do direito de propriedade o
ordenamento jurídico pátrio busca, interdisciplinarmente, por meio da
propriedade intelectual, tutelar os direitos do consumidor e a livre concorrência.

CAMELIER DA SILVA, tentando reunir as formas de configuração da


concorrência desleal, afirma que a confusão entre produto/serviços pode se dar
por meio da semelhança das marcas ortográfica ou foneticamente, da
colidência ideológica, da imitação da forma do produto ou do conjunto das
cores e, quando combinados, aumentam a possibilidade de fraude perante o
consumidor, ao adquirir um produto pelo outro14.

Diante dessas valiosas lições é lógico concluir que o inciso VI do artigo


124 juntamente com o artigo 126, que trata sobre as marcas de autorenome,
tutelam não só a marca per si mas também prestam serviço ao direito da
concorrência por garantir que não haverá abuso do poder econômico por meio
da marca.

Além disso, também se pode afirmar o mesmo do direito do consumidor.


O artigo 6 do Código de Defesa do Consumidor15 determina, conforme artigo
abaixo, que é direito básico do consumidor o acesso adequado e claro a
informações sobre os diferentes produtos e serviços.

14
SILVA, Alberto Luís Camelier da. Concorrência desleal: atos de confusão. São Paulo:
Saraiva, 2013. p. 63.
15
Brasil, Lei 8078 de 11 de setembro de 1990. Planalto. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078compilado.htmAcesso Acesso em: 23 de nov.
2018.
8

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre
os riscos que apresentem;

Consequentemente, para a correta consecução do referido dispositivo


legal é necessário que as marcas sejam distinguíveis uma das outra e que
elementos de uso comum e termos genéricos não venham a confundir o
consumidor nas suas ações economicamente orientadas. Se o indivíduo não
possui as informações suficientes para selecionar os produtos e serviços ele
poderá ser induzido a erro pelas empresas.

5. TEMA À LUZ DO PODER JUDICIÁRIO

O tema em tela já foi por várias vezes objeto de análise do poder judicial.
Ademais, serão selecionadas decisões que contemplam o cerne da questão e
que aprimoraram a interpretação dos dispositivos legais.

No julgamento do RESP 1.746.91116, se abordou o tema, uma empresa


de publicidade buscava o registro da marca “país do futebol”:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. PROPRIEDADE


INDUSTRIAL. MARCA MISTA. EXPRESSÃO DE USO COMUM.
IMPOSSIBILIDADE DE RESTRIÇÃO. REVISÃO DO JULGADO. NÃO
CABIMENTO. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N.º 7/STJ.
1. É inviável o recurso especial se a parte deixa de impugnar, pela via
processual adequada, fundamento constitucional do acórdão
recorrido. Incidência do Enunciado n.º 126 do STJ: "E inadmissível
recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em
fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles
suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta
recurso extraordinário".
2. A jurisprudência da ambas as Turmas da Segunda Seção do
Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que de acordo com o art.
122, da LPI, apenas sinais visualmente perceptíveis que apresentem
certo grau de distintividade podem ser registrados como marcas,
sendo inviável o registro de sinais meramente genéricos, comuns ou
descritivos.

16
DISTRITO FEDERAL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1746911, Relator(a): Min.
Ministra NANCY ANDRIGHI. Brasília. 16 de out. 2018. Disponível em: <
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=1746911&tipo_visualizacao=RESU
MO&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true> Acesso em 24 de nov. 2018.
9

3. Na hipótese dos autos, o Tribunal de Justiça estadual, diante do


contexto fático-probatório dos autos, asseverou que a expressão
"país do futebol" seria de uso comum e não possui o mínimo de
distintividade necessário para registro. Nesse contexto, a revisão do
julgado esbarra no Enunciado n.º 7/STJ.
4. RECURSO ESPECIAL, DESPROVIDO.
(REsp 1746911/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 16/10/2018, DJe 19/10/2018)

O voto vencedor do Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, corretamente,


reiterou os termos estabelecidos pela decisão recorrida. Transcreveu trechos
muito precisos da sentença que delimitam as razões de decidir no mesmo
sentido do defendido no presente artigo. Seguem os trechos citados pelo
Ministro:

Ocorre que a expressão "PAIS DO FUTEBOL" é corriqueira,


encontrando-se extremamente difundida e arraigada na cultura
nacional, ao remeter à íntima relação havida entre o Brasil e o futebol.
Em conseqüência, não possui o mínimo de distintividade necessário
para registro e não pode ser titularizada exclusivamente, muito menos
para o segmento de publicidade.
(...)
Por outro lado, a situação dos autos retrata uma tentativa de retirar do
domínio público uma expressão corriqueira, sem que haja qualquer
contrapartida criativa, o que é inadmissível sob a já citada perspectiva
da função social da propriedade industrial.
(...)
Ademais, ressalto que o elemento figurativo presente no signo – a
imagem de um homem chutando uma bola de futebol, representada
apenas como uma silhueta em tons de cinza e preto -, não confere à
17
marca a distintividade alegada pela apelada.

A utilização de termos de domínio público, termos de uso comum, e de


outros elementos figurativos que não concedem distintividade à marca, como o
julgado, e em acordo com a construção doutrinária exposta por esse artigo, é
coerente ao ordenamento.

17
DISTRITO FEDERAL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1746911, Relator(a): Min. Ministra
NANCY ANDRIGHI. Brasília. 16 de out. 2018. Disponível em: <
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=1746911&tipo_visualizacao=RESU
MO&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true> Acesso em 24 de nov. 2018.
10

Outro julgamento que pode ser considerado paradigma para o tema é o


julgamento do REsp 1039011/RJ, nele foi discutido o registro de um termo
genérico, “portapronta”18:

PROPRIEDADE INDUSTRIAL. REGISTRO DA MARCA


"PORTAPRONTA". PRETENDIDA EXCLUSIVIDADE.
IMPOSSIBILIDADE. USO DE TERMOS COMUNS E
SIMPLESMENTE DESCRITIVOS DO PRODUTO QUE VISAM A
DISTINGUIR. LEI 9.279/96. ART. 124, VI.
1.- Para a composição da marca "PortaPronta" a Recorrente não
criou palavra nova, mas valeu-se de palavras comuns, que, isolada
ou conjuntamente, não podem ser apropriadas com exclusividade por
ninguém, já que são de uso corriqueiro e desprovidas de
originalidade.
2.- Adequado o registro realizado pelo INPI, com a observação de
que "concedida sem exclusividade de uso dos elementos normativos".
3.- Recurso Especial improvido.
(REsp 1039011/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 14/06/2011, DJe 17/06/2011)

O uso do termo genérico, vedado pelo inciso VI do artigo 124, nas


razões expostas pelos ministros, impede que a utilização de palavras
abrangentes e de uso público sejam registrados como marca e,
consequentemente, dado ao requerente o direito de usufruir de frutos oriundos
de termos que (i) não distinguem a marca, (ii) não são originais ou provem de
ação criativa e (iii) prejudicam . Trecho do acordão que traduz o exposto:

O acolhimento da pretensão formulada nestes autos acabaria por


criar indevido monopólio, porquanto ficaria vedado aos concorrentes
anunciar a comercialização de portas prontas. Ou, ao menos, seria
imposto aos concorrentes o dever de agir com excessivo escrúpulo a
fim de anunciar um bem trivial (porta) sem a utilização daquelas
19
palavras .

Assim como exposto no capítulo 4, a norma objeto desse estudo


também tutela a livre concorrência a o regular funcionamento do mercado uma
vez que impede o registro de marcas que possibilitariam futuros abusos de
posições econômicas.

18
DISTRITO FEDERAL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1039011, Relator(a): Min. SIDNEI
BENETI Brasília. 14 de jun. 2011. ´Disponível em:.
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=1039011&b=ACOR&p=true&t=JU
RIDICO&l=10&i=1#EMEN. Acesso em 24 de nov. 2018.
19
DISTRITO FEDERAL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1039011, Relator(a): Min. SIDNEI
BENETI Brasília. 14 de jun. 2011. ´Disponível em:.
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=1039011&b=ACOR&p=true&t=JU
RIDICO&l=10&i=1#EMEN. Acesso em 24 de nov. 2018.
11

6. CONCLUSÃO

Por todo o exposto, pode-se constatar que marca é o designativo que


identifica produtos e serviços. Pode ser composta de elementos nominativos,
figurativos, ambos em um conjunto misto e excecionalmente por aspectos
tridimensionais. Para ter validade depende da presença de três requisitos,
indicados por Tomazette: Capacidade Distintiva, Novidade e Desimpedimento.

No centro do problema apresentado, a interpretação do inciso VI do Art.


124 da Lei de Propriedade Industrial evidencia que não é registrável como
marca símbolo:

a) que se trate de sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar,


simplesmente descritivo ou evocativo; e
b) que esse sinal ou tenha relação com o produto ou o serviço que a
marca visa distinguir; ou seja comumente empregado para designar
alguma característica do produto a ser distinguido.

E a partir disso, restou clara a finalidade dessa norma de prevenir que os


consumidores sejam induzidos a erro, não tendo acesso adequado à
informação, ao mesmo tempo em que garante aos players do mercado que
terceiros não utilizarão, por meio do registro, elementos genéricos e ou
necessários à atividade para abusarem de posição econômica privilegiada
originada pelo registro.

Conclusões que foram homologadas na análise da jurisprudência do


STJ, que, como visto, aplica como razões para decidir as conclusões
doutrinariamente construídas e citadas no presente artigo.
12

REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei 12.529 de 30 de novembro de 2011. Planalto. Disponível


em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm.
Acesso em 24 de nov. 2018.

BRASIL, Lei 8078 de 11 de setembro de 1990. Planalto. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078compilado.htm. Acesso Acesso
em: 23 de nov. 2018.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do


Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acesso em 24 de nov. 2018.

BRASIL. Lei 9.279 de 14 de maio de 1996. Planalto. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9279.htm.. Acesso em: 24 de nov. de
2018.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. ª ed. São Paulo: Saraiva,
v.1, 2002.

DISTRITO FEDERAL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1039011, Relator(a):


Min. SIDNEI BENETI Brasília. 14 de jun. 2011. ´Disponível em:.
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=1039011&b=ACO
R&p=true&t=JURIDICO&l=10&i=1#EMEN. Acesso em 24 de nov. 2018.

DISTRITO FEDERAL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1746911, Relator(a):


Min. Ministra NANCY ANDRIGHI. Brasília. 16 de out. 2018. Disponível em:
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=1746911&tipo_visu
alizacao=RESUMO&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true. Acesso em 24
de nov. 2018.

FRANCO, Vera Helena de Mello. Manual de direito comercial. São Paulo:


Revista dos Tribunais, v.1, 2001.

SILVA, Alberto Luís Camelier da. Concorrência desleal: atos de confusão.


São Paulo: Saraiva, 2013.

TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. 7ª ed. São Paulo: Atlas,


v.1, 2016.

VERÇOSA, Haroldo Malheiros Ducrlerc. Curso de Direito Comercial. São


Paulo: Malheiros, 2008.

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