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Direito Ambiental Brasileiro - Ed. 2019
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Mudanças climáticas
Rubens Harry Born 1
As normas e as políticas elaboradas e inseridas nas duas últimas décadas, desde quando, em
1992, foi assinada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças de Clima, são passos
iniciais cuja efetividade, razoabilidade e adequação devem ser avaliadas e comprovadas, pois tais
passos decorrem de contextos marcados pela tensão entre os que pleiteiam sociedades
sustentáveis, por um lado, e forças econômicas e políticas, por outro.
Segundo John Gummer (2014), presidente da organização não governamental que articula
parlamentares em todo o mundo, as respostas legislativas são ainda insuficientes para evitar a
elevação da temperatura média global acima de 2 ºC até 2100, quando comparada com a
temperatura no período pré-industrial, em meados do século XIX. Esse parâmetro foi considerado
vetor fundamental para as políticas e programas que minimizem efeitos dos impactos negativos já
considerados inevitáveis ou irreversíveis das mudanças climáticas3.
Importante considerar que os desafios das mudanças climáticas, percebidos pelos seus efeitos
ambientais e consequentes impactos sociais e econômicos, demandam conhecimentos de várias
disciplinas, articuladas em abordagens integradas e multidisciplinares. Esses conhecimentos
devem estar disponíveis à sociedade e, sobretudo, aos formuladores, gestores e avaliadores de
políticas públicas e de normas jurídicas apropriadas para a justa, rápida e necessária transição
para padrões de condutas individuais, coletivas, institucionais compatíveis com princípios da Ética
da Vida, do Estado Democrático de Direito e de Sustentabilidade Ambiental.
Para tanto, a Carta da Terra recomenda “defender o direito de todas as pessoas no sentido de
receber informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de
desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tenham interesse”.
Essa lei nacional determina ainda, no inciso IV do citado artigo, que o desenvolvimento
sustentável é a condição para enfrentar as alterações climáticas e para conciliar o atendimento às
necessidades comuns e particulares de populações e comunidades nas diversas regiões do
território nacional.
Ora, fica claro que tais dispositivos dos documentos internacionais e da lei nacional ressaltam
que efetivas ações para minimizar e prevenir as causas e os efeitos das mudanças de clima devem
necessariamente ser consistentes com políticas e condutas de desenvolvimento sustentável, por
um lado, e com a efetivação dos direitos fundamentais, por outro. Medidas, que permitam a
continuidade de padrões atuais de produção e consumo, mediante uma diminuição relativa das
emissões, ou ainda aquelas que meramente compensam, de forma contábil, emissões em outros
países ou setores sem uma devida contribuição para a diminuição da concentração dos gases na
atmosfera, não serão capazes de evitar efeitos deletérios às futuras gerações, que arcarão com
ônus decorrente do prolongamento, mesmo que em escala mitigada, das condições do atual
modelo insustentável de nossas economias.
Mudanças climáticas são reflexos de sociedades que admitem, ainda que implicitamente, a
exploração e a degradação como parte da sua engrenagem econômica, em vez de fomentar a
solidariedade, a justiça social e a sustentabilidade. Vivemos sob a globalização dos problemas
socioambientais e a interdependência crescente das economias, com complexos riscos resultantes
também do uso, por vezes desregrado ou abusivo, de tecnologias que podem causar adversidades à
saúde humana e ao equilíbrio das espécies vivas e dos ecossistemas. Nesse contexto, o direito
ambiental e as normas associadas aos desafios ambientais globais, como os de mudanças
climáticas, da biodiversidade e da conservação dos processos ecológicos essenciais, são e devem
ser veículos portadores da evolução civilizatória em direção à sustentabilidade, à não violência, à
justiça e à paz.
Isso, como se verá mais adiante, tem forte alicerce constitucional e não dispensa vínculos com
princípios do direito ambiental. Pelo contrário, é a partir dos princípios de direito ambiental e da
dignidade da pessoa humana que as políticas e normas para mudanças climáticas devem ser
cotejadas.
Lidar com mudanças de clima requer uma compreensão do fenômeno do aquecimento global,
de suas causas e consequências, para que possam ser encontradas as adequadas respostas às
questões de restauração do equilíbrio do sistema climático em níveis e condições que não sejam
perigosas à vida no planeta e, notadamente, à dos seres humanos. A formulação e a
implementação de respostas, inclusive normas de direito, articulam-se com possíveis perspectivas
para melhor conhecer a realidade.
Graças aos estudos científicos em diversas regiões do mundo, em parte sintetizados e relatados
nos informes periódicos do Painel Intergovernamental de Mudanças de Clima (IPCC) nas últimas
duas décadas, há suficientes explicações, mensurações e modelos que permitiram comprovar a
influência das atividades antrópicas, por um lado, e projetar e estimar os impactos das mudanças
de clima, por outro.
Destarte, por meio de uma abordagem das ciências da atmosfera, sabemos quais são os
principais gases de efeito estufa que se originam de atividades promovidas pelos seres humanos
(gás carbônico – CO2; metano – CH4; óxido nitroso – N2O; hidrofluorcarbonos – HFC;
perfluorcarbonos – PFC e o hexafluoreto de enxofre – SF6, além de outros gases com papel indireto
para o efeito estufa). Sabe-se em que setores e atividades econômicas e sociais se originam esses
gases, e, assim, pode-se afirmar que são relevantes as emissões oriundas da queima de
combustíveis fósseis (nas indústrias, na agropecuária, no transporte, na construção etc.), na
conversão de áreas de florestas para usos urbanos, periurbanos e em atividades rurais clássicas,
como agricultura, pecuária, aquicultura, entre outras atividades. O registro socioeconômico dessas
atividades permite, por métodos internacionalmente definidos pelo IPCC, determinar ou estimar a
quantidade de emissões por gases, por setores ou em cada região e país. Essa informação é
fundamental para se aferir responsabilidades, em um dado período, dos agentes privados e do
Poder Público que possam estar associadas a tais emissões.
Tal perspectiva, em síntese, correlaciona atividades produtivas e produção (emissão) de gases
de efeito estufa, inserindo-as nos contextos socioeconômicos e territoriais, a fim de recomendar
condutas (políticas, tecnologias etc.). Por exemplo, para o Brasil, contam as emissões de metano
oriundas da pecuária realizada no Pará, independentemente se parte razoável da produção de
carne se destine ao mercado interno ou externo. Analogamente, na agricultura, por exemplo, as
emissões de gás carbônico com a lavoura da soja, sendo seus grãos consumidos no Brasil ou na
Holanda.
Essa é uma das perspectivas que funcionam como um pilar das normas internacionais e
nacional em mudanças de clima. O regime multilateral não adotou o critério de alocação de
emissões antrópicas de gases de efeito estufa em razão do local do consumo de bens e serviços,
pois trata-se de tarefa tecnicamente mais complexa e politicamente mais desafiadora. Mas
considerar a dimensão de bens e serviços que, na sua cadeia, geram emissões significativas de
gases de efeito estufa poderia ensejar estímulos para a transformação dos padrões de consumo e,
assim, lograr consciências e condutas responsáveis para consumos de baixo carbono.
Há, entretanto, outras razões, além ou subjacentes às intensas atividades produtivas e serviços
que explicam o aumento exacerbado de emissões de gases de efeito estufa, entre as quais se
destacam: os fatores relativos à expansão do consumo de bens e serviços, tanto como
consequência do crescimento demográfico como do aumento do poder aquisitivo de parcelas da
população que superam a miséria ou pobreza. Essa expansão do desperdício é também reflexo de
uma cultura de desperdício, de esbanjamento, de obsolescência programada e da publicidade –
ferramenta útil ao sistema de mercado que opera com base na ilimitação do crescimento e do
consumismo para auferir aquilo que é tido como seu maior fim, o lucro.
Alguns desdobramentos podem sobressair para uma cuidadosa reflexão. Como articular
respostas e normas que sejam justas e equitativas entre indivíduos, segmentos econômicos e
nações, para distribuir os ônus e as responsabilidades de diminuir emissões de gases de efeito
estufa (GEE)? E como tornar exequíveis (enforcement) novas normas que deveriam impor a
internalização dos custos negativos do ambiente na economia sem ampliar ainda mais as
desigualdades entre pessoas e países?
Esse é um dos motivos para os debates, seja nos foros sobre mudanças climáticas, seja sobre o
desenvolvimento sustentável, em torno de novos paradigmas tecnológicos e valorativos para a
produção de bens que possam ir além das iniciativas de ecoeficiência. Enfim, buscar melhor
aproveitamento de energia e insumos materiais na fabricação de mercadorias e de
disponibilização de serviços. Trata-se de desacoplar a distribuição e a ampliação do
desenvolvimento (aqui entendido como acesso aos bens e serviços essenciais para uma digna e
sadia qualidade de vida) da ampliação da produção e consumo do ponto de vista material, ou seja,
da demanda e pressão crescente sobre os “recursos naturais”. Ora, como bilhões de pessoas no
mundo ainda não usufruem do acesso a tais bens e serviços, como água potável, saneamento,
alimentação adequada e suficiente, haverá ainda uma demanda de ampliação na exploração de
uso de recursos ambientais, sobretudo nos chamados países em desenvolvimento.
Resulta que propostas para desacoplar a produção de bens com o aumento da intensidade de
uso de recursos naturais são questionadas por alguns representantes de Estados e segmentos
empresariais nas negociações internacionais, ainda que esses declarem optar por medidas para
diminuir a intensidade de gases de efeito estufa emitidos por cada bem ou serviço disponibilizado,
ou ainda para diminuir a intensidade de carbono em relação ao PIB – Produto Interno Bruto.
Desacoplar a produção e aumentar a ecoeficiência são formas de redução da pegada de carbono,
uma variação da noção da pegada ecológica, sendo esta uma medida para aferir o uso do ambiente
na disponibilização de produtos e bens, e aquela para se referir às emissões líquidas de gases de
efeito estufa na mesma produção.
Essa reflexão é relevante na medida em que ganha atenção crescente a perspectiva de respeito
aos direitos humanos fundamentais, notadamente o direito à dignidade de vida, como elemento
para balizar decisões de cunho político e normativo no regime multilateral com repercussão nos
ordenamentos jurídicos de cada país. Nesse sentido, não estão ausentes do debate internacional
sobre mudanças de clima propostas fundadas no direito ao desenvolvimento sustentável,
veiculadas, sobretudo, por governos de países não industrializados e por movimentos e grupos da
sociedade, que se valem de noções de “justiça climática”6, de equidade no uso do “espaço
disponível e seguro” de carbono na atmosfera (concentração de gases de efeito estufa), entre
outras perspectivas.
Na atmosfera, existem vários gases que desempenham função importante no sistema climático
do planeta. Há gases, denominados de gases de efeito estufa, que têm a capacidade de reter a
radiação solar infravermelha, ocasionando o aquecimento das camadas mais inferiores da
atmosfera e da superfície do planeta. Trata-se de fenômeno natural.
Os gases de efeito estufa permanecem na atmosfera por tempos diversos, anos ou até décadas, e
para cada um deles é conhecida a sua respectiva forçante radioativa8, ou seja, seu potencial de
aquecimento global (GWP), o montante de energia adicionada ao planeta, medido em watts por
metro quadrado (W/m2). O potencial de aquecimento global (GWP) é a medida mais usada para
estimar a contribuição de cada país para a mudança do clima, mediante o cálculo de emissões
equivalentes de gás carbônico com base em fatores de equivalência de demais gases de efeito
estufa para um determinado período (cem anos). Por exemplo, metano e óxido nitroso têm
permanência média na atmosfera de 12 e 120 anos, respectivamente, e suas forçantes radioativas
equivalem, respectivamente, a 21 e 310 vezes o potencial de aquecimento do dióxido de carbono –
conforme o Segundo Relatório de Avaliação (SAR) do IPCC (1995). Enfim, o GWP funda-se na
importância relativa dos gases de efeito estufa. O Quinto Relatório de Avaliação (AR5) do IPCC
(IPCC, 2014) apresentou valores de equivalência de gases diferenciados em relação aos
apresentados no Segundo Relatório, e é desejável, do ponto de vista técnico, que dados e análises
explicitem a base utilizada para cálculo: se GWP-SAR ou GWP-AR5.
Outra métrica tem sido usada: a do Potencial de Temperatura Global (Global Temperature
Potential – GTP), que relaciona a emissão de determinado gás com a mudança da temperatura
média na superfície global do planeta, em determinado período.
Pela métrica do GWP, segundo Meira Filho, a contribuição das emissões de GEE do Brasil para o
aquecimento global em 2005 era de 4,4%; mas, se avaliada pelo GTP, seria um pouco inferior, 3,3%,
pois parte considerável das emissões nacionais era então de metano, com menor tempo de
permanência (meia-vida) na atmosfera do que o gás carbônico, mas com maior potencial de
aquecimento. Porém, se mensurada pelo efeito no aumento da temperatura média global da
superfície planetária, a contribuição do Brasil seria de somente 1,9% em 2005, de acordo com tal
autor9.
O Brasil considerou as duas métricas ao apresentar para a Conferência CoP-21, em 2015, suas
contribuições pretendidas nacionalmente determinadas (INDC) de controle de emissões de GEE, e
reiterou, em sua Terceira Comunicação Nacional, o argumento do IPCC (2014) de que “a métrica e
o horizonte de tempo mais adequados dependerão de quais aspectos da mudança do clima são
considerados mais importantes a um uso em particular. Nenhuma métrica é capaz de comparar,
de maneira precisa, todas as consequências de diferentes emissões e todas têm limitações e
incertezas”10.
Nessa Terceira Comunicação Nacional11, lançada em maio de 2016, o Poder Executivo federal
valeu-se do entendimento do IPCC pelo qual o GTP é a melhor métrica para adoção de metas em
políticas públicas, pois a métrica do GWP não se associa diretamente a um limite desejado para o
aumento da temperatura média global (2 °C) em relação à temperatura média no período pré-
industrial.
A expressão “linha de base”, muito usada em planos, documentos e até em normas sobre
mudança do clima, refere-se à projeção das emissões de gases de efeito estufa oriundas das
atividades antrópicas em determinada região e período para um cenário de referência (como
exemplo, a continuidade de políticas e práticas correntes). O Decreto 9.578/2018, que
regulamenta alguns artigos da lei que instituiu a Política Nacional sobre Mudanças do Clima –
PNMC, contempla uma linha de base que projeta as emissões brasileiras de gases de efeito estufa,
em 2020, no montante de 3,236 GtCO2e (3.236 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente),
parâmetro em relação ao qual foram estabelecidos planos e metas, adiante comentados.
Com base em tais projeções, estimam-se os cenários possíveis, desde aqueles resultantes da
omissão em relação ao problema, ou seja, nada fazer e continuar com o mesmo padrão de
“desenvolvimento” (na literatura internacional, nomeado como business as usual, com a sigla BAU)
ou cenários diversos resultantes de graus variados de respostas políticas, econômicas, tecnológicas
e institucionais de nossas sociedades. Os estudos analisados pelo IPCC – Painel Intergovernamental
de Mudança do Clima e por seu equivalente nacional, o PBMC – Painel Brasileiro de Mudança do
Clima estão baseados em modelagens científicas e dados observacionais que sustentam diversos
cenários.
Decorre que o planeta continuará aquecendo por muitos anos, ainda que, na hipótese teórica,
não possível na prática, de corte de todas as emissões de origem antrópica desses gases. A
combinação de tempo de permanência na atmosfera da forçante radioativa e da letargia na adoção
de políticas e normas para mitigação das emissões faz realçar a importância da urgente
implementação de respostas adequadas, ainda mais quando se consideram os imperativos de
justiça e equidade social, dado que os impactos da mudança do clima atingem de forma
relativamente mais danosa os que se encontram em situações sociais e ambientais mais
vulneráveis.
Para as respostas de nossas sociedades aos desafios das mudanças de clima, importa considerar
os gases de efeito estufa para os quais seja possível o controle preventivo e corretivo das suas
emissões, evitando assim a exarcebação do efeito estufa. Maiores temperaturas promoverão maior
evaporação nos oceanos, rios, lagos e ocasionarão maiores precipitações na forma de chuvas ou
neves. O vapor de água também se origina da evapotranspiração de vegetais. O controle da
evaporação de água não é considerado como parte das respostas antrópicas que compõem a
regulação e os objetivos de políticas públicas, mas compreende um elemento de compreensão do
sistema climático, do ponto de vista científico.
O consumo de combustíveis fósseis e o desmatamento são dois fatores de maior relevância nos
processos que geram as emissões de dióxido de carbono. A agricultura intensiva contribui com a
emissão de metano e os clorofluorcarbonos (CFCs) originam-se do setor industrial e de bens de
consumo industrializados (geladeiras, ar condicionado etc.; não há produção natural de CFCs).
Pode-se dizer que as emissões dos gases de efeito estufa decorrem principalmente do uso de
energia a partir de combustíveis fósseis (média global de aproximadamente 75% das emissões de
gases de efeito estufa), do desflorestamento, das atividades agropecuárias e da produção e
utilização de CFCs. Sendo conhecidas as fontes de emissões de GEE, cabe então rever, alterar ou até
evitar os processos e as tecnologias de produção de bens e serviços que gerem tais gases. Assim,
por exemplo, poderão compor políticas e planos para enfrentar as mudanças de clima as medidas
de fomento para atividades menos intensivas na emissão de GEE, as políticas e iniciativas para a
geração e uso de energia fotovoltaica ou termosolar, acompanhadas por ações de desincentivo do
uso de energia obtida por meio da combustão de combustíveis fósseis.
Cientistas costumam agrupar as emissões em setores ou fontes. As cinco principais: (i) emprego
de combustíveis fósseis; (ii) aproveitamento do solo, mudança de uso do solo (conversão de
vegetação natural em agricultura, pastagens, áreas urbanas; no Brasil, o desmatamento é a fonte
mais notória) e atividades florestais; (iii) agropecuária (uso de fertilizantes, fermentação entérica
de animais); (iv) indústrias e seus processos (fabricação de cimento, produção de papel e celulose
etc.); e (v) manejo, tratamento e disposição de resíduos (com geração de metano e gás carbônico,
por exemplo).
• o nível médio do mar aumentou 0,19 m (0,17 a 0,21 m) entre 1901 e 2010, e a elevação
do nível do mar desde meados do século XIX tem sido bem superior à taxa observada
durante os dois milênios anteriores;
• entre 1970 e 2010, triplicaram as emissões, acumuladas desde 1750, de CO2 oriundo
do uso de combustíveis fósseis e produção de cimentos, que passaram de 420±35
gigatoneladas de gás carbônico (GtCO2) para 1300±110 GtCO2. Nesses 40 anos, as emissões
de gás carbônico associadas ao desmatamento, aos usos da terra e de florestas passaram
de 490±180 GtCO2e para 680±300 GtCO2, sem contar as emissões e remoções de gás
carbônico da agricultura;
Além disso, estamos distantes da adequação das medidas políticas, econômicas, legislativas e
culturais que possam colocar a humanidade no rumo da segurança climática e ambiental.
Washington Novaes, ex-secretário de meio ambiente do Distrito Federal e jornalista, que tem
acompanhado a evolução da UNFCCC, noticiou, em meados de 2014, que seriam necessários 48
trilhões de dólares estadunidenses em 21 anos para investimento em energia não poluente de
forma a atender a demanda (crescimento populacional e econômico). Todavia, segundo dados da
Agência Internacional de Energia, os investimentos não ultrapassariam 1,6 bilhões, bem abaixo
dos mais de 2 bilhões anuais necessários14. Para Azevedo, no período de 2000 a 2013, a demanda
de energia aumentou 38%, com o crescimento do consumo das fontes fósseis na mesma proporção,
embora maior para o carvão (70%) e pouco menor para o petróleo (acréscimo de 17%). Por outro
lado, segundo Azevedo (2014), “as energias renováveis tiveram crescimento de 81% no mesmo
período, com destaque para a solar (+ 14.000%), a eólica (+ 2.000%) e os biocombustíveis (622%)”15.
Desde o seu primeiro relatório, o IPCC assegura que há interferência antrópica no sistema
climático. Essa conclusão é fortalecida a cada nova versão dos estudos e análises que buscam
corroborar decisões políticas nos foros da ONU e dos países que buscam criar leis e políticas sobre
o assunto. Enfim, não há dúvidas de que o aquecimento da temperatura do planeta tem sido
potencializado por atividades humanas.
Com a tendência de aumento das concentrações de gases na atmosfera, quanto mais cedo forem
tomadas medidas para redução das emissões, menor tempo (anos ou décadas) será necessário para
desacelerar o aquecimento planetário.
Com base no Primeiro Relatório de Avaliação Nacional – RAN1, elaborado pelo Painel Brasileiro
de Mudanças do Clima, divulgado em meados de 2013, sabe-se sobre as emissões brasileiras16 que:
• em 2011 as emissões e gases de efeito estufa totalizaram 1,58 GtCO2e, uma diminuição
de 35% quando comparada ao total de 2,43 GtCO2e emitidos em 2005; anos antes, em 1995,
as emissões atingiram 2,85 GtCO2e, pico resultante do desmatamento e mudanças de uso
do solo, setores responsáveis por 80% e 65% das emissões brasileiras em 1995 e 2005;
Também, em maio de 2016, foi divulgado o Sistema de Registro Nacional de Emissões (Sirene),
uma ferramenta de informática19 para facilitar o acesso aos resultados e às informações do
Inventário. Trata-se de mecanismo que contribui para a transparência dos dados e informações do
inventário e, assim, apoia a gestão e o aprimoramento de políticas públicas de relevância para a
mitigação das emissões brasileiras. Pelo Sirene, é possível acessar dados por unidade federativa e
para os seguintes setores de emissões de gases: agropecuária, energia, processos industriais,
tratamento de resíduos, uso de solventes e outros produtos e, também, para o “setor” de uso da
terra, mudança do uso da terra e atividades florestais. Este, que é conhecido no regime multilateral
pela sua sigla em inglês – LULUCF (Land Use, Land-Use Change and Forestry), tem grande
relevância na história das emissões brasileiras, sobretudo em razão do desmatamento de áreas da
Amazônia e do cerrado, notadamente para a criação de pastagens e áreas de agricultura.
Ora, inalterada a estrutura econômica atual e mantido o crescimento das emissões de gases,
associado à inércia das transformações produtivas, tecnológicas e institucionais, por um lado, e o
aumento do poder aquisitivo e da expansão populacional, por outro, poderemos ter que lidar nos
anos vindouros com eventual agravamento dos efeitos do aquecimento global e das mudanças
climáticas. Será necessário ir além da efetiva implementação de acordos (como o Acordo de Paris),
e buscar robustas e ambiciosas políticas a fim de assegurar a transição para perfis de baixa
produção de gases de efeito estufa. Além disso, o agravamento poderá ampliar a distribuição e ou
a intensidade de efeitos deletérios para as pessoas e para regiões com maior vulnerabilidade
social, ambiental, econômica ou com menor capacidade financeira, cultural, institucional,
tecnológica para se adaptar aos impactos decorrentes.
Esses alertas iniciais não devem inibir a adoção de medidas factíveis, as quais devem servir, no
mínimo, de estímulo e plataforma para ações posteriores, em um encadeamento de crescente
efetividade. Como exemplo, o Protocolo de Quioto, cujo primeiro período entre 2008 e 2012, tinha
metas insuficientes para lidar com o agravamento do aquecimento global. Porém, mesmo na
perspectiva de organizações ambientalistas da sociedade civil, esse Protocolo oferecia
instrumentos e oportunidades para ampliar o debate e engajar novos atores em iniciativas para
corte ou compensação das emissões de gases de efeito estufa de origem antropogênica.
Não obstante, esse mesmo exemplo do Protocolo de Quioto traz-nos dois alertas adicionais
quando o desafio é a elaboração e a implementação de normas legais, associadas a políticas
públicas e iniciativas privadas. Primeiro, a importância do senso de realidade quanto aos limites
dos instrumentos e opções políticas e legislativas no que tange aos resultados efetivos para debelar
o fenômeno do aquecimento global e as mudanças climáticas. O segundo, a necessidade de
construção de vontades políticas que possam dar segurança na adoção, global, nacional e local de
programas e de marcos legais consentâneos ao mundo, no qual a interdependência fica cada vez
mais evidente pela propagação dos efeitos de crises ambientais, sociais ou econômicas.
A Encíclica Laudato Si’ 25, apresentada pelo Papa Francisco, e a Declaração Islâmica sobre
Mudança do Clima Global 26, ambos os documentos de meados de 2015 e divulgados inclusive para
incidir publicamente sobre as negociações do Acordo de Paris, fazem profundos chamados éticos
sobre os desafios a serem enfrentados pela humanidade para lidar com a crise ambiental
planetária. Dias antes da abertura do período de assinatura do Acordo de Paris, em abril de 2016,
lideranças religiosas e de espiritualidade divulgaram a Declaração Inter-religiosa de Mudança do
Clima 27, na qual se afirma que: “cuidar da Terra é uma responsabilidade compartilhada, e que
cada pessoa tem a responsabilidade moral de agir.” Ao demandar ações para lograr limitar o
aquecimento do planeta a 1,5 °C, a Declaração diz que a mudança do clima apresenta-se como
oportunidade de se “embarcar em um caminho de renovação espiritual definido por uma mais
profunda consciência e maior ação ecológica”, pois cada ato de “proteção de todos os seres nos
conecta uns aos outros”.
Assim, a consistência de políticas e leis domésticas com marcos multilaterais é desejável, por
um lado, mas, por outro, dada a responsabilidade dos Estados e das sociedades, tais políticas e leis
domésticas não devem ficar reféns ou limitadas ao regime internacional, notadamente se esse se
mostrar insuficiente para respaldar iniciativas robustas.
Estudo divulgado, no início de 2014, indicou que há leis e políticas voltadas a lidar com
mudanças climáticas em 52 países, entre os 66 que tiveram suas legislações analisadas e os quais
respondem por 88% das emissões globais de gases de efeito estufa. Na análise feita pela
organização Globe que articula parlamentares, as quase 500 leis aprovadas nos anos recentes
ainda não são suficientes para mitigar as emissões de gases de efeito estufa ao ponto necessário
para evitar um aquecimento global médio acima de 2 ºC, em relação à temperatura média
planetária do período pré-industrial, até o final do século XXI.
Esse estudo, em sua quarta edição, indicou que em 61 países há leis ou programas públicos para
a promoção de eficiência energética e geração de energia limpa, ou para a criação de programas e
planos nacionais, entre os quais se incluem iniciativas para a redução de emissões associadas ao
desmatamento e degradação florestal e para as medidas de adaptação aos impactos das mudanças
de clima. O referido estudo destacou ainda a precificação do carbono com a incidência de tributos,
uma opção que consta da legislação em 27 países28.
Conceitos legais
Algumas expressões e conceitos de base técnica e científica presentes na literatura sobre o tema
de mudanças do clima foram inseridos nas normas mais importantes do regime multilateral e na
legislação nacional, oferecendo assim referência legal para a interpretação e aplicação do conjunto
normativo. Desde o início e ao longo desta obra, já utilizamos algumas dessas expressões, mas vale
destacar alguns dos conceitos estabelecidos, antes mesmo de se abordar a legislação internacional
e nacional que será vista adiante.
O art. 1° da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima define nove conceitos29, dos quais
destaco os seguintes:
• “Mudança do clima” significa uma mudança de clima que possa ser direta ou
indiretamente atribuída à atividade humana que altere a composição da atmosfera mundial
e que se some àquela provocada pela variabilidade climática natural observada ao longo de
períodos comparáveis;
• “Fonte” é qualquer processo ou atividade que libere um gás de efeito estufa, um aerossol
ou precursor de gás de efeito estufa na atmosfera.
• impacto: os efeitos da mudança do clima nos sistemas humanos e naturais (inciso VI);
A aplicação das normas e políticas sobre mudança de clima requer, como já mencionado, a
contribuição de conhecimentos de várias disciplinas. Dessa forma, caberá ao aplicador e ao
intérprete das normas buscar conhecer conceitos técnicos, ainda que não necessariamente de
consenso entre especialistas, e que ainda estão fora dos textos normativos e jurídicos como os
conceitos de eventos extremos e variabilidade climática.
A Constituição de 1988 oferece base suficiente para normas, políticas e ações efetivas para lidar
com mudanças climáticas, embora esse tema não tenha sido de pleno conhecimento pelo público e
pelos constituintes quando da elaboração de nossa Lei Maior. De fato, sequer a expressão
mudanças de clima aparece no texto constitucional.
Não obstante, os mandamentos inscritos no art. 225 já oferecem alicerce expressivo para
iniciativas, mesmo que, por hipótese, não houvesse um acordo global ou um marco legal
infraconstitucional específico para o tema. Os dispositivos desse artigo, combinados com outros
que se encontram no texto constitucional, que tratam dos princípios fundamentais, dos direitos e
das garantias individuais e coletivos, dos que definem competências dos entes federativos, bem
como dos princípios e das regras da ordem econômica, compõem um conjunto de normas
constitucionais que determinam deveres e direitos relativos a um sistema climático compatível
com um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Ora, é fundamental promover a dignidade da pessoa humana, o que exige a observância dos
direitos e dos deveres da Constituição. O caput do art. 225 traz um duplo comando: o do direito de
todos ao meio ambiente sadio e equilibrado que deve ser exercido conjuntamente com o dever de
defendê-lo e preservá-lo, inclusive para as futuras gerações. Isso já nos indica uma postura quando
se trata de enfrentar as causas conhecidas e os efeitos previsíveis das mudanças climáticas, ou
seja, o dever de todos – do Estado, das pessoas, naturais e jurídicas, e dos despersonalizados – de
buscar progressivamente a melhor qualidade e integridade do ambiente, a fim de assegurar a
dignidade de vida de todos.
O inciso IV, do § 1º, do art. 225, constitucionalizou o instrumento de estudo prévio de impactos
ambientais, ferramenta relevante para o controle de atividades potencialmente causadoras de
significativa degradação ambiental. Esse instrumento encontra-se regulamentado na legislação
infraconstitucional e, assim, é de se esperar que empreendimentos sejam planejados pela
realização e disponibilização de seus inventários de fontes de emissões e sumidouros de remoção
de gases de efeito estufa como forma de se cotejar seus impactos para o aquecimento global.
O inciso V desse primeiro parágrafo do art. 225 traz de forma implícita os princípios da
precaução e da prevenção. Tais princípios estão inscritos explicitamente na Convenção-Quadro da
ONU e na Lei 12.187/09 que instituiu a política nacional sobre mudanças de clima. Em
decorrência do disposto em tal inciso, o Poder Público está incumbido de controlar a produção, a
comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida,
a qualidade de vida e o meio ambiente. Portanto, a Constituição Federal dá respaldo
constitucional ao Poder Público para controlar e limitar atividades intensivas no uso de
combustíveis fósseis e no uso inadequado da terra para produção agropecuária, se tais usos
puderem resultar em riscos à vida e à qualidade de vida como decorrência do agravamento do
desequilíbrio ambiental e climático.
Milaré (2005), em sua relação de dez princípios, destaca o “princípio do direito ao ambiente
ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana”, e cita também o
“princípio da consideração da variável ambiental no processo decisório”. Antunes (2006) e Fiorillo
(2007) também destacam a dignidade da pessoa humana como princípio basilar do direito
ambiental constitucional no Brasil. Fiorillo e Ferreira (2012) lembram que, não obstante ser a
pessoa humana o destinatário do direito constitucional brasileiro, “o direito à vida em todas as
suas formas é garantido no plano constitucional de maneira ecologicamente equilibrada”.
Esse autor discorre ainda sobre o princípio do risco ambiental proporcional, o qual se desdobra
no princípio da melhor defesa possível, da obrigatoriedade da precaução e da proteção dinâmica
do direito ao ambiente equilibrado e de todos os direitos fundamentais. Aragão (2010) ressalta que
“o princípio do nível elevado de proteção ecológica é um princípio tipicamente hierarquizador”, o
qual deve ser aplicado no direito ambiental e para a proteção de “bens jurídicos emergentes que
reclame a prevalência destes sobre outros bens jurídicos clássicos conflituosos”. Os bens jurídicos
emergentes surgem em virtude de avanços do conhecimento cientifico ou de outras características
e valores da civilização contemporânea. Diz a autora ainda que a obrigação de nível elevado de
proteção ecológica, embora não sendo absoluta, é garantidora do direito humano ao ambiente, de
cumprimento progressivo, e daí decorre também a relevância de se coibir retrocesso ambiental
(ARAGÃO, 2010, p. 51).
Tais comentários têm a finalidade de ressaltar que os princípios de direito ambiental que se
extraem do texto constitucional já seriam suficientes, em tese, para deflagrar condutas que
busquem o nível mais elevado de proteção do sistema climático. Associado a tais princípios, a
proibição de retrocessos nos campos administrativo e normativo, material ou processual, da tutela
do meio ambiente faz parte dos referenciais que devem guiar legisladores, gestores públicos e
magistrados. E, em tratando da construção e evolução normativa em matérias que nos auxiliem na
obtenção da segurança climática, será importante considerar, como afirmamos em outro trabalho,
a proibição de retrocesso ambiental no processo legislativo, notadamente como princípio para
alicerçar o controle preventivo da constitucionalidade e da convencionalidade das normas
internas do país (BORN, 2013)32.
A doutrina, assim, reconhece também que, para a tutela do ambiente, devem ser observados os
direitos e os princípios fundamentais, explícitos ou implícitos, no texto constitucional.
A Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças do Clima foi negociada entre 1991 e 1992,
assinada durante a Rio-92, e entrou em vigor em março de 1994. A primeira conferência das partes
(CoP-1) dessa Convenção ocorreu em Berlin, em março de 1995, quando alguns países liderados
pelos EUA questionaram, com fundamento em dispositivo inserido no texto convencional, a
adequabilidade do Acordo. Esses países consideravam a Convenção demasiadamente exigente e
enfrentavam a crítica sobre a fragilidade desse acordo decorrente da ausência de metas para
redução das emissões. O impasse foi superado com a decisão de se buscar a negociação de um
instrumento adicional para a fixação de metas. Assim surgiu a formação do Grupo ad hoc do
Mandato de Berlin no âmbito do qual, entre 1995 e 1997, se negociou o Protocolo de Quioto. Este só
entrou em vigência internacional em 16 de fevereiro de 2005, quando ficou preenchida a condição
do seu artigo 25 sobre número de países com ratificação depositada junto à ONU.
Um dos cinco eixos do Plano de Bali foi denominado de visão compartilhada (shared vision).
Pretendia-se obter consenso sobre o cenário das mudanças climáticas em 2050 e assim deduzir a
distribuição de responsabilidades e esforços entre os diversos países, observando-se os princípios
do regime multilateral. O Plano de Bali considerou a inclusão no regime multilateral de Ações
Nacionais Apropriadas de Mitigação (NAMAS, na sigla em inglês). Essas ações e os compromissos
dos países industrializados deveriam estar apresentados como medidas quantificáveis, passíveis
de serem verificadas e informadas (conhecidas pela sigla em inglês MRV – measurable, reportable
and verifiable). NAMAs e MRVs configuravam-se como instrumentos para, por um lado, atender às
aspirações dos países em desenvolvimento de obter apoio financeiro dos países do Anexo I,
previsto na UNFCCC, e, por outro, dar a estes a devida transparência das ações e resultados
obtidos.
Foi no contexto dos preparativos para a CoP-15 que vários países em desenvolvimento
elaboraram suas políticas, planos e leis nacionais, como foi o caso do Brasil.
A Decisão 1/ CP2134 e o Acordo de Paris, o qual foi negociado com expectativa de entrada
em vigência até 2020, mas que logrou cumprir seus requisitos para vigorar a partir de novembro
de 2016, ambos os resultados formais da conferência (CoP-21) realizada na capital francesa em
dezembro de 2015, implicam na elaboração de regras novas e complementares na esfera
internacional, as quais foram objeto nas conferências CoP-23 e CoP-24, e, no campo doméstico,
geram obrigações e condições para os ajustes de programas e normas consistentes com o regime
multilateral.
O regime multilateral também é composto por decisões adotadas pelas diversas Conferências
das Partes (CoP), instância superior da UNFCCC, que se reúne anualmente, e Reuniões das Partes
(MoP), que são as instâncias superiores e de decisões do PQ e do AP. Existem também regras que se
originam dos órgãos subsidiários da UNFCCC como normas para padronizar metodologias de
inventários de fontes e de sumidouros de gases de efeito estufa ou, ainda, fixar diretrizes para os
conteúdos de comunicações nacionais. Esses são relatórios que cada país parte deve apresentar ao
secretariado da Convenção.
As decisões nas CoP são, em geral, adotadas por consenso. Algumas delas são de natureza
administrativa e operacional das instâncias operativas, como as das instâncias subsidiárias (SBI –
órgão subsidiário de implementação e SBSTA – órgão subsidiário de aconselhamento técnico e
científico); outras são de caráter regulamentador de institutos como o Comitê Executivo para o
MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ou, ainda, referem-se aos esquemas de registro e
mensuração, relatoria e verificação (MRV) de Ações Nacionais Apropriadas de Mitigação (NAMAs)
e de critérios e salvaguardas de direitos nos esforços de REDD – Redução de Emissões por
Desmatamento e Degradação Florestal. Há ainda decisões (CoP ou MoP) de caráter jurídico e
político quanto à evolução do regime, para aprovação de emendas ou novos protocolos e acordos
específicos.
O artigo 4° da Convenção é um dos seus pilares básicos, pois ali estão definidos os
compromissos dos países signatários. As obrigações de todos os países estão descritas, de forma
geral, nas dez alíneas do art. 4.1, destacando-se as seguintes:
Fica evidente, pela mera leitura do dispositivo da alínea d do art. 4.1, que a diminuição do
desmatamento e a conservação de florestas e demais ecossistemas que atuam como sumidouros e
reservatórios de carbono é obrigação que deveria ter sido observada pelo Brasil desde a sua
vigência para o país38. Muito embora o país não estivesse sujeito à limitação das emissões de gases
de efeito estufa, a boa-fé na aplicação dos compromissos assumidos deveria implicar, além de
maior conservação ambiental, uma desaceleração do crescimento das emissões,
independentemente de produção de legislação ordinária.
O artigo 3 traz, em seus cinco incisos, os princípios do regime multilateral, quais sejam:
2. o cuidado e a solidariedade com países mais vulneráveis aos efeitos das mudanças
de clima, considerando as necessidades específicas e as circunstâncias especiais dos países
em desenvolvimento;
O fato é que o regime multilateral, antes do Acordo de Paris, distribuiu os países partes em três
grupos distintos para o atendimento de compromissos específicos, salvo os de redução de emissões
(foco do Protocolo de Quioto): países em desenvolvimento, países desenvolvidos e países com
economia em transição. Daí a distribuição diferenciada de obrigações nos vários parágrafos do art.
4 da Convenção.
A Emenda de Doha ao Protocolo de Quioto 42 trouxe novas metas de redução de gases de efeito
estufa para os países relacionados no Anexo B do Protocolo para o período de 2012 a 2020.
Entretanto, considerando elementos do Plano de Ação de Bali 43, houve questionamentos de
organizações da sociedade civil sobre a insuficiência de tais metas consideradas, na perspectiva de
se evitar aquecimento global acima de 2 °C em 2100, além de forte crítica à opção de deixar os
países escolherem datas do segundo período para a execução das suas medidas. A Emenda de
Doha não havia entrado em vigência em meados de 2016, por não ter ainda atingido o número
mínimo de ratificações por Partes do Protocolo. Por outro lado, a Decisão 1/CP21 da CoP-21(Paris)
lida com ações a serem implementadas por todas as Partes, no âmbito da Convenção, antes de 2020
e da vigência do Acordo de Paris.
Por meio do Comércio de Emissões (CE), de caráter suplementar às ações domésticas (art. 17)
para atender às metas de limitação e redução de emissões previstas no Anexo B, as Partes do
Anexo I podem transacionar “cotas” de emissão atribuídas a um país para outro país que não
logrou atingir suas próprias metas de redução de emissões. Essas “cotas” são mensuradas pela
Unidade de Quantidade Atribuída.
Para atender requisitos do art. 12 do Protocolo de Quioto sobre o MDL, o empreendimento deve
necessariamente ser consistente com o desenvolvimento sustentável, ter participação voluntária e
aprovada pelas Partes envolvidas, além de ser adicional. A regra de adicionalidade (art. 12, § 5º,
alínea c) torna elegível para o MDL somente o empreendimento que não se concretizaria na
situação de políticas e programas correntes que fundamentam a linha de base estabelecida para as
projeções das emissões no país hospedeiro. Em outras palavras, empreendimentos devem
contemplar atividades que representam ação adicional e voluntária às exigências previstas em
programas ou normas públicas. O empreendedor pode transferir para o credor do apoio
financeiro uma parte ou todo o montante de emissões de GEE evitadas, ou de aumento de remoção
por conta de iniciativas antrópicas (por exemplo, reflorestamento), ou seja, a diferença entre as
emissões do empreendimento e aquelas que ocorreriam sem a ação adicional.
Os projetos de MDL devem contemplar um cenário de referência, a sua linha de base, para se
conhecer a trajetória das emissões na ausência de tal iniciativa e, assim, poder estimar a redução
projetada de emissões. Os projetos devem ter prazos previamente fixados, os quais são distintos
conforme a atividade projetada (i) até 20 anos, com duas renovações, ou 30 anos, sem renovação,
para projetos de reflorestamento e florestamento; (ii) até sete anos, com no máximo duas
renovações, ou dez anos sem renovação do prazo para outros tipos de ações (por exemplo, em
energia).
Para a governança do MDL foi instituído um Comitê Executivo (CDM Executive Board), que
supervisiona os procedimentos, credencia as Entidades Operacionais Designadas (EOD) e valida os
CERs de projetos aprovados. No âmbito doméstico, deve haver uma Autoridade Nacional
Designada (AND) para fazer a apreciação e a aprovação nacional dos projetos de MDL, além da
atribuição de autorizar a cessão dos CERs dos projetos aprovados. No Brasil, as funções da AND são
desempenhadas pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima – CIGMC, criada por
Decreto45 (sem número), de 07.07.1999.
Há entendimentos de que os CERs (ou RCE) dos projetos de MDL têm natureza jurídica de
títulos mobiliários. Mas há também a argumentação de que tais certificados são meras
autorizações, limitadas no tempo, para facilitar a gestão de atividades que podem, no devido
prazo, reduzir emissões de GEE ou ampliar sumidouros de gás carbônico.
O Protocolo de Quioto (KP) reiterou em seu art.10 os compromissos de todos os países para a
adoção de políticas e medidas previstas no artigo 4.1 da Convenção e incluiu a possibilidade de
rever periodicamente o Protocolo “à luz das melhores informações e avaliações científicas
disponíveis sobre mudanças de clima e seus impactos, bem como de informações técnicas, sociais
e econômicas relevantes”46.
A Conferência de Paris (CoP-21) foi registrada como evento histórico e relevante para a
humanidade graças a um novo pacto global em mudanças climáticas. A avaliação de seus
resultados, mais imediatos ou de longo prazo, deve considerar o processo político de negociação e
o conteúdo das decisões e compromissos multilaterais assumidos para uma etapa de cumprimento
e de superação de causas e consequências das mudanças de clima Mas, com base no conhecimento
científico disponível, deve-se considerar também o que precisa ser feito com maior efetividade
para salvaguardar o equilíbrio ecológico e as condições de vida digna para todos os seres.
Esse contexto político foi também fortalecido com a ampliação da participação e da presença
pública de segmentos da sociedade, que lidam com temas como direitos humanos, combate à
pobreza, empregabilidade e condições de trabalho. Foram também determinantes as iniciativas de
alianças governamentais, como a Coalizão por Alta Ambição (o Brasil aderiu a esta no último dia
da conferência) e do Fórum de Vulnerabilidade Climática, o qual apresentou à CoP-21 a Declaração
Manila-Paris47, documento que fortaleceu a demanda para a adoção da referência de 1,5 °C como
limite a ser perseguido para estancar o aquecimento global.
O primeiro refere-se à abordagem adotada para lidar com as mudanças climáticas globais: na
perspectiva subjacente à UNFCCC e ao Protocolo de Quioto, os deveres e os compromissos das
diversas partes são deduzidos das necessidades globais, ou seja, uma abordagem de cima para
baixo (top-down); enquanto o pacto da CoP-21 assenta-se em uma mirada de baixo para cima, na
qual cada país declara suas possíveis ações políticas unilaterais, e dessas busca-se, então, aferir o
resultado global. Assim, a abordagem pledge and review (promessa e revisão) entra no lugar da
perspectiva cap and trade (teto-limite e trocas) presente no Protocolo de Quioto.
Foi publicado na mídia que o Acordo de Paris é o primeiro tratado universal em mudanças de
clima. Essa visão desconsiderou que os instrumentos legalmente vinculantes do regime
multilateral em mudanças de clima também são universais: a Convenção-Quadro tem 196 Partes
(165 países a assinaram em 1992); o Protocolo de Quioto conta com 192 países (83 assinaram e os
demais aderiram posteriormente); e a Emenda de Doha tinha 58 ratificações à época da CoP-21.
Esperava-se que o Acordo de Paris entrasse em vigência em 2020, mas já em outubro de 2016
haviam sido preenchidos os requisitos para a entrada em vigor a partir de novembro do mesmo
ano. O Acordo de Paris contempla 29 artigos e Preâmbulo negociados sob elevada tensão, a qual foi
revelada nos impasses sobre palavras e formulações das normas e compromissos e na edição de
diversas versões do documento nos últimos dias da CoP-21.
O art. 2° trata da finalidade e das metas do Acordo de Paris para fortalecer a resposta global às
ameaças das mudanças climáticas, no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação
da pobreza, indicando, em relação exemplificativa, três objetivos:
a) limitar o aquecimento global médio bem abaixo de 2 °C, envidando esforços para
limitar o aumento a 1,5 °C acima da temperatura antes do início da industrialização,
reconhecendo que isso poderia reduzir significativamente os riscos e os impactos das
mudanças de clima; ressalta-se que decisões anteriores não usavam a expressão bem
abaixo;
A referência ao parâmetro de 1,5 °C (alínea a, do art. 2°, do AP), saudada como um dos sinais de
êxito da CoP-21, já constava de decisão da CoP-16 (CANCUN, 2010). Não obstante, resultou
certamente da pressão dos países que integram o Fórum de Vulnerabilidade Climática, das
solicitações da Aliança dos Países Insulares (Aosis) e das demandas oriundas de grupos da
sociedade, que atuam na proteção do ambiente, promoção de direitos humanos e justiça climática,
respeito aos povos indígenas, entre outros.
O art. 3° do AP diz que os esforços dos Países Partes devem ser progressivos e ambiciosos,
contemplando o previsto nos artigos 4° (mitigação), 7° (adaptação), 9° (apoio financeiro), 10
(desenvolvimento e transferência de tecnologia) e 11 (capacitação).
O AP, em seu artigo 4°, parágrafo 1, traz a indicação, genérica e sem meta ou ano de referência,
de alcançar o mais breve possível o pico das emissões globais e subsequentes reduções das
emissões de GEE, a fim de alcançar o equilíbrio de emissões antropogênicas e remoções de gases
da atmosfera na segunda metade deste século. Entusiastas e defensores do Acordo de Paris
destacaram, ao final da CoP-21, que esse dispositivo é um exemplo do conjunto de medidas que
permitirá o mundo transitar para a sociedade de baixo carbono, e que impulsionará a promoção
das fontes renováveis de energia, a eliminação gradual das indústrias e subsídios associados ao
uso de combustíveis fósseis, a conservação e a recuperação de áreas florestais, entre outros.
Para os críticos do AP, não se pode inferir, a partir desse artigo 4° e do art. 2°, que haverá
seguramente uma trajetória de mitigação que permita limitar o aquecimento global nos
parâmetros estabelecidos. De alguma forma, reconheceu-se essa possibilidade de ultrapassar os
limites quando se menciona no parágrafo 17 da Decisão da CoP-21 que “nota-se com preocupação”
que os níveis estimados das emissões agregadas em 2025 e 2030 resultantes da implementação das
INDCs não se inserem nos cenários de menor custo de limitação do aquecimento não superior a 2
°C, mas projetam emissões de 55 Gigatoneladas em 2030, e assim demandarão esforços muito
maiores do que as INDCs para reduzir emissões a 40 Gigatoneladas naquele ano.
De fato, até o então Secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, afirmou que as INDCs “deixam-nos
com um aumento da temperatura, inaceitavelmente perigoso, de 3 ºC”, embora tenha afirmado
que “o Acordo de Paris é um triunfo para as pessoas, para o meio ambiente e para o
multilateralismo. É um seguro de saúde para o planeta. Pela primeira vez, todos os países do
mundo se comprometeram a reduzir suas emissões, reforçar a capacidade de resiliência e agir
internacionalmente e internamente para enfrentar a mudança climática”51.
A CoP-21 foi qualificada como uma vitória para a ciência e uma derrota para a indústria dos
combustíveis fósseis52. Lobistas de associação do segmento de exploração de petróleo
externalizaram preocupações com o Acordo, e reclamaram que a ONU tenha identificado esse
setor como inimigo público número um53. O Presidente da CoP-21, Laurent Fabius, ministro de
Relações Exteriores da França, disse ao final da Conferência que “o texto do pacto constitui o
melhor equilíbrio possível, poderoso, mas delicado”54.
Não faltaram críticas de cientistas ao pacto de Paris. Alguns deles afirmaram que já se
perderam as chances de limitar o aquecimento a 1,5 °C, e que o limite de 2 °C será provavelmente
ultrapassado diante das promessas e dinâmicas governamentais55. James Hansen, cientista que
atuou na NASA – agência espacial estadunidense e considerado patrono da conscientização sobre o
aquecimento global, rotulou como fraude o Acordo de Paris, dizendo são “só promessas, sem
ações”. Mencionou ainda ser necessário taxar as emissões de gases de efeito estufa, como exemplo
de uma das ações mais efetivas56.
Como antes comentado, a política e legislação nacional para mudança de clima surgiram em
decorrência e no contexto do regime multilateral e, por vezes, alguns fatos e atos apareceram
como respostas do Governo Federal às negociações internacionais recentes. A análise dos
conteúdos da legislação federal específica, consubstanciada nas Leis 12.187 e 12.114, ambas de
dezembro de 2009, bem como em resoluções interministeriais, em portarias e nos decretos
federais, permite vislumbrar que as medidas nacionais se fazem “consistentes” formalmente com
o regime multilateral, mas não vão além dos compromissos que o Governo federal entendeu, até o
momento, que o Brasil deva cumprir. Do ponto de vista material, poderiam ir além das ambições
do regime, e fazer o Brasil avançar mais rapidamente a uma sociedade de baixo carbono.
No caso do Protocolo de Quioto, também houve lapso temporal, embora menor. A aprovação
pelo Congresso deu-se pelo Decreto Legislativo 144, de 20 de junho de 2002, e somente em 12
de maio de 2005 ocorreu a promulgação do Decreto Presidencial 5.445. O inciso 1, do artigo 25, do
Protocolo, determina a sua vigência para o país 90 dias depois do depósito de sua ratificação, e a
ratificação pelo Brasil em 23 de agosto de 2002.
O Plano Nacional de Mudanças de Clima, um dos instrumentos da lei citada, surgiu ainda um
ano antes, e foi apresentado na CoP-14, realizada em Poznam, em 2008, também como “resposta”
brasileira aos desafios que são decorrentes do artigo 4.1 da Convenção. Decorreu da criação, pelo
Decreto 6.263, de 21 de novembro de 2007, do Comitê Interministerial sobre Mudanças do
Clima (CIM), ato divulgado pouco antes da CoP-13, denotando uma conduta perceptível do governo
em produzir fatos pouco antes das conferências internacionais. A demanda por plano e política
nacional vinha sendo feita por organizações da sociedade civil, pelo citado GT Clima FBOMS, desde
a década anterior; em 2007, tais organizações elaboraram um documento57 com propostas para
medidas e programas, que foi apresentado, em novembro daquele mesmo ano, ao Poder Executivo
e à Comissão Mista do Congresso Nacional criada para o tema de mudanças de clima.
A Lei 12.187/2009 da Política Nacional sobre Mudança de Clima fixa objetivos, princípios,
diretrizes e instrumentos e tem, sobretudo, um caráter programático. Seu art. 3º reitera os
princípios inseridos na Convenção-Quadro de Mudança do Clima, e acrescenta a integração entre
as ações nacionais e as ações promovidas nos âmbitos estaduais e municipais, tanto as realizadas
por entidades públicas como por entidades privadas.
Em seu art. 4º, são fixados os diversos objetivos específicos, entre os quais (i) a consolidação e
expansão as áreas legalmente protegidas; e (ii) o incentivo aos reflorestamentos e à recomposição
da cobertura vegetal em áreas degradadas. Esses objetivos específicos são consistentes com a
obrigação internacional prevista no artigo 4.1, alínea d, da Convenção de Mudança de Clima. Não
obstante, a Lei 12.651/2012, o novo “Código Florestal”, permite a não recomposição de
vegetação suprimida ilicitamente, representando assim grave retrocesso ambiental e conflito com
a obrigação prevista na norma internacional adotada pelo país.
Nesse mercado, a cada título, corresponderá uma emissão evitada ou reduzida, o qual será
negociado para contabilizar outra emissão que continuará a persistir (permanente ou por período
determinado), com o uso de um bem comum (a atmosfera) para finalidades privadas de cunho
social ou econômico.
Treze diretrizes gerais para a PNMC são fixadas pelo art. 5° da Lei 12.187/2009, destacando-
se:
I – o Plano Nacional sobre Mudança do Clima: trata-se de complexo conjunto de programas de ações e
políticas setoriais; o primeiro plano foi apresentado ainda em 2008 e em 2013 foi objeto de uma primeira
revisão;
II – o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima: criado pela Lei 12.114/09, que começou a operar
em 2011, mas cuja principal fonte de recursos ficou prejudicada por causa da alteração, em 2013, da lei
que define destinação dos royalties da exploração de petróleo;
VI – as medidas fiscais e tributárias destinadas a estimular a redução das emissões e remoção de gases
de efeito estufa, incluindo alíquotas diferenciadas, isenções, compensações e incentivos, a serem
estabelecidos em lei específica;
XIII – os registros, inventários, estimativas, avaliações e quaisquer outros estudos de emissões de gases
de efeito estufa e de suas fontes, elaborados com base em informações e dados fornecidos por entidades
públicas e privadas;
Não obstante essa longa relação de instrumentos, as ações governamentais decorrem, em tese,
do Plano Nacional sobre Mudanças de Clima, de planos setoriais, incluindo os Planos de Ação para
a Prevenção e Controle do Desmatamento nos diversos biomas, e de medidas fiscais e tributárias
(por exemplo, isenções, incentivos, alíquotas diferenciadas, a serem estabelecidas em lei
específica) para estimular a redução das emissões e remoções dos gases de efeito estufa. O
Decreto 7.390, de 09 de dezembro de 2010, fixara prazo para a elaboração dos planos setoriais
iniciais, bem como para os planos de prevenção e controle de desmatamento na Amazônia Legal
(PPCDAm)e no Cerrado (PPCerrado), para os planos de redução de emissões na siderurgia, para o
plano de agricultura de baixo carbono (plano ABC) e para o plano decenal de expansão de energia.
O Decreto 9.578, de 22 de novembro de 2018, ao revogar os Decretos 7.390/10 e 7.343/10 cita
tais planos em seu art. 17, mas eliminou referências aos seus conteúdos mínimos.
A meta geral, considerada de “compromisso voluntário” nos termos do artigo 12 da Lei 12.
187/09, foi de “reduzir” entre 36.1% e 38,9% as emissões projetadas até 2020 mediante ações
de mitigação das emissões lastreadas nos diversos planos. Ressalta-se que não se trata de redução
absoluta, real e efetiva das emissões existentes , mas de uma estimativa de “desaceleração” do
crescimento projetado das emissões ao longo da década até 2020. A projeção legal das emissões
nacionais de gases de efeito estufa para o ano de 2020, segundo o artigo 18 do Decreto
9.578/18, é de 3.236 milhões tonCO2eq, “composta pelas projeções para os seguintes setores:
Para alcançar a “redução” das emissões brasileiras projetadas para 2020, o Decreto
9.578/2018 determina, em seu artigo 19, que sejam consideradas inicialmente as seguintes ações
contidas nos planos setoriais:
I – redução de oitenta por cento dos índices anuais de desmatamento na Amazônia Legal em relação à
média verificada entre os anos de 1996 a 2005;
II – redução de quarenta por cento dos índices anuais de desmatamento no Bioma Cerrado em relação
à média verificada entre os anos de 1999 a 2008;
VII – expansão da fixação biológica de nitrogênio em cinco vírgula cinco milhões de hectares de áreas
de cultivo, em substituição ao uso de fertilizantes nitrogenados;
VIII – expansão do plantio de florestas em três milhões de hectares;
IX – ampliação do uso de tecnologias para tratamento de quatro vírgula quatro milhões de m3 de
dejetos de animais; e
Até o início de 2016, não havia ainda a regulamentação do mercado brasileiro de carbono,
prevista no art. 9° da Lei 12.187/09.
Segundo a legislação (art. 3° do Decreto 9.578 e art. 11 da Lei 12.187), os planos setoriais devem
contemplar ações de adaptação, inclusive aquelas para a redução de vulnerabilidades dos sistemas
humanos e naturais ante os impactos esperados das mudanças do clima.
O Plano Nacional de Adaptação (PNA) foi instituído em 10.05.2016 pela Portaria MMA 150,
posteriormente ao processo de consulta pública com a sociedade. Nos termos do art. 1° de tal
Portaria, o PNA visa “promover a gestão e redução do risco climático no país frente aos efeitos
adversos associados à mudança do clima, de forma a aproveitar as oportunidades emergentes,
evitar perdas e danos e construir instrumentos que permitam a adaptação dos sistemas naturais,
humanos, produtivos e de infraestrutura”.
O Plano Nacional sobre Mudança de Clima (PNMC) foi dividido em quatro eixos norteadores, a
saber: (i) Oportunidades de Mitigação; (ii) Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação; (iii) Pesquisa e
Desenvolvimento; e (iv) Capacitação e Divulgação. Em 2013, o governo federal desenvolveu
processo para a primeira revisão e atualização do plano. A atualização do PNMC deve ocorrer em
período não superior a dois anos, previamente à elaboração dos Planos Plurianuais (PPA) ,
conforme determina o artigo 3º , parágrafo 1º, do Decreto9.578/18.
A meta de mitigação absoluta para o conjunto da economia brasileira considera atingir níveis
de emissão de 1,3 GtCO2e (GWP-100; IPCC AR5) em 2025 e 1,2 GtCO2e (GWP-100; IPCC AR5) em
2030, correspondendo, respectivamente, a reduções de 37% e 43%, com base no nível de emissões
em 2005 de 2,1 GtCO2e (GWP-100; IPCC AR5). Conforme já citado, o SIRENE – Sistema Nacional de
Registro de Emissões, lançado em 2016, aponta que em 2010 as emissões brasileiras chegaram a
1,27 GtCO2e.
Assim, não obstante ter sido considerada ousada a meta de redução absoluta apresentada,
houve questionamentos, pois as emissões nos anos recentes já estariam próximas da meta
pretendida para 2025, notadamente, em razão da diminuição de emissões do desmatamento
verificadas nos últimos anos. Por outro lado, estabilizar as emissões e lograr promover o
desenvolvimento era um enorme desafio, e este foi outro argumento utilizado na defesa da INDC
brasileira. O compromisso incluiu os gases CO2, CH4, N2O, perfluorcarbonos, hidrofluorcarbonos e
SF6.
No documento, divulgado antes da CoP-21, foi explicitada a reserva do governo federal quanto
à utilização de mecanismos de mercado que seriam negociados na Conferência de Paris, e reiterou
que eventuais transferências de créditos (de carbono) associadas a atividades de mitigação no país
dependeriam do consentimento prévio e formal do Governo. Foi reiterado que não se reconhecerá
o uso de unidades de redução de emissões vinculadas a instrumentos que não façam parte do
regime multilateral, ou seja, que ocorram no “mercado voluntário”. O papel das unidades de
conservação ambiental e de territórios indígenas, bem como de áreas com manejo sustentável de
florestas, foi considerado na INDC brasileira.
Para o setor florestal e uso da terra, a INDC inclui as seguintes promessas de ações:
Espera-se, em função do Acordo de Paris, a revisão das metas da INDC do Brasil, bem como a
atualização de planos setoriais e revisão periódica do PNMC – Plano Nacional de Mudanças do
Clima e, se necessário, da Lei 12.187/2009 que estabeleceu a Política Nacional de Mudanças do
Clima. A ratificação do Acordo de Paris, assinado pelo Brasil em abril de 2016, ocorreu depois de
sua aprovação pelo Congresso Nacional e da publicação62 em agosto de 2016 do Decreto
Legislativo 140/2016. Com a promulgação, pelo Decreto 9.073, de 5 de junho de 2017, o Acordo
de Paris ingressou no ordenamento legal nacional. Os planos governamentais para mudanças do
clima e instrumentos de suporte, como os inventários de fontes antrópicas de emissão, sumidouros
e reservatórios de gases de efeito estufa, deveriam ter sua frequência de atualização ajustada para
facilitar a contribuição brasileira às avaliações globais (global stocktake) sobre o progresso de
cumprimento das medidas previstas pelo Acordo de Paris, que serão realizadas a cada cinco anos a
partir de 2023, conforme seu artigo 14.
Para o governo federal, a ENREDD+ tem a função de “coordenar e promover sinergias entre a
Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC, Lei n. 12.187/2009), a Lei de Proteção da
Vegetação Nativa (Novo Código Florestal), os planos de prevenção e combate ao desmatamento e
outras leis, políticas e regulamentos que têm como objetivo reverter a perda de florestas”64.
Surgiram também programas e leis estaduais sobre REDD em algumas unidades federativas.
Interessante registrar que, em diversos estados, há o desenvolvimento de programas
governamentais que reconhecem e estimulam PSA – pagamentos por serviços ambientais,
notadamente para recuperação ou conservação de cobertura vegetal, inclusive em áreas e com
focos prioritários de conservação de mananciais e de biodiversidade, e várias dessas iniciativas
(São Paulo68, Paraná e Amazonas, por exemplo) desdobram-se ou estão associadas às legislações
estaduais sobre mudanças climáticas69.
Instituído pela Lei 12.114/2009, o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima – FNMC é um fundo
de natureza contábil, cuja regulamentação mais recente está inserida nos artigos 5 º a 16 do
Decreto 9.578, de 22 de novembro de 2018, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, com a
finalidade de assegurar recursos para apoio a projetos ou estudos e financiamento de
empreendimentos que visem à mitigação da mudança do clima e à adaptação à mudança do clima
e aos seus efeitos.
Nos termos da supramencionada lei, os recursos do Fundo Clima são constituídos por até 60%
(sessenta por cento) da cota-parte (10%) do Ministério do Meio Ambiente dos recursos da
participação especial aplicada sobre a receita bruta da produção de energia, deduzidos os
royalties, os investimentos, previstos no inciso II do § 2º do artigo 50 da Lei 9.478/97 (lei
de política energética e das atividades relativas ao monopólio do petróleo). Entretanto, em 2013,
houve alteração da lei dos royalties, para privilegiar investimentos em educação no País. Também
podem constituir recursos do Fundo (i) as dotações consignadas na lei orçamentária anual da
União e em seus créditos adicionais; (ii) os recursos decorrentes de acordos, ajustes, contratos e
convênios celebrados com órgãos e entidades da administração pública federal, estadual, distrital
ou municipal; (iii) as doações realizadas por entidades nacionais e internacionais, públicas ou
privadas; (iv) os empréstimos de instituições financeiras nacionais e internacionais; (v) a reversão
dos saldos anuais não aplicados; e (vi) os recursos oriundos de juros e amortizações de
financiamentos.
Os recursos do FNMC devem ser aplicados (i) em apoio financeiro reembolsável mediante
concessão de empréstimo, por intermédio do agente operador; e (ii) em apoio financeiro, não
reembolsável, a projetos relativos à mitigação da mudança do clima ou à adaptação à mudança do
clima e aos seus efeitos, aprovados pelo Comitê Gestor do FNMC, conforme diretrizes previamente
estabelecidas pelo seu Comitê Gestor.
Nos termos da Lei 12.114/2009, esse Comitê Gestor, vinculado ao Ministério do Meio
Ambiente, é composto com representantes do Poder Executivo Federal e de setores da sociedade.
Cabe ao Comitê Gestor do FNMC definir, anualmente, a proporção de recursos a serem aplicados
em cada uma das modalidades, empréstimos e doações, dado que estas podem ser aplicadas
diretamente pelo Ministério do Meio Ambiente ou transferidos por convênios, termos de parceria,
acordos, ajustes ou outros instrumentos previstos em lei.
• Lei 11.284, de 2006, que dispõe sobre a gestão de florestas públicas e institui o
Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal;
• Lei 11.428, de 2006, que trata da utilização e proteção da vegetação nativa do
Bioma Mata Atlântica: os planos municipais de conservação e recuperação da Mata
Atlântica, previstos no art. 38, e, com conteúdo mínimo determinado pelo art. 43 do
Decreto 6.660/2008, pode ser oportuno instrumento para alavancar recursos do
Fundo de Restauração da Mata Atlântica em ações relevantes para mitigar emissões e
promover a resiliência dos ecossistemas desse bioma diante das mudanças do clima;
• Lei 12.512, de 2011, que cria a iniciativa Bolsa Verde, um programa de apoio
financeiro à população de baixa renda que vive em áreas de interesse para a proteção
ambiental;
• Lei 10.295, de 2001, que dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso
Racional de Energia;
Em relação aos efeitos de eventos climáticos extremos para o ambiente e para as populações, a
Lei 12.608, de 2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC,
dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil – SINPDEC e o sobre o Conselho
Nacional de Proteção e Defesa Civil – CONPDEC, e autoriza a criação de sistema de informações e
monitoramento de desastres.
Destaque deve ser dado aos dispositivos (da Lei 12.608/12) que introduziram alterações na
Lei 12.340/2010, que dispõe sobre o Fundo Especial para Calamidades Públicas e sobre as
transferências de recursos da União aos órgãos e entidades dos Estados, Distrito Federal e
Municípios para a execução de ações de resposta e recuperação nas áreas atingidas por desastre, e
na Lei 10.257/2001 (Estatuto das Cidades).
Na Lei 12.340/2010, merecem destaque (i) a instituição, pelo governo federal, de cadastro
nacional de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto,
inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos (art. 3º-A); e (ii) a obrigação
de adoção, pelos municípios, de providências para redução do risco, entre as quais a execução de
plano de contingência e de obras de segurança e, quando necessário, a remoção de edificações e o
reassentamento dos ocupantes em local seguro se verificada a existência de ocupações em áreas
suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos
geológicos ou hidrológicos correlatos.
O Estatuto das Cidades passou a exigir dos municípios incluídos no cadastro nacional de
municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações
bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos que seus planos diretores contemplem
adicionalmente (art. 42-A, incisos I a V), entre outros, o “mapeamento contendo as áreas
suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos
geológicos ou hidrológicos correlatos” e “medidas de drenagem urbana necessárias à prevenção e
à mitigação de impactos de desastres”.
Convém observar que tais determinações para considerar riscos de desastres se aplicam para
qualquer que seja a modalidade ou causa, não necessariamente decorrente de comprovação de
efeito de mudanças do clima. No entanto, tais disposições podem contribuir para maior
capacidade de atuação do Poder Público e da sociedade na prevenção e na gestão de riscos e
efeitos associados a eventos climáticos extremos, especialmente em áreas de maior
vulnerabilidade ambiental ou social, inclusive no que concerne às medidas de adaptação aos
efeitos irreversíveis das mudanças do clima.
No cenário institucional para lidar com os desastres e efeitos catastróficos adversos associados
à mudança do clima, conta-se, além da Defesa Civil presente em diversos entes da Federação, com
o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), criado pelo
Decreto 7.513. Vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC),
tem a missão de “desenvolver, testar e implementar um sistema de previsão de ocorrência de
desastres naturais em áreas suscetíveis de todo o Brasil e emitir alertas de desastres naturais”.
Também atua para “identificar vulnerabilidades no uso e ocupação do solo, com destaque para o
planejamento urbano e a instalação de infraestruturas” e para indução de “ações efetivas e
antecipadas de prevenção e redução de danos”70.
Normas tributárias podem ter também papel relevante para mitigar ou ampliar as fontes de
emissões ou conservar reservatórios e sumidouros que removam gases de efeito estufa. Por
exemplo, a redução de alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidentes sobre
automóveis e sobre sistemas de aquecimento solar de água tem efeitos antagônicos: pode se
aumentar a frota circulante e o consumo de combustíveis, no caso da redução do IPI para veículos
automotores, no primeiro caso; no segundo, fomenta-se o uso de energia solar em edificações,
promovendo-se menor demanda sobre o sistema elétrico nacional. Esse efeito, no segundo caso, é
ainda mais relevante quando se considera a conjuntura de escassez hídrica e de aumento do
consumo de energia elétrica, a qual tem levado ao acionamento das usinas termoelétricas a gás
natural ou carvão. A utilização de tais combustíveis fósseis ocasiona emissões de gases de efeito
estufa, como já antes mencionado.
2.3.3.Políticas e normas sobre mudanças de clima dos demais entes federativos
Alguns estados, como São Paulo, Goiás, Amazonas e Tocantins, e municípios editaram normas e
programas específicos antes da edição da Lei Federal 12.187/2009 ou da elaboração do
primeiro PNMC em 2008. Reconhecendo a importância do engajamento dos diversos setores da
sociedade, diretriz também positivada no art. 6º, alínea a, do inciso III, da UNFCCC, diversos entes
criaram fóruns, assemelhados ao Fórum Brasileiro de Mudanças de Clima (FBMC), para promover
o diálogo e a participação na formulação de programas e normas. O Acre conta com legislação que
contempla sistema de incentivos por serviços ambientais, sobretudo para a redução das emissões
por desmatamento e degradação florestal (REDD). Nesse tema, há quem defenda a possibilidade
jurídica da criação de sistemas subnacionais para REDD72, tendo em vista que o Governo Federal
possui estratégia que considera a linha de base para o país e não isoladamente por projeto ou por
unidade federativa.
Em nível subnacional, as ações climáticas têm sido bastante relevantes e sinérgicas no contexto
das escolhas de desenvolvimento local. Leis e programas estaduais e municipais podem, em tese,
ser até mais robustos e ambiciosos que iniciativas federais para mudanças de clima, mas deverão
ser considerados aspectos como o já comentado “vazamento”, ou seja, a fuga para territórios de
outros entes de atividades que não logrem cumprir adequadamente as normas estabelecidas.
Ainda, na esfera dos municípios e do Distrito Federal, oportunidades para inserção de medidas e
normas relativas à mitigação de causas de mudanças de clima deveriam ser exploradas nos planos
municipais de desenvolvimento urbano e de resíduos sólidos. Esses podem detalhar com maior
precisão metas e iniciativas que só serão mencionadas genericamente em planos de envergadura
nacional.
É razoável também pressupor que certas regras para a transição para uma sociedade de baixo
carbono poderão ser diferenciadas, com base no princípio da equidade, mas sem prejuízo aos
princípios da precaução e da prevenção. Essa diferenciação pode ser fruto das diferenças
regionais ou por outro critério, como a vulnerabilidade ambiental ou socioeconômica, ou ainda
por critério assentado na avaliação dos riscos perante os impactos previsíveis.
Na esfera federal, há espaços criados recentemente para lidar com aspectos diretamente
relacionados com a UNFCCC ou com a política e plano nacional, como também os colegiados e
órgãos setoriais cuja ação ou omissão pode ser relevante na consecução de programas e metas
nacionais em mitigação e adaptação às mudanças de clima. A Lei 12.187/2009, em seu art. 7º,
apresenta um rol exemplificativo de instrumentos institucionais para a governança da política
nacional, a saber: (i) o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima; (ii) a Comissão
Interministerial de Mudança Global do Clima; (iii) o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima; (iv) a
Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais – Rede Clima; e (v) a Comissão de
Coordenação das Atividades de Meteorologia, Climatologia e Hidrologia.
Entretanto, vale lembrar que outras instâncias de caráter deliberativo ou consultivo, tais como
Conselho Nacional do Meio Ambiente, Conselho Nacional de Política Energética e Conselho
Nacional de Cidades, têm papéis significativos para estimular, propor ou induzir práticas e
normas, nos seus campos de atribuições, para um país de baixo carbono. Analogamente, nas
esferas dos demais entes federativos, há instâncias com a função potencial, diria o dever, de
internalizar mudanças de clima nas suas áreas de atividades. Em geral, tais instituições lidam com
temas e desafios mais facilmente compreensíveis pela sociedade e gestores públicos locais, como
os ligados à mobilidade, ao planejamento e ocupação do território, à habitação. Por isso, não
devem ser menosprezadas as possibilidades desses órgãos não especializados em mudanças de
clima de contribuírem para a regulamentação de práticas e condutas que internalizam desafios de
mitigação e de adaptação.
Pelo Decreto, sem número, de 07.07.1999, o Governo Federal criou a CIMC – Comissão
Interministerial de Mudança Global do Clima, presidida pelo Ministério de Ciência e Tecnologia
(MCT), com o objetivo de articular as ações de governo voltadas à implementação no país das suas
obrigações junto à Convenção-Quadro de Mudanças de Clima. Essa comissão é integrada por
representantes de 11 ministérios, com atribuições de opinar sobre políticas setoriais e leis,
fornecer subsídios ao governo e sugerir critérios a serem adotados pelo Brasil para a mitigação e
para a adaptação às mudanças de clima, de acordo com as estratégias nacionais de
desenvolvimento sustentável e os compromissos da UNFCCC. No entanto, a atribuição que mais se
efetivou desta CIMGC foi a de regulamentar e operacionalizar os procedimentos nacionais do MDL
– Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, emitindo pareceres sobre projetos preparados segundo
as regras do regime multilateral e consoante o estabelecido pelo art. 12 do Protocolo de Quioto.
Para tanto, a CIMGC publicou em 2003 a Resolução 001, com diretrizes gerais do MDL para o Brasil.
O Decreto 3.515, de 20.06.2000, criou o FBMC – Fórum Brasileiro de Mudança de Clima, ligado à
Presidência da República, para servir de espaço de interlocução entre os vários setores da
sociedade e instituições governamentais nas várias esferas de governo nas questões de mudança
de clima no Brasil. O Fórum é formalmente presidido pelo Presidente da República e suas sessões
solenes contam com a participação de autoridades do Poder Legislativo e de governos estaduais e
municipais, e de representantes da sociedade civil. O secretário executivo desse Fórum é nomeado
pela Presidência da República. As atividades do FBMC têm proporcionado disseminação de
conhecimentos científicos, elaboração de subsídios para políticas nacionais e locais, além de
consultas com a sociedade nos processos de elaboração e revisão do Plano Nacional de Mudanças
do Clima.
O Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM), criado pelo Decreto 6.263, de 21
de novembro de 2007, é formado por 16 ministérios e pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos da
Presidência e é coordenado pela Casa Civil da Presidência da República. Tem a função de articular
e de supervisionar a elaboração e a implementação do Plano Nacional sobre Mudança do Clima
(PNMC), e promover sua disseminação e revisão periódica, para assim alinhar as diversas
iniciativas governamentais no tema. O FBMC é convidado a participar das reuniões do CIM,
conforme prevê o decreto. As atividades do CIM são operacionalizadas por um Grupo Executivo
(GEx), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente.
O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas é um organismo científico criado pelos Ministérios
da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI) e do Meio Ambiente (MMA), pela
Portaria Interministerial MCT-MMA 356, de 25 de setembro de 2009, com o “objetivo de reunir,
sintetizar e avaliar informações científicas sobre aspectos relevantes das mudanças de clima”73.
Inspirado no IPCC – o Painel Intergovernamental sobre Mudanças de Clima, criado pela
Organização Meteorológica Mundial (OMM), conduz suas análises por meio de uma força tarefa
sobre metodologia de inventários de gases de efeito estufa e três grupos de trabalho: 1 – base
científica das mudanças climáticas; 2 – impactos, vulnerabilidades e adaptação; e 3 – mitigação das
mudanças climáticas.
No campo da sociedade civil, é crescente o número de organizações que se voltam para tarefas
de incidência ou monitoramento do cumprimento de programas públicos em mudanças de clima.
Desde 1992, o Grupo de Trabalho sobre Mudanças de Clima (GT Clima) do FBOMS – Fórum
Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, criado em
1990, articula perspectivas sobre a sustentabilidade e os desafios climáticos, sobretudo para a
concretização de políticas e normas nacionais em mudanças de clima, com demandas nesse
sentido desde meados dos anos 1990. Em 2002 e 2007, esse GT Clima demandou do governo federal
a criação de políticas e programas para lidar com mudanças de clima.
3.Conclusão
Para concluir, destacamos que as mudanças climáticas ensejam ainda evolução no campo das
políticas estatais e das atividades corporativas e individuais e, em virtude da ocorrência de efeitos
cada vez mais perceptíveis e graves, as normas e os programas deverão ser objeto de atualização e
aprimoramento. Assim, aos formuladores e aplicadores de legislação, aos gestores públicos e aos
operadores do Direito caberá a tarefa de sua contínua atualização para que o Estado Democrático
de Direito e Sustentabilidade Socioambiental possa ser fortalecido.
Enfim, trata-se do imperativo de fazer avançar e assegurar o conjunto de direitos e normas que
permitam, com o auxílio de políticas públicas e condutas voluntárias, a construção de sociedades
sustentáveis, assentadas na integridade ambiental e na justiça.
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NOTAS DE RODAPÉ
1
Advogado (2013). Engenheiro civil (1977), com especialização em engenharia ambiental (1983). Mestre
(1992) em Saúde Pública e Ambiental, na área de conservação de recursos hídricos e saneamento. Doutor
(1998) em Regimes Multilaterais e Tratados em Desenvolvimento Sustentável. Pesquisador associado à
Fundação Grupo Esquel Brasil em políticas de meio ambiente, mudanás do clima e objetivos de
desenvolvimento sustentável. Coordenador interino da organização 350.org América Latina (setembro a
dezembro 2018). Foi coordenador do Vitae Civilis Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz
(1989-2009). Integrante da Rede Internacional de Ações Climáticas / Climate Action NGOs International
Network desde 1990. Membro (2011-2014) do Comitê Gestor do Fundo Nacional de Mudanças do Clima.
Membro do Fórum Brasileiro de Mudanças do Clima. Coordenador do Grupo de Trabalho de Mudanças de
Clima do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para Meio Ambiente e Desenvolvimento –
FBOMS. Coordenou a delegação do FBOMS nas conferências da ONU Rio-92, Joanesburgo-2002 e Rio+20.
Membro da Comissão Nacional para a Rio+20 e integrante da Comissão de Políticas de Desenvolvimento
Sustentável e Agenda 21 Brasileira. Atuou como assessor técnico-legislativo no processo da Assembleia
Nacional Constituinte, entre 1987 e 1988.
Este texto tem base em livro do seu autor, intitulado Mudanças climáticas: direitos, legislação e políticas
públicas. São Paulo: da Editora Livros da Eco, 2016. Atualizado com base no Decreto 9.578, de 22/11/2018.
NACHMANY, M.; FANKHAUSER, S.; TOWNSHEND, T., Collins; M. LANDESMAN, T.; MATTHEWS, A.; PAVESE,
C.; RIETIG, K.; SCHLEIFER, P.; SETZER, J. The GLOBE Climate Legislation Study: A Review of Climate Change
Legislation in 66 Countries, London, p. xi, 2014. Disponível em:
[www.globeinternational.org/studies/legislation/climate]. Acesso em: 01.03.2014.
O Princípio 10 declara que “a melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação,
no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso
adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive
informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade
de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a
participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso
efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere a compensação e reparação de
danos”.
BORN, Rubens Harry. Mudanças climáticas: direitos, legislação e políticas públicas. São Paulo: Editora
Livros da Eco, 2016.
6
Não há conceito consensual sobre a expressão justiça climática, a qual tem sido utilizada por distintos
grupos e movimentos da sociedade para ressaltar, sobretudo, como as causas e as consequências das
mudanças de clima estão associadas aos déficits de justiça e ao bem-estar social.
FBMC – Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Curso de capacitação em mudança climática. Módulo 1 –
A ciência da mudança do clima. Rio de Janeiro, 2010. p. 23.
MEIRA FILHO, Luiz Gylvan. As várias histórias da responsabilidade histórica . 25/11/2015 Disponível em:
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13
14
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15
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AZEVEDO, Tasso. Um olhar sobre as emissões brasileiras de Gases de Efeito Estufa (1990-2011). Disponível:
[http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/blog-do-clima/2013/09/06/um-olhar-sobre-as-emissoes-
brasileiras-de-gases-de-efeito-estufa-1990-2011/]. Acesso em: 06.09.2013.
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IPCC, 2018. Global Warming of 1.5 °C: an IPCC special report on the impacts of global warming of 1.5 °C
above pre-industrial levels and related global greenhouse gas emission pathways, in the context of
strengthening the global response to the threat of climate change, sustainable development, and efforts to
eradicate poverty. Disponível em: [www.ipcc.ch/report/sr15/]. Acesso em: 14.10.2018.
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NACHMANY, M.; FANKHAUSER, S.; TOWNSHEND, T.; COLLINS, M.; LANDESMAN, T.; MATTHEWS, A.;
PAVESE, C.; RIETIG, K.; SCHLEIFER, P.; SETZER, J. The GLOBE Climate Legislation Study: A Review of Climate
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United Nations. UNFCCC. Report of the Conference of the Parties on its Seventh Session, held at Marrakesh
from 29 October to 10 November 2001. Addendum, Part two: Action taken by the Conference of the Parties.
FCCC/CP/2001/13/Add.1. Disponível em: http://unfccc.int/resource/docs/cop7/13a01.pdf]. Acesso em:
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BORN, Rubens Harry. O princípio da proibição de retrocesso ambiental. Aspectos doutrinários e limite ao
legislador. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) – Faculdade Anhanguera, Taboão
da Serra, 2013.
33
Uma formulação, entre várias, entende um regime internacional como o conjunto de objetivos, princípios,
regras, processos decisórios e instâncias operativas que buscam articular ações e políticas dos diversos
atores em torno de um problema ou desafio para obter resultados que beneficiem todas as partes
envolvidas (BORN, 1998).
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Artigo 2 da UNFCCC
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Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (de 1987, ajustado e emendado
em 1990), instrumento complementar à Convenção de Viena sobre a Proteção da Camada de Ozônio
(1985).
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Pelo art. 1 da UNFCCC, sumidouro significa qualquer processo, atividade ou mecanismo que remova um
gás de efeito estufa, um aerossol ou um precursor de um gás de efeito estufa da atmosfera. Reservatório
significa um componente, ou componentes, do sistema climático no qual fica armazenado um gás de efeito
estufa ou um precursor de um gás de efeito estufa. Outros termos técnicos foram conceituados
juridicamente no art. 1 da UNFCCC e no art. 2º da Lei 12.187/09.
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Conforme o Decreto 2.652, de 1º de julho de 1998, que promulgou a Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima, esta passou a vigorar para o Brasil em 29 de maio de 1994, considerando que o
governo brasileiro depositou o instrumento de ratificação da Convenção-Quadro das Nações Unidas, em
28 de fevereiro de 1994, em função de ter sido aprovada pelo Decreto Legislativo 1, de 3 de fevereiro de
1994.
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Art. 6 da UNFCCC.
41
Art. 12 da Lei 12.187/09, Decreto 9.578/18 e os planos nacional e setoriais sobre mudança do clima.
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UNFCCC. Decision 1/CP.13. In: UNFCCC. Report of the Conference of the Parties on its thirteenth session,
held in Bali from 3 to 15 December 2007 Addendum Part Two: Action taken by the Conference of the
Parties at its thirteenth session. FCCC/CP/2007/6/Add.1*. Disponível em:
[http://unfccc.int/resource/docs/2007/cop13/eng/06a01.pdf].
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Art. 12 do KP.
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Art. 9 do KP.
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Parágrafos 16 e 17, Rascunho de Decisão _/CP.21 aprovado na CoP-21, versão sem número, bem como
Artigo 20 do Acordo de Paris. FCCC/CP/2015/L.9/Rev.1. Disponível em:
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FBOMS. GT Clima. Mudanças climáticas e o Brasil. Contribuições e diretrizes para incorporar questões de
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