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De Olho na História
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e
escritor.
John Dewey e a Escola Ativa
Pelo surgimento de uma Nova Escola
“A criança de três anos que descobre o que se pode fazer
com blocos, ou a de seis anos que percebe o que
acontece quando põe cinco cêntimos e mais cinco
cêntimos juntos, é verdadeiramente um descobridor,
mesmo que toda a gente no mundo já o saiba. Ocorre um
genuíno incremento da experiência; não é apenas mais
um item mecanicamente acrescentado, mas um
enriquecimento com uma nova qualidade. O charme que a
espontaneidade de crianças jovens nutrem por
observadores simpáticos é devido à compreensão desta
originalidade intelectual. A alegria que as próprias
crianças sentem com as suas próprias experiências é a
alegria da construção intelectual da criatividade, se me é
permitido usar esta palavra, sem ser mal entendido”.
(Democracia e Educação)
John Dewey é, certamente, um dos mais influentes pensadores na área da educação contemporânea.
Esse destacado filósofo, psicólogo e pedagogo, nascido nos Estados Unidos, posicionouse a favor do
conceito de Escola Ativa, na qual o aluno tinha que ter iniciativa, originalidade e agir de forma
cooperativa.
Dewey acreditava que escolas que atuavam dentro de uma linha de obediência e submissão não eram
efetivas quanto ao processo de ensinoaprendizagem. Seus trabalhos alinhavamse com o pensamento
liberal norteamericano e influenciaram vários países, inclusive o movimento da Escola Nova no Brasil.
Entre seus conceitos destacamse idéias como a defesa da escola pública, a legitimidade do poder
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político e a necessidade de autogoverno dos estudantes.
Nascido em 20 de outubro de 1859 em Burlington, no estado de Vermont. Era filho de Lucina Stermesia
Rich e de Archibald Sprague Dewey. Estudou na Universidade de Vermont e em sua formação sofreu
forte influência da teoria da evolução. A partir da idéia de seleção natural Dewey passou a perceber a
importância da interação entre os homens e o meioambiente no que tange a questões de psicologia e
epistemologia (Teoria do Conhecimento).
Apesar de ter estudado durante um longo período as influências filosóficas do realismo escocês
durante a sua formação universitária, Dewey procurava referências mais amplas. Depois de se formar
em 1879, Dewey lecionou por dois anos em escolas de ensino médio (High schools no sistema norte
americano), período durante o qual consolidou a idéia de que deveria trabalhar com filosofia.
Entre as principais obras de Dewey estão “Democracia e Educação”, “Escola e Sociedade”
e “Experiência e Educação”, infelizmente não disponíveis em língua portuguesa.
Confirmando esse seu interesse, Dewey enviou um ensaio filosófico para W.T. Harris, que era editor do
Journal of Speculative Philosophy, além de ser um dos mais conhecidos estudiosos dos trabalhos de
Hegel. A aceitação de seu trabalho pelo renomado especialista motivou Dewey a aprofundar seus
estudos e o levou a matricularse na Universidade John Hopkins.
A estadia na John Hopkins fez com que Dewey tivesse contato com duas importantes referências para
seu futuro profissional. A partir das explicações, aulas e aprofundamentos com o professor G. Stanley
Hall, proeminente psicólogo experimental norteamericano, Dewey percebeu a importância da aplicação
da metodologia científica nos estudos em Ciências Humanas.
O contato com o professor George Sylvester Morris, por outro lado, colocou Dewey em sintonia com as
obras do hegelianismo e, especificamente, com o modelo orgânico de natureza concebido pelo
idealismo alemão. Ao criar pontos de convergência entre essas duas teorias e linhas de pensamento,
Dewey estabeleceu idéias gerais que embasaram parte de seus pensamentos e produções
acadêmicas.
Ao obter a sua titulação de doutor no ano de 1884, Dewey aceitou convite para dar aulas na
Universidade de Michigan, onde ficou por dez anos. Nesse período acabou produzindo suas primeiras
obras: Psychology (1887) e Novos ensaios de Leibniz acerca da compreensão humana (1888).
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Fernando Azevedo e Anísio Teixeira, educadores brasileiros que se mobilizaram em
favor da Escola Nova foram influenciados em sua produção pela obra de John Dewey.
Os dois trabalhos demonstravam o alinhamento de Dewey com o idealismo hegeliano. Em Psychology,
Dewey procurava criar vínculos maiores entre o idealismo e a ciência experimental. A Universidade de
Michigan também foi importante para o filósofo e educador por ele ter ali conhecido um de seus mais
destacados colaboradores, James Hayden Tufts, com quem veio a publicar sua obra “Ethics” (1908).
No ano de 1894, Tufts e Dewey foram para a recéminaugurada Universidade de Chicago. Essa
experiência foi fundamental para as obras do educador, pois permitiram que ele superasse seu
pensamento idealista e adotasse uma linha mais prática e empírica baseada na Teoria do
Conhecimento que estava de acordo com a Escola Americana do Pensamento, de bases pragmáticas.
A mudança ocorrida em seus estudos e conclusões levou Dewey a publicar uma série de ensaios que
tinham o título coletivo “O pensamento e seus temas”. Esses trabalhos foram publicados por Dewey
juntamente com outros professores da Universidade de Chicago numa obra conhecida como “Estudos
em Teoria Lógica” (1903).
Outra experiência definidora de rumos para a obra de Dewey foi a fundação e direção de uma escola
laboratório em Chicago onde teve a oportunidade de aplicar novas idéias e métodos pedagógicos.
Desse seu trabalho surgiu a sua primeira obra dedicada especificamente a educação, “A Escola e a
Sociedade” (1889).
Problemas com a administração dessa escola em Chicago acabaram levando Dewey a mudar de ares
em 1904 quando ele, já respaldado por sua reputação como autor, professor e filósofo, mudouse para
a Universidade Columbia, em Nova Iorque.
“Em escolas equipadas com laboratórios, lojas e jardins, que livremente
introduzem dramatizações, jogos e desporto, existem oportunidades para
reproduzir situações da vida, e para adquirir e aplicar informação e idéias
num progressivo impulso de experiências continuadas. As idéias não são segregadas,
não formam ilhas isoladas. Animam e enriquecem o decurso normal da vida. Informação é
vitalizada pela sua função; pelo lugar que ocupa na linha de ação”. (Democracia e Educação)
A chegada a Columbia deulhe novos subsídios, pois se encontrava em uma instituição mais
tradicional, que já havia abrigado alguns dos maiores pensadores norteamericanos. Era um período
propício a entrar em contato com pensadores e filósofos representativos de outras linhas de
pensamento.
Dessa época surgiram vários artigos sobre a teoria do conhecimento e a metafísica, dentre os quais
muitos foram selecionados e publicados em dois livros: “A influência de Darwin na filosofia e outros
ensaios sobre o pensamento contemporâneo” (1910) e “Ensaios em lógica experimental” (1916).
A produção na área da educação foi reforçada em seu período de trabalho na Universidade de
Columbia com o surgimento de duas obras de grande importância: “Como nós pensamos” (1910), em
que aplicava a Teoria do Conhecimento a Educação; e “Democracia e Educação” (1916), sua maior
contribuição à pedagogia.
Além de teorizar em educação, filosofia e psicologia, Dewey também era conhecido publicamente por
posicionarse como analista de temas contemporâneos. Contribuía com revistas populares como The
New Republic e Nation e tomava partido em causas com as quais se identificava, como foram os casos
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da luta pelo voto feminino ou seus esforços em favor da criação de sindicatos para professores.
Seus principais trabalhos a partir dos anos 1920 surgiram de palestras proferidas em eventos
acadêmicos e populares nos quais participava como convidado. Entre esses trabalhos incluemse
“Reconstrução e Filosofia” (1920), “Natureza Humana e Conduta” (1922), “Experiência e Natureza”
(1925), “Em busca de Certezas” (1929).
Os anos 1930 marcam a aposentadoria de Dewey das atividades educacionais. Entretanto, o educador
continuou ativo publicamente com destacadas participações em eventos de repercussão internacional
(como em seus posicionamentos favoráveis ao colega filósofo Bertrand Russell, ameaçado de perder
sua cadeira como professor no College de Nova Iorque por setores conservadores) ou ainda através da
publicação de novos artigos e livros.
Antes de seu falecimento em 1952, aos noventa e dois anos, Dewey ainda teve algumas outras obras
publicadas como “Arte como experiência” (1934), “Liberdade e Cultura” (1939), “Teoria da Validação”
(1939), entre outras.
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