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Daí em diante seu mal passa a ser social e todas as suas bondades anteriormente
afirmadas, não passaram de um grande “esquema” para ocultar a verdadeira opressão
de Jó contra o seu próximo, com a acusação de que ele havia sido um “explorador da
miséria alheia”. Isso acontece no coração dos amigos, quando sua vergonha de
derrota pelo amigo-acusado é flagrante até no âmbito das eleições que eles, os
amigos-ofensores, haviam feito, escolhendo, inclusive, o “campo de batalhas” e as
“armas de combate”. Jó os havia enfrentado em seu próprio território e os havia
vencido. Mas, a admissão da derrota, em geral, só acontece quando não há mais
recurso a se recorrer. Daí, agora, a “campanha” ser para o destituir até mesmo da
dignidade de sua própria história (versos de 6 a 13).
309
Elifaz diz que Jó lucrara, oportunistamente, com a fraqueza e a miséria dos
oprimidos.
310
Sua falta de solidariedade para com o próximo tinha sido perversa.
311
A prosperidade de Jó era fruto do conluio dele com os poderosos.
312
Seu coração havia sido indiferente até mesmo a viúvas e a orfãos.
313
Então, irremediavelmente, Elifaz volta à Teologia Moral de Causa e Efeito, e
diz: “Tu estás assim em razão do mal que tu fizeste ao próximo”.
314
Os amigos de Jó só olhavam para Deus “fora”, nos céus. Deus é percebido
“fora” apenas por meio das coisas criadas (Rm 1:16-18). Mas, só é encontrado como
Deus, “dentro”, nos infinitos ambientes do coração (Is 66:1-2).
315
Aqui ele deixa claro que sua visão de Deus se baseava na percepção do
universo de leis fixas. Ora, era a tentativa deles de transportarem os princípios da
causalidade do universo físico para o mundo dos humanos, o que gerara neles a
Teologia Moral de Causa e Efeito.
Queres seguir a rota antiga, que os homens iníquos pisaram?
Estes foram arrebatados antes do tempo; o seu fundamento, uma
torrente o arrasta.
Diziam a Deus: Retira-te de nós. E: que pode fazer-nos o Todo-
Poderoso? Contudo, ele enchera de bens as suas casas. Longe de
mim o conselho dos perversos! 316
Os justos o vêem e se alegram, e o inocente escarnece deles,
dizendo: Na verdade, os nossos adversários foram destruídos, e o
fogo consumiu o resto deles. 317 Reconcilia-te, pois, com ele e tem
paz, e assim te sobrevirá o bem.318 Aceita, peço-te, a instrução que
profere e põe as suas palavras no teu coração. Se te converteres
ao Todo-Poderoso, serás restabelecido; se afastares a injustiça da
tua tenda e deitares ao pó o teu ouro e o ouro de Ofir entre pedras
dos ribeiros, então, o Todo-Poderoso será o teu ouro e a tua prata
escolhida. 319
316
Dos versos 8 ao 18, como não poderia deixar de ser, o tema social-moralista
desemboca na “teologia moral”. Assim, outra vez, Deus é chamado à cena como
Aquele que se vingava de Jó.
317
Aqui, Elifaz diz que todo escárnio e zombaria, além das vergonhas públicas
que Jó experimentava, eram mais que celebráveis. Afinal, “justiça havia sido feita na
Terra”. Esta era a opinião deles! (Pv 24: 15-18)
318
É aqui, neste ponto, que um homem que tenha o nível de consciência de Deus
que Jó possuia pára todos os seus esforços para, honestamente, continuar a conversa;
isso acontece quando, após um “sermãozinho-pobremente-moralista'”, alguém, então,
convida o desesperado a se “reconcliar com Deus”, para que sua sorte lhe seja
“restaurada”. Para Jó, o curvar-se ante aquela estupidez era como aceitar ser
espiritualmente o “asno” que eles haviam, antes, dito que ele era. O problema é que
quando você conhece a Deus de um certo nível para cima, caso os amigos não sejam
filhos da Graça, por mais que você tente, sua alma não consegue não se sentir
estuprada ante qualquer tentativa de ceder a tais agressões espirituais.
319
Dos versos 22 a 25, o simplismo da admoestação, que pressuponha a
necessidade da “conversão” de Jó, ainda conclui com mais uma “aberração”: Jó ainda
não havia sido despojado de tudo.
Deleitar-te-ás, pois, no Todo-Poderoso e levantarás o rosto
para Deus. Orarás a ele, e ele te ouvirá; e pagarás os teus votos.
Se projetas alguma coisa, ela te sairá bem, e a luz brilhará em
teus caminhos. Se estes descem, então, dirás: Para cima! E Deus
salvará o humilde e livrará até ao que não é inocente; sim, será
libertado, graças à pureza de tuas mãos.320
Então respondeu Jó:
Ainda hoje a minha queixa é de um revoltado, apesar de a
minha mão reprimir o meu gemido.321
Ah! Se eu soubesse onde o poderia achar! Então, me chegaria
ao seu tribunal. Exporia ante ele a minha causa, encheria a
minha boca de argumentos. Saberia as palavras que ele me
respondesse e entenderia o que me dissesse. Acaso, segundo a
grandeza de seu poder, contenderia comigo? Não; antes, me
atenderia. 322 Ali, o homem reto pleitearia com ele, e eu me livraria
para sempre do meu juiz.
Eis que, se me adianto, ali não está; se torno para trás, não o
percebo. Se opera à esquerda, não vejo; esconde-se à direita, e
não o diviso.
Ainda havia “mais ouro” para entregar, a fim de assim demonstrar para Deus que Ele
era o seu único tesouro na Terra. Assim, além das contradições da história em si –
afinal, antes, eles já haviam dito que se Jó aceitasse aquele “arrependimento”, então,
o seu ouro voltaria para a sua tenda - , eles voltam ao tema de troca, que, em si
mesmo, já anula a Graça e afirma a Teologia Moral de Causa e Efeito.
320
Dos versos 25 a 30. Elifaz faz um apelo desastroso: convida Jó ao
arrependimento e conclui no verso trinta com o Teologia Moral, quando diz que se Jó
se convertesse a Deus, “até aquele que não era ioncente...seria libertado, graças à
pureza das mãos” de Jó! Pode haver teologia mais distante da Graça do que essa?
321
Jó diz: “Minha alma continua revoltada, mas ainda tento reprimir o meu
gemido diante de vocês”.
322
Dos versos 1 ao 5, Jó afirma que ele sofre apenas por causa da
indisponibilidade de Deus até aquele momento. Mas sabe que no dia em que Deus
falasse ele, Jó, “entenderia”. Em outras palavras: no dia em que ele se revelar, nós
nos abraçaremos.
Mas ele sabe o meu caminho; se ele me provasse, sairia em como
o ouro. Os meus pés seguiram as suas pisadas; guardarei o seu
caminho e não me desviei dele. Do mandamento de seus lábios
nunca me apartei, escondi no meu íntimo as palavras da sua
boca. Mas, se ele resolveu alguma coisa, quem o pode dissuadir?
O que ele deseja, isso fará. 323
Pois ele cumprirá o que está ordenado a meu respeito e muitas
coisas como estas ainda tem consigo. 324 Por isso, me perturbo
perante ele; e, quando o considero, temo-o.
Deus é quem me fez desmaiar o coração, e o Todo-Poderoso,
quem me perturbou, porque não estou desfalecido por causa das
trevas, nem porque a escuridão cobre o meu rosto. 325 Por que o
Todo-Poderoso não designa tempos de julgamento? E por que os
que o conheceram não vêem tais dias?
Há os que removem os limites, roubam os rebanhos e os
apascentam. Levam do orfão o jumento, da víuva, tomam-lhe o
boi. Desviam do caminho os necessitados, e os pobres da terra
todos têm de esconder-se. Como asnos monteses no deserto, saem
este para o seu mister, à procura de presa no campo aberto, como
pão para eles e seus filhos. No campo segam o pasto do perverso
e lhe rabiscam a vinha. Passam a noite nus por falta de roupa e
não têm cobertas contra o frio.
323
Dos versos 7 ao 13 nega o princípio da causalidade moral. Ele diz que se esses
princípios fossem verdadeiros e universais em sua aplicabilidade absoluta, de acordo
com a teologia de seus amigos, então, quem estaria bem era ele e não eles. Todavia,
ele sabe que Deus decidiu alguma coisa sobre ele, e dessa decisão inescrutável, quem
o poderia livrar a não ser o prórpio Deus?
324
Ele sabe, todavia, que a história de Deus com ele e a dele com Deus ainda está
longe de ter terminado na Terra.
325
Aqui ele conclui dizendo que o seu temor vinha da Indisponibilidade de Deus,
pois, as trevas e a escuridade, essas até o ajudavam; afinal, cobriam a sua vergonha e
o seu rosto.
Pelas chuvas das montanhas são molhados e, não tendo refúgio,
abraçam-se com as rochas.
Orfãozinhos são arrancados ao peito, e dos pobres se toma
penhor; de modo que estes andam nus, sem roupa, e, famintos,
arrastam os molhos. Entre os muros desses perversos espremem o
azeite, pisam-lhe o lagar; contudo, padecem sede.
Desde as cidades gemem os homens, e a alma dos feridos
clama; e, contudo, Deus não tem isso por anormal. 326 Os
perversos são inimigos da luz, não conhecem os seus caminhos,
nem permanecem nas suas veredas. De madrugada se levanta o
homicida, mata ao pobre e ao necessitado e de noite se torna
ladrão. Aguardam o crepúsculo os olhos do adúltero; este diz
consigo: Ninguém me reconhecerá; e cobre o rosto. Nas trevas
minam as casas; de dia se conservam encerrados; nada querem
com a luz. Pois, a manhã para todos eles é como sombra de
morte; mas os terrores da noite lhes são familiares.
Vós dizeis: Os perversos são levados rapidamente na superfície
das águas; maldita é a porção dos tais na terra; já não andam
pelo caminho das vinhas. A secura e o calor desfazem as águas
da neve; assim faz a sepultura aos que pecaram. A mão se
esquecerá deles, os vermes os comerão gostosamente; nunca mais
haverá lembrança deles; como árvore será quebrado o injusto,
aquele que devora a estéril que não tem filhos e não faz o bem à
viúva.
326
Dos versos 1 ao 12, Jó descreve o cenário da verdadeira opressão e da
exploração do fraco pelos poderosos e conclui: Deus não marcou um dia conosco
para fazer esse juízo visto. O perverso – amparado pelo pragmatismo animal da “lei
da sobrevivência dos mais fortes” -, é aquele que regularmente, de modo natural, até
mesmo porque sabe as composições de poder existentes na sociedade humana, “se dá
bem”. Mas, parece que seus amigos não conseguem admitir que este é, realmente, um
mundo caído e que jaz no maligno.
Não! Pelo contrário, Deus por sua força prolonga os dias dos
valentes; vêem-se eles de pé quando deseperavam da vida. 327 Ele
lhes dá descanso, e nisso se estribam; os olhos de Deus estão nos
caminhos deles. São exaltados por breve tempo, depois, passam,
colhidos como todos os mais; são cortados como as pontas das
espigas. Se não é assim, quem me desmentirá e anulará as minhas
razões?328
nunca estivera tão próximo ao pecado do que quando pensou se porventura seus
amigos não estariam certos e ele errado. Mas, exorciza esse pensamento com um
“longe de mim tal coisa”.
332
Dos versos 6 ao 10, ele diz que sabe que a devoção a Deus não vem da
supremacia dos perversos, mas de corações que não negam suas consciências diante
de Deus.
333
Em outras palavras, Jó lhes diz: “Nós não estamos diante da teologia; meus
argumentos não são filosofias; eu os firmo na história, na sociologia, na psicologia e,
sobretudo e acima de tudo, no realismo da Sabedoria de Deus. Portanto, parem de
abstrações e me digam se a vida, na Terra, não é assim como eu digo que é!”
Deus lança isto sobre ele e não o poupa, a ele que procura
fugir precipitadamente da sua mão; à sua queda lhe batem
palmas, à saida o apupam com assobios.334
334
Dos versos 13 a 23, Jó diz que sabe que haverá um acerto de contas de Deus
com a perversidade humana e que esse dia vem de modos distintos e pode ser na
história ou no além; mas, o fato é que este é um “chão sagrado”, e que o sábio, ao
invés de interpretar todas as calamidades como castigos, deveria, ele sim, “guardar o
seu coração no temor de Deus”, havendo ou não consequencias na Terra. Assim, mais
que ninguém, ele diz que o temor de Deus não é medo de Deus; é, antes, uma entrega
seduzida e abandonada ante o mistério de Deus e uma disposição de ser Dele, mesmo
no dia em que Ele não nos parece disponível a nós!
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