Eternamente
Céu
Mágoa em pedra
1
Nem verbo, nem verso, nem ruído
narram minha mágoa;
e arco-íris fátuo
céu e terra
o arco ata e ata
2
Parto e fortuna
fundo me arraiga.
E grito
e no peito feito faca
um grito se finca.
3
Aqui com sangue aqui
Com a mãe em volta.
Desperto auroras,
e no triste entardecer
sumo além-serras.
4
Da matéria mudo
triste amigo emerge.
5
E machado irado
carvalho corta;
6
Liberdade ao escravo — fujo longe
e mais fundo aqui.
E benção ao túmulo
ao berço e maldição —
dívida prorrogada.
7
Tudo chama —
e fico.
Raiz na pedra
tranco o arco da mágoa.
8
Ao sofredor de coração manso
o estrondo da aurora soa estranho.
E estranho,
no próprio ombro,
seu vulto luzidio fixa.
9
Nem verbo, nem verso, nem ruído
narram minha mágoa;
e arco-íris fátuo
céu e terra
o arco ata e ata
Karel Toman (1877-1946)
Sonho setentrional