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2.2.

2 Jornalismo cívico, cidadão e comunitário

Na contemporaneidade o jornalismo está em um gradativo processo de


ressignificação, isso devido ao surgimento de uma infinidade de conceitos teóricos
para designar um ou outro formato das mais variadas produções jornalísticas. Para
tanto, dentro dessa ambientação comunicativa, o jornalismo adquires diferentes
características e também diversificadas ou abordagens. (TEIXEIRA, 2012)
Em revisão aos modelos de jornalismo, cumpre destacar os modelos de
jornalismos cívico, cidadão e comunitário, que muito embora, apresentam certa
semelhança não possuem idêntica concepção.
O modelo de jornalismo cívico, também chamado de jornalismo público, surge
em meados da década de 1980, nos Estados Unidos, como uma tentativa de
recuperar a credibilidade dos jornais perante os cidadãos, promovendo a maior
participação destes na vida pública, facilitando a maior interação dos cidadãos para a
solução dos problemas comunitários locais. (SCORTEGAGNA, 2013)
Segundo Kperogi (2011, tradução nossa), o jornalismo cívico já aproxima mais
o produtor de notícias do cidadão, de modo que, o jornalista passa a se preocupar
com a participação da comunidade no que se constitui como notícia e na forma com
que elas serão apresentadas.
Deste modo, infere-se que neste modelo de jornalismo os leitores deixam de
ser meros espectadores, e passam, através da interação entre o jornalista e a sua
audiência, a interagir nos processos políticos, sociais e econômicos, contribuindo para
o fortalecimento do cidadão perante a construção da democracia.
Por outro lado, o modelo de jornalismo cidadão, também conhecido como
jornalismo colaborativo ou democrático, intensifica-se a participação do cidadão, pois,
neste modelo tem-se uma participação direta do cidadão, que se tornam produtores
de conteúdos que, não necessariamente, estão vinculados aos meios de comunicação
tradicionais. (KPEROGI, 2011, tradução nossa)
No tocante ao modelo de jornalismo cidadão ou participativo, Bowman e Willis
(2003) ressaltam a participação ativa do cidadão como um ato democrático no
processo de coleta, análise e distribuição de notícias e informações, com efeito,
fornecendo, informação independente, confiável, abrangente e relevante.
Por fim, o modelo de jornalismo comunitário, a figura do produtor de notícias
também é o cidadão. (KPEROGI, 2011, tradução nossa)
Sobre o jornalismo comunitário, Pena (2005) assinala que:

O jornalismo comunitário atende às demandas da cidadania e serve como


instrumento de mobilização social. [...] Outra característica importante é o
completo afastamento do ranço etnocêntrico. O jornalista de um veículo
comunitário deve enxergar com os olhos da comunidade. Mesmo que já
pertença a ela, deve fazer um esforço no sentido de verificar uma real
apropriação dos processos de mediação pelo grupo. (PENA, 2005, p. 185-
187).

Segundo Paiva (2006), o jornalismo comunitário insere-se numa perspectiva


cotidiana, coletiva e regionalizada, uma verdadeira reinterpretação da mídia atual,
revisando as posturas até então adotadas pelos meios de comunicação, com vistas
para a construção de um jornalismo pragmático e menos dogmático.
Ademais, tem-se que o traço mais marcante deste tipo de jornalismo:

[...] é a sua estreita conexão com a realidade e interesses da coletividade


específica, perdendo completamente campo à mera espetacularização da
informação. Se um acontecimento possui interesse direto para uma
coletividade, torna-se fato jornalístico e, para tanto, recebe o tratamento que
o caracterizará definitivamente como assunto pertinente e parte da agenda
temática da coletividade, portanto, pauta do jornal impresso. Caso contrário,
reúne-se ao caos dos fatos e notícias característicos do informativo on-line.
(PAIVA, 2006, p. 69)

Deste modo, infere-se que o jornalismo comunitário é uma alternativa a mídia


tradicional, já que produz um olhar crítico sobre os fatos que ocorrem dentro de uma
comunidade, em uma microescala. Neste modelo, tem-se uma atividade de
comunicação originada, administrada e dirigida à comunidade.
Feita essas considerações, note-se a diferença peculiar entre o jornalismo
cívico e cidadão, produzido essencialmente por cidadãos não-jornalistas, pessoas
comuns de qualquer formação educacional ou profissional, exercendo um jornalismo
amador, distante da regulamentação pública. Difere-se, ainda do jornalismo
comunitário, exercido em uma microescala, com linguagem mais coloquial,
administrado e dirigido à uma comunidade. (DORNELLES; BIZ, 2006)
Em que pese a proposta dos modelos de jornalismos cívico, cidadão e
comunitário, o desenho dessas propostas e formatos de cobertura jornalísticas estão
longes do atual enfoque dos grandes editoriais internacionais ou mesmo nacionais.
Entretanto, não quer dizer que essa perspectiva venha se amoldando aos novos
formatos de comunicação jornalística.
Com efeito, é evidente as características comuns ao jornalismo cívico, cidadão
e comunitário, no entanto, mesmo com as variações de termos, ambos não se
esgotam em seus temos, mas de fato representam modelos jornalísticos
diferenciados, em que a participação do cidadão é um dos propósitos para sua
concretização. (SCORTEGAGNA, 2013)
Em análise aos modelos de jornalismos cívico, cidadão e comunitário, infere-
se ainda, que ambos são imprescindíveis para a atualidade e a busca de perspectivas
particulares para cada público e a necessária revisão abrangente das posturas até
então adotadas na disseminação ou democratização da informação.
Dentre esses modelos, merece destaque o jornalismo comunitário, um
instrumento de mobilização social, o qual busca, além de democratizar a informação
e ser uma alternativa a mídia tradicional, instrumentalizar o seu público, erigindo o
cidadão como protagonista, considerando a sua participação ativa de forma mais
ampla do que os outros modelos de jornalismo, reforçando a sua cidadania,
produzindo um reconhecimento de identidade entre os indivíduos de uma
comunidade.

REFERÊNCIAS

BOWMAN, S., WILLIS, C. We Media: how audiences are shaping the future of news
and information. The Media Center, American Press Institute. 2003. Disponível em:
<http://www.hypergene.net/wemedia/weblog.php>. Acesso em: 15 mai. 2018.
(Tradução nossa).

DORNELLES, Beatriz Corrêa Pires; BIZ, Osvaldo. Jornalismo Solidário. 1ª ed. Porto
Alegre: Editora Evangraf, 2006, 124p.

KPEROGI, Farroq. Cooperation with the Corporation? CNN and the hegemonic
cooptation of citizen journalism through iReport.com. Article. New Media e Socity, v.
13, n. 2, p. 314-329, 2011. Disponível em:
<http://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/1461444810373530>. Acesso em: 15
jun. 2018. (Tradução nossa).

PAIVA, Raquel. Jornalismo comunitário: uma reinterpretação da mídia (pela


construção de um jornalismo pragmático e não dogmático). Narrativas midiáticas.
Revista FAMECOS, Porto Alegre, nº 30, agosto 2006, p. 62-70. Disponível em: <
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/3376>.
Acesso em: 10 mai. 2018.

PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005.


SCORTEGAGNA, Laís Cerutti. Jornalismo cívico: a arte de fazer a democracia
funcionar. Monografia. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
PUCRS. Porto Alegre. 2013, 86p. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/graduacao/article/download/18298/
11702>. Acesso em: 10 mai. 2018.

TEIXEIRA, Thays Helena Silva. Comunicação comunitária e jornalismo cidadão:


diferenças teóricas e a apropriação mercadológica. Revista de Estudos e
Comunicação, Curitiba, v. 13, n. 30, p. 79-88, jan/abr. 2012. Disponível em:
<http://www2.pucpr.br/reol/index.php/comunicacao?dd99=pdf&dd1=7240>. Acesso
em: 10 mai. 2018.

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