Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
ABSTRACT
Goats and sheared sheep have demonstrated a good level of adaptation to the caatinga ecosystem. While
sheep are voluminous selectors, goats are classified as intermediate selectors exhibiting a high degree of
alimentary flexibility, varying their habits of diet selection with the time of year, as well as with the quality
and availability of forage. Nevertheless, the caatinga alone is insufficient to meet the energy and protein
requirements of both of these species in pasture, especially during the dry season. Studies done in semi-
arid Northeastern Brazil appear to indicate that, in ecological sites with forager potential, manipulation of
woody vegetation can result in substancial increases in the production of ofrage and, consequently, in
animal production. The choice of a pasturage management method, besides considering answers preciously
obtained in the caatinga must also take into consideration degradation of the caatinga, followed by combined
pasturage alternating sheep and goats, probably constitutes the best option for improvement and management
of pasturage in extensive areas of Northeastern interior. Supplementary feeding can be done by adopting
forage conservation techniques produced at the ranch itself, as well as by using protein banks. Due to the
119
development of fruit industry in the region, byproducts residual of the agro-industry may constitute excellent
sources of low-cost, high-quality supplemental feed for the animals.
KEY WORDS : Goat, sheep, nutrition
120
são difíceis de serem adaptadas para os animais de lactação, as fêmeas necessitam dobrar o seu
pequeno porte aclimatados em regiões tropicais. Em consumo de proteína e energia. Se a fêmea está
adição, diferenças em padrões de estresse devido amamentando gêmeos, necessitará de uma
à temperatura e a outros fatores ambientais, também quantidade ainda maior de proteína e energia em
contribuem para a baixa precisão na aplicação de sua dieta diária, para suportar a produção
dados de países de clima temperado em animais de adicional de leite.
regiões tropicais, especialmente em condições de 6. O valor nutritivo da forragem
pastejo. Apesar desses problemas, muitos técnicos consumida em pastejo varia ao longo dos
e produtores usam as informações das tabelas do diferentes períodos do ano. Em geral, o consumo
NRC (1985ab) e de outras publicações como base varia em proporção inversa à digestibilidade da
para a suplementação alimentar. Quando este critério forragem (Fig. 1). Para balancear o consumo
é adotado, devem ser ressaltados os seguintes com os requerimentos, o suplemento deve ser
aspectos (HANLEY, 1982; HOFFMAN, 1988; ajustado para cada situação. Em geral, energia é
LEITE & MESQUITA 1988; JOHNSON & mais limitada que proteína durante a estação
OLIVEIRA, 1990): chuvosa e no início da estação seca, quando uma
1. Raças ou espécies de peso corporal boa quantia de restolho está disponível. Com o
mais baixo na idade adulta têm requerimentos avanço da estação seca, o teor de proteína nas
relativos de energia mais elevados para forragens é tão limitado quanto o de energia .
manutenção, por unidade de peso vivo ou por Nas regiões tropicais, os fatores
unidade de peso metabólico (PM = PV0,75), que ambientais impõem um maior gasto de energia
raças ou espécies maiores. Isso ocorre porque que em condições de clima temperado. Este fato,
um corpo menor armazena menos calor (maior associado a um valor nutritivo mais baixo nas
perda de calor) que um corpo maior. forrageiras tropicais, recomendam o uso de
2. Animais menores requerem dietas mais cautela na utilização das atuais tabelas de
digestíveis que animais maiores. Animais de raças requerimentos. Contudo, adotando-se os valores
de pequeno porte têm aparelhos gastrintestinais de KEARL (1982) como base, e assumindo um
pequenos se relacionados com seus gasto de 40% acima das necessidades de
requerimentos energéticos para mantença. Esta manutenção, os requerimentos de energia e
limitação em tamanho significa que o alimento proteína para um animal de 25 kg foram
ingerido permanece por um período mais curto calculados como sendo de 53 g/dia e 49 g/dia
no trato digestivo, devendo, portanto, ser digerido para proteína bruta e de 1,78 Mcal/dia e 1,98
mais rapidamente para que o animal obtenha Mcal/dia para energia digestível, para ovinos e
energia suficiente para atender suas necessidades. caprinos, respectivamente. No entanto, torna-se
3. Animais que caminham longas clara a extrema necessidade da condução de
distâncias, ou são expostos a estresses trabalhos visando a determinação dos
ambientais, têm requerimentos energéticos requerimentos nutricionais de animais mantidos
maiores que animais em confinamento. em pastejo em regiões tropicais.
4. Quando estão em condições de estresse
calórico, os animais reduzem seus exercícios e o Potencial forrageiro no semi-árido nordestino
consumo de alimentos como estratégia para A produção anual de fitomassa da
minimizar a produção de calor pela atividade folhagem das espécies lenhosas e da parte aérea
muscular e pela digestão. Devido à redução do das plantas herbáceas na caatinga atinge, em
consumo, a dieta ingerida deve ser mais rica em média, 4.000 kg/ha de matéria seca (MS), mas
energia e proteína, para que os requerimentos apresenta grandes variações anuais (LEITE et al.,
sejam atendidos. 1990; ARAÚJO FILHO et al., 1994). Todavia,
5. Durante as últimas quatro a seis semanas em condições naturais apenas um pequeno
da gestação e as primeiras oito a dez semanas da percentual constitui realmente forragem aproveitável
121
5
3
Consumo
(kg/dia) 2
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Digestibilidade da Forragem (%)
Figura 1. Correlação entre digestibilidade e consumo de forragem. A curva descendente mostra o
consumo requerido para produzir 1 kg de matéria orgânica digestível a medida que a digestibilidade
aumenta de 20% para 80%. A curva ascendente mostra o máximo de consumo possível por uma
ovelha adulta à medida em que a digestibilidade aumenta - Adaptado de HUSTON & PINCHAK
(1991).
pelos ruminantes. Tomando-se por base a MS, enquanto nas caatingas sucessionais a
capacidade de suporte média de 1,3 ha por caprino produção é de apenas 600 k/ha, em média.
adulto por ano, e o consumo de matéria seca de
900 g por animal/dia, ter-se-ia anualmente uma Hábitos alimentares, composiçâo botânica e
produção de forragem em torno de 270 kg/ha, valor nutritivo das dietas
correspondendo a cerca de 7% do total. Para ovinos HOFMANN (1988) classificou os
a disponibilidade cairia para 210 kg/ha/ano. ruminantes em três classes distintas, de acordo
Contudo, este potencial forrageiro, além das com seus hábitos alimentares: 1) animais que
flutuações em função das condições climáticas selecionam alimentos concentrados; 2) animais
anuais, apresenta grandes variações locais. É que, selecionadores intermediários e 3) animais
longe de ser uniforme, a paisagem da caatinga utilizadores de volumosos.
apresenta-se como um mosaico formado por um Os animais selecionadores de alimentos
número de sítios ecológicos com níveis de concentrados (veado e girafa, por exemplo), não
produtividade de forragem bastante diversificados. conseguem tolerar grandes quantidades de fibras
O sombreamento das espécies lenhosas em suas dietas, sendo, portanto, limitados a
pode variar de 20% nos tabuleiros sertanejos a selecionar alimentos concentrados, ou seja, partes
100% em alguns tipos de caatinga sucessional. de plantas com baixos teores de fibras (flores,
Em conseqüência, a densidade de arbustos e frutos e folhas novas). Em contraste, os animais
árvores varia de 400 a um máximo de 13.000 classificados como utilizadores de volumosos são
plantas por hectare, respectivamente, para os aqueles ruminantes aptos a uma melhor utilização
citados sítios ecológicos (LEITE et al., 1990; dos constituintes fibrosos da parede celular das
ARAÚJO FILHO et al., 1994). A produção de forragens (ex.: bovinos e bubalinos), em virtude
fitomassa pelo estrato herbáceo responde da mais lenta velocidade de passagem do alimento
diretamente às variações dos parâmetros pelo trato digestivo.
fitossociológicos da vegetação lenhosa. Assim, nos Animais selecionadores intermediários
tabuleiros são obtidos em torno de 2.500 kg/ha de
122
são aqueles capazes de uma utilização limitada dos estação seca progride (KIRMSE, 1984;
constituintes da parede celular. São animais que MESQUITA et al., 1994; LEITE et al. 1995;
apresentam uma alta velocidade de passagem, o que ARAÚJO FILHO et al., 1996). Este decréscimo
os permite ingerir quantidades suficientes de na qualidade das dietas é resultado do processo
nutrientes facilmente fermentáveis. Os animais normal de maturação das plantas forrageiras,
englobados nesta classificação apresentam grande processo este que é agilizado pelas altas
flexibilidade alimentar, e são adaptados tanto para temperaturas registradas durante a estação seca
o consumo de gramíneas quanto para o consumo na região semi-árida do Nordeste do Brasil.
de dicotiledôneas herbáceas e brotos e folhas de
árvores e arbustos. Caprinos são classificados como Alternativas para melhoria do manejo
selecionadores intermediários no que tange aos seus alimentar
hábitos alimentares, ao passo que ovinos são Podem ser apresentadas três alternativas
utilizadores de volumosos. Estes pequenos básicas para fortalecimento da alimentação de
ruminantes são adaptados para consumir uma ovinos e caprinos no Nordeste brasileiro, ou seja,
grande variedade de plantas, apresentando um o melhoramento do suporte forrageiro básico, o
comportamento alimentar que pode ser classificado manejo do pastejo e a suplementação alimentar
como oportunístico, facilmente modificando suas nos períodos críticos. As três opções devem ser
preferências alimentares de acordo com a interativas e complementares nos sistemas de
disponibilidade de forragem e a estação do ano. criação do trópico semi-árido brasileiro.
Trabalhos realizados no semi-árido
nordestino (KIRMSE, 1984; MESQUITA et al., 1. Melhoramento do suporte forrageiro básico
1994; LEITE et al. 1995; ARAÚJO FILHO et Da verificação do comportamento de
al., 1996) demonstraram uma maior preferência ecossistemas naturais da caatinga e das
de ovinos por gramíneas, quando comparados observações empíricas dos processos de sucessão
com caprinos, tanto no período chuvoso quanto secundária da vegetação, surgiram as idéias para
no período seco. Por outro lado, os caprinos a implementação de programas de pesquisa que
demonstraram uma maior preferência por visavam desenvolver e avaliar tecnologias de
dicotiledôneas herbáceas e brotos de folhas de manipulação da vegetação lenhosa (ARAÚJO
árvores e arbustos em ambos os períodos. FILHO et al., 1994). Estes trabalhos tiveram
Entretanto, estas espécies de ruminantes mostram como objetivo estabilizar a sucessão secundária
uma estratégia alimentar similar, diminuindo o em estádios que apresentassem, a médio e longo
percentual de gramíneas e dicotiledôneas prazos, maiores produções de forragens para as
herbáceas na dieta, e aumentando o percentual diferentes espécies de ruminantes domésticos.
brotos e folhas de plantas lenhosas à medida que A manipulação da vegetação consiste em
a estação seca progride e o grau de maturação toda e qualquer modificação induzida pelo
das forrageiras herbáceas aumenta. Estas homem na cobertura florística de uma área,
informações, que corroboram com a classificação visando adequá-la aos objetivos da exploração
proposta por HOFFMAN (1988), demonstram desejada, seja ela agrícola ou pastoril. No último
o grau de flexibilidade na preferência alimentar caso, a vegetação lenhosa da caatinga pode ser
de caprinos e ovinos nas condições do trópico manipulada com o objetivo de aumentar a
semi-árido brasileiro. produção e a disponibilidade de forragem, tanto
Quanto ao valor nutritivo das dietas, os do estrato arbustivo-arbóreo quanto do herbáceo.
resultados obtidos mostram uma tendência ao No que tange ao estrato herbáceo, objetiva-se
decréscimo nos valores de proteína bruta e enriquecê-lo com novas espécies exóticas ou nativas
digestibilidade in vitro da matéria orgânica e estabilizar sua composição florística ao longo dos
(DIVMO), e um aumento nos teores de fibra em anos, principalmente se constituído por espécies
detergente neutro e lignina à medida em que a anuais (LEITE & VASCONCELOS, 2000).
123
Em seu estado natural, a caatinga apresenta tempo no período seco. Com a redução do
uma produção de forragem que corresponde a sombreamento pelas copas de árvores e arbustos,
aproximadamente 7,0% do total de fitomassa observa-se um significativo incremento na
produzida, apresentando, portanto, índices de produção de fitomassa pelo estrato herbáceo.
desempenho animal muito baixos. Em geral são Resultados de pesquisa (ARAÚJO FILHO et al.,
necessários de 1,3 a 1,5 ha para criar um ovino ou 1994) indicam que em torno de 40% da fitomassa
um caprino durante um ano, e de 10 a 15 ha para do sistema advém do estrato herbáceo e 60% do
um bovino. A produção de peso vivo animal por estrato arbustivo-arbóreo. Em termos de
hectare varia de, aproximadamente, 8 kg para capacidade de suporte, na caatinga rebaixada são
bovinos a até 20 kg para caprinos. Estes valores necessários de 0,5 a 0,7 ha para manter em, bases
são obtidos em anos de pluviosidade normal, já anuais, uma cabeça de caprino e de 1 a 1,5 ha
tendo-se verificado decréscimos de até 70% na por ovino. Portanto, esta alternativa é mais
produção animal na caatinga durante anos de seca. apropriada para o manejo com caprinos
Estes dados tornam economicamente inviável a (ARAÚJO FILHO et al., 1994).
atividade pastoril na caatinga nativa, isto é, sem O raleamento da vegetação lenhosa da
modificações em sua cobertura florística (ARAÚJO caatinga consiste no controle seletivo de espécies,
FILHO et al., 1994). com o objetivo de reduzir o sombreamento e a
A manipulação da vegetação da caatinga densidade de árvores e arbustos indesejáveis,
consiste no controle seletivo de árvores e arbustos, incrementando, consequentemente, a produção
visando o aumento da disponibilidade e a de fitomassa do estrato herbáceo. A intensidade
melhoria da qualidade da forragem. A escolha do raleamento depende das condições
do tipo de manipulação depende principalmente topográficas do terreno e das características da
do potencial da área em termos de resposta vegetação, mas em qualquer circunstância
técnica e econômica, além dos tipos de animais deverão ser mantidos, no mínimo, 30% de
que se deseja criar. Assim, muitos sítios sombreamento. Esta alternativa presta-se melhor
ecológicos não respondem à manipulação com o para a criação de ovinos, uma vez que em áreas
aumento de forragem, quer porque já são de caatinga raleada a capacidade de suporte situa-
naturalmente abertos, quer porque não possuem se em torno de 0,5 ha/cab/ano para ovinos e de
um banco de sementes de espécies herbáceas 1,0 ha/cab/ano para caprinos (ARAÚJO FILHO
forrageiras. Portanto, é fundamental que exista et al., 1994).
um conhecimento prévio a partir de dados de No sertão nordestino são encontradas
pesquisa, do histórico da área ou de observações extensas áreas cuja vegetação, em função do uso
locais, permitindo que seja selecionado o método indiscriminado das práticas agrícolas e do
adequado de manejo (ARAÚJO FILHO et al., superpastoreio, já encontram-se em adiantado
1994). estado de degradação, tendo perdido a
O incremento da produção de forragem composição florística que lhe é peculiar. Nestas
na caatinga, para ovinos e caprinos, pode ser condições, a produção de forragem só poderia
obtido com o emprego de uma ou mais ser incrementada pela introdução de forrageiras
alternativas de manipulação da vegetação. As nativas e/ou exóticas adaptadas às condições do
práticas mais comuns de manipulação são o sítio ecológico. De preferência, a ressemeadura
rebaixamento, o raleamento e o enriquecimento deve ser feita pela prática do cultivo mínimo, não
(ARAÚJO FILHO et al., 1994). só em função da pouca profundidade do solo, da
Consta o rebaixamento da broca manual de declividade e da pedregosidade, mas, também,
espécies lenhosas, objetivando aumentar a tendo em vista a preservação do estrato herbáceo
disponibilidade da forragem de árvores e nativo, rico em leguminosas em alguns sítios do
arbustos, melhorar sua qualidade bromatológica sertão. Por outro lado, não se faz necessário
e estender a produção de folhagem verde por mais desmatar a caatinga, carecendo tão somente o
124
seu raleamento. O enriquecimento pode ser feito de pastejo da área, é um imperativo para a
tanto no estrato herbáceo quanto no lenhoso. No conservação dos recursos forrageiros e da
primeiro caso, gramíneas tais como alguns sustentabilidade da produção animal (LEITE &
cultivares de capim-buffel (Cenchrus ciliaris) e VASCONCELOS, 2002).
capim-gramão (Cynodom dactylon), e Com respeito à espécie animal mais
leguminosas como a cunhã (Clitoria ternatea) e adequada ao uso da forragem disponível, de
a erva-de-ovelha (Stylosanthes humilis) têm sido modo geral tem sido enfatizado que as áreas
consideradas como as melhores opções. naturalmente abertas ou dotadas de um estrato
Tratando-se do estrato lenhoso, o sabiá (Mimosa herbáceo rico em gramíneas são melhor utilizadas
caesalpinifolia), o mororó (Bauhinia cheilantha), por ovinos. Já os sítios ecológicos com vegetação
a leucena (Leucaena leucocephala), e o carquejo rica em espécies lenhosas apresentam uma maior
(Caliandra depauperata) constituem ótimas produção animal quando utilizados por caprinos.
indicações (LEITE & VASCONCELOS, 2000). No entanto, em virtude da diversidade de espécies
de forrageiras existentes na caatinga, e em
II. Manejo da pastagem sintonia com as diferentes preferências
As diferenças na preferência alimentar e alimentares entre caprinos e ovinos (HOFFMAN,
no hábito de pastejo de ovinos e caprinos podem 1988; LEITE e MESQUITA, 1988), o pastoreio
ser utilizadas visando o manejo adequado da combinado e alternado com estas duas espécies
pastagem e a melhoria da produtividade dos tem sido recomendado como forma de melhorar
rebanhos. Neste contexto, dois conceitos são o manejo e, consequentemente, a capacidade de
importantes serem considerados, ou seja, a suporte das pastagens nativas no semi-árido
adequação da carga animal e o emprego da nordestino (LEITE et al., 1995; PEREIRA
espécie animal, ou a combinação de espécies que FILHO, 1995; ARAÚJO FILHO et al., 1996).
faça melhor utilização dos recursos disponíveis.
A inadequação da taxa de lotação pelo III. Suplementação alimentar
excesso no número de animais, ultrapassando a Ao longo do período seco, que no Ceará
capacidade de suporte da pastagem, caracteriza geralmente prolonga-se de julho a janeiro (varia
o superpastoreio. A sobrecarga acarreta, a médio por região), são observadas perdas substanciais
e longo prazos, a destruição da cobertura florística na disponibilidade e na qualidade da forragem
e perdas acentuadas no desempenho do rebanho. da pastagem nativa (LEITE et al., 1990;
O uso continuado de carga animal excessiva tem ARAÚJO FILHO et al., 1992), com reflexos na
sido apontado como um dos principais produtividade dos rebanhos. Em alguns casos,
responsáveis pela aceleração do processo de os ganhos obtidos durante o período de relativa
desertificação das regiões áridas e semi-áridas abundância (época chuvosa) pouco mais fazem
do planeta (LEITE & VASCONCELOS, 2002). que repor as perdas de peso dos animais
No caso específico de ovinos, o excesso ocorridas durante o período de escassez (época
de animais no pasto, ao longo do ano, resultará seca).
na degradação rápida do suporte forrageiro do Existem diversas formas de reduzir ou
estrato herbáceo, pelo desaparecimento das mesmo eliminar as perdas verificadas durante o
espécies que mais contribuem para a composição período seco, garantindo melhoria no
de sua dieta, principalmente as gramíneas. Por desempenho animal. Dentre estas, merecem
outro lado, o superpastoreio com caprinos resultará destaque a suplementação alimentar (feno, silagem
em elevada mortalidade de ervas e arbustos pelo e concentrados protéicos e energéticos) e o cultivo
anelamento de seus caules, ou seja, pela remoção de forrageiras com propósitos específicos
da casca do tronco das espécies lenhosas ao alcance (pastagens consorciadas, pastagens irrigadas,
dos animais. Assim, a carga animal adequada, ou bancos de proteína etc.).
seja, aquela que eqüivale à capacidade de suporte As alternativas existentes são geralmente
125
eficientes com relação ao aumento físico da oferta das frutas para produção de sucos e polpas, gerando
de forragem. A escolha de diferentes formas para grandes quantidades de resíduos que podem ser
regular o suprimento de forragem no período de utilizados em dietas de confinamento ou para a
escassez depende das condições físicas e simples suplementação de animais em pastejo.
econômicas de cada propriedade. Neste contexto, Dentre as frutas utilizadas, podem ser destacados o
os bancos de proteína têm se destacado, caju, a manga, a acerola, o abacaxi e o maracujá.
principalmente, por ocuparem áreas pequenas, TELLES (1988) e HOLANDA et al. (1988)
por exigirem manejo simples e pelo substancial constataram que o farelo do resíduo industrial do
incremento no desempenho animal (LEITE & pseudofruto do caju pode ser amplamente utilizado
VASCONCELOS, 2002). na alimentação de ruminantes. Entretanto, segundo
Trabalho desenvolvido no Centro o ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CEARÁ (1995),
Nacional de Pesquisa de Caprinos, em Sobral, o Nordeste vem perdendo 96% do pedúnculo do
Ceará (ARAÚJO FILHO et al., 1990), mostrou caju, o que eqüivale a aproximadamente um milhão
que caprinos respondem de forma de toneladas. Portanto, em virtude de sua
significativamente positiva ao pastoreio em abundância este subproduto poderá constituir-se em
bancos de proteína, notadamente em piquetes mais uma fonte de volumoso para dietas de caprinos
formados por leucena, cunhã e sabiá, em e ovinos.
decorrência da melhoria do valor nutritivo das É oportuno ressaltar que, em uma planilha
dietas. O trabalho, que foi desenvolvido durante de custos, a alimentação de caprinos e ovinos
a estação seca, indicou o alto percentual de cunhã pode representar valores superiores a 60%
e do sabiá nas dietas, embora estas espécies (LEITE, 1999). Especialmente durante a estação
apresentassem características de senescência no de monta, bem como durante a gestação, a
terço final do período. Neste sentido, a leucena e lactação e a terminação, os valores relativos à
a jurema preta (Mimosa acutistipula), esta última alimentação têm um peso considerável. Assim,
tida com algumas restrições no que tange à para que os animais sejam suplementados de
digestibilidade, configuram-se, dentre as espécies forma adequada, necessário se torna que seus
testadas, como as melhores opções para utilização requerimentos sejam atendidos, a fim de que o
em bancos de proteína no semi-árido nordestino. rebanho possa expressar seu real potencial
A conservação de forragens é uma genético. Neste mister, pesquisa desenvolvida na
estratégia fundamental para a manutenção dos Embrapa Caprinos (DIAS et al., 2000) tem
rebanhos no período seco. Resultados de pesquisa apontado para o uso da técnica NIRS
indicam que silagens de sorgo, misturadas com (espectroscopia de reflectância do infravermelho
20% de leucena, apresentam uma forragem com próximo) como ferramenta para auxiliar em
balanço favorável de proteína e energia (LEITE, programas de suplementação alimentar de
1999). Por seu turno, a produção de feno de boa animais em pastejo. Com o auxílio da informática
qualidade pode ser obtida com o cultivo de são desenvolvidos modelos que, a partir da
diversas gramíneas e leguminosas exóticas. Na simples análise de amostras fecais, são determinados
Embrapa Caprinos o feno de leucena tem sido os valores nutritivos das dietas. Assim, podem ser
amplamente utilizado, em virtude dos teores de preconizados, de forma rápida, precisa e econômica,
proteína bruta registrados na forragem, em torno as reais necessidades de suplementação dos animais
de 16%. Sob condições de irrigação, a leucena em cada um dos seus estados fisiológicos e em seus
permite até 12 cortes por ano, propiciando o diversos níveis de produção.
fornecimento de suplementação volumosa de
qualidade ao longo do ano. Considerações finais
O desenvolvimento da fruticultura no A produção de caprinos e ovinos
Nordeste, principalmente em áreas irrigadas, vem deslanados vem consolidando-se, nos últimos
proporcionando incrementos na industrialização anos, como atividade de enorme importância
126
social e econômica no País, especialmente na Região R. C. M. Dieta e desempenho de caprinos e ovinos
Nordeste. Entretanto, os métodos empíricos de em bancos de proteína na região de Sobral, Ceará.
exploração, predominantes na grande maioria das Circular Técnica: Embrapa Caprinos. 1990.
unidades produtivas, ainda representam entraves ARAÚJO FILHO, J. A.; LEITE, E. R.; MESQUITA,
R. C. M.; MACEDO, S. M. C. Manejo do estrato
para a conquista de novos mercados, mercê da
herbáceo da caatinga para pastejo e produção de feno.
qualidade dos produtos e da sazonalidade da oferta.
Pesquisa em Andamento: Embrapa Caprinos. 1987.
A mudança desse quadro implica na modernização ARAÚJO FILHO, J. A.; MESQUITA, R. C. M.;
das técnicas utilizadas, sobretudo aquelas ligadas LEITE, E. R. Avaliação de pastagens nativas. In: J.P.
ao manejo alimentar. PUIGNAN (Ed.). Utilización y manejo de pastizales.
A identificação das técnicas de manejo da Montivideo, IICA, p.61-70, 1994.
vegetação nativa, associadas à introdução e ao ARAÚJO FILHO, J. A.; SILVA, N. L. Impacto do
cultivo de forrageiras exóticas adaptadas, a pastoreio de ovinos e caprinos sobre os recursos
métodos de conservação de forragens, ao uso de forrageiros do semi-árido. In: IV Seminário
concentrados e a outras práticas, constituem Nordestino de Pecuária, Fortaleza, p.11-18, 2000.
indicadores para a mudança do quadro atual. BANCO DO NORDESTE. Programa para o
desenvolvimento sustentável da ovinocaprinocultura
Entretanto, a escolha de uma ou mais alternativas
na Região Nordeste. Fortaleza, 61p. 1999.
deve estar implicitamente ligada às atividades a
DEVENDRA, C. Potential of sheep and goats in less
serem desenvolvidas em cada propriedade. developed countries. Journal of Animal Science, v.
Fatores como adaptabilidade de espécies 51, p. 461-473, 1981.
botânicas e alternativas de manejo das pastagens DIAS, M. C. C. B.; VASCONCELOS, V. R.; LEITE,
e plantas forrageiras devem ser considerados. E. R. Utilização da técnica da espectroscopia de
Mais enfaticamente, os técnicos e produtores reflectância do infravermelho próximo (NIRS) na
devem ter ciência de que caprinos e ovinos têm determinação do valor nutricional da dieta de ovinos
distintos hábitos alimentares, o que implica em na caatinga. Revista Científica de Produção Animal,
formas particulares de melhoria e manejo do v. 2, p. 31-40, 2000.
suporte forrageiro. Assim, os objetivos do manejo FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION.
Production yearbook. Roma, 556p. 1996.
alimentar devem estar voltados para o
GUTIERREZ, N. Sheep and goat production systems
atendimento dos reais requerimentos dos animais,
in the Sertão Region of Northeast Brazil: a
de maneira que os mesmos possam expressar seus characterization and linear programming analysis.
reais potenciais genéticos para produção e Purdue University, 141p. (Tese de Doutorado). 1983.
reprodução. GUTIERREZ, N.; DE BOER, A. J.; ALVES, J. U.
Interações de recursos e características econômicas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS dos criadores de ovinos e caprinos no Sertão do Ceará,
Nordeste do Brasil: resultados preliminares. Boletim
ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CEARÁ. Fortaleza, de Pesquisa: Embrapa Caprinos. 1987.
IPLANCE. 1995. HANLEY, T.A. The nutritional basis for food selection
ARAÚJO FILHO, J. A.; CARVALHO, F. C., SILVA, by ungulates. Journal of Range Management, v.
N. L. Criação de ovinos a pasto no semi-árido 35, p. 146-151, 1982.
nordestino. Sobral, Circular Técnica: Embrapa HOFFMAN, R.R. Anatomy of the gastro-intestinal
Caprinos. 1999. tract. In: CHURCH, D.C. (Ed.). The ruminant animal:
ARAÚJO FILHO, J. A.; GADELHA, J. A.; digestive physiology and nutrition. Portland, O&B
SOUZA, P. Z.; LEITE, E. R.; CRISPIM, S. M. A.; Books, Inc., p.14-43, 1988.
REGO, M. C. Composição botânica e química da HOLANDA, J. S.; OLIVEIRA, A. J.; FERREIRA,
dieta de ovinos e caprinos em pastoreio combinado A. C. Enriquecimento protéico de pedúnculos de caju
na região dos Inhamuns, Ceará. Revista da com emprego de leveduras para alimentação animal.
Sociedade Brasileira de Zootecnia, v. 25, p. 383- Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 33, p. 787-792,
395, 1996. 1998.
ARAÚJO FILHO, J. A.; LEITE, E. R.; MESQUITA, HUSTON, J. E.; PINCHAK, W. E. Range animal
127
nutrition. In: HEITSCHMIDT, R. K.; TUTH, J. para o agronegócio da ovinocaprinocultura. In: IV
W. (Eds.). Grazing management – an ecological Seminário Nordestino de Pecuária, Fortaleza,
perspective. Portland, Timber Press, p.27-63, 1991. p.19-33, 2000.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E LEITE, E. R.; VASCONCELOS, V. R. Estratégias
ESTATÍSTICA. 1996. Anuário estatístico do Brasil. de alimentação de caprinos e ovinos em pastejo no
Rio de Janeiro, 1096p. Nordeste do Brasil. I Simpósio Internacional
JOHNSON, W. L.; OLIVEIRA, E. R. Nutrient Sobre Caprinos e Ovinos de Corte. João Pessoa,
needs and improved feeding systems. In: p.71-80, 2000.
JOHNSON, W.L.; OLIVEIRA, E.R. (Eds.). LEITE, E. R.; VASCONCELOS, V. R. Manejo
Improving meet goat production in the semi-arid sustentável de pastagens para caprinos e ovinos.
tropics. Berkerley, University of California Press, In: I Encontro Internacional dos Negócios da
p.67-74, 1989. Pecuária, Cuiabá, p.1-14. 1 CD-ROM. 2002.
KEARL, L. C. Nutrient requirements in developing MESQUITA, R. C. M.; LEITE, E. R.; ARAÚJO
countries. Logan, International Feedstuffs Institute, FILHO, J. A. Estacionalidade da dieta de pequenos
213p., 1982. ruminantes em ecossistema da caatinga. In:
KIRMSE, R. J. Effects of clearcutting on forage PUGNAN, J.P. (Ed.). Utilización y manejo de
production, quality and decomposition in the pastizales. Montivideo, IICA, p.71-81. 1994
woodland of Northeast Brazil: implications to MALECHEK, J. C.; PROVENZA, F. D. Feeding
goat and sheep nutrition. Utah State University, behavior and nutrition of goats on rangelands.
98p. (Tese de Doutorado). 1984. World Animal Review, v. 47, p. 38-48. 1983.
LEITE, E. R. Manejo alimentar de caprinos e NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient
ovinos. In: I Workshop Sobre Caprinos e Ovinos requirements of goats. Washington, National
Tropicais, Fortaleza, p.52-56. 1999. Academy of Sciences, 94p. 1985a.
LEITE, E. R.; ARAÚJO FILHO, J. A.; NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient
MESQUITA, R. C. M. Forage resources in requirements of sheep. Washington, National
Northeast Brazil: their value and management. In: Academy of Sciences, 96p. 1985b.
SHELTON, M.; FIGUEIREDO,E.A.P. (Eds.). NEUMAIER, M. C.; LEITE, E. R.; ZOMETA,
Hair sheep production in tropical and sub-tropical C. A.; GUTIERREZ-ALEMAN, N.
regions. Berkerley, University of California Press, Características sócio-econômicas da produção de
p.59-78. 1990. cabras leiteiras no semi-árido paraibano. Pesquisa
LEITE, E. R., ARAÚJO FILHO, J. A., PINTO, Agropecuária Brasileira, v. 24, p. 1473-1476.
F. C. Pastoreio combinado de caprinos com ovinos 1989.
em caatinga raleada: desempenho da pastagem e PEREIRA FILHO, J. M. Efeitos do pastoreio
dos animais. Pesquisa Agropecuária Brasileira, alternado sobre a composição florística da
v. 30, p. 1129-1134, 1995. vegetação herbácea de uma caatinga raleada.
LEITE, E. R.; MESQUITA, R. C. M. Fatores Universidade Federal do Ceará, 86p. (Tese de
morfológicos que interferem na seleção de Mestrado). 1995.
forrageiras pelos herbívoros. Documentos: TELLES, P. R. S. Industrialização do pseudofruto
Embrapa Caprinos. 1988. e da castanha. In: LIMA, V.P.M.S. (Ed.). A cultura
LEITE, E. R.; VASCONCELOS, H. E. M.; do cajueiro no Nordeste do Brasil. Fortaleza, Banco
SIMPLÍCIO, A. A. Desenvolvimento tecnológico do Nordeste/ETENE, p.357-402, 1988.
128