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Os mecanismos de solução de controvérsia no mercosul: uma análise

sobre o protocolo de olivos

Jonábio Barbosa dos Santos1


João de Deus Quirino Filho2
Guerrison de Araújo Pereira3

Sumário: Introdução - Capítulo I - Características gerais - 1. O mercado comum do sul - 1.1.


As negociações diretas como mecanismos de solução de controvérsias - 1.2. A necessidade
de aperfeiçoamento dos instrumentos de solução de controvérsia - 1.2.1 Os mecanismos
relativos aos aspectos técnicos - 1.3. O papel do conselho de mercado comum -1.4.
Intervenção do Grupo de Mercado Comum - 1.4.1. As atribuições e as intervenções do grupo
de mercado comum - Capítulo II - Procedimentos arbitrais no Mercosul - 2. Procedimento
arbitral ad hoc - 2.1. A abertura do procedimento arbitral - 2.2. A composição do tribunal ad
hoc - 2.2.1. As atribuições dos árbitros - 2.2.2. A definição dos objetos das controvérsias -
2.2.3. As medidas provisórias - 2.3. Emissão do Laudo Arbitral - 2.3.1. Conceito e natureza
jurídica - 2.3.2. Requisitos do laudo - 2.3.3. A obrigatoriedade do laudo e de seu
cumprimento - 2.4. Procedimento de revisão do laudo arbitral - 2.4.1. A composição do
Tribunal Revisor - Capítulo III - As reclamações levadas a efeito por particulares no Mercosul
- 3. As reclamações de particulares - 3.1. Conceito e objeto das reclamações - 3.2. A
tramitação e o procedimento da reclamação - 3.2.1. A solicitação de consultas - 3.2.2. A
intervenção do grupo de mercado comum nas reclamações de particulares - 3.2.2.1. A
designação de um grupo de especialistas - 3.2.2.2. O parecer do grupo de especialistas -
3.3. A possibilidade de desistência ou de acordo no procedimento - 3.4. O sigilo
(confidencialidade) dos documentos e procedimentos sujeitos a jurisdição do tribunal ad hoc
- Considerações finais - Referências

1
Mestre em Direito Econômico. Professor da Universidade Federal de Campina Grande. Professor da Escola
Superior do Ministério Público do Estado da Paraíba - Unidades de Campina Grande e Sousa. Professor da
Escola da Magistratura – Unidade Campina Grande. Advogado Militante.
2
Especialista em Direito Processual Civil. Professor da Universidade Federal de Campina Grande. Advogado
Militante. Professor da Escola Superior do Ministério Público – Unidade de Sousa.
3
Especialista em Direito Processual Civil. Professor da Universidade Federal de Campina Grande. Advogado
Militante.

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Introdução

O processo de evolução da humanidade tem sido marcado por diversos conflitos nos
mais variados campos entre os desiguais. Sabe-se que, desde os povos primitivos, hábitos e
tradições são desenvolvidos, tendo como elemento principal inicial a separação ou até
mesmo, na época primitiva, o banimento de indivíduos que possuíssem características
diferenciadas dos demais membros da comunidade, numa consistente prova da existência
de preconceitos e de práticas discriminatórias entre os indivíduos e entre os grupos
humanos, desde o início da civilização.

Os reflexos negativos dos dois grandes conflitos mundiais (1914 a 1918 e 1939 a 1945)
produziram uma grande quantidade de mortos e mutilados. Ainda sob este norte, houve
vários outros conflitos pontuais em várias partes do mundo, ocasionados, em sua maioria,
pela bipolarização ocorrida entre os capitalistas e os socialistas. Esses elementos fizeram
com que a humanidade, impulsionada por alguns líderes (Chefes de Estado), buscasse e
sentisse a necessidade da construção de um ambiente de paz, bem como de relações
internacionais voltadas para a proteção dos valores humanos e, sobretudo, para o
fortalecimento dos mercados econômicos, considerando as diferenças existentes entre os
indivíduos.

Essa vontade integrativa foi reforçada com a intitulada globalização econômica, muito
embora esta encontre dificuldades nas diferenças existentes entre os países, os
comportamentos das pessoas não são uniformes.

Na atualidade, verifica-se que essas diferenças culturais, econômicas e sociais se


mostram bastante acentuadas devido aos efeitos causados pela globalização dos mercados.
Os países menos desenvolvidos sofrem esses reflexos de forma acentuada, pois têm uma
dificuldade maior em adaptarem-se às regras estabelecidas pela sociedade globalizada,
principalmente os Estados e nações de fundamentalismo religioso acentuado.

O mercado de trabalho sofre os principais reflexos da globalização econômica, pois,


sendo o trabalho um dos elementos de produção, não poderia ser desprezado pelo Direito
que deve estudá-lo buscando formas de protegê-lo e de assegurar a todo indivíduo o acesso
ao trabalho.

É nesse contexto que os Estados, verificando as regras e os mecanismos de


sobrevivência, têm que implementar as suas políticas de atuação no mercado na busca
incessante de melhores condições para os seus cidadãos, visando à satisfação do bem estar
social.

A união dos Estados em grupos apresenta-se como único instrumento capaz de


fortalecer, sobretudo, os países menos desenvolvidos diante do processo de globalização

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em que a economia e os elementos de produção têm que ser geridos de forma a adequar-se
à nova necessidade e realidade imposta pela integração econômica e social entre os países.

Para que possam executar os seus objetivos comerciais e de melhorias para os seus
cidadãos, os Estados devem buscar formas de atuação em âmbito global, como a formação
dos Blocos econômicos e de regiões aduanas.

Essa forma de organização dos Estados, inicialmente, fez com que as empresas
passassem a procurar novas formas de atuação do mercado, no intuito maior de aumentar a
produtividade e de melhorar a competitividade, gerando alguns conflitos, como as barreiras
impostas contra alguns produtos brasileiros (geladeiras, sapatos, entre outros), ou, ainda, o
descumprimento de contratos internacionais, como os firmados pela Argentina e Brasil com
a Venezuela e com a Bolívia − claro que esta última, ainda não é membro efetivo do
Mercosul.

O ambiente de integração econômica e social voltado para a formação de um Bloco


econômico apresenta dificuldades de harmonização de interesses que devem ser,
inicialmente, solucionados pela Diplomacia; quando esta falha é preciso que haja
mecanismos jurisdicionais ou, ainda, contratuais de solução do problema ou de
esclarecimento das dúvidas que porventura existam.

Nesse ambiente integrativo surgem controvérsias, dificuldades, divergências entre os


Estados, como também entre os cidadãos, empresas e instituições, impondo a criação de
instrumentos de solução de conflitos, inicialmente, no campo normativo e, no segundo
momento, em âmbito institucional. O setor empresarial já adotou suas medidas, uma vez que
é largamente utilizado no âmbito dos contratos comerciais internacionais o instrumento da
mediação e da arbitragem, formas modernas de solução de controvérsias ou até mesmo de
evitá-las.

Essas controvérsias surgem, principalmente, no momento em que os países membros da


União Aduaneira, entre si, aderem a normas internacionais, devendo adotar as medidas para
que essas normas internacionais entrem em vigor, no âmbito interno. Este fato tem ocorrido
com uma incidência bem maior, devido aos processos de integração. Entretanto, esses
novos tratados firmados, não possuem o condão de rescindir as obrigações assumidas em
tratados anteriores, com membros e não membros da União, havendo muitas vezes conflitos
entre as disposições dos tratados.

Um exemplo de normas internacionais contrárias e que permanecem em execução são


os acordos e tratados bilaterais firmados entre Brasil e Argentina ou, até mesmo, entre esses
membros da União e países europeus, e com os Estados Unidos.

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Os demais segmentos do Estado e da Sociedade têm que se adequar rapidamente a
essa forma de integração que impõe aos cidadãos e ao Estado a necessidade de criar
formas alternativas de solução de conflitos, sendo que, por força do processo de
globalização, esses mecanismos, além de eficazes e efetivos, têm que ser rápidos.

O presente estudo possui o intuito de analisar de forma sucinta e objetiva a atual


situação dos mecanismos de solução de controvérsias, no âmbito do Mercosul, disciplinada
pelo Protocolo de Olivos.

Este trabalho está organizado em três Capítulos. No primeiro, serão analisados os


aspectos gerais e a estrutura do Mercosul, principalmente com a nova formatação imposta
pelo Protocolo de Olivos.

O segundo Capítulo versará sobre o procedimento arbitral ad hoc como instrumento de


solução de controvérsias, bem como sobre os aspectos processuais voltados para a revisão
das decisões do Tribunal Arbitral.

Já no terceiro Capítulo será estudada a estrutura prevista no Protocolo de Olivos acerca


das consultas e reclamações levadas a efeito por particulares, visando a prevenção e a
solução de conflitos no âmbito do Mercosul.

Para a elaboração deste trabalho e a consecução do objetivo proposto será utilizado o


método dedutivo, tendo como base a pesquisa documental nacional e bibliográfica nacional
e internacional, mediante a consulta de livros, periódicos especializados, legislação, internet
e documentos do Mercosul, principalmente o texto do Protocolo de Olivos.

Já com relação aos métodos de procedimento serão utilizados os métodos histórico e


hermenêutico. O método histórico será o primeiro utilizado a fim de demonstrar como os
acontecimentos contribuíram para a criação do Mercosul, bem como para a composição, do
Bloco de países. O segundo será utilizado para a interpretação dos documentos e legislação
pertinentes – o Protocolo de Olivos.

O método dedutivo também será utilizado para a apresentação do resultado final das
questões propostas, no que se refere aos mecanismos de solução de controvérsias no
âmbito do Mercosul.

Capítulo I – características gerais

1. O mercado comum do sul

A semente do Mercosul deu-se com a associação Latino-Americana de Livre Comércio


(ALALC), criada em 1960, por intermédio do Tratado de Montevidéu, com o objetivo precípuo

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de definição de uma área de livre comércio que abrangeria toda a América Latina, em um
período de doze anos.

Passados alguns anos, verificou-se que a ALALC não era capaz de atingir os objetivos
propostos dada a sua fragilidade institucional, vindo a ser substituída, em 1980, por outro
Tratado, também firmado na cidade de Montevidéu, no Uruguai. Essa nova idéia visava a
criação de áreas preferenciais, entre os países da América Latina, que em um prazo
indefinido, terminariam por criar um Mercado Comum Latino Americano, que surgiria de
forma gradual e progressiva, deixando em aberto o prazo em que este fato ocorreria.

As duas estruturas criadas pelos Tratados de Montevidéu não surtiram qualquer efeito
que estabelecesse o livre comércio entre os países latino-americanos, nem tampouco
contribuíram para o aumento do comércio intra-regional.

Os conseqüentes fracassos dos intentos de integração latino-americana obrigaram os


países a criar entidades voltadas para a integração sub-regional, como por exemplo, os
Países do Pacto Andino, o Mercosul e o Nafta, bem como a existência de Acordos bilaterais.

No ano de 1985, com a inauguração da Ponte Presidente Tancredo Neves, ligando o


Brasil e a Argentina através das cidades de Foz do Iguaçu e Puerto Iguazu, os citados
países terminaram por firmar a intitulada Declaração de Iguaçu, declarando, formalmente, o
intento de os dois países criarem uma integração bilateral.

Este intento somente veio a ter prosseguimento no ano de 1987, com a criação do
Programa de Integração e Cooperação Econômica, culminando em 1988, com a assinatura
do Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento (TICD) pela Argentina e pelo
Brasil, propondo a implantação de uma União Aduaneira, com gradativa eliminação de
obstáculos alfandegários e tarifários, no intuito de harmonizar ou aproximar as políticas
macroeconômicas em um prazo mínimo de dez anos.

O tratado em comento tinha ainda o objetivo de, no futuro, criar um mercado comum,
bem como o de incorporar todos os protocolos existentes entre os dois países, além de abrir
a possibilidade de ingresso dos demais países latino-americanos.

No ano de 1990, em Buenos Aires, os dois países signatários do TICD, estipularam na


Ata de Buenos Aires o prazo de quatro anos para a criação de um mercado comum, fato que
somente viria a se concretizar, sob o aspecto normativo, no ano de 1994.

Para a criação do Mercosul, inicialmente foi firmado o Tratado de Assunção, no ano de


1991, no dia 26 de março, com o objetivo de que os Estados Partes adotassem as medidas
internas, no período de transição, para a adoção do citado tratado, o que somente veio a
ocorrer em 1994, com o Protocolo de Ouro Preto.

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Inicialmente, o Tratado de Assunção foi subscrito por Brasil, Argentina, Paraguai e
Uruguai.

Cruz (2005, p. 55) afirma que:


[...] a criação de um Mercado Comum, implicará a livre circulação de
pessoas, bens serviços e fatores de produção, o qual deverá contar com: a)
um programa de liberalização comercial, baseado em reduções
alfandegárias progressivas, lineares e automáticas e na eliminação de
restrições comerciais de qualquer natureza, com a zeragem das tarifas para
o comércio intra-regional; b) a coordenação gradual das políticas
macroeconômicas e setoriais; c) o estabelecimento de uma tarifa externa e
de políticas comerciais comuns, propiciadoras do aumento da
competitividade dos quatro países; d) a adoção de acordos setoriais; e) a
fixação durante a Constituição do Mercado Comum, de um regime geral de
origem, de cláusulas comuns de salvaguarda e de um sistema provisório de
solução de controvérsias; f) a harmonização legislativa em áreas
pertinentes.
Entre os objetivos definidos para o Mercosul, encontra-se aquele disciplinado pelo
Protocolo de Olivos, objeto do presente estudo, que é a definição de um sistema de solução
de controvérsias entre os países membros, como também conflitos ocorridos entre
particulares, o que demonstra a preocupação inicial dos idealizadores do Mercosul com as
possíveis discordâncias e infringências às normas internacionais que ocorreriam com a
implementação do processo de integração.

Outro país que também aderiu ao Mercosul foi a Bolívia, que no ano de 1998, durante a
XIV Reunião de Cúpula realizada em Ushuaia, assumiu o compromisso democrático.
Posteriormente, a Bolívia com os demais membros do Mercado Comum do Sul assumiram
objetivos comuns por meio do Acordo de Complementação Econômica n° 36 e da
Comunidade Andina, sendo celebrado um Acordo Marco no mês de abril do ano de 1998,
fazendo surgir uma zona de livre comércio entre as duas regiões.

O intuito dos acordos foi, em princípio, o de ampliar os mercados de cada um dos países
membros, tornando-os fortalecidos.

Inicialmente os efeitos decorrentes da formação do Mercosul trouxeram aos países


membros a redefinição de políticas econômicas, sociais e, principalmente, comercial como,
por exemplo, no Brasil, o início da redefinição da política trabalhista, sobretudo no tocante à
busca pela equiparação do valor do salário mínimo, à revisão dos valores do custo do
trabalho, à livre circulação de trabalhadores no intuito de acelerar o processo de
modernização do direito do trabalho nos países membro, buscando o crescimento conjunto e
a igualdade de tratamento dos trabalhadores do Mercosul.

O Mercado Comum do Sul constitui-se dos seguintes órgãos:

a) Conselho do Mercado Comum − o órgão deliberativo das proposições e


políticas a serem implementadas no âmbito do Mercosul.

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b) Grupo de Mercado Comum − órgão responsável pela implementação ou
execução das políticas definidas pelo Conselho de Mercado Comum.

c) Comissão de Comércio do Mercosul − órgão responsável pelos institutos


de política do Mercosul.

d) Comissão Parlamentar Conjunta − órgão representativo dos Estados-


membro.

e) Foro Consultivo Econômico e Social − órgão representativo dos setores


econômicos e sociais.

f) Secretaria Administrativa do Mercado Comum dos Sul − órgão responsável


pelos aspectos administrativos no Mercosul.

As intenções impostas pelo Mercosul podem e poderão causar várias modificações não
apenas nas relações trabalhistas, mas também nas demais relações existentes que serão
firmadas entre os países membros, bem como entre os cidadãos dos países-parte, havendo
a necessidade de uma redefinição das estratégias e nas estruturas dos sindicatos. Há,
inclusive, no caso do Brasil, a necessidade de uma adequação das estruturas da
Administração Pública às imposições feitas pelas normas emanadas dos órgãos de cúpula
do Mercosul.

No tocante às disposições do Protocolo de Olivos, encontra-se um importante


instrumento de solução de conflitos ou controvérsias no âmbito do Mercosul, devendo os
Países-parte divulgar junto a seus cidadãos a existência desses mecanismos para
justamente facilitar e fomentar as boas práticas das relações negociais entre os Estados, e
principalmente, entre os particulares que exerçam suas atividades no âmbito dos países do
Mercado Comum do Sul. Este é o objeto que será analisado nos próximos subCapítulos e
Capítulos subseqüentes.

1.1. Controvérsia entre estados partes

A construção e o desenvolvimento do sistema de solução de controvérsias introduzido


pelo Protocolo de Olivos trazem algumas inovações, que foram incorporadas às demais
normas vigentes no âmbito do Mercosul, voltadas para o respaldo e para a busca de
consolidação do processo de integração do Bloco. Essa consolidação somente é possível a
partir do fortalecimento das instituições permanentes do Bloco, bem como da concretização
das decisões emanadas dessas instituições.

A busca do aperfeiçoamento dos mecanismos de solução de controvérsias tem sido


constante pelos membros do Mercosul, com o objetivo de demonstrar à comunidade

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internacional que o processo de integração no âmbito do Mercosul encontra-se em vias de
consolidação.

Nesse contexto, o Protocolo de Olivos representa mais uma tentativa de consolidação


dos instrumentos de solução de controvérsias, muito embora o Mercosul não possua uma
estrutura definitiva, que tenha essa incumbência. Esse fato demonstra a fragilidade do
processo de integração.

Segundo os textos normativos do Mercosul a estrutura de controle de controvérsias


somente será definitiva quando o processo de integração, envolvendo os elementos de
produção (capitais, serviços, bens e pessoas), estiver consolidado.

O sistema de solução de controvérsias no âmbito do Mercosul tem tido evoluções


importantes, porém ainda tímidas, devido, principalmente, a não concretude do processo de
integração que envolva todos os fatores de produção.

Inicialmente tinha-se um sistema precário e incipiente, instituído pelo Protocolo de


Brasília, no ano de 1991, embasado na arbitragem (procedimento arbitral ad hoc). No ano de
2002, passou-se a um procedimento mais eficaz, sob o ponto de vista formal, que é o
procedimento permanente, institucionalizado e com regras processuais mais claras instituído
pelo Protocolo em estudo.

O Protocolo em análise produziu efeitos tanto no que se refere à definição de mais


competências para as instituições do Mercosul, como também trouxe normas mais
específicas e precisas. Essas modificações acabaram por reacender as regras e os objetivos
no âmbito do Mercosul, principalmente em relação aos procedimentos de solução de
controvérsias no contexto interno e externo.

A existência de mecanismos de solução de controvérsias abre um leque maior de


possibilidades para os setores privados da economia que podem intensificar as suas
relações econômicas − como é o caso dos brasileiros que procuram a Argentina para
participar de cursos de capacitação, e até mesmo de graduação, protegidos pelo manto dos
acordos, tratados e protocolos firmados pelos Estados Partes do Mercosul.

O primeiro mecanismo voltado para a solução de controvérsias é a adoção de políticas


comuns com o objetivo de conciliar os interesses econômicos de cada um dos países que
compõem o Mercosul, como também os interesses dos particulares. Esta observação se faz
importante pelo fato de serem as diferentes políticas econômicas e sociais adotadas pelos
Estados Partes, prejudicando o processo de integração.

Nesse sentido, o Protocolo de Olivos, ao dispor que:

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Artigo 1 – “As controvérsias que surjam entre os Estados Partes sobre a
interpretação, a aplicação ou o não cumprimento do Tratado de Assunção,
do Protocolo de Ouro Preto, dos protocolos e acordos celebrados no marco
do Tratado de Assunção, das Decisões do Conselho de Mercado Comum,
das Resoluções do Grupo de Mercado Comum e das Diretrizes da
Comissão de comércio do Mercosul serão submetidas aos procedimentos
estabelecidos no presente Protocolo.”
Essa disposição estabelecida no artigo primeiro do documento em estudo demonstra o
interesse dos Estados participantes do Bloco em definir um instrumento de solução de
controvérsia, bem como define o Protocolo de Olivos o novo mecanismo de solução de
controvérsias.

Questão que também merece relevo é a disposição constante no Protocolo que abre a
possibilidade de ao invés da submissão da controvérsia ou conflito a órgãos do Mercosul,
possa a parte demandante decidir interpor a sua reclamação junto à Organização Mundial do
Comércio e, se decidir por este caminho, não mais poderá recorrer aos mecanismos
estabelecidos no Protocolo de Olivos.

O fato narrado no parágrafo anterior demonstra que os mecanismos de solução de


controvérsias no âmbito do Mercosul possuem uma fragilidade muito grande devido a
possibilidades como esta em que Estados Partes do Bloco possam, em controvérsias,
relegar a um segundo plano os mecanismos definidos pelo Mercosul, em detrimento da
escolha pela análise do caso pela OMC.

Deve-se ressaltar, também, que há no protocolo a possibilidade de as partes que


celebram um contrato ou acordo internacional definirem, contratualmente, um foro
competente para dirimir dúvidas, além de julgar ou mediar, por meio de árbitros e
mediadores, respectivamente, que versem sobre o objeto contratado.

Foram também definidos mecanismos relativos a aspectos técnicos das questões que
envolvam interesses dos Estados–parte, ou até mesmo de interesses de particulares, no
âmbito do Mercosul, podendo, inclusive, estabelecer mecanismos específicos para dirimir as
divergências entre operações disciplinadas em instrumentos de políticas comerciais comuns,
que ficam à mercê de uma aprovação por decisão do Conselho do Mercado Comum, após a
análise técnica, de acordo com a especificidade de cada caso.

O protocolo prevê a emissão de opiniões consultivas, emitidas a partir de um regime de


solicitação levado a efeito perante o Conselho de Mercado Comum, que estabelece os
critérios a serem adotados, bem como os mecanismos aplicáveis a opiniões consultivas
solicitadas ao Tribunal Permanente de Revisão, definindo o alcance e os procedimentos que
serão observados.

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Pelo que se percebe, o novo instrumento normativo para solução de controvérsias
efetivamente impõe uma maior institucionalização, na medida em que define um rito próprio
a ser respeitado por todos aqueles que estejam na jurisdição dos órgãos do Mercosul. Esse
fator traz para os membros do Bloco, e para os cidadãos do Mercosul, maior segurança
jurídica.

É claro que ainda muito tem a ser feito para assegurar uma menor interferência política
nas decisões que julguem os casos de desrespeito às regras do Mercosul, fato que somente
será possível com a efetiva criação de um tribunal internacional voltado para o julgamento
das questões extra-Estados e que estejam na jurisdição do Mercosul.

Alguns autores, contrários ao processo de integração, afirmam que permitir que decisões
de Órgãos Internacionais possam ser aplicadas imediatamente no âmbito interno, afronta o
princípio constitucional da soberania, na medida em que este ficaria relegado a um segundo
plano.

Essa idéia é, sem dúvidas, equivocada, uma vez que aceitar a eficácia de decisões de
órgãos internacionais, por meio de normas definidas em tratados e convenções é, acima de
tudo, um ato de soberania, sendo esta a opinião de Eduardo Biacchi Gomes (2003, p. 80),
ao defender que:

“[...] há a necessidade de se observar que nada de incomum reside nesse


fato posto que é o próprio Estado que, por um ato de soberania, aceita por
meio da assinatura de um tratado se sujeitar à jurisdição de um tribunal
internacional e, em face dos princípios clássicos de Direito Internacional
Público (pacta sunt servanda e reciprocidade), deverá cumprir as normas
decorrentes do tratado.”
Essas normas internacionais, uma vez em vigor, tornam mais eficazes as estruturas do
Bloco, já que exercem sobre os indivíduos, Estados e suas instituições como normas de
condutas ou comportamentais, estabelecendo um parâmetro de atuação no âmbito interno e
externo, a partir da obrigatoriedade de respeito dos direitos e interesses do Bloco.

Nesse caso, estar-se-á diante de mais um conflito entre os interesses individuais de um


país ou indivíduo, com os interesses dos demais países do Bloco e de toda a coletividade,
havendo a necessidade de verificação dos interesses envolvidos, devendo prevalecer os
interesses coletivos em detrimento dos interesses individuais, conforme preceitua a
Constituição Federal Brasileira de 1988.

Não se deve também deixar de observar que qualquer mecanismo de solução de


controvérsia tem que, obrigatoriamente, respeitar os direitos humanos estabelecidos pela
Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Nesse sentido, Brito Filho conceitua Direitos Humanos como:

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[...] o conjunto de direitos e garantias conferidas à pessoa humana enquanto
indivíduo, coletividade e gênero, oponíveis e exigíveis contra o Estado e
outras pessoas, visando a igualdade, o respeito à dignidade e o
estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento de todos
(BRITO FILHO, 2002, p. 20).
Já Bonavides (2005, p. 560), tratando dos direitos humanos enquanto direitos
fundamentais, afirma ser “aqueles direitos que o direito vigente qualifica como tais”. Outro
autor que formula um conceito dos referidos direitos de forma coerente é Perez Luno, ao
considerá-los:

[...] el conjunto de facultades e instituciones que, en cada momento histórico,


concretan las exigencias de la dignidad, la libertad y la igualdad humanas,
las cuales deben ser reconocidas positivamente por los ordenamientos
jurídicos a nivel nacional e internacional. Ya los direitos fundamentais serán
aquellos derechos humanos garantizados por el ordenamiento jurídico
positivo, en la mayor parte de los casos en su normativa constitucional, y
que suelen gozar de una tutela reforzada. (LUÑO, apud BORNHOLDT,
2005, p. 59)
Nota-se, por parte da comunidade internacional, a universalização de valores que têm
como elementos principais a definição de direitos fundamentais baseados nos direitos
humanos, em especial o princípio da dignidade. Este é o principal foco para a adoção de
padrões de respeito ao ser humano por toda a comunidade internacional, servindo de
parâmetro para definição dos Estados que merecem ou não compor a referida comunidade.

Segundo Schmitt (apud BONAVIDES, 2005, p. 561), do ponto de vista material, os


direitos fundamentais variam conforme a ideologia, a modalidade de Estado, a espécie de
valores e princípios que a Constituição consagra. Em suma, cada Estado tem seus direitos
fundamentais específicos, portanto, os direitos fundamentais propriamente ditos podem ser
entendidos, essencialmente, como os direitos do homem livre e isolado e devem ser
assegurados pelo Estado, embora afirme que se resumam a uma liberdade tida como
ilimitada diante do poder do Estado, mas, a rigor, limitada, mensurável e controlável, ainda
conforme Bonavides (Op. cit.), que, enfocando a visão de Carl Schmitt, os direitos
fundamentais genuínos apresentam-se, excepcionalmente, como um critério legal
mensurável em sua extensão e no seu conteúdo.

A Declaração dos Direitos do Homem de 1789 estabelece, essencialmente, os direitos


fundamentais à liberdade e à dignidade enquanto valores históricos e filosóficos, já que se
constituem em direitos inerentes à condição humana. Universalizar esses direitos é um ideal,
pois, dada a sua abstração e generalidade, se constituem num parâmetro de submissão da
norma que não pode afrontá-los. Os direitos humanos visam demonstrar que todos os
homens, mesmo com suas infinidades de diferenças nos campos da cultura, da biologia, da
economia, da filosofia, da religião, da política e do desenvolvimento merecem respeito,
tratamento igualitário, principalmente em relação às liberdades, por serem, segundo Fabio

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Konder Comparato (2005, p.1), “os únicos entes do mundo capazes de amar, descobrir a
verdade e criar a beleza.”

A afirmação dos direitos à liberdade e à dignidade humana é o reconhecimento de que,


em face dessa incomensurável igualdade, ninguém, de qualquer classe social, etnia, gênero,
crença, posição filosófica, segmento político ou religioso, pode considerar-se em situação de
superioridade em relação aos demais seres humanos, tamanha a sua igualdade, mesmo que
tudo gire em torno do homem, nem mesmo o Estado com o seu objetivo de assegurar a toda
a coletividade o bem comum e o bem estar social. Esses preceitos são justificados
seguidamente ao longo da história pela ciência, pela filosofia e pela religião.

Essa inserção no tocante aos direitos humanos no presente estudo sobre o Protocolo de
Olivos é importante devido, especificamente, à necessidade e à importância dada pelo
Direito Internacional e pelo Direito Comunitário aos direitos humanos, que são chamados no
Brasil de direitos fundamentais a partir do momento em que ocorre a sua inserção no texto
Constitucional.

As controvérsias no âmbito do Mercosul podem acontecer a partir do desrespeito por


qualquer dos países aos direitos humanos, com atos praticados contra um cidadão do Bloco
econômico ou até mesmo pelo desrespeito a normas de liberdade de iniciativa ou de
concorrência, a regras comerciais e de solidariedade entre os Estados Partes. Em muitas
oportunidades a emissão de pareceres contendo opiniões consultivas, antes da prática de
atos violadores do protocolo, evitaria o desrespeito aos direitos dos cidadãos que exercem
suas atividades no âmbito do Mercosul, ou até mesmo dos Estados.

1.1.1. As negociações diretas como mecanismos de solução de controvérsias

No Protocolo de Olivos também ficou estabelecido que os Estados, visando evitar a


intervenção dos órgãos de soluções de controvérsias definidos pelas normas disciplinadoras
do Mercosul, poderiam, no exercício de sua soberania, antes de submeter à apreciação de
órgãos como o Tribunal Permanente de Revisão, adotar o regime de negociações diretas e
bilaterais, na busca de que a diplomacia resolva o impasse ou até mesmo a controvérsia por
meio de um acordo.

Segundo o disposto no artigo 5 do protocolo em estudo, “as negociações diretas não


poderão, salvo acordo entre as partes na controvérsia exceder um prazo de quinze (15) dias
a partir da data em que uma delas comunicou à outra a decisão de iniciar a controvérsia”.

É evidente que o dispositivo legal citado tem o condão de disciplinar os fatos tidos como
violadores dos direitos dos Estados Partes. Para evitar que as violações fiquem sem solução

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durante muito tempo, cada Estado pode por meio de negociações sem a participação do
Conselho de Mercado Comum, ou do Grupo de Mercado Comum, ou até mesmo do Tribunal
Permanente, ou de árbitros sem a observância do prazo estabelecido neste protocolo, desde
que o citado acordo ou a controvérsia não prejudique os interesses do Mercosul como um
todo, não sendo esta, por exemplo, a questão do gás natural boliviano, que abastece quase
todos os países do Bloco. Pode também ser citada a tensão existente entre os vizinhos
Venezuela e Colômbia, atualmente.

No tocante a aspectos comerciais, as barreiras impostas pela Argentina ao Brasil, e vice-


versa, acerca de questões envolvendo produtos e matérias-primas, há a necessidade de
uma intervenção, não apenas de Argentina e Brasil, mas de todos os países que compõem o
Mercosul, na medida em que restarão prejudicados de forma direta ou indireta, observadas
as regras de reciprocidade entre os Estados.

Com esse dispositivo os idealizadores do Protocolo de Olivos visaram evitar que fatos
isolados tomassem contornos a prejudicar os interesses de integração dos países do Bloco,
além de buscar o entendimento, a negociação e a harmonização de interesses. Está claro
também que, não havendo acordo entre as partes, deverá a controvérsia ser submetida ao
crivo da negociação direta.

O conhecimento da existência de controvérsias no âmbito do Mercosul será dado,


principalmente, por intermédio da Secretaria Administrativa do Mercosul, especificando quais
os problemas, que tipos de gestões estão sendo feitas nos processos de negociação, como
também os Estados envolvidos apresentarão os resultados obtidos nos processos de
negociação.

O processo de negociação mostra-se como um dos mais importantes elementos na


harmonização de interesses econômicos e sociais dos Estados e dos cidadãos dos países
do Mercosul, principalmente quando se tem uma forma de integração que não está
totalmente concretizada, na medida em que, mesmo tendo adotado o Tratado de Assunção
e os protocolos e acordos do Mercosul, os tratados e os acordos internacionais firmados
pelos países que compõem o grupo com outros países que componham ou não o grupo,
permanecem válidos.

Nesse sentido, Rodas (1997, p. 71) afirma que:

No momento em que os quatro países do Mercosul, entre si, adotam e


colocam em vigor um determinado tratado internacional, aquelas antigas
obrigações que eles contrataram com os demais se mantêm. E, portanto,
nós temos aquela questão de conflito de tratados, que tiveram no seu
primeiro momento o condão de facilitar, mas que também poderão vir a
dificultar. Não significa que estaria advogando pela não feitura dos tratados,
mas para que não se crie um cipoal na esfera internacional, tão ou mais

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complicado do que aquele derivado da existência de um sem número de
jurisdições distintas [...].
Essa é também uma constatação de que, para a adequação ou aproximação dos
sistemas jurídicos dos países-parte do Mercosul, é necessário que o processo de
negociação seja acentuado e as instituições responsáveis pela sua condução sejam e
estejam fortalecidas, beneficiando, assim, o processo de integração econômica regional.

1.2. A necessidade de aperfeiçoamento dos instrumentos de solução de


controvérsia

O Mercosul tem modificado os seus processos de solução de controvérsias passando de


um sistema provisório, definido pelo Tratado de Assunção, substituído pelo protocolo de
Brasília de 1991, ficando o sistema definitivo para ser implantado quando o Mercosul
chegasse ao formato de mercado comum, fato que ocorreria até o final do ano de 1994 e
que, concretamente, não ocorreu.

Em 1994, o protocolo de Ouro Preto buscou reformular a estrutura institucionalizada do


Bloco econômico, dispondo sobre a solução de controvérsias, mas ainda provisória.

Esses instrumentos normativos dispunham sobre um meio de solução de controvérsias


iniciado pela Comissão de Comércio do Mercosul ou, diretamente, por representação junto
ao Grupo de Mercado Comum. As representações ou reclamações poderiam ser feitas tanto
por membros do Mersosul (países), quanto por particulares.

É necessário também que haja um acompanhamento das controvérsias submetidas à


apreciação dos órgãos competentes, verificando-se quais as soluções encontradas, se foram
encontradas, bem como se há aplicação e respeito pelas partes da decisão adotada,
principalmente quando emanadas dos tribunais arbitrais.

Já o Protocolo de Olivos assinado no início de 2002 (18 de fevereiro de 2002),


revogando o Protocolo de Brasília, mas mantendo o de Ouro Preto, tem o objetivo precípuo
de fazer com que o sistema de solução de controvérsias seja baseado na correta
interpretação e aplicação das normas internacionais (fundacionais e originárias) do Bloco
econômico.

A evolução do processo integracionista no Mercosul exigiu e exige um aperfeiçoamento


do sistema de solução de controvérsias, levando os Estados Partes a buscarem no
Protocolo de Olivos as condições para as soluções de conflitos, optando pela negociação
coletiva e pela arbitragem.

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Esse intento visa uma harmonização, na linguagem atual, mais apropriada, uma
orientação para que se realize a aproximação das legislações dos países-parte do Mercosul.

Quanto às controvérsias, o protocolo em estudo visa definir um instrumento único para


sua solução. Essa forma única de solução de controvérsias é baseada na institucionalização
e juridicidade, como garantias para as partes envolvidas nas controvérsias.

O Protocolo de Olivos busca também definir regras processuais mais claras, numa
evidente tentativa de construção de uma jurisprudência voltada para a melhoria e o
fortalecimento das instituições do Mercosul.

Pelo que se percebeu, o sistema de solução de controvérsias disciplinado no Protocolo


de Olivos deve ser aplicado às controvérsias que surjam entre os Estados sobre a
interpretação, aplicações ou até mesmo em face do não cumprimento do Tratado de
Assunção, dos Protocolos e acordos celebrados a partir do Tratado de Criação do Mercosul,
bem como das decisões do Grupo de Mercado Comum e das Diretrizes das Comissões e
subcomissões do Mercosul.

Entretanto, é necessário manter estudos e acompanhamentos constantes dos


instrumentos de solução de controvérsias para a melhoria dos mecanismos e das soluções
encontradas para a controvérsia pautada no ideal de justiça, principalmente, pela
fragmentação e relocalização dos elementos de produção conforme doutrina de Castro
(2000, p. 103) ao dispor que: “A fragmentação, relocalização da produção e crescente
utilização de métodos de flexibilização das formas de gestão têm tido efeitos diretos na
redução de empregos.”

É evidente que esses fatores não influenciam apenas na questão do emprego, mas
também em fatores econômicos e sociais que devem ser observados nos processos de
integração gerando muitas vezes conflitos que precisam ser resolvidos por instrumentos de
solução de controvérsia.

Também é necessário o aprimoramento como mecanismo de controle das intenções de


aumento da atuação de empresas no âmbito dos países do Mercosul, com o intuito de
aumentar as suas participações no mercado, intensificando, ainda, a participação desses
conglomerados internacionais no processo de privatização. Elemento que também contribuiu
para a adoção de padrões de produtividade global, o que eleva a possibilidade de
controvérsias, sendo necessários cada vez mais mecanismos de solução e prevenção das
mesmas.

1.2.1. Os mecanismos relativos aos aspectos técnicos

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Quando os dirigentes dos órgãos de cúpula do Mercosul entenderem necessário,
estabelecerão, segundo disposição inserta no Protocolo de Olivos, mecanismos específicos
para resolução de conflitos.

Cabe ao Conselho do Mercado Comum definir e aprovar os limites de atuação desses


mecanismos, bem como que tipo de decisão e a forma de execução que esses instrumentos
poderão utilizar.

Entre esses mecanismos podem ser citadas as opiniões consultivas, emitidas a partir de
um regime de solicitação, visando a prevenção de contendas no âmbito do Mercosul. Essas
opiniões consultivas são direcionadas para o Tribunal Permanente de Revisão.

Outro mecanismo, talvez o mais eficaz para as negociações diretas estabelecidas no


Capítulo IV do Protocolo de Olivos, é que os Estados Partes podem resolver os seus
conflitos sem a utilização ou acionamento dos mecanismos de solução de cunho ostensivo e
contencioso, embora a norma em estudo preveja a necessidade de que o Grupo de Mercado
Comum seja, por intermédio da Secretaria Administrativa do Mercosul, informada acerca do
início da controvérsia.

Para Cavalcante (2006, p.36):

“É importante notar que o sistema de soluções de lides comerciais apesar


do processo de evolução porque passou nas três fases mencionadas,
sempre adotou como meios de solução de conflitos a negociação direta, a
mediação e a arbitragem”.
É bom ressaltar que, no tocante aos aspectos técnicos, o fato de ter o Mercosul um
sistema aberto, cuja solução de controvérsias depende de uma Decisão do Conselho de
Mercado Comum, deixa a estrutura institucional para solução de controvérsias no Mercosul
bastante fragilizada, na medida em que pode ser morosa, ou até mesmo casuística. Talvez
seja esta a razão pela qual os países e os particulares que possuem contendas no âmbito do
Mercosul tenham, muitas vezes, preferido ingressar com suas reclamações junto à
Organização Mundial do Comércio, fato que enfraquece o Mercosul.

1.3. O papel do Conselho de Mercado Comum

A definição de políticas macroeconômicas comuns para os países-parte do Mercosul, ou


até mesmo as suas estratégias coordenadas para o desenvolvimento e fortalecimento do
Bloco, como também a adoção de medidas conjuntas voltadas para a construção de um
mercado comum, baseadas no desempenho de atividades, cumprimento de metas e tarefas
por cada membro voltadas para a consolidação do Bloco, deve ser norteada pelos órgãos de
cúpula, principalmente órgãos de execução e administração dessas tarefas, sendo esta
função atinente ao Conselho do Mercado Comum e ao Grupo de Mercado Comum.

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Portanto, o Conselho de Mercado Comum e o Grupo de Mercado Comum são os
primeiros órgãos responsáveis pela condução do desenvolvimento do espaço econômico e
social comum, conforme proposta inserida nos Tratados e Protocolos do Mercosul.

Atualmente, o Conselho de Mercado Comum possui o status de órgão do Mercado


Comum superior, responsável pelo desenvolvimento e tomada de decisões, visando
assegurar o cumprimento das missões e do respeito aos prazos voltados para que os
Estados Partes atinjam as metas no rumo da construção do Mercado Comum.

O Conselho de Mercado Comum é composto pelos ministros da Economia e das


Relações Exteriores dos Estados Partes, cuja incumbência é a de coordenar e conduzir as
reuniões do Conselho. As reuniões devem ocorrer pelo menos uma vez ao ano, com a
participação dos Presidentes dos Países-parte.

A presidência do Conselho é exercida de forma rotativa entre os membros do Mercosul,


em observância à ordem alfabética, cujo mandato é fixado em períodos de seis meses.

No tocante à solução de controvérsias o Conselho do Mercado Comum possui a


responsabilidade de tomar as decisões que visem assegurar o cumprimento dos objetivos
estabelecidos nos tratados, acordos e protocolos disciplinadores de direitos e obrigações no
âmbito do Mercosul.

Segundo Leal (2001, p.96), ao tratar do CMC enfoca que entre as suas
responsabilidades está a de:

[...] fiscalizar o cumprimento do tratado de Assunção, de seus protocolos e


dos acordos firmados em seu âmbito; formular políticas e promover as ações
necessárias à conformação do mercado comum; exercer a titularidade da
personalidade jurídica do Mercosul; negociar e firmar acordos em nome do
Mercosul com terceiros países, grupos de países e organizações
internacionais; manifestar-se sobre as propostas que lhe sejam elevadas
pelo Grupo de Mercado Comum.

Denota-se que uma vez emitida uma decisão pelo CMC sobre as matérias que lhe são
afetas, esta se torna obrigatória para todos os Estados Partes ou para as partes envolvidas
na controvérsia, uma vez que, com o Protocolo de Olivos, as reclamações podem ser feitas
tanto por particulares quanto pelos Estados Partes, o que demonstra uma evolução
introduzida pelo citado protocolo.

Ainda em relação ao Mercosul, existe um órgão auxiliar do Conselho de Mercado


Comum e do Grupo de Mercado Comum, a Comissão de Comércio do Mercosul, cujo
objetivo e obrigação é a efetiva aplicação das políticas e regras estabelecidas em comum
acordo entre os Estados Partes para a constituição e o correto funcionamento da até então
União Aduaneira, além de promover o acompanhamento e a revisão dos temas e matérias

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que tenham relação com os modelos de políticas comerciais ou empresariais adotados pelos
países que compõem o grupo, nas relações intra-regionais e com países que não compõem
o Mercosul.

Existem também outros órgãos auxiliares, como a Comissão Parlamentar Conjunta,


formada por representantes dos parlamentos dos países-parte, cujo objetivo principal é a
agilização da efetividade e da definição dos meios para a entrada em vigor das normas do
Mercosul no âmbito intra-Estado. Além dessa atribuição, a Comissão Parlamentar é obrigada
a encaminhar recomendações sobre medidas a serem adotadas pelo Conselho de Mercado
Comum.

Já no tocante aos aspectos operacionais das medidas a serem adotadas pelo Conselho
de Mercado Comum, estes ficam a cargo da Secretaria Administrativa do Mercosul,
responsável pelo assessoramento dos demais órgãos do Mercosul, devido a suas
obrigações de manter os arquivos do Mercosul, publicar e difundir as decisões do Mercosul,
organizar as reuniões do Conselho de Mercado Comum, do Grupo de Mercado Comum e do
Conselho Consultivo do Mercado Comum, tendo também a incumbência de editar o Boletim
Oficial do Mercosul.

Em linhas gerais são essas as atribuições do Conselho de Mercado Comum, que atua
sob a cooperação de outros órgãos do Mercosul, constituindo-se em mais um instrumento
que contribui para a solução de controvérsias no âmbito do Mercosul e para a consolidação
da momentânea União Aduaneira, visando no futuro a concretização do sonho da integração
econômica plena entre os seus membros.

1.4. Intervenção do grupo de mercado comum

Ao lado do Conselho de Mercado Comum, o Grupo de Mercado Comum (GMC) tem


importância fundamental na definição de mecanismos de controle, prevenção e eliminação
de todas as formas de controvérsias ocorridas no âmbito do Mercosul.

Por essa razão devem ser estudadas e analisadas as suas atribuições e as formas
utilizadas pelo GMC para intervir nas relações estabelecidas no âmbito do Mercosul, visando
solucionar as controvérsias que venham a existir.

1.4.1. Atribuições e as intervenções do grupo de mercado comum

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O Grupo de Mercado Comum (GMC) constitui-se no órgão executivo do Mercosul. Tem
como integrantes quatro membros titulares e quatro membros alternos por país-membro.
Esses membros são designados pelos respectivos Estados. Entre os membros devem estar,
necessariamente, os representantes dos Ministérios das Relações Exteriores, dos bancos de
emissão de cada Estado, bem como representantes dos ministérios da economia, sendo
coordenado pelos ministérios das Relações Exteriores de cada Estado.

Entre as principais atribuições do GMC, dentre aquelas definidas pelo Tratado de


Assunção e demais normas do Mercosul subseqüentes, podem ser citadas a atribuição de
ser responsável pela proposição de projetos visando delinear as decisões do Conselho de
Mercado Comum; a partir das decisões do Conselho, é também o GMC responsável pela
adoção das medidas necessárias ao efetivo cumprimento de suas decisões, visando evitar
qualquer subterfúgio que possa ser utilizado pelas partes ou até mesmo pelo Estado Parte
na tentativa de não cumprir a decisão.

Podem também ser citadas como atribuições do GMC a de criar, extinguir, modificar ou
fundir órgãos do Mercosul, como, por exemplo, o subgrupo de trabalho n. 10, responsável
pelo estudo das questões trabalhistas e sociais no âmbito da União Aduaneira.

É possível também que o Grupo de Mercado Comum realize reuniões especializadas ou


especificas voltadas para o cumprimento de seus objetivos.

Tem também o GMC a responsabilidade de pronunciar-se em todas as propostas que lhe


forem submetidas por órgãos do Mercosul, desde que estejam relacionadas com a sua
competência, bem como submeter a sua minuta de regimento interno ao Conselho de
Mercado Comum. É também atribuição do GMC a escolha do diretor da Secretaria
Administrativa do Mercosul, tendo a incumbência de supervisionar a forma de atuação da
citada Secretaria e de homologar as normas regimentais internas do Foro Consultivo
Econômico e Social e da Comissão de Comércio do Mercosul.

As decisões emanadas do GMC estão representadas em resoluções que, uma vez


emitidas a sua observância, se torna obrigatória para todos aqueles que estejam exercendo
suas atividades no Mercosul, principalmente para os Estados Partes.

O Protocolo de Olivos concede aos cidadãos da União Aduaneira, bem como aos
Estados Partes, a possibilidade de submissão de controvérsias ao GMC, inserindo entre as
suas atribuições a de se pronunciar sobre as questões que lhe sejam submetidas com base
no citado Diploma Legal. Tal possibilidade está inserida no Protocolo, no artigo 7, número 1,
senão observe-se:

Artigo 7 Atribuições do GMC – 1. Se a controvérsia for submetida ao Grupo


de Mercado Comum pelos Estados Partes na controvérsia, este fomulará

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recomendações que, se possível deverão ser expressas e detalhadas,
visando à solução da divergência.
É bom observar que o Protocolo em estudo não obriga os Estados Partes ou qualquer
interessado no âmbito do Mercosul ou fora dele a submeter suas dúvidas ou divergências
sobre violações às normas legais do Mercosul ao Grupo de Mercado Comum. Pelo texto
legal, é possível emitir a interpretação no sentido de que a citada norma traz uma faculdade,
porém, uma vez exercida, o cumprimento de sua decisão se tornaria obrigatório para os
integrantes do Mercosul.

Ainda em relação às atribuições do GMC, no item 2, do artigo 7 do Protocolo de Olivos


encontra-se a possibilidade de um Estado que não faça parte do Mercosul, ao definir que:
“se a controvérsia for levada à consideração do Grupo de Mercado Comum a pedido de um
Estado que dela não é parte, o Grupo Mercado Comum poderá formular comentários ou
recomendações a respeito”.

Pelo texto legal, há a possibilidade de o terceiro interessado obter comentários sobre a


questão pelo GMC, podendo, ainda, o GMC emitir recomendações para os Estados Partes
seguirem no sentido de cumprir integralmente as normas do Mercosul.

Uma vez submetida à apreciação de uma controvérsia ao GMC, e este decidindo


instaurar o procedimento definido no artigo 7, terá início o processamento da questão e
designada a data para a realização de uma reunião para análise e considerações sobre a
controvérsia, iniciando daí a contagem do prazo máximo de trinta dias para a resolução da
controvérsia.

Capítulo II – procedimentos arbitrais no Mercosul

2. Procedimento arbitral ad hoc

Nas formas de resolução dos conflitos entre as pessoas (jurídicas e físicas) é cediço que
a arbitragem é uma delas, incluída em uma das hipóteses da heterotomia que, no caso, um
terceiro é quem tem a incumbência de resolver a querela. Contrapõe-se pela autonomia em
que as partes envolvidas no conflito resolvem o problema e é efetivada pela autocomposição
ou autotutela.

A arbitragem Ad Hoc, igualmente denominada de avulsa, é aquela em as partes de


comum acordo nomeiam os árbitros e administram elas próprias o Procedimento Arbitral.

Internamente, cada um dos países – Brasil e Argentina – tem previsões sobre o


procedimento arbitral. No Brasil, atualmente, tal procedimento está disposto na Lei n.
9.307/96, que se apresenta como bem sistematizada legislação, hoje já tendo superado a

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pecha da inconstitucionalidade que muito fora discutida internamente até 12 de dezembro de
2001 e que a sentença arbitral é elevada ao patamar de título executivo judicial (art. 475-N,
inciso IV do CPC), porém, a crítica que se faz é por ser ainda o procedimento despido de
efeitos práticos. Por sua vez, o procedimento arbitral também tem previsão no Direito
Argentino e, prova disso, é que se encontra no Código Procesal Civil y Comercial de la
Nación, no art. 736 e seguintes e no Código Procesal Civil y Comercial de la Província de
Buenos Aires (onde está fincada a sede da UMSA), a partir do art. 744 e seguintes.

Além da regulação do procedimento arbitral internamente em cada um dos países


mencionados alhures, justamente pela importância da arbitragem na resolução dos conflitos
e até para desafogar a carga que pesa sob as unidades judiciárias na prestação jurisdicional,
também se verifica o Procedimento Arbitral para a solução das controvérsias no Mercosul.

Logicamente, com a criação do Mercosul, era de se esperar a ocorrência de conflitos


entre os Estados Partes (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e, para resolução daqueles,
um procedimento adequado e eficiente.

Inicialmente usava-se o Protocolo de Brasília para Solução de Controvérsias, adotado


em 17 de dezembro de 1991, assim como o Regulamento do Protocolo de Brasília, aprovado
pela Decisão do Conselho do Mercado Comum (CMC) 17/98, mas estes foram derrogados,
integralmente, desde a vigência do Protocolo de Olivos para a Solução de Controvérsias no
Mercosul que ocorrera trinta dias após a publicação, que aconteceu em 18 de fevereiro de
2002 e cujo texto original está depositado na República do Paraguai (art. 52).

Após a publicação e vigência do Protocolo de Olivos o Conselho do Mercado Comum


promulgou pelo menos duas decisões importantes, quais sejam: o Regulamento do
Protocolo de Olivos para Solução de Controvérsias no Mercosul (n. 37/03) e as Regras
Modelo de Procedimento para os Tribunais Arbitrais Ad Hoc do Mercosul (n. 30/04), que
juntas servem ao Protocolo de Olivos.

A partir das justificativas postas no início do Protocolo de Olivos, vale destacar um


reconhecimento importante de “que a evolução do processo de integração no âmbito do
Mercosul requer o aperfeiçoamento do sistema de solução de controvérsias” e justamente
por isso é que fora editado o mencionado Protocolo.

Num todo, o Protocolo de Olivos é bem sistematizado e, sua aplicação no Mercosul


tornou-se mais eficiente com as Decisões do Conselho do Mercado Comum de n. 37/03 e
30/04, estando, assim, claras as disposições sobre Procedimento Arbitral Ad Hoc.

Numa visão geral, as controvérsias no âmbito do Mercosul poderão se resolver antes


mesmo de ser suscitado o Procedimento Arbitral Ad Hoc, pois, o art. 4 dispõe sobre a
faculdade das Negociações Diretas que deverá se prolongar até quinze dias a partir da data

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em que uma delas comunicou a outra decisão de iniciar a controvérsia, salvo a ocorrência de
acordo entre as partes para exceder o mencionado prazo.

Também como procedimento facultativo, há a possibilidade de ocorrer uma Intervenção


do Grupo Mercado Comum (GMC), isto superada a tentativa das negociações diárias.

Assim é que qualquer dos Estados Partes na controvérsia poderá iniciar diretamente o
procedimento, submetendo a querela à consideração do Grupo Mercado Comum, que terá a
incumbência de avaliar a situação, aliado à oportunidade que é dada às partes para expor
suas posições, inclusive podendo requerer, se entender necessário, o assessoramento de
especialistas.

Há uma outra hipótese, a de levar a controvérsia à consideração do GMC, quando um


Estado, que porventura não seja parte na controvérsia, requerer o procedimento ao término
das negociações diretas, desde que o faça de forma justificada.

Na primeira hipótese relatada, o GMC fará recomendações expressas e detalhadas para


a solução do conflito. Ao revés, na segunda hipótese o GMC apenas formulará comentários
ou recomendações a respeito.

Para tais pronunciamentos, o GMC terá o prazo máximo de trinta dias, contados da data
da reunião em que a querela fora levada à consideração do GMC.

Chega-se, portanto, ao Procedimento Arbitral Ad Hoc, logicamente, desde que não tenha
sido viável a solução da controvérsia anteriormente nos métodos supra destacados.

2.1. A abertura do procedimento arbitral

Como dito acima, superado os métodos da Negociação Direta e submissão da


controvérsia ao GMC, para iniciar o Procedimento Arbitral é necessário que qualquer um dos
Estados Partes proceda, expressamente, comunicação da decisão de recorrer ao
procedimento previsto no art. 9 do Protocolo de Olivos, aduzindo que a comunicação deverá
ser dirigida à Secretaria Administrativa do Mercosul, tendo esta a tarefa de notificar,
imediatamente, o outro ou os outros Estados Partes envolvidos na controvérsia, assim como
deverá fazer igual comunicação ao GMC.

Destaque-se que, na abertura do Procedimento Arbitral, a função da Secretaria


Administrativa do Mercosul é de comunicações iniciais aos Estados e ao GMC,
contemplando a publicidade do procedimento, o que é basilar e necessário para
conhecimento de todos e para o exercício do contraditório e do devido processo legal.

2.2. A composição do tribunal ad hoc

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Tratando da composição do Tribunal, e antes mesmo de comentar sobre o Protocolo de
Olivos e Decisões do GMC que disciplinam sobre o assunto, necessário enfatizar que para
escolha dos árbitros três elementos básicos têm que sobressair.

O primeiro é a aceitação do Estado Parte, e como o Protocolo de Olivos deixa claro, a


escolha se dá por uma faculdade que dada àquele membro para a indicação da pessoa que
funcionará como árbitro. Só será, logicamente, indicado se tiver a aceitação do Estado Parte.

O segundo elemento necessário é a confiança que deva merecer o árbitro dos Estados
Partes envolvidos na controvérsia, até porque sua responsabilidade é tamanha para
funcionar como membro do Tribunal e até maior para quem vai presidir o mesmo.

Já o terceiro elemento é que o árbitro deva ter conhecimento profundo da matéria posta
em questão e que será julgada pelo Tribunal.

Em resumo, o princípio que norteia a atuação de um árbitro no Tribunal é o bom senso, a


capacidade, a imparcialidade e atuação ética.

Feitos estes comentários iniciais, cabe, agora, enfatizar que o Tribunal Arbitral Ad Hoc é
composto por três árbitros, seguindo, destarte, ordem para nomeação destes.

Antes mesmo de determinar os parâmetros necessários para escolha dos três árbitros,
diga-se que fica registrada na Secretaria Administrativa do Mercosul um lista contendo doze
nome de árbitros de cada Estado Parte e tal designação se dá acompanhada do curriculum
vitae de cada um deles, ressaltando que desta indicação será notificada de maneira
simultânea os Estados Partes e à Secretaria Administrativa do Mercosul, como forma de dar
amplo conhecimento a todos de quem são os indicados.

Ainda neste aspecto, diante da comunicação supra, é dada a faculdade a cada Estado
Parte de solicitar esclarecimentos sobre as pessoas designadas pelos outros Estados Partes
e tal solicitação só poderá ser feita no prazo de trinta dias, contados desde a notificação, sob
pena de perempção e, caso haja modificação na lista originalmente posta, procede-se a
comunicação a todos os Estados Partes, sendo esta mais uma incumbência da Secretaria
Administrativa do Mercosul.

Além dos doze árbitros da lista titular, é interessante dizer que cada Estado Parte, deverá
propor mais quatro candidatos para integrar a lista de terceiros árbitros do Mercosul, e ao
menos um dos quatro árbitros indicados terá que ser de nacionalidade diversa dos Estados
Partes, sucedendo desta indicação a notificação dos demais Estados Partes por intermédio
da Presidência Pro Tempore acompanhada do curriculum vitae de cada um dos candidatos
apresentados. Também é facultada a solicitação de esclarecimentos sobre estes candidatos

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propostos pelos Estados Partes, ou, ainda, apresentar objeções justificadas aos candidatos
indicados obedecendo aos critérios do art. 35 do Protocolo de Olivos, no prazo de trinta dias.

Ocorrendo objeções, estas deverão ser comunicadas por intermédio da Presidência Pro
Tempore ao Estado Parte que fez a proposição e se no prazo de trinta dias não chegar
qualquer solução para o caso, prevalecerá a objeção feita.

Para encerrar, a lista definitiva ou as eventuais modificações deverão ser anexadas com
o curriculum vitae e deverão ser comunicadas pela Presidência Pro Tempore à Secretaria
Administrativa do Mercosul que, por sua vez, registrará e notificará os Estados Partes.

Feito este destaque para, de maneira prefacial, se compreender como se forma e se


compõe a relação maior de árbitros para daí retirar os três componentes do Tribunal Arbitral
Ad Hoc, diga-se que a composição em si é feita com a tarefa de cada Estado Parte
envolvido na controvérsia designar um árbitro titular, que deverá vir da lista de doze árbitros
previsto no art. 11.1 do Protocolo de Olivos, isto no prazo de 15 dias, com termo a quo da
data em que a Secretaria Administrativa do Mercosul tenha comunicado aos Estados Partes
envolvidos na querela a decisão de um deles recorrer ao procedimento arbitral. Além do
árbitro titular, o Estado Parte terá a incumbência de designar um árbitro, da mesma lista
antes destacada, para funcionar como suplente, devendo assumir em virtude de
incapacidade ou escusa durante o procedimento arbitral.

Em face de ocorrer desídia do Estado Parte, não nomeando os árbitros no prazo de 15


dias, ocorrerá um sorteio pela Secretaria Administrativa do Mercosul, no prazo de dois dias,
com a finalidade de escolher os árbitros; tal sorteio será da relação constante no art. 11.1 do
Protocolo de Olivos.

Definidos como se dá a indicação dos dois primeiros árbitros, a presidência do Tribunal


será determinada, inicialmente, por comum acordo entre os Estados Partes envolvidos na
controvérsia, para designação do terceiro árbitro que deverá sair da lista prevista no art. 11.1
do Protocolo de Olivos. Os Estados Partes têm o prazo de quinze dias, desde a data em que
a Secretaria Administrativa do Mercosul tenha comunicado a opção de um deles recorrer ao
Procedimento Arbitral, para a definição deste terceiro árbitro em comum acordo e se isto não
for possível cabe a Secretaria Administrativa do Mercosul escolher o terceiro árbitro, a
pedido de qualquer um dos Estados Partes envolvidos na controvérsia, através de sorteio da
lista prevista no art. 11.2 do Protocolo de Olivos, excluindo desta os nacionais dos Estados
Partes na controvérsia.

Do ato do sorteio é lavrada uma ata, conforme Regulamento do Protocolo de Olivos para
a Solução de Controvérsias no Mercosul (DEC n. 37/03), art. 20, a seguir transcrito:

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 24


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“3. O sorteio será realizado dentro dos três (3) dias de formulada a
solicitação. A SM informará aos Estados Partes a data e a hora previstas
para o sorteio. Os Estados Partes poderão designar representantes para
que assistam a esse ato. O ato será registrado em uma ata que conterá: a.
lugar e data da realização do ato; b. nome e cargo dos presentes;
c. nome dos candidatos que foram incluídos no sorteio; d. resultado do
sorteio; e. assinatura dos presentes”.
Determinados os árbitros, estes, no prazo de três dias, contados desde a notificação de
designação, deverão responder se aceitam ou não atuar na controvérsia e caso aceitem
deverão assinar declaração feita de acordo com o Regulamento do Protocolo de Olivos para
a Solução de Controvérsias no Mercosul (DEC n. 37/03), art. 21, cujo modelo segue
destacado abaixo:

“Pela presente, aceito a designação para atuar como árbitro e declaro não
ter qualquer interesse na controvérsia nem razão alguma para considerar-
me impedido nos termos do artigo 19 do Regulamento do Protocolo de
Olivos para efeitos de integrar o Tribunal Arbitral Ad Hoc constituído pelo
MERCOSUL com o fim de resolver a controvérsia entre [...]. Comprometo-
me a manter sob reserva a informação e as atuações vinculadas à
controvérsia, assim como o conteúdo do meu voto. Obrigo-me a julgar com
independência, honestidade e imparcialidade e a não aceitar sugestões ou
imposições de terceiros ou das partes, assim como a não receber qualquer
remuneração relacionada com esta atuação, exceto aquela prevista no
Protocolo de Olivos. Além disso, aceito a eventual convocação para atuar
posteriormente à emissão do Laudo, conforme previsto nos Capítulos VIII e
IX do Protocolo de Olivos”.
Ainda sobre a composição do Tribunal Arbitral Ad Hoc, interessante expor o que vem
disposto no Regulamento do Protocolo de Olivos para a Solução de Controvérsias no
Mercosul (DEC n. 37/03), art. 19 e que trata dos impedimentos para ser designado árbitro, in
verbis:

1. Não poderão ser designados árbitros ou aceitar a designação para


desempenhar-se como árbitros em um caso específico as pessoas que se
encontrem compreendidas em alguma das seguintes situações:
a. ter intervindo como representante de algum dos Estados Partes na
controvérsia nas etapas prévias ao procedimento arbitral em assuntos ou
matérias relacionados com o objeto da controvérsia;
b. ter algum interesse direto no objeto da controvérsia ou em seu resultado;
c. representar atualmente ou ter representado durante qualquer período,
nos últimos 3 anos, pessoas físicas ou jurídicas com interesse direto no
objeto da controvérsia ou no seu resultado;
d. não ter a necessária independência funcional da Administração Pública
Central ou direta dos Estados Partes na controvérsia.
2. Caso alguma das situações mencionadas no numeral 1 deste artigo
sobrevierem durante o desempenho de seu cargo, o árbitro deverá
renunciar por impedimento.
3. Se, em função do disposto neste artigo, uma das partes objetar a
designação de um árbitro provando fidedignamente a objeção, dentro dos
sete (7) dias de notificada essa designação, o Estado respectivo deverá
nomear um novo árbitro.
No caso em que a objeção não tiver sido devidamente provada será
mantida a designação efetuada”.

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 25


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Um detalhe ainda importante é que para integrar o Tribunal Arbitral Ad Hoc os árbitros
deverão ser juristas com reconhecida competência nas matérias que poderão ser postas
como objeto das controvérsias, além de conhecer todas a normas que disciplina o Mercosul.

Por fim, os árbitros privilegiaram o bom senso, objetividade, confiabilidade, sem esquecer
a imparcialidade e a independência funcional da Administração Pública Central ou direta dos
Estados Partes, além de não ter qualquer interesse na controvérsia.

2.2.1. As atribuições dos árbitros

Uma vez designados os árbitros e tendo estes aceitos o encargo, cada um deles terá a
incumbência de cumprir os prazos e formalidades previstas no procedimento arbitral até a
decisão final e mais importante do Tribunal Arbitral Ad Hoc que é justamente o Laudo Arbitral
com os requisitos de validades previsto nos arts. 16, 25 e seguintes do Protocolo de Olivos,
além do art. 40 do Regulamento do Protocolo de Olivos para Solução de Controvérsias no
Mercosul (Dec. n. 37/03).

Cada um dos árbitros, pela obrigatoriedade prevista no art. 35.2 do Protocolo de Olivos e
como atribuições dos mesmos, têm que agir com imparcialidade e independência funcional,
princípios basilares para a segurança jurídica do julgamento, destacando que a
imparcialidade deve ser tanto subjetiva, daí que está prevista a independência funcional da
Administração Pública Central ou direta dos Estados Partes, como material, por isso da
previsão do desligamento do árbitro da matéria tratada na controvérsia.

2.2.2 A definição dos objetos das controvérsias

Tomada a decisão de optar pelo Procedimento Arbitral, o Estado Parte deverá


apresentar suas argumentações, relatando o fato e justificando porque necessita buscar a
atuação do Tribunal Arbitral Ad Hoc, bem como qual a sua posição da matéria em análise.
Nesse requerimento inicial, além dos fatos retro mencionados, o Estado Parte deverá
comunicar quais as etapas que antes percorreu e por que, logicamente, não se tornou
possível o acordo.

O Regulamento do Protocolo de Olivos para a Solução de Controvérsias no Mercosul


(DEC n. 37/03), art. 13, disciplina de forma detalhada como deve ser apresentado o
requerimento inicial para dar partida ao Procedimento Arbitral:

Artigo 13 - A parte demandante enviará seu texto de apresentação ao


Tribunal, em um prazo máximo de doze (12), dias, contado do dia seguinte
à data em que as partes sejam notificadas destas regras. O texto de
apresentação deverá especificar fundamentalmente: a) a indicação dos

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Estados Partes na controvérsia; b) a designação dos Representantes ante
o Tribunal e indicação do domicílio em que se receberão as respectivas
notificações; c) os antecedentes da controvérsia; d) os fatos, atos,
omissões ou medidas que conformam o objeto da controvérsia, nos termos
do artigo 27 do Regulamento do Protocolo de Olivos; e) o direito em que se
baseia a demanda; f) a prova documental que se acompanha e outros
meios de prova oferecidos; e g) a petição.

Após isso, procede-se à notificação do outro Estado Parte envolvido na controvérsia para
apresentação de resposta, que deverá conter os requisitos do art. 14 do Regulamento do
Protocolo de Olivos para a Solução de Controvérsias no Mercosul (DEC n. 37/03), estando,
assim, posto e delimitado o objeto da controvérsia e, por ordem expressa do art. 14.1 do
Protocolo de Olivos, não mais poderá haver aditamento, emenda ou ampliação.

Ato contínuo o Estado ou parte demandada, notificado, poderá apresentar uma resposta
que necessariamente deverá observar os requisitos estabelecidos no artigo 14 do Protocolo
em estudo. São eles:

Artigo 14 – A parte demandada deverá apresentar sua resposta ao


Tribunal, num prazo de 20 (vinte) dias, contados desde o dia seguinte em
que foi notificado o texto de apresentação. O texto de resposta deverá
especificar fundamentalmente: a) a indicação dos Estados Partes na
controvérsia; b) a designação dos Representantes ante o Tribunal e
indicação do domicílio para efeitos de receber as respectivas notificações;
c) os antecedentes da controvérsia, d) os fundamentos de sua defesa, os
fatos e o direito invocado; e) a prova documental que se anexe e outros
meios de prova oferecidos; e f) a petição.
A definição do objeto da controvérsia é importante, vez que privilegia a segurança
jurídica entre as partes e torna mais prático e dinâmico o Procedimento Arbitral, pois, se ao
revés, seria impossível até cumprir os prazos previstos no Protocolo de Olivos e no
Regulamento do Protocolo de Olivos para Solução de Controvérsias no Mercosul (Dec n.
37/03), dada a constante ampliação que poderia ocorrer ainda como forma de
procrastinação da querela.

Oportuna e eficiente o teor do art. 14.1 do Protocolo de Olivos e cabe enaltecer tal
disposição, para que no conjunto de todas as normas do mesmo Protocolo possa o
Procedimento Arbitral ser célere, eficaz e até econômico processualmente.

2.2.3. As medidas provisórias

Nas controvérsias postas para análise e julgamento do Tribunal Arbitral Ad Hoc


certamente existem demandas que são mais urgentes e, mesmo sendo o Procedimento
Arbitral célere, não teria tempo para esperar a solução.

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Assim é que, para evitar danos graves e até irreparáveis, o Protocolo de Olivos, art. 15 e
o Regulamento do Protocolo de Olivos para Solução de Controvérsias no Mercosul (Dec n.
37/03), art. 29, prevêem a possibilidade de se requerer as Medidas Provisórias.

Diante de uma situação fática que está justificada como de urgência e requer prioridade
e, ainda, com escopo maior de evitar danos graves e que não tenham até ressarcimento,
poderá o Tribunal Arbitral Ad Hoc determinar as medidas provisórias que considere cabíveis.

O Protocolo de Olivos não especifica quais a medidas que poderão ser determinadas,
ficando a critério do árbitro tal definição, esbarrando esta subjetividade no bom senso, na
razoabilidade, na proporcionalidade e na segurança jurídica e bem comum.

Determinada a medida provisória, o Tribunal Arbitral Ad Hoc ainda definirá o prazo para
cumprimento, tendo o Estado Parte obrigado a tal cumprimento, informar sobre o
atendimento da ordem.

Uma característica dessa tutela urgente e excepcional é que há uma possibilidade de


revogabilidade, prevista no art. 14.2 do Protocolo de Olivos, porém, não sendo revogadas
até a emissão do Laudo Arbitral as medidas provisórias e sendo o Laudo objeto de recurso
de revisão, manterão sua eficácia até o tratamento do tema da controvérsia na primeira
reunião do Tribunal Permanente de Revisão que resolverá sobre sua vigência e,
imediatamente, notificará sua decisão às partes.

Impõe o Regulamento do Protocolo de Olivos para Solução de Controvérsias no


Mercosul (Dec n. 37/03), art. 29.1, um termo a quo para determinação das medidas
provisórias, ou seja, desde que já tenha ocorrido a aceitação da designação do terceiro
árbitro.

Consta do art. 29.2 do Regulamento do Protocolo de Olivos para Solução de


Controvérsias no Mercosul (Dec n. 37/03), atendimento ao Princípio do Contraditório quando
do requerimento das medidas provisórias, pois solicitadas tal medida é facultado o prazo de
cinco dias, desde a data da notificação, ao Estado Parte contrário ao requerimento para
apresentar argumentações que entender pertinente.

2.3. Emissão do laudo arbitral

A atuação do Tribunal Arbitral Ad Hoc, como já dito, tem a finalidade de emitir o Laudo
Arbitral, que deverá ser efetivado até sessenta dias, com a possibilidade de prorrogação por
mais trinta dias por decisão do próprio Tribunal Arbitral, prazo este que tem como termo a
quo a comunicação efetuada pela Secretaria Administrativa do Mercosul às partes e aos
demais árbitros, informando a aceitação pelo arbitro Presidente de sua designação.

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Caso haja a prorrogação do prazo, os Estados Partes deverão ser notificados de tal
ocorrência.

O Laudo Arbitral será emitido por maioria de votos dos integrantes do Tribunal Arbitral Ad
Hoc, devendo ser escrito e fundamentado para responder a suscitação do Estado Parte de
forma convincente, sendo, ao final, assinado pelo árbitro Presidente e pelos seus demais
membros.

Uma particularidade na emissão do Laudo Arbitral é que os árbitros não poderão


fundamentar votos que ocorram dissidência, bem como, obrigatoriamente, manterão a
confidencialidade da votação. Não só as votações, mas até as deliberações do Tribunal
Arbitral deverão ser confidenciais, devendo nesta forma permanecer a todo momento.

Pronto e acabado o Laudo Arbitral, como ato de publicidade o mesmo será publicado no
Boletim Oficial do Mercosul, além de ser incluído na página da web do Mercosul,
possibilitando a comunicação de tantos quantos acessarem.

2.3.1. Conceito e natureza jurídica

O Laudo Arbitral é o ato decisório que encerra o procedimento arbitral, emanado pelo
Tribunal Arbitral Ad Hoc, composto por três membros neutros e estranhos à controvérsia dos
Estados Partes e que torna obrigatório o seu cumprimento, obtendo, após o transcurso do
prazo previsto no art. 17.1 do Protocolo de Olivos, força de coisa julgada.

A natureza jurídica do Laudo Arbitral é de decisão, definitiva e obrigatória, idêntica a


emitida pelo Poder Judiciário.

2.3.2. Requisitos do laudo

Além do que já foi dito, ou seja, de que o Laudo Arbitral deve ser escrito, tomado por
maioria de votos entre os árbitros integrantes do tribunal Arbitral Ad Hoc e ser fundamentado
para buscar convencer sobre a solução dada, deve preencher os requisitos do art. 40.1.i do
Regulamento do Protocolo de Olivos para Solução de Controvérsias no Mercosul (Dec n.
37/03), in verbis:

a. indicação dos Estados Partes na controvérsia; b. o nome, a


nacionalidade de cada um dos membros do TAH e a data de sua
conformação; c. os nomes dos representantes titular e suplente das partes;
d. o objeto da controvérsia; e. um relato do desenvolvimento do
procedimento arbitral, incluindo um resumo dos atos praticados, das
alegações das partes e uma avaliação das provas oferecidas.; f. o
pronunciamento sobre as medidas provisórias, se tiverem sido emitidas;
g. os fundamentos de fato e de direito da decisão do TAH; h. a decisão final
do TAH que deverá incluir as medidas a serem adotadas para dar

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cumprimento ao laudo, quando corresponda ; i. o prazo estabelecido para o
cumprimento do laudo; j. proporção dos custos do procedimento arbitral que
corresponderá a cada Estado Parte na controvérsia cobrir;
l. data e lugar em que foi emitido; e m. a assinatura de todos os membros
do TAH.
Portanto, a enumeração acima se trata de requisitos formais, todos devem estar
presentes no Laudo Arbitral para que se apresente de forma regular.

Complementando os requisitos, vale dizer que o Laudo Arbitral deverá ser traduzido ao
idioma oficial diferente daquele em que foi emitido; a tradução será autenticada pelos
árbitros intervenientes.

2.3.3. A obrigatoriedade do laudo e de seu cumprimento

Tendo o Laudo Arbitral natureza jurídica de ato decisório, definitivo e obrigatório, vincula
os Estados Partes envolvidos na controvérsia à obediência ao mesmo.

A obrigatoriedade do Laudo Arbitral tem como termo a quo a sua notificação publicada
no Boletim Oficial do Mercosul, ressalvando que é facultado aos Estados Partes interpor
recurso de revisão.

Superada a fase recursal que, inclusive, será objeto do próximo ponto deste trabalho, o
Laudo Arbitral alcança o patamar de coisa julgada e, por isso, deverão ser cumpridos na
forma e com o alcance com que foram emitidos.

O Laudo Arbitral tem como obrigatório o seu cumprimento, mesmo que o Estado Parte
adote medidas compensatórias previstas no Capítulo IX do art. 31 do Protocolo de Olivos.

Poderá, em caso prático, surgir dúvida quanto ao Laudo Arbitral tanto do Tribunal Arbitral
Ad Hoc como do Tribunal Permanente de Revisão e, para isso, o Protocolo de Olivos prevê
a possibilidade de ser interposto o Recurso de Esclarecimento, suspendendo, de logo, o
prazo de cumprimento do Laudo Arbitral até que se encerre a tramitação o recurso que tem
a finalidade de aclarar a forma que deve ser cumprido o laudo, recurso que, inclusive, deverá
ser interposto nos quinze dias subseqüentes à notificação.

A resposta ao Recurso de Esclarecimento dar-se-á nos quinze dias subseqüentes e terá


a finalidade de extrair as dúvidas e/ou questionamentos que por ventura surjam do Laudo
Arbitral.

O certo é que, sem mais questionamentos feito do Laudo Arbitral, este próprio ato
decisório deverá mencionar o prazo para cumprimento do Laudo e, caso seja omisso quanto
a isso, deverá ser cumprido no prazo de trinta dias seguintes à data de sua notificação.

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Além do próprio cumprimento do Laudo Arbitral, o Estado Parte tem a incumbência de
comunicar à outra parte da controvérsia, assim como ao Grupo Mercado Comum (GMC)
através da Secretaria Administrativa do Mercosul, quais a medias que serão adotadas e tal
ato de comunicação deverá ser feito até quinze dias da notificação.

Poderão ocorrer divergências quanto ao cumprimento do Laudo Arbitral, assim é dado ao


Estado Parte beneficiado com o Laudo, no prazo de trinta dias, suscitar a análise do Tribunal
Arbitral Ad Hoc, notadamente para avaliar se as medidas adotadas pelo Estado Parte
obrigado do cumprimento, não atende o que determina o ato decisório.

Feita esta suscitação, o Tribunal Arbitral Ad Hoc tem igual prazo (trinta dias) para, desde
que tomou conhecimento da situação, extrair dúvidas das questões suscitadas.

2.4. Procedimento de revisão do laudo arbitral

Vigora no Procedimento Arbitral o princípio do Duplo Grau de Jurisdição, desde que a


controvérsia seja submetida ao Tribunal Arbitral Ad Hoc, tendo a possibilidade de ser revisto
pelo Tribunal Permanente de Revisão. Vale enfatizar que os Estados Partes poderão definir
o acesso direto ao Tribunal Permanente de Revisão que decidirá em única e última
instância, não estando sujeito a recurso de revisão e terão, em relação às partes, força de
coisa julgada.

O recurso de revisão deverá ser apresentado no prazo de 15 dias contados desde a


notificação do Laudo Arbitral.

A matéria recursal que cumprirá o efeito devolutivo estará limitada a questões de direito
tratadas na controvérsia, desde a definição do objeto da controvérsia após a resposta do
Estado Parte reclamado, assim como poderão ser suscitadas as jurisprudências do Tribunal
Arbitral Ad Hoc.

Há uma objeção legal, art. 17. 3 do Protocolo de Olivos, que proíbe o recurso de revisão
para refutar os Laudos do Tribunal Arbitral Ad Hoc emitidos com espeque nos princípios ex
aequo et bono.

Interposto o recurso de revisão, mais uma vez em atendimento ao princípio do


contraditório, é facultado a outra parte recorrida contra-arrazoar o recurso no prazo de
quinze dias contados da notificação da apresentação do recurso.

Formalizado o recurso, lembrando que é incumbência da Secretaria do Tribunal (art. 35


do Regulamento do Protocolo de Olivos para Solução de Controvérsias no Mercosul – Dec
n. 37/03) as questões de assessoramento ao Tribunal Arbitral Ad Hoc, notadamente para
proceder as notificações e demais trabalhos formais correlatos, o Tribunal Permanente de

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 31


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Revisão deverá se pronunciar sobre o recurso num prazo de trinta dias, que serão contados
desde a apresentação da contestação ao recurso. Registre-se que poderá haver
prorrogação por mais quinze dias por decisão do Tribunal.

Decidindo sobre o recurso de revisão, o Tribunal Permanente de Revisão poderá manter


a decisão do Tribunal Arbitral Ad Hoc, podendo, ainda, modificar ou revogar a
fundamentação jurídica ou decisões deste último Tribunal.

Devido à superioridade do Tribunal Permanente de Revisão, o Laudo emitido por seus


membros é definitivo e subsistirá sobre o Laudo do Tribunal Arbitral Ad Hoc.

2.4.1. A composição do tribunal revisor

A composição do Tribunal Permanente de Revisão difere do outro Tribunal acima visto,


no caso, o Arbitral Ad Hoc.

Inicialmente deve ser destacada a disponibilidade permanente dos membros, desde que
convocados e até para contemplar sua própria denominação.

Os membros são cinco, tendo cada Estado Parte a incumbência de nomear um árbitro
titular e outro suplente para atuarem por um período de dois anos, renovável, no máximo por
dois períodos consecutivos.

O quinto membro deverá ter nacionalidade de algum dos Estados Partes do Mercosul e
advirá de uma escolha unânime entre os Estados Partes da lista constante do art. 18.3 do
Protocolo de Olivos e este último membro terá um mandato de três anos, não podendo ser
renovado. A escolha deverá ser procedida pelo menos três meses antes da expiração do
período do quinto árbitro em exercício.

Excepcionalmente, não havendo unanimidade para a designação do quinto árbitro, será


feito um sorteio pela Secretaria Administrativa do Mercosul, entre os integrantes da lista,
dentro de dois dias.

Definidos os árbitros, os mesmos assinarão declarações com o teor determinado pelo


art. 32 do Regulamento do Protocolo de Olivos para Solução de Controvérsias no Mercosul
(Dec n. 37/03), abaixo transcrito:

“Pela presente aceito a designação para ser integrante do Tribunal


Permanente de Revisão e manifesto minha disponibilidade para atuar
quando seja convocado.
Obrigo-me a manter sob reserva a informação e procedimentos vinculados
com a controvérsias em que deva atuar, assim como o conteúdo de meus
votos.
Responsabilizo-me a atuar e julgar com independência, honestidade e
imparcialidade e a não aceitar sugestões ou imposições de terceiros ou dos

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Estados Partes, assim como a não receber qualquer remuneração, exceto
aquela prevista no Protocolo de Olivos.
Assumo a responsabilidade de excusar-me de atuar naqueles casos em
relação aos quais, por qualquer motivo, não guarde a necessária
independência.
Caso sobrevenha algum impedimento para continuar atuando em um caso
determinado como membro do Tribunal, de conformidade com o
estabelecido neste Declaração, comprometo-me a excusar-me de atuar em
tal caso.”
Restando até três meses para o término do mandato dos membros do Tribunal
Permanente de Revisão, os Estados Partes deverão se pronunciar quanto à substituição dos
árbitros ou permanência deles; se não o fizerem, expirando o mandato, deverão
permanecer.

Como forma de resolver todos os questionamentos ou problemas surgidos na


composição do Tribunal de Revisão, os Estados Partes poderão definir outros critérios,
assim como aplicar, no que couber, os procedimentos previstos no art. 11.2 do Protocolo de
Olivos.

Funcionará o Tribunal Revisor com três ou cinco árbitros, sendo com três desde que a
controvérsia envolva apenas dois Estados Partes, sendo um árbitro de cada Estado e o
terceiro que funcionará como Presidente e será sorteado pela Secretaria Administrativa do
Mercosul; com o número maior de árbitros desde que a controvérsia envolva mais de dois
Estados Partes.

Capítulo III – as reclamações levadas a efeito por particulares no Mercosul

3. As reclamações de particulares

O protocolo de Olivos apresenta uma inovação no âmbito do Mercosul que é a


possibilidade de interposição de reclamações por parte de particulares que tenham direitos
seus reconhecidos por normas emanadas do Mercosul e, que algum Estado Parte ou outro
particular as tenham violado, sendo este o objeto de estudo do presente Capítulo.

3.1. Conceito e objeto das reclamações

É natural de qualquer pessoa, seja física ou jurídica, a discordância sobre decisão


proferida no âmbito de qualquer poder, notadamente pela falibilidade da pessoa humana.

Diante desta falibilidade das pessoas, o art. 39 disciplina as Reclamações de


Particulares. Assim, costuma-se justificar a necessidade da reclamação à falibilidade

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 33


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humana, a irresignação do ser humano a um julgamento ou a uma tomada de decisão, bem
como a segurança e justiça das decisões, sob o argumento de que julgamentos sucessivos
realizados por diferentes órgãos assegurariam a justiça das decisões. O eminente
processualista Barbosa Moreira (2007), ao comentar genericamente sobre o conceito de
recurso, preleciona o que no caso em enfoque analogicamente, em se tratando de
reclamação de particulares merece ser noticiado:

“Geralmente, porém, cinge-se o ordenamento a permitir que se provoque o


reexame, dentro de determinados limites e mediante o atendimento de
certas exigências. Abre-se às partes – e, por vezes, a outras pessoas – o
ensejo de impugnar a decisão proferida, pleiteando a emissão de outra,
emanada em regra de órgão diverso e, por exceção, do mesmo órgão que
proferiu a anterior; ou ainda, em hipóteses menos freqüente, solicitando
pura e simplesmente a eliminação do pronunciamento impugnado....o
exercício do direito de impugnação pode atuar de dois modos diferentes.
No comum dos caso , ele tem como conseqüência fazer prosseguir o
processo que até então vinha correndo, em geral com deslocamento da
competência: do órgão que proferiu a decisão (órgão a quo) passa o feito
àquele a que incumbe o reexame ( órgãos ad quem). Chamam-se recursos
os meios de impugnação que assim atuam...”
É de se notar a dificuldade de definir ou conceituar algo, mormente quando se arrisca a
não abarcar o essencial ou a completude daquilo que se quer definir ou descrever. Conceito,
segundo o dicionarista Nicola Abbagano (pg.164.) é “todo processo que torne possível a
descrição, classificação e a previsão dos objetos cognoscíveis”. O professor da UESC, Paulo
Bezerra, com bastante sutileza, explicita: “Ao observar um objeto, concreto ou abstrato,
próximo ou distante, universal ou individual, o sujeito interioriza as manifestações do objeto,
para depois, conferindo-lhe qualidade, adjetivá-lo, portanto, exerce atividade ou valorativa,
ou simplesmente descritiva”.

Ora, ao proceder a essa introspecção, introjetando as diversas formas pelas quais o


objeto se lhe dá, o sujeito expõe, descreve, classifica ou prevê o objeto de duas maneiras:
ou permite que sua conceituação do objeto se deixe matizar pelas suas próprias
idiossincrasias, ou afasta de si o objeto, analisando-o de modo descompromissado. O perigo
das impurezas dos conceitos está sempre presente, por isso as depurações são
necessárias. Daí a aplicação, já mencionada, da “navalha de Occam”. Deve-se, pois,
postando-se em “posição adequada” ter uma atitude depurativa, sem cair em reducionismos
prejudiciais.

Desta forma, para não cair nas descrições doutrinárias desnecessárias ou sem
influenciar para o que se quer descrever, classificar, enfim, conceituar, ou mesmo para não
incidir no “reducionismo prejudicial” ao entendimento daquilo que é essencial, o ponderável é
que se tome de empréstimo os conceitos e definições dos mestres na área processual civil e
processual penal e no direito substantivo para proceder às devidas correlações entre seus

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 34


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conceitos e extrair aquilo que é essencial, notadamente para tentar conceituar as
reclamações de particulares.

O renomado Humberto Theodoro Junior, numa acepção técnico-jurídica e valendo-se


das palavras de Moacir Amaral Santos, define o recurso, e aqui trataremos como
reclamação, como “o meio ou o poder de provocar o reexame de uma decisão, pela mesma
autoridade, ou por outra hierarquicamente superior, visando a obter a sua reforma ou
modificação, ou apenas a sua invalidação”.

Como se infere, o recurso ou a reclamação é um meio de impugnar uma decisão dentro


de um mesmo processo, assegurando-se às partes que sofreram um gravame ou prejuízo o
direito de ver reapreciada a matéria pelo mesmo órgão ou outro hierarquicamente superior,
objetivando à sua reforma ou modificação ou a anulação do “decisum”. É de se destacar que
o “recurso ou a reclamação” exterioriza o inconformismo da parte afetada pela decisão
hostilizada e que por conta disso e de forma voluntária deseja a reforma da decisão ou sua
anulação.

Portanto, a previsão das reclamações particulares, há muito demandadas pelos agentes


privados, também legítimos atores do processo integracionista, estão hodiernamente
disciplinadas e em pleno vigor.

Feitas as considerações preliminares e valendo-se dos processualistas citados no


trabalho em comento, ousamos conceituar as Reclamações Particulares em instrumentos
escritos usados pelas pessoas físicas ou jurídicas contra as quais sejam aplicadas sanções
por quaisquer Estados Partes de medidas legais ou administrativas, de efeito restrito
discriminatório ou de concorrência desleal, devendo sempre demonstrar a existência ou a
ameaça de prejuízo com a relação causal da medida questionada.

Os artigos 40 e 46 da DEC.CMC n.º 37/03 impõe a obrigatoriedade de as reclamações


serem apresentadas por escrito perante a respectiva Seção Nacional do Grupo Mercado
Comum, em termos claros e precisos, incluindo, em especial:

a) A identificação do particular reclamante, seja pessoa física ou jurídica e


seu domicílio; b) A indicação das medidas legais ou administrativas que
configurariam a violação alegada aos tratados e as normas do Mercosul; c)
A determinação da existência ou da ameaça de prejuízo. d) Relação Causal
entre a medida questionada e a existência ou ameaça de prejuízo; e) Os
fundamentos jurídicos em que se baseiam e, f) A indicação dos elementos
de prova apresentados.
Assim sendo, necessário se faz que a pessoa física ou jurídica demonstre todos os
requisitos acima elencados para o recebimento da reclamação e sua conseqüente admissão.

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 35


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Importante salientar que todos os pontos acima noticiados devem ser evidenciados na
peça escrita da Reclamação Particular, nos moldes objetivo e específico, a fim de propiciar o
recebimento da reclamação.

Ressalte ser obrigatório que todos os requisitos sejam preenchidos, não podendo, pois,
somente a demonstração de alguns. Os requisitos em enfoque são taxativos e devem ser
categoricamente demonstrados de forma clara e precisa.

Portanto, a peça de reclamação deve obedecer aos critérios positivados nos


regramentos próprios da matéria, sob pena de sua inadmissão.

Assim sendo, em atendendo a todos os requisitos próprios da reclamação já citados


acima, em senso viável a reclamação será admitida sendo adotado procedimento que
veremos adiante.

3.2. A tramitação e o procedimento da reclamação

Os trâmites relativos às reclamações de particulares estão normatizados nos art. 39 a 41


do Protocolos de Olivos para a Solução de Controvérsias no Mercosul.

O procedimento de reclamações efetuado por particulares (pessoas físicas ou jurídicas)


será aplicável em razão da sanção ou aplicação, por quaisquer dos Estados Partes, de
medidas legais ou administrativas, de efeitos restritos discriminatórios ou de concorrência
desleal, em violação do TA, do POP, dos protocolos e acordos celebrados no marco do TA,
das decisões do GMC, das Resoluções do GMC e das Diretrizes da CCM (art.39 do PO).

Iniciar-se-á o trâmite com a formalização das reclamações ante a Seção Nacional do


Grupo Mercado Comum do Estado Parte em que tenha sua residência habitual ou a sede de
seus negócios.

Os particulares que se sintam afetados deverão fornecer elementos que permitam


determinar a veracidade da violação e a existência ou ameaça de um prejuízo, para que a
reclamação seja admitida pela Seção Nacional e avaliada pelo Grupo Mercado Comum e
pelo grupo de especialistas, se convocado, caso necessário, dependendo do caso concreto.

Admitida à reclamação dos particulares pela Seção Nacional do Grupo Mercado Comum,
e frustradas as negociações diretas entre as partes, o Grupo Mercado Comum convocará o
grupo de especialistas do Mercosul para emissão de parecer.

Daí, com o parecer ofertado, a parte que apresentou a reclamação acompanhará o


seguimento da mesma com parecer proferido pelo grupo de especialistas.

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 36


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3.2.1. A solicitação de consultas

O art. 41 disciplina que a menos que a reclamação se refira a uma questão motivada de
um procedimento de solução de Controvérsias de acordo com os Capítulos IV a VII do
Protocolo de Olivos, a Seção Nacional do Grupo Mercado Comum que tenha admitido a
reclamação, nos moldes do art. 40 do presente Capítulo, deverá entabular consultas com a
Seção Nacional do Grupo Mercado Comum do Estado Parte a que se atribui à violação.

A consulta consiste na busca de uma solução imediata à questão suscitada. As consultas


em comento serão concluídas automaticamente e sem mais trâmite se a questão não tiver
sido solucionada num prazo de 15 (quinze) dias, contados a partir da comunicação da
reclamação ao Estado Parte a que se atribui à violação.

Há de se registrar que as partes podem em comum decidir outro prazo senão o noticiado
acima. Assim sendo, portanto o prazo pode ser dilatado por convenção das partes, de
acordo com o artigo em enfoque.

Terminadas as consultas, sem que tenha alcançado uma solução, a seção Nacional do
Grupo Mercado Comum remeterá à análise no efeito devolutivo a reclamação sem mais
trâmite ao Grupo Mercado Comum.

Dessa forma, com a remessa ao Grupo Mercado Comum, este solucionará a questão
com a emissão de parecer.

Importante salientar que somente será remetido ao Grupo Mercado Comum se,
posteriormente, as consultas não tiverem alcançado solução para a questão.

3.2.2. A intervenção do grupo de mercado comum nas reclamações particulares

Após o recebimento da Reclamação, o Grupo Mercado Comum criteriosamente irá


analisar e avaliar se estão presentes os requisitos de admissibilidade da reclamação
disciplinados no art. 40.2, sobre os quais se baseou sua admissão pela Seção Nacional, na
primeira reunião subseqüente.

Observe que novamente será feito um juízo de admissibilidade pelo Grupo Mercado
Comum para avaliar os pressupostos de recebimento e viabilidade da reclamação.

Será realizada uma espécie de análise mais minuciosa sobre os requisitos já admitidos
pela Seção Nacional.

O Grupo Mercado Comum, concluindo que não estão reunidos os requisitos necessários
para emprestar continuidade, rejeitará a reclamação sem mais trâmite, devendo pronunciar-
se por consenso.

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 37


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Note, por importante, que o artigo noticia que o pronunciamento deverá ser por
consenso, não aceitando discordância.

Argumente, também, que não existe no artigo em comento previsão de recurso ou


qualquer pedido de reconsideração sobre o pronunciamento do Grupo Mercado Comum
acerca do ponto da rejeição da reclamação.

Fica realmente tolhida a pessoa física ou jurídica que tenha manejado a reclamação, em
caso de sua rejeição na segunda apreciação pelo Grupo Mercado Comum, do juízo de
admissibilidade.

Mais adiante o artigo disciplina que se o Grupo Mercado Comum não rejeitar a
reclamação, considerar-se-á admitida. Assim, de imediato o Grupo Mercado Comum
procederá sem demora à convocação de um grupo de especialistas que deverá emitir um
parecer sobre sua procedência, no prazo improrrogável de 30 (trinta) dias, contados a partir
da sua designação.

No prazo acima mencionado, o grupo de especialistas dará oportunidade ao particular


reclamante e aos Estados envolvidos na reclamação de serem ouvidos e de apresentarem
seus argumentos em audiência conjunta.

Importante notar que os especialistas oportunizam tanto os particulares como os Estados


para, em audiência, apresentar todos os pontos que julgarem importantes na defesa da
questão suscitada.

Por oportuno, registre que a intervenção do Grupo Mercado Comum faz novamente um
juízo de admissibilidade da reclamação e a sua admissão aparentemente, segundo o art. 42
não cabe recurso, da mesma forma a sua inadmissão. E, em caso de não rejeição, será
automaticamente admitida, sem necessidade de expressamente ser preciso uma decisão.

Ressalte ainda, que a convocação de especialistas será de imediato e deverão, no prazo


acima especificado, emitir parecer, lembrando que também será facultada às partes
apresentarem a defesa de seus argumentos em audiência.

3.2.2.1. A designação de um grupo de especialistas

A designação do grupo de especialistas de que faz menção o artigo acima comentado,


será composto de 3 (três) membros indicados pelo Grupo Mercado Comum.

Em caso de discordância sobre a escolha de nomes de um ou mais especialistas, estes


serão escolhidos por votação que os Estados Partes realizarão dentre os integrantes de uma
lista de 24 (vinte e quatro) especialistas.

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 38


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Em ato contínuo à escolha dos nomes dos especialistas, a secretaria Administrativa do
Mercosul comunicará ao Grupo Mercado Comum o nome do(s) especialista(s) com o maior
número de votos.

Importante ressaltar que, neste último caso, e salvo se o Grupo Mercado Comum decidir
de outra maneira, um dos especialistas designados não poderá ser nacional do Estado
contra o qual foi formulada a reclamação, nem do Estado no qual o particular formalizou sua
reclamação, nos moldes do art. 40.

Note que o Grupo Mercado Comum procura guardar sempre a imparcialidade nos
especialistas escolhidos, notadamente quando disciplina que o especialista não pode ser
nacional do Estado contra o qual foi apresentada a reclamação, e, de idêntica forma, do
Estado no qual o particular formalizou a reclamação.

Para constituir a lista dos especialistas, cada um dos Estados Partes designará 6 (seis)
pessoas de reconhecida competência nas questões que possam ser objeto de reclamação.
Tal lista ficará registrada na Secretaria Administrativa do Mercosul.

A constituição dos especialistas será obrigatoriamente formada pela lista, a qual será
escolhida em eleição, lembrando sempre que o Estado Parte, de acordo com competência
de seus especialistas, os escolherá no número acima especificado.

Deve-se salientar que o único critério estabelecido pelo artigo em comento é


competência, levando a crer que uma forte dose de subjetivismo alberga a escolha dos
especialistas pelos Estados Partes. Isso nos leva a afirmar que existe uma forte tendência
ao fator político também influenciar a escolha da lista sêxtupla. E ainda merece comentar
que o único critério exigido não tem qualquer competição individual para a escolha.
Argumente que o modelo escolhido é muito criticado por todos que conhecem do assunto
em questão.

Os gastos derivados da atuação do grupo de especialistas serão custeados na proporção


que determina o Grupo Mercado Comum ou, na falta de acordo, em montantes iguais pelas
partes diretamente envolvidas na reclamação.

Aqui é salutar argumentar que o artigo em enfoque procura disciplinar que o Estado
Parte com maior número de reclamação custeará os gastos do grupo de especialistas, ou
em caso contrário, com as devidas proporções, para cada Estado Parte, dependendo das
determinações do Grupo Mercado Comum.

3.2.2.2. O parecer do grupo de especialistas

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 39


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O grupo de especialistas, escolhido mediante os critérios e a escolha acima discorrida,
depois de confeccionado e discutido internamente emite um parecer, que é levado a
apreciação do Grupo Mercado Comum.

Em caso de parecer unânime, se verificar a procedência da reclamação formulada contra


um Estado Parte, qualquer outro Estado Parte poderá requerer-lhe a adoção de medidas
corretivas ou a anulação das medidas questionadas. Se o requerimento não prosperar num
prazo de 15 (quinze) dias, o Estado Parte que o efetuou poderá recorrer diretamente ao
procedimento arbitral, nas condições estabelecidas no Capítulo VI do presente Protocolo.

Ressalte que no caso em comento, conforme a unanimidade da procedência da


reclamação, o artigo faculta a qualquer Estado Parte, de logo, requerer a adoção ou a
anulação das mesmas questões disputadas na presente reclamação julgada em casos
semelhantes.

Recebido o parecer que considere improcedente a reclamação por unanimidade, o


Grupo Mercado Comum imediatamente dará por concluída a mesma no âmbito do GMC.

Caso o grupo de especialistas não alcance unanimidade para emitir um parecer, elevará
suas distintas conclusões ao Grupo Mercado Comum que, imediatamente, que apreciará a
matéria e decidirá de forma definitiva.

A conclusão da reclamação por parte do Grupo Mercado Comum, nos moldes das
alíneas (II) e (III) do numeral anterior, não impedirá que o Estado Parte reclamante dê início
aos procedimentos previstos nos Capítulos IV e VI do presente protocolo.

É interessante observar a exigência da unanimidade na emissão do parecer, caso


contrário será remetido ao Grupo Mercado Comum.

Portanto, em havendo qualquer discordância deverá, pois, obrigatoriamente ser aplicado


o efeito devolutivo, submetendo o caso ao crivo do Grupo Mercado Comum.

3.3. A possibilidade de desistência ou de acordo no procedimento.

O artigo 45 disciplina a possibilidade de acordo ou desistência, noticiando que em


qualquer fase dos procedimentos, a parte que levantou a controvérsia ou a reclamação
poderá desistir.

De igual modo, o mesmo artigo citado, disciplina que as partes envolvidas no caso
poderão chegar a um acordo, que evidentemente resolve a questão controvertida ou
reclamada pelas partes.

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 40


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Nos casos de desistência ou acordo em sendo efetivado um ou outro será concluída e,
portanto finalizada a questão.

Portanto sendo realizado acordo ou desistência a Secretaria Administrativa do Mercosul


será comunicada e esta por sua vez estenderá a comunicação ao Grupo Mercado Comum,
ou ao Tribunal que corresponda, de acordo com a atribuição e a competência, dependendo
do caso concreto.

Importante noticiar que o artigo em enfoque não esclarece qual o momento oportuno
para realizar a desistência, levando a crer, da forma como redigido, que pode ser a qualquer
tempo. Do mesmo modo, o artigo também não disciplina se a outra parte envolvida discordar
do pedido de desistência como será resolvido.

Da forma como disciplinado, ao que parece, independe da vontade da parte contrária, e,


sendo formalizada a desistência, esta será comunicada à Secretaria para a adoção das
providências cabíveis.

Quanto ao acordo, este, presumivelmente da maneira como o artigo está redigido, pode
ser concretizado a qualquer tempo. Devendo, pois, ser comunicado à Secretaria
Administrativa do Mercosul.

3.4. O sigilo (confidencialidade) dos documentos e procedimentos sujeitos à


jurisdição do tribunal ad hoc

O art. 46 trata do sigilo dos documentos apresentados no âmbito dos procedimentos


previstos neste Protocolo, que são de caráter reservado às partes envolvidas nas
controvérsias. Ressalte-se, também, que há no dispositivo legal uma exceção quanto aos
laudos arbitrais. São, então, totalmente confidenciais os documentos apresentados pelas
partes envolvidas na reclamação ou controvérsias, a exceção do laudo acima noticiado.

Pode, a critério da Seção Nacional do GMC de cada Estado Parte e quando este ato for
necessário para a elaboração das posições a serem apresentadas ante o Tribunal, os
documentos serem ofertados conhecimentos, exclusivamente aos setores interessados nas
questões suscitadas.

Importante ressaltar que o artigo não ventila qual é o tipo de interesse que necessário se
faz demonstrar para ter acesso aos documentos.

Com a restrição disciplinada no item 1 do art. 46, o Conselho do Mercado Comum


regulamentará a modalidade de divulgação dos textos e apresentações relativos a
controvérsias já concluídas.

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 41


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Sendo assim verifica-se que são essas as considerações que devem ser feitas sobre os
mecanismos utilizados para solucionar controvérsias estabelecidas entre particulares. Ao
final, é possível verificar que o Mercosul em muito precisa melhorar os instrumentos de
solução de controvérsias para facilitar o processo de integração econômica a que se propõe.

Considerações finais

O Mercosul, quando do seu surgimento, apresentou-se como uma solução para as


dificuldades encontradas pelos países da América Latina quando em negociação com países
de outros Blocos econômicos, como os europeus. Entretanto, o que buscavam os membros
do Mercado Comum do Sul era apresentar um conjunto de regras e mecanismos, e até
mesmo estratégias, para proteger os seus mercados contra o poder de império americano,
bem como contra os subsídios que os Estados Unidos oferecem ao seu setor produtivo, fato
que dificultava e dificulta a competitividade dos produtos originários de países como Brasil e
Argentina frente aos produtos norte-americanos.

No entanto, os membros do Mercosul não esperavam as dificuldades que enfrentaram e


enfrentam, sendo que um dos fatores ou elementos que dificultam o processo de integração
consiste no fato de que cada país, até então, se preocupava apenas com os seus problemas
locais.

As principais diferenças entre os países que compõem o Mercosul são, sem sombra de
dúvidas, de ordem social, pois os aspectos econômicos são muito parecidos, inclusive no
que diz respeito à fragilidade de seus mercados, à necessidade de proteção dos seus
fatores de produção.

É comum nos processos de integração econômica a existência de controvérsias, não


sendo o caso do Mercosul diferente, muito embora esses mecanismos não tenham sido uma
das principais preocupações iniciais dos países-parte do citado Bloco econômico.

Essa informação pode ser constatada no presente trabalho quando se verificou que,
inicialmente, não foi definido nenhum mecanismo de solução de controvérsias efetivo e que
tivesse na definição, na institucionalização e na segurança jurídica o seu ponto forte.

Foi também estudado no presente trabalho o mecanismo de solução de controvérsia por


meio de procedimentos arbitrais, com a inserção pelo Protocolo de Olivos da possibilidade
de submissão de suas querelas a um juízo arbitral, mas é bem verdade que o procedimento
arbitral não é muito aceito pelos membros do Mercosul, principalmente pelo Brasil e pelos
brasileiros, talvez sendo esta a razão de sua pouca utilização e difusão no Brasil.

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 42


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O presente estudo também se dedicou à análise da possibilidade introduzida pelo
protocolo em estudo de que particulares possam efetuar reclamações junto a órgãos de
controle e fiscalização do Mercosul para terem resolvidas questões em que se sintam
prejudicados por atos praticados por Estados Partes ou, até mesmo, por outro cidadão que
exerça suas atividades no âmbito do Mercosul.

Constatou-se, também, ao analisar as disposições do Protocolo de Olivos, que terceiros


que não sejam parte do Mercosul podem submeter suas reclamações e controvérsias aos
órgãos de solução de conflitos da União Aduaneira, visando que esses órgãos possam emitir
comentários, recomendações e resoluções sobre a temática com o objetivo de solucioná-las.

Com o presente estudo e analisados os dispositivos do Protocolo, bem como os fatores


que influenciaram a sua criação e as atribuições de cada órgão do Mercosul, foi constatado
que ainda hoje não há no âmbito deste Bloco econômico (União Aduaneira), um mecanismo
definitivo.

Essa constatação parte do pressuposto de que o Protocolo de Olivos, objeto do presente


estudo, não define também estes mecanismos. Há um certo ar de institucionalização e de
segurança, mas o simples fato de ter deixado a possibilidade de que os membros do
Mercosul possam submeter as suas querelas e controvérsias a outros organismos
internacionais, como é o caso da Organização Mundial do Comercial, deixa patente a não
existência de tal mecanismo.

É bem verdade que o sistema de solução de controvérsias implantado pelo Protocolo de


Olivos é bem mais eficaz do que qualquer outro por estar embasado em procedimento de
negociação e de mediação, talvez os mais eficazes em processos de integração econômica,
como o que se propõe os Estados Partes do Mercosul.

Mesmo com uma significativa melhoria no processo de solução de controvérsias pelo


Protocolo de Olivos, é fato que esse procedimento necessita de constantes atualizações,
principalmente para fazer frente aos processos e demandas que estão sendo colocados em
curso pelas inovações tecnológicas, pelas mudanças de forma de atuação das empresas no
mercado e pelos papéis institucionais e mudanças de paradigmas que um processo de
integração exige dos Estados, dos cidadãos e das instituições que se propõem a unir-se
nesse objetivo comum de compor um corpo econômico único de cooperação e atuação no
mercado e na definição de direitos para os cidadãos.

Como sugestão para a melhoria dos mecanismos de solução de controvérsias, seria


conveniente ter um tribunal permanente, ao invés de um tribunal provisório, para decidir as
questões que não foram resolvidas pelas soluções negociadas, pela mediação e pelo juízo
arbitral. Esse tribunal permanente do Mercosul teria como marco para o julgamento das

Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 89, p.01-45, fev./mar, 2008 43


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questões, os direitos humanos. Talvez esta seja a forma mais eficaz de solucionar
controvérsia, por constituir-se na que mais se aproxima do ideal de justiça.

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Site utilizados:
www.Mercosul.gov.br
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07/03/2008

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