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UnB - FT – ENE

Modulação de Amplitude – AM
Modulação é o processo pelo qual uma ou mais características (amplitude, frequência ou fase) de uma
portadora (sinal senoidal de frequência f c hertz) são variadas de acordo com um sinal modulante de banda básica
(sinal de informação ou sinal-mensagem). O resultado do processo de modulação é um sinal passa-faixa, denominado
sinal modulado, que transporta a informação contida no sinal modulante. Do ponto de vista espectral, a modulação
realiza uma translação da informação da banda básica para uma faixa do espectro em torno da frequência da
portadora, f c . O propósito da modulação é adequar o sinal de informação (de banda básica) às características de
um canal passa-faixa ou possibilitar o agrupamento de vários sinais de informação por meio da multiplexação por
divisão da faixa de frequência (FDM – frequency division multiplexing).
Existem vários tipos de modulação, neste experimento estudaremos a técnica de modulação de amplitude que
produz um sinal modulado com banda lateral dupla (double sideband – DSB) e com portadora potente. Essa técnica
é, geralmente, denominada simplesmente modulação de amplitude ou AM (amplitude modulation). Considerando
as seguintes definições:

c(t )  Ac cos(2 f c t )  Onda portadora senoidal


Ac  Amplitude de pico da portadora (volt ou ampère)
fc  Frequência da portadora (hertz)
m(t )  Sinal modulante (de banda básica, tensão)
ka  Ganho do modulador AM (adimensional)
um sinal AM pode ser descrito como uma função do tempo da seguinte forma:
s (t )   Ac  k a m(t )  cos(2 f ct ) (1)

Note que a amplitude de pico da cossenoide (onda portadora) é variada, em torno do valor Ac , linearmente com o
sinal modulante m(t ) . A equação (1) pode ser reescrita como
s (t )  Ac cos(2 f c t )  k a m(t ) cos(2 f c t ) (2)
em que fica evidente que o sinal AM possui dois componentes: a portadora e um sinal em que está presente o sinal
modulante (sinal de informação) m(t ) . A Figura 1 mostra um exemplo de sinal AM.
Aplicando-se a transformada de Fourier à equação (2), obtém-se que
Ac k
S( f ) 
2
 ( f  fc )   ( f  fc )  2a  M ( f  fc )  M ( f  fc ) (3)
  
portadora bandas laterais

onde M ( f ) é a transformada de Fourier (ou espectro) de m(t ) . A Figura 2 mostra, em forma estilizada, o espectro
S ( f ) de um sinal AM. Note que o espectro de um sinal AM ocupa uma banda de largura B AM  2 Bm , em que Bm
é a largura de banda do sinal modulante m(t ) , e tem duas bandas laterais à frequência da portadora — é um sinal
com banda lateral dupla (double sideband – DSB). O sinal AM tem também uma portadora não modulada potente —
veja equações (2) e (3) e Figura 2. Essa portadora não modulada não carrega informação e, portanto, se for suprimida

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Modulação de amplitude – AM 2

não implicará em perda de informação: nesse caso, restará apenas o segundo componente nas equações (2) e (3) e
se teria um sinal DSB com portadora suprimida (DSB suppressed carrier – DSB-SC). Além disso, as duas bandas
laterais de um sinal DSB são redundantes: portanto, a eliminação de uma delas não implica em perda de informação
e resultará um sinal de banda lateral única (single sideband – SSB), que ocupará a metade da banda ocupada pelo
sinal AM ou pelo sinal DSB-SC. Têm-se, assim, três técnicas básicas de modulação: AM, DSB-SC e SSB. Este texto
trata da técnica AM.

m (t )
m p

0 t
 m p

c(t )
Ac

t
 Ac

Amax
s(t )
a(t )  Ac  ka m(t )
Ac
Amin
t
 Ac

Figura 1 – Exemplo de um sinal AM.

M( f )

-fc -Bm 0 Bm fc f 

S( f )
Ac /2 Ac /2
ka 2
Banda Banda Banda Banda
lateral lateral lateral lateral
superior inferior inferior superior

- fc 0 fc f 
2Bm 2Bm

Figura 2 - Espectro do sinal modulante (de banda básica) M(f) e espectro S(f) do sinal AM correspondente.

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Modulação de amplitude – AM 3

Um parâmetro importante de um sinal AM é o seu índice de modulação, que representa a intensidade (ou
profundidade) da modulação realizada. Três índices são usualmente definidos:

Amax  Ac max[k a m(t )] ka m p 


Índice de modulação positiva      (4)
Ac Ac Ac
Ac  Amin  min[ka m(t )] ka m p 
Índice de modulação negativa      (5)
Ac Ac Ac
  Amax  Amin
Índice de modulação     (6)
2 2 Ac
onde
Amax  max[ Ac  k a m(t )]  Ac  k a max[m(t )]  Ac  ka m p 
Amin  min[ Ac  k a m(t )]  Ac  k a min[m(t )]  Ac  k a m p 
(7)
m p   max[m(t )]
m p    min[m(t )]
A Figura 1 mostra graficamente o que representa Amax e Amin . Quando expresso em percentagem, o índice de
modulação passa a ser denominado percentagem (ou profundidade) de modulação, sendo que %    100% . Note
que
Amax  Amin Amax  Amin
se m p   m p  , então, Ac  e       (8)
2 Amax  Amin
A Figura 3 mostra sinais AM com diferentes profundidades de modulação — o sinal modulante m(t ) é, em
todos os casos, um sinal senoidal e, portanto, m p   m p  e        .
Para um sinal AM descrito matematicamente como
s (t )   Ac  k a m(t )  cos(2 f ct ) (9)

sua envoltória, a (t ) , é dada por


a (t )  Ac  k a m(t ) (10)

Veja ilustração na Figura 1. Note que


a(t )  Ac  k a m(t ), se min[k a m(t )]   Ac (11)
ou seja, se    1 . Veja Figura 1, Figura 3a e Figura 3b. Nesse caso, o sinal de informação m(t ) pode ser extraído
de s(t ) por um demodulador não coerente (ou assíncrono) extremamente simples denominado detector de envoltória
— veja a seção “Demodulação de sinais AM” a seguir. Por outro lado,
a (t )  Ac  k a m(t )  Ac  k a m(t ), se    1 (12)
Veja Figura 3c. Nesse caso, o sinal de informação m(t ) não pode ser extraído de s(t ) por um detector de envoltória:
é preciso usar um demodulador coerente (ou síncrono), que é mais complexo e caro que um detector de envoltória.
A possibilidade de se usar um detector de envoltória para demodular um sinal AM é uma das principais
vantagens dessa modulação em relação à modulação DSB-SC, que requer um demodulador coerente (ou síncrono).
Outra vantagem é o fato da geração de um sinal AM também ser mais simples que a geração de um sinal DSB-SC —
embora as expressões matemáticas desses sinais sugiram o contrário.

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Modulação de amplitude – AM 4

(a) Sinal AM com


 = 0,5

(b) Sinal AM com


 = 1,0

(c) Sinal AM
sobremodulado
com  = 1,5

Figura 3 – Sinais AM para diferentes índices de modulação e sinal modulante senoidal.

Figura 4 – Sinal AM com _ = 1,5 e sinal modulante senoidal, gerado por um tipo de
modulador comumente utilizado em estações de rádio AM.

Quando    1 , a maior parte da potência do sinal AM está na portadora não modulada existente no sinal
AM — primeiro componente nas equações (2) e (3) —, que não carrega informação. Essa é uma característica ruim
da técnica AM. Na prática, se faz    1 para que se possa demodular o sinal AM com detector de envoltória e,
geralmente, menos de 25% da potência do sinal AM fica no componente que carrega informação — segundo
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Modulação de amplitude – AM 5

componente nas equações (2) e (3). Isso prejudica a qualidade do sinal de informação recuperado pelo receptor em
presença de ruído. Entretanto, esse é o preço para se ter a possibilidade de usar o detector de envoltória como
demodulador.
Todo sinal AM que pode ser representado pelas equações (1) e (3) tem largura espectral igual a 2Bm, sendo
Bm a largura de banda do sinal modulante — veja a Figura 2. Contudo, os moduladores AM utilizados pelas emissoras
de rádio geram, normalmente, sinais AM que não podem ser representados pelas equações (1) e (3), quando ocorre
sobremodulação (    1 ). Um exemplo desse tipo de sinal é mostrado na Figura 4 — compare esse sinal com aquele
mostrado na Figura 3c. Note que, na Figura 4, o sinal é anulado durante o período de sobremodulação. Isso faz com
que o sinal AM gerado ocupe uma banda maior que 2Bm. Além disso, nesse caso, a informação m(t ) é distorcida e,
por isso, nem mesmo um detector coerente é capaz de recuperá-la sem distorção a partir do sinal AM.

Sinal AM com modulante senoidal


Se m(t ) contém um único componente de frequência (ou um único tom), isto é, se
m(t )  Am cos(2 f m t ) (13)
então o sinal AM correspondente é dado por
s (t )   Ac  ka Am cos(2 f mt )  cos(2 f ct ) (14)

Nesse caso, max [m(t )]  min [m(t )]  Am e, portanto,


ka Am
      (15)
Ac
Logo, a equação (14) poder reescrita como
s (t )  Ac 1   cos(2 f mt )  cos(2 f ct )
Ac  A
 Ac cos(2 f ct )  cos[2 ( f c  f m )t )]  c cos[2 ( f c  f m )t )] (16)
2 2
 Ac cos(2 f ct )  Abl cos[2 ( f c  f m )t )]  Abl cos[2 ( f c  f m )t )]
onde
Ac  2 Abl
Abl    (17)
2 Ac

Métodos de medição do índice de modulação


O índice de modulação de um sinal AM pode ser medido de várias formas, duas delas são descritas a seguir.
1. Usando um osciloscópio, os valores de Amin e Amax podem ser medidos diretamente na forma de onda do sinal
modulado s(t ) . Retirando-se a modulação, pode-se medir o valor de Ac . Substituindo os valores medidos nas
equações (4)-(6), pode-se calcular o valor de qualquer dos índices de modulação. Se m p   m p  , então se
pode usar a equação (8). Esse método é impreciso para índice de modulação muito pequeno. Além disso, para
um sinal qualquer (um sinal de áudio, por exemplo), esse método funciona somente se    1 , pois não é
possível medir Amin se    1 .

2. Os valores de Amin e Amax podem ser medidos usando-se o método do trapézio. Aplica-se a onda modulada
no eixo vertical do osciloscópio e uma amostra da onda modulante no eixo horizontal (o osciloscópio deve estar
mo modo XviaB ou XY). Se a envoltória de s(t ) e a onda modulante estiverem em fase, aparecerá na tela do
osciloscópio uma figura cujo contorno tem a forma de um trapézio, como aquela mostrada na Figura 5. Os valores

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Modulação de amplitude – AM 6

de Amin e Amax podem ser medidos como indicado naquela figura. Se a amostra de m(t ) utilizada na medição
estiver atrasada ou adiantada em relação à envoltória a (t ) do sinal AM, a figura observada terá a forma mostrada
na Figura 6(a). Se   1 ou se a modulação apresenta distorção (não é linear), a figura observada terá as formas
mostradas na Figura 6(b) e (c), respectivamente. O inconveniente desse método de medição do índice de
modulação é que ele requer a disponibilidade de uma amostra do sinal modulante, o que não é possível se ter
em uma medição de um sinal AM que está sendo captado de uma transmissão — ou seja, se não se está próximo
do modulador (ou transmissor).

Figura 5 - Cálculo do índice de modulação pelo método do trapézio.

Figura 6 - Figuras obtidas com o método do trapézio quando (a) m(t) e a(t) estão defasados, (b)  > 1, e
(c) a modulação apresenta distorção não linear.

Demodulação de sinais AM
Demodulação (ou desmodulação) é o processo de recuperar o sinal de informação (de banda básica) da
onda modulada, quando esta chega ao extremo receptor do sistema de transmissão. Por razões históricas este
processo é também denominado detecção.
Um sinal AM com percentagem de modulação negativa inferior ou igual a 100% (    1 ) tem sua envoltória,
a (t ) , dada pela equação (11), aqui repetida por conveniência:
a(t )  Ac  k a m(t ), se    1 (18)
Nesse caso, o sinal de informação m(t ) pode ser extraído do sinal modulado, s(t ) , por um detector não-coerente
(ou assíncrono) extremamente simples denominado detector de envoltória, como ilustra a Figura 7. Esta é, aliás, uma
das principais vantagens da modulação AM.
A forma mais simples de um detector de envoltória é um circuito de carregamento não-linear com tempo de
carga extremamente curto e com descarga lenta. Ele é usualmente construído colocando-se um diodo em série com
um capacitor e um resistor ligados em paralelo, como mostra a Figura 8(b).

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Modulação de amplitude – AM 7

 Detector de  
s (t ) envoltória a(t )  Ac  ka m(t ), se   1 A m(t )
 (ideal)  
Figura 7 – Recuperação de m(t ) usando um detector de envoltória — a
percentagem de modulação negativa deve ser no máximo de 100%.

Figura 8 - Detector de envoltória.

O detector de envoltória funciona conforme descrição que se segue. O sinal AM de entrada carrega
rapidamente o capacitor C com o valor máximo da sua forma de onda durante o semiciclo positivo da portadora.
Quando o sinal de entrada cai abaixo do seu máximo, o diodo fica polarizado reversamente e deixa de conduzir. Isto
é seguido por uma descarga lenta do capacitor através do resistor R, até o próximo semiciclo positivo da portadora,
quando o sinal de entrada torna-se maior do que a tensão no capacitor e, consequentemente, o diodo conduz
novamente.
Para que o detector funcione satisfatoriamente é preciso que a constante de tempo da descarga, RC, tenha
um valor apropriado. Uma forma simples de obter um valor apropriado para RC é escolhendo um valor que satisfaça
a seguinte desigualdade:
1  RC  1
fc Bm (19)

onde f c é a frequência da portadora e Bm é a largura de banda do sinal modulante m(t ) . Um valor de RC que
satisfaz essa desigualdade irá, geralmente, propiciar um resultado similar àquele ilustrado na Figura 8(c). Contudo,
se RC é muito grande (isto é, RC não é muito menor que 1 Bm ), a taxa de descarga exponencial do capacitor poderá
ser menor que a taxa de decaimento máxima da envoltória a (t ) do sinal AM e, desse modo, o detector de envoltória
poderá perder alguns semiciclos positivos da portadora e assim não reproduzir satisfatoriamente a envoltória a (t )
— veja ilustração mostrada na Figura 8(d). Por outro lado, se a constante de tempo RC é muito pequena (isto é, RC
não é muito maior que 1 f c ), o detector de envoltória gerará uma forma de onda muito ondulada, perdendo parte da
sua eficiência — veja ilustração mostrada na Figura 8(e).
O sinal aˆ (t ) , resultante após o detector de envoltória, possui um nível médio (ou componente CC), que
precisa ser removido por meio de um capacitor de bloqueio de CC, Cbcc — veja Figura 8(b). O sinal m ~ (t ) resultante
— veja Figura 8(b) — terá uma ondulação (ripple) com um pulso a cada 1 f c segundos ou f c pulsos por segundo
— veja Figura 8(c). Portanto, embora não seja um sinal periódico, o espectro dessa ondulação se concentra em torno
da frequência f c e de seus múltiplos ( 2 f c , 3 f c ,  ). Essa ondulação pode ser eliminada por um filtro passa-baixos
— veja Figura 8(b)—, para se obter um sinal de melhor qualidade, m ˆ (t ) .
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