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OLHAR CIGANO

Asséde Paiva[1]
Rev.: Acir Reis

Ampliado em 12/10/2008

O OLHAR CIGANO

Ver é transpor as barreiras da carne.


Hartis, o cigano, apud Pierre Derlon

Ler clisos e mangue cayi


Se bichelan a mangues chorés
Barés sato mangues gransias
Gayardos sato mangues chijés

Oos olhos de minha morena


Assemelhan-se à minha infelicidade
Tão grandes como as fadigas
Tão negros como as minhas penas
In ciganos e itinerantes, de Jean-Pierre Liégeois

“A multitude of copper vessels gleams on ceiling and wall like gypsy eyes in
the firelight.”
The National Geographic Magazine, October, 1957, p.575.

gora vamos tratar, em detalhes, desta inconfundível marca cigana: o seu olhar.

A Sabemos de outras qualidades exteriores destes nômades, mas não falamos de


suas qualidades físicas/psíquicas intrínsecas e, dentre todas, sobressai o seu
olhar que é como que uma impressão digital, indelével, inconfundível,
intransferível. Os ciganos têm usos e costumes peculiares: Se nômades, usam
roupas estampadas, tranças nos cabelos, dentes claros e alguns dourados. Têm moral
especial sobre virgindade, amor aos filhos, respeito aos velhos, danças celebrando a
vida, leitura de sortes etc. Se sedentários ou seminômades, trajam como nós, os não-
ciganos. Variam esses detalhes de uma vitsa[2] para outra, e entre autores que enfatizam
ou minimizam certos estilos, comportamentos ou maneiras de ser desses nômades. Num
ponto todos são concordes: o poder do olhar cigano. Sempre encontrei referências no
mesmo sentido, qual seja um olhar de que não se esquece facilmente, um olhar que
escrutina nossa alma, que desvenda nossos mais secretos pensamentos.

Aqueles que não concordarem com as traduções que fizemos ou mandamos fazer,
poderão ler direto nos originais, que fizemos questão de transcrever. Solicitamos e
agradecemos todas as sugestões que nos enviarem.

Eu digo: Não há nenhum olhar tão maravilhoso como o do cigano!

Pittard (1867-1962) atribuía-lhes [aos ciganos] um lugar extremamente honroso na


estética humana. Encontram-se entre eles com freqüência homens muito escorreitos e
mulheres muito belas. A sua tez ligeiramente trigueira, o cabelo de azeviche, o nariz
direito e bem formado, os dentes brancos, os olhos castanhos muito abertos, de
expressão ora viva, ora lânguida, a elegância em geral da sua postura e a harmonia dos
seus movimentos colocam-nos bem acima de muitos povos europeus no que se refere à
beleza física. Apud Angus Fraser. In História do povo cigano, p. 28.

Nossos artistas exponenciais cantam assim:

A cigana
(Roberto e Erasmo Carlos)

Na distância vi seu vulto desaparecer.


Nunca mais seu rosto eu pude vê.
Uma vez você apareceu na minha vida,
eu não percebi você de mim se aproximar.
Não sei de onde você veio e nem perguntei.
Talvez de alguma estrada que eu ainda
não passei
Seu olhar me disse tanta coisa num momento
parecia que podia ler meu pensamento.
E no seu sorriso mil segredos percebi.
Então nos seus mistérios de repente
me perdi.
Minha mão você tomou nas mãos e
conheceu
minha vida inteira e o seu encanto me
envolveu
Toda minha história leu nas linhas que
mostrei.
O que estava escrito e o meu amor eu lhe
entreguei.
Hoje você anda por lugares que eu não
sei.
Vive nos meus sonhos e nas lembranças
que guardei.
Disse tanta coisa quando leu minha mão.
Você só não previu a minha solidão.
Outro poema do nosso cancioneiro popular:

Cigana feiticeira

seu feitiço me pegou,


a luz do seu olhar
tem tanto fogo e me queimou.
Pela primeira vez
que você leu a minha mão,
deixou uma fogueira
dentro do meu coração.

Cigana feiticeira
feiticeira, ai meu Deus!
Eu gasto tudo, tudo,
pelos carinhos seus.
Me diga só
que tenho de fazer
pra virar cigano
e morar com você.

Passaremos a dar alguns recortes de historiadores, escritores, romancistas,


compositores, poetas, etnógrafos, antropólogos e outros pesquisadores/autores
consagrados; iniciando com Grellmann[3]:

Their lively black rolling eyes, are, without dispute, properties which must be ranked
among the lift of beauties, even by the modern civilized European world, p. 9.

[Seus olhos vívidos, negros, revirados são, sem contestação, únicos e devem ser
classificados entre padrões de beleza, nivelados ao mundo moderno, europeu.]

George Borrow em Os ciganos (os zíngaros ou uma descrição dos ciganos de


Espanha[4]), na Introdução, pp. 28 e 29, quando descreve três ciganos, assim expressa:

... the eyes large, overhung with long drooping lashes, giving them almost a
melancholy expression, it was only when the lashes were elevated that the
Gypsy glance was seen, if that can be called a glance which is a strange stare,
like nothing else in this world.
[... os olhos grandes, movendo-se sob longas pestanas pendentes, que lhes
emprestavam uma expressão quase melancólica; era somente quando as
pestanas se elevavam que se via a mirada do cigano, se se pode chamar de
mirada àquilo que é um olhar estranho, espantado, como nenhum outro no
mundo.]

Mas é no capítulo V, pp. 278 e 279, que G. Borrow nos descreve, com maestria, o olhar
cigano. Vamos transcrever o bastante:

There is something remarkable in the eye of the gitano: should his hair and
complexion become fair as those of the Swede or the Finn, and his jockey gait
as grave and ceremonious as that of the native of Old Castile, were he dressed
like a king, a priest, or a warrior, still would the gitano be detected by his eye,
should it continue unchanged. [...], the eye of the gitano is neither large nor
small, and exhibits no marked difference in its shape from the eyes of the
common cast. Its peculiarity consists chiefly in a strange staring expression,
which to be understood must be seen, and in thin glaze, which steals over it
when in repose, and seems to emit phosphoric light. That eye has sometimes a
peculiar effect, we learn from the following stanza:

[Há qualquer coisa de extraordinário nos olhos do gitano: se o seu cabelo e a


sua tez se tornasse tão loura como as do sueco ou do finlandês, e o seu ar de
jóquei tão grave e cerimonioso como o do nativo de Castela-a-Velha, se ele se
vestisse como um rei, um padre ou um guerreiro, ainda assim o gitano seria
denunciado pelos seus olhos, se continuassem inalterados [....], os olhos do
gitano não são grandes nem pequenos, e não revelam acentuadas diferenças, na
sua forma, dos olhos dos outros homens. A sua peculiaridade consiste
principalmente numa estranha expressão de fitar, que para se compreender,
deve ser vista, e num leve vítreo que surge sobre eles, quando em repouso, e
parece emitir luz fosfórica. Que os olhos dos ciganos têm algumas vezes um
efeito peculiar, vê-se pela seguinte estância]:

A gypsy stripling’s glossy eye


Has pierced my bosom’s core,
A feat no eye beneath the sky
Could e’er effect before.

[Os olhos resplandecentes de um cigano


Perfuram o âmago do meu peito,
Façanha que nenhum olho debaixo do céu
Poderia jamais ter efetuado.]

O livro de Borrow (The Zincali) é extremamente cáustico com os ciganos. Entretanto,


ele era fascinado pelo poder do olhar cigano e em várias páginas de livro fala sobre este
poder. O autor só expressa admiração por estes nômades apenas nestas singularidades:
O brilho do olhar; a fidelidade da mulher cigana ao seu rom; a virgindade; a ausência de
prostituição de mulheres ciganas. Mas, também não podemos deixar de registrar que
este escritor tinha grande preconceito contra os ciganos. Em seu livro Lavengro (Mestre
das palavras) assim se expressa em relação ao poder do olhar cigano, p. 111, in fine:

Há! há!” cried the woman, who had hitherto sat knitting, at the farther end of
the tent, without saying a word, though not inattentive to our conversation, as I
could perceive, by certain glances, which she occasionally cast upon us both.
“Ha, ha!” she screamed, fixing upon me two eyes, which shone like burning
coals, and which were filled with an expression both of scorn and malignity; ...

[“Ha! há!” gritou a mulher que, até agora, tricotava à distância, em um canto da
tenda, sem dizer uma palavra, embora não desatenta à nossa conversa, como
pude perceber por certos olhares de soslaio, que ela dirigia ocasionalmente a
nós dois. “Há, há!” ela berrou, fixando em mim os dois olhos que brilhavam
intensamente como carvões acesos, e que estavam plenos de desdém e
malignidade;...]

Ao apresentar o livro Magia cigana, de Charles Godfrey Leland (Bertrand do Brasil, p.


XIII), Margery Silver fala dos profetas sombrios, de olhos selvagens.

O antropólogo e glotólogo Francisco Adolfo Coelho em seu livro Os ciganos em


Portugal, à p. 192, reproduz notícia de um bando de nômades visto em Elvas, e que
entre outras informações nos dá idéia do feitiço e da força do olhar cigano:

As crianças usavam igualmente botas até ao joelho, mas pretas, e quase todas
fumavam, de cachimbo. Havia algumas com feições regularíssimas, e os olhos de
todos, negros e rasgados, faiscavam de brilhantes.

Com a palavra o antropólogo Olímpio Nunes, in O povo cigano pp. 140-1:

O que impressiona em primeiro lugar num cigano é o seu olhar. Nem o


vestuário, nem a tez, nem a língua e os costumes denunciam melhor o cigano
do que os seus olhos e o olhar. Os olhos são escuros, sobretudo na mulher, e
largamente fendidos. É impossível descrever o olhar. De Dumas, a Merimée, a
Garcia Lorca, todos disseram verdade. O brilho do olhar é exaltado, sobretudo
nas raparigas. É ao mesmo tempo inquieto, penetrante quando se fixa, móvel,
constantemente espiando, pois é a arma mais preciosa do cigano, que lhe
permite ver e prever. Reflete, ao mesmo tempo, a doçura e a selvageria, uma
imensa bondade e uma crueldade sem limites. Um olhar sempre fugidio, mas
apesar disso se fixa aqui e acolá, num certo instante. Um olhar triste e altivo,
amoroso e duro. Um olhar cheio de paixão, mas duma paixão contida, retida
entre as pálpebras que deixam passar um estilhaço metálico, magnético,
saltando de olhos paradoxalmente enevoados, velados, coalhados como mortos.

Jacques Cazotte, no seu livro O diabo enamorado, à p. 89 registra ciganas de olhos


fundos e ardentes, ou na tradução[5] de Raimundo Magalhães Jr. ...olhos cavos e
fulgurantes..., In Amores do diabo, p. 73.

Examinando o livro de Mello Moraes Filho[6] (1834-1919) Os ciganos no Brasil e


cancioneiro dos ciganos, à p. 68, encontramos:
Os ciganos primitivos eram todos bronzeados, mas de um bronzeado escuro e
fixo; de olhos pretos, rasgados e penetrantes.

Também, no livro Quadros e crônicas , de Melo Morais lemos :

Como estrutura, como forma, esse povo é de uma beleza admirável. As ciganas,
quando moças, são de formosura soberana: rosto oval, cabelos negros, olhos que
brilham como estrelas polares do amor. A mediana estatura é-lhes a regra; são esbeltas
e graciosas como as palmeiras da Ásia, a voz lhes plange na garganta como cavatina
nos desertos.

Quando, porém, as flores dos verdes anos se fanam, a fealdade reflete-lhes velhice
prematura, a pele se lhes enruga, os olhares perdem as fascinações ardentes,
transformando-se elas em múmias, mas sem o lençol de perfumes dos embasamentos.

Os homens, altos e tisnados, de cabelos caracolados e barba pontuda, volvem os olhos


cintilantes, sempre desconfiados e afoitos nas lutas do imprevisto.

D’Oliveira China[7], em seu livro Os ciganos do Brasil, à p. 19, assim os descreve:

... os olhos são muito negros e vivos , e nas mulheres, justificam às vezes o que
se diz do tom misterioso, alternativamente melancólico e alegre dos olhos das
ciganas em geral...

E sumariando o tema à página 139, da mesma obra, diz que os ciganos, em geral têm os
olhos muito negros; às vezes castanhos ou esverdeados e os ciganos do Brasil têm os
olhos pretos, rasgados (vivos e penetrantes); garços; raramente azuis em alguns.

Charles Baudelaire, in Flores do mal [em A caravana dos ciganos]:

La tribu prophetique aux prunelles ardentes

Hier s’est mise en route, emportant ses petits

Sur son dos, ou livrant à leurs fiers appétits


Le trésor toujours prêt des mamelles pendants.

The prophetic tribe with burning eyes


Took the road yesterday, carrying the children
On its back, or giving to their fierce appetites
The ever ready treasure of pendent breasts.

[A tribo profética a das pupilas ardentes


Pôs-se a caminho, tendo às costas a ninhada
Ou saciando-lhe a altiva gula imoderada
com o farto tesouro das mamas pendentes.]

Mirian Stanescon — Rorarni[8], Presidente da Fundação Santa Sara Kali, escreveu o livro
Lila Romai (Cartas ciganas), o verdadeiro oráculo cigano, à p. 27 assim nos fala sobre o
olho cigano:
Os ciganos dão muito valor aos seus olhos, porque eles lidam não só com a visão
física, como também com a visão espiritual. Assim, quando o filho nasce, a mãe, até o
sétimo dia, lava seus olhos com água e uma pitadinha de sal, diariamente. No caso das
meninas, seus olhos são lavados apenas no sétimo dia, com água e sal, e depois com
água e açúcar, pois sabemos que a arte divinatória é praticada principalmente pelas
mulheres ciganas — DRABARIMÔS (leitura DA SORTE).

O escritor e Prêmio Nobel de Literatura, em 1999, Günter Grass (que doou metade de seu
prêmio aos ciganos de Kosovo), assim se refere aos olhos ciganos:

They have the Evil Eye[9] and that stunning beauty that makes us ugly to ourselves.
Because their mere existence puts our values in question.

[Eles têm olhos feiticeiros e aquela estonteante beleza que nos torna feios. Porque sua
mera existência põe nossos valores em questão.]

Os poetas louvam os olhos ciganos toda hora. Vamos registrar mais este exemplo, uma
estrofe, retirada da poesia A cigana, de Alexandrina Scurtu:

De que tela surgiste, ave, sereia e flama,


toda feita de luz e carne? Os teus olhares,
nas olheiras de fogo, acendem a fagulha
do amor e da paixão, da febre e da saudade.

O Prêmio Nobel de Literatura, Gabriel Garcia Marques também nos brinda com texto
memorável, quando exalta a insuperável resistência do cigano Melquíades, em Cem
anos de solidão[10], à p. 11:

... a morte o seguia por todas as partes, farejando-lhe as calças, mas sem se
decidir a dar o bote final. Era um fugitivo de quantas pragas e catástrofes
haviam flagelado o gênero humano. Sobreviveu à pelagra na Pérsia, ao
escorbuto no arquipélago da Malásia, à lepra em Alexandria, ao beribéri no
Japão, à peste bubônica em Madagascar, ao terremoto na Sicília e a um
naufrágio multitudinário no estreito de Magalhães. Aquele ser prodigioso, que
dizia possuir as chaves de Nostradamus, era um homem lúgubre, envolto numa
aura triste, com um olhar asiático que parecia conhecer o outro lado das coisas.

No celebérrimo romance Carmem, o genial arqueólogo e contista Prosper Merrimée[11]


(1803-1870) nos deleita com esta bela descrição dos olhos da cigana:

Seus olhos, em particular, tinham uma expressão ao mesmo tempo voluptuosa


e selvagem, que jamais tornei a encontrar num olhar humano. Olho de cigana,
olho de lobo, é um ditado espanhol que vem a calhar. Se não tendes tempo de ir
ao Jardim das Plantas para estudar o olhar de um lobo, observe vosso gato
quando espreita o pardal.

Era una belleza extraña y salvage, um rosro que al pronto extrañaba,no se


podía olvidar. Sobre todo, los ojos tenían una expresíon voluptuosa y feroz a la
vez que no he encontrado después en ninguna mirada humana. Ojo de gitano,
ojo do lobo.
E no capítulo quarto da história de Carmem, Merrimée nos descreve bem os olhos dos
ciganos:

Os caracteres físicos dos ciganos são mais fáceis de distinguir do que descrever e,
assim que tenhamos visto um só, reconhecemos um indivíduo dessa raça em meio de
uma multidão. A fisionomia, a expressão, eis o que sobretudo os distingue dos povos
que habitam o mesmo país. Sua pele é morena, sempre mais escura do que aquela das
populações com as quais convivem.[Falava dos ciganos da Espanha]. Daí vem o nome
Calé, os negros, pelo qual eles se referem a si mesmos com freqüência. Seus olhos,
ligeiramente oblíquos, bem talhados, muito negros, são sombreados por cílios
longos e espessos. Só podemos comparar seu olhar com o do animal selvagem. A
audácia e a timidez estão presentes ao mesmo tempo, e desse ponto de vista, seus
olhos revelam muito bem o caráter da nação — astuciosos, insolentes, mas
naturalmente tementes aos golpes...

Júlio Verne, em seu primoroso e espetacular livro de aventuras Miguel Strogoff, assim
nos fala sobre uma cigana (p.71) e ressalta o seu olhar:

A seu lado, a cigana Sangarra, mulher de trinta anos, de pele morena, alta, bem
lançada, olhos magníficos e cabelos dourados, estava em postura soberba.

Em outro parágrafo, à mesma página: “Estas ciganas têm os olhos de gato! Vêm bem no
escuro e aquela poderia bem saber...”

Nosso Martins Fontes[12] (1884-1937), no livro Sherazade, nos brinda com a inclusão do
poema Canção gitana, em homenagem a Carmem [de Bizet] que, por ser mui belo,
transcreve-mo-lo integralmente:

Eu sou a flor de Sevilha,


Rachel da terra do Sol!
no ouro da minha mantilha,
rubeja o fogo espanhol!

Quando as salas estão cheias,


nas verbenas do Alcazar,
concentro azougue nas veias
e vitríolo no olhar!

Danço a zambra, entre sorrisos,


quebrando os braços e os rins,
ao retintinir dos guizos,
tricolejar dos cequins!

A gambiarra ensandalada,
infanta e odalisca, eu sou
uma pantera assanhada,
que freima enfervorizou!

Goya, encarnando a luxúria,


fez a “Maja” granadi!
Só ele exprimiu a fúria,
que ardeja em meu frenesi!

Simulo uma labareda,


columbreando no salão,
longa víbora de seda,
a roxo-rei e zarcão!

E, esfuzilando, felina,
a rir e a gritar: — olé!
Minha peçonha assassina
enfeitiçou dom José!

Temperamento boêmio,
sendo agarena, talvez,
meu coração é irmão gêmeo
das gitanas do Xerez!

Há um nufar, que, um dia, no ano.


Um dia, apenas, reluz:
É assim o amor sevilhano,
é assim o beijo andaluz!

Repicando a castanhola,
minha estridência contém
arrogância de espanhola,
furor, de fera no harém!

São negros os meus cabelos,


como os meus olhos tafuis,
porém tão negros que, ao vê-los,
até parecem azuis!

Os cascavéis do pandeiro
estridulam, em destom,
num trastralastrás brejeiro,
ou surdo dongolodrom!

E, espaventando o exagero,
bela, bárbara, brutal,
fulveja meu desespero
na sarabanda infernal!

— Bravo! Que guapa y reguapa!


e, em delírio, um toureador
aos meus pés estende a capa,
embebedado de amor!

E, para que ele se zangue,


meu desprezo respondeu:
— Que culpa tem o meu sangue
de ser mais rubro que o teu?!

É volúvel, mas sincero,


meu coração de mulher:
A quem me quer, eu não quero.
Só quero a quem não me quer.

Nossos escritores vez por outra introduzem ciganos em suas estórias. Lemos em
Machado de Assis (1839-1908), fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira
de Letras, este trecho de Dom Casmurro, que nos fala de Capitu e de seus olhos, mas
com tonalidade preconceituosa:

Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu... Você já reparou nos olhos
dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada.

Na revista VEJA, de 30 de janeiro de 2008, ed. 2045, ano 41, n.4, lê-se à p. 32,
interessante polêmica sobre os olhos de Capitu. Transcreve-se parte, em seqüência:

... a pergunta sobre os olhos da personagem Capitu, do romance Dom Casmurro, de


Machado de Assis, encerra duas possibilidades de resposta. As alternativas eram que
Capitu teria olhos de cigana, de ressaca ou de jabuticaba, e a resposta dada como
correta era a segunda opção. “A alternativa B (ressaca) está correta, mas a A (olhos de
cigana) também está”, diz Suzana, que tem mestrado em literatura da língua
portuguesa, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Olhos de ressaca é a
expressão pela qual os olhos de Capitu ficaram mais conhecidos, a expressão inclusive
dá nome aos capítulos 32 e 123. Na ocasião mais importante em que a expressão é
usada, insinua que os olhos de Capitu teriam a mesma força do mar em dias de
ressaca, que arrasta para dentro sem possibilidade resistência. No entanto, no capítulo
25, os olhos dela são descritos como olhos de cigana: “A gente de Pádua não é de todo
má. Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu... Você já reparou nos olhos
dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada [...]”. E no capitulo 148: “Agora, por
que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu
coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua
e dissimulada.”

Polêmica à parte, por tudo que pesquisamos e escrevemos, acho que o emérito Machado
queria que aqueles olhos fossem ao mesmo tempo de ressaca e de cigana.

Não podemos olvidar o grande Alexandre Dumas [13], que no seu livro O salteador,
assim descreve a cigana Giesta:

Seus cabelos, tão negros que chegavam a tomar, às vezes, o reflexo azulado da
asa do corvo, emolduravam, cindo sobre os ombros, um rosto de um oval
perfeito e de apurada dignidade. Grandes olhos azuis como pervincas,
sombreados por cílios e sobrancelhas da cor dos cabelos, uma tez lisa e branca
como leite, lábios frescos como cerejas, dentes que fariam inveja às pérolas,
um pescoço cuja ondulação tinha a graça e a flexibilidade de um pescoço de
cisne, braços um pouco longos, mas de forma perfeita, talhe flexível como o do
junco mirando-se num lago, ou da palmeira balançando-se no oásis, pés cuja
nudez permitia fossem admirados o pequeno tamanho e a elegância, tal era o
conjunto físico da personagem sobre a qual nos permitimos chamar a atenção
do leitor.
O musicólogo Sérgio Bittencourt Sampaio, membro da Academia Nacional de Música,
diz que na canção do toureiro da ópera Carmem, de Bizet, ouve-se:

Et songe bien, oui


songe en combattant
qu’un oeil noir te regard
et que l’amour t’attend (Ato II)

[Pensa bem,
Pensa, ao combater,
Que um olhar negro te observa
E que o amor te aguarda.]

A jornalista Isabel Fonseca viajou no período de 1991-1995 com ciganos pela Europa
Oriental, onde se encontra a maior população cigana (8milhões) e escreveu o livro
Enterrem-me de pé, a longa viagem dos ciganos. Companhia das Letras,1996; à p. 223,
falando desses nômades em Varsóvia nos diz ...Mesmo mantendo o tom plangente,
numa desastrada mímica de seus objetivos, olham através ou adiante do doador em
potencial. No parágrafo seguinte nos fala assim: ... que eram morenos, esguios, de olhos
brilhantes...
E no não menos extraordinário romance O corcunda de Notre Dame [14], de Victor
Hugo[15], lemos esta bela passagem (p.17) sobre a cigana Esmeralda, a heroína da
história:

Como poderia ser humano aquele corpo moreno e esguio, que volteava ligeiro,
conduzido por pés que pareciam ter asas? E aqueles olhos pretos, muito
grandes, que lampejavam a cada volta, não eram sobrenaturais?

Na edição Ediouro, ano 2003, do livro de Victor Hugo, op. cit., à p. 73 lê-se: “Cada vez
que essa figura radiante passava girando diante de alguém, seus grandes olhos negros
lançavam um relâmpago”. E mais abaixo, na mesma página: “...seus cabelos negros,
seus olhos como uma chama, era criatura sobrenatural”. E à p. 290 quando mestre
Jacques (Procurador do rei no Tribunal da Igreja) conspirava com Cláudio Frollo (o
arcediago de Notre Dame) para prender a cigana “...O processo está pronto; depressa se
arranja tudo! Uma linda criatura, pela minha alma, essa dançarina! Os mais lindos olhos
negros que já vi! Duas granadas[16] do Egito!...” E ao longo das mais de quinhentas
páginas de seu romance, Victor Hugo volta, várias vezes, a falar do olhar de Esmeralda.
Curioso é que a cigana não era legítima filha-do-vento, pois fora raptada de uma
família, em Paris, quando criancinha. Mas o romancista pôs nos olhos dela toda magia
do olhar autenticamente cigano.

No imortal romance Por quem os sinos dobram, seu autor, Ernest Hemingway, no
capítulo II, p. 16, nos apresenta um cigano como se segue:

— Não deixe isto muito próximo da gruta — disse o homem sentado, um rapaz de
olhos azuis num rosto moreno, bonito tipo cigano. — Há fogo lá dentro.

Em A virgem e o cigano[17], obra-prima de D. H. Lawrence, o olhar cigano aparece em


dezenas de páginas. A heroína parece ter sido encantada, hipnotizada por ele. Vamos
citar apenas esta passagem à p. 81:
Viu então o rosto do cigano; o nariz retilíneo, os lábios móveis e delgados, o
olhar direto e significativo dos olhos negros, que pareciam feri-la num ponto
oculto e vital, infalivelmente.

No cancioneiro popular, a magia dos olhos e do olhar cigano está presente em inúmeras
canções. Encontramos mais de vinte que falam do tema. Citamos quatro exemplos:

I
Olhos negros, penetrantes...
onde o olhar toma a alma,
invade audacioso os pensamentos
emitindo desejos...
faz sentir na tez o calor ansioso do toque.
..............................................................
In cigano sedutor, de Yuri Gitano
II
Chegaste tímida, descalça e
com lascívia no andar
E dançaste e provocaste o meu desejo
e simulaste, insinuaste e dissimulaste
E súbito, olhaste no fundo de meus olhos e me desnudaste.
..................................................................
In Cigana, de José Eduardo Camargo

III

Foi num entardecer em Valência


quando seus olhos ciganos cruzaram os meus
Inquietos, fugazes, desesperados,
devassando minha alma.
.................................................
Foi num entardecer em Valência
que perdi minha alma.
Entre o negro e o profundo dos teus olhos
e o som da tua guitarra profana.

In Paixão Gitana, de Mhãinah

IV

Ela é bonita, seus cabelos muito negros


e seu corpo faz meu corpo delirar

O seu olhar desperta em mim uma vontade

de enlouquecer, de me perder, de me entregar.


......................................................
In Sandra Rosa Madalena, de Sidney Magal

James Wells, viajante inglês, que esteve no Brasil entre 1869 e 1886, escreveu um
livro[18] e registrou um batuque onde descreve um indivíduo aciganado da seguinte
forma:
... um sujeito selvagem, com cara de cigano, belo, airoso como um Adónis,
com os olhos de uma gazela, mas que contêm o fogo de um gato selvagem, um
grande dançarino...

E em outra página do mesmo livro escreve: “...o cigano aparece só. Os cabelos
cacheados e longos, o cavanhaque e o olhar longínquo e desconfiado compõem a
estranha imagem do cigano”.

O reverendo Robert Walsh (1772-1852) transitou pelo Brasil em 1828 e 1829; escreveu o
livro Notícias do Brasil, ele nos diz que os ciganos tinham olhos e cabelos negros...

Não esqueçamos de que o R. Walsh foi um dos mais preconceituosos


escritores/viajantes que passaram pelo Brasil. Nós o citamos, de passagem, porque não
temos preconceito como ele tinha, nem queremos ser como ele, que não poupou o povo
cigano.

Sir Richard Francis Burton[19] (1821-1890) dá a seguinte nota no rodapé de seu livro
The Jew, the Gypsy and El Islam, p. 169:

Every observer has noticed the Gypsy eye, which films over, as it were, as soon
as the owner becomes weary or ennuyé; it has also a remarkable “far-off”
glance, as if looking over and beyond you. Borrow (The Zincali) describes it as
a “strange stare like nothing else in this world”. And again he says that “a thin
glaze steals over it in repose, and seems to emit phosphoric light”.

[Todo observador notou o olho cigano, que fica como se enevoado logo que o
dono se torna enfastiado ou aborrecido; ele tem também um notável olhar
distante, um lampejo como se procurasse no entorno e além de você. Borrow
(The Zincali) descreve-o como uma “estranha fixidez, jamais vista neste
mundo”. E de novo ele diz que “um fino embaçamento cobre-o em repouso, e
parece emitir uma luz fosfórica”.]

Falando dos Jats, habitantes (nômades) do noroeste da Índia, provavelmente terra dos
ciganos, Francis Burton assim expressa:

The Jats in appearance are a swarthy and uncomely race, dirty in extreme, long,
gaunt, bony, and rarely, if ever, in good condition. Their beards are thin, and
there is a curious (i.e. Gypsy-like) expression in their eyes.

[Os jats, na aparência são morenos trigueiros, Raça incomum, suja ao extremo, alta,
esquálida, ossuda, notavelmente quase sempre em boa condição. As barbas são ralas e
há uma curiosa (i. é. como cigana) expressão nos seus olhos.}

Edward Rice, na biografia de Burton, citado, nos dá importante contribuição sobre o


tema olhar cigano. Vamos às páginas 136 e 137, do livro que ele escreveu sobre Burton:

A “curiosa expressão” que ele [Burton] viu nos olhos dos jats era o chamado
“olhar cigano” que sempre intrigava Burton quando escrevia sobre os ciganos,
pois sempre lhe diziam que ele próprio (Burton) tinha esse mesmo olhar.

E transcreve palavras de Burton, ipsis litteris:


O cigano asiático também tem aquela peculiar e indescritível aparência e
expressão do olhar, que é tão desenvolvida nos roma [ciganos] do Marrocos e
Espanha mourisca [...]: “um traço que, como sinal na testa do primeiro
assassino, se imprime nessa raça estigmatizada por toda a terra e, uma vez
visto, nunca mais é esquecido. O “Mau-olhado” não é o menor dos poderes que
a superstição atribui a esse povo; e se há verdade na doutrina de super-
sensibilidade, do magnetismo animal, não se pode enquadrar na imaginação um
olhar tão bem calculado, tão intensa a força magnética[20].

Mais tarde, Burton [livro de Rice], ao encontrar ciganos na Síria, sentiu-se novamente
atraído pelo olhar.

Os longos cabelos ásperos e colados à cabeça, com a trança enrolada em


espiral, os olhos bem castanhos, cuja mirada típica é inconfundível, os pomos
proeminentes como os dos tártaros, e os lábios de formato irregular sugeriam
origem e fisionomia hindu.

Os ciganos espanhóis [ainda no livro de Rice]

Conservam o olho característico. A forma é perfeita, e tem uma mirada especial à qual
se atribui o poder de gerar grandes passions — um dos privilégios do olhar. Várias
vezes notei sua fixidez e brilho, que cintila como luz fosforescente, clarão que em
alguns olhos indica loucura. Também observei o olhar “ que parece fitar algo além de
nós, e a alternância entre a mirada fixa e um embaçamento ou toldamento da pupila
distante”

Após a morte de Burton, The Gypsy Lore Journal de janeiro de 1891, em seu obituário,
observou:

A singular idiossincrasia freqüentemente notada por seus amigos — a


peculiaridade de seus olhos. “Quando ele [o olhar] fita a pessoa”, disse alguém
que o conhece bem, “ele atravessa e depois, se toldando, parece ver algo mais
além”. Richard Burton é o único homem (não-cigano) com essa peculiaridade
[...].

Elwood B. Trigg, em seu livro Gypsy & Demons Divinities, (Citadel Press, N. J., p. 35,
assim nos fala:

The Gypsy’s eyes are normally darker and more brilliant than those of other
peoples. Among some gypsies, however, this feature is even more intense than
others. It requires little imagination to see how such individuals might be
recognized as strangely different than others with a special power to work
magic through the use of their eyes.

[Os olhos ciganos são normalmente mais escuros e mais brilhantes do que os
das outras pessoas. Entre alguns ciganos, contudo, esta feição é mais intensa do
que outras. Requer pouca imaginação para se ver como tais indivíduos podem
reconhecê-los estranhamente diferentes do que outros, com especial poder de
magia, através do uso de seus olhos.]
Clemente Cimorra, em Los Gitanos, à p. 6 nos fala: “la viva expresión de los ojos”... O
autor nos informa à p. 44, livro citado:

Y. F. M. Pabanó que escribe en 1915 y de una manera material no há conocido más que
a los gitanos de Andalucía, expresa: “Los ojos del hombre gitano, negros, vivos y
penetrantes, poseen cierta peculiaridad que permite reconercerle al punto, sea
cualquiera el disfraz com que se cubra; bajo el traje más ceremonioso, como si adopta
la vestidura más sucia y harapienta, al instante se advierte la singular y profunda fijeza
de su mirada. Podrá conocerse a primera vista el ojo pequeno del hebreo, las pupila
obliqua del chino, o la rasgada e intensa del musulmán; pero el ojo del gitano, aunque
regular y proporcionalmente igual a los de las demás castas europeas, se distingue em
seguida por su fulgor; un fulgor extrano, que parece a luz del fósforo.

[Y. F. M. Pabanó que escreve, em 1915, e que de uma maneira concreta não
conheceu outros ciganos além dos da Andaluzia, expressou: “Os olhos do
homem cigano, negros, vivos e penetrantes, possuem certa peculiaridade que
permite reconhecê-lo a tal ponto, independente de qualquer disfarce com que se
esconde; seja o traje mais cerimonioso, ou se adota a veste mais suja e
esfarrapada, num instante se percebe a singular e profunda fixidez de seu olhar.
Pode-se conhecer à primeira vista o olho pequeno do judeu, a pupila oblíqua do
chinês, ou a rasgada e intensa do muçulmano; mas o olho do cigano, embora
regular e proporcionalmente igual aos das demais etnias européias, se
distingue, em seguida, por seu fulgor; uma cintilação estranha que parece a luz
do fósforo”].

Martin Block, em Moeurs et Coutumes Tziganes, pp. 67-68, traça excelente comentário
sobre as singularidades do olhar dos gitanos:

C’est à son regard qu’on reconnaît le plus sûrement un tzigane. A défaut de tout
autre particularité anthropologique, son oeil le trahit. Le language s’avoue
impuissant à caractériser expréssement un tel regard. La science n’en a pas
encore entrepis l’étude, et c’est dommage; elle laisse là libre carrière aux
peintres et aux poètes Le regard rest pourtant, avec la démarche, un des
meilleurs indices permettant d’attribuer à chaque individu telle ou telle origine
ethnique. Il suffit de savoir l’observer.

Il y a dans les yeux du tzigane quelque chose d’inquiet, de mobile, qui peut
devenir singulièrement perçant dés que le regard se pose sur point précis. La
manière dont se répartit la lumière frappant ces yeux, joint à l’aspiration à se
porter du dedans au dehors, à saisir l’objet que le regard reflèt, ne peut
manquer de nous captiver, même si la pupille est colorée en bleu. Il semble
presque qu’inconsciement s’imprime ainsi chez ces primitfs un je ne sais quoi
venant de l’éternité, qu’ils nous ouvrent un aperçu sur l’au delà. Abîme pour
nous insondable. Par les dimensions de sa surface lumineuse, par l’ardeur de
son éclat, l’oeil du Tzigane laisse soupçonner la passion contenue mais intense
qui unit à la bonté la cruauté, donne simultanément libre cours à l’amour et à la
haine, accouple la douceur à la sauvagerie. Tout un monde s’est réfugié dans
les regards du Tzigane, ou plus généralement des différents peuples primitifs
restés en dehors de la civilisation européenne. On retrouve avec étonnement
chez beaucoup de jolies femmes tziganes le même éclat exalté, presque
effrayant, qui caractérise les peuples de l’Inde. Comparez les traits des
Indiennes, tels que nous les font connaître tant d’illustrations, aux
photographies de Tziganes [...] et vous ne pourrez qu’être frappés de
l’analogie. L’oeil noir ou d’un brun châtain se détache sur un vaste fond blanc,
dont ce contraste augmente encore la blancheur. La chevelure d’un noir
poisseux et l’or ou l’argent des parures qui l’ornent ainsi que les oreilles
semblant rivaliser d’éclat avec cette blancheur des yeux et des dents.

Em seqüência, a excelente tradução do texto supra, feita por Léa e Jessé Cortines
Peixoto:

[É pelo seu olhar que se reconhece mais seguramente um cigano. À ausência de


qualquer outra particularidade antropológica, seu olho o trai. A linguagem se
reconhece impotente para caracterizar precisamente um tal olhar. A ciência ainda não
empreendeu o estudo, e isto é lamentável; ela deixa aí inteira liberdade aos pintores e
poetas. O olhar permanece portanto, neste caso, um dos melhores índices, permitindo
atribuir a cada indivíduo tal ou qual origem étnica. É bastante saber observar.]

[Há nos olhos do cigano qualquer coisa de inquieto, de mobilidade, que pode
se tornar singularmente penetrante, desde que o olhar se fixe sobre um ponto
preciso. A maneira pela qual se reparte a luz brilhante desses olhos, associa à
aspiração de transportar-se de dentro ou fora, para apoderar-se do objeto, que o
olhar reflete, não pode deixar de nos cativar, mesmo se a pupila for colorida de
azul. Parece quase que inconscientemente se imprime assim nestes primitivos
um não sei que vindo da eternidade, que eles nos abrem uma percepção do
mais além. Abismo para nós insondável. Pelas dimensões de sua superfície
luminosa, pelo ardor do seu brilho, o olhar do cigano permite supor a paixão
contida, porém, intensa, que une à ternura a crueldade, dá simultaneamente
livre curso ao amor e ao ódio, une à doçura, a selvageria. Todo um mundo se
refugia nos olhares do cigano, ou mais geralmente nos diferentes povos
primitivos, remanescentes fora da civilização européia. Redescobre-se, com
espanto, nas muito bonitas mulheres ciganas, o mesmo brilho exaltado, quase
assustador, que caracteriza os povos da Índia. Compare os traços dos indianos
tais como nos fazem conhecer tantas ilustrações ou fotografias de ciganos [....],
e não poderemos nos surpreender da analogia. O olho preto ou castanho claro
ou escuro, se destaca sobre um vasto fundo branco, cujo contraste aumenta
ainda mais a brancura. A cabeleira de um preto engordurado e o ouro ou prata
dos adereços que o ornam, também as orelhas, parecendo rivalizar o brilho com
esta brancura dos olhos e dos dentes.]

Jules Bloch[21] em seu livro Les Tsiganes, à p. 42, nos informa que o antropólogo M.
Pittard, entre outras considerações diz que os ciganos têm:

Leur teint légèrement basané, leurs cheveux noirs de jais, leur nez droit bien
construit, leurs dents blanches, leurs yeux bruns largement fendus, au regard
vif ou langoureux, la souplesse générale de leur démarche, l’harmonie de leurs
gestes, les placent, dans l’ordre physique, bien avant beaucoup de populations
européennes... Les Tsiganes paraissent avoir une santé à tout épreuve...

[A tez ligeiramente bronzeada, seus cabelos negros como azeviche, nariz reto,
bem feito, dentes brancos, olhos castanhos, amplamente rasgados;
penetrantes ou voluptuosos, a flexibilidade geral de seu caminhar, a harmonia
de seus gestos, o coloca, na ordem física, bem adiante de muitas populações
européias... Os ciganos parecem ter uma saúde à toda prova...]

Em interessante monografia História dos ciganos no Brasil, ainda inédita, Rodrigo


Corrêa Teixeira[22] faz, em três parágrafos, digressões sobre o olhar cigano. Pedimos
vênia para citar o primeiro e o último:

Quanto ao olhar dos ciganos, era tido mais do que um elemento de sua aparência
física; era como tendo uma dimensão transcendental. Numa sociedade que transmitia
seus saberes, tradicionalmente, por forma oral,, o olhar é o ponto de partida para a
compreensão entre as pessoas. Além disso, era através dele que se confirmava um
compromisso (negócios ou casamento, por ex.) depois da palavra dada, olhando-se nos
olhos do cliente ou do outro cigano.

Os ciganos foram, não se sabe a partir de quando, considerados como portadores de


um olhar mágico e poderoso, capaz de lançar pragas e maldições. Este olhar se
caracterizaria não só pelo exotismo dos olhos com grandes pupilas, mas também por
uma certa magia na forma de fixá-los. No século XIX, tal imagem ganhou mais
relevância graças ao movimento romântico.

Lemos em Pierre Derlon (Tradições ocultas dos ciganos), à p. 27, o seguinte:

... Entre estas a faculdade do “olhar”; este pode servir a finalidades defensivas
ou mesmo agressivas; entretanto, é freqüentemente utilizado pelos feiticeiros
(kakus) para apaziguar ou incutir confiança no próximo.

Teófilo Gautier em Gitanos do Monte Sagrado nos dá esta mensagem, apud Jean-Paul
Clébert (The gypsies, p. 92):

Their swarthy complexion brings out the clarity of their oriental eyes, which are
tempered by I do not know what mysterious sadness, like the memory of an absent
motherland and fallen grandeur.

[Sua pele trigueira realça o brilho dos seus olhos orientais, os quais são amenizados
por um quê de misteriosa tristeza, como memória de uma pátria ausente e uma
grandeza perdida].

Virgínia Woolf, em seu romance famoso Orlando, nos brinda com esta fantasia:

Estes catálogos de beleza juvenil não podem terminar sem a menção dos olhos
e da testa! Ai de mim, que as pessoas raramente nascem sem estes atributos!
pois, ao olharmos para Orlando parado junto à janela, temos de reconhecer que
possuía olhos como violetas encharcadas, tão grandes que a água parecia
chegar às bordas e alargá-los....

Observação do organizador desta coletânea: Orlando era, até à metade do livro, um


jovem fidalgo e da metade em diante era moça, cigana, raptada, criada e educada por
um conde inglês. Curiosamente, a história retrata duzentos anos.

Cristina da Costa Pereira[23], em seu livro Povo cigano, à página 92, diz:
O olhar para o cigano é fundamental em suas mais diversas relações com as pessoas:
amor, negócios, práticas místicas, etc. Eles consideram que o olhar nos olhos é a
melhor maneira de se conhecer a pessoa com quem se está falando. Eles costumam
dizer que a leitura do olhar é “conhecimento intuitivo que todos ciganos têm” [...]. Eis
o que alguns ciganos falaram a respeito do olhar: “Como é que eu estou aqui, falando
de minha vida, de meu povo, se te conheço tão pouco, quer dizer, em que me baseio
para poder confiar no que você me diz, nas suas intenções em relação aos ciganos, no
livro que você vai escrever sobre nós? Mas é que, na verdade eu já te conheço, porque
eu olhei bem para você? Cigano lê no olho, moça.”

Pedro Paulo Serodio Garcia é padre. Escreveu o livro intitulado O padre cigano. Ele é
um dedicado missionário que vive entre ciganos, perambulando de acampamento em
acampamento, pregando a palavra de Deus, ensinando o Evangelho, sem proselitismo.
Observa e respeita os costumes e usos dos ciganos. Não quer mudá-los quer conviver
com eles, respeitando as diferenças, solidarizando, compreendendo, ajudando. Certa
feita, em uma festa de batismo comunitário, nos relata o seguinte, à p. 73, do seu livro:

Durante as anotações [falava dos registros dos nomes dos que seriam batizados]
percebi que um dos recém-chegados para a festa do Santo me olhava muito. Ele me
acompanhava com dois grandes olhos negros, contemplava-me o seu coração,
interrogando-me através do seu semblante: “Quem é você?” “Você sabe quem sou
eu?”

Os ciganos olham muito. Mesmo quando os seus olhos estão voltados para outra
direção, estão observando. Estando distraídos com alguma conversa ou negócio
importante, alguém está de olho vivo. Mas aquele não me observava em função do
grupo ou por alguma desconfiança. Era mais do que isso. Ele me contemplava.
Olhava-me dele para ele.

Júlio Dantas (1876-1962), Escritor, jornalista, diplomata e político português escreveu


emocionante peça teatral A Severa onde algumas vezes exaltou a beleza do olhar cigano
através de suas personagens. Citamos duas passagens:

É a maior fadista cá da Mouraria! Quando canta, parece que a alma da gente vai atrás
dela. Mas, sangue de cigana, braço peludo e lume no olho! Não é de quem quer; é de
quem ela quer. (p. 15)

...é a mulher que me convém! Assim mesmo, em bruto, como nasceu, com o sol no
fundo dos olhos e a alma na ponta dos dedos, a afiar o calão e a navalha, a rir com o
sangue pelas toiradas, a chorar com o fado pelas vielas! (p. 28)

MEU TESTEMUNHO:

Conheci alguém que tinha o olhar cigano. Um homem de valor inconteste. Erudito,
administrador, engenheiro competente, honestíssimo, humanista: Foi presidente do
antigo IAPI, presidente do Clube de Engenharia, membro da Comissão que instituiu a
siderurgia no Brasil, presidente do Conselho Nacional do Petróleo — CNP, Prefeito de
Brasília, presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia — IBS, presidente da
Companhia Siderúrgica Nacional – CSN e membro da Alta Administração em muitas
empresas estatais e privadas. Quando morreu, tinha como patrimônio um simples
apartamento à rua Figueiredo de Magalhães, na cidade do Rio de Janeiro. Morreu pobre.
Estalão de probidade. Este homem chamava-se Plínio Reis de Cantanhede[24] Almeida.
Um cavalheiro, um cérebro privilegiado. Descendente ou não de cigano, na verdade era
um ser humano extraordinário, primus inter pares.

Agora, transcrevemos um parágrafo da excelente, sedutora e comovente história


Mikaela (cigana), do escritor José Fleming, em Balaio de paiol: Ed. GREBAL (Grêmio
Barramansense de Letras).

Um rosto moreno, meio encoberto por sedosos cabelos negros, que caindo sobre o
ombro direito, cobriam um lado da face onde seus olhos, tão negros como os cabelos,
luziam inquietos e observadores...

E nosso Visconde de Taunay em sua excelente novela assim vê os olhos da Ciganinha


(p.10, 16, 18 e 26:

Cabelos negros, bastos, então mais cuidados e lustrosos, mas sempre com a sua
forcinha, de preferência vermelha, cabelos ondeados, com uns crespinhos rebeldes na
testa e na nuca roliça; rosto para o comprido, num oval regular e como fechando a
encantadora covinha no queixo; tez não muito morena, tanto assim que bem largas
sardas lembravam as grandes soalheiras de outrora, apanhadas em criança;
sobrancelhas de japonesa; olhos enormes, negros, rutilantes, aveludados, com uns
cílios que punham sombra às atrigueiradas faces em que florescia suave rubidez;
lábios úmidos, polposos, com o brilho de romã aberta, num arco deliciosamente
desenhado, orelhinhas pequeninas, como conchinhas nacaradas.

Talvez por isso, mas muito mais pelos seus olhos a luzirem como brilhantes negros,
entre orlas de cabeludas pestanas...

Se junto ao Parnahiba
Gemem tristes salgueiros,
Perto dela em vão soluço
Preso aos olhos feiticeiros.

A Enciclopédia Clássica, baseada na britânica (1911), diz o seguinte:

By one feature, however, they are easily distinguishable and recognize one another,
viz by the lustre of their eyes and the whiteness of their teeth

[Pelos traços, contudo, são facilmente notados e reconhecem um ao outro, seja pelo
brilho suave de seus olhos e pelos dentes claros.]

E com este frevo canção (Cigana fatal), dos irmãos Valença, apud Caarüra, iniciamos o
fechamento deste caderno dedicado ao olhar do cigano:

Cigana, morrer é o menos


por teus encantos fatais:
Teus lábios são dois venenos,
teus olhos são dois punhais.

Ai, não sorria


desta paixão insana.
Nestes três dias,
me matarás, cigana.
Ah! Não resistimos e vamos transcrever, com adaptação nossa, trecho de um poemeto
de Martins Fontes que nos diz assim:

Tudo que abrange o pensamento,


Do grão de areia ao firmamento,
O olhar “cigano” traduz!
Seus olhos são miraculosos!
Nos seus mistérios fabulosos,
A treva é luz!

E na revista Ilustração Portuguesa, março de 1909, lemos as ciganas d´olhos de luz...

Pessoas comuns como este autor; poetas, artistas, contistas e romancistas tecem loas ao
brilho, ao magnetismo, às chispas do olhar cigano. Seguem a mesma linha, etnógrafos,
antropólogos, folcloristas e historiadores. Olhos que nos enfeitiçam, nos envolvem, nos
amedrontam. Olhos profundos, hipnóticos, tristes, próximos e distantes. Misteriosos,
rasgados, verdes, castanhos ou negros, feiticeiros doces, vibrantes, benéficos ou
maléficos. Olhos de muito sofrimento, registros de lutas de dois mil anos de
sobrevivência. Vamos, pois, nos render ao diamante, ao fascínio e à luz do olhar desses
nômades, que vieram lá de longe, da Índia, nos encantar. E vamos adicionar a linda
composição de Jimi Hendrix - Gypsy Eyes (tradução) Lyrics:

Olhos ciganos

Olhos ciganos
Bem, descobri que fui hipnotizado,
amo seus olhos ciganos,
amo seus olhos ciganos
tudo bem!
hey! cigana
escalo minha árvore e fico e me aqueço no fogo
querendo descobrir onde neste mundo você está
e sabendo o tempo todo que você continua
rodando pelo país
você ainda pensa em mim?
oh! minha cigana
bem, eu fui até a estrada, o lugar onde você vive
aquele que se situa a milhão de milhas
sim, saí por aquela estrada em busca de seu
amor e de minha alma também
mas quando encontrá-la não vou deixá-la ir
lembro-me da primeira vez que a vi
as lágrimas em seus olhos pareciam que tentavam dizer
oh menino, você sabe que eu poderia amar você
mas primeiro devo trilhar meu caminho
hoje, dois homens estranhos brigaram até a
morte por mim
vou encontrá-lo lá na velha estrada velha
hey!
tenho procurado por tanto tempo e meus pés
me fizeram perder a batalha
andando pela estrada meus joelhos cansados
me jogaram fora do caminho, caí mas ouvi uma
voz doce chamar
minha olhos ciganos está vindo e serei salvo
oh estarei salvo
por que eu a amo tanto
disse eu te amo
hey!
te amo uh
Deus, eu te amo
hey!

O fado, plangente música tocada em Portugal, principalmente em Lisboa, não podia


deixar de tecer loas aos olhos da cigana e assim nos fala em bela canção, de maneira
metafórica, sobre as meninas dos olhos e de como estraçalham nosso coração:

Sinas
Música de Alfredo Marceneiro
Letra de Henrique Rego

Já mandei ler tantas sinas


Na palma da minha mão
E todas elas constatam
Que as buliçosas meninas
Dos teus olhos é que são
As meninas que me matam

Meninas tão menineiras


Azougadas, leves, finas,
Descrentes, loucas, profanas.
São pequenas feiticeiras
Em janelas pequeninas
De rosadas persianas

Essas meninas são luzes


Que talvez Nossa Senhora
Não tenha iguais no altar.
Mas Deus me livre das cruzes
Que há-de ter pela vida afora
Quem delas se enamorar

Essas meninas bulhentas


Mas de feição tão suave
Não deixando de bulir
Por elas passo tormentas
Fecha as meninas à chave
Que são horas de dormir

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[1] Bacharel em Direito e Administrador. Autor de Organização de cooperativas de consumo


(premiado no XIX Congresso Brasileiro de Cooperativismo, em Brasília); Brumas da história
do Brasil. RIHGB. no 417, out./dez. 2002; Possessão, São Paulo: Ícone Editora, 1995; O
espírito milenar, Goiânia: Editora Paulo de Tarso, sd.
[2] Famílias, grupos e subgrupos.
[3] Heinrich Moritz Gottlieb Grellmann. In Dissertation on the Gypsies, London, 1787.
[4] Este livro é um terrível libelo contra os ciganos. É um deboche que o autor tenha se intitulado ‘senhor
cigano’ ou ‘cigano cavalheiro’ (Romano ray). Na verdade, ele detestava os ciganos. Mais um pregador (tal
como Walsh) que não amava suas ovelhas.
[5] O diabo existe? Tomo I Coletânea de R. Magalhães Jr. Artenova, 1973.
[6] Poeta, folclorista, jornalista, memorialista, etnógrafo, historiador e médico. Referência em
ciganologia.
[7] Apud Francisco Adolfo Coelho, Os ciganos de Portugal, p. 181.
[8] Princesa cigana, Kalderash. Escritora e advogada. É uma grande defensora da causa cigana.
[9] Suposed power to harm people by look or glance [Suposto poder de causar dano pelo olhar ou
lampejo]. Em Câmara Cascudo (Dicionário do folclore brasileiro) encontramos este verbete: mau-
olhado —. “... A crença é universal e milenar. Mau-olhado, seca-pimenteira, malocchio, evil eye, bose
blick, mau de ojo, fascínio, olho-grande, olho-grosso, etc., são outros sinônimos...”
[10] Livraria José Olímpio, 15a ed. 1967.
[11] LPM Pocket, v. 78, p. 30, São Paulo.
[12] Foi membro da Academia Brasileira de Letras.
[13] Escritor francês (1802-1870). Assinou mais de seiscentas obras entre contos, peças de teatro, dramas
e romances: Os três mosqueteiros, Vinte anos depois; O visconde de Bragelone; Memórias de um
médico; A dama de Monsoreau; Os quarenta e cinco; O homem da máscara de ferro; A boca do inferno;
O conde de Monte Cristo etc.
[14] Círculo do Livro: São Paulo. É edição condensada.
[15] Escritor e poeta francês (1802-1885). Escreveu romances maravilhosos: Os miseráveis, Noventa e
três, O homem que ri, Ian da Islândia, Trabalhadores do mar, Ruy Blas. É reconhecido como o escritor
mais prestigioso do século.
[16] Queria dizer que tinham muito brilho. Em outra edição a palavra é carbúnculo.
[17] Círculo do livro: São Paulo.
[18] Explorando e viajando três mil milhas através do Brasil do Rio de Janeiro ao Maranhão. Belo
Horizonte: Itatiaia, 1995
[19] Erudito, cientista, soldado, agente secreto, explorador, aventureiro, tradutor e escritor. Falava 29
línguas (inclusive o romani), além de inúmeros dialetos: Este fenômeno foi Sir Richard Francis Burton.
Os excertos são de seu livro The Jew the Gypsy and El Islam. New York, 1898. Dizem que tinha
ascendência cigana. Sua tumba tem o formato de uma tenda. Este aventureiro permaneceu no Brasil entre
1865-1869, como cônsul da Inglaterra, em Santos. Escreveu sobre o Brasil: Explorations of the highlands
of the Brazil; with a full account of the gold and diamond mines.
[20] Esta citação está, também, entre aspas no livro de Burton: “a feature which, like the brand on the
forehead of the first murderer, stamps this marked race over the whole globe, and when once observed is
never forgotten. The ‘evil Eye’ is not the least of the powers with which this people is superstitiously
invested; and if there be any truth in the overstrained (?) doctrines of animal magnetism, one could not
possibly frame to the imagination an eye so well calculated, so intense a magnetic force.”
[21] Professor honorário do Colégio de França. Seu livro foi editado por Presses Universitaires de France,
Paris, 1953.
[22] Mestre em História e Geografia.
[23] Escritora e professora de literatura.
[24] Os “Cantanhede”, antepassados do dr. Plínio, teriam vindo para o Brasil, em 1718. Em Melo Morais
Filho. (Os ciganos no Brasil e cancioneiro dos ciganos, p. 27).

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