UFMT
Cuiabá-MT, 2006
OLANDINA DELLA JUSTINA
UFMT
Cuiabá, 2006
FICHA CATALOGRÁFICA
CDU – 81’373.45
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE LINGUAGENS
Aos participantes, anônimos para este estudo, mas não para o meu coração, por
cederem seu tempo e valiosos conhecimentos para que eu pudesse desenvolver a
pesquisa.
À Profa. Dra. Ana Antônia de Assis Peterson, minha querida orientadora, pela
paciência e maneira generosa que compartilha os seus preciosos conhecimentos e
pela presença marcante em todas as fases do curso.
À Profa. Dra. Maria Inês Pagliarini Cox pela gentileza e competência com que me
acompanhou ao longo de todo o mestrado e pela disponibilidade em contribuir,
também nesta fase final, com seus ricos saberes.
À Profa. Dra. Dilys Karen Rees por gentilmente aceitar compor a banca final e pelas
preciosas contribuições para a reestruturação do trabalho e à Profa. Dra.Deise Prina
Dutra pelas sugestões iniciais.
JUSTINA, Olandina Della. The presence and use of Anglicisms in the Brazilian
daily life: the viewpoint of common people. Master Thesis in Studies of Language.
Thesis. Supervisor: Profa. Dra. Ana Antônia de Assis-Peterson. Cuiabá:
Universidade Federal de Mato Grosso, 2006.
This Master Thesis presents the results of a qualitative research about the viewpoint
of common people (professionals that work with commerce, foreign country
exchange programs, health, beauty, banks, domestic services, computer services)
about the presence and use of Anglicisms in the Brazilian daily life. Data were
collected by the use of qualitative interviews and addressed to the professional and
social activities of each of the fourteen participants regarding the Anglicisms
frequently used in their activities. Three themes were highlighted out of the data
analysis and interpretation. Two of them were organized as beliefs and one as action
of the common man related to the Anglicisms. The beliefs are distributed in: 1)
English language: insignia of maxi-valorization and search of identification with the
other - associated with social and economic status and 2) English language: insignia
of media influence - seen as the publicizing agent of the Anglicisms in the Brazilian
daily life. How the common men act face to the Anglicism – refers to the actions and
shows the common people may not understand the meaning of the English word but
know how to do the task related to it. The interpretation and discussion of the data
were conducted under three theoretical guidelines: a) the “snobbish appeal” principle
marked by the conformity to a pattern of prestige kept by the English language; b) the
critique to the North-American imperialism principle based on a patriotic and
nationalist feeling in which the submissive acceptance of North-American language
and culture means to devalue and attack the Brazilian language and culture; c) the
pragmatic or instrumental principle in which people have around them other available
strategies based on concrete experiences which they can use to perform their social
and professional tasks.
Dedicatória ............................................................................................. iv
Agradecimentos ...................................................................................... v
Resumo ................................................................................................. vii
Abstract ................................................................................................ viii
Lista de Figuras ..................................................................................... ix
Lista de Quadros ................................................................................... x
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 01
Organização da dissertação …………...………………………………………………. 06
1
Hoje, o Projeto de Lei 1676/99 (agora 1676-D/99) de Aldo Rebelo (o deputado atualmente
ocupa o cargo de Presidente do Congresso Nacional) tramita em forma de Substitutivo do
Senado Federal à lei de autoria do Senador Amir Lando e do Projeto de Lei nº 65/2000 da
Deputada Jussara Cony (Informações obtidas em www.camara.gov.br).
linguagem como o da “exigência de uso da variedade da língua falada pelas classes
dominantes como única forma legítima de acesso à mobilidade social e ao poder”.
Esse debate ou “guerra em torno das línguas” em que a compleição da vida
social se faz, de um lado, embasada por uma visão de lingua(gem) como pura e
única e, de outro, como constituída na pluralidade, diversidade, mistura, junto ao fato
de que havia autoridades incomodadas, na época, com o uso excessivo de
anglicismos, como o deputado Aldo Rebelo e a deputada Jussara Cony, levou-me a
perguntar de que forma o homem comum, ou seja, “os não lingüistas, os leigos, as
pessoas comuns que fazem parte da sociedade e que desconhecem os estudos
lingüísticos” (de Assis-Peterson, 2004)2, percebe o uso de termos e expressões da
língua inglesa presentes no seu cotidiano, nas ruas, em nome de estabelecimentos
comerciais, em estampas de camisetas, propagandas em “outdoors” 3, rótulos de
produtos, textos publicitários, na informática, etc. Afinal, não há como negar a
inclusão (outros diriam a “invasão”) da língua inglesa na vida cotidiana não só
brasileira, mas também de muitas outras nacionalidades, tendo em vista que a
organização social de qualquer sociedade depende da distribuição econômica, de
conhecimento lingüístico e de atos pragmáticos para ter acesso a recursos materiais
e simbólicos.
O foco deste estudo, portanto, é entender como pessoas comuns vêem o uso
de termos e expressões em língua inglesa inseridos em sua vida cotidiana e que
valores atribuem a eles. Os debates travados entre os lingüistas e outros
profissionais, formadores de opinião, entre os quais políticos, jornalistas, professores
de gramática, gramáticos puristas, em torno de estrangeirismos podem ser
desconhecidos para as pessoas comuns, no entanto, a construção de suas idéias
interessa à ciência e à própria sociedade, pois pode evidenciar características da
sociedade em que vivemos de modo a proporcionar dados valiosos não só para os
pesquisadores e lingüistas interessados em melhor compreender o processo
sociolingüístico e cultural do uso da linguagem, mas também para compreensão de
mundo das pessoas comuns.
O homem é influenciado pelo meio em que vive, no/pelo qual constrói sua
identidade, o seu “eu” a partir do “nós”, conforme propõe Bakhtin (1992). Os pontos
2
Comunicação Pessoal.
3
O termo outdoors é mantido ao invés de billboards por ser esse o termo de senso comum utilizado
por brasileiros ao se referirem aos cartazes estampados nas ruas.
de vista do homem comum podem, portanto, nos ajudar a vislumbrar outros
sentidos, a ressoar em contraposição aos outros discursos que marcam a língua no
Brasil tais quais os veiculados pela Lingüística (o discurso da ciência) e outros
marcados por preconceitos e perigosamente dogmáticos.
Em sintonia com Rajagopalan (2003:130), acredito ser importante que os
lingüistas (ou especialistas) ouçam os “leigos”, os “não-lingüistas” (na nossa
designação aqui, o homem comum ou pessoas comuns) porque também possuem
um vasto conhecimento sobre questões relativas à língua, à literatura e à linguagem
(embora tal conhecimento não seja reconhecido pela comunidade lingüística
enquanto científico). É no “leigo” – representante de grande parte da sociedade –
que, também, estão refletidas e se inter-relacionam todas as características da
sociedade num sentido mais amplo. O propósito deste trabalho é, então, “ouvir” o
homem comum e legitimar cientificamente o seu conhecimento construído ao longo
de experiências de vida. Pretendo juntar à voz do “político” (no caso, refletindo a voz
do gramático purista) e à voz do lingüista, a voz do homem comum ao realizar esta
pesquisa esperando que a pluralidade de pontos de vista adicione aprofundamento,
riqueza e densidade a nossa compreensão do fenômeno “anglicismos no cotidiano
brasileiro.”
Talvez, o português brasileiro nunca tenha sido tão afetado como hoje em
função da evolução na área das tecnologias e comunicação, sendo forçado a adotar
novas formas e funções lingüísticas, provenientes tanto de outras variantes
lingüísticas da própria língua portuguesa (a língua local), quanto da língua inglesa (a
língua global). É um novo tempo, de novas línguas, de novos modos de pensar,
fazer e ser. A mudança, contudo, não é exclusiva em termos dos setores da
sociedade que recebem influência (saúde, educação, mídia, negócios, indústria e
política) ou dos participantes da sociedade (classes sociais, intelectuais, pessoas
comuns, grupos étnicos, mulheres, homens, crianças, etc.) nos quais estão
inculcados. Todos são afetados.
Os termos originários do inglês presentes em nossa língua têm recebido
diversas denominações como estrangeirismos (Faraco, 2001:09; Garcez e Zilles,
2001:15; Bagno, 2001:49), estrangeirismos ingleses (Sardinha e Bárbara, 2005:97)
empréstimos (Garcez, 2001:15) ou anglicismos definidos por Garcez e Zilles
(2001:21) como “elementos do inglês”. Para minha pesquisa usarei os termos
empréstimos do inglês e anglicismos por entender que melhor traduzem as
características das expressões oriundas do inglês presentes em nossa língua, pois
geralmente são adaptadas ao “jeito brasileiro” alterando sua estrutura fonética
(predominantemente), morfológica e semântica original. O termo estrangeirismo
imprime a noção de algo distante, estranho e alheio à nossa cultura. Sob o prisma
das noções de transculturalidade que se aproxima da significância de tradução (Hall,
2003; Robins, 1991; Bhabha, 1990), mestiçagem (Gruzinski, 2001) e transculturação
(Fernando Ortiz, 1983) aqui compreendidos pelas transmutações, trocas e
reciprocidade entre culturas que se tornam misturadas, mestiças e convivem na
modernidade bem como da transglossia que Cox e Assis-Peterson (2002) entendem
que se as línguas que se misturam entre si indistintamente, vazando uma na outra
num processo de mestiçagem lingüístico-cultural. Assim, penso que a expressão
“empréstimo” representa melhor a sua função e significância, pois ao tomarmos algo
emprestado nos é permitido usá-lo à nossa maneira, introduzindo-o em nossa
cultura. Portanto, podemos imprimir aos empréstimos de outra língua as
características estruturais da nossa e ressignificá-los num movimento de
aproximação com o nosso contexto.
Atualmente, no português do Brasil, os anglicismos representam o maior
número de empréstimos lingüísticos se comparados com palavras de outras línguas
(francês, italiano, espanhol, árabe, etc.). Tal fato está associado, segundo alguns
autores citados por Ortiz (1996:14), a uma nova ordem mundial metaforicamente
traduzida por “primeira revolução mundial” (Alexander King, 1991), “terceira onda”
(Alvin Toffler, 1980), “sociedade informática” (Adam Shaff, 1990), “aldeia global”
(McLuhan, 1989) e “mundialização” (Renato Ortiz, 1996). Além desses, o termo
“globalização” é muito utilizado nas ciências econômicas, a partir das quais o uso
expandiu para outras ciências (Antony McGrew (1992) apud Hall (2003); Hall (2003),
Lessa entre outros. Daí, o uso de expressões em inglês não ser um fenômeno
exclusivo do Brasil. Mediante o uso midiático e via internet, elementos do inglês
entram em casas do mundo todo.
Para o professor de inglês, envolvido com questões lingüísticas e ideológicas,
cuja visão de linguagem está centrada no uso da língua nas práticas sociais, é
importante entender de que maneira esse inglês presente na vida social do brasileiro
o interpela ou não. Visões recentes de ensino comunicativo-interacional de língua
inglesa incentivam o professor a vislumbrar os anglicismos como meio de ensinar e
discutir a língua inglesa, com o objetivo de proporcionar ao professor um olhar mais
amplo e crítico sobre seus usos no cenário urbano brasileiro e de observar as
implicações sociais em seu entorno.
Assim, neste estudo4, por meio de entrevistas qualitativas, busquei
compreender como pessoas comuns (profissionais que lidam com comércio,
esportes, saúde, beleza, bancos, serviços domésticos e de informática) constroem e
explicitam nas suas falas o que pensam a respeito da presença e uso do inglês
exposto em cartazes, na rua, em mercadorias, camisetas, na imprensa falada e
escrita, na mídia, internet, isto é, nos produtos e objetos, nos meios de comunicação
e ferramentas profissionais presentes nas atividades que realizam diariamente na
sua língua e cultura. Em outras palavras, de que forma estariam esses brasileiros
pensando e convivendo com anglicismos em situações cotidianas de convívio social
e/ou profissional e que valores lhes atribuem. Para tanto, as seguintes perguntas
nortearam o estudo:
Organização da dissertação
4
A presente pesquisa está integrada ao projeto “Fricções lingüístico-culturais no escopo do ensino e
aprendizagem de inglês – Ouvindo e observando participantes da escola, família e comunidade”,
coordenado pela Profa. Dra. Ana Antônia de Assis-Peterson e vinculado ao Grupo de Pesquisa
“Transculturalidade e Educação Lingüística”, registrado no CNPq.
economia e mundialização da cultura. Justifico a opção pelos termos “anglicismos” e
“empréstimos do inglês” por melhor traduzirem o uso da língua pelo viés da
transculturalidade e transglossia.
No Capítulo 1, apresento os pressupostos norteadores da pesquisa, os quais
amparam teoricamente os encaminhamentos do estudo. No primeiro pressuposto,
“Os anglicismos fazem parte do cotidiano do brasileiro”, discuto a ubiqüidade de
empréstimos do inglês em várias atividades da vida do brasileiro. Aponto e
exemplifico alguns setores marcados pela presença de anglicismos. No pressuposto
2, “Há legitimidade no conhecimento comum”, trato sobre a legitimação do
conhecimento comum, proposto por Maffesoli (1984), tido como aspecto crucial
nesta pesquisa, para compreender o uso de anglicismos no cenário urbano
brasileiro. No item 3, “As crenças do homem comum podem auxiliar na compreensão
científica do uso da linguagem”, apresento discussões e definições de crenças, num
sentido mais amplo e também voltado para o ensino/aprendizagem de línguas,
situando a definição de crenças eleita para minha pesquisa. O pressuposto de
número 4, “Língua e cultura, globalização e mundialização são indissociáveis na
construção do conhecimento no mundo moderno”, contempla algumas definições de
cultura e discussões em torno de seus limites e conceitos no contexto da
modernidade. Como língua e cultura estão ligadas, são vistas sobre o mesmo
aspecto: da transculturalidade e da transglossia que emergem de um processo
sincrético e misto formado pela interlocução entre línguas e culturas diferentes. O
quinto pressuposto, “O uso de anglicismos não é atividade neutra”, expõe sobre a
expansão do inglês pelo mundo e suas implicações. A disseminação da língua não é
tida como algo neutro para alguns autores que apontam a penetração de ideologias
através da língua e argumentam que têm como “pano de fundo” interesses políticos,
econômicos e culturais de países do Primeiro Mundo. No último pressuposto, “O uso
de empréstimos do inglês é polêmico: dissonâncias entre a lingüística e a ortodoxia
gramatical”, apresento os conflitos entre os lingüistas, que entendem o uso de
anglicismos como um processo natural da língua e os “anti-anglicistas” que os vêem
como invasão à nossa língua. Entre as rajadas de prós e contras aos empréstimos
do inglês, as pessoas comuns se encontram muitas vezes alheias às batalhas, mas
não essencialmente ao uso de anglicismos em sua vida. Logo, têm seus conceitos e
crenças elaboradas, o que lhes permite opinar sobre o fenômeno e expor como o
vivencia.
O Capítulo 2 contém a ótica da pesquisa, de caráter qualitativo e de base
etnográfica bem como os procedimentos metodológicos empregados em que
enfatizo a entrevista qualitativa, meio fundamental para capturar a matéria-prima
analisada posteriormente. Brevemente, descrevo os cenários urbanos escolhidos
para a pesquisa e os 14 participantes que contribuíram para o estudo relacionando-
os com suas atividades e os anglicismos comumente usados nelas.
O Capítulo 3 consta de duas seções nas quais apresento a descrição e a
análise dos dados. A primeira está dividida em duas partes: a) Das Crenças e b)
Das Ações. Na parte “a”, descrevo as crenças das pessoas entrevistadas de forma
a elucidar e buscar o entendimento de suas falas em relação ao uso de
empréstimos do inglês no seu ambiente profissional e/ou social. Na parte “b”,
descrevo as ações dos participantes declarada em suas falas destacando sua
maneira de agir e interagir com os anglicismos. A parte “a” apresenta duas crenças
(a primeira é dividida em subcrenças) que emergiram nos depoimentos dos
participantes. Na Crença 1: Língua Inglesa: insígnia de maxi-valorização e de busca
de identificação com o Outro – trago as falas dos entrevistados relacionadas à
busca de identificação com os Estados Unidos e permeadas pelo sentimento de que
a língua inglesa representa o que é chique, bonito e de boa qualidade (Subcrença
1); a língua inglesa impulsiona nas pessoas comuns o desejo ou a necessidade de
ter bens econômicos e culturais, onde permeiam anglicismos, para desempenhar
suas atividades profissionais e/ou sociais de modo eficiente e vantajoso (Subcrença
2); no entanto, o desejo ou necessidade de identificação com o Outro gera aversão
aos anglicismos marcado por um sentimento nacionalista em defesa do Brasil
(Subcrença 3). Quanto à crença 2: Língua Inglesa: insígnia de influência da mídia,
para alguns dos participantes, os anglicismos são amplamente disseminados e
sustentados pela mídia que divulga empréstimos do inglês com o objetivo de vender
o produto e influenciar as pessoas, os consumidores. A parte “b” – Das ações: como
agem os homens comuns mediante os anglicismos – estabelece uma função prática
ou instrumental para o uso de empréstimos do inglês. Situa os anglicismos como
signos despidos do significado original (no inglês) e veste uma “roupagem” de
significado próprio ligado à operacionalização funcional dentro de sua atividade. O
signo, por vezes, não é percebido como um vocábulo de língua estrangeira. Na
segunda seção, faço a Discussão e Interpretação dos Dados os quais associo a três
vertentes ou princípios teóricos: a vertente do “apelo esnobe” e adesão ou rejeição à
cultura norte-americana, a da crítica ao imperialismo norte-americano e a
instrumental ou pragmática.
5
Telenovela da Rede Globo, da autora Glória Peres, apresentada no horário das 20h (Brasília), com
início em abril/2005 e término em novembro/2005.
– com sotaque marcado – de personagens que as usavam para a comunicação ou
para ostentar um certo status e o desejo de parecer mais “americanizado”.
A cultura estadunidense está presente também na telenovela da Rede Globo
Bang Bang, de autoria de Mário Prata, exibida no horário das 19h (Brasília). A bem
humorada trama retrocede na história – para o período de exploração do Oeste, no
século XIX (em torno de 1800 a 1870) e o enredo apresenta, como em América, o
“jeito americano” de se vestir e agir naquele período histórico. O retrato da cultura
dos Estados Unidos apresentado às crianças, jovens e adultos que assistem à
novela simplesmente veste “uma nova roupa” para chegar aos lares dos brasileiros
e, de forma bem humorada, caricaturiza os personagens, suas ações e os
acontecimentos dando à cultura estadunidense uma “cara de Brasil”.
Tais exemplos ilustrativos deixam evidente que, até em telenovelas,
apontadas como fortes audiências para o entretenimento da maioria das pessoas,
independentemente de classe social, acostumadas a mostrar temas do cotidiano dos
brasileiros, é marcante a influência norte-americana.
Ainda no universo da grande mídia, podemos ver propagandas de escolas de
inglês destinadas para um público jovem com boa situação financeira. As escolas
buscam representar a língua como status social e objeto de satisfação e sofisticação
para “ser bem sucedido” (vide comercial da Escola CCAA). Who let the dogs out ? É
a expressão que vemos e ouvimos (cantada) na propaganda da Volkswagem. A top
model internacional, Gisele Bündchen, ilustra o comercial de uma fábrica de
cosméticos repetindo diversas vezes: I ♥ my body (forma escrita) e I love my body
(cantada).
O reality show intitulado Big Brother Brasil6, que envolve milhões de
brasileiros nos conflitos dos confinados em uma casa montada para esse fim no
estúdio da Rede Globo de Televisão, apresenta todos os anos, diariamente, por um
período de cerca de três meses, quadros como o big spy, o big boss e os BBBs7.
A televisão por assinatura nos oferece uma infinidade de programas que têm
os nomes em inglês (Cartoon Network, Discovery Kids, HBO Family, Globo News,
Fox, Geographic, History Channel, Animal Planet, CNN entre outros). Às vezes tais
6
Anualmente é apresentada (Rede Globo de Televisão) uma versão do programa, diariamente, por
um período de aproximadamente três meses. Em cada versão, os participantes são diferentes,
geralmente pessoas pouco conhecidas na mídia. Segundo Nicola et alli (2003:31), a tradução literal é
“Grande Irmäo”. No entanto, há a definição em qualquer dicionário inglês e pode significar indivíduo
ou instituição/organização que exerce total controle na vida das demais pessoas.
7
Big Brothers são os participantes do programa que ficam confinados na casa do Big Brother.
programas apresentam conteúdo traduzido, mas made in the USA e há aqueles que
conservam o conteúdo na língua original, ou seja, na língua inglesa.
São poucos os exemplos aqui apresentados (ao tratarmos de mídia televisiva)
em tantos canais de TV disponíveis para todos, através dos quais são propagadas
informações das mais diversas, nos formatos de vários tipos e gostos chegando às
pessoas de todas as esferas sócio-econômicas (com exceção da TV a cabo, ainda
restrita a uma parcela mais abastada). As redes de TV apresentam de manhã até
a madrugada desenhos animados, filmes, noticiários, documentários, talk shows,
programas de marketing, entre outros que, se não são importados, proporcionam ao
brasileiro o convívio com empréstimos do inglês, entrevistas na língua inglesa e o
acesso à cultura e às ideologias dos países de 1 o mundo – Estados Unidos e
Inglaterra principalmente.
Os brasileiros que têm condições de acesso à internet se comunicam com o
mundo através dela, testemunham sua rápida evolução desde 1988, quando o
primeiro acesso foi feito8. Conforme pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha
(apud Ercília: 2000: 45), no final de 1999, o Brasil já era o sexto país que mais usava
a internet. Crianças, adolescentes e adultos têm acesso a sites, em sua grande
maioria, escritos em inglês ou oferecidos, além da língua do autor do texto, na língua
inglesa. No site da Turma da Mônica (www.turmadamonica.com.br), por exemplo,
acessado por milhares de crianças brasileiras, encontramos os quadrinhos de
Maurício de Souza nas línguas portuguesa e inglesa, o que oportuniza e
disponibiliza o contato deste público, além das agradáveis e divertidas histórias,
com o inglês. Esse é apenas um exemplo entre os inúmeros que poderíamos citar
quando tratamos de sites ou conteúdos disponíveis na internet.
Não apenas para a utilização da internet, mas também de outros benefícios e
necessidades geradas pelo uso do computador no nosso dia-a-dia, a linguagem da
informática está inserida em grande parte das atividades humanas. E nessa uma
boa parte dos comandos e funções preserva a sua terminologia em inglês.
Freqüentemente, testemunhamos situações em que o usuário desconhece a língua,
mas reconhece as funções e os comandos não se preocupando em saber o seu
significado ou a sua tradução. Assim, mesmo que os termos estejam presentes, não
8
Segundo Maria Ercília nos apresenta no seu livro A Internet, os primeiros acessos foram trocas de
mensagens Bitnet, no Laboratório de Computação Científica e na FAPESP (Fundação de Apoio à
Pesquisa do Estado de São Paulo).
é imprescindível, para muitos usuários, saber a língua inglesa para usar a linguagem
da informática. Por exemplo, usuários logo aprendem que o vocábulo Mouse não é
o animalzinho, mas um objeto, um equipamento do hardware. Dessa forma, pouco
vai interessar ou interferir no propósito do usuário se o termo mouse significa,
originalmente, camundongo.
Da mesma forma, as rádios AM e FM tocam músicas internacionais e
nacionais que têm expressões ou são totalmente em língua inglesa. Os
adolescentes ou teens tentam acompanhar com a letra que conseguiram pela
internet ou que a professora de língua inglesa trouxe para a aula. No entanto, muitas
vezes, os jovens balbuciam supostas palavras (nonsense musicais) embalados pelo
ritmo e melodia da canção, sem preocupação com a letra ou o que ela significa,
como fazem alguns conjuntos e bandas que tocam (e cantam) pelos bailes e bares
afora.
No mundo da moda podemos contemplar uma grande quantidade de
empréstimos lingüísticos: fashion, top model, legging, cotton, tie-dye, glamour,
hippie-chic9 etc. Alguns novos looks são apresentados na São Paulo Fashion Week,
na Rio Fashion Week ou, até mesmo, na II Evento de Moda Fashion de Sinop.
A moda comercializada nas lojas comuns difere da moda desenhada por
estilistas famosos. No entanto, em ambas o uso anglicismos é freqüente e tem
status reforçado tanto em novas tendências semeadas pelos grandes stylists
internacionais quanto àquelas destinadas ao consumidor comum. Os anglicismos
estão presentes em marcas (Brasil Country, Cowboy Forever, St. John’s Bay, Peep,
etc.) ofertadas para todas as idades e estilos até palavras e frases escritas,
especialmente em camisetas, com mensagens significativas, algumas pouco
convencionais, outras sem nexo, totalmente fora de contexto e de propósito,
podendo ser mal interpretadas por quem conseguir decifrá-las: “Easy Adventure”,
“I’m a witch!”, “Where the boy are”, “Bad Boy” (é nome de grife e faz muito sucesso
entre os jovens que a usam juntamente com as palavras escritas na camiseta) entre
várias outras. Há quem opte pelo stylist ou pelo personal styler na escolha do
melhor look para ficar altamente fashion.
9
De acordo com Nicola, Terra, Menón (2003:133): “O hippie-chic, no contexto da moda, é uma
versão mais requintada e comercial de hippie, baseado em estampas coloridas e psicodélicas, no
estilo indiano, nas calças boca-de-sino ou em jeans com aparência de usado, nos sapatos plataforma
e sandálias”.
Nas academias de ginástica ou com o auxílio de um personal trainer, os
exercícios físicos recebem os nomes mais variados: fly, step,body jump, jumping. O
termo fitness, por exemplo, é usado na mídia e ultrapassa o muro da linguagem
especializada.
Empresas comercializam e nomeiam abundantemente produtos cosméticos
para cuidar da vaidade e saúde de todas as idades: gloss, After Shave, Shampoo
Kids, Dreams, Afro Hair, Hair Life entre incontáveis marcas e produtos que
embelezam e beneficiam a saúde das pessoas.
Nos salões de beleza, o uso de anglicismos, além de marcar presença
predominante nas marcas de produtos cosméticos, é vasto. Aparece no vocabulário
usado com clientes, eventos e treinamentos, revistas e livros destinados a
profissionais da área. Tomamos como exemplos algumas expressões comumente
usadas no meio e estampadas em revistas que tratam sobre o assunto: “Seu cabelo
fica mais fashion com este corte!”10. “(...) Ao lado, cabelos eriçados, no melhor estilo
black power e make-up super luminoso em tons de cobre e “Dread Fake – os
dreadlocks postiços garantem um novo visual sem mudanças radicais (exemplos
extraídos da Revista Cabelos & Cia, 2002); “ Moicano Fashion – (...) Criação
exclusiva do hairstylist Neandro Ferreira com apliques by Washington Bueno do
salão carioca Crystal Hair (Revista pour Coiffeurs-Guia do Profissional, 2002); “Xuxa,
look novo, vida nova. (Revista Cabelos & Cia, 2002).
Em livros, revistas e jornais que circulam pelo cenário nacional encontramos
vários com títulos completos ou parciais e títulos de seções, readaptados
foneticamente ao nosso sotaque. Tomamos como exemplos: “A Dieta de South
Beach”, “Teen”, “Folhateen”, “Todateen”, “Fashion” entre outros.
Quando o assunto em questão é referente a esportes, podemos elencar
vários vocábulos que já passaram por um processo de aportuguesamento, tais
como: futebol>football, basquetebol>basketball, andebol>handball,
voleibol>volleyball, tênis>tennis. Verificamos, também aqueles que conservam a
escrita inglesa: mountain bike, motocross, paintball, boxe, body boarding, rafting,
surf, stock car, sky surf, squash, etc. Juntamente com o nome do esporte aparecem
vários comandos e regras em inglês: match point, round, replay, set, pit stop, etc.
10
Expressão utilizada por uma cabeleireira ao se referir a uma cliente que acabara de efetuar o corte
de cabelo em um salão de beleza da cidade de Cuiabá, setembro de 2004 (Informação verbal).
É impossível irmos a um shopping center, supermercado, loja de roupas ou
de eletrodomésticos, lanchonete, entrarmos em casa, no nosso carro, sairmos à rua
sem vermos como a língua inglesa se faz presente em nossa vida, na nossa língua e
na ideologia dos brasileiros. Todavia, o Brasil não é o nosso o único país de língua
portuguesa que faz uso de termos estrangeiros. Em Portugal, foi lançado em 2001
um novo dicionário contendo 750 novos estrangeirismos.11
Assim, vemos que o homem comum está socialmente situado num cenário
lingüisticamente misturado, transglóssico e repleto de empréstimos do inglês. Quer
dizer, o português do Brasil não é puro como querem alguns gramáticos puristas,
tampouco a presença de anglicismos na língua portuguesa é apenas um fato
lingüístico como querem outros. Entender os efeitos de sentido delineados nos
discursos em torno do inglês faz-se necessário. Como vimos, em suas atividades,
das mais simples às mais complexas, o brasileiro convive com, usa e visualiza
palavras que podem ser compreendidas (ou não), (re)interpretadas e ajustadas às
suas necessidades de uso.
Paiva (1996) tratou da presença de empréstimos do inglês no mundo, no
Brasil e, mais especificamente em Belo Horizonte, apresentando exemplos de
termos usados e coletados na capital mineira. Ela destacou o desejo desenfreado
em aprender a língua, manifestado por grande parte das pessoas principalmente nas
grandes cidades onde as vantagens profissionais são maiores para a pessoa que se
comunica em inglês. A autora se referiu ao uso e presença de anglicismos como
reflexo da dependência econômica, política e cultural dos Estados Unidos.
Em seu artigo Social Implications of English in Brazil (1999:326), Paiva, ao se
referir às implicações sociais do uso de termos em inglês, apontou as classes sociais
altas como as responsáveis pela inovação lingüística no nível de empréstimo lexical
e afirmou que os membros da elite econômica e intelectual brasileira usam a língua
inglesa como uma estratégia para diferenciá-los das classes populares. Logo, sob o
ponto de vista da autora, se de um lado, funciona como ferramenta ideológica e
acentua diferenças sociais, por outro lado, o seu conhecimento pode ser instrumento
de mobilidade social.
Ortiz (2003), assevera que a circulação dos bens culturais ( a língua também)
não pode ser pensada em termos de difusão, mas sim de mundialização. A cultura é
11
Fonte: www.oca.org.br/pipemail/seminário/2001-April000583.html
mundializada, a propagação de elementos de uma cultura não extermina ou reprime
a local, mas convive com ela. As características culturais locais convivem com as
tendências globais e as reinterpretam ao permitir-lhes a presença no seu contexto.
Para o autor, a língua inglesa é tida como língua mundial, sua presença não é
fortuita tampouco inocente. Entretanto, a língua inglesa presente nos diversos
espaços geográficos e culturais não se constitui numa uniformidade lingüística, ao
contrário, há grande diversidade determinada por usos e estilos particulares. O
inglês penetra em domínios distintos (informática, tráfego aéreo, colóquios
científicos, etc.) e se consolida como língua das relações internacionais. A
transversalidade da língua inglesa como língua mundial exprime a globalização da
vida moderna e sua mundialidade preserva os outros idiomas.
Podemos ver, portanto, que há alguns anos, o uso de anglicismos tem
crescido notadamente pelo fortalecimento e expansão da mídia, internet e o
processo de globalização que estamos vivenciando. O lingüista, o gramático purista
e as pessoas comuns vivem juntos o mesmo fenômeno sócio-lingüístico-cultural e
político e a partir deles constroem suas crenças, seus pensamentos e agem no seu
dia-a-dia.
13
No original: “Experience is not a mental state but the interaction, adaptation, and adjustment of
individuals to the environment. It is the human mode of being in the world.”
As crenças têm componentes afetivos e avaliativos mais fortes do que o
conhecimento e o afeto tipicamente operam independentemente da cognição
associada com o conhecimento. O conhecimento de um domínio difere dos
sentimentos sobre um domínio, uma distinção similar àquela entre autoconceito e
auto-estima, entre conhecimento de si próprio e sentimentos de autovaloração14.
Pajares (1992:313) sugere uma distinção que afirma ser talvez artificial, mas
comum para a maioria das definições: “a crença é baseada na avaliação e
julgamento; o conhecimento é baseado no fato objetivo” 15. A distinção de Madeira
(2005:19) de que o conhecimento é o que se tem como resultado de pesquisa
científica enquanto crença é o que se “acha”, se assemelha à de Pajares. Já para
Barcelos (2000:34), o conhecimento obedece a uma justificativa epistemológica
enquanto as crenças não.
Se o conhecimento, de acordo com a distinção dos autores, se aproxima da
racionalidade, da cientificidade e da concretude do pensamento e ações e crenças
têm sua base nos contextos e experiências do ser humano, isso não significa que
devemos separar um do outro, pois como nos ensina Dewey (1938), citado por
Barcelos (2000), ao separarmos o conceito de conhecimento do conceito de crenças
e também de nossa maneira de agir no mundo, isso implica na perda de importantes
aspectos que as crenças podem trazer.
A seguir, apresento um quadro (Quadro 1) organizado com algumas
definições de crenças propostas por estudiosos citados por Pajares (1992) e os
respectivos conceitos traduzidos do seu artigo.
AUTORES DEFINIÇÃO
Abelson (1979) Definiu crenças em termos de pessoas manipulando o conhecimento para um
propósito particular ou sob uma circunstância necessária.
Brown e Cooney Crenças são disposições para a ação e principais determinantes do
(1982) comportamento embora as disposições sejam tempo e contexto específico –
qualidade que tem implicações importantes para pesquisa e avaliação.
Crenças são construções mentais da experiência – freqüentemente condensadas
Sigel (1985) e integradas no sistema ou conceitos que são asseguradas como verdades e
guiam nosso comportamento.
14
No original: “Beliefs have stronger affective and evaluative components than knowledge and that
affect typically operates independently of the cognition associated with knowledge. Knowledge of a
domain differs from feelings about a domain, a distinction similar to that between self-concept and self-
esteem, between knowledge of self and feelings of self-worth.”
15
No original: “Belief is based on evaluation and judgment; knowledge is base on objective fact.”
Harvey (1986) Crenças são representações individuais da realidade que têm validade suficiente,
verdade ou credibilidade para guiar o pensamento e o comportamento.
Nisbett e Ross Crenças são proposições explícitas aceitáveis sobre as características de objetos
(1980) e classes de objetos.
Crença é o terceiro significado do pensamento, algo além dele próprio pelo qual
Dewey (1933) seu valor é testado; ele faz uma asserção sobre alguma espécie de fato ou algum
princípio ou lei.
Crenças são qualquer proposição simples, consciente ou inconsciente, inferida
Rokeach (1968) do que uma pessoa diz ou faz, capaz de ser precedido pela seguinte expressão:
“ Eu acredito que ...”
Kitchener (1986) Processos cognitivos em que um indivíduo recorre para monitorar a natureza
epistêmica dos problemas e o verdadeiro valor das soluções alternativas.
Construções ou definição de tarefas, visão prescrita de um processo cognitivo
Nespor (1987) necessário para compreender esta função e identificar quatro níveis de
pensamento: processamento interno, recursos, controle (ou processos
metacognitivos) e crenças.
Essa definição evidencia que crenças nem sempre são explícitas, cabendo ao
pesquisador atentar para uma leitura daquilo que as pessoas declaram ou somente
implícito como um meio de desvelar as crenças que possuem.
Devido à abrangência de termos, áreas e propostas de pesquisas ligadas a
crenças, Pajares (1992:309) apresenta uma série de termos que as definem de uma
forma ampla:
Silva (2005), em sintonia com Kalaja (2003) e Barcelos (2004), assegura que
as crenças são interativas, dinâmicas, emergentes e recíprocas.
16
No original: “A complex and inter-related system of personal and professional knowledge that
serves as implicit theories and cognitive maps for experiencing and responding to reality. Beliefs rely
on cognitive and affective components and are often tacitly held.”
17
No original: “(...) attitudes, values, judgements, axioms, opinions, ideology, perceptions,
conceptions, conceptual systems, preconceptions, dispositions, implicit theories, personal theories,
internal mental processes, action strategies, rules of practice, practical principles, perspectives,
repertories of understanding, and social strategy.”
Idéias ou conjuntos de idéias para as quais apresentamos graus distintos de adesão
(conjecturas, idéias relativamente estáveis, convicção e fé). As crenças na teoria de
ensino e aprendizagem de línguas são essas idéias que tanto alunos, professores e
terceiros têm a respeito dos processos de ensino/aprendizagem de línguas e que se
(re) constroem neles mediante as suas próprias experiências de vida e que se
mantêm por um certo período de tempo (Silva apud Silva et alli, 2005).
18
Um dos trabalhos pioneiros nesta área no Brasil foi o artigo de PAIVA, Vera Lucia de Menezes e. A
Língua Inglesa no Brasil e no Mundo. In Paiva, V. L. M. (org.) Ensino de Língua Inglesa: reflexões e
práticas.Campinas, SP: Ed. Pontes, 1996. No entanto, seu trabalho não considera a visão êmica dos
participantes.
encontrar respostas ou propor reflexões no que diz respeito aos fatos da linguagem
e aos fenômenos sociolingüísticos e culturais presentes no seu cotidiano.
19
No original: “Language is the principal means whereby we conduct our social lives. When it is used
in contexts of communication, it is bound up with culture in multiple and complex ways.”
Dessa forma, neste estudo, entendemos que as crenças são delineadas pela
cultura (práticas sociais) e pela língua (práticas comunicativas), uma influencia a
outra. Concordo com Kramsch ao apontar o entrelaçamento cultura e
linguagem/língua quando afirma que a língua expressa a realidade cultural. No caso
do uso de expressões da língua inglesa na língua portuguesa, portanto, não há
apenas apropriação lingüística, mas também cultural.
O conceito de cultura abaixo proposto por Cox & de Assis-Peterson (2003: 07)
evidencia as naturezas contraditórias, conflitantes de práticas simbólicas, culturais e
lingüísticas, quando se admite que cultura e língua são entidades heterogêneas e
mutáveis.
De acordo com Berlitz (1982: 21), o uso de uma língua pode suplantar o de
outra, em longo prazo, como podemos observar nos processos de colonização de
vários países. O contato entre línguas pode, ainda, resultar numa língua misturada
resultando num pidgin – língua auxiliar, segunda língua, criada por pessoas que não
têm nenhuma língua em comum (Trask, 2004:228) – ou, posteriormente, num
crioulo – quando o pidgin se torna a língua materna de uma comunidade lingüística
(Calvet, 2002:167). Hoje, o inglês é a língua mundial usada amplamente por
pessoas falantes de outras línguas em processo contínuo de expansão devido à
globalização.
Conforme Pennycook (1994), a expansão do inglês pelo mundo tem razões
políticas, econômicas, sociais e até militares estabelecidas como meta pela Grã-
Bretanha e pelos Estados Unidos. Na sua visão, a Grã-Bretanha investiu na
expansão da língua camuflando seus reais interesses políticos e comerciais
como “propaganda cultural” através do Conselho Britânico, órgão do governo criado
com o objetivo de expandir a língua e a cultura inglesa. Os investimentos na
divulgação do inglês podem ser verificados já antes da Segunda Guerra quando
uma mudança na política, estabelecida inicialmente pelo Conselho Britânico,
deslocou a ênfase da propaganda cultural para o campo educacional. Houve
alterações em terminologias e na política de expansão: os países do Terceiro Mundo
assistidos pelo Conselho passariam de desenvolvidos para em desenvolvimento e
de processo de colonialismo para recurso de desenvolvimento. A posição do
Conselho Britânico como órgão não-governamental manteve a continuidade da
política colonialista camuflada em projetos educacionais e materiais didáticos por
eles ofertados.
Para Pennycook (1994: 151-153), a influência dos Estados Unidos foi sentida,
principalmente, após a Segunda Guerra através de várias instituições políticas,
econômicas, acadêmicas, culturais e filantrópicas (Fullbright, Rockefeller Foundation
entre outras). As instituições filantrópicas, que ofertavam o ensino da língua/cultura
entre outros benefícios, tinham como pano de fundo a ideologia liberal, o capitalismo
e o imperialismo estadunidense. O autor afirma:
A maior influência dos Estados Unidos foi na era pós-guerra e, portanto, mais como
poder neocolonial do que colonial. (...) Os Estados Unidos consolidaram o seu poder
através de uma vasta organização de instituições – políticas, econômicas,
acadêmicas e culturais20 (Pennycook: 1996:153)
Moura (1984:11) também diz que a difusão da língua inglesa após a Segunda
Guerra não foi aleatória. Obedeceu a um planejamento cuidadoso de penetração
ideológica e conquista de mercado pelos Estados Unidos que pretendiam se
estabelecer como potência mundial. Teve um sucesso sem precedentes na
exportação e uso de padrões de comportamento, gostos artísticos e hábitos de
consumo.
Pennycook (1994:158) afirma que, mais recentemente, a posição da língua
inglesa e suas relações com as forças econômicas globais mudaram o discurso
passando de intervencionismo para monetarismo. A língua e seu ensino são vistos
como mercadoria global em linha com o processo do capitalismo globalizado.
Ele diz que, apesar do ensino da língua inglesa e sua expansão serem vistos
como benéficos, neutros e naturais por algumas pessoas (entre elas há os
professores de inglês, por exemplo), visando o conhecimento lingüístico e não o
domínio político, não é o que se verifica em materiais distribuídos pelo Conselho
Britânico e USIS (United States Information Service), os quais deixam explícito que
os países do Primeiro Mundo (dotados de inteligência, riqueza, competência) são
exemplos a serem seguidos pelo terceiro mundo.
É inegável que a língua inglesa se estabeleceu como língua global,
alcançando o status de língua franca das comunicações internacionais alçando vôo
com a manifestação do grande poder econômico e político alavancado por meio da
Revolução Industrial e disseminado pelas campanhas supra citadas. Os Estados
20
No original: “The greatest influence of the United States has been in the post-war era and thus as
more of a neocolonial than as a colonial power.(…) The United States consolidated its power through
a vast array of institutions – political, economic, academic and cultural.
Unidos conseguiram o mesmo intento que a Grã-Bretanha devido ao poder político,
econômico e militar da Segunda Guerra solidificando o inglês na posição que
sustenta atualmente.
Segundo Lacoste (2005), há séculos a difusão de algumas línguas acontece
pelo mundo. Na colonização de alguns países, a língua do colonizador foi imposta
dizimando, em alguns casos, as línguas autóctones. Atualmente, o neo-imperialismo
não tem mais necessidade de conquistar territórios para exercer seu domínio
econômico e cultural. Os Estados Unidos são vistos como a hiperpotência mundial,
que têm como herança colonial a língua inglesa. Na União Européia, a necessidade
de uma língua em comum e pelo próprio processo de globalização também é o
inglês. A mundialização do inglês tem conseqüências geopolíticas – toda rivalidade
de poderes (e de influências) sobre territórios – e faz parte de conflitos de poderes
em nível mundial.
O Brasil, como outros países do Terceiro Mundo, sofreu influências da Grã-
Bretanha antes da Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, somou-a à influência
dos Estados Unidos no que se refere à expansão da língua que trouxe (e ainda traz)
consigo não somente aspectos lingüísticos, mas valores culturais, ideologias
políticas e sociais. Filmes, músicas e outros produtos de consumo ingleses e
estadunidenses começaram a fazer parte da vida dos brasileiros, especialmente com
a instalação e expansão da televisão nos anos 50. Além da promoção da língua pela
Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos (são os países que aparecem com destaque
nos materiais didáticos), há um grande investimento em propagandas de sua língua,
cultura e seus produtos objetivando angariar vantagens políticas, sócio-econômicas
e culturais ligadas ou não ao estudo e ao conhecimento da língua e setores que
promovem e comercializam produtos.
Por essas razões, os empréstimos do inglês presentes na vida do brasileiro
não são neutros tampouco “inocentes”. Eles têm como motivação inicial os bens
econômicos, políticos e culturais divulgados pela mídia, tecnologia, materiais
didáticos e produtos de consumo vinculados à moda, música, artes, esportes, etc.
Se não existissem os interesses econômicos e políticos dos Estados Unidos e/ou da
Inglaterra, com ênfase ao primeiro nos tempos modernos, talvez a presença da
língua inglesa no mundo ou no Brasil não fosse tão intensa. Entretanto, a língua
inglesa e os anglicismos que se expandem pelo mundo não resguardam e nem
sempre conservam as características da língua falada nos Estados Unidos ou na
Inglaterra. Por vezes, assume características, significados e “sotaques” de cada
contexto no qual é usada dentro de um processo sincrético e mestiço de uma língua
que se mundializa, mesmo que não seja despida de interesses.
O PERCURSO DA PESQUISA
Esta pesquisa tem caráter qualitativo de base etnográfica uma vez que se
caracteriza pela busca da compreensão dos pontos de vista das pessoas acerca da
presença de anglicismos nas suas atividades sociais e profissionais cotidianas e por
buscar na descrição e interpretação dos dados em contexto natural um componente
cultural. Quer dizer, a crença dos participantes (visão êmica21) em relação à
presença e ao uso do inglês no seu cotidiano é vista como constituinte dos valores
culturais de um grupo.
De acordo com Spradley (1980:5-6), a preocupação da etnografia é com o
significado que têm as ações e os acontecimentos para as pessoas. Alguns desses
significados são expressos pela linguagem, outros pelo comportamento. Para ele,
em toda sociedade as pessoas fazem uso de sistemas complexos de significados
para organizar seu comportamento, compreendê-lo em relação a si e às outras
pessoas e para dar um sentido ao seu mundo. Estes sistemas de significados
constituem sua cultura que Spradley (1980:6) define como “o conhecimento
adquirido que as pessoas usam para interpretar experiências e gerar
22
comportamento” . Para Spradley, o trabalho de campo envolve um estudo
disciplinado para descobrir como é mundo para as pessoas que aprenderam a ver,
ouvir, falar, pensar e agir de formas diferentes.
21
Assim, Duranti (1997:172) a define: “A perspectiva êmica é a que favorece o ponto de vista dos
membros da comunidade em estudo e, portanto, tenta descrever como os membros determinam o
significado a um dado ato ou a diferença entre dois diferentes atos”
No original: “The emic perspective is one that favors the point of view of the members of the
community under study and hence tries to describe how members assign meaning to a given act or to
the difference between two different acts”.
22
No original: Culture is the acquired knowledge people use to interpret experience and generate
behavior.
Em um primeiro momento, nos cenários urbanos das cidades de Cuiabá,
Várzea Grande e Sinop, observei se e que expressões em inglês encontravam-se
ao alcance do homem comum em propagandas, fachadas de lojas, produtos
comercializados em supermercados, academias de ginástica, lojas de cosméticos e
utilizados em salões de beleza, vestuários vendidos em lojas de confecções e
calçados etc. Alguns dos cenários e produtos foram registrados com fotos que são
mostradas nas páginas de abertura de cada capítulo desta dissertação.
Uma vez que Cuiabá e Várzea Grande estão geograficamente lado a lado, é
comum boa parte da população dos dois municípios desenvolverem suas atividades
(profissionais ou não) em ambas. Deste modo, não podemos entender a divisão
política e geográfica como marcador significativo para a pesquisa, uma vez que
abundam nos dois a presença de termos e expressões da língua inglesa.
23
Censo 2000. Fonte: ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demográfico_2000
24
Censo 2000 (op. cit)
das cidades, o viajante que ali chega é recepcionado por um grande número de
outdoors com propagandas de vários tipos de produtos e nomes de casas
comerciais escritas em inglês tais quais: Venha para uma happy hour; Aki tem peixe
– Delicious Fish; Venha ver nosso show room, etc. Nas fachadas de comércios são
inúmeras as expressões em inglês: Big Lar; Speed Pneus; CVC – Cuiabá Vídeo
Center; City Lar; Princess Cabeleireiro; Classic Cabelereiro; etc. A ubiqüidade dos
anglicismos se estende por vários setores e atividades desenvolvidas pelas
pessoas comuns que moram ou transitam pelos bairros centrais e periféricos das
cidades.
Dessa forma, com base nas falas dos participantes, construídas ao longo de
suas experiências de vida, tentarei desvelar suas concepções em relação aos
fenômenos da linguagem – mais especificamente com relação aos anglicismos em
suas atividades profissionais e/ou sociais – e de como a linguagem se manifesta em
suas vidas (com ênfase à sua atividade, mas também considerando o universo
sociolingüístico onde forma e reconstrói suas crenças e seu pensamento).
26
No original: “Interpretation addresses processual questions of meanings and contexts.”
marcar um limiar no pensar e escrever no qual o pesquisador transcende os dados
factuais e analisa cautelosamente e começa a investigar o que é para fazer deles27.
27
No original: “Associated as it is with meaning, the term interpretation is well suited to mark a
threshold in thinking and writing at which the researcher transcends factual data and cautions
analyses and begins to probe into what is to be made of them.
28
No original: “An interpretative reading will involve you in constructing ou documenting a version of
what you think the data mean or represent, or what you think you can infer from them.”
29
No original: “ Interpretativists are concerned with understanding the social world people have
produced and which they reproduce through their continuing activities. This everyday reality consists
of the meanings and interpretations given by the social actors to their actions, other people´s actions,
social situations, and natural and humanly created objects.”
Tendo como apoio as teorias, segui alguns passos para analisar os dados
coletados que, primeiramente, eram transcritos após cada entrevista.
A parte “a”, Das Crenças, está dividida em dois tópicos os quais identifico
como crenças que estão dispostas da seguinte maneira: 1) Língua inglesa: insígnia
de maxi-valorização e de busca de identificação com o Outro – os participantes
entendem que o uso de anglicismos é uma forma de buscar identificação com a
língua/cultura norte-americana para obtenção de status social e econômico. Essa
crença está subdividida em três subcrenças (Subcrença 1: A língua inglesa é
símbolo de status, beleza e qualidade; Subcrença 2: A língua inglesa é ponte de
acesso a bens econômicos e culturais; Subcrença 3: A língua inglesa ameaça à
língua e cultura brasileiras. Na crença 2: Língua inglesa: insígnia de influência da
mídia – algumas pessoas comuns entendem que as palavras em inglês se alastram
por influência da mídia.
a) DAS CRENÇAS:
O inglês eu acho chique o nome. Tem várias lojas de tipos de nomes diferentes e
acho que é por boniteza, não sei, para dar uma frente pra loja mais legal (Mara -
vendedora).
Fica chique, você vê um restaurante que tem nome em inglês, banco em inglês dá
um ar de chique (Vera Lúcia - formada em publicidade).
Primeiro, se torna mais chique. A pessoa tá preocupada com a valorização do
produto. Então colocando uma coisa em inglês, a sensação é de glamour (Kátia -
empresária e comerciante).
O povo pensa que é bonito, é diferente (José Luís - bancário)30
30
Ao se referir ao uso de termos da língua inglesa.
fortalece a auto-estima e se embriaga na sensação de êxtase ao usar um produto
ou estabelecimento que tenha nome em inglês.
José Luís, por sua vez, embora não falando de si, menciona “o povo” para
justificar a preferência quanto ao uso de empréstimos do inglês pelo fato de as
pessoas atribuírem à língua inglesa o status de belo e diferente. Da mesma forma,
a empregada doméstica Genilda, no excerto abaixo, explica que ela própria não
usaria expressões em inglês para nomear estabelecimentos comerciais, mas
acredita que pessoas optam pelo uso de palavras da língua inglesa por acreditarem
que é uma língua bonita a imprimir significado maior ao produto que comercializam.
Ela, no entanto, prefere expressões em português por achar a sua língua materna,
a língua portuguesa, muito bonita.
Não sei... se eu não conhecesse nenhum dos dois, poderia ser que eu ficasse com
o “Querida”. É uma palavra mais bonita de dizer. Talvez seja “Querida” que eu
pegaria (Genilda - empregada doméstica).
Sei lá ... pra ficar mais bonito! Porque pra mim eu acho que se nós estamos em um
país deveria ser a língua dele, ou talvez por incentivar a pessoa a ver o significado,
talvez (Alisson-pugilista).
Ela contou que os seus clientes dão preferência aos produtos escritos em
inglês por entenderem que são melhores. Aponta que os cursos e eventos de
beleza oferecidos como atualização e aperfeiçoamento profissional aos
cabeleireiros e que são intitulados em inglês são mais valorizados pelas pessoas
que freqüentam o seu salão. A presença de expressões da língua inglesa contribui
para que lhes sejam atribuídos maior status que os nacionais, de acordo com o
excerto a seguir:
As pessoas devem achar que fica mais bonito clínicas com nome americano. Acho
que já vem de uma cultura americanizada (Talita - médica veterinária).
Quem tem o domínio econômico, entende-se que seja admirado, quem é rico, a
impressão é que seja mais inteligente do que o pobre, embora muitas vezes seja o
contrário. Então, na moda, por exemplo, é chique falar fashion, é chique. Então, dá a
impressão que aquilo é melhor, é mais gostoso, é mais útil, é melhor para ser usado
(Dario César – agente de segurança)
Eu acho que a maioria, pelo menos os que eu conheço, nem percebem e acham
bonito. Talvez eles achem bonito, porque você tem uma língua, fala uma língua.
De repente você joga uma outra palavra, é bonito. “Eu sei falar”, entendeu ? Coisa
assim (Luíza – atendente de biblioteca).
Nós somos criados a não valorizar o que é nosso e a valorizar o que vem de fora.
Então, aparentemente, dá um ar de que é melhor do que passar em português.
“Nossa, porque isso aqui é importado, veio de fora, deve ser bom.” Alguns têm idéia
de que o importado deve ser bom, do que é importado é melhor do que o nosso.
Isso é desde a minha adolescência, de que a calça jeans americana era melhor do
que a nossa rancheira. (Vera Lúcia – formada em publicidade).
De usar nomes na nossa área, por exemplo, o nome de lojas, eu acho que é por
causa da americanização, dessa cultura de vir coisas de fora. Agora, na questão de
produtos e ração é porque a veterinária é uma ciência que tá crescendo agora, tá
sendo valorizada agora. Nos países mais desenvolvidos a veterinária é mais
respeitada, mais usada. Então, todos os produtos, os melhores produtos ainda são
desenvolvidos fora do Brasil. Primeiro vem a tecnologia de fora, por exemplo,
rações, produtos, muitos são daqui. Até tem fábrica aqui, mas a tecnologia, os
estudos, as pesquisas são feitas todas fora, então já vem com o nome em inglês. A
maioria dos nossos produtos, os melhores ainda são os importados.Na questão da
vacinação, as melhores vacinas ainda são as importadas (Talita – médica
veterinária).
(...) na informática tudo é fabricado fora, tudo é importado, a fabricação que tem aqui
é muito pequena, acaba importando tudo e a maioria das pessoas acabam
importando também o nome usado nos equipamentos que acabam estando ligados
com a tecnologia importada. Não que o nome seja importado também, mas tá
intimamente ligado com o produto que está à venda na empresa (Rafael – técnico
em informática).
Então o cliente fala: “Ah, eu vi um filme assim, assado, mas eu não sei o nome”
porque o nome estava, geralmente em inglês. Então pelo que ele fala, você tem que
estar por dentro ou estar lendo o que vai sair nos Estados Unidos ou em Hollywood,
vamos dizer assim... Pra tá trazendo para o seu cliente (Kátia – empresária e
comerciante).
Aí entra um pouco de tecnologia que eu falei, porque um DVD, por exemplo, é pura
tecnologia. Um CD é pura tecnologia. Coisa que o Brasil está fazendo, mas por
tecnologias desenvolvidas por eles. (Kátia – empresária e comerciante)
Eu acho benéfico, porque eu acho que deveria saber umas quatro ou cinco línguas.
Eu penso assim. Como eu sou burra, mal sei o português e um pouquinho de inglês,
eu gostaria de saber muito mais. Mas eu acho interessante às pessoas saberem
outras línguas, outras culturas, é uma coisa assim só para o conhecimento da
pessoa. Imagina você fazer uma viagem de negócios, uma transação...Você vai ficar
naquele mundinho? Eu prefiro ir pra Miami fazer compra, eu procuro alguma coisa
nesse sentido pra mim, mas têm pessoas que não pensam realmente. Você vê que
a cultura nossa é muito pequena, falha, não só no ensino de inglês, mas também no
geralzão (Kátia – empresária e comerciante).
Eu quero fazer inglês bem rápido agora. Eu já assisto filme e não coloco para o
português. Assisto em inglês pra ver se eu entendo o que eu estou vendo, mesmo
que eu não saiba falar, mas eu quero ver se eu entendo o que a história está me
mostrando, mesmo que eu não entenda as terminologias, mas eu vou tentar fazer
porque eu sei que isso me traz cultura, me faz pensar, raciocinar também. (Diná –
gerente de intercâmbios)
No meu caso, como bancário, eu vejo essa entrada de palavras... são os americanos
com sua tecnologia, entrando e vendendo para nós e nós simplesmente comprando
e aceitando, porque nós ainda não detemos essa tecnologia. Nós já temos tudo isso
nos micro-computadores, na nossa televisão, no vídeo cassete, nos DVDs e por aí
afora (José Luís - bancário).
A veterinária é uma ciência que está crescendo agora, está sendo valorizada agora.
Nos países mais desenvolvidos, a veterinária é mais respeitada, mais usada. Então
todos os produtos, os melhores produtos ainda estão vindo de fora do Brasil.
Primeiro vem a tecnologia de fora, por exemplo, rações, produtos, muitos são daqui,
até tem a fábrica aqui, mas as tecnologias não são daqui, as pesquisas são feitas
todas fora, então já vem com o nome em inglês (Talita – médica veterinária).
No entanto, como diz o ditado popular “nem tudo que reluz é ouro”. Ao
desejo de identificação com os Estados Unidos, associado a bens desejados
(riqueza, desenvolvimento, modernidade, cultura), se junta uma terceira subcrença
a busca de identificação com os Estados Unidos numa demonstração de atitude
subserviente acarreta perda de identidade nacional. É disso que tratamos na
Subcrença 3 abaixo.
Diná, a gerente de intercâmbios, aquela que quer fazer o seu curso de inglês
porque entende que isso é importante para a sua profissão, por outro lado, critica o
uso de expressões estrangeiras em estabelecimentos comerciais por achar que as
pessoas estão desvalorizando a cultura brasileira. Ela se autodenomina patriota por
dar preferência a nomes nacionais. A sua escolha pessoal seria usar termos da
língua portuguesa, pois para ela, se não há trocas mútuas na relação de igualdade
entre as línguas portuguesa e inglesa, o brasileiro se apouca mediante o uso de
anglicismos e desvaloriza a sua identidade ao substituir palavras de sua língua por
termos de outras.
Diná entende língua e cultura como tudo o que diz respeito à existência
social de um povo, nação ou grupo no interior de uma sociedade (Santos: 2002),
como patrimônio do Brasil. Ao mesmo tempo em que vê significância no trabalho
de intercâmbio ao favorecer o conhecimento entre países e sua cultura, salienta os
perigos advindos desse contato, no sentido da adoção de termos em língua inglesa.
Para ela, cada país deve valorizar a sua própria língua e cultura sem induzi-las ou
impô-las ao outro.
Eu acredito que temos hoje, os primeiros países do mundo, no caso dos Estados
Unidos fala em inglês. Eu acredito que seja uma forma de tentar se tornar um pouco,
um país de primeiro mundo, se assemelhar, igualar-se, tentar maquiar como se fosse
um país de primeiro mundo, na verdade não somos (Rafael – técnico em
informática).
Entrevistadora: Não sei se estou certa, mas estou sentindo na sua fala uma certa
resistência à língua inglesa. Você poderia justificar o porquê ?
Vera Lúcia: Olha, desde a minha adolescência eu tenho uma resistência não é nem
pela língua inglesa, é pelo método, a ideologia americana. Nunca aceitei muito a
ideologia americana desde a minha época então, da década dos anos 60 que todo
mundo usava aquela calça Lee, escrito com “e”, não sei o que, aquele negócio todo.
Eu nunca aceitei isso. Eu não sei o que é, sabe. Eu comecei a ler sobre o que eles
faziam com a América Latina e que eles fazem ainda.
Entrevistadora: Mas na sua concepção, o que eles fazem ?
Vera Lúcia: Eu acho que eles fazem mal ao mundo todo. Eles levaram o Brasil... Li
em vários livros que levam as coisas pra trás. Eles são totalmente materialistas,
sabe. Tá na deles, eles querem enriquecer, querem ter poder, mas eu sou mais
humanista, eu sou mais pro lado europeu, uma tendência mais humanista do que
eles. Não é certo, de repente, eu generalizar, dizer que não gosto de ninguém, mas
eu tenho essa antipatia já de muito tempo e aquilo é um trabalho que foi feito em
mim mesmo de associar o inglês à ideologia americana.
Entrevistadora: No caso a sua repulsa, pode-se dizer, é por causa dos Estados
Unidos, não seria, no caso, por causa da Inglaterra ou de outros países ...
Vera Lúcia: É por causa dos Estados Unidos, a mentalidade deles... que apesar de
tudo combina com o inglês, que combina com alguns descendentes dessa linhagem
de inglês. Mas o meu problema é isso mesmo: me irrita a língua porque eu lembro
deles, é engraçado, é um processo engraçado que até eu não sei explicar, mas é
isso que acontece.
Na visão de Marilene, a proprietária de loja de confecções, o uso de nomes
em inglês para lojas, comércios e produtos serve como meio de priorizar e abrir
espaço em benefício dos “americanos” consistindo em desvantagem para as
empresas nacionais. O brasileiro estaria perdendo lucros e espaço dentro do seu
país para os estrangeiros. Esses aspectos convergem para o entendimento de que
ela atesta uma desvalorização da nossa língua e dos produtos nacionais em
detrimento do americano ao usar anglicismos.
Acho que essas palavras agridem a língua portuguesa, mas também não sou contra
a presença delas, desde que exista uma familiarização com esta língua e que passe
a ser um processo normal e de aceitação (José Luís – bancário).
(...) a partir do momento que você fala uma coisa, mas não sabe o significado, a
gente tá fazendo papel de bobo na mão, digamos assim, dos americanos. Mas eu
vejo que também é uma coisa muito difícil de ser evitada. Para isso deveria haver,
podemos dizer, consciência maior de até que ponto isso é ruim, porque uma coisa é
você conhecer a língua por uma questão de necessidade e até mesmo por causa do
conhecimento, mas outra é você ter essa língua, esses termos impostos como é
hoje. Hoje você precisa falar, usar, por exemplo aquela pecinha do computador que
você manuseia (...) você é obrigado a adotar como mouse. Então à medida que é
imposto ... Eu vejo tudo o que é imposto é porque não é bom, porque se fosse bom
não precisaria ser imposto (Dario César – agente de segurança estadual)
(...) Dá pra colocar uma palavra em português, não precisa buscar uma palavra na
outra língua. Isso é questão, principalmente na mídia, chamar muito o leitor, o
telespectador, tenta prender ele de alguma forma (Luíza – atendente de biblioteca).
Tudo que a mídia insere na televisão aquilo vira modinha, atualizou-se. Então, o que
acontece no mercado de roupa e calçado queira ou não é influenciado pela mídia,
não importa a marca, mas os modelos para se atualizarem elas são influenciadas
pela mídia querendo ou não. (....) Acabamos vivendo o que realmente influencia os
autores hoje, artistas de televisão, por exemplo. Eles usam muito a moda
americana, você sabe que hoje a maioria das pessoas da mídia eles estão mais
com roupas da grife americana do que nossa (Marilene – proprietária de loja de
confecções).
Diálogo 1:
Entrevistadora: Você acha que se você não usasse termos da língua inglesa dentro
da sua profissão aqui na sua academia faria alguma diferença para os seus clientes,
deixaria de ser procurada ou não?
Clóvis: Eu acho que não, são termos que vem de fora, então se todas as academias
usassem termos que não fossem nenhuma palavra em inglês, eu acho que a gente
estaria adaptado da mesma forma. Às vezes você chega para um aluno e diz que
agora nós filiados no “body system”, na hora ele quer saber o que é o “body system”.
É diferente de você falar que é franqueado em umas aulas que já vêm
coreografadas. Então é diferente você falar em inglês, é o termo em inglês que faz a
diferença o soar do inglês como marketing dentro da empresa é bom.
Entrevistadora: Você acha que impressiona mais?
Clóvis: Impressiona mais!
Entrevistadora: Você acha que dá um resultado maior para sua academia?
Clóvis: Sim. Dá um resultado maior.
Isso aí a maioria convive e é uma coisa mundial. Nesse ponto a língua inglesa está
sendo usada para se entender no mundo todo. É uma atitude diferente. Não inclui só
aqui ou só os Estados Unidos. Só que ele é mundial. “Fashion Week” de São Paulo
tudo tem. Então vem muita gente de fora, os costureiros são estrangeiros, também
tem brasileiros, mas têm estrangeiros. Então é uma questão de todo mundo se
entender e saber o que ta acontecendo. Aí é interessante.A hora que você vê
“fashion”, você já vê moda, manequins, modelos. Então você já faz uma a ligação de
“fashion”. Aí já é um facilitador, por quê ? Porque todos os meios de comunicação
estão ali mostrando o que é fashion. Entrevista fulano, a costureira, o estilista (...)
Agora, esses termos que você não conhece quase e que é inserido num jornal,
revista ou num “outdoor” ... Agora, esses termos que você não conhece quase e que
é inserido num jornal, revista ou num “outdoor”...É, aí é um “marketing” burro que
fala. Essas coisas eu não gosto. Mas aí é uma questão que a moda é universal e
que o “fashion” é justamente uma mensagem dos outros países, na moda e do
Brasil. Então tem que ser uma língua que todo mundo entenda (Vera Lúcia –
formada em publicidade)
O inglês está presente com palavras soltas ou em algumas frases por aí, portanto eu
vejo que nomes de lojas, mais as fantasias que são as mais utilizadas é “marketing”,
ou seja, as pessoas acham bonito estar ali com nome em inglês, acreditam que
também isso valoriza mais o seu comércio no mercado, por isso eu vejo que utilizam
no sentido de que nós brasileiros mesmo, estamos gostando de que o inglês está
entrando, então, isso pode valorizar, o comércio pode chamar mais a atenção (José
Luís – bancário).
Eu acho que “marketing”, você pode ver que a maioria desses nomes em inglês,
vamos dizer assim, é “marketing” e a gente estuda muito em relação a isso. Na
realidade o desenvolver de todo comércio vem de lá, vamos dizer assim, eles fazem
estudos em cima de produtos de como vai sair, qual a aceitação, então isso tudo é
“marketing”, e muitas, vamos dizer assim, algumas palavras chaves passam a ser
usadas em inglês, ou em francês, em que língua que for, mas que têm o peso, que
têm uma importância. (Kátia – comerciante e proprietária de loja de produtos
importados e locadora de vídeos)
b) DAS AÇÕES:
Como agem os homens comuns mediante os anglicismos
No excerto acima, ela relaciona o vocábulo play com dois contextos sem
considerar o seu significado na língua de origem. No primeiro momento, ela
associou play ao uso de videogame em que a palavra play pode significar o
comando “jogar” ou “iniciar o jogo”. No segundo contexto, play está ligado à função
de acionar. Ligar o aparelho torna-se um ato automático para a maioria das pessoas
que possui objetos com comandos em inglês. Em ambas as situações, Mara
assegura que não é necessário saber o significado da palavra, mas saber executar
a ação.
Segundo o bancário José Luís, tanto para ele quanto para seus colegas de
trabalho no banco, palavras em inglês, mesmo não sendo compreendidas não os
impedem de operacionalizar os processos indicados por elas.
Diálogo 1:
Diálogo 2:
Diálogo 1:
Entrevistadora: Você não se preocupa com o nome, com o que significa? Você liga
mais para o produto?
Genilda: É, eu procuro mais o produto mesmo, vejo para serve no rótulo, não vou
muito pelo nome não.
Diálogo 2:
Diálogo 3:
Entrevistadora: Quando você vendia esses produtos, como que convivia com esses
nomes?
Diná: Nós trabalhávamos com amostra. Então você tinha o nome, mas trabalha com
o produto em si. Então você não precisava se especializar no nome, você se
especializava no que o produto faz, o que ele contém, o que vai fazer na tua pele,
qual a fragrância, e sempre tocando, fazendo com que o produto seja sentido pela
pessoa, não pelo nome, mas pela fragrância, e pelo o que vai fazer na pele. Então
essa era a nossa maneira de trabalhar.
Entrevistadora: Então em termos de significado você nunca se incomodou?
Diná: Não. As pessoas nunca me perguntaram o que aquilo significava e sim o que
aquilo fazia.
Entrevistadora: O mais importante era a função?
Diná: A função. Ninguém nunca perguntou por que deram esse nome, o que ele
significava.
Renata: Sim, em outra língua. Por exemplo, essa de dezoito é “Evolution”, eu não sei
o que quer dizer “Evolution”, mas é caríssima. A “Italy”.
Nos diálogos abaixo, quando lhe foi perguntado se conhecia o termo personal
banking, associou o termo personal a outro contexto, com o significado de
“treinador”, provavelmente fazendo analogia ao personal trainer da academia de
ginástica. Também diz não prestar atenção nas expressões em inglês nos produtos
de supermercados.
Diálogo 2:
Diálogo 3:
Entrevistadora: No mercado que você vai quando bate os olhos nos produtos, você
consegue ver algum escrito em outra língua?
Renata: Não. Eu não prestei a atenção.
Entrevistadora: Você atenta para termos na língua Inglesa, ou para você o que
importa é se é uma boa ração, se a vacina é boa e não importa se está escrito em
inglês ou não, ou faz alguma diferença?
Talita: Para mim não, tem os termos em inglês, mas as explicações já vêm todas em
português. Então para mim não tem diferença. É diferente para a gente, do que para
o cliente, pois, desde a faculdade a gente já está presente na nossa vida, as rações
e vacinas tal marca, com nomes em inglês é como se fosse em português para
gente, talvez para o cliente tenha mais problema, mas para a gente não tem.
Na relação social com outros jovens, Rafael comenta que músicas em inglês
atraem pela melodia e ritmo da canção e que a maioria não atenta para o conteúdo
ou a letra da música.
Entrevistadora: Na maioria dos jovens do seu convívio eles gostam, e das pessoas,
elas gostam de ouvir música em inglês, elas procuram, buscam saber e entender o
que é, ou eles preferem músicas em português?
Rafael: Acredito que grande parte goste da música em inglês, mas, na minha
concepção eles não têm o interesse em saber o está querendo dizer a música, não
tem interesse em saber o que a letra quer passar para você, se é uma música que
tem um som legal, eles estão ali escutando o som.
Eles não sabem nem o que que é. Se ele vê, até pela logomarca da empresa, como
é colocado no mercado, passa em televisão e tudo mais, eles já decoraram. Então
eles olham e os olhinhos correm assim... `Eu quero mãe, eu quero aquele carrinho!’
Então eles já sabem aquela marcazinha lá: “Hot Wills” é o carrinho que eles querem
(Kátia – comerciante e proprietária de loja de importados e de locadora de vídeo)
Quando mostrei ao pugilista Alisson que estava usando uma camiseta com
palavras em inglês (inclusive já desgastada possivelmente pelo tempo de uso), disse
não saber o que elas significavam.
Entrevistadora: Você, por exemplo, está usando uma camiseta escrita em língua
inglesa, você tem preferência quando você vai comprar se é escrita em língua
portuguesa ou inglesa? Você atenta para o significado?
Alisson: Não, quando eu compro lá nem sei o que está escrito.
Entrevistadora: No seu aparelho de som, por exemplo, está on, off, você já atentou
que está tudo escrito em língua inglesa?
Alisson:: Algumas palavras a gente sabe pelo fato de estar mexendo e o próprio
aparelho ensina, mas não tentei pesquisar para saber o que é, não.
O termo “apelo esnobe”31 é utilizado por Ortiz (2003: 193) como um dos
traços a caracterizar a língua inglesa como língua mundial em que a modernidade-
31
Devo dizer que a discussão do princípio do “apelo esnobe” de Renato Ortiz (1994) e usado aqui por
analogia para discutir os meus dados me foi apontado pela minha orientadora, Ana Antônia, em
comunicação pessoal, bem como as metáforas da bricolage e bricoleur a serem usadas mais adiante
associadas à vertente da função pragmática em forma de analogia.
mundo substitui a língua inglesa como sendo britânica ou americana. Conforme
Ortiz:
32
De acordo com Nicola et alli (2003:133) significa alta sociedade, elite.
entre quem dispõe de capital simbólico para consumir e a massa não-consumidora
em linha com o pensamento de Bourdieu (1983) de que as forças simbólicas
determinam o mercado lingüístico entre os que falam, ou seja, os que têm poder –
que manipulam e ditam regras – e os que escutam, quer dizer, os que agem e se
comportam com base nas regras ditadas pelos primeiros. Tal aspecto também é
notado pelos participantes.
A vertente da crítica ao imperialismo norte-americano oferece suporte à
Subcrença 3 (Língua inglesa: insígnia de ameaça à língua e cultura brasileira) em
que se evidencia o sentido ufanista em contraposição ao sentido de adesão à
cultura norte-americana proporcionado pela insígnia de status social e acesso a
bens cultuais e econômicos. Os participantes desta pesquisa percebem as
expressões em inglês como uma ameaça à língua portuguesa, cultura e economia
brasileira. Nesse sentido, eles se aproximam da crença do deputado Rebelo (2001:
181) de que a dominação de um povo se dá também através da imposição da
língua. Com a globalização, diz Rebelo, esse fenômeno se repete não de forma
violenta, mas impertinente, insidiosa e preocupante e se manifesta de forma
abusiva, enganosa e lesiva ao patrimônio nacional.
No entanto, os participantes não demonstram tal ira dispensada pelo
deputado às expressões em inglês a ponto de dispensar o seu uso no cotidiano.
Uma terceira vertente, a da função pragmática ou instrumental ( presente na parte
“b”: Das ações: como agem os homens comuns mediante os anglicismos),
atravessa as duas primeiras oferecendo um equilíbrio entre a adesão subserviente
e a rejeição irada. Nessa vertente, no caso de não conhecerem o significado da
palavra, os participantes assumem uma atitude pragmática, semelhante a um
bricoleur em processo de bricolage (Levi-Strauss: 1966, 2003), diante das
expressões em inglês no seu cotidiano lançando mão da improvisação e de suas
experiências concretas ao recorrerem a recursos disponíveis ao seu redor para
compreender a palavra e executar a tarefa.
Os conceitos de bricoleur e bricolage foram usados na antropologia por
Claude Levi-Strauss (1966, 2003), ao estudar grupos indígenas, para entender a
natureza processual de como as pessoas trabalham com recursos materiais e
simbólicos de modo concreto, improvisado e criativo. O bricoleur é, portanto aquela
pessoa (ou grupo de pessoas) que pode se identificada com “aquele-que-é-pau-
para toda-obra” ou representada no ditado popular “quem não tem cão caça com
gato”, isto é, aquele que é capaz de usar quaisquer materiais que encontram ao seu
redor para executar determinada tarefa ou objetos. Bricolage é o processo de
montar pequenos fragmentos aqui e ali em uma forma ou estrutura. Hoje é um
conceito desdobrado abrangendo outras áreas de estudo como a interação
comunicativa e de definição de relações pessoais. Aqui ele serviu para explicitar
que as pessoas comuns, muitas vezes, ao invés de usar uma abordagem abstrata
na resolução de um problema, agem com base nas suas experiências concretas
improvisando como um bricoleur modos de desempenhar suas tarefas.
Rajagopalan (2005:140-150) ao examinar propostas de enfrentamento em
relação “à invasão da língua inglesa em nossa vida” discute alguns tipos de atitudes
recorrentes na literatura: a rejeição sumária do inglês em que se ergue uma
muralha de rejeição psicológica contra o idioma e contra tudo que ele representa e
a aceitação resignada do inglês sob o argumento de que não há o que fazer diante
da expansão do inglês do mundo. Os participantes desta pesquisa atribuem valores
positivos e negativos ao uso de expressões em inglês, no entanto, não se arrimam
apenas de atitudes derrotistas ou de enfrentamento quixotesco de que nos fala o
autor. A vertente do pragmatismo (fazer uso do inglês para servir aos seus
objetivos) lhes permite enfrentar a “invasão” de anglicismos de modo realista,
conforme Rajagopalan aponta, em que a língua inglesa pode servir aos interesses
dos participantes, não o contrário.
Para concluir este capítulo retomo Maffesoli (1988), o estudioso do
conhecimento comum, para dizer que o conhecimento dos participantes desta
pesquisa, vistos como pessoas comuns (não são especialistas em linguagem), é
construído com o propósito de suprir suas necessidades impostas pela própria
modernidade. Esse conhecimento é construído, compartilhado e propagado no
ambiente sócio-cultural de uma economia globalizada ou cultura mundializada que
imprime a toda pessoa conviver com tecnologias e linguagens repletas da cultura
estrangeira. Para tanto, as pessoas improvisam, formulam novas formas para atingir
seus objetivos.
Essas três vertentes demonstram que dicotomias embora instigantes não
sejam suficientes para mostrar a complexidade envolvida em questões de linguagem
que podem ser abordadas de diferentes perspectivas que mais se atritam do que
vivem em harmonia. Assim, a voz do político, do jornalista, do gramático purista e do
homem comum pode oferecer diversos ângulos ao fenômeno em estudo, e quase
nunca um só.
Este estudo demonstrou que há entrecruzamentos de princípios (outros diriam
discursos) nas crenças dos participantes desta pesquisa em relação aos anglicismos
que ora se aproximam mais da idéia de homogeneidade da força capitalista que
impõe padrões hegemônicos de língua e cultura e ora se afinam mais com a visão
de fragmentação das culturas em que se permite a improvisação, o escape.
Também demonstrou que conceber nossos participantes como pessoas comuns que
pensam e têm sentimentos e não como pessoas ingênuas, apolíticas, acríticas à
presença de anglicismos pode acrescentar uma nova camada de sentido ao
conhecimento científico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ANDRÉ, Marli Eliza D.A. Etnografia da Prática Escolar. 8ª ed. São Paulo: Papirus,
2002.
KRAMSCH, Claire. Language and Culture. Oxford: Oxford University Press, 1998.
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RABELO, Aldo. Projeto de Lei n 1676/99. In: FARACO, Carlos Alberto (org.).
Estrangeirismos – Guerras em Torno da Língua. São Paulo: Ed. Parábola, 2001. p.
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ROBINS, K. Tradition and translation: national culture in its global context. In:
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culture. London: Routledge, 1991.
RUBIN, Herbert J. & RUBIN, Irene S. Qualitative Interviewing – the art of hearing
data. London, Sage Publications, 1995.
SANTOS, José Luiz. O que é cultura ? 14ª ed. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1996.
SILVA, Kleber A.; ROCHA, Cláudia H.; SANDEI, Maria de Lourdes R. A Importância
do Estudo das Crenças na Formação de Professores de Línguas. Revista
Contexturas, nº 8. São Paulo: APLIESP, 2005. p.19-40.
Spradley, James P. Participant Observation. London: Holt, Rinehart and Winston,
1980.
Duração: 1 hora
Entrevistadora: Genilda, eu vou lhe mostrar algumas figuras de produtos que a gente
encontra em mercados. Eu gostaria que você desse uma olhada e visse se você
conhece esses produtos e para que você acha que servem. Esse, por exemplo, você
conhece? (Apresentando a imagem de toalhas de cozinha da marca Snob)
Entrevistadora: Se a gente perguntasse hoje sobre essa marca, por exemplo, você
saberia? (Indicando a imagem)
Entrevistadora: O nome para você, é comum ou parece estranho? O que você acha
quando você bate os olhos?
Genilda: Não.
Entrevistadora: De que língua ele poderia ser?
Genilda: Inglês?
Entrevistadora: O que você olha nele, quando você pega, você se preocupa, por
exemplo, com o nome dele, isso é familiar para você?
Genilda: Residence?
Entrevistadora: Para você significa o que residence? E esse top, o que significa pra
você? Ou não tem importância?
Entrevistadora: E este, para que você usa esse tipo de produto? (Apresentando as
toalhas de papel para cozinha da marca Kitchen)
Entrevistadora: Você no mercado, você bate os olhos, você vê que o que está
escrito aqui, não é familiar para você?
Genilda: Não.
Entrevistadora: Você nunca usou, então. Você se incomoda com esse tipo de
escrita que não é familiar?
Genilda: Às vezes sim, porque dependendo do produto que a gente não souber ler
não sabe o que é. Se você não conhece, não consegue ler, não dá para entender
saber o que é.
Entrevistadora: Você não faz nem idéia do que seja, para que seja?
Genilda: Não.
Entrevistadora: Isso incomoda muito você quanto você vai ao mercado, por exemplo,
e se depara com nomes estranhos assim?
Entrevistadora: Que tipo de produto, você lembra agora, que você usa, que marca?
Entrevistadora: Vamos passar para outra. Por exemplo, você bate os olhos nesse
produto, você sabe para que serve ou poderia supor para que é, ou até mesmo
entender o que está escrito? (Mostrando os guardanapos de papel Snack)
Genilda: Não entendo o que está escrito, não conheço esse produto.
Genilda: Atrapalha, porque talvez é uma coisa que você precisa usar você não sabe,
não conhece o produto, não sabe o que é.
Entrevistadora:: Quando você se depara com alguma coisa estranha que você não
consegue ler ou não identifica o que você faz?
Entrevistadora: Aqui, por exemplo, você consegue identificar para que serve, o que é
ou que palavra que é? (Apontando os guardanapos de papel da marca Lips).
Entrevistadora: Sim.
Genilda: (+)
Entrevistadora: Aqui, por exemplo, nós temos Eficaz, este produto de limpeza aqui
(apontando o detergente Vanish), você já usou ele?
Genilda: Já.
Genilda: (+)
Entrevistadora: Você não se preocupa com o nome, com o que significa? Você liga
mais para o produto?
Genilda: É, eu procuro mais o produto mesmo, vejo para serve no rótulo, não vou
muito pelo nome não.
Entrevistadora: Vanish, por exemplo, você teria alguma idéia do que significa?
33
A convenção (+) significa que houve uma pausa na fala ou o turno não foi preenchido.
Genilda: Já vi, só que nunca usei. Eu não conheço, nunca usei, já vi nas prateleiras ,
mas não conheço.
Genilda: Esses produtos eu não olho, porque eu nunca fui de comprar esse tipo de
coisa, creio que serve para cabelo, para tintura, nunca me interessei.
Entrevistadora: Se eu lesse para você Hair Life (hεr laif), faria algum sentindo ou
não?
Entrevistadora: Esse aqui talvez seja mais familiar para você (Mostrando o Shampoo
Clear).
Entrevistadora: O que você desses produtos serem escrito em outra língua, como
darling, clear, porque você acha que tem tantos produtos escritos em outra língua
nos supermercados e que a gente usa?
Genilda: Não sei por que, eu creio que (+) será que vem de lá, de outros países?
Entrevistadora: Não, também existem produtos nacionais que são escritos assim.
Entrevistadora: Você se deu conta porque tanto gente usa escrito em outra língua?
Genilda: É com certeza porque se o que não é brasileiro vem para cá pode ler, né.
Agora o significado eu não entendo, não.
Entrevistadora: Não o significado da palavra em si, o que você acha que leva as
pessoas a pôr esses nomes nos produtos e o que leva as pessoas a consumirem
tantos produtos escritos em outra língua?
Genilda: Depende de como se faz o produto. Eu por exemplo a linha Capi Vida eu já
conheço, agora o outro eu nunca usei, não conheço.
Entrevistadora: E o nome clear, por exemplo, significa alguma coisa, o darling, por
exemplo, tem algum significado para você?
Genilda: Não sei. Se eu não conhecesse nenhum dos dois, poderia ser que ficasse
com o Querida. É uma palavra mais bonita de dizer. Talvez seja Querida que eu
pegaria.
Entrevistadora: E esse tipo de produto você já viu? Seria para criança. A palavra
baby, por exemplo, você acha que ela é da nossa língua?
Genilda: Não. Já usei essa marca no meu filho. É lenço umedecido, né? Mas não
gostei.
Entrevistadora: Aqui, é um produto que todo mundo usa, como você chama?
(Mostrando o curativo Band-Aid).
Entrevistadora: Aqui, por exemplo, essa marca o que significa para você?
(Mostrando imagens dos bloqueadores solares Kids e Baby Block)
Entrevistadora: Quando você bate os olhos sabe que é Sprite, e você sabe o
significado na nossa língua?
Genilda: Não.
Genilda: Não.
Entrevistadora: Popcorn, tem algum significa para você e termo light, por exemplo?
(Mostrando a imagem da pipoca para forno microondas Popcorn versão light)
Entrevistadora: Aqui você bate os olhos você acha que seja o que? (Imagem do
repositor energético Susteen que apresenta no rótulo um líquido rosa sendo
derramado no copo).
Genilda: Suco.
Genilda: (Sampi)?
Genilda: Não, eu não uso ele. Para que é de pôr no sorvete, parece.
Genilda: Não.
Genilda: Conheço.
34
Marca de calda de chocolate para coberturas.
Entrevistadora: O que você acha da marca do produto, por exemplo, significa o que
para você?
Genilda: É uma marca boa para mim. Já comprei vários produtos dessa marca.
Genilda: Marilan?
Entrevistadora: Não, não, a marca o nome? Você acha que significa o quê?
Genilda: Club(klubi).
Entrevistadora: Mas a maioria fala como se escreve, a maioria fala club (klubi). E
isso aqui o que significa para você. (Mostrando a imagem dos biscoito Hobby).
Genilda: Gosto.
Genilda: Grande.
Entrevistadora: Grande?
Genilda: Eu imagino.
Genilda: Não, eu imagino que seja, pelo fato de “Big Loja”, é uma big loja de
variedades, enorme, grande. “Big Lar” é um supermercado enorme. É pelo fato de
ser grande. Big bolão, é porque tem um pequenininho e tem um grande.
Entrevistadora: Você não se preocupa se tem uma palavra estranha, por exemplo,
nos produtos, isso não te incomoda?
Entrevistadora: Esses produtos, por exemplo, você lê aqui Big Chicken (mostrando
os congelados de frango) te remete à que? Você lê na embalagem o que é na língua
portuguesa, como você age?
Genilda: Pela figura que a gente conhece, pela figura exposta na caixa.
Genilda: Não.
Genilda: É
Entrevistadora: Chicken Friends (t∫ikεn frεnds) por exemplo. Esse você conhece já?
Entrevistadora: A marca, por exemplo. Esse nome, por exemplo, diz alguma coisa?
Genilda: Eu não consigo ler esse nome. (Mostrando a imagem da embalagem dos
cereais Snow Flakes).
Genilda: Não!
Genilda: Sei lá! Pela beleza dos nomes, pelo gosto, pelo significado do produto que
eles trabalham.
Genilda: Sim.
Entrevistadora: Como você lida com isso, como você aprende a manusear o
aparelho de forma que você consiga ouvir música, por exemplo? Como você
aprendeu a mexer se é em outra língua?
Genilda: Apesar de não conhecer a língua inglesa a gente assiste muita televisão,
você vê muita coisa que você aprende ali. E aí você vai mexendo ata encontrar. Por
exemplo, se eu compro um celular eu não sei mexer nele, vou ter que mexer nele
para conhecer. É assim que eu aprendo.
Genilda: Em português.
Entrevistadora: Aqui, por exemplo, você consegue ver aqui que produto que é?
(Apresentando a imagem de um rádio gravador e CD player).
Genilda: Sim.
Entrevistadora: Que produto é esse para você?
Entrevistadora: O que é um CD player pra você? Você ouve falar no CD player e tal?
Genilda: Não sei não, o lá de casa não é assim, e para começar eu nem uso CD.
Genilda: Rádio.
Entrevistadora: Rádio, né. Acho que é isso. Eu só queria ver como você vive com
todas essas palavras diferentes e se isso é difícil para você, se você consegue
tranqüilamente conviver e não faz diferença.
Genilda: O nome não faz diferença, porque a gente procura olhar mais o produto do
que o nome. Mas é difícil você mexer no aparelho de som, por exemplo, aprender
em aparelho de som fica difícil se você não souber mexer acaba estragando o
aparelho, se fosse em português era super fácil.
Genilda: É diferente, para mim não tem nada a ver com o produto.
Entrevistadora: Aqui, você bate os olhos, por exemplo, o termo fresh (frε∫), você falou
fresh (frε∫), você não falou fresh (fre∫), e como você sabe que é fresh ( frε∫)?
Genilda: É um produto de limpeza profunda, uma limpeza rápida, creio que seja isso.
Entrevistadora:: E eject?
Entrevistadora: Play?
Entrevistadora: Está certo. É isso. Genilda, aqui eu tenho uma camiseta que não
está escrito na nossa língua. Para os seus filhos, você compra camiseta assim, com
palavra que não seja escrito na nossa língua?
Genilda: Eu procuro não comprar. Não só pelo fato de que eu não conheço a palavra
e o significado, mas pela minha doutrina também.
Genilda: Que a gente não pode usar emblemas ou palavras que a gente não
conheça, principalmente inglês, porque você não sabe o que está escrito. Pode estar
escrito palavrão ou qualquer coisa que não seja agradável aos olhos de Deus.
Genilda: Não.
Genilda: Eu procuro saber o que está escrito pra poder usar. Porque eles têm
algumas camisetas que eu ganho da minha irmã lá de São Paulo, eu procuro saber,
se tiver alguma palavra indecente eu não uso.
Entrevistadora: Clóvis, eu gostaria que você falasse das atividades profissionais que
você desenvolve, como você vê essas atividades profissionais, as experiências que
você tem, as vantagens e desvantagens dessas atividades que você que são
dividias entre academia de ginástica e como promotor de eventos.
Clóvis: Eu gosto dessas atividades que envolvem mexer com pessoas. Eu sempre
gostei de mexer com pessoas, essas duas áreas envolvem isso. Então, eu agora
como dono de academia e instrutor, a gente instruir os alunos quanto à carga, peso,
atividades física, a dieta mais apropriada para o tipo físico. E na área da moda, que
eu sempre lidei, aqui em Cidade A35 a área da moda é mais restrita porque poucas
lojas e confecções, desde que eu vim para cá eu faço o Miss Cidade A, inclusive há
quatro anos que as misses daqui ganham como Miss Mato Grosso e representaram
o Mato Grosso no Miss Brasil. Em ano x, nós tivemos a felicidade de ter a Cláudia
daqui de Mato Grosso como Miss Brasil. São atividades na área que eu gosto. Eu
estou sempre em contato com o público, eu gosto bastante de falar e as pessoas
gostam de ouvir. Eu me dou bem nessas áreas, tenho facilidade de fazer amizades e
expressar minha opinião e fazer com que as pessoas acatem o que eu falo.
Entrevistadora: Eu vejo que essas duas atividades que você desenvolve, estão
ligadas à beleza, ao cuidado com o corpo, enfim o ponto que têm em comum é
busca da beleza. Eu vejo tanto numa área como em outra a presença de muitos
termos da língua inglesa, inclusive no cartão que você me entregou de sua empresa,
35
Nome fictício. O nome da cidade, o ano e os nomes de pessoas, empresas e lojas que aparecem
durante a entrevista são todos fictícios.
há termos escritos em língua inglesa. Como você convive com essas palavras e com
esses termos?
Clóvis: Como são termos que a gente usa diariamente, a gente aprende a conviver.
Hoje nem parece serem termos em inglês, como tem os exercícios físicos como o
“fly”, “body jump”, “step”, “jump”, e hoje todo mundo entende. Como por exemplo, se
você falar “cama elástica” poucas pessoas entendem. Se eu digo “tem aula de body
jump” todos entendem. Esses termos a gente aprende a usar no dia-a-dia, não em
curso, são termos que já vêm prontos e que a gente é obrigado a assimilar.
Entrevistadora: Para você o que é o “Body System”? É uma empresa, o que é dentro
da ginástica?
Clóvis: O Body System é uma empresa na área de fitness que desenvolve nove tipos
de formatos de aulas. A aula já vem pronta, essas aulas são apresentadas nos
workshops a cada noventa dias. Então, a cada noventa dias muda a música, muda a
coreografia. Essas novidades são trazidas para a sala de aula, tanto que as mesmas
aulas dadas daqui são as aulas dadas lá na Companhia Atlética em São Paulo, na
Bioritmo, nas grandes academias de São Paulo.
Clóvis: É uma empresa australiana que está há doze anos está aqui no Brasil, os
exercícios mais conhecidos deles é o body jump que é uma coreografia com peso e
barra, body combat que é artes marciais e o body balance que é ioga.
Clóvis: Eu acho que falta aquela confiabilidade, porque tudo que é importado tem
aquela impressão de ótima qualidade. Hoje tudo que a gente monta, até o sistema
de musculação é computadorizado e vem tudo em inglês, já vem pronto para nós.
Eu penso que é devido a isso, o que vem de fora infelizmente tem mais credibilidade
do que nós temos na nossa língua.
Entrevistadora: Para você enquanto profissional, instrutor e proprietário de academia
de ginástica, esses termos na sua profissão ajudam ou atrapalham?
Clóvis: São termos usados no meu dia-a-dia, no meu cotidiano acabam passando
naturalmente. No começo se nós falarmos para o aluno fazer um exercício tipo o fly,
ele já não esquece mais. Eles têm facilidade de guardar os termos, porque não são
todos os termos que são americanos tem dorsal, da polia. Mas eu já notei que os
termos que são em inglês eles têm mais facilidade de guardar, não fazem questão
de mudar isso.
Clóvis: Não ajuda, mas também não atrapalha, porque se tivesse que mudar o que
já vem pronto, eu teria uma mão de obra muito grande, porque todos os meus
instrutores que geralmente vêm de outras academias também conhecem. Então,
isso iria causar um transtorno, então o que me atrapalharia seria mudar o que já vem
pronto de fora.
Entrevistadora: Você diz que já vem pronto, você acha que lá no comecinho deveria
ser traduzido, deveria ser mudado ou deveria permanecer assim mesmo?
Clóvis: Eu não sou aquele “tupiniquim” que quero que tudo seja na língua
portuguesa, como eu acho que tudo tem as influências americanas, que não é só na
área do fitness. Na área da moda você vê “São Paulo Fashion Week”, o Miss Brasil
mesmo, ele é com dois “s”. A Miss Brasil desfila com a faixa do Brasil escrito com
“Z”. Então tudo já vem de fora, importado. Na minha opinião, eu não mudaria,
deixaria do jeito que tá.
Entrevistadora: Você já citou alguns termos, mas tem vários termos na sua atividade.
Vamos pegar primeiro a área da ginástica, o que vem à mente que você sabe que é
em inglês, que você tem segurança em dizer que é em inglês? Ou por exemplo,
termos que passaram por um processo de transformação, que deixou de ser em
língua inglesa e que já está incorporado na nossa língua.
Clóvis: Eu não me preocupo em tentar mudar, eu acho que o que deixa mais prático
é o nosso cotidiano que é um facilitador, porque todo o estudo que eu pego de fora
já vem com esses termos. Alunos que já malham em outras academias eles já vêm
com esses termos. Isso não ocasiona de precisar passar esses termos para o
português ou achar que isso vai me trazer uma facilidade, parece que os termos em
inglês são mais facilmente assimilados pelos alunos do que os em português. Não
me interessa em mudar.
Entrevistadora: Quando surge um termo novo da língua inglesa, como você procede
para entender dentro da sua profissão?
Clóvis: Eles lançaram o “body balance” que é o mesmo sistema do “body system”.
Então, eu não sabia o que era o “Body balance”, a gente busca para saber o que é,
a definição da aula e a definição dos termos. Então quando vem algum termo novo
que a gente não sabe, nós vamos atrás buscar saber. No workshop é passado a
tradução para o português do que significa o termo para a gente explicar para o
aluno e qual a relação que tem com o exercício que eles estão fazendo.
Entrevistadora: Por que workshop e não oficina? Por que você acha que existe essa
diferença? Por que se usa o workshop e não oficina?
Clóvis: Como eu falei, essa franquia vem da Austrália. Então, eu creio que tudo que
é americanizado as pessoas acham mais interessantes. Como eu disse para você,
todos os meus instrutores que são para esses cursos, eles mesmos marcam
workshop na agenda, aprendem a escrever, ninguém coloca oficina ou vai ter um
curso do Body Balance ou do Body Combat. Todo mundo escreve workshop.
Entrevistadora: Você acha que se você não usasse termos da língua inglesa dentro
da sua profissão aqui na sua academia faria alguma diferença para os seus clientes,
deixaria de ser procurada ou não?
Clóvis: Eu acho que não, são termos que vem de fora, então se todas as academias
usassem termos que não fossem nenhuma palavra em inglês, eu acho que a gente
estaria adaptado da mesma forma. Às vezes, você chega para um aluno e diz que
agora nós somos filiados no Body System. Na hora ele quer saber o que é o Body
System. É diferente de você falar que é franqueado em umas aulas que já vêm
coreografadas. Então é diferente você falar em inglês, é o termo em inglês que faz a
diferença, o soar do inglês como marketing dentro da empresa é bom.
Entrevistadora: Você acha que representa um resultado maior para sua academia?
Entrevistadora: Quando você lida com esses termos, ou mesmo seus alunos,
procuram mais um entendimento da função ou eles querem saber também o que
significa mais ao pé da letra?
Clóvis: Tem alunos que pedem o significado, porque no programa que a gente
imprime para o aluno existem termos em inglês. Por exemplo, existe o fly, muitos
vêm me perguntar o é “pulling” o que é o “fly”. Se você for explicando no momento,
com o movimento do exercício, ele assimila rápido. É diferente de você explicar para
ele sem mostrar o exercício. Fly na verdade por ser asa, abertura de braços. Então
se você fala fly e mostra o exercício o aluno acompanha o que você fala aí a pessoa
entende mais fácil, muda o sentido quando mostramos o exercício e o significado ao
pé da letra.
Tanto que alguns perguntam se fly não é asa, porque tem alguns alunos que já têm
um pouco de conhecimento na área de inglês e associa.
Clóvis: Aí nós temos que explicar o que é, porque todos chegam e dizem se temos
um personal trainer. Até hoje eu vi ninguém chegar e perguntar se eu tenho um cara
que pode acompanhar sozinho, nunca ninguém me pediu isso, já vem com o termo
personal trainer.
Entrevistadora: Por que você acha que as pessoas usam esses termos comumente?
Eles buscam um significado ou eles já colocaram uma definição específica para
aquela pessoa?
Clóvis: Eu acho que eles nem buscam o significado, é um definição de uma classe
na área de Educação Física, de uma pessoa que vai me ensinar, de um instrutor.
Instrutor é diferente de um personal trainer. O instrutor dá atenção e instrui a
academia inteira. Agora, se o aluno chega e fala que quer um personal, é só para
ele. Muitas vezes a pessoa nem sabe o quer dizer personal trainer, mas ela já sabe
que é uma pessoa que vai dar atenção exclusiva para ela na área de fitness.
Entrevistadora: Nunca ninguém cogitou que pudesse usar um termo diferente para
esse tipo de profissional?
Clóvis: Nunca, já fazem oito meses que eu sou dono da academia e ninguém
questionou isso.
Entrevistadora: Você acha que é por hábito que as pessoas usam esses termos?
Clóvis: É um hábito, são os termos novos que chegam com as profissões novas.
Agora tem até aquele personal stylist que veste as pessoas. É um termo
americanizado, hoje ninguém fala personal estilista, ele não fala que quer um
personal para me vestir, ele já vem com o termo pronto da forma que aprendeu.
Entrevistadora: Digamos que sejam dois exemplos, um poderia ser “ Fitness Show” e
o outro fosse o “Show de Ginástica”, ou Amostra de Ginástica, em qual você iria?
Clóvis: Nós iríamos saber o workshop o que é. Como eu disse para você, tudo que
vem de fora, o brasileiro é assim, na verdade a gente sabe que nós estamos muito à
frente de muitos países nessa área do fitness, mas tudo que é importado, tudo que
vem em termos em inglês ele causa mais confiabilidade. Isso eu falo para qualquer
área, até na escola, se você pegar um método, uma parte em inglês, você vê que
chama mais a atenção do pai, chama mais atenção do aluno e dá mais
confiabilidade. Pois existe uma mesma empresa aqui no Brasil que faz o que a
“Body System” faz, mas eles não atingem 10% da camada. Ele é um programa mais
barato e usa o nome nacional.
Clóvis: Conheço. É um método bom também. Só que é como eu falei para você,
agora eles são fundadores da pró-fitness. Eles estão trazendo uma empresa
venezuelana para trazer um nome estrangeiro para acoplar nesse nome e agregar
mais uns tipos de aulas para que melhore o atendimento. A de fitness eles vieram
pessoalmente aqui, mas como o Body System está em todas as academias do país,
a confiabilidade é muito maior, a dificuldade dessa empresa nova é de entrar no
mercado que hoje já predomina uma marca super conhecida.
Entrevistadora: Você acha que diante desse fato a língua é coadjuvante, ela
interfere, ou as pessoas optam mais pelo fato de ser importado, de ser americano
independente da língua ou não?
Clóvis: Eu acho assim, de uns tempos para cá eu tenho notado cada vez mais uma
influência da língua inglesa no meio da gente. Antes não existiam esses termos que
hoje são usados, parece que nem são mais termos em inglês, já são termos
abrasileirados, que já fazem parte da nossa língua. Acabamos acoplando dentro do
dia-a-dia da vida da gente. Não é mais uma questão de você querer usar ou não,
você é obrigado a usar. Tudo hoje, você pega uma revista na área de fitness, ela
tem um monte de termos técnicos em inglês e você é obrigado a saber, acaba tendo
que interagir. O que eu acho é que existe um “interagir” da língua inglesa com o
português não é um diferencial é um interagir, está entrando dentro da língua
nacional e está virando termo da língua nacional.
Clóvis: Aquela confiabilidade, com certeza um curso desses, com pessoas de fora
dando palestras de outros países, com certeza eu encontraria a tecnologia de ponta
para a minha área. Mesmo que eu venha a participar desse outro curso, por
exemplo, congresso, com propaganda que irão estar apresentando uma feira com
produtos de última geração, exposta para quem quiser comprar. Mas no caso de
uma feita escrita em inglês, a gente já imagina que virão produtos importados, tudo
que vem de fora é novidade. Como eu falei, tá mudando essa concepção, o Brasil é
o 6º país na área do fitness já. Então, percebe-se que o Brasil está buscando, só
que o tem feito o Brasil crescer foram essas áreas americanas que vieram para cá e
que estão fazendo o fitness no Brasil dar uma mudada geral de 180º na academia.
Entrevistadora: Essa presença maciça e mesmo a presença enquanto método,
enquanto empresas aqui dentro, principalmente pelo que você tem destacado as
norte-americanas, incomodam você?
Entrevistadora: Bem na entrada aqui da sua loja está escrito “Shop Suplementos”,
quando você bate os olhos assim em shop, o que lhe vem a mente?
Clóvis: Isso.
Clóvis: É.
Clóvis: Shop Suplemento, porque fica um termo mais bonito um termo que chama a
atenção, diferente de loja do suplemento, ou comércio do suplemento. Hoje todos
gravam os termos, dizem: “A shop está aberta, está fechada”. O pessoal liga para
mim: “A shop já está aberta”, “já tem gente na shop ”. É um termo que tem facilidade
de pegar.
Clóvis: Agora não, eu tenho a minha academia assistente, tenho a minha academia.
Eu já vivi disso, agora não, mas eu tenho bastante experiência, aqui na Cidade A
quando querem fazer um desfile, todos me procuram antes. Eu já fiz bastante aqui,
quando eu tinha mais tempo, agora o que me poda para mexer com essa área de
moda é o tempo que eu me dedico aqui na minha empresa.
Clóvis: A moda brasileira, de uns quatro anos para cá, é que a moda brasileira
engatou na moda internacional. Hoje se ouve falar de alguns estilistas brasileiros ali
fora. Mas antes, tudo que era bom era importado, toda roupa que era importada era
Calvin Klein ou outra. Eram marcas que vinham para o Brasil, eram marcas caras.
Então, tem muitas marcas nacionais que têm nomes em inglês, isso tem ficado, mas,
a moda brasileira avançou bastante. Então, termos que são usados hoje na moda é
porque vieram praticamente todos importados, a presença da moda no Brasil só
começou a crescer com a influência da moda americana, italiana, Milão, Paris. Como
por exemplo, São Paulo Fashion Week, hoje é um evento que quase noventa por
cento é feito com estilistas nacionais, mas para abrilhantar, sempre trazem alguma
modelo americana, e sempre trazem uma marca de fora de algum estilista
americano.
Entrevistadora: Por que você acha que eles usam São Paulo Fashion Week ao invés
de Semana da Moda em São Paulo?
Clóvis: Tem alguns termos técnicos que a gente usa, exemplo, fashion. Isso é
fashion, isso não é fashion.
Clóvis: O fashion é que está na moda, démodé, não sei nem o que é, mas démodé é
que está fora de moda.
Entrevistadora: Eu fiz aqui uma lista de palavras. Para você o que soa melhor,
estilista ou personal stylist?
Clóvis: O estilista é aquele que desenha a roupa e o personal stylist é aquele que
veste a pessoa. Exemplo: as atrizes, as modelos elas têm um personal que veste
elas. Você vai em uma festa tal. O personal stylist vai dizer “ Você vai usar esta
roupa, com esta bijouteria ou com a jóia, com esse sapato e com essa bolsa. É essa
a diferença. Hoje já existe essa diferenciação, do estilista que é aquele que desenha
e que cria a roupa do personal.
Entrevistadora: Fashion Rio e o Rio Moda, por exemplo, Curitiba Fashion Art, e Arte
da Moda de Curitiba. Para qual você iria?
Entrevistadora: Você acha que faz diferença para as pessoas que estão inseridas no
mundo da moda? Gostam de usar esses termos ou não?
Clóvis: Elas gostam de usar e existem termos que são usados em inglês e muitas
pessoas usam, sabem o que é o termo só não sabem passar ele para o português.
“Underwear” muita gente fala, mas não sabem o que significa em inglês.
Entrevistadora: Como é definido o termo underwear para as pessoas que fazem uso
do termo?
Clóvis: Underwear é mais roupa íntima, mas usamos também para shortinho, roupa
leve, saia curta, blusinha, roupinha, tipo a roupinha do dia-a-dia, modinha mais
curtinha, a modinha mais sensual, mais curta, mais fresca.
Clóvis: Design é aquele que cria a moda, agora desenho é aquele que não foi
formado ainda, que está aprendendo a desenhar. Designer é aquele que já chegou
no top do topo.
Clóvis: O estilista ele cria o estilo, o designer vai botar isso no papel. O estilista vai
criar todo um estilo. Existem roupas que não dá para se usar na rua, aqueles
vestidos, aquelas roupas enormes e tal. Mas são tendências que os estilistas pegam
e jogam na passarela e depois os designers criam as roupas em cima daquilo que foi
apresentado.
Entrevistadora: Digamos que se houver duas grifes e que você deveria optar por
uma delas para um desfile seriam: Crystal Fashion e a outra Moda Cristal. Qual
você acha que chocaria mais?
Clóvis: Crystal Fashion. Seria até um exemplo de uma etiqueta que teria tudo para
chegar e estourar. Agora, Moda Cristal, se eu chego para você e digo, é uma
confecção, e como é nome da confecção é Moda Cristal, todo mundo vai achar que
é uma confecção de fundo de quintal, de fundo de casa de quem está começando e
tal. Há diferença, né? Não adianta, a influência da língua inglesa na nossa língua é
grande. Hoje quer queira ou não o brasileiro tem que falar um pouco de inglês. Ele já
aprende até a falar um pouco, é “hot dog” o “cachorro quente”. Até nos cardápios
das lanchonetes daqui, eles trocaram o termo cachorro quente por hot dog.
Clóvis: Toda modelo que vai buscar uma carreira solo, ela tem que fazer o book.
Esse book é pedido em toda agência, agência de publicidade ou agência de
modelos, pedem o book da modelo.
Clóvis: Isso, enquanto modelo. Com fotos do que ela já fez. O book seria um livro da
vida dela. Pra ela atingir o grau de modelo que ela deseja, ela vai colecionando
porque dentro dos books de modelo tem as capas de revistas que elas fazem, tem
as fotos de editais, então elas vão formando o book.
Clóvis: Isso, então o termo book para álbum é diferenciado. Apesar de ser a mesma
coisa. Se for na tradução é a mesma coisa. Só que para a gente que mexe na área é
um termo totalmente diferenciado. Exemplo: eu vou trazer meu álbum de fotos, mas
eu não quero ver teu álbum de você com tua cachorra, teu papagaio, com a tua mãe
ao lado. A gente quer teu book fotográfico, a gente quer o teu book empresarial.
Clóvis: Já virou um termo. Já o último termo na moda é esse aí, não existe álbum na
moda brasileira, o que existe é o book.
Clóvis: O look é mais agressivo, a gente já fala nem que a outra palavra venha, um
look mais sensual, abrasileirado. A primeira palavra tem que ser look. Não é o visual
o mais sensual, é o look o mais sensual. Então, são palavras que já fazem parte, já
tinham que estar nos dicionários de língua portuguesa porque são palavras que
ninguém vai mudar, porque ninguém vai chamar um book de álbum e muito menos
um look de visual. Ninguém vai fazer isso.
Entrevistadora: Isso!
Clóvis: Olha, eu não sei se seria certo ou se seria errado. O país que hoje não
acompanha isso, é como eu falei, o país, a profissão e a pessoa que não
acompanha esse crescimento ela está totalmente fora do mercado. Então hoje eu
nem ligo. Se fosse aquela visão tupiniquim, como eu já falei, dizer “não” e que tudo
tem que ser do Brasil, dar valor às coisas do Brasil. Ótimo! Eu sou brasileiro, visto
verde e amarelo, amo o Brasil e é um país que eu não troco por nada, mas na área
empresarial, a gente é obrigado a conviver com esses termos e a gente não pode
mudar. Como eu falei, hoje já faz parte da linguagem do brasileiro.
Clóvis: Não mudaria porque pra mim isso não iria mudar em nada. Como eu falei, eu
não mudaria, eu acho que é um diferencial em termos de cultura. A pessoa que
aprende de termos pequenos ela acaba, queira ou não, é como eu falo, tem horas
que você ouve umas palavras em inglês, você vai passar. Quando chega na área
que surge alguma coisa nova na área de inglês, algum exercício novo, como o body
balance”, eu fiquei pensando o que é balance. Então o balance se você for pegar na
tradução do balance para o português não tem muito a ver com que quer dizer o
termo body balance da aula do body balance. Esse balance que eles colocaram na
aula foi assim, de equilíbrio, porque é tudo ioga, de movimentos de alongamento
onde você faz equilíbrio, desestressa e tal. Então, não adianta mais tentar pegar o
inglês “na lata”, e tentar passar ele para o português para definir um termo. Não
existe mais isso.
Clóvis: Cada atividade você é obrigado, por exemplo, o balance a generalizar ele.
Não adianta pegar um termo assim único, tem pegar um termo mais amplo, porque a
língua inglesa já faz parte, e eu não mudaria não, hoje eu convivo muito bem com
isso, de vez em quando eu tenho dificuldades com meus alunos e não atrapalha.
Entrevistadora: Eu enumerei algumas grifes aqui, Água Doce, André Lima, Cavalera,
Complexo B, BR Men´s Wear, Blue Man? Você conhece? Algumas dessas?
Entrevistadora: Para você adquirir ou colocar, por exemplo, num desfile, faria alguma
diferença se fosse em língua portuguesa? Aqui no caso, as primeiras que eu
elenquei Água doce, André Lima, Cavalera. E se fosse em língua inglesa faria
alguma diferença? Você optaria por qual?
Clóvis: Por exemplo, para uma passarela, a Cavalera já é um marca conhecida. Hoje
ela não tem o peso de uma Ellus e da BR. Mas hoje a Cavalera é mais forte que a
Blue Man. É como eu falo...
Clóvis: Água doce, como eu falo assim, o soar da Água Doce... Eu prefiro iniciar com
uma Ellus, que é um marca fortíssima. Aí você pega uma BR que também é ali de
fora, aí você intercalaria com outras nacionais. Mas o chamariz seria realmente
alguma coisa de fora.
Clóvis: Carro chefe seria em inglês. É como eu falo para minha área. E quem falar
que não existe isso é demagogia, que uma pessoa que mexe na área de moda e
fitness que dá para ficar alheio a todos esses termos e falar que não se pode usar,
que isso não pode estar acoplado na língua portuguesa hoje.
Entrevistadora: E na moda?
Clóvis: Moda também é a mesma coisa. É como eu falo para você, a moda, esta
parte estética, essa parte da beleza gera uma auto-estima para as pessoas. É como
eu falei, 90% das pessoas que me procuram aqui na academia é para a parte
estética. Não é só pra manter forma, pra manter a saúde. Se dizem que é só pra
saúde, mentira, 90 % é para a parte estética. Hoje a parte estética no mundo é muito
importante. Quem não souber desses termos, é considerado fora da moda, uma
pessoa “out”, então você pega assim...
Entrevistadora: Duas camisetas, uma com uma mensagem escrita em inglês a outra
em língua portuguesa, por qual você optaria? Por quê?
Clóvis: Eu tiro uma base, se você for em uma loja, você não vai achar uma camiseta
com uma mensagem em português. As únicas mensagens em camisetas que vem
em português são dos evangélicos.
(Entra a secretária na sala onde está sendo feita a entrevista e menciona uma
frase que tem o termo “top”).
Entrevistadora: Na fala da sua secretária que acabou de entrar ela disse top. O que
é o top para você? No mundo da moda?
Entrevistadora: No máximo?
Entrevistadora: O que você acha que se usa para chamar a atenção, por exemplo,
(mostrando uma revista de moda ). Esta é uma revista de moda, “Elegance is an
atitude!” e não “Elegância é uma atitude”. Qual é o impacto? O que diferencia um do
outro?
Clóvis: Vai chamar a atenção para a pessoa que vai tentar passar para ver o que
quer dizer essa palavra e já a própria fotografia de mulher maravilhosa, linda, e esse
relógio com os diamantes de lado, já profere que seja um artigo importado. É por
isso que eu falo que é o peso da língua inglesa na beleza, na moda.
Entrevistadora: As pessoas que manuseiam essas revistas você acha que elas
procuram saber o que significa ou não faz diferença ou é mais o look da revista?
Clóvis: Eu acho que é mais o look da revista mesmo. A pessoa só vai se interessar
em conhecer alguma palavra só se, de repente, ela achar alguma coisa mais
interessante, uma palavra que ela acha que é diferente e alguma coisa que chame a
atenção dela. Então ela vai querer saber o que a outra palavra quer dizer para
complementar. Se for uma palavra que ela não tem conhecimento nenhum eu acho
que ela passa meio despercebida.
Entrevistadora: A maioria?
Clóvis: A maioria.
Entrevistadora: Neste anúncio tem “Backstage São Paulo Fashion Week”. O que
representa o backstage para você?
Clóvis: Aqui eu acho que deve ser uma marca, uma grife. Esse nome eu acho que é
uma grife nacional e que está usando um termo em inglês para chamar a atenção.
Não sei.
Entrevistadora: Você conhece uma grife nacional que optou por usar o nome em
língua inglesa?
Entrevistadora: Mas você acha que isso faz diferença para vender produtos?
Clóvis: Tudo que soa em inglês chama mais a atenção. Se você ponha uma menina
vestida com uma roupa diferente e ponha o nome em inglês, chama mais atenção do
que estar com a mesma roupa e o nome em português. Todo mundo quer uma grife
americana, uma grife inglesa, uma coisa chique.
Clóvis: Eu sou da parte das pessoas que para mim a língua inglesa entrando é um
termo facilitador. Uma pessoa que já tem noção de inglês e vai ouvir, vai aprender
muito mais fácil, pode fazer uma associação de idéias queira ou não você acaba
pegando um pouquinho. Se eu pegar um texto que tem termos que eu uso mais ou
menos direto que ser o que quer dizer mais ou menos o texto, não vou saber certo,
mas tenho mais ou menos aquela idéia de passar o que quer dizer. Quanto a proibir,
isso eles não conseguem nunca, porque não é apenas no Estado de São Paulo, ou
em uma determinada região, já tá a nível nacional. Hoje ninguém estranha mais, por
exemplo, São Paulo Fashion Week, quem vai querer mudar o nome de um evento
desses? Então, não tem como mudar isso, mais. E também eu acho que isso não vai
trazer benefício nenhum pra nossa língua o que vai alterar e vão ser criados termos
para essa mesma definição. É como eu falo, existem palavras em inglês que não
tem em português. Uma academia de ponta é uma top academia, uma academia de
ponta é uma super academia, mas não é uma top. Então, não existe um termo
nacional que defina esse top da academia. Uma top model como a Gisele
Bündchen, por exemplo, tem a modelo de sucesso, mas uma top como a Gisele, ela
é a top. Não existe ainda um termo nacional que eu acho que defina isso. É super
modelo, mas super mesmo, mas que chega no final é aquilo e acabou.