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SECAGEM E ARMAZENAGEM DE

PRODUTOS AGRÍCOLAS

JUAREZ DE SOUZA E SILVA


EDITOR

2ª EDIÇÃO – REVISADA E AMPLIADA


2008
SECAGEM E ARMAZENAGEM
DE
PRODUTOS AGRÍCOLAS

Editor
Juarez de Sousa e Silva
Professor Titular Associado
Departamento de Engenharia Agrícola / CBP&D-Café
Universidade Federal de Viçosa

VIÇOSA – MG
2008
2a edição – 2008

copyright 2008 by
ISBN -----------------

Editora Aprenda Fácil


Rua José Almeida Ramos, 37 – Ramos
CEP: 36.570-000 Viçosa – MG

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e


Classificação da Biblioteca Central da UFV

Secagem e armazenagem de produtos agrícolas / Editor


S444 Juarez de Sousa e Silva. – Viçosa : Aprenda Fácil,
2008 2008.
Xiv,560p. : il.(algumas col.)+1 CD-ROM (4¾ pol.)
29cm
Disponível também em CD-ROM.
Inclui bibliografia

1. Produtos agrícolas - Secagem. 2. Produtos agríco-


las - Armazenamento. I. Silva, Juarez de Sousa e, 1944-.

CDD 22.ed. 631.568

Impresso no Brasil
PREFÁCIO

Há trinta e oito anos, em associação com os meus colegas e alunos, tento


acumular conhecimento e experiência profissional na área de Secagem e
Armazenagem de Produtos Agrícolas. Antes, como professor e pesquisador
efetivo da Universidade Federal de Viçosa, e hoje como professor voluntário da
mesma instituição e pesquisador do CBP&D – Café (Consorcio Brasileiro de
Pesquisa e Desenvolvimento do Café), venho participando de uma das equipes
mais importantes e ativas do Brasil no que se refere aos assuntos da pós-colheita
de produtos agrícolas. Dessa forma, o material aqui apresentado, é um registro de
partes dos conhecimentos adquiridos por nossa equipe, que vêm, de maneira
responsável, estudando e trabalhando para o engrandecimento da área de estudo e
da agricultura brasileira.
Pode parecer, para grande parte dos leitores que nos honraram com a
leitura do nosso primeiro livro (Pré-Processamento de Produtos Agrícolas e
editado em 1995) que o material em pauta seja, numa primeira vista, semelhante
ao material apresentado naquela época. De certo modo, o leitor está correto.
Entretanto, quatorze anos se passaram, aprendemos mais e novos colegas se
juntaram à nossa equipe para acrescentar não somente material novo, mas também
novos conhecimentos para esta segunda edição.
Com capítulos e assuntos adicionais importantíssimos, nova abordagem,
racionalização de páginas e com nova e extensa ilustração, este livro vem
preencher lacunas, tanto nas áreas de cereais e perecíveis como também na de
preparo e armazenagem do café. Colocamos também, à disposição do leitor, as
novas tecnologias relacionadas ao assunto, que foram desenvolvidas nos últimos
oito anos na UFV.
Esta obra contém, na sua forma eletrônica, figuras e vídeos que podem
auxiliar o professor a preparar suas aulas para o ensino de pós-colheita.
É parte fundamental do CURSO BÁSICO DE SECAGEM E
ARMAZENAGEM DE PRODUTOS AGRÍCOLAS oferecido, via Internet, pelo
SITE (www.pos-colheita.com.br).

O Editor
DEDICATÓRIA
Dona Amélia José de Sousa, minha mãe “in memoriam”
Eugênio de Sousa e Silva, meu pai “in memoriam”.
Dona Sônia Maria de Sousa e Silva, minha esposa.

Homenagem Especial:
- meus professores e funcionários do DEA/UFV
- meus alunos e colaboradores
- meus filhos e netas

Agradecimento Especial:
Geraldo Lopes de Carvalho Filho
(pela grande amizade)
EDITOR:
JUAREZ DE SOUSA E SILVA
Professor Titular Aposentado - DEA – UFV / CBP&D - Café - PhD
Contatos: juarez@ufv.br

COLABORADORES:
ADÍLIO FLAUZINO DE LACERDA FILHO
Professor Adjunto – UFV – DS

ADRIANO DIVINO LIMA AFONSO


Professor Adjunto – UNIOESTE /PR – DS

CONSUELO DOMENICI ROBERTO


DS em Engenharia Agrícola

DANIEL MARÇAL DE QUEIROZ


Professor Adjunto - UFV- PhD

DANIELA CARVALHO LOPES


DS em Engenharia Agrícola

EDNEY ALVES MAGALHÃES


DS em Engenharia Agrícola

EVANDRO DE CASTRO MELO


Professor Adjunto - UFV – DS

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Ministério da Agricultura - DS

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Professor Adjunto -UFV - PhD

FRANCISCO DE ASSIS CARVALHO PINTO


Professor Adjunto - UFV – PhD

FREDERICO FAÚLA DE SOUSA


Professor Adjunto – UFLA - DS

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Professor Adjunto UFD - DS

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Professor Adjunto - DEA – UEG - DS
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Professor Titular – DEA-UFV

JOSÉ CARDOSO SOBRINHO


Professor Adjunto UFRS – DS

LÊDA RITA D'ANTONINO FARONI


Professora Adjunta – UFV - DS

PAULO CESAR CORRÊA


Professor Adjunto – UFV – DS

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Professor Adjunto – UENF -DS

MARILSON GONÇALVES CAMPOS


Técnico de Operações – CONAB- SUREG/GO DS

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Prof. Adjunto - UEG - DS

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MS em Engenheira Agrícola

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Professor Adjunto - UFRRJ - DS

SÉRGIO MAURÍCIO MAURÍCIO LOPES DONZELES


Pesquisador da EPAMIG - DS

SOLENIR RUFFATO
Professora Adjunta DEA- UFMT

SUELY DE FÁTIMA RAMOS SILVEIRA


Professara Adjunto –UFV – DS
I

SUMÁRIO

Páginas
CAPÍTULO - 1
ARMAZENAGEM E COMERCIALIZAÇÃO DE GRÃOS NO BRASIL 1

1. INTRODUÇÃO 1

2. O POTENCIAL AGRÍCOLA BRASILEIRO 2


2.1. Estimativa da Área Plantada 3
2.2. Estimativa da Produção 4

3. SEGURANÇA ALIMENTAR E IMPORTÂNCIA DA PEQUENAPRODUÇÃO 5

4. A ESTRUTURA BRASILEIRA DE ARMAZENAGEM 8


4.1. Armazenagem e a Pequena Produção 12

5. COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO 14

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 16

7. LITERATURA CONSULTADA 17

CAPÍTULO - 2
ESTRUTURA, COMPOSIÇÃO E PROPRIEDADES DOS GRÃOS 19

1. INTRODUÇÃO 19

2. ESTRUTURA E FUNÇÕES DOS GRÃOS 19


2.1. Cobertura Protetora 20
2.2. Tecido Meristemático 20
2.3. Tecido de Reserva 20

3. PROPRIEDADES FÍSICAS DOS GRÃOS 22


3.1. Ângulo de Repouso 22
3.2. Massa Específica Granular 24
3.3. Porosidade 26
3.4. Velocidade Terminal 28
3.5. Tamanho e Forma dos Grãos 28
3.6. Condutividade Térmica 30
3.7. Difusividade Térmica 31
3.8. Calor Específico 31
II

3.9. Resistência Elétrica 32


3.10. Propriedades Dielétricas 32

4. LITERATURA CONSULTADA 35

CAPÍTULO - 3
PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PSICROMETRIA 37

1. INTRODUÇÃO 37

2. PROPRIEDADES DO AR ÚMIDO 38
2.1. Temperaturas de Bulbo Seco (t) e de Bulbo Molhado (tm) 38
2.2. Pressão Parcial de Vapor (pv) e Pressão de Saturação (pvs) 39
2.3. Razão de Mistura (w) 39
2.4. Umidade Relativa (UR) 39
2.5. Umidade Absoluta (Ua) 39
2.6. Umidade Específica (Ue) 40
2.7. Grau de Saturação (Gs) 40
2.8. Temperatura do Ponto de Orvalho (tpo) 40
2.9. Volume Específico (ve) 40
2.10. Entalpia (h) 40

3. MEDIÇÃO DA UMIDADE DO AR 41

4. CÁLCULO DA TEMPERATURA DE BULBO MOLHADO 43

5. TABELAS E GRÁFICOS PSICROMÉTRICOS 45


5.1. Exemplo de Aplicação da Tabela Psicrométrica 46
5.2. Gráfico Psicrométrico 49

6. OPERAÇÕES QUE MODIFICAM O AR 55


6.1. Aquecimento e Resfriamento do Ar 57
6.2. Secagem e Umedecimento 57
6.3. Mistura de Dois Fluxos de Ar 59

7. LITERATURA CONSULTADA 61

CAPÍTULO - 4
INDICADORES DA QUALIDADE DOS GRÃOS 63

1. INTRODUÇÃO 63
III

2. PERDA DE GRÃOS ARMAZENADOS 64


2.1. Considerações Gerais 64
2.2. Fungos de Campo 64
2.3. Fungos de Armazenamento 64

3. INDICADORES DA QUALIDADE 66
3.1. Aspectos Relacionados à Secagem 67
3.2. Teor de Água ou Umidade Contida nos Grãos 69

4. MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE 74


4.1. Métodos Diretos ou Básicos 74

5. TEOR DE UMIDADE DE EQUILÍBRIO 86


5.1. Pressão de Vapor x Umidade de Equilíbrio 89
5.2. Determinação da Umidade de Equilíbrio 91

6. CALOR LATENTE 92

7. AMOSTRAGEM 93
7.1. Tipos de Amostragens 94
7.2. Equipamentos 95
7.3. Formação e Apresentação das Amostras 98
7.4. Identificação das Amostras 98

8. AFERIÇÃO E CALIBRAÇÃO DE DETERMINADORES DE UMIDADE 99


8.1. Métodos de Calibração de uma Escala de um Determinador Indireto 99
8.2. Equipamentos Necessários 100
8.3. Calibração 100
8.4. Operacionalização dos Testes 101

9. LITRARURA CONSULTADA 107

CAPÍTULO - 5
SECAGEM E SECADORES 109

1. DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA 109

2. PRINCÍPIOS GERAIS DA SECAGEM 109

3. SISTEMAS DE SECAGEM 113

4. SECAGEM NATURAL 114


IV

5. SECAGEM ARTIFICIAL 115


5.1.Ventilação Natural 115
5.2. Ventilação Forçada 115
5.3. Manejo e Recomendações para Ventilação em Silos Secadores 118
5.4. Formas de Carregamento do Silo 118
5.5. Movimentação do Produto no Silo 120
5.6. Operação e Monitoramento da Secagem 122
5.7. Duração da Secagem 122
5.8. Considerações 123

6. SECAGEM COM ALTAS TEMPERATURAS 124


6.1. Classificação dos Secadores com Altas Temperaturas 124
6.2. Classificação Quanto à Operação 140
6.3. Classificação Quanto à Utilização 141
6.4. Modificações e Recomendações na Operação e no Manejo 143

7. ANÁLISE DO CONSUMO ENERGÉTICO 145

8. LITERATURA CONSULTADA 145

CAPÍTULO - 6
ESTUDO DA SECAGEM EM CAMADA ESPESSA 147

1. INTRODUÇÃO 147

2. EQUAÇÃO DO BALANÇO DE ENERGIA 147


2.1. Solução pelo balanço de energia 150

3. MODELOS DE SECAGEM 152


3.1. Modelo de Hukill 153
3.2. Modelo de Thompson 164
3.3. Validação dos Modelos 172

4. LITERATURA CONSULTADA 176

CAPÍTULO -7
SECAGEM DE GRÃOS COM ENERGIA SOLAR 179

1. INTRODUÇÃO 179
V

2. SECAGEM SOLAR EM TERREIROS 179


2.1. Manejo e Características Técnicas do Terreiro 181

3. SECADOR HÍBRIDO (TERREIRO-BIOMASSA) 182

4. ENERGIA SOLAR 184


5. O COLETOR DE ENERGIA SOLAR 185
5.1. Construção do Coletor Solar 186

6. SECAGEM COM ENERGIA SOLAR 188


6.1. Manejo dos Secadores Solares 190
6.2. Quantidade Necessária de Secadores Solares Rotativos 192
6.3. Terreiro Suspenso Portátil 193
6.4. Terreiro Suspenso Móvel 193
6.5. Secador Flex 194

7. FUTURO DA SECAGEM COM ENERGIA SOLAR 195

8. LITERATURA CONSULTADA 197

CAPÍTULO - 8
ENERGIA NO PRÉ-PROCESSAMENTO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS 199

1. INTRODUÇÃO 199

2. COLHEITA E ENERGIA 200

3. RACIONALIZAÇÃO DE ENERGIA 201


3.1. Recomendações Práticas 201
3.2. Manutenção de Equipamentos e Iluminação 202

4. CONSUMO DE ENERGIA E EFICIÊNCIA DE SECAGEM 204


4.1. Eficiência do Secador 206

5. COMBUSTÃO, COMBUSTÍVEIS E FORNALHAS 207


5.1 Combustão 207
5.2. Combustíveis 207
5.3. Transformações Químicas Relacionadas com a Combustão 209
5.4. Ar Necessário à Combustão 209
5.5. Fornalhas 212

6. ADAPTAÇÃO DE FORNALHAS 222


6.1. Construção das Fornalhas 223
VI

7. CUIDADOS PRELIMINARES 224


7.1. Início de Operação 224

8. LITERATURA CONSULTADA 224

CAPÍTULO - 9
COMPOSIÇÃO DO CUSTO DE SECAGEM 229

1. INTRODUÇÃO 229

2. CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS 230

3. O CUSTO DA MÃO-DE-OBRA 232

4. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DE CUSTOS 232


5. DESEMPENHO DE SECADORES 234
5.1. Avaliação do Desempenho 234

6. CUSTO DE SECAGEM 236

7. EXEMPLO DE APLICAÇÃO 238


7.2. Parâmetros Relativos ao Ar 238
7.3. Uso de Energia 239
7.4. Especificação do Secador 239
7.5. Simulação de Secagem 240
7.6. Custos 240
7.7. Análise dos Resultados 240

8. LISTA DE SÍMBOLOS 244

9. LITERATURA CONSULTADA 246

CAPÍTULO - 10
ELEÇÃO E CONSTRUÇÃO DE VENTILADORES 249

1. INTRODUÇÃO 249

2. CLASSIFICAÇÃO 249

3. USO DOS VENTILADORES NA SECAGEM 252


VII

4. GRANDEZAS CARACTERÍSTICAS 252


4.1. Altura de Elevação 252
4.2. Potências 253
4.3. Rendimentos 253

5. ESPECIFICAÇÃO DOS VENTILADORES 254


5.1. Queda de Pressão no Produto 255
5.2. Queda de Pressão na Chapa 256
5.3. Queda de Pressão em Dutos 256

6. CURVAS CARACTERÍSTICAS DOS VENTILADORES 256


6.1. Curva Característica do Sistema 259
6.2. Lei de Semelhança 259

7. VENTILADOR CENTRÍFUGO DE PÁS RADIAIS 260

8. O VENTILADOR E SUA CONSTRUÇÃO 261


8.1. Descrição do Ventilador 262
8.2. Construção e Detalhes dos Componentes 262
8.3. Montagem dos Componentes 264
8.4. Materiais Necessários 268

9. LITERATURA CONSULTADA 268

CAPÍTULO - 11
AERAÇÃO DE GRÃOS ARMAZENADOS 269

1. INTRODUÇÃO 269

2. OBJETIVOS DA AERAÇÃO 270


2.1. Resfriar a Massa de Grãos 270
2.2. Inibir a Atividade de Insetos-praga e Ácaros 271
2.3. Inibir o Desenvolvimento da Microflora 273
2.4. Preservar a Qualidade dos Grãos 276
2.4. Uniformizar a Temperatura 277
2.5. Prevenir o Aquecimento dos Grãos 278
2.6. Promover a Secagem Dentro de Certos Limites 279

3. SISTEMA DE AERAÇÃO 279

4. OPERAÇÃO DO SISTEMA DE AERAÇÃO 282


4.1. Como Resfriar ou Aquecer uma Massa de Grãos 283
VIII

5. SUCÇÃO OU INSUFLAÇÃO DO AR 285


5.1. Ventilação Positiva 285
5.2. Ventilação Negativa 286

6. ACONDICIONAMENTO DO PRODUTO 286

7. SISTEMA DE TERMOMETRIA 287


7.1. Instalação do Sistema de Termometria 288
7.2. Monitoramento do Produto Armazenado 288

8. CÁLCULO DE UM SISTEMA DE AERAÇÃO 290

9. LITERATURA CONSULTADA 294

CAPÍTULO - 12
MANUSEIO DE GRÃOS 297

1. INTRODUÇÃO 297

2. TIPOS DE TRANSPORTADORES 297


2.1. Transportador Helicoidal ou Rosca Sem-Fim 298
2.2. Elevador de Caçambas 305
2.3. Fita Transportadora 312
2.4. Transportadores Pneumáticos 319

3. LITERATURA CONSULTADA 322

CAPÍTULO - 13
BENEFICIAMENTO DE GRÃOS 325

1. INTRODUÇÃO 325

2. BASES PARA SEPARAÇÃO 325


2.1. Tamanho 326
2.2. Peso 327
2.3. Forma 328
2.4. Cor 329
2.5. Condutividade Elétrica 329
2.6. Textura do Tegumento 330
IX

3. ETAPAS DO BENEFICIAMENTO 331


3.1. Recepção 332
3.2. Pré-Limpeza 332
3.3. Secagem 332
3.4. Limpeza 332
3.5. Separação e Classificação 332
3.6. Tratamento 333
3.7. Transportadores e Acessórios 333

4. PLANEJAMENTO DE UMA UBS 334

5. CONTROLE DE QUALIDADE E CLASSIFICAÇÃO 334

6. QUALIDADE DOS PRODUTOS 334


6.1. Teste de Envelhecimento Precoce 335
6.2. Fatores que Afetam a Qualidade 336

7. PADRONIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO 336


7.1. Elaboração dos Padrões 337
7.2. Certificado de Classificação 339
7.3. Operacionalização da Classificação 340

8. LITERATURA CONSULTADA 340

CAPÍTULO - 14
ESTRUTURAS PARA ARMAZENAGEM DE GRÃOS 343

1. INTRODUÇÃO 343

2. CARACTERIZAÇÃO DE UNIDADES ARMAZENADORAS 344


2.1. Unidades para Armazenagem a Granel 345
2.2. Armazenagem a Granel na Fazenda 346
2.2. Fumigação e Vedação do Silo 352
2.3. Armazenagem Convencional 354

3. OPERAÇÕES DE ARMAZENAGEM 355


3.1. Cálculo da Capacidade de um Armazém 358

4. ELABORAÇÃO DE PROJETOS 360


4.1. Localização e Dimensionamento 360
4.2. Aspectos de Engenharia 361
4.3. Investimentos e Financiamentos 362
X

5. PÓ ORIUNDO DO MANUSEIO DE GRÃOS 366


5.1. Origem do Pó 367
5.2. Características do Pó Combustível 368
5.3. Concentração de Pó 368

6. LITERATURA CONSULTADA 369

CAPÍTULO - 15
MANEJO DE PRAGAS NO ECOSSISTEMA DE GRÃOS ARMAZENADOS 371

1. INTRODUÇÃO 371

2. PRINCIPAIS FATORES DE DETERIORAÇÃO 372


2.1. Temperatura da Massa de Grãos 372
2.2. Umidade 373
2.3. Estrutura do Armazém e suas Inter-relações 373
2.4. Disponibilidade de Oxigênio 373
2.5. Longevidade das Sementes 373
2.6. Respiração 374
2.7. Maturidade Pós-Colheita 374
2.8. Germinação 374
2.9. Microrganismos 375

3. DETERIORAÇÃO DOS GRÃOS POR MICRORGANISMOS 375


3.1. Fatores que Afetam a Atividade dos Microrganismos 376
3.2. Controle dos Microrganismos de Grãos Armazenados 376

4. INSETOS DE GRÃOS ARMAZENADOS 377


4.1. Danos Diretos em Grãos e Subprodutos 377
4.2. Danos Indiretos em Grãos e Subprodutos 378

5. ÁCAROS 379

6. ROEDORES E PÁSSAROS 380

7. CONSEQÜÊNCIAS DA ARMAZENAGEM INADEQUADA 381

8. PRINCIPAIS INSETOS E SUAS CARACTERÍSTICAS 383

9. PROGRAMA DE CONTROLE 385

10. CONTROLE DE INSETOS 386


10.1. Controle Legislativo 387
XI

10.2. Controle Físico 387


10.3. Controle Químico 391

11. LITERATURA CONSULTADA 404

CAPÍTULO - 16
CONTROLE DE PRAGAS POR ATMOSFERAS CONTROLADAS 407

1. INTRODUÇÃO 407

2. USO DE ATMOSFERA CONTROLADA 408

3. EFEITOS DAS CONDIÇÕES AAC 409


3.1. Composição Gasosa 409
3.2. Efeito da Temperatura 410
3.3. Efeito da Umidade Relativa 411
3.4. Efeito da Hermeticidade da Célula Armazenadora 411

4. AMBIENTES COM BAIXAS CONCENTRAÇÕES DE OXIGÊNIO 412

5. CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS 414

6. LITERATURA CONSULTADA 416

CAPÍTULO - 17
SECAGEM E ARMAZENAGEM DE PRODUTOS AGRÍCOLAS 417

1. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE MILHO 417


1.1. Secagem Artificial do Milho 418

2. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE ARROZ 424


2.1. Classificação do Arroz 424
2.2. Grupos 425
2.3. Subgrupos 426
2.4. Classe 426
2.5. Grãos quebrados 427
2.6. Fragmentos de grãos 428
2.7. Secagem do Arroz 428
2.8. Secagem de Arroz para Sementes 434
2.9. Secagem de Arroz Parboilizado 435
2.10. Armazenagem do Arroz 436
XII

2.11. Armazenagem a Granel 436

3. PREPARO, SECAGEM E ARMAZENAGEM DE CAFÉ 439


3.1. Classificação e Qualidade do Café 440
3.2. Secagem em Terreiro Convencional 443
3.3 - Terreiro Híbrido - Solar e Biomassa 449
3.4 - Secagem em Altas Temperaturas 450
3.5. Secagem em Lote com Leito Fixo 451
3.6. Secadores de Fluxos Concorrentes 454
3.7. Seca-aeração 454
3.8. Secagem Parcelada 455
3.9. Secagem com Energia Solar 455
3.10. Secagem com Ar Natural e em Baixas Temperaturas 455
3.11. Secagem Combinada 456
3.12. Armazenamento e Beneficiamento 462
3.13. Armazenamento de Café Beneficiado 466

4. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE TRIGO 469


4.1. Anatomia e Composição Química do Grão de Trigo 469
4.2. Limpeza do Trigo 469
4.3. Secagem do Trigo 470
4.4. Armazenamento do Trigo 472
4.5 – Classificação do Trigo 474

5. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE FEIJÃO 475


5.1. Secagem a Altas Temperaturas 475
5.2. Aeração do Feijão 476

6. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE SOJA 480

7. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE CACAU 482


7.1 - Cuidados na Secagem 482
7.2. Secagem com Ventilação Natural 483
7.3. Secagem em Alta Temperatura 484

8. CURA DA CEBOLA 488


8.1. Colheita 488
8.2. Perecibilidade 488
8.3. Cura 489
8.4. Armazenamento da Cebola 491

9. FENAÇÃO 493
9.1. Características Gerais da Fenação 493
9.2. Técnicas de Produção de Feno 493
9.3. Secagem no Campo 494
XIII

9.4. Uso de Secadores 494


9.5. Armazenamento do Feno 495

10. LITERATURA CONSULTADA 496

CAPÍTULO - 18
ARMAZENAMENTO DE FRUTAS E HORTALIÇAS 501

1. INTRODUÇÃO 501

2. CONSIDERAÇÕES GERAIS 502

3. RESPIRAÇÃO 503

4. PRODUÇÃO DE ETILENO E SEUS EFEITOS 504

5.VIDA DO FRUTO 506


5.1. Crescimento e Desenvolvimento 506
5.2. Maturação 507
5.3. Amadurecimento 508
5.4. Senescência 508

6. PERDA DE ÁGUA 509

7. CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS 511

8. DISTÚRBIOS FISIOLÓGICOS 512


8.1. Distúrbio Devido ao Congelamento 512
8.2. Distúrbio Devido ao Frio 512

9. DISTÚRBIOS CAUSADOS PELA CÂMARA 514


9.1. Umidade Relativa 514
9.2. Concentração de O2 514
9.3. Concentração de CO2 515
9.4. Concentração de Etileno 516
9.5. Distúrbios Provocados pela Luz 517

10. TRATAMENTOS PRÉ-ARMAZENAGEM 517


10.1. Limpeza 517
10.2. Classificação por Tipo e Qualidade 518
10.3. Tratamentos Profiláticos 518
10.4. Recobrimento da Superfície 519
10.5. Pré-resfriamento 519
XIV

11. ARMAZENAGEM REFRIGERADA 523


11.1. Princípios de Refrigeração 523
11.2. Componentes do Sistema de Refrigeração 524

12. CONSTRUÇÃO DE CÂMARAS 525


12.1. Umidade 526
12.2. Armazéns Revestidos 526
12.3. Ventilação 526

13. DETERMINAÇÃO DE CARGA TÉRMICA 526


13.1. Tempo de Funcionamento do Equipamento 527
13.2. Cálculo da Carga Térmica 527
13.3. Carga de Calor Cedido pelas Paredes 528
13.4. Exemplo de Aplicação 533

14. LITERATURA CONSULTADA 537

CAPÍTULO - 19
SEGURANÇA DE PRODUTOS NA PÓS-COLHEITA 539

1. INTRODUÇÃO 539

2. PRODUÇÃO PRIMÁRIA 540


2.1. Produção de Grãos e Derivados: Micotoxinas 540

3. PROGRAMAS PRÉ-REQUISISTOS 542


3.1. Boas Práticas Agrícolas na Produção de Produtos Agrícolas 543

4. O SISTEMA APPCC 545


4.1. Definições Importantes 546
4.2. Etapas e Princípios do APPCC 547

5. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO APPCC NA SEGURANÇA DO CAFÉ 551

6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 559


Capítulo

1
ARMAZENAGEM E COMERCIALIZAÇÃO DE GRÃOS NO BRASIL

Juarez de Sousa e Silva


Marilson Gonçalves Campos
Suely de Fátima Ramos Silveira

1. INTRODUÇÃO

O setor agrícola brasileiro vem contribuindo para o crescimento econômico e a


ele são delegadas importantes tarefas, como, por meio do aumento da produção e da
produtividade, ofertar alimentos e matérias-primas para o mercado interno; gerar
excedentes para exportação, ampliando a disponibilidade de divisas; transferir mão-de-
obra para outros setores da economia; fornecer recursos para esses setores; e consumir
bens produzidos no setor industrial.
A modernização da agricultura brasileira contou com acentuada participação do
Estado. Esse processo teve início a partir dos anos 30, mas somente no período que se
estende dos anos 60 ao final dos anos 70 foi verificado aprofundamento maior nas
transformações do setor.
A criação do Sistema Nacional de Crédito Rural, em 1965, e a disponibilidade
de crédito a juros subsidiados nos anos 70 foram decisivas para a consolidação tanto da
agricultura capitalista no País quanto de um parque industrial de insumos e máquinas
agrícolas.
Até o fim da década de 70, o crescimento da produção agrícola ocorreu devido
principalmente à expansão da área cultivada, com a incorporação de terras pertencentes
à fronteira agrícola. Apesar de que novas áreas, ainda, continuam sento abertas para dar
lugar a cana-de-açúcar e a soja, foi a partir daquela data que essa tendência começou a
mudar, e já nos anos 80 o crescimento da produção vem ocorrendo em virtude do
incremento na produtividade, com incorporação de novas variedades e técnicas
modernas de produção.
Com o grande crescimento da economia brasileira durante a década de 70, a
agricultura apresentou avanços significativos, principalmente as culturas destinadas ao
mercado externo. Nesse período, além de elevadas taxas de crescimento da agricultura
brasileira como um todo, houve pronunciada segmentação da produção em produtos
exportáveis e de consumo doméstico.

1
Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

No início dos anos 80, com aumento das taxas de inflação, redução do volume
de crédito rural e conseqüente elevação das taxas de juros, por iniciativa do Estado, a
ênfase dada ao crédito rural deslocou-se para a apólice de garantia de preços mínimos,
que a partir daí iria tornar-se o principal instrumento de política agrícola brasileira,
contribuindo para a consolidação da produção capitalista na agricultura.
Em breve relato sobre o crescimento da economia brasileira nos anos 80,
GASQUES e VILA VERDE (1990), comparando as taxas de crescimento entre os
setores da economia, constataram que a agricultura foi um dos setores mais dinâmicos,
com crescimento médio anual de 3,1%, superando o crescimento industrial. Esses
autores verificaram que:
a) As lavouras de subsistência foram superadas por lavouras comerciais, como
as de café, cacau, milho e soja.
b) O crescimento da agricultura ocorreu mais em função da substituição de
cultura do que pela incorporação de novas áreas.
c) Houve enfraquecimento do modelo de crescimento extensivo baseado na
expansão de área, sendo o aumento de produtividade agrícola o principal responsável
pelo aumento de produção.
d) A queda dos preços agrícolas marcou o comportamento do mercado na
década de 80, problema este que praticamente atingiu todos os produtos, tanto da
agricultura quanto da pecuária. As características da agricultura, os aumentos na
produtividade e as quedas nos custos de produção, juntamente com as políticas
agrícolas, foram os principais fatores que possibilitaram o crescimento da agricultura
mesmo com preços reais decrescentes.

2. O POTENCIAL AGRÍCOLA BRASILEIRO

Em comparação com outros países cuja agricultura possui importância


econômica, o Brasil apresenta condições privilegiadas para, de forma rápida, ampliar a
produção e modernizar o comércio de produtos agrícolas. Alguns fatores que podem
contribuir para viabilizar estas condições são:
a) Sistema de transporte - abertura de novas vias de transporte e utilização e
ampliação das hidrovias em substituição ao transporte rodoviário contribuirão,
significativamente, para reduzir os custos de escoamento da produção das regiões
produtoras para regiões consumidoras e portos.
b) Novas agroindústrias – se adaptadas às novas exigências de
competitividade e instaladas, preferencialmente, próximas às regiões produtoras,
contribuirão para a redução do custo de transporte da matéria-prima. Prova disso, é que,
além de indústrias de transformação, o número de abatedouros para aves, suínos e
bovinos que vêem sendo instalados no Centro Oeste e Norte do Brasil.
c) Educação empresarial – faz-se necessária uma mudança do perfil do
empresário agrícola brasileiro no sentido de se adaptar, de forma rápida, às exigências
de um mercado globalizado, principalmente no que diz respeito as Boas Práticas de
Produção que melhorem a qualidade final do produto e a segurança alimentar.
d) Educação comercial - postura semelhante deve ocorrer no setor de
comércio externo brasileiro em relação a seus parceiros do resto do mundo, com

2 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

mudança na forma de exportação.


e) Novo mercado interno – devido ao tamanho da população brasileira, são
importantes o incremento e a modernização do mercado interno em função da adoção e
do desenvolvimento de novas tecnologias e novos produtos.
f) Uso racional da terra – a ocupação racional da terra e o uso de técnicas
modernas de produção, além de evitar os custos de ociosidade, manteriam a qualidade
do solo.
g) Disponibilidade de áreas - grandes áreas contínuas mecanizáveis e
apropriadas para cultivo durante todo o ano a custo relativamente inferior ao de outros
países produtores favorecem o investimento na produção.
h) Qualidade total.
Novos modelos administrativos, com técnicas mais eficientes para
gerenciamento e comercialização da produção, podem promover grandes produção de
alimentos.

2.1. Estimativa da Área Plantada


Em sua oitava avaliação para a safra 2007/2008, a CONAB estimou uma área
plantada total 1,6% superior à cultivada na safra anterior, passando de 46,21 milhões de
hectares para 46,97 milhões, o que indica que foram incorporados quase 760 mil
hectares (Tabela 1). Se comparado com o incremento verificado em períodos,
imediatamente, anteriores à primeira edição deste livro, pode-se notar que nos últimos
11 anos, o aumento de área plantada foi, em média, 1,1 milhões de hectares por ano
agrícola. Sugere-se ao leitor, consultar os dados de estimativas de safra e de área
plantadas, que são publicados mensalmente e distribuídos, gratuitamente, pela CONAB
(www.conab.gov.br)
Outras culturas que não constam da Tabela 1, como batata, banana, abacaxi,
cebola, alho e uva etc, também se destacam pelos expressivos volumes de produção,
pela dimensão das áreas cultivadas e pelo contingente de mão-de-obra envolvido. Vale
ressaltar a área atualmente ocupada com cana-de-açúcar (acima de 7 milhões de
hectares para a safra 2008) e, segundo o (IBGE - 1996) a atividade com a pecuária, em
1996, ocupava a expressiva área 177 milhões de hectares sendo 56% com pastagens
plantadas, principalmente nas regiões onde se exercem controles rigorosos na área de
sanidade animal, visando à obtenção de altos rendimentos de leite e carne, bem como a
liberação das exportações de produtos pecuários.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 3


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

TABELA 1 - Estimativa de área plantada no Brasil - safras 2006/2007 e 2007/2008

SAFRA VARIAÇÃO
PRODUTO 06/07 07/08 Perc. Abs.
(a) Abril /08 (b) Maio/08 (c) (c/a) (c-a)
ALGODÃO 1.096,8 1.095,1 1.090,4 0,6 6,4
AMENDOIN TOTAL 102,6 112,8 115,3 12,3 12,6
ARROZ 2.967,4 2.928,0 2.924,5 1,4 43,0
FEIJÂO (Safras 1, 2, e
4.087,8 3.830,8 3,897,6 4,7 190,2
3)
MILHO Safras (1 e 2) 14.054,9 14.469,8 14.605,4 3,9 550,5
SOJA 20.686,8 21.158,5 21.219,1 2,6 532,3
TRIGO 1.757,5 1.818,9 1.818,9 3,5 61,4
DEMAIS PRODUTOS 1.561,4 1.400,4 1.413,1 9,5 148,4
BRASIL 46.212,6 46.701,5 46.969,0 1,6 756,4
Fonte: CONAB (www.conab.gov.br) – Levantamento Maio/2008

2.2. Estimativa da Produção


A estimativa da produção brasileira de grãos da safra 2007/2008 foi de 142,12
milhões de toneladas, o que representa aumento de 7,9% ou 10,36 milhões de toneladas
superior a da safra de 2006/2007 (Tabela 2).
Com um incremento 10,044 milhões de hectares, em relação ao ano 2000
(primeira edição deste livro), ou seja, com 37% de aumento de incremento de área
plantada, foi verificado, para o mesmo período um incremento de 71% na produção de
grãos. Esse fato vem comprovar que o aumento da produção brasileira não se deveu
somente ao aumento de área plantada mas, também, pela adoção de tecnologia moderna
que aumenta a produtividade.

TABELA 2 - Estimativa da produção de grãos no Brasil (em mil toneladas).

SAFRA VARIAÇÃO
PRODUTO 06/07 07/08 Perc. Abs.
(a) Abril /08 (b) Maio/08 (c) (c/a) (c-a)
ALGODÃO (caroço) 2.383,6 2.436,9 2.432,4 2,0 48,8
ARROZ 11.315,9 11.955,4 11.996,1 6,0 680,2
FEIJÂO
3.339,8 3.437,0 3.500,7 4,8 160,9
(Safras 1, 2, e 3)
MILHO Safras (1 e 2) 51.369,8 56.233,2 57.877,1 12,7 6.507,4
SOJA 58.391,8 59.988,7 59.502,6 1,9 1.110,8
TRIGO 2.233,7 3.824,0 3.824,0 71,2 1.590,3
DEMAIS RODUTOS 2.716,1 2889,2 2.982,5 9,8 266,4
BRASIL 131.750,6 140.774,4 142.115,5 7,9 10.364,9
Fonte: CONAB (www.conab.gov.br) – Levantamento Maio/2008

4 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

A Figura 1 mostra os dados oficiais sobre a atual capacidade armazenadora


brasileira que, com exceção da região sudeste, continua mostrando um déficit de
capacidade. Nos últimos cinco anos, conforme a CONAB (www.conab.gov.br), a
capacidade estática instalada no Brasil vinha crescendo numa média de 3,7 milhões de
toneladas ano (Tabela 3). Para o ano 2006 a capacidade total foi de, aproximadamente,
122 milhões de toneladas, sendo que 22% desse total é, ainda, constituído por
armazenagem convencional e, segundo a distribuição da capacidade por Entidade, as
oficiais ficam com 5%, as cooperativas com 21% e a grande maioria (74%) com
entidades privadas.

Figura 1 – Capacidade armazenadora e produção de grãos no Brasil.

TABELA 3 – Evolução anual da capacidade estática de armazenagem no Brasil (em


mil toneladas)

PERÍODO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006


Capacidade 87.833,0 89.227,0 89.734,2 93.358,6 100.056,0 106.538,7 121.987,7
Evolução - 1.394,00 516,2 3.624,4 6.697,4 6.482,7 15.449,0
Fonte: CONAB Dez/2006 (www.conab.gov.br)

3. SEGURANÇA ALIMENTAR E IMPORTÂNCIA DA PEQUENA PRODUÇÃO

A segurança alimentar é um assunto de relevância para todos os países, estando


sua importância diretamente relacionada ao tamanho da população e à extensão
territorial.
Em países populosos e com grandes extensões territoriais como o Brasil, deve-se
priorizar a regularidade do abastecimento de alimentos e matérias-primas agrícolas que
fazem parte do consumo diário da população, adequando os preços à demanda de todas
as classes de renda. A dependência de fontes instáveis, estabelecendo insegurança na
oferta de produtos agrícolas, cria variabilidade de preços e torna-se intolerável para a

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 5


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

população com hábitos de consumo conservador e de baixa renda.


Historicamente, foi atribuída à pequena produção a função de fornecer ao
mercado consumidor os produtos alimentares básicos - arroz, feijão, milho e mandioca.
Também a ela estão associados os conceitos de pequeno produtor, baixa produtividade,
baixa capitalização, baixa modernização, baixa produção e baixa qualidade.
Em geral, os produtores tradicionais produzem arroz, feijão e mandioca,
produtos que apresentam elasticidade-renda pequena mesmo entre as populações de
baixa renda, que são os principais consumidores destes produtos. Mesmo quando
produz frutas, hortaliças, soja, café e proteína animal, cuja elasticidade-renda é alta, este
grupo tem produção pequena para proporcionar aumento significativo em sua renda.
No que se refere à importância dos pequenos produtores quanto à produção de
alimentos básicos (arroz, milho, feijão e mandioca), é importante ressaltar que tais
produtos são típicos do subsetor de subsistência e baixa renda da agricultura. Não
obstante, existem pequenos proprietários que se dedicam à produção tecnificada de
hortigranjeiros, suínos, aves e mesmo grãos. Estes diferem dos pequenos produtores
tradicionais por produzirem produtos de alta elasticidade-renda, adotarem tecnologia
moderna, possuírem nível de instrução mais elevado e alta capacidade administrativa e,
geralmente, estarem ligados a grandes grupos, a cooperativas ou a esquemas de
comercialização eficientes.
Entende-se por agricultura moderna aquela fortemente integrada ao mercado
urbano de insumos e produtos, baseada em intenso fluxo de informações sobre preços,
quantidades demandadas/ofertadas, em observação de padrões de qualidade e acesso às
tecnologias disponíveis. Portanto, a agricultura moderna é compatível não somente com
grandes empresas agrícolas, mas com qualquer agricultor individualmente, capaz de
interpretar mensagens e aplicá-las na atividade produtiva. Na agricultura moderna,
rompem-se os padrões de produção e administração que redundam na produtividade de
fatores muito aquém daqueles que apresentam condições técnicas, econômicas e
socialmente justificáveis, conforme definido por ALVES (1987).
O modelo de desenvolvimento atualmente implantado no Brasil, baseado na
industrialização intensiva em capital, apesar de provocar mudanças positivas nas
relações agricultura-indústria, enfatizando o uso de insumos modernos na agricultura,
concentra-se principalmente nas grandes e médias propriedades, cujos proprietários têm
facilidade de acesso ao crédito subsidiado e, ainda, estímulo à produção de exportáveis.
Esse modelo é incapaz de resolver os problemas estruturais do setor composto pelos
pequenos produtores, que permanecem, na sua maioria, atrelados ao ciclo do
subdesenvolvimento: baixo nível de renda - baixa capitalização - baixa produção - baixa
produtividade.
Em decorrência do processo de modernização, coube à agricultura comercial a
ocupação de terras mais férteis, enquanto que, para os pequenos produtores, exceto
aqueles que ocupavam menores extensões de terra, pouco a pouco foram deslocados
para áreas que apresentam menor fertilidade relativa. Os produtores mais competentes e
donos de terras férteis substituíram as culturas de arroz, feijão e mandioca pelas de
cana-de-açúcar, soja, café, laranja e outros produtos mais rentáveis, principalmente na
Região Sudeste, excetuando-se os cultivos irrigados de arroz e feijão, que são altamente
tecnificados.

6 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

No caso da pequena produção de grãos, a maioria dos produtores caracteriza-se


por empregar técnicas tradicionais de produção voltadas, basicamente, para o sustento
da unidade familiar, gerando pouco excedente para comercialização. Contudo, quando
computados conjuntamente, estes produtores geram produções expressivas. Neste caso,
a produção está associada aos produtos domésticos (típicos da pequena produção) e aos
preços muito instáveis, contribuindo para que o nível de renda monetária destes
produtores seja, em média, muito pequeno. Assim, os pequenos produtores, com
exceção daqueles organizados nas estruturas dos complexos agroindustriais e/ou no
sistema de cooperativas, têm poucas possibilidades de comercializar a produção
diretamente com os mercados consumidores, ou de retê-la, aguardando melhores preços.
Em geral, vendem o produto aos atravessadores, que percorrem as unidades produtivas,
comprando o produto ao preço que melhor lhes convém e transportando-o para os
mercados consumidores, onde obtêm melhores preços. Desse modo, o lucro da atividade
do pequeno produtor é transferido para o “atravessador” ou agente de comercialização,
que transaciona diretamente o produto.
A presença marcante de pequenos produtores na agricultura, embora com baixo
nível de renda e à margem do processo de modernização, é demonstrada pela estrutura
fundiária brasileira (Tabela 4). Segundo o IBGE, em 1995 havia, aproximadamente,
3,406 milhões de estabelecimentos rurais ocupando área de 42,839 milhões de hectares
com média de 12,58 hectares por estabelecimento que representa 12% da área de todos
os estabelecimentos.

TABELA 4 – Distribuição percentual, por tamanho, das propriedades rurais no Brasil


em 2003.

Estratos de área Imóveis Área total


(hectares) Quantidade % Hectares %
Até 10 1.409.752 32,9 6.638.598,60 1,6
De 10 até 25 1.109.841 25,9 18.034.512,20 4,3
De 25 até 100 1.179.173 27,5 57.747.897,80 13,8
De 100 até 1.000 523.335 12,2 140.362.235,80 33,5
Mais de 1000 68.381 1,6 195.673.396,40 46,8
Totais 4.290.482 100,0 418.456.640,80 100,00
Fonte: Apuração Especial do SNCR, realizada em outubro de 2003 (INCRA, 2003a). OBS: Dados brutos, excluídos os imóveis com
inconsistência na situação jurídica.

Quanto à produção de grãos, especificamente as culturas de arroz, milho, feijão e


soja, os estabelecimentos com área até 50 ha foram responsáveis, em média, no ano de
1970, por 43% da produção de arroz, 64% da produção de milho, 73% da produção de
feijão e 60% da produção de soja. No ano de 1985 ocorreu redução na participação das
propriedades desse estrato de área, na produção destas culturas. Contudo, em relação ao
total produzido, os percentuais de participação das propriedades na faixa de até 50 ha
são significativos, sendo, para cada cultura mencionada, respectivamente, de 27%, 53%,
66% e 26%.
A maior participação dos pequenos produtores de grãos concentra-se nas
culturas de feijão e milho, os quais contribuíram com, aproximadamente, 60% da
produção total do País, em 1970 e 1985 (Tabela 5).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 7


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

Segundo SANTOS (1993), o número de pessoas ocupadas e a produtividade da


exploração são também importantes indicadores quando se considera a pequena
produção. Em 1980, 52% das pessoas ocupadas na agricultura estavam em propriedades
que abrangiam áreas de até 20 ha e 69%, em propriedades com áreas de até 50 ha.

TABELA 5 - Distribuição percentual da produção de grãos, segundo o tamanho das


propriedades rurais, em 1970 e 1985

Estrato de área Arroz Milho Feijão Soja


(ha) 70 85 70 85 70 85 70 85
Até 10 19,5 11,8 19,9 15,3 32,8 28,2 14,5 3,1
10-20 8,9 4,7 18,6 15,5 18,4 16,4 21,4 7,5
20-50 14,9 10,3 25,6 21,8 22,0 22,2 24,9 15,2
50-100 11,5 10,6 11,3 12,1 10,0 12,3 8,9 11,0
até 1.000 33,9 38,9 20,4 27,9 14,8 18,0 25,6 41,7
até 10.000 10,7 20,9 4,0 7,0 1,9 2,8 4,6 6,3
Acima 0,6 2,8 0,2 0,5 0,1 0,1 0,1 0,2
Fonte: FIBGE (Censo Agropecuário – 1970 a 1985).

De acordo com o último censo do IBGE, a agricultura familiar está presente em


86% dos estabelecimentos agrícolas brasileiros, ocupando 30,5% da área total e que a
sua força econômica é traduzida por representar 38% do Valor Bruto da Produção
Nacional, sendo responsável pela produção de 84% da mandioca; 67% do feijão; 49%
do milho; 31% do arroz e quantidades expressivas de soja, suínos, leite e outros
produtos importantes para o abastecimento interno e para as exportações.

4. A ESTRUTURA BRASILEIRA DE ARMAZENAGEM

A produção brasileira de grãos (cereais, leguminosas e oleaginosas) na safra


2007/2008, estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), foi de,
aproximadamente, 142 milhões de toneladas. Como dito anteriormente, na última
estimativa foi detectado um acréscimo corresponde ao acréscimo de 7,9% em relação à
safra anterior, em que foram produzidas 131,7 milhões de toneladas, até então
considerada recorde. Os pesquisadores atribuem esse resultado ao melhor emprego da
tecnologia disponível e ao uso de variedades mais produtivas, já que a produção foi,
proporcionalmente, muito maior que o aumento de área plantada.
Apesar da expressiva produção de grãos e do aumento de capacidade estática
verificada nos últimos anos, a rede armazenadora brasileira é, ainda deficiente tanto em
relação à sua distribuição espacial quanto à modalidade de manuseio da produção
agrícola.
Do seu surgimento até o início da década de 70, a rede armazenadora brasileira
concentrou-se no litoral e só avançou para o interior em condições muito especiais,
conforme a cultura. Sua modalidade, em termos de manuseio dos produtos, voltou-se,
predominantemente, para a guarda e conservação em sacaria, e a partir dos anos 70 o

8 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

sistema de armazenagem a granel foi adotado. Em 2005 a armazenagem a granel já


correspondia a 51% do total. Ganhou mais destaque ainda e, em 2006, segundo a
COBAB, a armazenagem a granel já representava 78%.
A falta de uma estrutura armazenadora bem dimensionada, que garantisse um
fluxo de abastecimento uniforme durante o ano, reduzindo as excessivas flutuações nos
preços dos produtos agrícolas, preocupava as autoridades governamentais. Em 1956,
visando promover o estabelecimento de um sistema coordenador de armazéns e silos
capaz de fazer face às questões de infra-estrutura, foi criada a Comissão Consultiva de
Armazéns e Silos, diretamente vinculada à Presidência da República.
Os governos estaduais, por sua vez, criaram órgãos para atuar no setor, como a
Companhia Estadual de Silos e Armazéns (CESA-RS), Companhia de Armazéns e
Silos do Estado de Minas Gerais (CASEMG), a Central de Entrepostos e Armazéns
Gerais do Estado de São Paulo (CEAGESP), a Companhia Paranaense de Silos e
Armazéns (COPASA), dentre outros.
No entanto, já naquela época, a política de armazenamento foi distorcida,
fazendo restrições à atividade da armazenagem em fazendas, pois, no entender do
governo, o agricultor, com a posse do produto, poderia exercer pressões e provocar o
estabelecimento de preços elevados.
Nos anos 60 foram criadas a Superintendência Nacional de Abastecimento
(SUNAB), a Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL), a Companhia Brasileira de
Armazenamento (CIBRAZEM) e a Comissão de Financiamento da Produção (CFP),
voltadas para as questões de produção, abastecimento e preços. Por muitos anos, a CFP
desempenhou importante papel na fixação de preços mínimos dos produtos agrícolas e
no delineamento da política agrícola brasileira.
A CIBRAZEM tornou-se órgão central do Sistema Nacional de
Armazenamento, encarregado de coordenar e normatizar o setor.
O Cadastro Nacional de Armazenagem, implantado a partir de dezembro de
1974, com o objetivo de quantificar e qualificar a rede nacional de armazenagem, e o
lançamento do Programa Nacional de Armazenagem (PRONAZEM), com o objetivo de
financiar a construção de unidades armazenadoras, a juros subsidiados, proporcionaram
a expansão da rede de armazenagem do País. O PRONAZEM possibilitou a ampliação
da capacidade estática de armazenamento, de 38,3 milhões de toneladas, em 1975, para
72 milhões de toneladas, em 1988, tendo a rede oficial uma capacidade de 10,8 milhões
de toneladas e a rede particular a capacidade de 61,2 milhões de toneladas. Apesar desse
esforço, o armazenamento nas fazendas continua inexpressivo e em 2006, segundo a
CONAB (Figura 2), a armazenagem na fazenda participou com apenas 15% da
capacidade estática total.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 9


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

Figura 2 – Distribuição da capacidade armazenadora por localização.

Nos anos 80, o processo de aceleração inflacionária e a falta de uma política


específica para o setor armazenador contribuíram para o descompasso entre a produção
e a armazenagem, afetando também a estrutura do sistema armazenador. Em 1990, com
base na Lei nº 8.029, de 12 de abril, e com o objetivo de realizar uma ampla reforma
administrativa, o Governo Federal fundiu a CIBRAZEM, a COBAL e a CFP em uma
única estrutura, denominada Companhia Nacional de Abastecimento-CONAB, com a
missão de atuar como instrumento do Estado no subsídio à formulação e à execução das
políticas agrícola e de abastecimento, visando assegurar o atendimento às necessidades
básicas da sociedade, preservando e estimulando os mecanismos de mercado.
Tendo iniciado suas atividades em 1º de Janeiro de 1991, a CONAB tornou-se a
empresa oficial do Governo Federal, encarregada de gerir as políticas agrícolas e de
abastecimento, visando assegurar o atendimento das necessidades básicas da sociedade,
preservando e estimulando os mecanismos de mercado. Possui estrutura convencional,
contando com Conselho de Administração, Conselho Fiscal e Diretoria Colegiada,
integrada pela Presidência, Diretoria de Gestão Administrativa e Financeira (Diafi),
Diretoria de Logística e Gestão Empresarial (Digem) e Diretoria de Gestão de Estoques
(Diges).
A CONAB, que pode ser acessada pelo SITE (www.conab.gov.br) atua em todo
território nacional, por meio de suas Superintendências Regionais e, vinculadas a elas,
existem 96 Unidades Armazenadoras (UA). Tem como instrumentos básicos a Política
de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), Prêmio para Escoamento de Produtos (PEP),
Contrato de Opção, Prêmio de Risco para Aquisição de Produto Agrícola Oriundo de
Contrato Privado de Opção de Venda (PROP), Prêmio Equalizador Pago ao Produtor
(PEPRO), Prêmio para Equalização do Valor de Referência da Soja em Grãos
(PESOJA), Vendas em Balcão - programa destinado aos pequenos criadores e
agroindústrias de pequeno porte.
Promove, através de meio seguro, a comercialização eletrônica de produtos e
serviços relacionados às atividades finalísticas e de produtos e insumos para terceiros e,
também, presta serviços de armazenagem e de classificação de produtos agrícolas.
Realiza levantamento de safras, mantém informações e séries históricas de indicadores
agropecuários, análise de mercado e conjunturas agrícolas.
Na área social, atua em parceria com o Fome Zero, do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), sendo responsável pela logística do
recebimento, armazenamento e distribuição dos donativos. Promove, também, via leilão

10 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

eletrônico, a compra de alimentos para atendimento aos índios, quilombolas e


assentados que se encontram em situação de carência alimentar. Atuando no Programa
de Apoio à Agricultura Familiar, realiza a compra direta, a compra antecipada e os
contratos de garantia de compra.
Os produtos agropecuários adquiridos pelo Governo são vendidos através de
leilões, ou em “balcão”, para pequenos criadores. Realizados nas Bolsas de Cereais ou
Mercadorias, em rede interligada nacionalmente, os pregões públicos são amplamente
divulgados, o que garante a transparência aos negócios.
O sistema de armazenagem é um dos componentes da política agrícola cuja
finalidade principal é garantir o fluxo de abastecimento constante, proporcionando
maior estabilidade de preços e de mercado.
É necessário que a rede de armazenagem pertença a um sistema integrado, a fim
de dinamizar a comercialização, reduzir custos e beneficiar os agentes de produção e
consumidores.
O crescimento da produção brasileira de grãos nos últimos anos é um indicador
da necessidade de formular e efetivar uma política de armazenagem que proporcione ao
setor condições de crescimento e modernização compatíveis às alcançadas pela
economia agrícola nacional.
O Brasil tem, atualmente, capacidade para armazenar cerca de 122 milhões de
toneladas de grãos (Figura 1). Porém, dos armazéns existentes, ainda existem 22% é do
tipo convencional, e, destes, muitos se encontram abaixo do padrão técnico exigido para
a boa conservação de produtos agrícolas. Assim, existe a necessidade de ampliar de
modo considerável o número de unidades armazenadoras que atendam os padrões
técnicos de armazenagem. Além disso, é preciso modernizar, recuperar ou construir
novas unidades armazenadoras nas regiões carentes. Como a política do governo visa
manter apenas uma rede para a armazenagem estratégica, a ampliação da rede brasileira
de armazenagem fica a cargo da iniciativa privada que de qualquer modo, vem
paulatinamente aumentando a sua capacidade.
A estrutura brasileira de armazenagem de grãos apresenta-se distribuída da
seguinte forma: 15% na propriedade agrícola (fazenda), 79% coletora (cooperativa,
armazém, indústria, armazéns gerais e comércio), 2% intermediária (terminais
intermodais) e 6% terminal (portos, indústria e comércio).
Apesar dos esforços realizados, o sistema brasileiro de abastecimento demonstra
fragilidade e inadequação, quando comparado ao da Argentina. Nos Estados Unidos,
65% da capacidade total de armazenagem está localizada na fazenda, enquanto na
Argentina ela corresponde a 35%. Já a armazenagem coletora representa,
respectivamente, 30% e 25% do total instalado nesses países (Tabela 6).
O atual sistema de escoamento da safra brasileira prejudica o sistema de
armazenagem, em razão da estrutura precária dos sistemas de transporte rodoviário,
ferroviário e hidroviário. Esta situação prejudica principalmente o produtor, que
comercializa seu produto, na maioria das vezes, a preços inferiores ao custo de
produção.
Para tornar sua produção agrícola competitiva nos mercados interno e externo,
estimular o incremento da produção e incentivar o investimento em tecnologia, o Brasil
deverá modificar o atual perfil da estrutura de armazenagem, adequando-a às

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 11


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

necessidades de oferta e demanda e incentivando, prioritariamente, a armazenagem na


fazenda, juntamente com outras medidas que tornem as unidades coletoras e
intermediárias adequadas ao processo.

TABELA 6 - Percentual da capacidade instalada de armazenagem a granel no Brasil,


nos Estados Unidos e na Argentina

Armazenagem Brasil EUA Argentina


Fazenda 15* 65* 35
Coletora 79* 30 25
Intermediária 2 10 20
Terminal 6* 10 10
Outras - - 10
Fonte: Ministério da Agricultura
* Conab 2006

4.1. Armazenagem e a Pequena Produção


Como visto, a armazenagem na fazenda representa ao redor de 15% da
capacidade total de armazenagem no Brasil, o que induz efeitos perversos, como perdas
quantitativas e qualitativas de grãos, já que o segmento de pequenos produtores
praticamente ao possuem unidades armazenadoras com o mínimo de adequação. A
deficiência de armazenagem na fazenda, aliada à descapitalização do pequeno produtor,
exige comercialização imediata da produção. É muito freqüente realizar-se a colheita
antes que o produto atinja condições ideais de comercialização. Este fato, aliado à
estrutura de transporte inadequada, favorece o aumento do índice de perdas. Por outro
lado, por questões culturais ou financeiras, parte do produto que fica retido na
propriedade é manuseada e armazenada inadequadamente, contribuindo para
intensificar as perdas.
Dentre os diversos fatores que têm contribuído para o baixo índice de
armazenagem nas fazendas, destacam-se a inadequação das tecnologias difundidas e o
baixo nível de renda dos produtores.
Como dito anteriormente, a participação do pequeno produtor e do agricultor
familiar em culturas de arroz, milho, feijão e soja atingem percentuais significativos em
relação à produção total. No entanto, principalmente para o milho e feijão, parte da
produção é destinada ao autoconsumo. A inadequação da armazenagem dessa parcela da
produção acarreta perdas superiores a 20% do total armazenado, devido ao ataque de
roedores, pássaros, insetos e microrganismos.
Programas de extensão e assistência técnica ao produtor rural promovidos pelos
governos federal e estaduais, como o MG II, em Minas Gerais, e o Pró-Rural, no
Paraná, alcançaram relativo sucesso com a instalação de microunidades armazenadoras
em comunidades de pequenos produtores. Por falta de continuidade, ou por falta de
conhecimento da tecnologia por parte do serviço de extensão, pouco contribuíram para
alterar o perfil da armazenagem nesse segmento da produção.
Com algumas exceções, o pequeno produtor apresenta características peculiares,
como baixo grau de instrução e pouca capacidade de associação, o que dificulta a

12 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

construção de unidades armazenadoras comunitárias. Nos estados das regiões Sudeste e


Sul encontram-se as principais forças do movimento cooperativista, que, nos últimos
anos, vêm se estendendo para os estados da Região Centro-Oeste. Nesses estados, a
agricultura moderna está mais acessível aos pequenos produtores, principalmente os
integrados à agroindústria, sobressaindo os do Estado de Santa Catarina.
A falta de uma política governamental voltada para a pequena produção, os
baixos salários dos técnicos e o ineficiente sistema de extensão são alguns dos fatores
que causam lentidão no processo de mudança do sistema tradicional para o sistema
moderno de produção. Além dos fatores mencionados, na grande maioria, o volume de
produção por produtor e a parcela comercializável são muito pequenos, quando
considerados isoladamente.
O baixo valor comercial do produto resulta em baixo nível de renda monetária
para o pequeno produtor tradicional. Dessa forma, torna-se difícil para a extensão rural
prover técnicas de secagem e armazenagem seguras e compatíveis com a capacidade de
investimento do pequeno produtor. Portanto, o provimento de técnicas compatíveis para
o segmento da pequena produção constitui um desafio e deve ser solucionado com a
participação efetiva do governo.
Também, a dificuldade de acesso ao crédito por parte de pequenos e médios
produtores e a inexistência de uma linha especial de financiamento para a construção de
silos, secadores, etc. constituem outro empecilho para a expansão da armazenagem nas
fazendas.
Apesar dos problemas apresentados, inclusive a limitação dos recursos
disponíveis para pesquisas, o esforço de técnicos e pesquisadores de algumas
instituições de pesquisa vem proporcionando o desenvolvimento de equipamentos e
sistemas de secagem e armazenagem de baixo custo, de fácil adaptação para o pequeno
produtor, além de processos que permitem manter a qualidade dos grãos armazenados,
visando maior controle de pragas e menores danos causados durante o manuseio e o
transporte dos produtos agrícolas.
Secadores de grãos de pequena e média capacidade, construídos em alvenaria e
equipados com fornalhas de alta eficiência energética e aparelhos de determinação de
umidade, de baixo custo e de simples operação, foram desenvolvidos na Universidade
Federal de Viçosa e, amplamente, difundidos entre pequenos e médios produtores de
várias regiões brasileiras.
Pequenos secadores de grãos e silos que empregam diferentes tecnologias de
fabricação vêm sendo desenvolvidos e testados por algumas empresas de pesquisa e
extensão em trabalho conjunto com produtores. A Companhia Estadual de Silos e
Armazéns do Rio Grande do Sul (CESA), a EMATER/RS e EMBRAPA/SC têm obtido
êxito junto a pequenos produtores e núcleos comunitários, oferecendo-lhes tecnologia
para pequenos silos e secadores comunitários, que são utilizados para o processamento
de milho, feijão, trigo, cevada, alfafa, erva-mate e raspas de mandioca. No
Departamento de Engenharia Agrícola da UFV, encontra-se à disposição do agricultor
tecnologia para a fabricação de silos em ferro-cimento e solo-cimento, com contenção
de tela metálica e impermeabilização plástica, com capacidade estática variada. Devido
ao baixo custo e à facilidade de manuseio, estes silos podem ser amplamente utilizados
por pequenos e médios produtores de grãos.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 13


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

5. COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

Em virtude da inadequação da rede armazenadora brasileira, a comercialização


de grãos, principalmente por pequenos e médios produtores, é realizada imediatamente
após a colheita, ou até mesmo antes dela, resultando em perdas na colheita, no
transporte e no valor do produto.
Em grande parte, os produtos são colhidos antes de atingirem a umidade ideal
para colheita, o que facilita a ocorrência de danos físicos aos grãos e ataque de pragas.
O sistema rodoviário é responsável por grande parte do escoamento da produção
agrícola brasileira. A precariedade das rodovias (ABAG, 1993) implica elevação de
50% no consumo de combustíveis e 38% no custo operacional dos veículos de carga.
Do mesmo modo que a estrutura da armazenagem brasileira não é totalmente
adequada e eficiente, a estrutura de transporte de cargas não é apropriada e apresenta a
seguinte composição: 63% rodoviária, 22% ferroviária, 12% cabotagem e 3%
hidroviária.
Apesar de o frete rodoviário implicar elevações de custo, que muitas vezes
causam a perda na competitividade do produto brasileiro (a exemplo da soja), a maior
parte da produção é comercializada durante o período de safra, provocando elevação
nos preços dos fretes rodoviários de até três vezes o praticado no período da entressafra.
O desgaste das rodovias, o grande movimento de veículos de carga e o acúmulo
de caminhões nas unidades coletoras, que resultam da necessidade de deslocamento
imediato da safra, implicam maiores custos e riscos para o produtor, o qual ainda arca
com o ônus de estar transportando grande massa de água e impurezas, uma vez que o
produto não foi processado na fazenda.
A estrutura em que se apóia a pequena produção de grãos, particularmente a de
produtos alimentares como arroz, feijão e milho, processados em pequenas quantidades
e em unidades impróprias, dispersas espacialmente, sujeitos a limitações de capital e
dependentes da obtenção de créditos, contribui para agravar as deficiências do sistema
de comercialização. O caminho percorrido pelo produto segue, na maioria das vezes,
complicadas trajetórias entre a área de produção e os armazéns terminais ou centros
consumidores.
Esse “passeio” do produto, sob condições inadequadas, compromete sua
qualidade e contribui para a elevação das perdas.
Em mercados desenvolvidos, produção e consumo estão separados no espaço e
no tempo. Entre produtores e consumidores existem muitos intermediários, como
transportadores, processadores e armazenadores, que realizam com eficiência a
movimentação dos produtos das regiões produtoras para os centros consumidores.
Em se tratando da pequena produção, os produtores que se associam às
cooperativas ou integram-se aos complexos agroindustriais conseguem melhores
condições para produzir e comercializar sua produção e, conseqüentemente, melhorar
seu nível de renda.
As constantes flutuações de preços dos produtos agrícolas causam desequilíbrio
na oferta, na procura e na renda do produtor. A instabilidade dos preços leva os
produtores, principalmente os pequenos, a formar expectativas pouco otimistas quanto à
renda futura, incentivando-os cada vez mais a se precaverem no sentido de reduzir os

14 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

riscos. As várias limitações defrontadas pelos pequenos produtores, as constantes


flutuações dos preços e o baixo nível de renda por eles auferidos resultam em falta de
estímulo para produzir e investir em novas tecnologias.
A armazenagem na fazenda não só beneficia os produtores, como também
contribui para a redução dos problemas de comercialização das safras agrícolas. Se
forem previstas corretamente as demandas futuras em relação às ofertas e se for
armazenada a quantidade “correta”, os preços irão subir na entressafra somente o
suficiente para cobrir os custos da estocagem desde a colheita até o período em que os
produtos forem ofertados ao mercado.
A implementação de uma política agrícola voltada para a armazenagem na
fazenda e para a implantação de unidades armazenadoras em regiões produtoras onde a
demanda de armazenagem seja elevada contribuirá para a elevação do nível de renda do
produtor, que terá redução nas perdas e nos riscos decorrentes das flutuações dos preços
e estará contribuindo para o desenvolvimento da comercialização. Por outro lado, tal
política favoreceria também os consumidores, que contariam com o abastecimento
contínuo e se beneficiariam com preços mais estáveis.
Ao considerar os aspectos relativos ao crédito para comercialização, verifica-se
que, nos últimos anos, o programa governamental tem se concentrado na Política de
Garantia de Preço Mínimo (PGPM), que visa reduzir os riscos dos preços a que os
produtores estão sujeitos. O Preço Mínimo de Garantia é estabelecido pelo Governo e
divulgado anualmente antes da época de plantio. Se o preço de mercado for inferior ao
PMG, por meio das Aquisições do Governo Federal (AGF), o governo garante a compra
dos produtos que irão compor seus estoques.
No Brasil, buscando ampliar a participação da iniciativa privada na
comercialização dos produtos agrícolas, no final dos anos 80, o Governo Federal criou o
Preço de Liberação de Estoque (PLE), visando estabelecer um limite a partir do qual irá
vender seus estoques. Tal limite será determinado pela igualdade entre o PMG e o PLE.
A CONAB coloca à disposição do Governo Federal os seguintes instrumentos
para sustentação da Política de Garantia de Preços Mínimos – PGPM:
1. AGF (Aquisição do Governo Federal). O produto limpo, seco e classificado,
deve ser posto em armazém credenciado pela CONAB. É disponibilizado para
produtores e cooperativas e o acesso ocorre através da CONAB ou da agência local do
Banco do Brasil.
2. EGF/SOV (Empréstimo do Governo Federal/Sem Opção de Venda). O
produto deve ser colocado em armazém credenciado, sob ordem do banco credor. O
valor do empréstimo é calculado de acordo com o preço mínimo do produto em
garantia. Os bancos têm adotado a praxe de conceder empréstimo no valor máximo de
70% do preço mínimo em vigor. É disponibilizado para produtores e cooperativas e o
acesso ocorre através do agente financeiro interessado em operar com a PGPM.
3. EGF – Indústria. O setor de processamento faz o contrato de EGF com o
agente financeiro de sua preferência, com o valor limitado a 50% da capacidade de
produção. Deve ser comprovado o pagamento de, pelo menos, o preço mínimo ao
produtor. Estão incluídos todos os produtos amparados pela PGPM, exceto arroz e soja.
O acesso ocorre através de contato direto entre o produtor/cooperativa e o
processador/industrial interessado.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 15


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

4. CPR (Cédula do Produto Rural). Processadores de produto podem contratar


financiamento para aquisição de CPR com o agente financeiro interessado. Toda CPR
deve estar vinculada a uma promessa de entrega de produto do produtor/cooperativa, em
uma data acertada entre as partes. Produtos autorizados: algodão, arroz, milho e trigo. O
acesso ocorre através do agente financeiro (financiamento para aquisição mediante a
apresentação da CPR).
5. PEP (Prêmio de Escoamento de Produto). O Governo Federal, através da
CONAB, faz leilão público de um prêmio aos interessados em adquirir produto
diretamente do produtor/cooperativa. O prêmio é representado pela diferença entre o
“valor de referência” fixado e o preço de mercado. O arrematante do PEP compromete-
se a utilizar o produto contemplado em regiões de destino previamente determinadas
pelo aviso correspondente. O objetivo é garantir o valor de referência ao produtor e à
cooperativa, viabilizando o abastecimento do mercado interno.
6. CONTRATO DE OPÇÃO. Trata-se de uma modalidade de seguro de preço
bastante difundida em países com mercados agrícolas mais desenvolvidos. Esse contrato
é o de Opção de Venda, que dá ao produtor o direito – mas não a obrigação – de vender
a sua produção para o Governo, numa data futura, a um preço previamente fixado.
Serve para proteger o produtor contra os riscos de queda nos preços de seu produto. Os
produtos autorizados atualmente são: algodão, arroz, milho e trigo. Produtores
interessados, quando o programa estiver ativo em sua região, devem procurar um
corretor de bolsas de mercadorias para poderem participar dos leilões. O arremate
somente é possível àqueles que oferecem os maiores prêmios para os contratos.
7. EQUIVALÊNCIA EM PRODUTO. No financiamento do custeio o produtor
adquire o direito de pagar a sua dívida com o produto de sua colheita. O preço de
referência para a conversão da dívida em quantidade de produto é o preço mínimo. O
acesso se dá através dos financiamentos de custeio, por meio do PRONAF (Programa de
Fortalecimento da Agricultura Familiar). Os produtos autorizados atualmente são:
algodão, arroz, milho e trigo.
Ao incidir sobre o valor dos produtos e principalmente sobre os produtos
alimentares básicos, o ICMS tem efeitos indesejáveis tanto para os produtores
(geralmente pequenos e médios) quanto para os consumidores de baixa-renda, que
gastam mais de 30% do total de sua renda em alimentação.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

1- A abertura da economia brasileira ao mercado internacional, no início da


década de 90, a implementação do plano de estabilização da economia (Plano Real) e a
implementação da Tarifa Externa Comum, em janeiro de 1995, para os países que
integram o Mercosul, fazem com que os responsáveis pela Política Agrícola passem a
desenvolver mecanismos de proteção dos produtos agrícolas brasileiros contra a
competição internacional.
2 - A colheita de supersafra nem sempre resulta em ganhos elevados para os
produtores, porque seus produtos perdem competitividade tanto no mercado interno
quanto no externo, devido às deficiências na rede armazenadora, na estrutura de
transportes e em todo o processo de comercialização.

16 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

3 - Medidas imediatas relacionadas à estrutura de armazenagem do País, visando


corrigir os problemas de má distribuição, aumentar a capacidade estática e,
principalmente, incentivar a armazenagem na fazenda, poderão trazer benefícios ao
setor agrícola e, especialmente, aos pequenos e médios produtores de grãos.
4 - Em especial, destacam-se alguns dos principais benefícios decorrentes do
incentivo à armazenagem na fazenda, para os pequenos e médios produtores:
a) O produtor que dispõe de um sistema de armazenagem em sua propriedade
poderá programar a melhor forma para comercializar sua produção, ficando habilitado,
inclusive, a utilizar os sistemas de EGF e AGF.
b) Não se concentrando no período da colheita, a distribuição e a venda dos
produtos agrícolas, ao longo do ano, possibilitarão a obtenção de melhores preços na
comercialização, resultando na diminuição das pressões da demanda por transportes,
contribuindo para a redução de custo dos fretes e descongestionamento das rodovias e
unidades coletoras.
c) Sendo a secagem dos produtos realizada na propriedade agrícola (veja
capítulo 5, Secagem e Secadores), menor volume de combustível (óleo, gás, lenha ou
carvão) será consumido, quando comparado àquele consumido nas grandes unidades
armazenadoras. Por exemplo, uma redução no consumo de lenha permitirá um melhor
manejo das áreas destinadas ao plantio de eucaliptos para essa finalidade. A redução da
poluição nas regiões onde se localizam as grandes unidades armazenadoras,
principalmente aquelas próximas aos grandes centros urbanos, é um benefício para o
meio ambiente, trazido pela armazenagem na fazenda.
d) Armazenando o produto na propriedade e processando-o adequadamente, o
produtor poderá cuidar melhor de sua produção. Produto com conteúdo umidade
correto, livre de impurezas e armazenado em local adequado, conserva as características
semelhantes àquelas observadas no momento da colheita. Assim, além de preservar a
qualidade dos grãos armazenados, estes cuidados irão resultar em diminuição das perdas
de grãos na propriedade, beneficiando o produtor no momento da comercialização, não
só por dispor de um produto de boa qualidade, mas também pela redução no volume de
perdas.
5 – O Brasil tem, atualmente, capacidade para armazenar cerca de 90 milhões de
toneladas de grãos, nas mais variadas condições, com poucas apresentando
características técnicas ideais. Dos armazéns existentes, quase a metade é do tipo
convencional, e, destes, cerca de 70% encontram-se abaixo do padrão técnico médio
exigido para a boa conservação dos produtos agrícolas.

7. LITERATURA CONSULTADA

1. ABAG - ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE AGRIBUSINESS. Segurança


alimentar: uma abordagem de agribusiness. São Paulo, Edições ABAG,
1993.162 p.

2. AGUIAR, D.R.D. Políticas agrícolas: objetivos, instrumentos e eficácia. viçosa,


DER/UFV, 1994.18p. (Apostila)

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 17


Capítulo 1 Armazenagem e Comercialização de Grãos no Brasil

3. ALVES, E. Pobreza rural no Brasil: desafios da extensão e da pesquisa. Brasília,


CODEVASF, 1987.79p.

4. BARBOSA, T. A pequena produção no Brasil e suas perspectivas. Informe


Agropecuário. Belo Horizonte, 14(157): 5-l0, 1988.

5. BARROS, G.S.C. de. Economia da comercialização agrícola. Piracicaba, FEALQ,


1987.306p.

6. CONAB - COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Previsão e


acompanhamento de safras. (Acompanhamento da safra 93/94). Brasília, nº 5,
julho, 1994. 44p.

7. BROOKER, D.B; BAKKER-ARKEMA, F.W. & HALL,C.W. Drying and storage


of grains and oilseeds. New York, An AVI BOOK, 1992. 450p.

8. CONAB - COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Indicadores da


Agropecuária. Brasília, Ano VIII -Nº 04, Abril/1999. 45p.

9. CONAB - COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Indicadores da


Agropecuária. Brasília, Ano VIII -Nº 05, maio/1999. 44p.

10. FIBGE - FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E


ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário do Brasil. Rio de Janeiro. 1970 a 1985.

11. GASQUES, J.G. e VILLA VERDE, C.M. Crescimento da agricultura brasileira


e política agrícola nos anos oitenta. Brasília, IPEA, 1990. 21p. (série Texto
Para Discussão).

12. MARA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, DO ABASTECIMENTO E DA


REFORMA AGRÁRIA. Programa nacional de armazenagem a nível da
propriedade agrícola. Brasília, março, 1993. 39p.

13. SANTOS, M. L. dos. Abastecimento alimentar e o pequeno produtor. São


Paulo, USP, 1993. 201p. (Tese D.S.).

18 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo

2
ESTRUTURA, COMPOSIÇÃO E PROPRIEDADES DOS GRÃOS

Paulo César Corrêa


Juarez de Sousa e Silva

1. INTRODUÇÃO

Uma noção sobre estrutura, composição e propriedades físicas dos produtos


agrícolas com grãos e derivados, deve ser pré-requisito para o estudo sobre secagem e
armazenamento destes produtos. Por exemplo, para aumentar o teor de água ou secar
determinado produto, o fluxo de água, em forma de vapor, necessariamente deve passar
pelas várias camadas dos diferentes tecidos celulares que formam as sementes. Isto
significa que, dependendo da composição química dessas camadas, o produto pode
apresentar diferentes características quanto ao equilíbrio higroscópico com o ambiente
onde estiver armazenado. Assim, os grãos oleaginosos, como soja, amendoim e girassol,
devem apresentar teor de umidade mais baixo do que os grãos amiláceos, como arroz,
milho, trigo e sorgo, quando armazenados sob as mesmas condições atmosféricas.
O rompimento da película externa da semente provoca aumento na taxa de
ganho ou perda de água. Esta película externa protege o grão contra o ataque de
microrganismos e, em alguns casos, oferece resistência ao ataque de insetos.
Forma, tamanho, densidade e outras características físicas podem afetar o
desempenho das máquinas de limpeza, de secagem e de beneficiamento, enquanto a
proporcionalidade relativa entre os componentes químicos das sementes pode afetar as
características indispensáveis à industrialização, como ocorre com o milho dentado e o
milho duro, durante a separação do gérmen.

2. ESTRUTURA E FUNÇÕES DOS GRÃOS

As sementes das monocotiledôneas (milho, arroz, trigo etc.) e das dicotiledôneas


(soja, feijão, café etc.) são formadas basicamente pelo tegumento e embrião (cotilédones
e eixo embrionário), além de um terceiro componente, denominado endosperma,
algumas vezes ausente. Do ponto de vista funcional, as sementes são compostas de uma
cobertura protetora (tegumento), um tecido meristemático (eixo embrionário) e um

19
Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos
tecido de reserva (endospermático, cotiledonar ou perispermático), cada parte exercendo
funções específicas.

2.1. Cobertura Protetora


Consiste na estrutura externa que delimita a semente. Pode ser composta apenas
pelo tegumento e, algumas vezes, também pelo pericarpo. O tegumento é uma cobertura
constituída por camadas celulares originárias dos integumentos ovulares. O pericarpo é
originário da parede do ovário e, em alguns casos, desenvolve-se intimamente ligado ao
tegumento, sendo impossível identificar qualquer ponto delimitante, como no caso das
sementes de várias gramíneas. Recebe, nestas, o nome de cariopse. As sementes das
espécies mais conhecidas apresentam tegumento seco.
A cobertura externa tem função protetora, reguladora e delimitante, como
especificado a seguir:
a) Manter unidas as partes internas da semente.
b) Proteger as partes internas contra choques e abrasões.
c) Servir como barreira à entrada de microrganismos.
d) Regular a velocidade de reidratação, evitando ou diminuindo os possíveis
danos causados pelas pressões desenvolvidas durante a embebição.
e) Regular a velocidade das trocas gasosas.
f) Regular a germinação, provocando dormência nas sementes, em alguns casos.

2.2. Tecido Meristemático


O eixo embrionário é a parte vital da semente, pois apresenta a capacidade de se
desenvolver, graças ao tecido meristemático presente em suas duas extremidades.
Devido a este fato, apresenta condições de, por meio das divisões celulares,
desenvolver-se em dois sentidos, ou seja, o das raízes e o do caule, e originar uma
plântula em condições de fixar-se no solo e fotossintetizar as substâncias necessárias a
seu desenvolvimento. O cotilédone funciona como tecido de reserva.
Nas dicotiledôneas, o embrião maduro é constituído pelo eixo embrionário e por
duas estruturas foliares, os cotilédones. A parte do eixo situada abaixo da inserção dos
cotilédones (nó cotiledonar) é denominada hipocótilo, enquanto a porção terminal
inferior dá origem ao primórdio da raiz ou radícula. Este primórdio é representado pelo
meristema apical da raiz e é revestido pela coifa. A parte do eixo acima do nó
cotiledonar é formada pelo epicótilo e pela plúmula, sendo estas, por sua vez,
constituídas pela gema apical e por primórdios foliares (Figura 1A).
Nas monocotiledôneas há certa dificuldade de interpretação da morfologia do
eixo embrionário. Quando observado no interior de uma cariopse madura, o embrião
apresenta-se justaposto ao endosperma por meio de um cotilédone maciço, denominado
escutelo (Figura 1B).

2.3. Tecido de Reserva


O tecido de reserva das sementes pode ser constituído por endosperma,
cotilédones e, em alguns casos, pelo perisperma. É graças às substâncias acumuladas
nestes tecidos que o eixo embrionário, por ocasião da germinação, consegue energia e
material metabolizado para se desenvolver e originar uma plântula autotrófica, ou seja,

20 Secagem e Armazenagem de Grãos no Brasil


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos

aquela capaz de sintetizar suas próprias substâncias orgânicas por meio da fotossíntese.

Figura 1 - Estruturas básicas das sementes de feijão (A) e milho (B).

2.3.1. Localização das Reservas


As substâncias de reserva da semente podem se localizar no endosperma, nos
cotilédones ou no perisperma.
Endosperma: é encontrado em quantidade variável nas sementes e resulta da
fusão dos núcleos polares com um núcleo espermático do grão de pólen, iniciando um
processo contínuo de divisões celulares. Quando completamente desenvolvido, sua
estrutura varia consideravelmente. Devido ao fato de ter sido utilizado parcial ou
completamente para o desenvolvimento do embrião, o endosperma pode não apresentar
substâncias de reserva. Em muitas plantas, porém, o endosperma se diferencia como
tecido de reserva a ser consumido por ocasião da germinação. O material mais
comumente armazenado é o amido, mas o endosperma pode armazenar outros
carboidratos, assim como óleos e proteínas.
Nas sementes dos cereais, a camada de aleurona encontrada na periferia do
endosperma é viva. Esta camada, além de outros componentes, é rica em proteínas, que
se encontram sob duas formas principais: glúten e grãos de aleurona. Durante a
germinação, estes servem como substância de reserva e auxiliam a degradação do
amido, ativando o processo germinativo das sementes.
Cotilédones: originam-se do próprio zigoto e, juntamente com o eixo
embrionário, são partes do embrião. Os cotilédones podem armazenar substâncias de
reserva e/ou sintetizá-las. Algumas plantas apresentam cotilédones bem delgados, que
não armazenam reservas, mas tornam-se verdes e passam a realizar a fotossíntese após
emergirem do solo. Outras plantas, como a maioria das leguminosas, apresentam
cotilédones volumosos e armazenam quantidade apreciável de reservas alimentares.
Sendo parte do embrião, os cotilédones são tecidos vivos, ou seja, dispõem de todo o
aparato enzimático necessário para promover a degradação e o transporte de suas
próprias substâncias de reserva, a fim de nutrir o crescimento do eixo embrionário
durante o processo de germinação.
Perisperma: resulta de parte da nucela que se conservou, isto é, que não foi
totalmente absorvida pelo embrião durante o seu desenvolvimento. O perisperma é

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 21


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos
comumente encontrado como tecido de reserva em sementes de café e beterraba.

2.3.2. Composição das Sementes


As principais substâncias armazenadas pelas sementes são carboidratos, lipídeos
e proteínas. O principal carboidrato de reserva nas sementes é o amido. Quando o amido
é a substância de reserva predominante, a semente é denominada amilácea. As sementes
são denominadas oleaginosas quando os lipídeos são as substâncias de reserva
predominantes e protéicas quando estas substâncias são as proteínas. As principais
proteínas de reserva são glúten e grãos de aleurona. Em pequenas quantidades, podem
ainda ser encontrados minerais, vitaminas e outras substâncias. Em geral, as sementes
de gramíneas possuem alto teor de carboidratos, e as das leguminosas, alto teor de
proteínas.
Na Tabela 1 encontram-se as composições químicas aproximadas de sementes
de algumas espécies de interesse econômico. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Semente)

3. PROPRIEDADES FÍSICAS, TÉRMICAS E DIELÉTRICAS DOS GRÃOS

O conhecimento das características físicas dos produtos agrícolas e dos seus


princípios tem grande importância para a construção e operação de equipamentos de
secagem e armazenagem, bem como para a adaptação de equipamentos já existentes,
visando obter maior rendimento nas operações de processamento.

TABELA 1 - Composição aproximada das sementes de algumas espécies de interesse


econômico

Espécie Carboidratos (%) Lipídeos (%) Proteínas (%)


Algodão 15 33 39
Amendoim 12 48 30
Arroz 65 2 16
Feijão 57 1 23
Milho 64 5 10
Soja 18 25 38
Trigo 70 2 11
Girassol 19 26 18
Sorgo 72 4 10
Mamona 0 64 18

3.1. Ângulo de Repouso


Pode ser definido como o ângulo máximo do talude formado pelos grãos em
relação à horizontal (Figura 2) e é altamente influenciado pelo teor de umidade, pelo
tamanho, pela forma e pela constituição externa do grão. O conhecimento do valor do
ângulo de repouso dos grãos é importante para a determinação da capacidade estática
dos silos, da capacidade de correias transportadoras e do dimensionamento de moegas,
dutos e rampas de descarga de grãos.

22 Secagem e Armazenagem de Grãos no Brasil


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos

Figura 2 – Representação esquemática do ângulo de repouso.

Existem vários dispositivos para a determinação do ângulo de repouso. Dentre


eles, um dispositivo simples (Figura 3) consiste em um tambor provido de uma abertura
no fundo, sobre o qual se eleva uma plataforma circular, de raio conhecido. Com uma
abertura gradual do registro, forma-se um cone de grãos sobre a plataforma. O ângulo
de repouso pode ser calculado pelo arco-tangente do quociente do dobro da altura do
cone pelo raio da plataforma, conforme a equação 1.
A Tabela 2 fornece os valores de ângulo de repouso para diferentes espécies de
grãos ou sementes.

Figura 3 - Dispositivo para determinação do ângulo de repouso.

 2h 
α = arc tg   eq.1
 d 
em que:
h = altura do talude natural dos grãos;
d = diâmetro da plataforma circular, e
α = ângulo de repouso dos grãos.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 23


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos
TABELA 2 - Ângulo de repouso ou de talude natural (em graus), de algumas espécies
de grãos

Umidade Ângulo de Umidade Ângulo de


Produto Produto
(%b.u.) repouso (o) (%b.u.) repouso (o)
Arroz 12-16 36,0 Milho 7,5 34,0
Soja 12-16 30,0 13,0 34,9
Cevada 7,9 29,0 16,2 35,1
10,7 30,5 19,5 39,0
13,3 31,0 23,1 43,5
16,2 32,2
19,5 33,0 Trigo 7,3 29,6
23,1 33,8 11,0 29,3
14,1 31,0
17,1 35,6
19,3 41,0
Fonte: BROOKER et al., 1974.

Clique para ver: vídeo 1 vídeo 2

3.2. Massa Específica Granular


Também conhecida como peso hectolítrico (PH) ou densidade granular pode ser
definida como a razão entre a massa e o volume de determinada quantidade de produto,
incluindo os espaços intergranulares. Mais precisamente, o peso hectolítrico (PH)
corresponde à massa de 100 litros do produto. A aplicação do conceito de massa
específica granular se dá em comercialização, dimensionamento de silos, secadores,
depósitos e sistemas de transportes, podendo também ser utilizado para determinar
teores de umidade e danos causados por insetos e pragas nos grãos armazenados. No
caso do trigo, ele é um importante índice de avaliação do rendimento em farinha.
Para determinar a massa específica granular de um determinado produto, utiliza-
se um volume conhecido de grãos e pesa-se a massa deste volume. No mercado existem
aparelhos mais apropriados e conhecidos para determinar a massa de um volume de
grãos, os quais são conhecidos como balanças de peso hectolítrico (Figura 4), com
capacidade de até 1,0 litro.

24 Secagem e Armazenagem de Grãos no Brasil


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos

Figura 4 – Balança para determinação do peso hectolítrico (PH).


A utilização de balanças com cilindros de maiores volumes e operada segundo
as normas do fabricante fornece resultados mais próximos do real. A Tabela 3 fornece
os valores de massa específica granular para diferentes espécies de grãos em diferentes
teores de umidade, e a Tabela 4 dá valores da massa específica granular para grãos em
condições de armazenagem. A aplicação do conceito de peso hectolítrico será vista no
capítulo 12 – Manuseio de Grãos.

TABELA 3 - Massa específica granular, em kg.m-3, de algumas espécies de grãos

Massa Massa
Grãos Umidade Grãos Umidade
Específica Específica
(%b.u.) (%b.u.)
Granular Granular
Cevada1 7,9 585,0 Arroz1 12,0 586,0
10,8 593,0 14,0 588,0
13,3 593,0 16,0 605,0
16,6 577,0 18,0 615,0
19,5 569,0 Trigo1 7,3 790,0
1
Milho 7,3 753,0 11,0 790,0
13,0 737,0 14,1 756,0
16,2 721,0 17,1 727,0
19,5 689,0 19,3 703,0
24,9 656,0 Milho 12,5 769,2
Sorgo1 6,8 753,0 BR 2012 13,9 762,5
12,0 753,0 14,8 757,8
14,3 753,0 16,7 749,8
18,6 737,0 18,1 737,3
22,1 721,0 20,3 714,2
Milho-Pipoca3 10,2 783,1 23,5 696,0
11,5 772,0 25,9 679.8
11,7 769,0 27,4 669,8
14,2 764,9 Am. de 12,8 855,8
17,2 750,6 cacau4 17,2 916,8
23,5 696,0 18,7 851,1

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 25


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos
25,9 679,8 20,0 897,1
27,4 669,8 25,6 936,8
Café em coco5 12,1 387,5 30,2 937,4
16,9 394,7 42,6 942,5
23,3 400,8 51,3 999,5
30,9 418,1 Girassol6 10,8 400,1
40,2 466,9 13,2 392,7
47,2 516,9 15,9 350,7
59,3 550,5 19,7 339,6
65,4 566,7 23,8 336,1
(1) BROOKER et al., 1974; (2) FRANCESCHINI et al., (1995); (3) RUFFATO et al., 1999; (4) ALMEIDA, 1979; (5)
AFONSO, 1994; (6) BRAGA FILHO, 1986.
-3
TABELA 4 - Massa específica granular, em kg.m , utilizada em cálculos de
“cubagem”, segundo USA (umidade comercial).

Espécie Massa Específica Granular (kg m-3)


Cevada 618,0
Milho 721,0
Aveia 412,0
Canola 644,0
Arroz 579,0
Sorgo 721,0
Soja 772,0
Girassol 309,0
Trigo 772,0
Fonte: BROOKER et al., 1992

3.3. Porosidade
É a relação entre o volume ocupado pelo ar existente na massa granular e o
volume total ocupado por esta massa. Tem grande influência sobre a pressão de um
fluxo de ar que atravessa a massa de grãos, refletindo-se no dimensionamento dos
ventiladores, nos sistemas de secagem e aeração e na potência dos motores.
A porosidade pode ser determinada despejando-se um volume conhecido de
tolueno ou outro fluido, como óleo de soja, em um recipiente graduado contendo
determinado volume de grãos. Pela diferença, obtém-se o espaço granular. A porosidade
pode também ser determinada por meio de picnômetros. O esquema de um modelo
mostrado na Figura 5 é simples e fornece resultados iguais aos de equipamentos mais
sofisticados. O equipamento deve ser operado da seguinte forma:

a) Primeiramente certificar-se de que o volume da câmara 1 seja igual ao


volume da câmara 2 e que todo o sistema esteja hermético.
b) Colocar uma amostra de grão na câmara 2.
c) Com a válvula 1 aberta e a válvula 2 fechada, fornecer ar a uma determinada
pressão.
d) Fechar a válvula 1, esperar que o sistema entre em equilíbrio e fazer a leitura
de P1.

26 Secagem e Armazenagem de Grãos no Brasil


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos

e) Fechar a válvula 3, abrir a válvula 2, esperar que o sistema entre em


equilíbrio e fazer a leitura P2.
f) Porosidade = V2/V1 = (P1-P2)/P2.

A Tabela 5 fornece os valores de porosidade para diferentes tipos de grãos ou


sementes em diferentes teores de umidade.

Figura 5 - Esquema de um picnômetro.

TABELA 5 - Porosidade, em %, de algumas espécies de grãos

Grão Umidade Porosidade Grão Umidade Porosidade


(%b.u.) (%) (%b.u.) (%)
Arroz1 12,0 59,6 Milho 13,4 40,1
14,0 59,3 14,9 39,6
16,0 57,9 16,8 40,5
18,0 56,9 19,4 42,7
Sorgo1 14,3 42,0 22,7 48,7
18,6 43,0 Milho 25,4 50,9
22,1 45,5 BR 2012 26,9 51,3
Milho-
10,2 41,8 28,4 51,7
pipoca3
6
11,5 42,1 Canola 6,5 38,4
12,4 42,2 6,7 38,9
14,4 42,3 Trigo duro6 9,8 42,6
Trigo
19,4 43,8 9,8 39,6
mole6
Amêndoas
12,8 51,8 Milheto6 9,4 36,8
de cacau4
5
17,2 53,3 Girassol 10,8 44,5
18,7 50,7 15,9 45,5
20,0 49,1 19,7 56,5
30,2 45,4 23,8 49,7
42,6 44,0 Soja1 7,0 36,1

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 27


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos
Aveia1 10,3 55,5

(1) BROOKER et al., 1974; (2) FRANCESCHINI et al., (1995); (3) RUFFATO et al., 1999; (4) ALMEIDA, 1979; (5) BRAGA
FILHO, 1986; (6) ASAE STANDARDS, 1998.

3.4. Velocidade Terminal


A partir do momento em que um corpo em queda livre alcança a velocidade
constante, a força do campo gravitacional é anulada, em termos, pelo efeito resultante
da força de arraste, ou seja, sua aceleração é nula. Esta velocidade atingida é
denominada velocidade terminal e é influenciada pela densidade, pelo tamanho e pela
forma do produto.
A determinação do valor da velocidade terminal real consiste em submeter uma
determinada quantidade de grãos a um fluxo de ar vertical e ascendente, fazendo com
que os grãos possam flutuar sem se deslocar de uma determinada seção de um duto
vertical (Figura 6). Ela pode ser definida como a velocidade que se pode impor ao ar
para que ele não arraste os grãos durante sua passagem em determinado processo. Esta
propriedade é utilizada no dimensionamento de sistemas de separação e limpeza,
transportes pneumáticos, secagem, resfriamento, seleção densimétrica, etc.

A velocidade do
ar que matem os
grãos flutuando é
conhecida como
velocidade

Figura 6 – Sistema para determinação da velocidade terminal.

3.5. Tamanho e Forma dos Grãos


O tamanho e a forma são características específicas de cada produto, definidas
geneticamente, que podem ser influenciadas pelo ambiente durante e após o período de
sua formação e que influencia as demais propriedades físicas do produto. Esses dados
são utilizados para o dimensionamento do tamanho e da forma dos furos das peneiras
em equipamentos destinados à separação e classificação.
O tamanho é determinado pelas medições dos eixos perpendiculares do grão, e,
quanto mais irregular, maior o número de medições (Figura 7). Já a forma é
determinada pela comparação com um formato-padrão predeterminado. Por exemplo, o
grão é comparado visualmente com formas esférica, cilíndrica, oval, cônica, etc.

28 Secagem e Armazenagem de Grãos no Brasil


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos

A circularidade e a esfericidade são os principais parâmetros a serem definidos,


ou seja, quanto mais próximos da unidade estiverem estes valores, mais próximos de um
círculo ou de uma esfera estará o grão em estudo. A circularidade é a razão entre a
maior área projetada do grão em repouso natural (Ap) e a área do menor círculo
circunscrito (Ac). Já a esfericidade é a razão entre o diâmetro do maior círculo inscrito
(di) e o diâmetro do menor círculo circunscrito (dc) (Figura 8). A Tabela 6 mostra
valores de X, Y e Z para algumas espécies de grãos.

Figura 7 –Eixos perpendiculares para avaliação do tamanho.

Figura 8 – Determinação aproximada da esfericidade e da circularidade.

TABELA 6 - Forma e tamanho de algumas espécies de grãos

Grão Umidade (%b.u.) Esfericidade Y X Z


(%) (mm) (mm) (mm)
Cevada 7,8 44,5 10,4 3,5 2,7
Linho 6,5 45,1 5,2 2,6 1,0
Aveia 8,7 34,2 12,9 2,9 2,3
Arroz 8,9 46,7 8,5 3,1 2,3
Trigo 7,7 61,5 6,6 3,2 3,1
Alfafa 5,8 65,6 2,3 1,5 1,0

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 29


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos
6,3 63,4 2,4 1,4 1,0
6,6 63,3 2,5 1,4 1,0
Milheto 9,2 84,7 4,3 4,1 2,8
Fonte: MOSHENIN, 1978.

3.6. Condutividade Térmica


Denomina-se condutividade térmica a taxa de calor que flui por condução
normal a uma superfície e por unidade de tempo, quando é estabelecido um gradiente de
temperatura entre esta superfície e outra paralela.
Esta propriedade dos materiais biológicos é variável segundo o próprio produto,
o seu teor de umidade e a temperatura. A condutividade térmica dos grãos e das
sementes de cereais, normalmente, varia direta e linearmente com o seu teor de umidade
na faixa de 0 a 35 % (b.u.) e para temperaturas de 20 a 45 0C.
A determinação desta propriedade para os produtos agrícolas torna-se bastante
complexa, devido, principalmente, ao transporte simultâneo de calor e massa e às
alterações químicas e de estrutura que podem ocorrer nas diversas operações unitárias
que compõem o processamento e durante a sua conservação pós-colheita. São
utilizados, basicamente, dois métodos para se determinar a condutividade térmica: o
estacionário e o transiente.
Os dois métodos consistem na solução da equação básica da difusão de calor
para um regime estacionário ou transiente em placas paralelas, cilíndricas ou esferas
concêntricas contendo a amostra do produto em estudo.Usualmente adota-se o método
de estado transiente para determinar a condutividade térmica de produtos agrícolas,
devido a grande vantagem deste em requerer menor tempo de teste e apresentar maior
precisão dos resultados.
A determinação em regime estacionário não é muito recomendável
principalmente devido ao longo período de tempo necessário para atingir este regime,
possibilitando a migração de umidade devido à diferença de temperatura no grão
durante um longo período de tempo, podendo ocorrer transformações físico-químicas no
produto durante os testes.
Reidy e Rippen (1971) discutindo sobre os métodos de determinação das
propriedades térmicas em estado transiente concluíram que o método mais adequado
para grãos, é o método do cilindro teoricamente infinito com fonte linear de
aquecimento. Este método consiste na utilização de um cilindro de alumínio (Figura 9)
com diâmetro e comprimento pré-determinado, tendo no centro um fio condutor pelo
qual passa-se uma corrente com baixa amperagem e voltagem.

30 Secagem e Armazenagem de Grãos no Brasil


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos

Figura 9 - Esquema do dispositivo para determinação da condutividade térmica.

O cilindro teoricamente infinito é uma idealização que possibilita adotar a


hipótese da condução unidimensional na direção radial, sendo considerado uma
aproximação razoável se a razão entre o comprimento e o raio do cilindro for igual ou
inferior a 10.

3.7. Difusividade Térmica


A difusividade térmica pode ser definida como uma propriedade que expressa a
capacidade de um dado material em transmitir e o quanto ele armazena de energia.
Esta propriedade, nos produtos agrícolas, normalmente diminui com o aumento do
teor de umidade, pelo fato de a difusão térmica da água ser superior à destes produtos. O
método para se obter a difusividade térmica consiste na determinação conjunta desta
propriedade e da condutividade térmica, utilizando-se o processo da fonte linear
(método transiente) ou de forma indireta através da Equação 2:

k
α= eq. 2
ρ cp
em que:
cp = calor específico;
k = condutividade térmica;
ρ = massa específica; e
α = difusividade térmica.

3.8. Calor Específico


O calor específico de um corpo pode ser definido como a quantidade de energia
necessária para variar uma unidade de temperatura em uma unidade de massa de algum
produto. Os principais processos para a determinação do calor específico são:
a) relação indireta entre a condutividade térmica, a massa específica e a
difusividade térmica;
b) método de misturas;
c) calorímetro de varredura diferencial;

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 31


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos
d) calorímetro de gelo; e
e) bomba calorimétrica.

O primeiro método é indireto e consiste na determinação inicial da


condutividade térmica, da massa específica e da difusividade térmica do produto. Os
demais métodos citados são baseados no equilíbrio térmico estabelecido entre a amostra
cujo calor específico será determinado e uma outra substância com esta propriedade
conhecida.
A metodologia mais utilizada para a determinação do calor específico dos grãos
e sementes é o método de misturas com o auxílio do calorímetro (Figura 10).
Neste método, o produto com massa e temperatura previamente determinadas
são colocadas dentro de um calorímetro com capacidade calorífica conhecida contendo
água com temperatura e massa conhecidas. O calor específico é determinado pelo
balanço de calor cedido e recebido pela água e o calorímetro e aquele perdido ou ganho
pelo produto.

Figura 10 - Desenho esquemático do calorímetro.

3.9. Resistência Elétrica


Quando uma corrente elétrica flui através de um condutor, há uma relação direta
entre a diferença de potencial no condutor e a intensidade da corrente, ou seja, a razão
entre a voltagem e a corrente é igual a uma constante, conhecida como a resistência
deste condutor. Esta relação, denominada Lei de Ohm, se resume na seguinte expressão:

R =V / I eq. 3
em que:

R = resistência elétrica;
V = voltagem; e
I = corrente.

Os metais, em sua maioria, são bons condutores de eletricidade, por


apresentarem baixa resistência elétrica; nos produtos agrícolas esta propriedade está
intimamente relacionada com o teor de umidade. Com base neste princípio, vários
modelos de determinadores de umidade, principalmente para grãos e sementes, foram
projetados e atualmente são bastante populares nos sistemas de comércio, na indústria e
na conservação destes produtos. O teor de umidade de uma amostra submetida à

32 Secagem e Armazenagem de Grãos no Brasil


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos

passagem de uma corrente elétrica é inversamente proporcional ao logaritmo da


resistência elétrica:

U = k (1 / log R ) eq. 4
em que:

U = teor de umidade;
K = constante para cada produto; e
R = resistência elétrica.

3.10. Propriedades Dielétricas


Os condensadores são constituídos de duas placas metálicas paralelas e
separadas por um material isolante chamado de dielétrico e são capazes de armazenar
cargas elétricas. Ao se conectar estas placas a uma fonte elétrica, uma das placas
adquire carga positiva, e a outra, carga negativa, originando uma diferença de potencial
entre elas, segundo a relação:

C = Q /V eq. 5
em que:

C = capacitância;
Q = carga; e
V = voltagem.
As propriedades dielétricas dos alimentos estão gradativamente chamando a
atenção dos setores de pesquisa e produção, principalmente devido aos processos de
aquecimento dielétrico e por microondas.
Nesse contexto, as propriedades de maior interesse são: a constante dielétrica, ε‘,
e o fator dielétrico de perda, ε”. A constante dielétrica, ε‘, de uma amostra é definida
como a relação da capacitância do material com a capacitância do ar ou do vácuo sob as
mesmas condições do ensaio. À medida que se aumenta a constante dielétrica, aumenta
a capacidade de armazenamento de energia do condensador. Assim, o processo de
medida da capacitância pode ser utilizado para medir as propriedades dielétricas.
A constante dielétrica depende de vários fatores do ambiente e de características
da amostra, principalmente a temperatura, o teor de umidade e a freqüência aplicada.
O fator dielétrico de perda, ε”, é a medida da energia que um componente
dissipará quando este é submetido a um campo elétrico alternado. Em um circuito de
corrente alternada com um condensador ideal, o ângulo entre a corrente e a voltagem é
de 90o. Quando um material dielétrico é introduzido no condensador, este ângulo
geralmente é reduzido. A redução medida em graus recebe o nome de ângulo de perda
(δ).
O fator de perda dielétrico pode ser relacionado com a constante dielétrica, pela
seguinte equação:
ε” = ε’ (tg δ) eq. 6

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 33


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos
A Tabela 8 fornece as propriedades elétricas de algumas espécies de grãos.

TABELA 7 - Propriedades térmicas de algumas espécies de grãos.

Calor Condutividade Difusividade


Umidade
Grão específico térmica térmica
(%b.u.)
(kJ kg-1 K-1) (W m-1 K-1) (m2 h-1) 10-4
Milho1 1,0 1,532 0,1405 3,67
5,1 1,691 0,1466 3,54
9,8 1,834 0,1520 3,55
14,7 2,026 0,1591 3,26
20,1 2,223 0,1636 3,12
24,7 2,374 0,1700 3,20
30,2 2,462 0,1724 3,33
Continuação da tabela 7
Trigo duro1 9,2 1,549 0,1402 4,14
Trigo mole1 9,2 1,398 0,1170 3,34
Cacau2 12,8 2,449 0,0918 5,40
17,2 2,567 0,0928 5,12
18,7 2,688 0,0970 4,99
20,0 2,738 0,0981 4,90
25,6 2,805 0,0991 4,72
30,2 2,876 0,1044 4,25
42,7 3,090 0,1259 4,64
51,3 3,538 0,1659 5,32
(1) ASAE STANDARDS, 1998; (2) ALMEIDA, 1979.

TABELA 8 - Propriedades dielétricas de algumas espécies de grãos

Espécie Umidade Freqüência (kHz)


(%b.u.) 0.25 1,0 5,0 10,0 20,0
Alfafa 6,8 ε’ 5,5 4,3 4,0 3,8 3,7
ε” 3,33 1,48 0,53 0,39 0,26
Milho 12,0 12,0 8,5 6,3 5,6 5,3
4,4 3,6 2,0 1,5 1,1
14,2 17,8 13,6 9,6 8,3 7,2
6,1 5,1 3,6 3,0 2,6
Algodão 7,9 10,5 8,1 4,8 3,9 3,4
(semente) 2,2 3,5 2,8 2,0 1,5
9,9 11,9 10,6 7,8 6,2 5,0
2,6 2,4 3,2 3,1 2,6
Sorgo 12,0 11,2 8,6 6,2 5,8 5,4
2,5 3,0 1,8 1,3 1,0
15,1 14,2 13,9 12,4 11,1 9,4
0,8 1,1 2,6 3,0 3,1

34 Secagem e Armazenagem de Grãos no Brasil


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos

Aveia 12,6 15,9 13,5 9,1 7,1 5,6


2,6 3,9 4,3 3,8 3,9
14,0 18,7 16,9 13,1 11,1 8,8
3,0 3,4 4,5 4,6 4,3
Soja 7,8 4,9 3,8 3,3 3,2 3,1
2,4 1,3 0.6 0,5 0,3
9,5 11,0 8,2 5,5 4,8 4,4
2,8 3,2 2,2 1,7 1,3
FONTE: ASAE STANDARS, 1998; ALMEIDA, 1979.

4. LITERATURA CONSULTADA

1. AFONSO, A.D.L. Gradiente de pressão estática em camadas de frutos de café


(Coffea arábica L.) com diferentes teores de umidade. Viçosa, 68p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) Universidade Federal de
Viçosa, 1994.
2. ALMEIDA, B.V. Determinação das propriedades físicas de amêndoas de cacau
(Thebroma cacao L.). Viçosa, 70p. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Agrícola) Universidade Federal de Viçosa, 1979.
3. ASAE. STANDARDS 1998. American Society of Agricultural Engineers. St.
Joseph, Michigan, 979p, 1998.
4. BRAGA FILHO, J.M. Curvas de secagem em camada delgada e propriedades
físicas de girassol (Helianthus annus L.). Viçosa, 100p. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Agrícola) Universidade Federal de Viçosa, 1986.
5. BROOKER, D.B.; BAKKER-ARKEMA, E.W.; HALL, C.W. Drying cereal grains
and their products. Westport, Connecticut, The AVI Publishing Company, 265
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6. BROOKER, D.B.; BAKKER-ARKEMA, E.W.; HALL, C.W. Drying and storage
of grains and oilseeds. New York, The AVI Publishing Company, 450p.1992.
7. CARVALHO, N.M. & NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e
produção. 3. ed. Campinas, Fundação Cargill, 1988. 424p.
8. COPELAND, L.O. Principles of seed science and technology. Minneapolis,
Burgess Publishing Company, 1976. 369p.
9. ESAU, K. Anatomia das plantas com sementes. São Paulo, Edgard Blücher, 1974.
293p.
10. FRANCESCHINI, A.S.; CORRÊA, P.C.; RAMOS, M.G. Determinação de
algumas propriedades físicas de milho híbrido BR-201. Revista Brasileira de
Armazenamento, Viçosa, v. 21, n0 1 e 2, p. 22-27, 1996.
11. http://pt.wikipedia.org/wiki/Semente em 28/05/2008
12. LEWIS, M.J. Physical properties of foods and food processing systems. Ellis

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 35


Capítulo 2 Estrutura, Composição e Propriedade dos Grãos
Harwood Ltd. Publisher, Chichester, England, 495p, 1993.
13. LUCENA, E.M.P & SILVA, J.S, Estrutura, composição e propriedades das
sementes. In: Pré-processamento de produtos agrícolas, Juiz de fora, Instituto
Maria, 1995. 509p.
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York, Gordon & Breach Sci. Pub.Inc., 1978. 742p.
15. Afonso Junior, Paulo Cesar. Aspectos físicos, fisiológicos e de qualidade do café
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16. POPINIGIS, F. Fisiologia da semente. 2.ed. Brasília, AGIPLAN, 1985. 289 p.
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18. SASSERON, J.L. Características dos grãos armazenados. Viçosa,
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19. RUFFATO, S.; CORRÊA, P.C.; MARTINS, J.H.; MANTOVANI, B.H.M.; SILVA,
J.N. Influência do processo de secagem sobre a massa específica aparente, massa
específica unitária e porosidade de milho-pipoca. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.3, 1999.

36 Secagem e Armazenagem de Grãos no Brasil


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

Capítulo

3
PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PSICROMETRIA

Juarez de Sousa e Silva


Roberto Precci Lopes
Daniela de Carvalho Lopes
Ricardo Caetano Rezende

1. INTRODUÇÃO

A psicrometria ou higrometria é a parte da termodinâmica que trata da


quantificação do vapor de água presente na atmosfera. O ar é constituído por uma
mistura de gases (nitrogênio, oxigênio, dióxido de carbono, etc.), vapor de água e uma
série de contaminantes, como partículas sólidas em suspensão e outros gases. A
quantidade de vapor de água presente no ar ambiente varia de quase zero a
aproximadamente 4% em volume. O ar seco existe quando, do ar natural, removem-se
todo o vapor de água e os contaminantes. A composição do ar seco é relativamente
constante, apesar das pequenas variações em função da localização geográfica e
altitude. Essa composição média percentual é apresentada na Tabela 1.

TABELA 1 - Composição aproximada do ar seco

Conteúdo (% por
Componente Fórmula
volume)
Nitrogênio N2 78,084
Oxigênio O2 20,948
Argônio Ar 0,934
Dióxido de carbono CO2 0,033
Outros - 0,001

O conhecimento das condições de umidade do ar é de grande importância para


muitos setores da atividade humana, como o dimensionamento de sistemas para
acondicionamento térmico de animais e plantas, a conservação de frutas, legumes, ovos
e outros alimentos, os sistemas de refrigeração ou a estimativa de tempo e energia

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 37


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

requeridos por processos de secagem, armazenamento e processamento de grãos.


Às vezes, o índice de conforto térmico de uma atmosfera depende mais da
quantidade de vapor de água presente no ar do que da temperatura propriamente dita.
Desse modo, um aparelho de condicionamento do ar promove maior controle da
umidade e apenas pequenas variações no valor da temperatura do ambiente. Por tudo
isso, o estudo detalhado da mistura de ar seco (N2+O2+CO2+ outros) e vapor de água,
passou a ser uma disciplina específica, denominada psicrometria.

2. PROPRIEDADES DO AR ÚMIDO

As propriedades do ar úmido estão relacionadas à temperatura, quantidade de


vapor de água, volume ocupado pelo ar e energia nele contida.

Propriedades relacionadas à temperatura:


- temperatura do bulbo seco;
- temperatura do bulbo molhado; e
- temperatura do ponto de orvalho.
Propriedades relacionadas à umidade (massa de vapor d'água):
- pressão de vapor;
- razão de mistura;
- umidade específica;
- umidade absoluta;
- umidade relativa; e
- grau de saturação.
Propriedades relacionadas ao volume ocupado e à energia:
- volume específico; e
- entalpia.

2.1. Temperaturas de Bulbo Seco (t) e de Bulbo Molhado (tm)


A temperatura do bulbo seco (t) do ar é a temperatura medida com um
termômetro comum. Caso o termo temperatura seja usado sem uma especificação, o
leitor deve entendê-lo como sendo a temperatura de bulbo seco.
Outra medida importante de temperatura, quando se fala de secagem de grãos e
outros processos agrícolas, é a temperatura de bulbo molhado (tm). Para obtê-la, cobre-
se o bulbo de um termômetro comum, cujas características devem ser semelhantes às do
termômetro de bulbo seco, com um tecido de algodão embebido em água destilada. O
bulbo molhado deve ser ventilado, com o ar que se quer conhecer, a uma velocidade
mínima de 5 m.s-1. Uma observação deve ser feita em relação às temperaturas
psicrométrica e termodinâmica de bulbo molhado: a temperatura psicrométrica de bulbo
molhado (tm) é a temperatura do ar indicada pelo termômetro de bulbo molhado, como
descrito anteriormente; já a temperatura termodinâmica de bulbo molhado é aquela de
equilíbrio, alcançada quando o ar úmido sofre um processo de resfriamento adiabático,
devido à evaporação da água no ar, até atingir a temperatura da água, mantendo-se a
pressão constante. Na prática, estas temperaturas são consideradas iguais.
O conhecimento das temperaturas de bulbo seco e de bulbo molhado (t e tm),

38 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

expressas em graus Celsius (oC) e determinadas por meio de psicrômetros, permite, com
o uso de tabelas, gráficos ou equações, a determinação rápida da umidade relativa do ar.

2.2. Pressão Parcial de Vapor (pv) e Pressão de Saturação (pvs)


O vapor de água, como os gases componentes da atmosfera, exerce pressão em
todas as direções, pressão esta que depende da concentração do vapor.
A quantidade de vapor que pode existir em determinada atmosfera é limitada para
cada valor de temperatura. Temperaturas mais elevadas permitem a existência de maior
quantidade de vapor do que em um ambiente com temperaturas mais baixas. Quando o
ar contém o máximo de vapor de água permissível para determinada temperatura, diz-se
que o ar se encontra saturado e a pressão de vapor nessa circunstância é dita máxima ou
de saturação. Se a quantidade de vapor não é suficiente para saturar o ar, sua pressão é
chamada de pressão parcial de vapor.
A pressão de vapor de saturação pode ser calculada (em kPa), conhecendo a
temperatura (T em K), por meio da equação 1, que apresenta exatidão de 0,3% para
temperaturas entre 0 ºC e 100 ºC, ou pela equação 2, quando a faixa de temperatura
estiver entre 0 ºC e 374 ºC.

pvs = 6.1025/(1000 T5).exp(-6800 / T) eq. 1

pvs = (2,2087.107 exp((0,01/T) (647,286-T) ∑( Fi (0,65-0,01(T-273,16))i-1)) +


+ 1,412 exp (0,0386 (T-273,15)))/1000 eq. 2

em que
F1 = -741,9242; F2 = -29,7210; F3 = -11,552860; F4 = -0,8685635
F5 = 0,1094098; F6 = 0,4399930; F7 = 0,2520658; F8 = 0,05218684

2.3. Razão de Mistura (w)


É definida como a razão entre a massa de vapor de água e a massa de ar seco (g.
-1
g ) em dado volume da mistura. Seu cálculo depende da pressão de vapor e da pressão
atmosférica (pv e P), como mostra a equação 3:

w = 0,622 pv / (P - pv) eq. 3

2.4. Umidade Relativa (UR)


A umidade relativa do ar é a razão entre a pressão parcial de vapor exercida pelas
moléculas de água presentes no ar e a pressão de saturação, na mesma temperatura,
sendo normalmente expressa em porcentagem (equação 4).

UR = 100 pv / pvs eq. 4

2.5. Umidade Absoluta (Ua)


É a relação entre a massa de vapor de água e o volume ocupado pelo ar úmido (g.
-3
m ), expressa pela equação 5. Essa relação pode ser decomposta para o cálculo das
umidades absolutas do vapor de água e do ar seco (equações 6 e 7), respectivamente.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 39


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

Ua = (348,37 P – 131,69 pv) / T eq. 5

Uav = 216,68 pv / T eq. 6

Uad = 348,37 (P – pv)/T eq. 7

2.6. Umidade Específica (Ue)


É a relação entre a massa de vapor de água e a massa do ar úmido (g g-1), expressa
pela equação 8.

Ue = (0,622 pv)/(P – 0,378 pv) eq. 8

2.7. Grau de Saturação (Gs)


Expressa em porcentagem, esta propriedade relaciona a razão de mistura atual e
a razão de mistura do ar em condição de saturação, à mesma temperatura e pressão
(equação 9).

Gs = 100 w/ws eq. 9

2.8. Temperatura do Ponto de Orvalho (tpo)


É a temperatura em que o ar úmido se torna saturado, ou seja, quando o vapor de
água começa a condensar-se, por um processo de resfriamento, mantendo constantes a
pressão e a razão de mistura. A equação 10 pode ser empregada para calcular esta
propriedade e expressá-la em °C.

tpo = (186,4905 – 237,3 log10 (10 pv)) / (log10 (10 pv) – 8,2859) eq. 10

2.9. Volume Específico (ve)


É definido como o volume por unidade de massa de ar seco e expresso em m3 kg-
1
. A potência requerida pelo ventilador, em um sistema de secagem, é afetada pelo
volume específico do ar que pode ser calculado por meio da equação 11.

ve = 0,28705 T (1+ 1,6078 w) / P eq. 11

2.10. Entalpia (h)


A entalpia (h) de uma mistura ar seco e vapor de água é a energia contida no ar
úmido, por unidade de massa de ar seco, para temperaturas superiores a uma
determinada temperatura de referência (0oC). Como somente a diferença de entalpia
representa interesse prático em processamento de produtos agrícolas, o valor escolhido
para a temperatura de referência torna-se irrelevante. A entalpia, que é expressa em kcal
ou kJ por kg de ar seco, é muito importante para o dimensionamento de aquecedores e
sistema de secagem e composição do custo operacional dos diferentes sistemas. A

40 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

equação 12 pode ser usada para calcular a entalpia e expressá-la em kJ kg-1.

h = 1,006 (T – 273,15) + w (2501+1,775 (T – 273,15)) eq. 12

3. MEDIÇÃO DA UMIDADE DO AR

A determinação da umidade do ar não é feita a partir de uma amostragem, que é


um procedimento muito utilizado para a quantificação da umidade do solo, de produtos
agrícolas a de outros materiais higroscópicos. Essa metodologia, embora possa ser
utilizada, exigiria equipamentos de alto custo, que em alguns casos inviabilizariam a sua
determinação. Na prática, a umidade do ar é determinada indiretamente por meio da
pressão parcial exercida pelo vapor de água na atmosfera. Os instrumentos usados para
esta finalidade são denominados higrômetros. Os mais comuns são:
a) Higrômetros de condensação: baseiam-se na determinação do ponto de
orvalho.
b) Higrômetros de absorção: usados em laboratório. A determinação é feita
passando-se, através de uma substância higroscópica, um volume conhecido
do ar cujas propriedades se deseja determinar. O resultado é obtido pela
variação do peso devido à umidade absorvida.
c) Higrômetros elétricos: baseiam-se na variação da resistência elétrica de um
fino filme de um condutor eletrolítico contendo um sal higroscópico, em
função da umidade.
d) Higrômetro ótico: por meio da intensidade de luz refletida, mede a
espessura de um filme higroscópico, a qual varia com a umidade.
e) Higrômetros de difusão: constam de uma câmara fechada, tendo uma placa
porosa numa das paredes. O ar no interior da câmara é continuamente
submetido à ação de um agente dessecador ou umedecedor. A difusão do ar
através da placa porosa produz mudança na pressão interna da câmara, que é
medida por um manômetro. No ponto de equilíbrio, o valor da mudança de
pressão depende da pressão de vapor do ar exterior e da temperatura da
câmara.
f) Psicrômetro: consta de dois termômetros semelhantes, um dos quais tem o
bulbo recoberto por tecido de algodão umedecido em água destilada (Figura
1). A evaporação da água sobre o bulbo umedecido causa abaixamento na
sua temperatura, sendo dependente do estado higrométrico do ar. O
termômetro de bulbo seco indica a temperatura do ar. A diferença de
temperatura entre os dois termômetros indica a umidade, bem como outras
propriedades do ar, bastando utilizar os dados obtidos para dar entradas em
tabelas, gráficos ou fórmulas. Os psicrômetros podem ser de ventilação
natural (psicrômetros comuns) ou de ventilação forçada. O mais comum é o
psicrômetro giratório.
g) Higrômetros de fio de cabelo: o cabelo humano livre de gorduras tem a
propriedade de aumentar em comprimento ao absorver umidade e de
diminuir em comprimento quando a perde. Essa variação é
convenientemente ampliada e transmitida a um ponteiro, sobre um

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 41


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

mostrador, que indicará diretamente a umidade relativa do ar. Trocando-se o


ponteiro por uma pena contendo reservatório de tinta e o mostrador por um
cilindro rotativo movido por um mecanismo de relojoaria, tem-se o
higrômetro registrador ou higrógrafo.

Figura 1 – Psicrômetros de parede e giratório.

Um higrômetro de fio de cabelo ou um higrógrafo fornecem diretamente a


leitura da umidade relativa do ar. Isto não acontece quando se usa um psicrômetro ou
um higrômetro de condensação, pois, nesse caso, a umidade relativa só será conhecida
após operações usando esses dados em fórmulas, tabelas ou gráficos psicrométricos.
Nestes casos, conhecendo-se a temperatura do ponto de orvalho e a temperatura
do ar (ambas em K), a umidade relativa (em %) pode ser determinada pela equação 13.
Outra opção é aplicar as equações 1 ou 2, seguidas das equações 14 e 4, como mostra o
exemplo a seguir.

UR = 100 exp (5417 ((1 / T) - (1/Tpo))) eq. 13

pv = pvsm - [A. P . (t - tm)] eq. 14


em que
pvsm = pressão de saturação à temperatura de bulbo molhado, kPa;
A = constante do psicrômetro, igual a 6,7 x 10-4 para psicrômetros
aspirados e 8,0 x 10-4 para psicrômetros não aspirados, ºC-1;

Exemplo:
As leituras de temperatura de bulbo seco e de bulbo molhado, dadas por um
psicrômetro de aspiração, foram, respectivamente, de 27°C e 18°C ao nível do mar
(101,325 kPa). Determine a umidade relativa do ar.

42 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

Solução
Determinação das pressões de vapor saturado às temperaturas de bulbo molhado
e bulbo seco (equação 1):
pvsm = 6.1025/(1000x(291,15)5)exp(-6800 / 291,15) = 2,06 kPa =
= 20,6 mbar = 15,5 mmHg
pvs = 6.1025/(1000x(300,15)5)exp(-6800 / 300,15) = 3,57 kPa =
= 35,7 mbar = 26,8 mmHg

Observação: Dependendo da aplicação, diferentes unidades podem ser usadas


para expressar os valores de pressão. Portanto, ressalta-se que as seguintes regras de
conversão podem ser aplicadas, caso seja necessário:
1 atm = 101,325 kPa = 760 mmHg = 1013,25 mbar e 1 mmH2O = 9,80665 Pa

Determinação da pressão de vapor d’água no ar (equação 14):


pv = 2,06 - [6,7x10-4x 101,325 x (27-18)] = 1,45 kPa =
= 14,5 mbar = 10,9 mmHg

Logo, a umidade relativa do ar será (equação 4):


UR = 100 x 10,9 / 26,8 = 40%

4. CÁLCULO DA TEMPERATURA DE BULBO MOLHADO

A temperatura de bulbo molhado pode ser estimada de maneira iterativa,


conhecendo-se a temperatura de bulbo seco e a razão de mistura ou a umidade relativa
de um determinado ponto de estado. Neste caso, a temperatura de bulbo seco é
progressivamente decrementada, mantendo-se constante o valor de entalpia, até se
alcançar um ponto de estado cujo valor de umidade relativa seja igual ou bem próximo a
100%.

Exemplo:
O termômetro e o higrômetro de um experimento montado ao nível do mar (P =
101,325 kPa) estão medindo 20ºC e 90%, respectivamente. Qual a temperatura de bulbo
molhado?

Solução
Cálculo de pvs para a temperatura de bulbo seco (equação 1):
pvs = 6.1025/(1000x(293,15)5)exp(-6800 / 293,15) = 2,34 kPa

Cálculo da pressão de vapor (equação 4, isolando-se pv):


pv = 90 x 2,33 / 100 = 2,10 kPa

Cálculo da razão de mistura para a temperatura de bulbo seco (equação 3)


w= 0,622 x 2,10 / (101,325 – 2,10) = 0,013 g g-1

Cálculo da entalpia para a temperatura de bulbo seco (equação 12):

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 43


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

h = 1,006 x 20 + 0,012 (2501+1,775 x 20) = 53,56 kJ kg-1

Iniciar repetições:
A cada iteração serão calculados os valores de razão de mistura, pressão de
saturação, pressão parcial de vapor e umidade relativa, considerando-se uma
temperatura de bulbo molhado igual à temperatura usada na iteração anterior
decrementada de um valor escolhido previamente. Neste exemplo, será considerado um
decremento inicial de 1ºC. A condição de parada também deve ser estipulada quando do
cálculo de tm. Neste exemplo, a repetição ocorrerá até que a diferença entre a UR
calculada e a UR de saturação seja inferior a 0,5%. Estes valores foram escolhidos
visando agilizar os cálculos realizados manualmente. Mas, quando este método é
empregado em programas computacionais, tanto o decremento inicial quanto a condição
de parada podem e devem ser menores, possibilitando a obtenção de resultados mais
exatos.

Iteração 01: Considerando tm = t - 1 = 19ºC


Cálculo da razão de mistura para tm (equação 12, isolando-se w)
w= (53,56 - 1,006 x 19) / (2501 + 1,775 x 19) = 0,0136 g g-1
Cálculo de pv para tm (equação 3, isolando-se pv)
pv = 0,0136 x 101,325 / (0,622+ 0,0136) = 2,17
Cálculo de pvs para tm (equação 1)
pvs= 6.1025/(1000x(292,15)5)exp(-6800 / 292,15) = 2,20 kPa
Cálculo de UR para tm (equação 4)
UR = 100 x 2,17/2,20 = 98,7 %
A diferença obtida nesta repetição foi de 1,33%.

Iteração 02 - a: Considerando tm = tm anterior - 1 = 18ºC


Cálculo da razão de mistura para tm (equação 12, isolando-se w)
w= (53,56 - 1,006 x 18) / (2501 + 1,775 x 18) = 0,014 g g-1
Cálculo de pv para tm (equação 3, isolando-se pv)
pv = 0,014 x 101,325 / (0,622+ 0,014) = 2,23
Cálculo de pvs para tm (equação 1)
pvs= 6.1025/(1000x(291,15)5)exp(-6800 / 291,15) = 2,06 kPa
Cálculo de UR para tm (equação 4)
UR = 100 x 2,23/2,06 = 108,1 %
Neste caso a UR ultrapassou 100%, indicando que o incremento usado foi muito
grande. Quando isto acontece, deve-se refazer a iteração, dividindo o incremento
anterior por 2.

Iteração 03 - b: Considerando tm = tm anterior – 0,5 = 18,5ºC


Cálculo da razão de mistura para tm (equação 12, isolando-se w)
w= (53,56 - 1,006 x 18,5) / (2501 + 1,775 x 18,5) = 0,0138 g g-1
Cálculo de pv para tm (equação 3, isolando-se pv)
pv = 0,0138 x 101,325 / (0,622+ 0,0138) = 2,20
Cálculo de pvs para tm (equação 1)

44 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

pvs= 6.1025/(1000x(291,65)5)exp(-6800 / 291,65) = 2,13 kPa


Cálculo de UR para tm (equação 4)
UR = 100 x 2,20/2,13 = 103,3 %
Novamente o valor de UR ultrapassou a saturação. O decremento deverá ser
ainda menor.

Iteração 04 - c: Considerando tm = tm anterior – 0,25 = 18,75ºC


Cálculo da razão de mistura para tm (equação 12, isolando-se w)
w= (53,56 - 1,006 x 18,75) / (2501 + 1,775 x 18,75) = 0,0137 g g-1
Cálculo de pv para tm (equação 3, isolando-se pv)
pv = 0,0137 x 101,325 / (0,622+ 0,0137) = 2,18
Cálculo de pvs para tm (equação 1)
pvs= 6.1025/(1000x(291,9)5)exp(-6800 / 291,9) = 2,16 kPa
Cálculo de UR para tm (equação 4)
UR = 100 x 2,18/2,16 = 101,0 %
Novamente o valor de UR ultrapassou a saturação. O decremento deverá ser
ainda menor. Mas, já é possível observar que o método está convergindo, ou seja, a UR
calculada está se aproximando do valor de 100%.

Iteração 05 - d: Considerando tm = tm anterior – 0,125 = 18,875ºC


Cálculo da razão de mistura para tm (equação 12, isolando-se w)
w= (53,56 - 1,006 x 18,875) / (2501 + 1,775 x 18,875) = 0,0136 g g-1
Cálculo de pv para tm (equação 3, isolando-se pv)
pv = 0,0136 x 101,325 / (0,622+ 0,0136) = 2,17
Cálculo de pvs para tm (equação 1)
pvs= 6.1025/(1000x(292,025)5)exp(-6800 / 292,025) = 2,18 kPa
Cálculo de UR para tm (equação 4)
UR = 100 x 2,17/2,18 = 99,8 %
Este valor corresponde a uma diferença de 0,2% com relação a UR de saturação,
sendo menor que o valor estipulado como condição de parada. Portanto, pode-se dizer
que para o ponto de estado deste exemplo, a temperatura de bulbo molhado é
aproximadamente 18,9°C.

5. TABELAS E GRÁFICOS PSICROMÉTRICOS

Além das equações psicrométricas específicas e dos programas computacionais


que incluem essas equações para o cálculo das propriedades do ar, as tabelas e os
gráficos psicrométricos foram criados para facilitar a determinação destas propriedades.
Mesmo com a disponibilidade de computadores, os gráficos e as tabelas são bastante
utilizados, principalmente quando se necessita de determinações rápidas em locais onde
o computador não está disponível.
A Tabela 2 é usada na determinação aproximada da umidade relativa do ar e
apresenta entrada dupla. Nela encontram-se a temperatura de bulbo molhado, na
primeira coluna, e a depressão psicrométrica (diferença entre as temperaturas de bulbo
seco e de bulbo molhado), na primeira linha. Os diversos valores da umidade relativa

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 45


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

constituem o corpo da tabela.

5.1. Exemplo de Aplicação da Tabela Psicrométrica


Determinar a umidade relativa do ar sabendo-se que um psicrômetro indica
t = 26,0 oC e tm = 20,3 oC.

Solução
Procura-se o valor de 20,3 oC na coluna correspondente ao termômetro de bulbo
molhado (tm) e, daí, segue-se horizontalmente até a coluna cuja depressão psicrométrica
(t - tm) seja igual a 5,7 oC, isto é, (26,0 oC - 20,3 oC).
Quando os valores de t e (t - tm) não estão expressos na tabela, é preciso fazer
uma interpolação, a qual pode ser feita indistintamente nas colunas ou nas linhas.
Somente após conhecer os valores intermediários das colunas ou das linhas, é possível
calcular a umidade relativa.
Fazendo a interpolação nas colunas da Tabela 2, tem-se:
Coluna (t - tm) = 5,6 oC: para tm = 20 oC o valor de UR = 58% e para tm = 21 oC o
valor de UR = 59%. Assim, a UR varia em 1% para uma variação de 1 oC (21 oC –
20 oC). Logo, para uma variação de 0,3 oC (20,3 oC - 20 oC), a UR vai variar em 0,3%.
Desse modo, pode-se dizer que na coluna (t - tm) =5,6ºC, para tm = 20,3 oC,
corresponderá uma UR = 58,3%.
Coluna (t - tm) = 5,8 oC: para tm = 20 oC, o valor de UR = 56%, e para tm = 21 oC,
o valor de UR = 57%. Observa-se aqui, também, que para uma variação de 1 ºC a UR
variou em 1% e, conseqüentemente, para a variação de 0,3 oC (20,3 oC - 20 oC ) a UR
variará em 0,3%. Portanto, o valor da UR para tm = 20,3 oC e (t - tm) = 5,8 oC será de
56,3%.
Para conhecer a UR nas condições propostas, basta interpolar os valores
encontrados na linha correspondente a tm = 20,3 oC. Ou seja, para (t - tm) = 5,6 oC, o
valor de UR = 58,3%, e para (t - tm) = 5,8 oC o valor da UR = 56,3%. Assim, para uma
variação de 0,2 oC em (t - tm) = (5,8 oC - 5,6 oC), a UR variou em 2%. Para uma variação
de 0,1 oC em (t - tm) = (5,7 oC - 5,6 oC ), a UR variará em 1%. Portanto, nas condições
propostas, a UR é 57,3, como mostra a Tabela 3.

TABELA 3 – Determinação da umidade relativa (%) em função de t e de (t – tm)

t - tm (°C)
tm (°C)
5,6 5,7 5,8
20,0 58,0 57,0 56,0
20,3 58,3 57,3 56,3
21,0 59,0 58,0 57,0

46 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

TABELA 2 - Valores de umidade relativa para valores conhecidos de t e tm

Temp. tm DEPRESSÃO PSICROMÉTRICA (T - Tm)


°C 5,2 5,4 5,6 5,8 6,0 6,2 6,4 6,6 6,8 7,0 7,2 7,4 7,6 7,8 8,0 8,2 8,4 8,6 8,8 9,0
10 47 46 44 43 41 40 39 37 36 35 33 32 31 30 29 28 26 25 24 23
11 49 47 46 45 43 42 41 40 38 37 35 34 33 32 31 30 29 28 27 26
12 50 49 48 46 45 44 42 41 40 38 37 36 35 34 33 32 31 30 29 28
13 52 51 49 48 46 45 44 43 41 40 39 38 37 36 35 34 33 32 31 30
14 53 52 51 49 48 47 45 44 43 42 41 40 39 37 36 35 34 33 32 31
15 55 53 52 51 49 48 47 46 45 43 42 41 40 39 38 37 36 35 34 33
16 56 54 53 52 51 50 48 47 46 45 44 43 42 41 40 39 38 37 36 35
17 57 56 54 53 52 51 50 48 47 46 45 44 43 42 41 40 39 38 37 36
18 58 57 56 54 53 52 51 50 49 48 46 45 44 43 42 41 41 40 39 38
19 59 58 57 55 54 53 52 51 50 50 48 47 46 45 44 43 42 41 40 39
20 60 59 58 56 55 54 53 52 51 50 49 48 47 46 45 44 43 42 41 40
21 61 60 59 57 56 55 54 53 52 51 50 49 48 47 46 45 44 43 43 42
22 62 61 59 58 57 56 55 54 53 52 51 50 49 48 47 46 45 45 44 43
23 63 61 60 59 58 57 56 55 54 53 52 51 50 49 48 47 47 46 45 44
24 63 62 61 60 59 58 57 56 55 54 53 52 51 50 49 49 48 47 46 45
25 64 63 62 61 60 59 58 57 56 55 54 53 52 51 50 50 49 48 47 46
26 65 64 63 62 61 60 59 58 57 56 55 54 53 52 51 50 49 49 48 47
27 65 64 63 62 61 60 59 58 57 56 56 55 54 53 52 51 50 49 49 48
28 66 65 64 63 62 61 60 59 58 57 56 55 55 54 53 52 51 50 50 49
29 67 66 65 64 63 62 61 60 59 58 57 56 55 54 54 53 52 51 50 50
30 67 66 65 64 63 62 61 60 60 59 58 57 56 55 54 54 53 52 51 50
31 68 67 66 65 64 63 62 61 60 60 58 58 57 56 55 54 53 53 52 51
32 68 67 66 65 64 64 63 62 61 60 59 58 57 57 56 55 54 53 53 52
33 69 68 67 66 65 64 63 62 61 61 60 59 58 57 56 56 55 54 53 53
34 69 68 67 66 66 65 64 63 62 61 60 59 59 58 57 56 55 55 54 53
35 70 69 68 57 56 65 64 63 63 62 61 60 59 58 58 57 56 55 55 54
37 70 69 68 67 66 66 65 64 63 62 61 60 60 59 58 58 56 56 55 54
39 71 70 69 68 67 67 66 65 64 63 62 61 61 60 59 59 58 57 57 55

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 47


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

5.2. Gráfico Psicrométrico


O gráfico psicrométrico é o modo mais simples e rápido para a
caracterização de determinada massa de ar..
A Figura 2 mostra um gráfico psicrométrico à pressão constante de 760
mm de Hg (1.013 mbar ou 101,325 kPa), que poderá ser usado em outras
condições, desde que sejam feitas as devidas correções. À primeira vista, parece
uma figura bastante complexa. Entretanto, antes de tentar compreendê-lo na sua
forma final, vamos, a partir desse ponto, detalhá-lo parte por parte para, ao final
desse capítulo, poder usá-lo dentro da precisão em que foi confeccionado e com
conhecimento do assunto.
O eixo das abcissas expressa as temperaturas do termômetro de bulbo
seco em oC. Do lado direito da figura, correspondendo ao eixo das ordenadas,
encontra-se a razão de mistura, expressa em gramas de vapor d'água por
quilograma de ar seco e, do lado esquerdo encontra-se a pressão de vapor em
milibares e mm de mercúrio (Figura 2).
As linhas curvas entre os três parâmetros descritos correspondem às linhas
de umidade relativa (Figura 3). A mais extrema é a linha UR = 100%, ou linha do
vapor saturante ou de saturação, sobre a qual se lêem as temperaturas do
termômetro de bulbo molhado e do ponto de orvalho (Figura 4). Acima da curva
UR = 100%, encontram-se segmentos de retas, onde se lê a entalpia, ou seja, a
quantidade de calor envolvida nas mudanças de estado. A entalpia está expressa
em kcal/kg de ar seco (Figura 5).
Começando a leitura pelo eixo das temperaturas de bulbo seco (tbs),
encontram-se, inclinadas para a esquerda em aproximadamente 65o, as linhas de
volume específico do ar seco, que indicam o número de metros cúbicos de ar
necessário por quilograma de ar seco (Figura 6).

5.2.1. Uso do gráfico


Conhecendo a temperatura do ponto de orvalho e a temperatura de bulbo
seco ou temperatura do ar, para obter a umidade relativa, traça-se, a partir do
ponto de orvalho lido sobre a linha de umidade relativa igual a 100%, a paralela à
linha das temperaturas de bulbo seco. A seguir, levanta-se uma perpendicular ao
eixo das temperaturas de bulbo seco, a qual corresponde à temperatura do ar. O
cruzamento das linhas traçadas determina no gráfico um ponto denominado
“ponto de estado”, a partir do qual podem-se conhecer as outras propriedades do
ar:
a) Umidade relativa: como as linhas curvas indicam a UR, basta
observar qual linha coincide com o ponto de estado. Caso não haja
coincidência, faz-se a interpolação visual.
b) Razão de mistura: a partir do ponto de estado traça-se, para a direita,
uma paralela ao eixo das temperaturas do termômetro de bulbo seco e
lê-se, na escala, o número de gramas de vapor d'água por quilograma
de ar seco.
c) Pressão de vapor: a partir do ponto de estado traça-se, para a esquerda
até às escalas de pressão de vapor, uma paralela ao eixo das

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 49


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria
temperaturas do termômetro de bulbo seco, fazendo a leitura em
milibares ou milímetros de mercúrio.
d) Entalpia: a partir do ponto de estado, traça-se uma linha paralela às
linhas que partem da escala da entalpia, onde se lê o número de
quilocalorias por quilograma de ar seco.
e) Volume específico do ar seco: o ponto de estado determina o valor do
volume específico do ar seco. Quando ele não coincide com uma das
linhas traçadas no gráfico, é feita uma interpolação visual,
determinando o número de metros cúbicos de ar por quilograma de ar
seco.
As Figuras 7 e 8 ilustram, como um exemplo, como é possível determinar os
diferentes valores das propriedades psicrométricas do ar úmido, conhecendo-se os
valores de duas outras propriedades não alinhadas.

Exemplo
Determine as propriedades termodinâmicas do ar úmido (temperatura de
bulbo seco, t = 25 oC, e a temperatura de bulbo molhado, tm = 18 oC), como
indicado na Figura 7.

Solução
Para determinar o ponto de estado, levanta-se a perpendicular ao eixo das
temperaturas de bulbo seco, a partir do valor da temperatura do ar. A seguir,
partindo da temperatura tm, obtida na curva de saturação, traça-se a paralela às
linhas de entalpia. O cruzamento das duas linhas determina o ponto de estado. Os
demais parâmetros são encontrados como descrito anteriormente (Figura 8).
- umidade relativa = 50%;
- volume específico = 0,863 m3/kg de ar seco;
- razão de mistura = 10,0 gramas de vapor/kg de ar seco;
- pressão de vapor = 15,0 mbar; e
- entalpia = 16,5 kcal/kg de ar seco.

50 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

Figura 2 – Gráfico psicrométrico

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 51


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

Figura 3 – Componentes básicos do gráfico psicrométrico (curvas de


umidade relativa)

Figura 4 - Componentes básicos do gráfico psicrométrico (Temperatura de


bulbo molhado e ponto de orvalho)

52 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

Figura 5 - Componentes básicos do gráfico psicrométrico (linhas de entalpia)

Figura 6 - Componentes básicos do gráfico psicrométrico (volume específico)

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 53


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

Figura 7 – Determinação do ponto de estado a partir de t e tm.

Figura 8 – Determinação das propriedades do ar a partir do ponto de estado.

54 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

Conhecendo-se o ponto de orvalho po e a temperatura do ar t, para obter a


umidade relativa, traça-se, a partir do ponto de orvalho ar lido sobre a linha de
saturação ou de umidade relativa 100%, uma paralela à linha das temperaturas de
bulbo seco ou abcissa. A seguir, levanta-se uma perpendicular ao eixo das
temperaturas de bulbo seco, a qual deve corresponder à temperatura do ar t. O
cruzamento das linhas traçadas determina no gráfico o ponto de estado P, a partir
do qual se determinam as outras propriedades, de modo semelhante ao da Figura
9.

Exemplo: que características apresentam uma massa de ar cuja


temperatura de bulbo seco é 27 oC e a temperatura do ponto de orvalho (po) 13
o
C?
Solução
Pela Figura 9 e pelo procedimento semelhante ao da Figura 8, serão
determinadas as seguintes propriedades do ar:

- umidade relativa = 42%;


- volume específico = 0,867 m3/kg de ar seco;
- razão de mistura = 9,0 gramas de vapor/kg de ar seco;
- pressão de vapor = 14,0 mbar ou 11,0 mmHg;
- entalpia = 16,5 kcal/kg de ar seco; e
- temperatura de bulbo molhado = 18,3 oC.

O ponto de estado pode ser determinado por meio de dois parâmetros


quaisquer, desde que não sejam interdependentes.

6. OPERAÇÕES QUE MODIFICAM O AR

Como dito anteriormente, nos diversos ramos das áreas de pré-


processamento, transformação e conservação de alimentos, a utilização do ar na
sua forma natural ou modificada é bastante comum. Por exemplo, na operação de
secagem deve-se, muitas vezes, aquecer o ar para que ele tenha o seu potencial de
absorção de água aumentado, para reduzir, dentro de limites seguros, o tempo de
secagem de determinado produto.
Na conservação de perecíveis são utilizadas câmaras especiais com
recirculação do ar a baixas temperaturas (frigo-conservação), para que o produto
possa ser transportado e adquirir maior vida-de-prateleira, durante a
comercialização e com o máximo de qualidade. Em outras operações, deve-se,
com freqüência, modificar outras propriedades, como a quantidade de vapor de
água.
O processo de secagem de grãos em camada fixa pode ser representado em
um gráfico psicrométrico, como mostrado na Figura 10. Assim que o ar move
através do aquecedor (ponto de estado 1 para o ponto de estado 2), sua
temperatura e sua entalpia aumentam, e, ao atravessar a camada de grãos (ponto
de estado 2 para o ponto de estado 3), a umidade relativa e a razão de mistura

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 55


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria
aumentam, a temperatura de bulbo seco diminui e a entalpia permanece constante.
Nesse caso, como será visto no Capítulo 5 (Secagem e Secadores), a camada de
grãos deve ser revolvida periodicamente.

Figura 9 - Determinação do ponto de estado a partir da temperatura do


ponto de orvalho (tpo) e da temperatura do ar (t).

Figura 10 – Modificação do ar durante a secagem de uma camada de grãos.

56 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

6.1. Aquecimento e Resfriamento do Ar


Ao fornecer calor “seco” ao ar, a temperatura deste aumenta, enquanto a
razão de mistura ou umidade absoluta permanece constante, porque não há
aumento nem redução na quantidade de vapor presente. Aquecido o ar, o ponto de
estado move-se horizontalmente para a direita, conforme Figura 11, onde o ar com
UR =50% e t1 =23 oC foi aquecido para t2 =34 oC. O ponto de estado deslocou-se
horizontalmente para a direita e a umidade relativa caiu para 26%,
aproximadamente. A entalpia variou de 15 para 18 kcal por quilo de ar seco. Isto
significa que foram necessárias 3,0 kcal para elevar a temperatura do ar de 23 para
34 oC, por quilograma de ar seco, considerando uma transferência de calor a
100%.
No resfriamento, o ponto de estado move-se horizontalmente para a
esquerda. Quando a curva de saturação (UR = 100%) é atingida, tem-se o ponto
de orvalho. Continuando o resfriamento, o ponto de estado move-se sobre a linha
de saturação, indicando que o vapor d'água está condensando.
A Figura 12 mostra o resfriamento para 8 oC de uma massa de ar que
inicialmente apresentava 23 oC e UR =50%. O ponto de estado desloca-se
horizontalmente para a esquerda até atingir UR=100%, onde o ponto de orvalho é
12 oC. A partir desse ponto, desloca-se sobre a curva de saturação até atingir 8 oC,
mantendo a UR= 100%. Isto significa a condensação de dois gramas de vapor
d'água por quilograma de ar seco, correspondendo a uma mudança na razão de
mistura de 8,5 para 6,5 gramas por quilograma de ar seco.
A entalpia variou de 15 para 10 kcal por quilograma de ar seco. A
diferença entre esses valores indica a necessidade de 5,0 kcal de refrigeração por
quilograma de ar seco, para que este passe de t1 =23 oC para t2 = 8 oC.

6.2. Secagem e Umedecimento


A adição ou retirada de umidade do ar, sem adicionar ou retirar calor, leva
o ponto de estado a se deslocar sobre uma linha de entalpia constante. No caso de
adição de umidade, o ponto de estado desloca-se para cima e para esquerda, e,
mediante a retirada de umidade, este ponto desloca-se para baixo e para a direita.
A Figura 13 mostra que, em condições iniciais de 25oC e razão de mistura de 9,0
gramas de vapor por quilograma de ar seco (ponto 1), o ar perderá 4,0 gramas de
vapor d'água por quilograma de ar seco, quando o ponto de estado se deslocar
sobre a linha de uma mesma entalpia até atingir a temperatura de 35 oC (ponto 2).
Novamente, partindo-se das condições iniciais (ponto 1), quando se
acrescentam 3,0 gramas de vapor d'água por quilograma de ar seco, o ponto de
estado desloca-se para o ponto 3 à temperatura de 18 oC. Nota-se que a entalpia
permanece constante, a 16,0 kcal por quilograma de ar seco.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 57


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

Figura 11 – Deslocamento do ponto de estado devido ao aquecimento da


massa de ar.

Figura 12 – Deslocamento do ponto de estado devido ao resfriamento da massa de


ar.

58 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

Figura 13 – Operação de secagem e umedecimento da massa de ar.

6.3. Mistura de Dois Fluxos de Ar


Em grande número de secadores agrícolas, são misturadas duas massas de
ar com diferentes fluxos e propriedades termodinâmicas (Figura 14). As condições
finais da mistura resultante podem ser determinadas por meio de gráficos
psicrométricos.
. .
Considerando dois fluxos de massa m1 e m 2 , temperaturas t1 e t2, razões
.
de misturas w1 w2 e entalpias h1 e h2 , a mistura final terá fluxo de massa m 3 ,
temperatura t3, razão de mistura w3 e entalpia h3. Os balanços de energia e de
massa para esse processo são:
. . .
m1 + m 2 = m 3
. . .
m1 w 1 + m 2 w 2 = m 3 w 3 e
. . .
m1 h 1 + m 2 h 2 = m 3 h 3

.
Substituindo m 3 , tem-se
. .
m1 (h3 - h1) = m 2 (h2 - h3)
. .
m1 (w3 - w1) = m 2 (w2 - w3)

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 59


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

Portanto
.
m1 h2 − h3 w 2 − w 3
= =
.
m2 h3 − h1 w 3 − w1

A condição final da mistura dos dois fluxos é encontrada na linha que liga
os pontos (h1, w1) e (h2, w2) no gráfico psicrométrico. O ponto (h3, w3) pode ser
encontrado algebricamente ou aplicando-se a propriedade dos triângulos
semelhantes diretamente no gráfico psicrométrico.

Figura 14 – Mistura de duas massas de ar.

Exemplo
Em um secador de fluxo concorrente, 300 m3/minuto de ar com
temperatura de bulbo seco de 35°C e temperatura de bulbo molhado de 30°C (ar
1), proveniente da seção de resfriamento, são misturados na entrada de uma
fornalha com o ar ambiente (ar 2), cuja vazão é de 300 m3/minuto, com
temperatura de bulbo seco de 20°C e umidade relativa de 80 %. Determine a
temperatura de bulbo seco e de bulbo molhado do ar resultante da mistura (ar 3)
que a fornalha deverá aquecer.
Solução
A partir dos pontos de estados dados pelas condições do ar 1 e do ar 2,
tem-se:
Volume úmido do ar 1 (v1): 0,911 m3/kg de ar seco
Razão de mistura do ar 1 (w1): 24,7 g de vapor/kg de ar seco
Entalpia do ar 1 (h1): 27,8 kcal/kg de ar seco
Volume úmido do ar 2 (v2): 0,851 m3/kg de ar seco
Razão de mistura do ar 2 (w2): 11,8 g de vapor/kg de ar seco
Entalpia do ar 2 (h2): 16,1 kcal/kg de ar seco
. .
Determinação da vazão mássica m1 e m2 :

60 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria
. Q1 300m 3 . min −1
m1 = = = 329,3 kg de ar seco/minuto
v1 0,911m 3 .kg −1

. Q2 300m 3 . min −1
m2 = = = 352,5 kg de ar seco/minuto
v2 0,851m 3 .kg −1
. .
Substituindo os valores de m1 , m2 , h1 e h2, w1 e w2 nas expressões:
. .
m1 h − h3 m w − w3
= 2 e .1 = 2
m2 h3 − h1 m2 w3 − w1
.

tem-se o ponto de estado 3, resultante da mistura do ar 1 e do ar 2, caracterizado


por:
h3 = 21,7 kcal/kg de ar seco; e
w3 = 18 g de vapor/kg de ar seco.

A partir do ponto de estado 3 podem-se determinar todas as propriedades


da mistura, sendo a temperatura do bulbo seco de 27°C e a do bulbo molhado de
24,5°C.
As transformações efetuadas serão consideradas mais detalhadamente em
estudos sobre a secagem e armazenagem dos diversos produtos agrícolas.

Clique para acessar: Aplicativo 1 Aplicativo 2

7. LITERATURA CONSULTADA

1. BROOKER, D.B.; BAKKER-ARKEMA, F.W. & HALL, C.W. Drying


and storage of grains and oilseeds. New York: An AVI Book, 1992.
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2. JOHANNSEN, A. Equations and procedures for plotting psychrometric
charts in SI units by computer. CSIR Report ME 1711, Pretoria, 11p.
1981.
3. HUNTER, A. J. An isostere equation for some common seeds. Journal
Agric. Eng. Research, v.37, p. 93 – 107. 1987
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5. PEREIRA, J.A.M. & QUEIROZ, D.M. Psicrometria. Viçosa:
CENTREINAR. 27p.
6. PUZZI, D. Abastecimento e armazenagem de grãos. Campinas: Instituto
Campineiro de Ensino Agrícola, 1986. 603p.
7. SILVA, J. S.; REZENDE, R. C. Higrometria IN: Pré-processamento de

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 61


Capítulo 3 Princípios Básicos de Psicrometria

produtos agrícolas. Juiz de Fora: Instituto Maria, 1995. 510p.


8. VIANELLO, R. L., ALVES, A. R. Meteorologia básica e aplicações.
Viçosa: UFV, 1991. 449 p.
9. WILHELM, R. L. Numerical Calculation of psychrometric
properties in SI units. Transactions of ASAE. V.19, n.2, p.318 –
325. 1976
10. ZOLNIER, S. Psicrometria I. Viçosa: Engenharia na Agricultura,
Série - Caderno Didático, No13, 1994. 14p.

62 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Capítulo

4
INDICADORES DA QUALIDADE DOS GRÃOS

Juarez de Sousa e Silva


Pedro Amorim Berbert
Solenir Rufato
Adriano Divino Lima Afonso

1. INTRODUÇÃO

O conceito de teor de água (umidade) tem origem no fato de os grãos serem


constituídos de substâncias sólidas e de certa quantidade de água retida sob várias
formas. Para as operações de colheita, secagem e armazenamento, consideram-se que o
grão é formado apenas por matéria seca e água. Assim, teor de umidade é a quantidade
relativa de água presente no grão.
O teor de umidade é considerado o fator mais importante que atua no processo
de deterioração de grãos armazenados. Mantendo-se este em níveis baixos, os demais
terão seus efeitos gradualmente diminuídos: menor ataque de microrganismos e
diminuição da respiração dos grãos. O teor de umidade influencia, acentuadamente, as
características necessárias aos processos, como colheita, manuseio, secagem, tempo de
armazenagem, germinação, processamento etc. Portanto, desde a colheita até o
processamento, é de primordial importância o conhecimento do teor de umidade dos
produtos. Por exemplo, a compra de um produto com teor de umidade acima do ideal
representa prejuízo para o comprador, que estará pagando pelo excesso de água, além
de colocar em risco a qualidade final do produto. A venda com umidade abaixo do ideal
prejudicará o vendedor, pois ele incorreu em gastos desnecessários com energia para
secagem e desgastes do equipamento, além de afetar a qualidade do grão.
Sendo um processo que trata materiais biologicamente ativos, a secagem pode
ser definida como um método universal de condicionamento de produtos agrícolas
(grãos em geral) , pela remoção da água a um nível tal que os mantenha em equilíbrio
com o ambiente de armazenamento, preservando a aparência e a qualidade nutritiva
para alimentação animal e/ou humana e a viabilidade como semente.
Muitos consideram os termos "secagem" e "desidratação" como sinônimos.
Entretanto, a desidratação consiste na remoção de umidade até que o material fique
completamente seco, ou seja, até que o conteúdo de umidade do material se aproxime de

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 63


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

zero (maiores detalhes sobre o assunto serão vistos nos capítulos referentes à teoria e
aos métodos de secagem).
Os agentes biológicos que danificam a qualidade e diminuem o peso dos
produtos armazenados são os roedores, insetos, pássaros e fungos. Em menor escala, a
respiração também pode contribuir para a perda de matéria seca durante a
armazenagem.

2. PERDA DE GRÃOS ARMAZENADOS

No Brasil, segundo estudos realizados em 1968 pela Universidade Federal de


Viçosa, a perda de grãos de milho, como conseqüência da armazenagem inadequada em
fazendas e unidades armazenadoras chegava a 35 %. Atualmente, com boas técnicas de
armazenagem que vem sendo adotadas, este valor deve estar abaixo de 20%. Nos
Estados Unidos, onde as condições favoráveis de clima, facilidades de transporte e
armazenagem propiciam menor desenvolvimento de pragas, as perdas não são elevadas
e estão próximos a 5%. Ainda assim, os custos de prevenção e controle dos agentes
causadores de perdas se aproximam de um bilhão de dólares anuais.

2.1. Considerações Gerais


Sementes ou grãos são suscetíveis ao ataque de fungos durante o crescimento, a
maturação e após a colheita. No armazém, pode também ocorrer o ataque de insetos e
roedores, que, juntamente com os fungos, causam diminuição do peso, fermentação,
rancificação e outros processos que alteram as propriedades sensoriais do produto. As
perdas de produtos provocadas por microrganismos durante o armazenamento
inadequado podem comprometer a totalidade da massa armazenada.
Atualmente, os fungos são considerados os principais causadores de danos e
deterioração nos produtos agrícolas, visto que no combate aos insetos e roedores são
empregados técnicas mais modernas de controle.
Os fungos são os maiores agentes causadores de doenças nas plantas cultivadas.
Aqueles que atacam as sementes ou os grãos são classificados como fungos de campo e
fungos de armazenamento.

2.2. Fungos de Campo


São aqueles que atacam os grãos ou as sementes antes da colheita, ou seja, no
seu período de crescimento e na maturação. Tais fungos requerem, para seu
crescimento, uma umidade relativa em torno de 90%, o que, para a maioria dos grãos,
corresponde a um teor de umidade em torno de 25% b.u. Estes microrganismos
paralisam seu crescimento quando o teor de umidade e a temperatura dos grãos são
baixos. Os fungos dos gêneros Alternaria, Cladosporium, Fusarium e
Helminthosporium são os mais comuns.

2.3. Fungos de Armazenamento


Os fungos ecologicamente denominados fungos de armazenamento são aqueles
que se desenvolvem em sementes e grãos com teores de umidade abaixo de 17%, ou
seja, quando possuem teores de umidade em equilíbrio, com umidades relativas na faixa

64 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

de 65-85%. Estes fungos, principalmente os dos gêneros Aspergillus e Penicillium, não


se desenvolvem em produtos com teor de umidade superior a 25% b.u.
Os fungos mais comuns e que causam a deterioração dos grãos armazenados
são: Aspergillus repens, A. amstetodami, A. ruber, A. restrictus, A. glaucus, A.
halophilicus, A. candidus, A. ochraceus, A. flavus, A. parasiticus e algumas espécies do
gênero Penicillium.

2.3.1. Causas do desenvolvimento de fungos


Como dito anteriormente, os principais fatores que influenciam o
desenvolvimento dos fungos em produtos armazenados são: teor de umidade,
temperatura e tempo de armazenagem dos grãos, grau de infestação por fungos no
campo, presença de material estranho e atividade de insetos e roedores. O fator isolado
mais importante no desenvolvimento de fungos é o teor de umidade elevado. Na
realidade, os fungos não são afetados diretamente pelo teor de umidade do produto, mas
pela umidade relativa de equilíbrio do ar intersticial (veja mais adiante neste capítulo).
Temperaturas elevadas também favorecem a proliferação dos fungos que se
desenvolvem melhor em temperaturas entre 10 e 35 oC e umidades relativas elevadas.
Durante a colheita, os grãos estão sujeitos a impactos mecânicos, que podem
resultar em rachaduras e quebras que servirão de entrada a fungos e insetos. Em
condições desfavoráveis, durante a colheita e armazenagem, o teor de umidade do
produto pode ser alto e suficiente para permitir o desenvolvimento de fungos,
aquecimento e outros danos à massa de grãos armazenada. Esses danos caracterizam-se
por descoloração, perda de germinação, aumento do teor de ácidos graxos dos grãos e
degradação das qualidades nutritivas. O aumento do teor de ácidos graxos em sementes
é devido, principalmente, ao ataque por fungos. Este aumento constitui também o
principal sintoma de deterioração das sementes, quando o teor de umidade destas está
em torno de 14% b.u.
O processo de respiração envolve a liberação de energia devida à oxidação de
carboidratos e outros componentes orgânicos. Quando a respiração ocorre rapidamente
e a produção de calor acontece mais intensamente do que pode ser dissipado, a
temperatura do produto armazenado sobe e pode aumentar as chances de crescimento
dos fungos.
A maior parte, se não todo, do aquecimento acima de 20 oC é causada por
microrganismo. O desenvolvimento dos fungos diminui quando a umidade relativa
estiver abaixo de 70% ou quando a temperatura estiver abaixo de 0 oC.

2.3.2. Danos causados por fungos de armazenamento


Os principais danos provocados pela invasão dos fungos de armazenamento nos
produtos agrícolas são: diminuição na germinação, descoloração, produção de toxinas,
aquecimento, transformações bioquímicas, modificações celulares, emboloramento e
apodrecimento.
Muitos fungos de campo e de armazenamento produzem substâncias tóxicas que,
em altas concentrações, podem causar a morte ou comprometer seriamente o
desenvolvimento dos animais. Estas substâncias são conhecidas como micotoxinas e sua
produção depende da espécie do fungo e das condições ambientais a que está submetido

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 65


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

o produto quando do seu armazenamento. O desenvolvimento prolongado de fungos em


grãos de milho com elevado teor de umidade, em temperaturas na faixa de 2 a 7 oC ,
pode resultar na formação de grandes quantidades de toxinas. As micotoxinas mais
comuns e potencialmente mais perigosa são a Aflatoxina, produzida pelo A. flavus, e a
Ochratoxina, pelo A. ochraceus.

2.3.3. Detecção de fungos


O isolamento e conhecimento dos fungos de armazenamento que proliferam no
produto podem fornecer informações a respeito do tipo de deterioração sofrida pelos
grãos. Uma observação direta sob luz ultravioleta e a mensuração da produção de gás
carbônico (CO2) podem ser usadas para determinar a perda de qualidade dos grãos e
predizer o tempo permissível de armazenamento. O TPA é o período máximo de tempo
que o produto com determinado teor de umidade pode ser armazenado ou mantido sob
determinadas condições de temperatura e umidade relativa.

2.3.4. Controle
As condições do ambiente de armazenamento e a característica do grão
armazenado influenciam a qualidade final do produto. Um armazenamento seguro
depende da qualidade do grão armazenado. Para a obtenção de um produto de melhor
qualidade, os cuidados devem ser iniciados na lavoura, evitando-se a ocorrência de
danos mecânicos, ataque de insetos no campo e atraso na colheita. Uma pré-secagem
do produto é de extrema importância, assim como a trilha e o transporte, que devem ser
executados com equipamentos limpos, para que não se tornem focos de contaminação.
Independentemente do grau de tecnologia usado para o armazenamento de grãos,
a limpeza do local onde será armazenado o produto é de fundamental importância.
Grãos limpos podem ser armazenados por mais tempo, quando comparados com grãos
contendo impurezas. Adicionalmente, todo cuidado deve ser observado para prevenir o
ataque de insetos e roedores, o que pode favorecer o desenvolvimento de fungos durante
o armazenamento.
O controle dos roedores poderá ser feito pela vedação do armazém e por iscas
venenosas. Para os insetos poderão ser usados produtos químicos ou o controle da
temperatura e umidade do produto armazenado. O melhor método para evitar a
proliferação de fungos em grãos é a secagem destes, em níveis de umidade em que a
disponibilidade de água não seja suficiente para ser utilizada no desenvolvimento desses
microrganismos. A combinação baixo teor de umidade e baixas temperaturas é o meio
mais eficiente para o controle dos fungos durante o armazenamento (Veja aeração de
grãos).
O uso da técnica de aeração da massa de grãos para diminuição e manutenção de
baixas temperaturas é um procedimento de grande valia para o bom armazenamento.

3. INDICADORES DA QUALIDADE

Qualidade de grãos é um termo polêmico. Seu significado depende da finalidade


ou do uso final do produto. Em situação lógica, é o comprador final que deve
especificar as características de qualidade do grão de tal maneira que o produtor ou o

66 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

processador possa fornecer um produto com qualidade a um mínimo custo. Portanto,


produtor e comprador devem, necessariamente, estar conscientes da importância da
qualidade para comercialização, pois diferentes compradores de grãos requerem
propriedades qualitativas diferentes.
Muitas vezes, os efeitos da secagem artificial sobre composição, valor nutritivo,
viabilidade e características ideais dos grãos para o processamento industrial não são
considerados na classificação comercial; de modo geral, para fins comerciais, os grãos
podem ser classificados de acordo com três ou mais das seguintes características:
a) teor de umidade;
b) peso hectolítrico;
c) porcentagem de grãos quebrados ou danificados;
d) porcentagem de materiais estranhos e impurezas;
e) dano por calor ou outros;
f) suceptibilidade à quebra;
g) característica de moagem;
h) teor de proteína;
i) teor de óleo;
j) germinação;
k) presença de insetos;
l) contagem de fungos; e
m) tipo do grão e outros.

3.1. Aspectos Relacionados à Secagem


Estudiosos afirmam que o calor tem efeito definitivo sobre o valor nutricional
dos grãos. Uma diminuição na qualidade comercial, devido à secagem em elevadas
temperaturas, nem sempre corresponde a um decréscimo no valor do grão como ração
animal. Verificou-se que o valor nutritivo do milho, para suínos, não foi reduzido
quando este produto foi secado à temperatura entre 60 e 104 oC. Já a disponibilidade de
lisina foi reduzida quando o milho, com teor de umidade a 14 e 23% b.u., foi secado a
150 e 127 oC, respectivamente. O teor de niacina não foi afetado pela temperatura, mas
a disponibilidade de pirodoxina foi significativamente reduzida quando, com teor de
umidade a 14% b.u., o milho foi secado a 160 oC (SILVA 1980).
Quando a soja para fins industriais é submetida à secagem em camada fixa, a
temperatura do ar pode atingir 60 oC. Pesquisas mostram que a 88 oC houve redução na
produção de óleo. A 232 oC, usando um secador de fluxo concorrente, não foram
observadas alterações na produção e qualidade do óleo. Nos EUA, é comum a utilização
de temperaturas da ordem de 90 oC para a secagem em indústrias de transformação de
soja.
Embora a maioria dos pesquisadores não concorde que as alterações no valor
nutricional do milho ou da soja sejam devidas às altas temperaturas de secagem, eles
são unânimes em afirmar que as características físicas e químicas, como consistência,
conteúdo de energia, palatabilidade, dureza, cor, umidade e teor de proteínas e
aminoácidos, são afetados pela temperatura de secagem (SILVA 1980).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 67


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

3.1.1. Densidade
O peso hectolítrico (veja capítulo 2 – Estrutura, Composição e Propriedades dos
Grãos) geralmente sofre alterações durante o processo de secagem. A intensidade dessa
mudança depende do teor de umidade inicial e final do produto, de temperatura de
secagem, da variedade dos grãos, do tipo e da quantidade de impurezas e intensidade de
danos. Geralmente, um baixo peso hectolítrico (PH = kg/100L) reduz o valor do milho
para moagem, independentemente da causa desse baixo valor.
Sob condições normais, quanto menor o teor de umidade do produto, maior será
seu peso hectolítrico, com exceção do café em coco, arroz em casca e cevada. A
secagem excessiva de um produto a temperaturas muito elevadas danificará o material,
que, conseqüentemente, terá menor peso hectolítrico. A uma mesma faixa de umidade
final, quanto mais alta for a temperatura de secagem, menor será o peso hectolítrico.

3.1.2. Quebrados
A secagem, unicamente, não aumenta a porcentagem de grãos quebrados.
Contudo, grãos secados de modo inadequado apresentam maior tendência à quebra
quando transportados.
Um dos principais danos sofridos pelos grãos durante o processo de secagem são
rachaduras no seu interior, sem ocorrência de ruptura em suas camadas mais externas
(Figura 1). Além da temperatura do ar de secagem, outros fatores podem provocar essa
maior susceptibilidade à quebra; dentre estes encontram-se o teor de umidade inicial dos
grãos, o sistema de secagem utilizado e a taxa de resfriamento. Em geral, a
susceptibilidade à quebra diminui à medida que os grãos submetidos à secagem
apresentam teores de umidade inicial mais baixos.
Para secagem em altas temperaturas, um teor de umidade inicial acima de 18%
b.u. parece provocar aumento significativo na susceptibilidade à quebra. Já a interação
entre tempo de aquecimento e mudança de umidade dos grãos parece ser o melhor
indicador da variação na porcentagem de grãos quebrados.
Estudos relacionando os danos causados durante o transporte à temperatura de
secagem mostraram que, quanto mais elevada a temperatura do ar, maior a quantidade
de grãos rachados e partidos e que rachaduras na casca e cotilédones da soja podem
estar correlacionadas com o teor de umidade inicial dos grãos. Tais danos não ocorrem
quando a umidade relativa do ar é igual ou superior a 50%.
Tentativas têm sido feitas para desenvolver equipamentos destinados a prever a
susceptibilidade dos grãos à quebra. Os equipamentos propostos submetem as amostras
a esforços preestabelecidos ou a condições de impacto, após os quais é feita a análise da
amostra. Até o momento, apenas o "Stein Breakage Tester" (Figura 2) é usado para
avaliar danos mecânicos em amostras de grãos.

68 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Figura 1 - Semente de milho com o endosperma seriamente danificado.

Figura 2 – Stein Breakage tester.

3.2. Teor de Água ou Umidade Contida nos Grãos


Como materiais higroscópicos, os grãos contêm água em estado líquido, que está
em contato direto com a estrutura celular, porém é facilmente evaporada na presença de
ar com baixa umidade relativa. Essa água é conhecida como "água livre". Uma outra
porção de água, denominada água de constituição, também compondo a estrutura
celular, está quimicamente presa ao material.
Durante a secagem, a maior parte da água evaporada é “água livre". Para facilitar
a compreensão, será considerado aqui que o grão é composto apenas de matéria seca e
água livre (Figura 3).
A quantidade de água, ou o teor de água dos grãos, é expressa pela relação entre
as quantidades de água e matéria seca que compõem o produto. O teor de umidade é o

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 69


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

fator de maior importância na prevenção da deterioração do grão durante o


armazenamento. Mantendo-se baixo o teor de umidade e a temperatura do grão, o
ataque de microrganismos e a respiração terão seus efeitos minimizados.
O operador do secador deve estar sempre atento para que, ao final do processo de
secagem, o produto não perca água em excesso, trazendo problemas no manuseio, no
beneficiamento e na comercialização.
O ideal é que se determine o teor de umidade dos grãos antes do processamento.
Caso o produto esteja com excesso de umidade, deve-se secá-lo até um teor de umidade
ideal para cada processo. No caso de um produto muito seco, o operador deve usar silos
com sistema de ventilação para ventilar o produto à noite, de forma que este absorva
água até atingir o teor de umidade desejado.

Figura 3 – Simplificação da composição do grão

3.2.1. Cálculo do teor de água


Como dito anteriormente, a quantidade de água (teor de umidade) contida nos
grãos é designada baseando-se no peso da água e geralmente é expressa em
porcentagem.
Há dois modos de expressar a umidade contida num produto, ou seja, base úmida
(b.u.) e base seca (b.s.).
A umidade contida nos grãos em base úmida é a razão entre o peso da água (Pa)
presente na amostra e o peso total (Pt) desta amostra:

U = 100 (Pa / (Pt) eq.1

t = (Pms + Pa) = peso total eq.2

em que
U = teor de umidade , % b.u.
Pa = peso da água;
Pt = peso total da amostra; e

70 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Pms = peso da matéria seca.

A porcentagem de umidade em base seca é determinada pela razão entre o peso


da água (Pa) e o peso da matéria seca (Pms):

U’ = 100 ( Pa / Pms) eq.3

em que

U’= teor de umidade, % b.s.

Pelas equações, vê-se claramente que o teor de umidade expresso em base seca é
numericamente maior do que o teor de umidade em base úmida (U’>U). Isto porque, no
segundo caso (U’) , com apenas Pms, o denominador é menor do que no primeiro caso
(U), em que ele representa o peso total do grão (Pa+Pms), e, em ambos os casos, o
numerador permanece constante, ou seja, representa sempre o peso da água.
Geralmente a porcentagem em base úmida é usada em designações comerciais e
no estabelecimento de preços. Por outro lado, o teor de umidade em base seca (decimal)
é comumente usado em trabalhos de pesquisa e em cálculos específicos.

3.2.1.1. Mudança de base


Uma tabela de conversão é muito útil e precisa quando se deseja passar da base
seca para a base úmida e vice-versa, podendo ser construída por meio das seguintes
equações:

a) Passar de b.u. para b.s.

U' = [U / (100-U)].100 eq.4


em que

U = % b.u. e U'= % b.s.

Exemplo: se U = 13% b.u., qual será o valor de U' ?

U' = [13 / (100-13)].100 =14.9% ou 0,149 b.s.

b) Passar de b.s. para b.u.

U =[U' / (100 + U')].100 eq.5

Exemplo: se U' = 0,13 ou 13% b.s. , qual será o valor de U ?

U = [13 / (100 +13)].100 = 11,5% b.u.

Os problemas seguintes ilustram o emprego dos métodos b.u. e b.s. na

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 71


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

determinação da umidade contida nos grãos.

Problema no 1
Para uma tonelada de milho, inicialmente com 25% b.u. (Uo = 0,25 b.u.),
encontrar a quantidade de água a ser removida durante a secagem para 14% b.u.
Solução:
- Método A (usando base úmida)
Quantidade de água inicial = 0,25 x 1.000 kg = 250 kg

U = Pa/Pt =Pa/(pa +Pms)

Como a matéria seca permanece constante durante a secagem, tem-se:

Pms = Pt - Pa = 1000 – 250 = 750 kg

Portanto,
0,14 = Pa / (Pa + 750) ou Pa = 122 kg

Peso de água a ser removido:

Par = 250 – 122=128 kg


Peso final do produto:
Pf = Pms + Pa = 122 + 750 = 872 kg

Este resultado poderá ser obtido pela equação 6:

Pf = Pms [100 / (100 - Uf)] eq.6

Pms = 1000 - 250 = 750 kg

Pf = 750 [100 / (100 - 14)]= 872 kg

logo, (1000 - 872) kg =128 kg de água a serem removidos de 1.000 kg de grãos.

- Método B (usando base seca)


Primeiramente, faz-se a mudança de base, isto é, 25% b.u. e 14% b.u.
correspondem, respectivamente, a 33,33% b.s. e 16,28% b.s. A quantidade de água a ser
removida (AR) é igual ao peso da matéria seca, multiplicado pela diferença entre a
umidade inicial e final em base seca, dividida por 100, ou seja:

AR = [750 (33,33 - 16,28)] / 100 = 128 kg

Neste ponto, é possível mostrar a importância do conhecimento correto do teor


de umidade na comercialização dos produtos agrícolas, uma vez que vultosas somas em
dinheiro podem estar envolvidas.

72 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Problema no 2
Uma unidade armazenadora compra 1.000 toneladas de milho cujo teor de
umidade é 16% b.u., quando o ideal seria comercializar o produto com 13% b.u.
Quantas toneladas de água esta unidade armazenadora estaria comprando em
excesso?
1o - passo: Para 1.000 toneladas de milho, tem-se:

16% b.u. = (Pa / 1000).100

Pa =160 toneladas de água ou 840 toneladas de matéria seca.

2o – passo: Para que as mesmas 84o t de matéria seca se encontrassem a


13% b.u., elas deveriam possuir a seguinte quantidade de água:

13%b.u. =[Pa' / (840+ Pa')].100

Pa' = 125,5 t.

Portanto, as 1000 t de milho contêm 160 – 125,5 = 34,5 t de água em excesso,


que estão sendo comercializadas como sendo milho.
Poderíamos chegar ao mesmo resultado usando seguinte fórmula:

D =[(Ua - Uc)/ (100 - Uc)].100 eq.7


em que

D = desconto, em %;
Ua = umidade atual do produto, % b.u;
Uc = umidade de comercialização, % b.u;

Substituindo os valores do problema anterior, tem-se

D = [(16 - 13) / (100 - 13)].100 = 3,45%

Assim, se forem comercializadas 1.000 t do produto com 16% de umidade,


deveriam ser descontadas 34,5 t, relativas à quantidade de água em excesso.
Deve-se ressaltar que, além do desconto devido ao excesso de água, a unidade
armazenadora deverá cobrar, em caso de contrato, uma taxa referente à secagem dessa
água excedente.
A Tabela 1 fornece os valores médios de umidade para operações de colheita
e armazenagem para diferentes tipos de grãos, e a Tabela 2 fornece os valores de
base úmida (%) convertidos em base seca (decimal).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 73


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

TABELA 1 - Teores de umidade para colheita mecanizada e armazenagem segura,


em % b.u.

Máximo Ótimo Comum Armazenagem


Produto para para após segura
Colheita Colheita Secagem 1 Ano 5 Anos
Cevada 23 15 - 17 9 11 10
Milho 23 20 - 22 11 11 9 - 10
Arroz 21 17 - 19 11 11 - 12 9 - 11
Soja - - - 11 - 12 9 - 10
Sorgo 26 23 - 26 9 11 - 12 9 - 10
Trigo 23 15 - 17 8 12 - 13 10 - 11

TABELA 2 - Conversão de umidade base úmida (%) para base seca (decimal)

b.u. (%) b.s. b.u. (%) b.s. b.u. (%) b.s.


8 0,087 15 0,176 22 0,282
9 0,099 16 0,190 23 0,299
10 0,111 17 0,200 24 0,316
11 0,123 18 0,220 25 0,333
12 0,136 19 0,234 26 0,351
13 0,150 20 0,250 27 0,370
14 0,163 21 0,265 28 0,389

4. MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE

Há dois grupos de métodos para determinação do teor de umidade de grãos: a)


diretos ou básicos (estufa, destilação, evaporação, radiação infravermelha) e b)
indiretos (métodos elétricos, calibrados de acordo com o método-padrão de estufa ou
outro método direto).

4.1. Métodos Diretos ou Básicos


Pelos métodos diretos, a massa de água extraída do produto é relacionada com a
massa de matéria seca (teor de umidade, base seca) ou com a massa total do material
original (teor de umidade, base úmida). Apesar de serem considerados métodos-padrão,
os métodos diretos exigem muito tempo e trabalho meticuloso para sua execução. São
normalmente usados em laboratórios de análise de controle de qualidade. Os principais
são os métodos da estufa, destilação, evaporação (EDABO) e infravermelho.

4.1.1. Estufa
A determinação do teor de umidade dos grãos pelo método da estufa (sob pressão
atmosférica ou a vácuo) é feita com base na secagem de uma amostra de grãos, de
massa conhecida, calculando-se o teor de umidade através da massa perdida na

74 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

operação de secagem. A razão entre a perda de massa da amostra retirada da estufa e


sua massa original, multiplicada por 100, fornece o teor de umidade em porcentagem,
base úmida.
O tempo de secagem da amostra e a temperatura da estufa são variáveis e
dependem do tipo e das condições em que se encontra o produto e da estufa utilizada.
Para utilização do método-padrão, o leitor deve consultar o manual “Regras para
Análise de Sementes”, editado pelo antigo Ministério da Agricultura e Reforma
Agrária.
De um modo geral, quando for necessária a determinação do teor de água dos
grãos pelo método da estufa sob pressão atmosférica (Figura 4), pode-se usar os
seguintes critérios:

a) Estufa sob pressão atmosférica


- Método em uma etapa: pesar pelo menos três amostras de 25 a 30 g do produto
em pesa-filtros (Figura 4) e colocá-las em estufa a 105oC, por um período de 48 horas.
Retirar as amostras e colocá-las em um dessecador (Figura 4), até que sua temperatura
entre em equilíbrio com a temperatura ambiente, pesando-as em seguida. A média das
massas iniciais menos a média das massas finais das amostras representa a massa média
da água evaporada. Para uma massa inicial média de 25 g de grãos e uma massa final
média de 20 g, Ter-se-á:
Ma = Mi – Mf = 25 - 20 = 5 g

% b.u. = (Ma/Mi )100 = (5/25)100 = 20% b.u.

O tempo de 48 horas, antreriormente mencionado, é um dado prático que varia


conforme o tipo de grão. Para maiores detalhes sobre o método, recomenda-se
novamente o manual oficial: Regras para Análise de Sementes.

- Método em duas etapas: é utilizado para grãos com teor de umidade acima de
13% b.u.:
1a etapa: colocar amostras com 25 a 30 g de grãos inteiros em estufa a 130 oC, até
atingir teor de umidade em torno de 13% b.u. Na prática, essa operação leva
aproximadamente 16 horas. Pesada a amostra, segue-se a segunda etapa.
2a etapa: a amostra retirada na primeira etapa é moída e separada em
subamostras de 2 a 3g. Em seguida, as subamostras são mantidas em estufa a 130 oC
durante uma hora e feita a pesagem conforme explicado anteriormente.
Para demonstração, segue-se o o exemplo:
- Peso inicial da amostra = 30 g.
Na primeira etapa o peso atingiu 24 g, isto é, foram retirados 6 g de água (30 -
24 = 6 g).
O peso inicial da amostra devidamente moída é de 3 g para a segunda etapa, e,
no final da secagem, é de 2,5 g. Assim, a água extraída nesta etapa é 3 - 2,5 = 0,5 g.
Tanto na primeira como na segunda etapa, é necessário levar as amostras para o
dessecador, para que atinjam a temperatura ambiente.
Verifica-se, portanto, que foi perdido 0,5 g para a amostra de 3 g,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 75


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

correspondente a 24 g na primeira etapa.

Assim, os 24 g teriam perdido:

3 g ____ 0,5
24 g ____ X

X=(24 x 0,5 ) / 3= 4 g de água.

Portanto, da amostra inicial com 30 g, foram retirados 10 g de água, isto é, 6 g


na primeira e 4 g na segunda etapa. Daí, Ter-se-á:
% b.u. =(10 / 30 ) 100 = 33,3%

% b.s. = (10 / 20 ) 100 = 50%

Estufa Ventilada Balança para


Dessecador Laboratório

Pesa-filtro

Figura 3 – Equipamentos necessários para determinação do teor de água pelo


método de estufa

b) Estufa a vácuo
As amostras são inicialmente moídas, colocadas em estufa a aproximadamente
100 oC e mantidas sob pressão de 25 mm de Hg durante aproximadamente cinco horas.
A seguir, elas são retiradas e, como nos processos anteriores, pesadas após atingirem a
temperatura ambiente. A perda de peso representará a quantidade de água da amostra.
Calculando-se como nos casos anteriores, será obtida a porcentagem de umidade. A
estufa a vácuo não é comumente usada para a determinação de umidade de grãos.

4.1.2. Destilação
A umidade é removida pela fervura dos grãos em banho de óleo vegetal ou em
tolueno, cuja temperatura de ebulição é muito superior à da água. O vapor d'água

76 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

oriundo da amostra é condensado, recolhido, e seu peso ou volume determinado.


Há dois métodos de destilação para o caso de grãos: Tolueno e Brown-Duvel.

4.1.2.1. Tolueno
Inicialmente a amostra é moída, pesada (5 a 20 g) e destilada em tolueno à
temperatura de aproximadamente 110 oC, até perder toda a água. Na prática, essa
operação dura cerca de duas horas (Figura 5). Em muitos casos, o tolueno pode ser
substituído pelo xileno, cujo ponto de ebulição é de aproximadamente 138 oC. Ambos,
porém, apresentam o inconveniente de serem inflamáveis.

Figura 5 – Esquema do método de destilação em tolueno.

4.1.2.2. Brown-Duvel
É um dos métodos-padrão nos Estados Unidos da América. O aparelho pode ser
constituído por vários módulos e a umidade é determinada pelo processo de destilação.
Não há necessidade de moer a amostra. É muito semelhante ao método do tolueno,
porém possui um sistema termométrico que desliga automaticamente a fonte de
aquecimento.
O tamanho da amostra, a temperatura e o tempo de exposição variam com o tipo
de grão. É aconselhável, portanto, consultar o manual do aparelho, antes de executar a
determinação de umidade. A Figura 6a ilustra o funcionamento deste método.
A água é removida pelo aquecimento, até o ponto de ebulição, de uma mistura
de grãos e óleo vegetal. A temperatura de ebulição do óleo é muito superior à da água.
O vapor d’água oriundo da destilação da amostra é condensado e seu volume
determinado.
Considerando a densidade da água como 1,0 g/cm3, a massa da água retirada é
igual ao volume medido por meio de uma proveta graduada. O Brown Duvel comercial
(Figuras 6b) possui um sistema termométrico que desliga automaticamente a fonte de
aquecimento quando o óleo atinge uma temperatura específica para cada tipo de
produto.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 77


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Figura 6a - Esquema básico do método de destilação.

Figura 6b - Detalhes de dois modelos comerciais.

4.1.3. Método EDABO


Apesar dos vários tipos de determinadores de umidade (diretos ou indiretos)
disponíveis no mercado, eles são, em geral, de custos relativamente altos e muitas das
vezes os fornecedores não oferecem a devida assistência técnica. Como necessitam de
aferição ou calibração periódica, e por causa das dificuldades de operação e custo de um
sistema-padrão, foi desenvolvido o método de determinação EDABO (Evaporação
Direta da Água em Banho de Óleo), uma variação do método de destilação, de baixo
custo e de mesma precisão do método-padrão. Na Figura 6, vê-se um esquema
simplificado do método EDABO, que pode ser construído com os recursos de uma
carpintaria simples. Caso contrário, pode-se, com utensílios doméstico ou de
laboratório, termômetro e uma balança com capacidade para pesar 500 g com precisão
de 0,5 g, ou melhor, montar um sistema EDABO (Figura 7a e 7b).

78 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Para determinar a umidade por meio do EDABO, o operador deve seguir os


seguintes passos de acordo com os exemplos a seguir:

Exemplo 1: determinar o teor de umidade de um lote de café.


Solução
a) fazer amostragem correta do lote;
b) pesar 100 g do café e colocar em um recipiente com aproximadamente 10 cm de
diâmetro e 20 cm de altura, resistente a altas temperaturas, dotado de tampa
perfurada (tipo ralo), com um furo maior para inserir um termômetro graduado
até 200 °C;
c) adicionar óleo de soja até cobrir a camada de grãos;
d) pesar o recipiente + produto (grãos) + óleo + termômetro e anotar a massa inicial
(Mi);
e) aquecer o conjunto, por aproximadamente 15 minutos, até atingir a temperatura
indicada na Tabela 3 (no caso do café beneficiado, 190oC). A seguir, retirar a
fonte de calor, esperar que cesse o borbulhamento e, por pesagem, obter a
massa final (Mf); e
f) o resultado de Mi - Mf é o teor de umidade em porcentagem, base úmida.

Por exemplo, se Mi = 458,9 g e Mf = 445,4 g;


Ma = Mi - Mf = 13,5 g,
ou seja, o teor de umidade do lote é 13,5% b.u.

Figura 7 - Esquema básico de um EDABO construído em madeira.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 79


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Figura 8a - Esquema de um EDABO para laboratório com chama a gás.

Figura 8b - Sistema EDABO para três repetições com chama a álcool.

TABELA 3 - Temperatura para determinação do teor de umidade pelo método


EDABO

PRODUTO TEMP. PRODUTO TEMP.


(oC) (oC)
Feijão 175 Milho 195
Arroz em casca 200 Soja 135
Arroz beneficiado 195 Sorgo 195
Café em coco 200 Trigo 190
Café beneficiado 190

80 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Exemplo 2: representar, em decimal base seca (b.s.), o teor de umidade encontrado em


porcentagem base úmida (b.u.) no problema anterior.
Solução: De acordo com a equação 4 tem-se::
U’ (%) = ?
U (%) = 13,5%
U’(%) = [13,5/(100-13,5) ] . 100 = 15,6% ou 0,156 b.s.

Clique para ver: vídeo 1

4.1.4. Fontes de erro nos métodos diretos


Embora às vezes considerados padrões primários ou secundários, os métodos
diretos de determinação de umidade estão sujeitos a grandes variações. Entre as
principais variações estão:

- secagem incompleta;
- oxidação do material;
- erros de amostragem;
- erros de pesagem; e
- erros de observação;

A Figura 8 mostra a variação de peso durante a determinação da umidade por


um método direto. Podem-se identificar três fases distintas para ilustrar os dois
primeiros tipos de erros. A primeira fase corresponde àquela em que os grãos perdem
água gradativamente, enquanto a segunda é o fim da secagem, quando o peso
permanece constante, porque toda a " água livre" foi removida.
Prolongando-se o tempo além da segunda fase, novamente começa a ocorrer
uma queda de peso, ou seja, o material começa a oxidar. Se o processo for interrompido
na primeira ou na terceira fase, incorre-se em erro. Portanto, a interrupção deve
acontecer na segunda fase, isto é, quando não há variação no peso da amostra.
Erros de amostragem: a finalidade de uma amostra, como se verá mais adiante,
consiste em representar uma população ou um lote. Se a amostragem não for efetuada
segundo técnicas adequadas, o valor obtido não será confiável mesmo utilizando o
método mais seguro na determinação da umidade.
Erros de pesagem: a utilização de balanças inadequadas ou imprecisas conduz a
erros na determinação da umidade. Amostras ainda quentes provocam correntes de
convecção, prejudicando bastante a precisão da pesagem.
Para melhor caracterizar o valor da umidade de um produto, a pesagem das
amostras e a leitura no aparelho devem ser realizadas por uma única pessoa.
Dependendo do tipo de equipamento, uma leitura situada entre dois valores conhecidos
dificilmente terá o mesmo valor se for feita por pessoas diferentes.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 81


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Figura 8 – Variação no peso da amostra em função do tempo de secagem por


processos diretos.

4.2. Métodos Indiretos


Incluem, principalmente, os métodos elétricos. Os equipamentos classificados
nesta categoria utilizam uma propriedade do grão que varia com o seu teor de umidade e
são sempre calibrados segundo um método direto adotado como padrão oficial.
Em razão da rapidez na determinação do teor de umidade, os determinadores
elétricos ou eletrônicos são usados no controle da secagem, da armazenagem e em
transações comerciais. Estes equipamentos fornecem o valor do teor de umidade em
base úmida, ou seja, mostra a relação percentual entre a quantidade de água e a massa
total da amostra, de acordo com a equação 1.

4.2.1. Método da resistência elétrica


A condutividade elétrica de um material varia com o seu teor de umidade. No
caso de grãos, o teor de umidade (U) é inversamente proporcional ao logaritmo da
resistência que estes oferecem à passagem de uma corrente elétrica. Numa determinada
faixa, a umidade contida numa amostra de grãos pode ser dada pela equação 8.

U = K.(1 / log R ) eq.8


em que

U = teor de umidade;
K = constante que depende do material; e
R = resistência elétrica.

O circuito básico usados nos determinadores de umidade com base na resistência


elétrica e a representação gráfica da relação entre teor de umidade dos grãos e
resistência elétrica oferecida por eles são mostrados na Figura 9.
Sabe-se que a resistência elétrica de um material varia de acordo com a
temperatura e que, ao contrário dos metais, um aumento na temperatura promove
diminuição da resistência elétrica no carbono. Como os grãos são constituídos

82 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

basicamente desse material, o operador de um determinador com base no princípio da


resistência elétrica deve tomar alguns cuidados com a temperatura das amostras.
Temperaturas elevadas poderão induzir a erros (temperatura alta resulta em uma baixa
resistência elétrica, que por sua vez significa umidade elevada). Assim, torna-se
necessário fazer a correção da temperatura.
A resistência elétrica depende da pressão exercida pelos eletrodos sobre a
amostra de grãos. Quanto maior a pressão exercida sobre os grãos, menor será a
resistência elétrica que poderá influenciar o valor correto da umidade. Portanto, cada
tipo de grão, num mesmo aparelho, deverá ser submetido a uma pressão específica (ler o
catálogo do equipamento).
Geralmente, os aparelhos comerciais (Figura 10) apresentam melhores
resultados para amostras com baixo teor de umidade (10 a 20% b. u.).

Figura 9 – Esquema do método da resistência elétrica e sua variação em função do


teor de umidade.

Figura 10 – Medidor de umidade cujo princípio de funcionamento é a resistência


elétrica dos grãos.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 83


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Ao usar um equipamento que funcione com base na resistividade elétrica, os


seguintes pontos devem ser observados:

1. Consultar o manual do equipamento. Cada tipo de grão exige uma técnica


específica e a leitura não pode ser repetida com uma mesma amostra, pois esta é
danificada pelo sistema de compressão.
2. As técnicas de amostragem devem ser seguidas.
3. Observar freqüentemente o estado de limpeza dos eletrodos. Ao serem
comprimidos entre eles, os grãos deixam um resíduo que poderá prejudicar as
determinações subsequentes.
4. Ajustar periodicamente o sistema de compressão, pois ele está sujeito a
esforços relativamente elevados e, dependendo do material de fabricação, poderá sofrer
sérias avarias.
5. A leitura, em caso de amostras retiradas quentes do secador, poderá ser irreal.
Para evitar erros, é importante manter os grãos em repouso por algum tempo
(homogeneização da umidade no interior dos grãos) e esperar que sua temperatura fique
próxima à temperatura do aparelho.
6. A leitura, em caso de grãos com superfície molhada por condensação ou que
foram expostos à chuva, mostrará um teor de umidade acima do real.
7. Os determinadores de umidade devem ser avaliados periodicamente e, se
necessário, devem ser novamente calibrados com a utilização de um método direto.

4.2.2. Método do dielétrico


As propriedades dielétricas dos materiais biológicos dependem, principalmente,
de seu teor de umidade. A capacidade de um condensador é influenciada pelas
propriedades dielétricas dos materiais colocados entre suas armaduras ou placas. Assim,
determinando as variações da capacidade elétrica do condensador, cujo dielétrico é
representado por uma massa de grãos, pode-se indiretamente determinar seu teor de
umidade.
A Figura 11 mostra o esquema básico de determinadores que utilizam as
propriedades dielétricas dos grãos. A variação da capacidade dielétrica (D) e o teor de
umidade (U) dos grãos são dados pela equação 9.

U=DxC eq. 9
em que

D = dielétrico;
C = constante que depende do aparelho, do material etc; e
U = teor de umidade.

Os equipamentos baseados neste princípio (Figuras 12 a,b,c) são rápidos e de fácil


operação. Ao contrário dos sistemas por resistência elétrica, não danificam as amostras
de grãos.
Para usar corretamente um aparelho com base no princípio do dielétrico ou
capacitivo, o operador deve seguir as seguintes recomendações:

84 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

1. Como alguns aparelhos medem também uma pequena resistência oferecida pelo
material à passagem de corrente elétrica, eles são considerados mais precisos na
determinação de teores de umidade mais baixos. Este método permite determinar o teor
de umidade de grãos recém saídos do secador, porque o efeito da temperatura é menor
do que aquele observado no método da resistência elétrica.
2. As técnicas de amostragem devem ser seguidas.
3. A correção adequada da temperatura é necessária.
4. A queda da amostra na câmara, sempre que possível, deve ser feita sempre a
partir de uma mesma altura e com bastante cuidado. Existem aparelhos que são
fabricados com dispositivos automáticos para pesagem e carga de amostras.
5. Flutuações de voltagem na linha de distribuição podem prejudicar a
determinação. Portanto, os equipamentos devem ser padronizados freqüentemente, de
acordo com o manual do equipamento.
6. Os determinadores de umidade devem ser avaliados periodicamente e, se
necessário, calibrados por meio de um método direto.
7. Para cada tipo de grão existe uma tabela específica para determinação do teor
de umidade.
8. As instruções do fabricante devem ser seguidas corretamente.

Figura 11 – Esquema elétrico básico de um determinador de umidade capacitivo.

B (analógico) A (digital) C (com interface para micros)

Figuras 12 - Determinadores de umidade com base nas propriedades dielétricas


dos grãos.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 85


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

5. TEOR DE UMIDADE DE EQUILÍBRIO

O conceito Teor de Umidade de Equilíbrio é importante porque está diretamente


relacionado à secagem e armazenagem dos produtos agrícolas e é útil para determinar se
o produto ganhará ou perderá umidade, segundo as condições de temperatura e umidade
relativa do ar. Quando a razão da perda de umidade do produto para o ambiente é igual
à razão do ganho de umidade, o produto está em equilíbrio com o ar ambiente. A
umidade do produto, quando em equilíbrio com o ambiente, é denominada umidade de
equilíbrio ou equilíbrio higroscópico. A umidade de equilíbrio é, portanto, a umidade
que se observa depois que os grãos são expostos por um período de tempo prolongado a
uma determinada condição ambiental.
O teor de umidade de equilíbrio de uma amostra de grãos depende ou é função da
temperatura, da umidade relativa do ar e das condições físicas do grão. Por exemplo, o
café em coco, em pergaminho e beneficiado apresenta umidades de equilíbrio
diferentes.
A relação entre a umidade de determinado produto e a correspondente umidade
relativa de equilíbrio, para uma dada temperatura, pode ser expressa por meio de curvas
(Figura 13a). São curvas denominadas “Isotermas De Equilíbrio", porque os valores
plotados para cada uma, correspondem à mesma temperatura. Na Figura 13b, pode-se
observar a representação do fenômeno da histerese, em que se verifica que os valores do
teor de umidade de equilíbrio são diferentes para quando os grãos ganham água
(adsorção) e quando perdem água (dessorção). A velocidade de adsorção de água pelo
grão é muito mais lenta que a velocidade de dessorção, o que faz com que ocorra o
fenômeno de histerese entre a curva de secagem e o reumedecimento do produto.
A relação matemática mais empregada para representar as isotermas de equilíbrio
é dada pela equação 10:

1 - UR = exp(-C T (Ue)n) eq. 10


em que

UR - umidade relativa do ar, decimal;


exp - base do logaritmo neperiano = 2,718;
T - temperatura absoluta, oK;
Ue - umidade de equilíbrio, % b.s.; e
C e n - constantes que dependem do material.

Pela equação 10 e Figura 13a observa-se que:


- a umidade de equilíbrio é zero para umidade relativa igual a
zero;
- a umidade relativa de equilíbrio aproxima-se de 100 % quando
a umidade do produto tende para 100%; e
- a declividade da curva tende para infinito quando a umidade
tende para 100%.

Dentro de certos limites, a equação 10 permite traçar a curva de equilíbrio para

86 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

um mínimo de dois pontos. As constantes para alguns produtos agrícolas já foram


determinadas e são mostradas na Tabela 4. Na Tabela 5, encontram-se alguns valores de
umidade de equilíbrio para diferentes produtos a 25oC.
Para predizer satisfatoriamente os valores de umidades de equilíbrio para o
milho e a soja, podem ser usadas as equações 11 e 12, para milho, as equações 13 e 14,
para soja.

Ue =7,4776 UR 0,4584/lnTf eq.11

para 0 < UR ≤ 52 %

Ue =21,2198 exp(0,0146 UR)/lnTf eq.12

para 52 ≤ UR <100 %

em que
Ue = umidade de equilíbrio do milho, % b.u.;
Tf = temperatura do grão, oF; e
UR = umidade Relativa do ar, %.

Ue = 3,96 UR 0,492 /lnTf eq.13

para 0 < UR < 55%

Ue = 6,21 exp(0,0274 UR)/ lnTf eq.14

para 55 <UR <100 %

em que
Ue = umidade de equilíbrio da soja, % b.s.;
UR = umidade relativa do ar, %; e
Tf = temperatura do grão, oF.

TABELA 4 – Constantes de equilíbrio para alguns produtos (equação 10).

Produto C n
Milho 1,98x10-5 1,9
Sorgo 6,12x10-6 2,31
Soja 5,76x10-5 1,52
Trigo 10,06x10-7 3,03

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 87


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Figura 13 a - Isotermas de equilíbrio com T1>T2>T3.

Figura 13 b - Fenômeno de histerese.

TABELA 5 - Teor de umidade de equilíbrio (% b.u.) para diversos produtos, a 25oC.

Umidade Relativa (%)


Produto
20 40 60
Café beneficiado 7,0 10,0 12,0
Milho 7,1 10,0 12,4
Arroz em casca 6,5 9,4 12,2
Soja 5,3 6,9 9,7
Trigo (duro) 7,2 9,9 12,1

A relação entre o valor de Ueq e as condições do ar pode ser também representada


pela seguinte equação:

Ue = a – b {ln[-(T+c)ln UR]} eq. 15

Em que:
a, b e c = constantes que dependem do produto (Tabela 6);

88 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

T = temperatura do ar (oC);
UR = umidade relativa (decimal); e
Ue = umidade de equilíbrio (decimal, b.s.).

TABELA 6 - Constantes a, b e c para o cálculo do teor de umidade de equilíbrio de


grãos, de acordo com a equação 15.

Produto a b c
Café 0,350 0,058 50,555
Milho 0,339 0,059 30,205
Arroz em casca 0,294 0,046 35,703
Soja 0,416 0,072 100,288
Trigo (duro) 0,356 0,057 50,998

5.1. Pressão de Vapor x Umidade de Equilíbrio


Como no ar, o vapor d’água do grão exerce pressões no sentido de ocupar todos
os espaços vazios em seu interior, e, de modo semelhante, a pressão de vapor d’água do
produto pode ser determinada pela superposição dos dados de umidade de equilíbrio, no
gráfico psicrométrico (Figura 14). Assim, a umidade de equilíbrio pode ser usada para
determinação da pressão de vapor do material. Se a pressão de vapor d’água do grão for
maior do que a pressão de vapor no ar ambiente, a água será transferida do grão para o
ambiente (desorção). Inversamente, se a pressão de vapor d’água do grão for menor do
que a do ar ambiente, a água passará do ambiente para o grão (absorção).
A pressão de vapor é dada em mbar, Pa ou mmHg, dendo determinada pela
superposição dos dados de umidade de equilíbrio no gráfico psicrométrico, bastando
para isto localizar o ponto na curva correspondente à umidade do produto para a
temperatura em questão e, em seguida, fazer a leitura da pressão de vapor. Outro
método para determinar a pressão de vapor d’água do grão consiste em localizar a
umidade relativa de equilíbrio, para a umidade do produto e temperatura em questão. A
umidade relativa de equilíbrio é definida como a razão entre pressão de vapor da água
do grão e a de vapor de saturação para a temperatura especificada. Assim, pode-se
determinar a pressão de vapor de água no grão como o produto da umidade relativa de
equilíbrio pela pressão de vapor de saturação, para aquela temperatura.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 89


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Figura 14 – Gráfico psicrométrico e curvas de Ue para milho.

90 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

5.2. Determinação da Umidade de Equilíbrio


A determinação da umidade de equilíbrio é feita pela manutenção do produto em
um ambiente (uma massa de ar) cujas características psicrométricas são conhecidas ou
preestabelecidas. Dois métodos são usados para determinar a umidade de equilíbrio: o
método estático (Figura 15), em que o ar e o produto não sofrem movimentação, e o
método dinâmico (Figura 16), em que o ar e o produto são movimentados
mecanicamente para acelerar o equilíbrio.
Apesar de mais usado, o método estático necessita de vários dias ou semanas
para que a umidade do produto entre em equilíbrio com o ambiente. Neste método,
pode-se usar soluções salinas saturadas ou soluções ácidas, a diferentes concentrações,
para manter a umidade relativa desejada sob determinada temperatura.
Usando o método dinâmico, chega-se mais rapidamente ao valor da Ue. A
velocidade com que o equilíbrio é atingido vai depender da quantidade de trocas a
serem feitas para um produto em particular. Neste método, o ar é borbulhado através de
uma solução ácida ou uma solução salina saturada, que controla a umidade em torno do
produto.
Um sistema de acondicionamento de ar ou uma câmara climática podem também
ser usados. Estes são equipamentos caros e raramente disponíveis em quantidade
suficiente para realizar testes simultâneos; por isso, o meio químico de controle da
umidade é geralmente o mais usado. A solução salina saturada mantém praticamente a
mesma umidade relativa a diferentes temperaturas.
É mais fácil manter uma solução salina saturada do que tentar manter uma
solução não-saturada. Isto porque, como a água evapora, a solução permanecerá ainda
“mais saturada”, mantendo a umidade relativa constante do começo ao fim do
experimento.
Solução de ácido sulfúrico não é indicada para o controle da umidade porque
corrói facilmente as partes metálicas e é menos estável do que a solução salina saturada.
Os efeitos da variação da temperatura sobre a umidade relativa vão depender do
produto químico usado, pois, a uma dada concentração, a porcentagem de umidade
diminui com o aumento da temperatura.
O tempo necessário para atingir o equilíbrio varia de acordo com a solução e o
tamanho do recipiente e das amostras. Para obter resultados satisfatórios, é aconselhável
utilizar amostras de 10 a 15 gramas. Para rápida recuperação da umidade relativa num
recipiente (Figura 15), depois que a tampa foi removida e recolocada, é necessário que
a superfície exposta da solução seja a máxima possível. A amostra deve ficar bem acima
da solução, para evitar seu contato com o produto em caso de uma movimentação
brusca do sistema.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 91


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Figura 15 – Esquema do método estático para determinação da Ue.

Figura 16 – Esquema do método dinâmico para determinação da Ue.

6. CALOR LATENTE

Para utilização na maioria dos processos computacionais ou nas previsões dos


processos de secagem, o calor latente ou entalpia de vaporização é determinado
considerando-se a evaporação da água livre, com o uso de tabelas de vapor. O emprego
desses dados para determinar o calor latente, especialmente quando o produto é colhido
com baixo teor de umidade, apresenta erros consideráveis. Os dados da umidade de
equilíbrio podem ser usados como base para determinação do calor latente (método de
OTHMER). A equação 16 relaciona a pressão de vapor com o calor latente de
vaporização de duas substâncias (água nos produtos e vapor d'água livre).

L /L' =(log P2- logP1)/ (log P'2- LogP'1) eq.16

em que L e P representam o calor latente de vaporização da água e a pressão de vapor,


nos produtos, e L' e P' representam o calor latente e a pressão de vapor da água livre.
Linhas quase retas são obtidas quando as pressões de vapor dos produtos são
plotadas na ordenada e a pressão de vapor da água é plotada na abcissa, em papel log-

92 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

log, para cada teor de umidade (b.s.). A inclinação destas linhas, para teores de umidade
diferentes, dá a razão entre o calor latente de vaporização da água no produto e o da
água livre. Assim, esta razão (L / L') pode ser expressa em termos de teor de umidade
quando existem dados de umidade de equilíbrio do produto disponíveis para várias
temperaturas, como na Tabela 7.

L / L' = 1 + a e(b.U) eq.17

em que

a e b = constantes que dependem do produto; e


U = teor de umidade do produto, % b.s.

TABELA 7 – Valores da razão (L/L’) e das constantes (a e b) para trigo, milho e arroz
a diferentes teores de umidade.

Produto Umidade L/L’ a b


5 1,1990
10 1,1441
Trigo 15 1,0919 0,4813 -0.1343
20 1,0246

5 1,3706
10 1,2882
Milho 15 1,2133 0,5779 -0,0744
20 1,1185

12 1,1596
15 1,0845
Arroz 17 1,0543 2,1346 -0,2161
19 1,0350

7. AMOSTRAGEM

A avaliação e a apresentação de uma resposta correta sobre problemas que


envolvem análises laboratoriais sobre qualidade de grãos baseiam-se nas seguintes
atividades: preparação da amostra para análise, metodologia laboratorial apropriada ou
segundo padrões oficiais, apresentação e interpretação de resultados, quando for o caso,
e retirada de amostras representativas do lote a ser analisado. Apesar de estar citada por
último e, por questões didáticas, ser apresentada neste ponto, a retirada de uma amostra
adequada é indispensável para a execução das outras atividades.
Amostras coletadas incorretamente promoverão distorções de dados e, muitas
vezes, conseqüências desastrosas. Mesmo quando os métodos de análises e classificação

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 93


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

são utilizados corretamente, o uso de amostras tendenciosas invalidará todas as outras


operações.
Por exemplo, para determinar a umidade de um lote de grãos, toma-se uma
amostra (quantidade menor) que represente o lote, visto não ser possível fazer a
determinação de todo o conjunto. Assim, a técnica de amostragem visa conseguir,
sempre que possível, uma quantidade do material que, embora pequena, possua todas as
características médias do conjunto. Na determinação do teor de umidade de uma carga
em sacaria, se a amostra for tirada somente de um saco, na parte superior dessa carga,
possivelmente ela não será representativa, pois poderá estar influenciada pela chuva, por
ventos úmidos ou secos etc.
Portanto, quanto maior a influência do meio de transporte, distância
transportada, do tipo de embalagem, da origem do produto e do meio ambiente, mais
apurados devem ser os critérios de retirada de amostras. Em geral, os manuais oficiais
fornecem os critérios mínimos, e nada impede que critérios extras, no sentido de
melhorar a representatividade das amostras, sejam adotados.

7.1. Tipos de Amostragens


Geralmente a comercialização de grãos é feita de três maneiras distintas, segundo os
sistemas de transportes e embalagens; para isso, deve-se estabelecer o método de
retirada de amostras:
- Amostragem de cargas em sacaria: no caso de amostragem de cargas em sacaria,
recomenda-se retirar amostras de pelo menos 10% dos sacos escolhidos ao acaso,
sempre representando a expressão média de cada lote e numa porção mínima de 30
gramas em cada saco. Caso o número de sacos seja inferior a 20, todos os sacos devem
ser amostrados. Caso a amostragem seja feita em lotes de sacaria, como no caso do
produto armazenado, deve-se seguir a Tabela 8.

TABELA 8 – Amostragem de sacaria em lotes

N a N a N a
362-400 20 2402-2500 50 6242-6400 80
842-900 30 3482-3600 60 7922-8100 90
1522- 40 4762-4900 70 9802-10000 100
1600
a = número de sacos a serem amostrados.
N = número de sacos por lote

- Amostragem de cargas a granel: em vagões ou caminhões, dependendo do tamanho


(Figura 17), devem-se retirar, aleatoriamente, no mínimo cinco amostras em diferentes
pontos, podendo ser retiradas duas em cada extremidade e uma no centro, usando um
coletor de amostras próprio para o material a granel;

94 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Figura 17 – Amostragem de carga a granel em caminhões.

Amostragem em transportadores: existem diversos tipos de coletores para


serem usados durante a descarga, nos transportadores mecânicos (correia, roscas
transportadoras, elevadores etc.) e transportadores por gravidade, que periodicamente
retiram uma amostra do material em movimento. O período ou intervalo de coleta é
determinado em função do tamanho da amostra, que deve ser bem calculado. Para
transportadores de correias e transportadores por gravidade, o mais simples seria um
pequeno caneco ou um amostrador por sucção, que, em períodos determinados, retiraria
uma amostra do produto.
Para amostragem em parafusos-sem-fim, um alçapão, adaptado na parte inferior
da tubulação ou calha, abriria a intervalos regulares, permitindo a retirada de pequenas
quantidades do produto.

7.2. Equipamentos
Caladores ("Triers"): os caladores são inseridos na sacaria para retirar as
amostras. Há dois tipos principais e com diferentes tamanhos, podendo ser de corpo
único ou com corpo de dupla tubulação (Figura 18).

Figura 18 – Caladores ou amostradores para sacaria.

Amostradores para caminhões e vagões graneleiros: para vagões ou


caminhões existe um amostrador com dupla tubulação e orifícios ao longo do coletor de
amostras; a tubulação interna gira, ora abrindo, ora fechando as aberturas externas.
Encontram-se no mercado amostradores de até 3 m de comprimento, com diâmetro
próximo de 4 cm e dotado de pontas, para facilitar a introdução na massa de grãos. Em

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 95


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

alguns casos, a tubulação interna é segmentada, com a finalidade de retirar amostras em


várias profundidades da carga. A Figura 17 detalha este tipo de equipamento. Outra
característica que pode ser encontrada neste amostrador é a adaptação em forma de um
"T" na extremidade superior e um helicóide na ponta, facilitando a introdução na massa
de grãos pela torção, à semelhança de um parafuso.

Amostradores para unidades armazenadoras a granel: neste caso, o principal


tipo de amostrador consta de um cilindro metálico, cuja capacidade varia de 125 a 254
g, dotado de uma ponta na extremidade inferior, para facilitar a introdução na massa de
grãos; na extremidade superior é acoplada uma peça com rosca para encaixe de
extensões, para diferentes profundidades de amostragem.
Durante a introdução do coletor na massa de grãos, o cilindro permanece
fechado. Atingida a profundidade desejada, um pequeno movimento em sentido
contrário provoca a abertura do cilindro, possibilitando, assim, a coleta da amostra.
Como a peça acoplada à extensão é presa ao cilindro por um elo metálico, pode-se
retirá-lo com a amostra desejada (Figura 19).
Dependendo do teor de umidade dos grãos, é possível coletar amostras com até 8
m de profundidade. À medida que aumenta a altura da camada de grãos, aumenta
também a dificuldade de amostragem. Para facilitar a operação, as extensões medem
cerca de 90 cm de comprimento e possuem roscas nas extremidades.
Alguns tipos de amostradores possuem termômetros acoplados que permitem,
também, verificar a temperatura da massa de grãos nos pontos amostrados.

Figura 19 – Amostradores para armazenagem a granel ou em silos.

Alguns tipos de amostradores utilizam princípios pneumáticos (por sucção) para


coleta de amostras a diferentes profundidades (Figuras 20 e 21). Para retirar uma
amostra média a diferentes alturas de um mesmo lugar, não é necessária a introdução
repetida do coletor, pois, ao introduzi-lo uma única vez na massa de grãos, as amostras
podem ser coletadas a diferentes profundidades.
Os amostradores pneumáticos são muito criticados, por aspirarem grande
quantidade de impurezas, mascarando, assim, a avaliação da amostra.

96 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Figura 20 – Amostrador pneumático com introdução manual e com extensores.

Figura 21 – Amostrador pneumático com introdução hidráulica.

Clique para ver: vídeo 1 vídeo 2 vídeo 3 vídeo 4 vídeo 5 vídeo 6

Divisor de amostras: quando o tamanho da amostra é relativamente grande,


retiram-se amostras da amostra, sendo para isso necessário que a original seja
homogênea. Para isso, empregam-se divisores que, além de dividirem a amostra
principal em metades, promovem também a homogeneização do material.
O uso do divisor de amostras é recomendado antes que sejam efetuadas
quaisquer determinações de umidade ou outro tipo de análise.
O tipo mais comum é o divisor " Boerner" (Figura 22), que movimenta os grãos
por gravidade. É um equipamento portátil, composto por uma moega cônica, receptora
de grãos, com capacidade variável e dotada de uma válvula para controlar o fluxo de
grãos. Esta moega comunica-se com um cone de expansão, onde os grãos são
uniformemente distribuídos por uma série de células radiais, que dividem a amostra em
partes iguais e as depositam em dois recipientes na base do divisor.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 97


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Figura 22 – Divisor e homogeneizador de amostra “Boerner”.

Clique para ver: vídeo 1

7.3. Formação e Apresentação das Amostras


A amostra usada para a determinação da qualidade comercial deve refletir
fielmente todo o lote amostrado. Para isso, é necessário que a amostra a ser analisada
seja adequada, bem embalada e conservada corretamente. As amostras classificam-se
em:
1- Amostra simples: é cada pequena porção de grãos retirados por um
amostrador, em diferentes pontos da carga.
2- Amostra composta: é formada pela combinação de todas as amostras
simples retiradas do lote. Pode ser normalmente maior que o exigido para
análise, a amostra composta deve ser subdividida.
3- Amostra média: é aquela que chega ao laboratório em quantidade suficiente
para as diferentes análises.
4- Amostra de trabalho: proveniente da redução da amostra média, é usada
em cada teste a ser realizado.
5- Amostra subjetiva: é utilizada para quando o material estiver sob suspeita.

7.4. Identificação das Amostras


Primeiramente, devem ser utilizadas embalagens que garantam uma
identificação segura e conservação perfeita das amostras. As embalagens podem ou não
ser herméticas, dependendo do tipo de análise a ser feita. Por exemplo, se a amostra for
usada na determinação da umidade, ela deverá ser acondicionada em embalagem
impermeável.
As embalagens devem possuir etiquetas de identificação, onde constem, no
mínimo, as seguintes anotações: número da amostra, identificação do lote (número,
quantidade, natureza e acondicionamento), nome do proprietário do lote, responsável
pela coleta da amostra/data e local da amostragem, como mostrado a seguir.

98 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Amostra:
Identificação do lote:
Número:
Quantidade:
Natureza:
Acondicionamento:
Nome do proprietário do lote:
Responsável:
Data:

8. AFERIÇÃO E CALIBRAÇÃO DE DETERMINADORES DE UMIDADE

Uma das maiores dificuldades encontradas para a adoção e utilização


generalizada dos determinadores de umidade por meio de medidores elétricos e
eletrônicos é o fato de serem equipamentos importados, ou cópias destes, produzidos
sob licenciamento, caros e não possuem escalas calibradas para alguns tipos de grãos
produzidos no Brasil. Outro problema encontrado se refere à credibilidade nos
resultados quando o equipamento apresenta algum tipo de desajuste devido a fatores
operacionais, ambiente de armazenamento ou alguma falha no sistema de alimentação,
dentre outros. Assim, torna-se necessária uma aferição e, em alguns casos, uma
calibração da escala reserva ou uma escala específica para determinar a umidade de um
tipo de grão em particular.
Mesmo obedecendo a todos os critérios operacionais indicados pelo fabricante,
dificilmente serão obtidos resultados semelhantes quando houver diferenças
significativas na composição química e nas características físicas entre determinadas
variedades de uma mesma categoria de grãos. Como exemplo, pode ser citado o caso do
feijão e do arroz, que apresentam grande variabilidade entre classes.
Além de acarretar problemas durante todas as fases do pré-processamento, uma
medição incorreta do teor de umidade implicará em perdas financeiras e de
credibilidade do pessoal responsável pelo setor de classificação de uma empresa. Por
tudo isso ou por um possível desajuste do equipamento, exigem-se avaliações que
permitam maior confiabilidade nos dados. Para tal, sugere-se que, periodicamente, o
operador faça medições de amostras com teores de umidade conhecidos e com o mesmo
tipo de grão a ser trabalhado. Constatados desvios absolutos superiores a 0,5 ponto
percentual, deve-se providenciar um ajuste ou uma nova calibração do equipamento em
uma instituição especializada.

8.1. Métodos de Calibração de uma Escala de um Determinador Indireto de


Umidade
Nos equipamentos em que a determinação de umidade é feita de forma indireta,
há necessidade de uma de calibração para cada tipo de produto segindo o seguinte
roteiro:
a) determinar o tamanho e o número de amostras necessários, segundo as

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 99


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

características do equipamento;
b) estabelecer a faixa de umidade desejada para calibração;
c) preparar material, embalagem e condições de armazenagem;
d) estabelecer e preparar as condições laboratoriais;
e) determinar o teor de umidade por meio de um método-padrão;
f) determinar a equação de correlação ou tabelas, usando dados de umidade
obtidos com o equipamento e com o método-padrão; e
g) calcular o fator de correção devido à temperatura.

No preparo do material na faixa de umidade desejada, deve-se ter o cuidado de


utilizar grãos colhidos e trilhados manualmente. O material original deve ser divido em
lotes e secado à sombra ou com ar a baixas temperaturas, na faixa de umidade desejada.
Por exemplo, se for estabelecida uma escala para a faixa de 10 a 20% de umidade, seria
conveniente estabelecer lotes com a umidade entre 8 e 22% com variação aproximada
de dois pontos percentuais.
Uma equação de correlação, por meio de um método estatístico, deve ser
estabelecida com os valores determinados pelo equipamento cuja escala se quer calibrar
e pelo método-padrão adotado. Caso estes pontos sejam plotados num sistema de
coordenadas (valores lidos na escala x teor de umidade-padrão) e caracterizarem uma
reta, por exemplo (equação 18 ), os valores a e b da equação podem ser facilmente
obtidos do diagrama traçado.

Y = ax + b eq.18

8.2. Equipamentos Necessários


Além de uma sala com temperatura e umidade relativa controladas em torno de
20oC e 60%, respectivamente, os seguintes materiais são necessários:
- manual de instrução do equipamento;
- determinador de umidade;
- um método oficial para determinar o teor de umidade real, como estufa, destilador ou
outros, com os respectivos acessórios;
- balança com precisão mínima de 0,5 g;
- termômetros;
- refrigerador;
- produto limpo, manualmente colhido e trilhado e com diferentes teores de umidade; e
- embalagens.

8.3. Calibração
Antes de iniciar a calibração propriamente dita, o operador deverá observar as
técnicas de amostragem e conhecer e manejar corretamente o equipamento cuja escala
será calibrada. Instruções mais completas poderão ser fornecidas pelo fabricante do
equipamento. Além disso, os seguintes procedimentos deverão ser observados:

- para calibrar uma escala qualquer, ou uma escala reserva (alguns equipamentos
apresentam uma escala e que não é definida para um determinado tipo de grão), devem

100 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

ser feitas, pelo menos, cinco determinações para cada teor de umidade;
- para evitar erros grosseiros e para facilidade de cálculos, todas as amostras em teste
devem ser conservadas em temperatura constante durante as determinações de
umidade, exceto aquelas destinadas às medições para correção de temperaturas;
- as amostras não devem conter material estranho;
- o método-padrão a ser usado deve ser o analítico, aceito para o material em teste.

8.4. Operacionalização dos Testes


Para a execução dos testes, os seguintes passos devem ser obedecidos:

1 - Verificação do tamanho da amostra, segundo característica do equipamento.


2 - Coleta da amostra:
a) obter o máximo de amostras, conforme a necessidade de calibração. Um
número menor que 50 amostras prejudicará a precisão do trabalho e
dificultará uma possível análise estatística;
b) cada amostra deve ter tamanho suficiente para todas as operações e eventuais
confirmações de resultados (aparelho e método-padrão);
c) o teor de umidade da amostra deve ser bem uniforme e estar alguns pontos
percentuais acima e abaixo dos limites estabelecidos para o trabalho de
calibração; e
d) as amostras a serem usadas devem ser pesadas com precisão mínima de 0,5g
e trabalhadas num mesmo dia. Por meio de um termômetro inserido na
amostra, obtém-se melhor indicação da temperatura desta.

3 - Determinações na amostra-teste:
a) anotar a temperatura da amostra, quando ela estiver em equilíbrio com o
ambiente, e proceder às determinações. Pelo menos cinco leituras, feitas de
cada amostra na escala reserva do dial, deverão ser anotadas, conforme a
Tabela 9; e
b) determinar a umidade pelo método-padrão, usando pelo menos três
repetições, e anotar os valores também como no exemplo da Tabela 9.

TABELA 9 - Leituras feitas na escala reserva e a umidade pelo método padrão

No da Temp. Leituras feitas no aparelho Método-


amostra oC padrão
1 2 3 4 5 Média
1 30 46,3 45,7 46,0 45,5 46,5 46 14,2
2

4 - Notas sobre a correção devido à temperatura:


a) para cada amostra, a leitura obtida na escala reserva do dial varia de acordo
com a temperatura dessa amostra;
b) dois gráficos são necessários para relacionar porcentagem de umidade e
leitura na escala reserva, ou seja, o primeiro gráfico correlaciona a leitura

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 101


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

feita na escala reserva com a porcentagem de umidade, para uma temperatura


de referência, conforme o método adotado; o segundo gráfico fornece a
correção decorrente da temperatura, que é função da diferença entre a
temperatura da amostra e a temperatura de referência;
c) a correção é adicionada ou subtraída do teor de umidade obtido na
temperatura de trabalho, obtendo-se o teor de umidade corrigido para a
temperatura de referência (em geral 22 oC); e
d) se a temperatura da amostra coincidir com a temperatura de referência,
nenhuma correção será necessária.

5 - Método para relacionar leitura da escala e temperatura:


a) selecionar pelo menos cinco amostras com diferentes teores de umidade;
b) pesar estas amostras e inserir os termômetros em cada uma delas (evitar que
sejam influenciadas pelo ambiente);
c) colocar as amostras e o medidor numa sala ou câmara, mantendo a
temperatura controlada. Calibrações na faixa de 5 oC a 45 oC podem ser
necessárias;
d) as leituras nos aparelhos serão feitas a cada incremento de 10 oC, desde que
as amostras estejam em equilíbrio com a temperatura ambiente, como, por
exemplo, 5, 15, 25, 35 e 45oC;
e) usando os dados de cada amostra, construir uma tabela semelhante à Tabela
10;
f) construir um gráfico tendo, na abscissa, a temperatura e, na ordenada, a
leitura do dial para cada amostra, conforme mostra a Figura 23;
g) a inclinação de cada linha define K como fator de correção;
h) em geral, os valores de K são independentes da umidade, no caso de as
linhas apresentadas na Figura 23 serem praticamente paralelas.
i) quando as linhas fogem significativamente do paralelismo, para cada
incremento de 2 pontos no teor de umidade, deve-se usar um valor diferente
de K;
j) se os valores de K estiverem distribuídos bem próximos ao valor médio, este
será usado para corrigir todos os valores de umidade lidos para a temperatura
de referência, como segue:
- leitura do medidor à temperatura de referência (TR) = leitura do medidor à
temperatura T +K(TR - T), quando a temperatura T da amostra for menor
que TR;
- leitura do medidor à temperatura de referência (TR)=leitura do medidor à
temperatura T - K(T - TR), quando a temperatura T da amostra for maior
que TR.

102 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

TABELA 10 – Dados (imaginários) para obtenção da relação entrem a leitura do dial e


a temperatura.

Temp. Leitura do dial do aparelho


o
C 1 2 3 4 5 Média
5
15 40,1 40,3 40,1 39,9 40,1 40,1
25
35 43,1 43,3 43,1 42,9 43,1 43,1

6 - Traçado da curva de calibração:


a) os dados das colunas (4) e (5), na Tabela 11, são plotados usando-se um
sistema de eixos coordenados, o qual tem como abscissa a leitura da escala à
temperatura de referência e como ordenada a porcentagem de umidade;
b) como resultado, obtém-se uma série de pontos dispersos e, usando os
métodos gráfico ou estatístico, constrói-se uma linha que melhor se ajuste a
estes pontos (Figura 24).

7 - Tabela final de dados:


a) Método gráfico: muitas vezes a relação entre leitura da escala e teor de
umidade real é linear. Neste caso, pode-se construir uma linha reta entre os
pontos obtidos. Esta aproximação pode ser aplicada para relacionar a leitura da
escala reserva ao teor de umidade (Figura 24). A figura mostra a dispersão dos
pontos em relação à reta que passa entre eles. A equação desta linha é y = a x +
b, que, sendo resolvida para a temperatura de referência, levará aos valores
necessários à elaboração da tabela de calibração da escala.Embora raramente
ocorra, a ligação dos pontos pode não fornecer uma linha reta; neste caso, é
necessário trabalhar os dados para encontrar o ponto de deflexão (Figura 25),
traçar os segmentos de reta e trabalhar por faixa. Pode-se também, por meio de
métodos estatísticos, ajustar uma equação não-linear para corrigir o valor
encontrado à temperatura de referência.
b) Método estatístico: para obter melhor ajustamento da linha reta entre os
pontos, o método mais usado é o dos quadrados mínimos. Usando os dados da
Tabela 9, podem-se calcular as constantes a (inclinação) e b (intercessão da reta
com a ordenada) e escrever a equação da reta y = ax + b, com a qual constrói-se
o quadro de calibração da escala.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 103


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Tabela 11 – Dados finais (imaginários) de leitura do determinador de umidade

No Temp. Leitura média Leitura Umidade


o
Amostra C 5 corrigida padrão
determinações devido à temp. %
1 40 46,0 45,1 14,0
2 40 45,7 44,9 13,3
3 - - - -

Figura 23 – Determinação do fator de correção K.

104 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

Figura 24 – Traçado da linha de calibração.

Figura 25 – Traçado da linha com deflexão.

8 - Determinação dos valores da tabela de calibração:


a) com os valores lidos na nova escala, a correspondência porcentual de umidade
pode ser obtida substituindo-se o valor da escala reserva (x) na equação de
calibração.
b) admitindo-se que, tanto pelo método gráfico quanto pelo método estatístico, a
equação da reta seja Y =0,2X + 8, pode-se escrever

Up = (0,2 DD + 8) eq.19

em que

Up = umidade pelo método-padrão (%);


DD = divisões do dial da escala reserva.
c) as duas colunas da tabela de calibração podem ser encontradas, substituindo
as leituras da escala na equação 18 e resolvendo esta equação para cada um
dos valores lidos;
d) por exemplo, lendo o valor 50 na escala do dial e resolvendo a equação,
obtém-se Up = 0,2 x 50 +8 Up = 18%;
e) a tabela de calibração para a temperatura de referência deve conter todas as
leituras da escala na faixa das umidades consideradas; e
f) uma segunda tabela de calibração deve ser feita para obtenção do valor
correto de umidade para a temperatura de referência, a partir da porcentagem
de umidade correspondente à temperatura atual da amostra; o fator de
correção K independe da porcentagem de umidade, caso em que as linhas
são paralelas (Figura 23).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 105


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

A constante será determinada em porcentagem de umidade por grau Celsius (%


U/ oC). Esta constante de correção do teor de umidade decorrente da temperatura é igual
ao produto de K por a. A constante K relaciona a leitura do dial com a temperatura e
também com a porcentagem de umidade.

CT = K.a = % U / oC eq. 20

CT =(DD /oC )x (% U/ DD) = % U / oC eq. 21

em que

K =DD/ oC; e
a =% U/DD

Tomando como exemplo a = 0,20 (porcentagem de umidade por divisão do dial)


e K = 0,29 (divisão do dial por oC), obtém-se:

CT =0,29 x 0,20 = 0,058 % U/ oC

Correção do teor de umidade para a temperatura de referência:

TR = CT (T - TR), para TR <T eq.22

Correção do teor de umidade para a temperatura de referência:

TR = CT (TR - T), para TR >T eq.22

A tabela para correção decorrente da temperatura é construída colocando-se a


temperatura da faixa desejada, por exemplo 1 a 40oC, em uma coluna, e a correção da
porcentagem de umidade é calculada para cada temperatura e colocada na segunda
coluna (Tabela 12).

Tabela 12 – Exemplo da correção da umidade devido à temperatura.

Temperatura ( oC) Correção da percentagem de umidade


1 +4,50
2 +4,44
3 +4,38
- -
- -
- -
Temp. de referência 0,0

106 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 4 Indicadores de Qualidade

9. LITRARURA CONSULTADA

1. BAKKER-ARKEMA, F.W. Grain quality and management of grain quality


standard. Porto Alegre, FAO Technical Symposium on Grain Drying and Sorage
in Latin America, 1993. 7p. (Paper , I-02)
2. BAKKER-ARKEMA, F.W.; BROOK, C.R.; LEREW, L.E. Cereal grain drying. In:
ADVANCES in cereal science and technology. St. Paul, Pomeranz, American
Association of Cereal Chemists,1978. 90 p.
3. BAKKER-ARKEMA, F.W.; RODRIGUEZ, J.C.; BROOK, R.C.; HALL, G.E. Grain
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5. BROOKER, D.B.; BAKKER-ARKEMA, R.W.; HALL, C.W. Drying and
storage of cereal grains and oilseeds. New York. AVI Publishing, 1992. 450 p.
6. CHRISTENSEN, C.M. & KAUFMANN, H.H. Grain storage. Minneapolis,
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Pré-processamento de produtos agrícolas, Juiz de Fora, Instituto Maria,1995.
509p.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 107


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Capítulo

5
SECAGEM E SECADORES

Juarez de Sousa e Silva


Adriano Divino Lima Afonso
Sérgio Maurício Lopes Donzelles
Roberta Martins Nogueira

1. DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA

A secagem é uma das etapas do pré-processamento dos produtos agrícolas que


tem por finalidade retirar parte da água neles contida. É definida como um processo
simultâneo de transferência de calor e massa (umidade) entre o produto e o ar de
secagem. A remoção da umidade deve ser feita em um nível tal que o produto fique em
equilíbrio com o ar do ambiente onde será armazenado e deve ser feita de modo a
preservar a aparência, a qualidade nutritiva e, no caso de grãos, a viabilidade como
semente.
Para entender adequadamente os fundamentos da secagem de grãos e o controle
das técnicas, o leitor deve, primeiramente, ter conhecimento dos princípios de
psicrometria (capítulo 3 - Princípios Básicos de Psicrometria), teor de umidade e
umidade de equilíbrio (capítulo 4 - Indicadores da Qualidade dos Grãos) e, em seguida,
noções sobre quantidade e movimentação do ar (Capítulos 10 e 11).
A importância da secagem de produtos agrícolas aumenta à medida que cresce a
produção, devido às seguintes vantagens:
- permite antecipar a colheita, disponibilizando a área para novos cultivos;
- minimiza a perda do produto no campo;
- permite armazenagem por períodos mais longos, sem o perigo
de deterioração do produto;
- o poder germinativo é mantido por longos períodos; e
- impede o desenvolvimento de microrganismos e insetos.

2. PRINCÍPIOS GERAIS DA SECAGEM

Durante a secagem, a retirada da umidade é obtida pela movimentação da água,


decorrente de uma diferença de pressão de vapor d'água entre a superfície do produto a

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 109


Capítulo 5 Secagem e Secadores

ser secado e o ar que o envolve (Figura 1). A condição para que um produto seja
submetido ao processo de secagem é que a pressão de vapor sobre a superfície do
produto (pg) seja maior do que a pressão do vapor d'água no ar de secagem (par). As
seguintes observações podem ser feitas:
1 - se pg > par: ocorrerá secagem do produto;
se pg < par: ocorrerá umedecimento do produto; e
se pg = par: ocorrerá o equilíbrio higroscópico.
2 - A velocidade de secagem de um produto depende, além do sistema de
secagem utilizado, das características de secagem do grão individualmente. Em geral,
para os grãos pequenos, a velocidade de secagem é maior que para grãos de grandes
dimensões. Grãos desprovidos das camadas protetoras (sementes nuas) secam mais
rapidamente do que aqueles que apresentam a estrutura integral. Os grãos de milho, por
serem maiores que os de arroz e trigo, secam mais lentamente. Por outro lado, apesar de
apresentarem tamanho comparável, os grãos de arroz em casca secam mais lentamente
que os de trigo. Da mesma maneira, pode-se fazer comparações com os grãos de café.
Se não forem convenientemente separados por estado de maturação, tamanho e
condição física semelhantes, dificilmente se terá um produto final (café beneficiado)
que apresente secagem homogênea e mesmo ponto de torra.
Para efeito de comparação, apresentam-se, na Figura 2, as velocidades relativas de
secagem de dois tipos de grãos, submetidos à determinada condição de secagem. Grãos
de mesma características, com menores dimensões e com menor conteúdo de umidade
possuem menores velocidades relativas de secagem. Outro fenômeno verificado nos
produtos agrícolas é a velocidade da absorção de água pelo grão, que é muito mais lenta
do que na dessorção.

Figura 1- Representação da movimentação da água durante a secagem.


Vel. relativa de secagem

215

165
milho
115
trigo
65

15
14 19
Umidade %
Figura 2 - Velocidades relativas de secagem para milho e trigo.

110 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Existem várias hipóteses para a movimentação da água durante a secagem, e a


mais aceita é a do movimento capilar (gargalo). Segundo esta, o processo de secagem
que ocorre no interior do produto pode ser dividido em dois períodos, um denominado
período de razão constante e outro de período de razão decrescente que, por sua vez,
pode ser caracterizado por mais períodos, como apresentado a seguir:
a) Período de razão constante: quando o produto se encontra completamente
úmido, no início da secagem, a água escoa, na fase líquida, sob um
gradiente hidráulico (Figura 3) e, em condições naturais, à temperatura do
produto se iguala à temperatura de bulbo molhado de um psicrômetro,
instalado bem próximo do produto. Com a secagem ou a retirada da
umidade, ocorre decréscimo no diâmetro dos poros e capilares e,
conseqüentemente, decréscimo no volume do produto, aproximadamente,
igual ao volume da água evaporada. A energia utilizada para a secagem
nesse período é praticamente igual à necessária para evaporação da água em
uma superfície livre. Com exceção dos cafés (cerejas e verdes) recém-saídos
do lavador, este período não é observável em produtos agrícolas, como
grãos, porque, ao serem colhidos, este período já ocorreu no campo,
estando, portanto, a secagem no período de razão decrescente.

Figura 3 – Representação da movimentação da água de um produto no período de


razão constante.

b) Primeiro período de razão decrescente: à medida que a secagem


prossegue e tenha passado pelo ponto de umidade crítica, estagio físico em
que a água contida no produto deixa de comportar-se como água livre, o teor
de água decresce e a água na fase líquida faz a ligação entre as partículas
sólidas (produto), formando a de pontes líquidas. Apesar de poder ocorrer
escoamento de água na fase de vapor, o escoamento é predominantemente
capilar (Figura 4). A temperatura do produto atinge valores superiores à
temperatura de bulbo molhado.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 111


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 4 - Movimentação da água durante o primeiro período de razão


decrescente.

c) Segundo período de razão decrescente: a água existente nos gargalos dos


poros pode migrar, arrastando-se ao longo das paredes capilares ou
evaporando e condensando, sucessivamente, entre as pontes líquidas (Figura
5). A pressão parcial de vapor decresce e a contração de volume do produto
continua, porém em menor intensidade.

Figura 5 - Movimentação da água durante o segundo período de razão decrescente.

d) Terceiro período de razão decrescente: a secagem ocorre no interior do


produto. A umidade de equilíbrio do grão é atingido quando a quantidade de
água evaporada se iguala à quantidade condensada (Figura 6).

112 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 6 - Movimentação da água durante o terceiro período de razão decrescente


ou durante o equilíbrio higroscópico.

3. SISTEMAS DE SECAGEM

Devido à inexistência de uma classificação oficial e apenas por questões


didáticas, os métodos de secagem serão classificados e estudados segundo a seqüência a
seguir:

Natural – no campo, na própria planta


Terreiros e paióis
Ventilação Secagem Solar
Natural Outros
Ar Natural
Camada fixa
Cruzados
Concorrentes
Quanto Contra-correntes
Sistemas
Altas aos fluxos Cascata
de
Temperaturas Rotativo
secagem Artificial Ventilação
Fluidizado
Forçada
Solar híbrido
Quanto à Intermitentes
operação Contínuos
Baixas Temperaturas
Sistemas Combinados
Seca-aeração
Convecção

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 113


Capítulo 5 Secagem e Secadores

A secagem natural é caracterizada pela secagem do produto no campo, na


própria planta, sem a interferência do homem.
A secagem artificial é caracterizada pela utilização de processos manuais ou
mecânicos tanto no manejo do produto quanto na passagem do ar através da massa de
grãos. No caso do terreiro e do paiol, a secagem ocorre pela ventilação natural (ação dos
ventos), mas na maioria dos casos o ar é forçado por meio de ventiladores. Em alguns
secadores o ar de secagem é movimentado por meio de correntes convectivas.
Na secagem com ventilação forçada, podem-se empregar baixa temperatura, alta
temperatura, secagem combinada e outros.
Secagem em baixas temperaturas é um método artificial de secagem em que se
utiliza ar natural ou ar levemente aquecido (até 10 oC acima da temperatura ambiente).
A secagem com alta temperatura é aquela em que o ar de secagem é aquecido a
uma temperatura superior a 10oC acima da temperatura ambiente. Este limite não é
rígido, mas esta é a diferença que caracteriza o processo como não sendo mais de baixa
temperatura.
A secagem combinada consiste em utilizar secadores em altas temperaturas na
fase em que o produto apresenta-se com umidade elevada. A partir de uma umidade
preestabelecida, que é função das condições ambientais, o produto é transferido, ainda
quente, para um sistema de baixa temperatura, onde a secagem será completada.
Na secagem por convecção natural, o secador é alimentado por um sistema que
utiliza alta temperatura, sendo necessários trocadores de calor entre o ar de combustão e
o ar de secagem. Nos secadores por convecção não são usados ventiladores. O ar
atravessa a massa de grãos por diferença de densidade (ver Secagem de Cacau).

4. SECAGEM NATURAL

A secagem natural é um método amplamente utilizado em regiões tropicais


subdesenvolvidas e/ou em desenvolvimento. Várias razões justificam essa utilização,
como o desconhecimento de técnicas mais modernas pela maioria dos agricultores.
Normalmente, as condições climáticas nestas regiões permitem a secagem natural; além
disso, os investimentos para realizá-la são mínimos.
O início do processo de secagem ocorre logo após a maturação fisiológica do
produto, quando este apresenta elevado teor de umidade. A movimentação do ar é feita
pela ação do vento e a energia para evaporação de umidade provém do potencial de
secagem do ar e da incidência direta da energia solar.
Embora, com o passar do tempo, alcance um teor de umidade adequado para
armazenagem, o produto fica sujeito ao ataque de pragas, ao tombamento de plantas e às
intempéries, que contribuem para acarretar grandes perdas e qualidade do produto. Uma
grande desvantagem da secagem natural no campo é que ele fica ocupado por muito
tempo, retardando as operações de preparo do solo para novo cultivo. No caso de
culturas perenes como o café, o retardamento da colheita provoca um ciclo bianual de
produtividade. Além de facilitar o desenvolvimento e ataque de pragas, o trabalho de
colheita fica dificultado, e, no caso de colheita mecânica, o baixo teor de umidade do
produto faz com que, durante a colheita e a debulha, apareçam grandes quantidades de
danos mecânicos e perdas no campo.

114 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Como não é técnica aconselhável e pouco utilizada na produção comercial da


maioria dos grãos, não será objeto de estudo neste livro.

5. SECAGEM ARTIFICIAL

Na secagem artificial existe a interferência do homem, acelerando e melhorando


o processo. Ela pode ser feita com ventilação natural, ventilação forçada e convecção
natural.

5.1. Ventilação Natural


a) Secagem em terreiro: difere da secagem natural simplesmente pelo fato de o
produto ser retirado da planta e espalhado em camadas de espessura, geralmente,
inferior a 5 cm em um pátio previamente preparado, que pode ser de concreto, asfalto,
alvenaria ou de terra batida, denominado terreiro (Figura 7). A energia utilizada para a
remoção da umidade é proveniente da radiação solar e da entalpia do ar. No Brasil, além
do café, o produto de maior expressão que utiliza esse método de secagem é o cacau.
Maiores detalhes sobre a secagem em terreiros e suas variações serão vistos nos
capítulos 7 e 17 (Secagem de Grãos com Energia Solar e Secagem e Armazenagem de
Produtos Agrícolas, respectivamente).
A secagem em terreiros apresenta a desvantagem da dependência dos fatores
climáticos, que, se forem desfavoráveis, retardam o processo e propiciam a infecção do
produto por microrganismos que causam a deterioração e depreciam o produto.

Figura 7 – Vista geral de um terreiro de concreto para secagem de café.

5.2. Ventilação Forçada


A secagem de grãos em silos com ventilação forçada utilizando apenas ar natural
ou com baixa temperatura é um processo lento. A baixa velocidade de secagem é devida
ao pequeno fluxo de ar insuflado na massa de grãos e à dependência da capacidade de
secagem do ar em estado natural. Por ser realizada em silo, é também entendida como
secagem durante o armazenamento, pois, após a secagem, o produto pode permanecer
armazenado no mesmo silo.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 115


Capítulo 5 Secagem e Secadores

O silo secador-armazenador (Figura 8a, b) apresenta algumas características


especiais que não são exigidas para os silos empregados apenas para a armazenagem: o
piso deve ser todo de chapas metálicas perfuradas, com no mínimo 15% de área
perfurada, para promover a distribuição uniforme do ar; e o ventilador deve fornecer
quantidade de ar suficiente para realizar a secagem de toda a massa de grãos sem que
ocorra a deterioração. As dimensões do silo (diâmetro e altura) e o produto a ser
armazenado determinam a potência do ventilador a ser usado.
Como a pequena quantidade de ar por unidade de massa de grão torna o
processo lento e baixas temperaturas do ar diminuem a capacidade de evaporar a água
do produto, o processo é dificultado em regiões de alta umidade relativa. Algumas vezes
utilizam-se fontes suplementares de aquecimento (resistência elétrica, fornalha, energia
solar, entre outras) para contornar este problema, que pode, no entanto, provocar uma
supersecagem que resulta em prejuízo para o usuário. Este problema pode ser
solucionado pela adaptação de um umidistato e de um termostato ao plenum, para
controlar o funcionamento da fonte de aquecimento.
Normalmente, na secagem com ar natural, o potencial de secagem do ar
ambiente e o pequeno aquecimento provocado pelo ventilador (2 a 3 oC) são suficientes
para propiciar a obtenção do teor de umidade final recomendado para um
armazenamento seguro. Sistemas de secagem com ar natural e em baixas temperaturas
devidamente projetados e manejados são métodos econômicos e tecnicamente
eficientes.
A secagem com ar natural ou com baixa temperatura inicia-se na camada
inferior do silo e vai progredindo até atingir a última camada, na parte superior. Durante
este período distinguem-se três camadas ou faixas de umidade (Figura 8).
A primeira faixa ou subcamada é formada por grãos secos. Nessa faixa, o
produto já atingiu o equilíbrio com o ar de secagem e todos os grãos apresentam o
mesmo teor de umidade, que é conhecido como teor de umidade de equilíbrio.
Só ocorrerá secagem adicional, nessa subcamada, se a umidade relativa do ar
abaixar muito em relação à média desejável (60% para o café) por tempo prolongado.
Valores abaixo de 60% são muito freqüentes em regiões de cerrado, por ocasião da
colheita do café, as soluções para evitar supersecagem do produto será fornecida mais
adiante.
Na segunda faixa, denominada frente de secagem, ainda ocorre a transferência
de umidade do produto para o ar. A espessura dessa faixa varia, geralmente, entre 30 e
60 cm e depende das condições estabelecidas para o projeto (fluxo de ar, condições
ambientais e do produto).
A terceira faixa é formada pelos grãos que ainda não passaram pelo processo de
secagem, ou seja, toda a terceira faixa tem o teor de umidade equivalente ao da umidade
inicial, pois, ao passar por essa camada, o ar está com sua capacidade de secagem
esgotada. A temperatura, nesta camada, é inferior à temperatura do ar no plenum (ar de
secagem), uma vez que o ar é resfriado devido à troca de calor com o produto na frente
de secagem.
O cálculo da vazão do ar de secagem e a escolha dos equipamentos devem ser
feitos com muito cuidado. A vazão deve ser tal que permita à frente de secagem
alcançar as camadas superiores sem ocorrência de deterioração. As Figuras 9 mostra o

116 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

tempo permissível armazenamento (TPA) para que o produto (milho), com diferentes
teores de umidade, permaneçam no processo de secagem à baixa temperatura sem que
ocorra durante o tempo de secagem.

a b
Figura 8 – Silo para secagem com ar natural ou com baixa temperatura,
mostrando a frente de secagem (FS).

Figura 9 – Diagrama de Steele e Saul, para conservação do milho.

5.3. Manejo e Recomendações para Ventilação em Silos Secadores


a) Utilizar um ventilador com fluxo de ar de acordo com o teor de umidade
inicial dos grãos, conforme Tabela 1.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 117


Capítulo 5 Secagem e Secadores

b) Para o carregamento adequado de um silo com milho ou café despolpado


com teor de umidade de 18% ou 20% b.u., oriente-se pela Tabela 2.

TABELA 1 - Fluxo de ar em função da umidade inicial do produto

Produto Umidade Inicial Fluxo


(%, base úmida) (m de ar.min-1m-3 de grão)
3

Milho, feijão e arroz 18 - 20 1,5


Café coco 20 -22 2,5
Café despolpado 20 - 22 1,5

TABELA 2 - Formas de carregamento do silo para secagem com ar natural e com baixa
temperatura

Diâmetro e Umidade Inicial vs Fluxo de Ar


Capacidade do Silo 18% b.u. vs. 0,7 m3/min.m3 20% b.u. vs. 1,5 m3/min.m3
por metro de carga Carga Tempo Potência Carga Tempo Potência*
(m3/m) (m) Secagem * (m) Secagem (c.v.)
** (dias) (c.v.) (dias)
D=4,5 m 4 19 0,5 3 12 1,5
16,2 m3/m 5 19 1,0 4 12 4,0
6 19 2,0 5 12 7,0
D=5,5 m 5 20 2,0 3 13 1,5
23,1 m3/m 6 20 3,0 4 13 5,0
7 20 5,0 5 13 10,0
4 20 1,0 2 13 0,5
D=6,5 m 5 20 2,0 3 13 2,0
33,0 m3/m 6 20 4,0 4 13 6,0
7 20 6,0
* Para potências superiores a 3 c.v., recomenda-se a utilização de ventiladores centrífugos.
** Recomenda-se atingir a altura estabelecida em, no máximo, três dias.

5.4. Formas de Carregamento do Silo


O carregamento do silo, durante a secagem com ar natural ou com baixa
temperatura, pode ser conduzido de três modos, conforme a disponibilidade do sistema
operacional implantado:

a) Enchimento em uma etapa: consiste em carregar o silo em até cinco dias,


tempo relativamente curto, uma vez que, dependendo das condições atmosféricas, este
método demanda períodos superiores a 25 dias para o término da secagem.

Vantagens:
- pouca exposição aos danos próprios da manipulação (danos mecânicos),
devido à pouca movimentação do produto;

118 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

- custos operacionais reduzidos em regiões de baixa umidade relativa;


- demanda de pouca mão-de-obra; e
- o recebimento do produto não fica condicionado ao andamento da secagem
do material existente no silo.

Desvantagens:
- devido ao longo período de secagem, as camadas superiores correm o risco de
deterioração quando mantidas com altos teores de umidade (Tabela 3),
podendo, em alguns casos, ocorrer condensação de água, agravando ainda
mais o problema;
- risco de supersecagem nas camadas inferiores, quando utilizada fonte
suplementar de aquecimento sem um controle adequado; e exige
acompanhamento constante durante a secagem.

TABELA 3 - Números de dias permitidos para secagem sem deterioração do milho

Temperatura Umidade do produto (% b.u.)


( oC ) 16 18 20 22 24 26 28 30
10 150 75 50 30 20 15 10 7
15 70 40 25 15 10 7 4 2
20 40 25 15 10 7 4 2 1
25 30 20 12 8 5 3 2 1

b) Enchimento por camadas: O processo está condicionado ao teor de umidade


final do produto. Uma nova camada só é adicionada se a última já estiver, praticamente,
em equilíbrio com o ar de secagem ou já seca. Procede-se dessa maneira até atingir a
altura-limite estabelecida pela capacidade do silo e pelo fluxo do ar de secagem
(Tabelas 1 e 2). Assim, as primeiras camadas colocadas na célula podem apresentar
maior teor de umidade inicial, devido ao fato de receberem maiores fluxos de ar de
secagem. Inversamente, as últimas camadas adicionadas deverão apresentar menores
teores de umidade inicial.
A quantidade de produto a ser colocada de cada vez dependerá da velocidade de
deslocamento da frente de secagem, do teor de umidade inicial dos grãos e da
temperatura do ar que entra da zona de secagem.
Este método exige mais de um silo secador para o bom andamento da colheita.
Mais adiante, será descrito o método dos sete silos para a secagem do café.
Vantagens:
- secagem mais rápida, quando comparada ao método de enchimento em uma
etapa;
- menor risco de deterioração; e
- o fluxo mínimo necessário é inferior ao do método de enchimento em uma
etapa.
Desvantagem:
- requer maior atenção no controle do processo de secagem.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 119


Capítulo 5 Secagem e Secadores

c) Camada única: consiste em carregar o silo com camada única de até 1,0 m de
espessura e realizar a secagem. Esse processo é bastante parecido com o de secadores de
camada fixa para café sem aquecimento do ar e revolvimento do produto. A diferença
entre este e o método anterior de carregamento é que, no método de camada única,
retira-se a camada seca para depois realizar o novo carregamento. Este método é mais
utilizado para produtos de elevado valor comercial ou para aqueles que não suportam a
pressão devido ao peso da camada.

Vantagens:
- secagem rápida de cada uma das camadas;
- menores riscos de deterioração durante a operação de secagem; e
- maiores fluxos de ar por tonelada de produto do que os métodos
anteriores.

Desvantagens:
- equipamentos menos eficientes; e
- maior demanda de mão-de-obra.

5.5. Movimentação do Produto no Silo


Conforme a movimentação do produto, pode-se dividir o processo de secagem
com baixas temperaturas com camada estática ou com revolvimento da camada:

a) Processo estático: nesta operação, o produto não é movimentado durante o


processo e observam-se as três regiões distintas na massa de grãos, conforme
visto na Figura 8.
b) Revolvimento do produto esta operação geralmente é associada à secagem
em regiões de umidade relativa média inferior a 60% ou onde há necessidade
de aquecer o ar de secagem para acelerar o processo. Nessas condições, os
gradientes de umidade e temperatura estabelecidos na massa de grãos são
maiores, podendo ocorrer supersecagem da massa de grãos. Para solucionar
o problema, a frente de secagem deve ser destruída por meio de helicóides
nus, que fazem o revolvimento do produto no interior do silo,
homogeneizando e elevando as camadas inferiores secas para a parte
superior. O esquema de um equipamento revolvedor (stirring device) é
apresentado na Figura 10. O equipamento misturador é formado por uma ou
mais roscas verticais, que se movimentam radialmente do centro para a
parede do silo e vice-versa, misturando o produto verticalmente. Além de
possuir custo elevado e de perder parte da capacidade estática do silo para a
adaptação do sistema, esse equipamento pode causar o indesejável
descascamento do café despolpado.

120 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 10 - Silo com equipamento para revolvimento do produto.

Vantagens:
- maior rendimento para o mesmo volume de produto e maior fluxo de ar
do que o método de enchimento em uma etapa;
- menor risco de deterioração do que os métodos anteriores; e
- eliminação do gradiente de umidade quando se usa temperatura elevada.
Desvantagens:
- maior manipulação do produto do que em todos os métodos estáticos, o
que pode provocar maior índice de produto com danos mecânicos;
- maior investimento inicial e maior custo operacional do que no método
estático;
- sobrecarga do equipamento sobre as paredes e o piso do silo; e
- acúmulo de materiais finos no centro do silo.

Outra maneira de se obter o revolvimento do produto consiste no uso de


recirculadores de grãos (Figura 11). Esses equipamentos removem os grãos das camadas
próximas ao piso e os colocam no topo da massa. O teor de umidade da camada a ser
removida é função de sua temperatura. A camada de grãos é removida à medida que a
frente de secagem é parcialmente formada. Assim, a frente de secagem não se
estabelece completamente junto à sua superfície inferior, e o grão não atinge o
equilíbrio com o ar de secagem. A zona de secagem permanece estacionária, com os
grãos úmidos movimentando-se para baixo. Este sistema será melhor detalhado, quando
for tratado dos sistemas de secagem a altas temperaturas.
Vantagens:
- maior rendimento para o mesmo volume de produto e fluxo de ar do que
o método de enchimento em uma etapa;
- menor risco de deterioração do que os métodos anteriores; e
- eliminação do gradiente de umidade.
Desvantagens:
- maior manipulação do produto do que em todos os métodos estáticos, o

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 121


Capítulo 5 Secagem e Secadores

que pode provocar maior índice de produto com danos mecânicos;


- maior investimento inicial e maior custo operacional do que no método
estático;
- sobrecarga do equipamento sobre as paredes e o piso do silo; e
- acúmulo de materiais finos no centro do silo.

Figura 11 – Silo equipado com recirculador de grãos.

5.6. Operação e Monitoramento da Secagem


O tempo de funcionamento do ventilador durante o processo de secagem
depende do teor de umidade do produto no silo e do clima da região. É recomendável
manter o ventilador ligado continuamente quando o produto estiver com teor de
umidade inicial superior a 16%, mesmo à noite. Embora a umidade relativa seja alta, o
fato de a temperatura ser baixa promove o resfriamento da massa de grãos. O ar, ao
retirar calor dos grãos, eleva sua temperatura e diminui a umidade relativa, e,
dependendo desta, pode promover a secagem dos grãos mais úmidos. Caso a umidade
dos grãos seja inferior a 16%, o ventilador deverá permanecer ligado até o final da
secagem, desde que a umidade relativa média seja inferior a 75%.
No caso de regiões mais úmidas (UR>75%), o ventilador deverá permanecer
ligado somente durante as horas em que a umidade relativa for baixa (período diurno).
O monitoramento do processo de secagem consiste na inspeção diária da
temperatura e umidade da massa de grãos, para verificar se o produto está seco e/ou em
processo de deterioração.
No caso da secagem com ar levemente aquecido (secagem com baixas
temperaturas), deve-se, ao final do processo, insuflar ar natural para obter o
resfriamento da massa de grãos.

5.7. Duração da Secagem


O tempo de secagem, dependendo do sistema, pode ser reduzido elevando-se a
temperatura do ar de secagem ou sua vazão. Na secagem em silo, com ar natural, o
aquecimento do ar praticamente não altera a velocidade de deslocamento da frente de
secagem, podendo, ainda, gerar dois problemas: supersecagem nas camadas inferiores e
aceleração do processo de deterioração nas camadas superiores (condensação). Em

122 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

geral, o aquecimento do ar só é recomendado para regiões onde o potencial de secagem


do ar natural é insuficiente para atingir o teor de umidade final desejado.
Em análise mais detalhada da Tabela 2, pode-se verificar que o aumento da
vazão do ar exerce maior influência sobre o tempo de secagem. Sabe-se que a
velocidade de deslocamento da frente de secagem é diretamente proporcional à vazão
específica. Entretanto, em locais com alta umidade relativa, o aumento da vazão não é
suficiente para o sucesso da secagem, pois essa variável não tem influência sobre o
potencial de secagem do ar. Por exemplo, uma região com umidade relativa média de
70% deixará o café em condições seguras; contudo, a umidade final estará acima da
desejada para comercialização. Dessa forma, a fim de comercializar o produto, ele
deverá passar por um sistema de secagem que possa reduzir a umidade de
armazenamento até a umidade de comercialização.

5.8. Considerações
Como será visto mais adiante, um sistema de secagem em silo, com ar natural,
devidamente projetado, é econômico, eficiente e apresenta alta aplicabilidade na
secagem do café cereja descascado. Quando construído com recursos locais, o sistema
de secagem em silos apresenta menor investimento inicial, quando comparado aos
sistemas de terreiros ou secadores convencionais de altas temperaturas.
Em secagem de sementes, os métodos que usam baixas temperaturas são
empregados em substituição àqueles com altas temperaturas, por resultarem em melhor
qualidade final do produto. A Figura 4 ilustra um secador para sementes com
modificação do sistema de distribuição do ar de secagem. Esse sistema foi, no passado,
utilizado por alguns cafeicultores para armazenagem do café sob aeração. Neste
sistema, o ar é insuflado radialmente através da massa de grãos.
As principais limitações dos métodos de secagem com ar natural (fluxo vertical
ou radial) são o teor de umidade inicial do produto e as condições climáticas locais.
Altos teores de umidade inicial do produto aumentariam a susceptibilidade à
deterioração, enquanto condições atmosféricas desfavoráveis implicariam a utilização
de ventiladores e aquecedores mais potentes, inviabilizando economicamente o método.

Figura 11 – Silo-secador para sementes, mostrando a distribuição radial do fluxo


de ar.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 123


Capítulo 5 Secagem e Secadores

6. SECAGEM COM ALTAS TEMPERATURAS

A secagem por este processo baseia-se na propriedade pela qual, aumentando-se a


temperatura do ar úmido, a umidade relativa diminui e, conseqüentemente, a capacidade
do ar em absorver umidade aumenta (veja Capítulo 3, Princípios básicos de
psicrometria). Geralmente, o ar é forçado a passar através da massa de grãos ou do
produto a secar, por meio de um ventilador. Depois de entrar em contato com o produto,
o ar deixa o secador com uma temperatura mais baixa e uma umidade relativa mais
elevada. A teoria sobre secagem pode ser vista mais adiante (Capítulo 6, Estudo da
Secagem em Camada Espessa).
A secagem artificial com altas temperaturas é uma técnica muito utilizada em
fazendas, indústrias de transformação, unidades armazenadoras-coletoras e
intermediárias do mundo inteiro. Entretanto, o uso de secadores mecânicos a altas
temperaturas tem ficado restrito às regiões de maior desenvolvimento agrícola, visto que
o investimento inicial em alguns desses equipamentos foi, até recentemente, proibitivo
para pequenos produtores. Maia adiante, ainda neste capítulo, será mostrado alguns
tipos de secadores que foram projetados, especialmente, para atender a pequena
agricultura.
Dentre os métodos de secagem artificial, a secagem com altas temperaturas é a
mais rápida e independente das condições climáticas locais. Normalmente, o fluxo de ar
utilizado depende do tipo de secador, sendo geralmente superior a 10 m3.Min. -1t-1.
Como em outros sistemas de secagem, os seguintes parâmetros podem influenciar a taxa
de secagem:
- temperatura e umidade relativa do ar ambiente;
- temperatura e fluxo de ar de secagem;
- umidade inicial do produto;
- fluxo do produto no secador e outros.
Estes parâmetros influenciam diretamente a velocidade de secagem, como um
conjunto de fatores interdependentes, e o bom manejo, permitem dimensionar e
gerenciar as condições específicas de secagem.

6.1. Classificação dos Secadores com Altas Temperaturas


Nos sistemas de secagem com alta temperatura, os secadores podem ser
classificados de acordo com a relação entre os movimentos do produto e do ar de
secagem, em:

a) Secador de Camada Fixa Horizontal: na secagem em camada fixa, o


produto permanece num compartimento de fundo perfurado, por onde passa o ar de
secagem, insuflado por um ventilador. Normalmente a secagem em leito fixo é feita em
silos, independentemente da forma ou do material de construção, providos de piso
perfurado, semelhantes aos usados na secagem com baixas temperaturas.
Na secagem em camada fixa, a temperatura do ar de secagem é muito superior à
temperatura do ambiente (acima de 10 oC) e a camada de produto é geralmente inferior
a 1,0 m. Um ventilador, devidamente dimensionado, acoplado a uma fonte de
aquecimento, faz parte deste sistema.

124 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Com o objetivo de diminuir o custo de implantação de um sistema de secagem


em camada fixa, os componentes metálicos podem ser substituídos por uma construção
em alvenaria (Figura 12), permitindo que a tecnologia fique acessível a um grande
número de pequenos e médios agricultores. Outro aspecto interessante desse secador é
sua versatilidade. Além de ser usado para secar grãos e sementes em geral, milho em
espiga, café (de todas as formas), feijão em rama, raspa de mandioca etc. O secador é,
também, usado para a produção de feno e desidratação de cana-de-açúcar para picada.
Dependendo do tipo e forma do material, a altura da camada de produto pode variar.
Para grãos em geral, a altura da camada deve se inferior 0,6 m. Altura acima desta faixa
poderá acarretar problemas, como o alto gradiente de umidade que se forma entre as
camadas inferiores e superiores do produto.
O secador em camada fixa, modelo UFV, é de operação simples e a massa de
grãos ou sementes deve ser revolvida, manualmente, com auxílio de pás, em intervalos
regulares de duas horas, para maior uniformidade na secagem (Tabela 4). Como o
secador tem capacidade estática para sete toneladas e que uma batelada de gãos pode ser
preparada em sete horas (para café saído dolavador, o tempo de secagem é de,
aproximadamente, cinqüenta horas), o secador em pauta pode, também, ser usado para
secagem comercial de pequenos produtores de sementes (milho, arroz feijão e soja). Por
exemplo, uma bateria de três secadores pode secar facilmente 40 toneladas de semente
de soja por dia em dois turnos de trabalho.
Quando trabalhando com sementes de feijão ou de soja, o operador deve ter o
cuidado para que a temperatura do ar de secagem nunca ultrapasse 40oC e que umidade
relativa ar não seja inferior a 40%.
Vantagens:
- menor custo operacional;
- baixo investimento inicial;
- o armazenamento poder ser feito no próprio silo secador, quando se
utiliza o silo convencional adaptado como secador de camada fixa; e
- fácil construção.
Desvantagens
- alto gradiente de umidade ao longo da camada de grãos; e
- baixa capacidade de processamento devido ao fato de a espessura da
camada ser inferior a 0,6 m.

Figura 12 - Vista geral de um secador de camada fixa (modelo UFV).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 125


Capítulo 5 Secagem e Secadores

TABELA 4 - Parâmetros de secagem para o secador de camada fixa modelo UFV ou


silo secador com baixa temperatura.

PRODUTO FINS TEMP. FORMA CAMADA REVOLVIMENTO*


(oC) (cm)
Milho Semente 40 Espiga 100 não há
Consumo 60 Granel 40 120
Semente 45 Rama 60 30
Feijão Semente 40 Granel 40 60
Consumo 45 Granel 40 120
Arroz Semente 40 Granel 40 60
Consumo 45 Granel 40 120
Soja Semente 40 Granel 50 60
Consumo 45 Granel 60 120
Café Consumo 50 Cereja 50 180
Consumo 50 Coco 40 180
* intervalo entre revolvimentos (min)

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b) Secador em Camada Fixa Vertical (Coluna) e Secador de Fluxos
Cruzados: nestes secadores, o produto permanece em colunas verticais construídas em
chapas perfuradas e são submetidos a um fluxo de ar que é perpendicular à camada do
produto. Quando os grãos estão em movimento, o secador é chamado de fluxos
cruzados. A Figura 13 mostra o esquema de funcionamento dos secadores de fluxos
cruzados (a) e um modelo que pode trabalhar também de forma contínua (b). Já a Figura
14 representa o corte de um secador de fluxos cruzados mostrando os seus detalhes e
Figura 15 mostra um conjunto de secadores de fluxos cruzados com recirculação do
produto, muito utilizado para café. A parte do secador acima do telhado (Figura 15)
constitui a câmara de repouso.
Vantagens:
- alta capacidade de secagem;
- facilidade de manuseio e operação; e
- baixo custo inicial.
Desvantagens:
- maior risco de superaquecimento do produto;
- alto consumo de energia;
- desuniformidade de secagem quando trabalhando de forma contínua ou
em camada fixa; e
- baixa eficiência de secagem.

126 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 13 – Esquemas de funcionamento de um secador de fluxos cruzados que


pode operar de forma contínua.

Figura 14 - Corte de um secador de fluxos cruzados mostrando os seus detalhes.

Figura 15 – Conjunto de secadores de fluxos cruzados com recirculação do


produto.

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Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 127


Capítulo 5 Secagem e Secadores

c) Secador de Fluxos Contracorrentes: a secagem em fluxos contracorrentes


foi, primeiramente, realizada em silos secadores (Figuras 10 e 16) em que grãos e ar de
secagem movimentam-se em sentido contrário. Neste secador, a frente de secagem
permanece sempre próxima ao fundo perfurado do silo. À medida que ocorre a
secagem, o produto seco é conduzido para o centro por um transportador helicoidal que
varre toda a seção transversal do silo. Uma segunda rosca retira o produto, conduzindo-
o para a parte superior ou então para um silo armazenador, passando a funcionar de
forma contínua. Assim, a massa de produto tem sentido descendente, enquanto o ar é
insuflado em sentido ascendente. A ativação do sistema de movimentação do produto é
coordenada por um termostato colocado a, aproximadamente, 0,5 m acima da chapa
perfurada. A escolha da temperatura de acionamento do termostato é função da umidade
final desejada.
Nos silos secadores de fluxos contracorrentes, à medida que a massa de produto
vai descendo, sua temperatura é aumentada, atingindo valores muito próximos aos da
temperatura do ar de secagem. Para evitar danos ao produto, a temperatura de secagem
não deve ultrapassar 70oC.
O secador em fluxos contracorrentes, em torre, utiliza o sistema de aquecimento
e ventilação abaixo dos tubos de exaustão do ar de secagem (Figura 17). Este sistema
foi desenvolvido na UFV e pode, como outros tipos de secadores, ser construído com o
máximo de recursos encontrados no mercado local. Como é de desenho bastante
simplificado, o sistema de torre pode ser construído em chapas metálicas, alvenaria ou
madeira. A utilização de madeira apara o corpo do secador, fica limitada á temperatura
máxima de secagem.
Vantagens:
- alta eficiência energética;
- menor tempo de exposição ao ar de secagem; e
- menor susceptibilidade a danos mecânicos.
Desvantagem:
- maior custo de manutenção, quando se utiliza um sistema com silo-
secador.

Figura 16 – Sistema de armazenagem com silo-secador em fluxos contracorrentes.

128 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 17 – Secador de fluxos contracorrentes modelo UFV.

d) Secador de Fluxos Concorrentes: nos secadores de fluxos concorrentes o


ar aquecido encontra o grão frio e úmido e fluem ambos na mesma direção e sentido,
através da câmara de secagem. Nesse tipo de secador Omo no anterior, todos os grãos
componentes da massa a ser secada são submetidos ao mesmo tratamento. Um secador
de fluxos concorrentes é caracterizado pelo alto fluxo de ar com pressão estática
relativamente baixa. Devido à ausência de paredes perfuradas e ser construídos com
poucas partes móveis e de modo semelhante ao secador de fluxos contracorrentes
(modelo UFV), o secador em pauta (Figura 18), exige, apenas, limpezas periódicas e
reparos eventuais .

Figura 18 – Secador de fluxos concorrentes modelo UFV.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 129


Capítulo 5 Secagem e Secadores

As trocas intensas e simultâneas de calor e massa entre o ar de secagem e o


produto, na entrada de ar quente do secador, causam rápida redução da temperatura
inicial do ar, assim como no teor de umidade do produto. No final da câmara de
secagem, onde ocorre à exaustão do ar, o produto está mais seco e a uma temperatura
inferior à temperatura inicial do ar de secagem. Em razão disso, é possível usar o ar de
secagem com temperaturas relativamente altas sem causar danos ao produto como
acontece com outros tipos de secadores. O fato de a secagem ocorrer em um ambiente
com umidade relativa moderada, favorece a redução da quantidade de produto com o
endosperma trincado (Figura 19) que, ao serem manuseados, podem produzir um grande
número de quebrados.

Figura 19 – Semente com endosperma seriamente trincado

A temperatura máxima do ar quente em secadores de fluxos concorrentes depende,


em primeiro lugar, do fluxo de grãos através do secador e, em menor grau, do tipo de
grãos e do teor de água inicial (BAKKER-ARKEMA et al., 1984).
Se o fluxo de massa aumenta em um secador, o produto final será, em geral, de
melhor qualidade. Por outro lado, haverá aumento no consumo específico de energia e
diminuição da eficiência de secagem, porque os grãos que passam pelo secador, com
maior velocidade, perdem menor quantidade de água por unidade de tempo
(DALPASQUALE et al., 1991).
A redução gradual da temperatura do grão devido ao fluxo de ar úmido contribui
para a excelente qualidade dos grãos obtidos em secadores de fluxo concorrente.
Observa-se, assim, elevada eficiência térmica de secagem e maior uniformidade da
qualidade final do produto nesse tipo de secador, quando comparado com os secadores
convencionais de fluxo cruzado, tornando crescente o interesse por secadores de fluxos
concorrentes, principalmente nos Estados Unidos da América.
A Figura 20 demonstra as características do processo de secagem em fluxo
concorrente em que, a temperatura do grão e a temperatura do ar de secagem são
plotadas em função da profundidade da camada de grãos no estádio de secagem.

130 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figuras 20 - Curvas das temperaturas do ar do produto em um estádio do secador


de fluxos concorrentes

Os secadores de fluxos concorrentes apresentam a vantagem de se pode utilizar


altas temperaturas do ar de secagem, que originam altas velocidades de secagem sem
aquecer excessivamente os grãos. Neste tipo de secagem, o consumo específico de
energia pode ser tão baixo como 4.000 kJ kg-1 de água evaporada.
Vantagens:
- melhor qualidade final do produto;
- maior capacidade de secagem;
- alta eficiência energética; e
- baixo custo de instalação e manutenção, quando é utilizado apenas um
estádio.
Desvantagens:
- alto custo de construção, quando se opera com mais de um estádio; e
- maior risco de incêndio devido à utilização de altas temperaturas.

Uma variação muito interessante e, recentemente, desenvolvido nos laboratórios


da UFV, em parceria com a EMBRAPA–Café, foi o secador de fluxos concorrentes
com um sistema pneumático para carga, revolvimento e transporte do produto. O
modelo mostrado na Figura 21, tem capacidade para 2.500 L de café cereja descascado
e foi construído em módulos para compor um “kit” de fácil transporte e montagem pelo
usuário.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 131


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 21 - Secador de Fluxos Concorrentes (UFV/CBP&D –Café)

Fazem parte do “kit”: moega de homogeneização ou principal (módulo 1),


conjunto de moegas (módulo 2), câmara de descanso/secagem (módulo 3a) e câmara de
secagem (módulo 3b), coifa (módulo 4), duto de transporte pneumático (módulo 5),
moega de recepção de grãos (módulo 6) e ventilador. Além do baixo custo de
construção/montagem e da alta eficiência energética, uma das grandes vantagens do
secador em pauta é a sua capacidade de trabalhar com qualquer quantidade de grão, ou
seja, carga máxima ou com uns poucos sacos de grãos.

Clique para ver: vídeo 1

e) Secador em fluxos (concorrentes/contracorrentes): incluindo os dois


sistemas, anteriormente descritos, o projeto foi desenvolvido por PINTO (1994) e
modificado por SILVA et al. (2001), teve como finalidades a redução do consumo de
energia na secagem de café e a possibilidade da utilização de dois sistemas de secagem
em um único secador (Figuras 22a / 22b). O secador modificado foi avaliado na
secagem café despolpado, com pré-secagem em terreiro. Os resultados (simulados) para
café cereja mostraram que, para a redução do teor de umidade de 30 para 12% b.u., os
consumos específicos de energia foram de 6.068; 5.657; e 5.685 kJ, por kg de água
evaporada, capacidades de secagem de 200, 287 e 358 kg de café úmido por hora e
tempos de secagem de 22,5; 15,7; e 12,6 h, para as temperaturas de secagem de 80, 100
e 120 oC, respectivamente. Considerando-se que as diferenças entre os consumos
específicos de energia foram pequenas, optou-se por avaliar o secador na secagem do
café cereja descascado sob temperatura de 75 oC, com o ar sendo aquecido por fornalha

132 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

com aquecimento indireto. O consumo específico de energia foi de 10,3MJ.kg-1 de água


evaporada para secando o produto de 32 e 13% b.u.

a b
Figura 22 - Detalhes (a) e vista geral (b) de um secador de fluxos mistos.

f) Secador em Cascata ou de Fluxos Mistos: é constituído por uma série de


calhas invertidas em forma de V, dispostas em linhas alternadas paralela ou
transversalmente, dentro da estrutura do secador (Figura 23). Neste secador, o produto
movimenta-se para baixo e entre as calhas, sob ação da gravidade.
O ar de secagem entra numa linha de calhas e sai nas outras imediatamente
adjacentes, superiores ou inferiores. Com isso, ao descer pelo secador, o produto é
submetido à ação do movimento do ar de secagem em sentido contracorrente, cruzado e
concorrente. Muito difundido no Brasil, estes secadores, quando bem projetados,
utilizam fluxos de ar menores que aqueles empregados em secadores contínuos de
fluxos cruzados.
Em um outro modelo de secador de fluxos mistos, as calhas, que podem ser retas
ou circulares, são abertas e dispostas uma sobre as outras. Esse tipo de secador é muito
usado para secagem de arroz. Neste caso, o produto passa por dentro das calhas (Figuras
24a e 24b). Como no caso anterior, o produto estará sob a ação do fluxo de ar nas três
formas, isto é, cruzado, concorrente e contracorrente.
Vantagens:
- alta eficiência energética; e
- alta capacidade.
Desvantagens:
- alto custo inicial; e
- podem poluir o meio ambiente.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 133


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 23 - Secador de fluxos mistos ou em cascata com calhas alternas.

Figura 24 a – Detalhes de um secador em cascata com calhas circulares.

134 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 24 b – Secador comercial, tipo cascata, com calhas circulares.

g) Secador Rotativo: este secador é formado por um cilindro tubular horizontal


ou ligeiramente inclinado que gira em torno de seu eixo longitudinal a uma velocidade
compreendida entre 1 e 15 rpm. No caso de um secador contínuo, o produto úmido
chega à parte mais elevada do tambor através de um transportador e sai na parte mais
baixa por gravidade. O ar de secagem é introduzido no tambor no mesmo sentido ou no
sentido contrário à trajetória do produto, em caso de secadores inclinados.
Um tipo muito comum e utilizado como pré-secador ou secador para café
constitui-se de um tambor horizontal não-inclinado, com o ar de secagem sendo injetado
numa câmara situada no centro deste tambor, o qual atravessa a massa do produto em
sentido perpendicular ao eixo do secador (Figuras 25 e26).
Vantagens:
- para alguns produtos como, o café em coco, favorece a limpeza do produto;
- uniformidade de secagem.
Desvantagens:
- baixa eficiência energética;
- alto custo de investimento; e
- o produto fica sujeito a danos na camada protetora.

Considerando que os secadores rotativos tradicionais são amplamente difundidos


para a secagem de café no Brasil, foi proposta e desenvolvida uma adaptação para o
projeto do secador rotativo que pudesse eliminar algumas das desvantagens do modelo
tradicional e que permitisse:

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 135


Capítulo 5 Secagem e Secadores

- usar o secador com material recém-saído do lavador sem a necessidade de


passar pelo terreiro, ou seja, usar o secador rotativo como pré-secador/secador sem os
problemas de entupimento das chapas perfuradas;
- usar o secador rotativo com menor quantidade de grãos que a recomendada ou
com carga parcial. n projeto tradicional, a utilização de carga menor que a recomendada,
acarreta grande perda de energia e aumenta o tempo de secagem;
- reduzir o custo de energia elétrica sem a necessidade de movimentar
constantemente o cilindro secador;
- manter a secagem homogênea, como no secador tradicional, e facilitar a
secagem por meio de uma câmara de descanso; e
- para o café pergaminho, reduzir o número de grãos descascados por impactos
dentro do secador (grãos beneficiados ou parcialmente descascados secam mais
rapidamente do que o grão com pergaminho intacto).
O protótipo do secador rotativo idealizado (Figuras 27, 28, 29 e 30), além de
permitir a solução dos problemas citados, tem o seu projeto básico facilmente adaptado
aos secadores rotativos tradicionais, já em funcionamento.
Baseado no esquema apresentado na Figura 27 e em função de um convênio
celebrado entre a Pinhalense e a UFV, SANTOS et al (2006) modificou e comparou o
desempenho de um secador original com o de um secador modificado (Figura 31) e
trabalhando sob as mesmas condições, verificou-se que, além de ter atendido aos
objetivos da modificação, o segundo produziu o mesmo tipo de café e apresentou
redução significativa no consumo total de energia (elétrica e térmica).
As modificações técnicas realizadas foram propostas para reduzir as perdas de
energia, através do maior fluxo de ar no terço superior do secador, causado pela
crescente redução de volume dos grãos durante a secagem. Além do fechamento da
metade superior da chapa perfurada, a carambola interna ou sistema difusor de ar
quente, sofreu as modificações como mostrado na Figura 32.

Figura 25 – Secador rotativo com tambor horizontal, para secagem em lotes.

136 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 26 – Secador rotativo da Pinhalense Máquinas Agrícolas

Figura 27 – Protótipo do secador rotativo com giro intermitente.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 137


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 28 – Esquema básico do protótipo do secador rotativo intermitente

Figura 29 – Detalhes internos do protótipo mostrando a distribuição de ar

Figura 30 – Vistas internas: superior (a) e inferior (b) do protótipo sem a chapa
perfurada externa

138 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 31 - Secador rotativo comercial modificado .

(a) (b)
Figura 32 – Detalhe da carambola difusora antes (a) e após modificação
(b)realizada por Santos et al (2006)

Clique para ver: vídeo 1

h) Secador por Convecção Natural: o ar, movimentando-se por convecção


natural, é uma alternativa para solucionar os problemas de secagem do pequeno
produtor que não dispõe de energia elétrica, pois este tipo de secador dispensa o uso de
ventiladores e pode ser construído com materiais facilmente encontrados em mercados
locais e mão-de-obra pouco especializada para a sua construção. A Figura 33 mostra o
esquema básico de um secador por convecção natural. Este tipo de secador utiliza um
trocador de calor para transferir o calor recebido dos gases de combustão de uma
fornalha para o ar de secagem que entra lateralmente, por meio de aberturas na parte
inferior das paredes do secador. O movimento do ar que atravessa a massa de produto se
deve à diferença de pressão produzida pela diferença de temperatura entre o ar de
secagem e o ar ambiente. O secador por convecção natural tem as seguintes
características:
• Dispensa o uso de ventiladores.
• Baixo custo inicial de implantação.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 139


Capítulo 5 Secagem e Secadores

• Mão-de-obra pouco especializada para construção.


• Eficiência térmica inferior à dos secadores com ventilação forçada.
• Projeto inadequado da câmara pode provocar desuniformidade de
temperatura e do fluxo de ar.
• Riscos de contaminação do produto pela fumaça, caso haja perfurações ou
vazamentos no trocador de calor.
No entanto, quando bem dimensionados e construídos, os problemas são
minimizados.

Figura 33 – Corte longitudinal de um secador por convecção natural.


.
i) Secador de Leito Fluidizado: neste secador, o ar de secagem atravessa uma
placa perfurada, provocando turbulência no produto que se encontra sobre ela. Quando
o produto começa e continua a flutuar sobre a placa ou atinge a velocidade terminal,
aproximadamente, o conjunto passa a ser denominado leito fluidizado.
A intensidade do fluxo de ar deve ser tal que supere a velocidade terminal do
produto, provocando turbulência e carreando o produto. Não é um secador comumente
utilizado na secagem de produtos agrícolas, devido à baixa capacidade de secagem e à
elevada potência exigida, para que o ventilador provoque a turbulência e transporte o
produto.

6.2. Classificação Quanto à Operação

a) Secadores Contínuos: nesta categoria de secadores, o grão fica


constantemente sob a ação do calor, até que seu teor de umidade atinja um valor
desejado. Dessa forma, há um fluxo constante de produto no interior do secador e,
simultaneamente, há grãos úmidos entrando, grãos em fase de secagem e grãos secos e
frios sendo descarregados (Figura 23 b). A secagem ocorre, geralmente, em duas etapas

140 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

bem definidas. Na primeira etapa, a massa de grãos é atravessada por um fluxo de ar


quente, que tem por finalidade a secagem propriamente dita, e, na segunda, o produto é
atravessado por um fluxo de ar com temperatura ambiente, que tem como finalidade
resfriá-lo.
O produto passa por um mecanismo de regulagem de fluxo que determinará o
tempo de exposição ao ar de secagem, também denominado tempo de residência. A
secagem contínua é indicada para grande quantidade de produto e tem como vantagem a
redução do tempo total de secagem, devido à eliminação da operação de carga e
descarga do secador. Por outro lado, durante a secagem em fluxo contínuo, ocorre uma
diferença entre a umidade localizada na superfície e aquela no interior do grão. A
superfície que está em contato direto com o ar seca mais do que a parte central. Para o
arroz, por exemplo, se essa diferença for muito grande, poderá provocar trincas no grão
e resultar em grande número de grãos quebrados.
No caso da secagem de sementes em geral, torna-se difícil operar os secadores
contínuos, uma vez que a temperatura do ar de secagem deve ser menor do que aquela
utilizada para grãos.

b) Secadores Intermitentes: nestes, o produto passa várias vezes pelo interior


do secador antes de completar a secagem. Assim, o grão sofre a ação do calor durante
pequenos intervalos de tempo, intercalados por períodos de repouso, ou seja, a massa de
grãos não entra em contato com o ar aquecido durante esse período.
Nestes secadores, a quantidade de água removida por unidade de tempo de
secagem é consideravelmente maior do que na secagem é contínua. O rendimento da
secagem aumenta porque o ar quente encontra a periferia dos grãos com teor de
umidade mais elevado, em virtude da migração desta do centro para a periferia, durante
o descanso do produto. Esta redistribuição de umidade, além de facilitar a secagem,
diminui a possibilidade de ocorrência de trincas devido à diminuição das tensões
internas no grão.
Quando o número de passagens do produto pelo secador é muito grande, a
capacidade nominal do secador diminui proporcionalmente. Entretanto, esta capacidade
pode ser aumentada quando o secador é carregado com outro lote de grãos, durante o
período de descanso. Geralmente, estes secadores são constituídos por duas colunas de
secagem e por um depósito colocado acima destas colunas. A altura da coluna e o fluxo
de grãos não permitem a secagem do produto se este passar apenas uma vez pelo
secador. O depósito possibilita que o produto fique em repouso antes de cada passagem
pela coluna de secagem. Os secadores de fluxos representados pelas (Figuras
17,18,21,22 e 24) projetados na são classificados como secadores intermitentes. Podem,
entretanto, trabalhar de forma contínua quando o teor de umidade inicial for
suficientemente baixo para secar em uma única passagem pela câmara de secagem.

6.3. Classificação Quanto à Utilização

a) Secagem Combinada: esta técnica consiste em utilizar secadores em altas


temperaturas enquanto o produto apresenta teor de umidade mais elevado e, a partir
desse ponto, transferir o produto, ainda quente, para um sistema de baixa temperatura,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 141


Capítulo 5 Secagem e Secadores

onde a secagem será completada. Além da redução substancial de energia requerida


para a secagem, o sistema em combinação pode dobrar a capacidade dinâmica dos
secadores e aumentar a eficiência térmica de secagem. As principais razões para este
aumento de eficiência são:
- os secadores operam com produtos numa faixa de umidade em que a retirada
de água dos grãos é mais fácil; e
- os resfriadores geralmente não são utilizados porque o produto chega ao
sistema de secagem à baixa temperatura ainda quente.

Nesta técnica, as câmaras de resfriamento dos secadores geralmente são


convertidas em câmaras de secagem, o que aumenta a capacidade dos secadores de altas
temperaturas. O processo de secagem em combinação reduz em até 50% a energia total
requerida pelos métodos convencionais de secagem e podem, facilmente, dobrar a
capacidade dinâmica dos secadores de altas temperaturas. O processo de secagem
combinada será melhor entendido no Capítulo 17 (Secagem e Armazenagem de
Produtos Agrícolas).

b) Seca-aeração: é uma modificação do sistema convencional de secagem em


alta temperatura, com a finalidade de reduzir o consumo de energia, aumentar a
capacidade de secagem e reduzir os danos térmicos causados pela exposição do produto,
por longos períodos de tempo, a altas temperaturas.
No processo de seca-aeração, ilustrado na Figura 34, o produto é secado até 2,5
pontos percentuais acima do teor de umidade recomendado para o armazenamento. Não
utilizando a câmara de resfriamento, o produto ainda quente, é transferido para um silo
auxiliar (silo têmpera), onde permanece em descanso para que o calor residual
redistribua a umidade em todo o interior do grão, facilitando a retirada da umidade em
excesso quando, após o período de repouso, o produto, no silo têmpera é ventilado com
baixos fluxos de ar.
O sucesso deste sistema dependerá muito do período de tempo em que o produto
for deixado em repouso e da temperatura deste, durante o período em que permanecer
nessa condição. Um repouso de seis a oito horas é recomendado para uma temperatura
do produto superior a 50oC. Como dito anteriormente, o resfriamento da massa de grãos
é feito por aeração após o período de repouso, só terminando quando todo o produto
atingir a temperatura do ar ambiente, antes de ser transferido para o armazenamento.
Este método de secagem tem a desvantagem de requerer maior investimento inicial
quando se utiliza o silo têmpera e maior manuseio do produto.
Para sistemas de secagem e armazenamento em fazendas, o silo convencional
poderá ser adaptado para seca-aeração, não sendo necessário utilizar um silo têmpera.
Num sistema de seca-aeração corretamente projetado para milho, a redução de
25% para 15% (b.u.) no teor de umidade deve resultar em um aumento em torno de 50%
na capacidade dos secadores comerciais e, conseqüentemente, numa redução de 20 a
30% do combustível gasto por tonelada de produto seco.

142 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Figura 34 – Sistema de seca-aeração.

6.4. Modificações e Recomendações na Operação e no Manejo

a) Secagem em Silo com Sistema Contracorrente: neste equipamento ocorre


menor consumo de energia, pois não se permite que o produto atinja o teor de umidade
de equilíbrio nem a temperatura do ar de secagem.
Muito utilizado nos Estados Unidos da América, o sistema Shivvers (Figura 16)
é constituído por um silo secador, no qual é adaptado um sistema de rosca horizontal,
que varre os grãos secos localizados imediatamente acima da chapa perfurada e os
entrega a uma outra rosca vertical ou horizontal que, por sua vez, leva o produto até o
silo de armazenagem onde pode ser processada a seca-aeração. Devido à possibilidade
de ocorrência de condensação nas camadas superiores, este secador não é recomendado
para a secagem de produtos como feijão e soja, principalmente se a secagem for feita
em camada superior a um metro.
A limpeza da massa do produto e o nivelamento da carga, visando à distribuição
uniforme do fluxo de ar, propiciarão uma secagem uniforme.

b) Sistema com Recirculação do Ar de Secagem: geralmente os secadores de


fluxo cruzado apresentam gradiente de temperatura e umidade ao longo da espessura da
massa de produto, ou seja, ocorre uma supersecagem do produto situado na parede por
onde o ar entra na câmara de secagem. Para minimizar este problema, é necessário
empregar alto fluxo de ar ou uma camada menos profunda de produto. Entretanto, estes
procedimentos acarretam baixa eficiência energética, pois o ar sai do secador com alta
capacidade de secagem.
Para melhorar a eficiência térmica e a qualidade final do produto saído destes
secadores, algumas modificações nos modelos originais têm sido propostas. Uma destas
modificações consiste na recirculação de parte do ar de exaustão, promovendo pré-
aquecimento e pré-secagem do produto mais úmido.
A reversão do fluxo de ar dentro do secador, operando de modo intermitente,
também aumenta a eficiência da secagem. O secador mostrado na Figura 35 é

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 143


Capítulo 5 Secagem e Secadores

constituído por duas câmaras de secagem e duas câmaras "plenum". O ar insuflado pelo
ventilador atravessa as câmaras em fluxo cruzado, em sentido inverso, em cada uma das
câmaras de secagem. O ar é insuflado para a câmara "plenum" inferior, atravessando
inicialmente em fluxo cruzado a câmara de secagem inferior, indo posteriormente para a
câmara "plenum" superior. Em seguida, o ar passa em fluxos cruzados através da
câmara de secagem superior, em sentido inverso, saindo para o exterior do secador.

Figura 35 – Secador de fluxos cruzados com reversão do fluxo de ar.

c) Eliminação de Impurezas nos Produtos: antes da secagem, o material vindo


do campo deve passar por uma pré-limpeza. Um produto contendo muitas impurezas
aumentará a resistência à passagem do ar, aumentando o tempo de secagem e,
conseqüentemente, a energia consumida no processo. Além disso, favorece o
desenvolvimento de fungos, principalmente em secagem com baixa temperatura, em
que o tempo de secagem é mais prolongado.
d) Secagem com Revolvimento do Produto: os equipamentos necessários a
esse processo constam, basicamente, de uma ou mais roscas-sem-fim, que giram no
interior do silo em movimentos de rotação e translação (Figura 9).
Os revolvedores em movimento promovem a mistura do produto, eliminando a
frente de secagem e possibilitando melhor distribuição do fluxo de ar, uma vez que as
zonas de concentração de materiais finos e a compactação do produto são eliminadas.
Como conseqüência, o fluxo de ar através da massa aumenta em até 10%.

144 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 5 Secagem e Secadores

7. ANÁLISE DO CONSUMO ENERGÉTICO

Eficiência energética é a razão entre a energia requerida para evaporar a água do


produto e a quantidade de energia fornecida ao processo de secagem. A quantidade de
energia fornecida inclui a energia para aquecimento do ar, além da potência elétrica
utilizada no sistema (veja capítulo 8 – Energia no Pré-Processamento de Produtos
Agrícolas).
Estudos realizados no início da década de 80 estabeleceram que o custo do
combustível usado na operação de secagem não onerava significativamente o custo total
da secagem, mesmo considerando os problemas de energia da época. No entanto, os
preços e a disponibilidade dos vários combustíveis vêm-se alterando tão rapidamente
que qualquer previsão a respeito destes custos é altamente inconsistente. No caso do
Brasil, que não possui uma política energética definida, torna-se difícil optar por uma
fonte de energia confiável para alimentação dos secadores. É necessário mencionar
também que, por determinação do Conselho Nacional do Petróleo, em 1980 foi proibida
a utilização de qualquer derivado do petróleo na secagem de cereais, madeira e fumo,
forçando os setores de armazenamento e secagem de produtos agrícolas a encontrar
alternativas energéticas que substituíssem os combustíveis fósseis. A utilização
indiscriminada de áreas florestais nativas, causando grande prejuízo ao ecossistema
florestal, é uma das conseqüências desta medida, e o suprimento de madeira para as
fornalhas deve vir de áreas reflorestadas para este fim, ou seja, de florestas energéticas.
Considerando que a secagem em temperaturas elevadas pode consumir 60% ou
mais do total de energia usada na produção dos produtos agrícolas, é necessário
procurar soluções que aumentem a eficiência energética dos secadores.

Clique para acessar: Aplicativo 1 Aplicativo 2 Aplicativo 3

8. LITERATURA CONSULTADA

1. BAKKER-ARKEMA, F.W. Selected aspects of crop processing and storage: a


review. Jornal of Agricultural Engeneering research, v.30, n.1, p.1-22,
July, 1984
2. BAKKER-ARKEMA, F.W., SILVA, J.S., MWAURA, E.N., RODRIGUES,
J.C. & BROOK, R.C., Testing of Alternative on Farm Grain Drying
Systems. Paper Nº 80.3017, ASAE, 1980.
3. BROOKER, D.B., BAKKER-ARKEMA, F.W. & HALL, C.W., Drying and
storage of grain and oilseeds. The AVI Publishing, New York, 1992. 450p.
4. DALPASQUALE, V.A., PEREIRA, D.A.M; SINICIO, R.; OLIVEIRA FILHO,
D. Secado de granos a altas temperaturas. Oficina Regional de la Fao para
America Latina y el caribe, Santiago-Chile. 1991. P.77.
5. LASSERAN, J.C., Aeração de Grãos, Viçosa, CENTREINAR, 1981. l3lp.
6. MELO, E.C., Rendimento Térmico de uma Fornalha a Lenha de Fluxos

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 145


Capítulo 5 Secagem e Secadores

Descendentes, Imprensa Universitária, UFV, Viçosa-MG, 1987. 45p.,


(Dissertação de Mestrado).
7. MOREY, R.V., CLOUD, H.A. & LUESCHEN, W.E., Practices for the Efficient
Utilization of Energy for Drying Corn. Transaction of the ASAE, 1976.
19(14): 151.
8. PINTO, F.A.C. Projeto de um secador de fluxos contracorrentes-
concorrentes e análise de seu desempenho na secagem de café (Coffea
arabica L.). Viçosa-MG: UFV, 1994. 80p. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Agrícola) - Universidade Federal de Viçosa, 1994.
9. QUEIROZ, D.M. & PEREIRA, J.A.M., Secagem de Grãos em Baixa
Temperatura, CENTREINAR, Viçosa-MG, 1986. 49p.
10. SANTOS, R.R.; LACERDA FILHO, A. F.; SILVA, J. S. & Melo E. C.
Modificações técnicas e operacional de um secador rotativo para a secagem
de café (coffea arábica L.). Revista Brasileira de Armazenamento, Viços.
2006. N. 9, p. 1-11
11. SILVA, J.S., An Engineering Economic Comparision of Five Drying
Techniques for the Shelled Corn on Michigan Farms, Michigan State
University, 1980. l54p. (Tese PhD).
12. SILVA, J.S., AFONSO, D.L. & GUIMARÃES, A. C. Estudo dos Métodos de
Secagem In: Pré-Processamento de Produtos Agrícolas, Juiz de Fora,
Instituto Maria, 1995. 509p.
13. SILVA, L.C., Desenvolvimento e Avaliação de um Secador de Café (Coffea
arabica, L.) Intermitente de Fluxos Contracorrentes, Viçosa-MG,
Universidade Federal de Viçosa, 1990. 74p. (Tese de MS).
14. SILVA, J. S.; PINTO, F.A.C.; MACHADO, M.C.; MELO, E. C. Projeto,
construção e avaliação de um secador de fluxos (concorrentes/
contracorrentes) para secagem de café In: II Simpósio de Pesquisa dos
Cafés do Brasil, Vitória. 2001. Anais.
15. SILVA, J.S.; NOGUEIRA, R.M. & MAGALHÃES, E. A., Secagem em Silo -
Uma Opção para o Café -, Viçosa – MG, Engenharia na Agricultura;
Boletim Técnico No 9, 2008. 31p

146 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

Capítulo

6
ESTUDO DA SECAGEM EM CAMADA ESPESSA

Juarez de Sousa e Silva


Daniel Marçal de Queiroz
Daniela de Carvalho Lopes
Frederico Faúla de Sousa

1. INTRODUÇÃO

A secagem é um processo que envolve fenômenos de transferência de calor e


massa entre o produto e o ar de secagem. Tais fenômenos podem ser equacionados e
agrupados em modelos matemáticos, os quais se têm demonstrado eficientes na análise
da secagem, no desenvolvimento e na otimização dos secadores agrícolas. Para isso, o
computador é o elemento fundamental nas soluções dos modelos.
Diversos modelos são encontrados na literatura; dentre estes, destacam-se:

- Modelo de Hukill
- Modelo de Thompson
- Modelo de Morey
- Modelo de Michigan

Neste capítulo, além dos modelos matemáticos propostos por Hukill e


Thompson, a fim de acompanhar com detalhes os processos de secagem em altas e
baixas temperaturas, é apresentado um balanço de energia (calor) entre o produto e o ar,
para calcular o tempo necessário à secagem, em camada espessa, de um determinado
tipo de grão.

2. EQUAÇÃO DO BALANÇO DE ENERGIA

Considerando a secagem de grãos em camadas espessas, em silos e com ar


natural como um processo adiabático, pode-se dizer que o calor que entra na massa de
grãos é igual ao calor que sai no ar de exaustão (Figura 1). A secagem com ar natural ou
com baixa temperatura inicia-se na camada inferior do silo e vai progredindo até atingir
a última camada na parte superior. Durante este período, distinguem-se três camadas de

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 147


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

grãos com diferentes teores de umidade (veja capítulo 5 – Secagem e Secadores).


Pode-se dizer simplificadamente que, durante o processo de secagem em camada
espessa, a diferença entre os calores sensíveis do ar de entrada e de saída da massa de
grãos é igual ao produto do calor de vaporização e a quantidade de água evaporada, ou,
ainda, (m.c. ∆T) = (hv.Aev), em que (m) é a massa e (c) o calor específico do ar de
secagem; (∆T), a diferença de temperatura do ar que entra e que sai da camada de grãos;
(hv), o calor latente de vaporização; e (Aev ), a quantidade de água evaporada.

Figura 1 – Representação da secagem em silo, com ar natural ou baixas


temperaturas.

De modo mais simples, o calor sensível fornecido pelo ar é igual ao calor latente
de vaporização necessário para evaporar a água contida no produto até a umidade final
desejada. Assim, calor sensível é convertido em calor latente, e esta conversão pode ser
representada pela equação 1:

60 (Q / Ve) Ca (Ta - Te) t = hv MS (Uo - Ue) eq. 1

em que
Q = vazão ar de secagem (m3 min-1);
Ve = volume específico do ar secagem (m3 kg-1de ar seco);
Ca= calor específico do ar (kcal kg-1 °C-1);
Ta= temperatura do ar de secagem (°C);
Te= temperatura de equilíbrio (°C);
t= tempo de secagem (h);
hv= calor latente de vaporização (kcal kg-1de água);
MS= matéria seca existente no produto (kg);

148 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

Uo = umidade inicial (decimal, b.s.);


Ue= umidade de equilíbrio (decimal, b.s.).

Na equação 1 não é considerada a variação da temperatura do produto no início


da secagem, quando este está numa temperatura diferente da do ar. Também não é
considerada, no caso de secagem em camada espessa, a possibilidade de condensação
nas camadas superiores do produto, quando o ar saturado encontra o produto frio.
Entretanto, devido à facilidade de uso, esta equação pode ser utilizada para estimar o
tempo de secagem de diversos produtos.
Te é a temperatura na qual o ar está em equilíbrio com o produto com teor de
umidade inicial, depois de ter sido resfriado ao longo da linha de temperatura de bulbo
molhado constante. Esta temperatura é determinada por meio das equações de umidade
de equilíbrio e da entalpia do ar, sendo obtida com base na condição do ar em que o teor
de umidade de equilíbrio é igual ao inicial e a entalpia do ar é igual à entalpia do ar de
secagem.

Pode-se utilizar também o gráfico psicrométrico para determinação de Te,


bastando seguir, a partir do ponto que caracteriza o ar de secagem, a curva de entalpia
constante até encontrar a curva de umidade relativa de equilíbrio (Figura 2). Curvas de
umidade de equilíbrio para milho são vistas na Figura 14 (capítulo 4 -Indicadores da
Qualidade dos Grãos).

Figura 2 – Determinação de Te por meio do gráfico psicrométrico.

O calor latente de vaporização da água contida no produto é determinado pela


equação 2 e Tabela 1:

hv =(A-0,57.T)[1+B.exp(-C.U)] eq.2

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 149


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

TABELA 1- Parâmetros A, B e C da equação 2, para diferentes produtos

PRODUTO A B C
Milho 606,000 4,350 28,250
Arroz 597,600 2,199 21,732
Soja 597,600 0,324 13,917
Sorgo 597,6 1,045 19,644
Trigo duro 597,6 1,307 17,609
Feijão 597,6 0,454 15,975

O calor latente é função da temperatura do ar de secagem, T, e do teor de


umidade do produto, U. Como esses parâmetros não são constantes durante o processo
de secagem, toma-se o valor de hv calculado com o teor de umidade médio do produto.
Exemplo 1: nas condições a seguir, calcular o tempo necessário para secagem do milho
em um sistema de secagem a baixa temperatura:
Umidade inicial do produto = 20 % b.u. = 0,25 b.s.;
Temperatura do ar ambiente = 22 oC;
Umidade relativa = 70%;
Aquecimento devido ao ventilador = 3 oC;
Diâmetro do silo = 4 m;
Silo cheio até 3 metros de altura;
Fluxo de ar = 2 m3 min-1 t-1;
Massa específica do produto (d) = 0,680 t m-3;
Calor específico do ar (Ca) = 0,24 kcal oC-1 kg-1.

2.1. Solução pelo balanço de energia


Para a determinação do tempo total de secagem, é preciso determinar:
a) vazão do ar de secagem;
b) propriedades psicrométricas do ar;
c) teor de umidade de equilíbrio;
d) calor latente de vaporização;
e) tempo de secagem; e
f) tempo permissível de armazenagem.

a) Determinação da Vazão (Q)


A vazão de ar (Q) é igual ao produto do fluxo de ar em (m3min-1t-1) pela massa
de grãos úmidos em (t). Esta, por sua vez, é igual ao produto da massa específica do
produto (t m-3) pelo volume de grãos dentro do silo (m3).

Massa do produto no silo


(V) = área da base (S) x altura da massa de grãos (h)
V = [( Π x d2 )/4]. h
V = [ ( Π x 42 )/4]x 3=37,7 m3
Tomando a densidade do produto como 0,680 t m3, a massa de grãos será:

150 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

Mu = 0,680 t/m3 x 37,7 m3 = 25,6 t


Matéria seca (MS) = (1 - teor de umidade b.u. decimal). Mu
MS= (1 - 0,2) x 25,6 t = 20,5 t

Vazão do ar de secagem
Q = fluxo x Mu = 2 m3 min-1t-1 x 25,6 t = 51,2 m3 min-1

b) Propriedades psicrométricas do ar
A Figura 3 representa o gráfico psicrométrico e a curva de equilíbrio
higroscópico do milho a 20 % b.u.
Como a temperatura do ar de secagem é igual à temperatura do ar ambiente
acrescida de três graus devido ao atrito nas pás do ventilador, tem-se:
Ta = T + Tvent = 22 + 3 = 25 oC
Pelo gráfico (Figura 3), a umidade relativa do ar de secagem (depois do
ventilador) é, aproximadamente, de 59%. Nestas condições, o volume específico do ar
de secagem (v) é 0,865 m3 kg-1 de ar seco, e a temperatura de equilíbrio (Te), 20 oC.

c) Teor de umidade de equilíbrio


A Ue, para milho, pode ser determinada através das equações 11 e 12 (capítulo 4
– Qualidade dos grãos)
Ue = 7,4776 UR0,4584 / [ ln ( 9 T / 5 + 32)]
0 < UR < 52%;
Ue = 21,2198 exp (0,0146 UR) / [ln (9T / 5 + 32)]
52 < UR < 100%
Fazendo T = 25 ºC e UR = 59%, Ue = 11,6 % b.u. = 0,13 b.s.

d) Calor latente de vaporização


Uemédio = (Ue + Ui) / 2 = (0,13 + 0,25) / 2 = 0,19 b.s.
hv = (A - 0.57 x T) [1 + B x exp(-C x U)]
hv = (606 - 0,57 x 25) [1 + 4,35 exp (-28,25 x 0,19)]
hv = 604 kcal kg-1 de água evaporada

e) Tempo de secagem
(Q / v) x 60 x Ca x (Ta - Te) x t = hv x MS x (Uo - Ue)
(51,2 / 0,865) x 60 x 0,24 (25 - 20) t = 604 x 20.500 x (0,25 - 0,13)
t = 346 horas, aproximadamente 14 dias.

f) Tempo permissível para armazenagem (TPA)


A Tabela 2 apresenta os tempos permissíveis de armazenagem de milho,
garantindo que a perda de matéria seca por deterioração não ultrapasse 0,5%. Verifica-
se que para o milho com teor de umidade de 20% e temperatura de 20 oC o tempo
permissível de armazenagem é de cerca de 20 dias (obtido por interpolação),
concluindo-se daí que o sistema calculado tem viabilidade técnica.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 151


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

TABELA 2 - Tempo (dias) permissível para a armazenagem do milho debulhado sem


que ocorra deterioração

Temperatura dos Teor de Umidade do Milho, % b.u.


Grãos(ºC)
18 20 22 24 26 28
2 430 210 122 80 58 45
10 127 62 36 24 16 13
16 55 26 16 10 7 6
24 23 12 7 5 4 3
27 15 7 4 3 2 1

Figura 3 – Determinação das condições psicrométricas de secagem.

3. MODELOS DE SECAGEM

Devido à simplicidade e às suposições feitas quando se aplica o balanço de


energia para o estudo da secagem em camada profunda, só se pode obter o tempo final,
aproximado, da secagem de toda a camada no silo. O que estará ocorrendo com o
sistema em um tempo qualquer depois de ter iniciado o processo de secagem só pode
ser previsto com modelos matemáticos mais sofisticados. Entre os vários modelos
racionais para predizer a secagem em uma camada espessa de grãos, o modelo proposto

152 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

por Hukill e o proposto por Thompson requerem programas computacionais simples e,


portanto, serão detalhados a seguir.

3.1. Modelo de Hukill


Hukill desenvolveu um modelo para representar o processo de secagem em
camada espessa, segundo a equação 3. Este modelo permite determinar o teor de
umidade para determinada altura de camada de grãos e admite que a temperatura do ar
decresce exponencialmente à medida que o ar vai passando pela massa de grãos.
Embora o modelo não considere o aquecimento dos grãos pelo ar de secagem, ele
apresenta-se como uma ferramenta muito útil para simulação de secagem.

∂U ∂T
=p eq. 3
∂t ∂x
m que
∂U
- taxa de variação da umidade, % base seca min-1;
∂t
∂T
- taxa de variação da temperatura na camada de grãos, °C m-1;
∂x
.
6000 m C a
p= , uma constante para determinada condição de secagem,
MS hv
sendo:
.
m = fluxo de massa de ar em kg min-1 m-2;
Ca = calor específico do ar de secagem, kJ kg-1 °C-1;
MS = massa específica da matéria seca, kg m-3; e
hv = calor latente de vaporização da água no grão, kJ kg-1.

Para grãos em camada fina ou completamente expostos a uma constante


condição de secagem (como a primeira camada formada pelos grãos em contato com o
fundo do silo), e para um fluxo de ar passando através dos grãos com teor de umidade
uniforme (como um lote de grãos no início do processo de secagem), as seguintes
aproximações podem ser feitas:

a) Para a umidade
U − U e = (U 0 − U e )e − kt eq. 4
em que
U = umidade atual do produto, %b.s;
Ue = umidade de equilíbrio do produto com o ar de secagem, %b.s.;
Uo = teor de umidade inicial do produto, % b.s.;
t = tempo de secagem, horas; e
k - constante de secagem que depende do tipo de grão.
b) Para a temperatura do grão

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 153


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

T − Tg = (T0 − Tg )e − cx eq. 5
em que
k(U 0 − U e )
c= .
p(T − Tg )
T = temperatura do ar de secagem, °C;
Tg = temperatura de equilíbrio, °C;
T0 = temperatura inicial do ar de secagem, °C;
c = taxa de resfriamento do ar; e
x = altura da camada de grãos, m.

Hukill propôs a seguinte solução:

e cx
U = (U o − U e ) +Ue eq.6
e cx + e kt − 1

e
e kt
T = (To − Tg ) + Tg eq.7
e cx + e kt − 1

As equações 6 e 7 permitem determinar com certa aproximação o teor de


umidade dos grãos e a temperatura do ar em um dado instante, em qualquer posição da
camada durante a secagem.
Expressando o conteúdo de umidade em termos de razão de umidade (RU):
U − Ue
RU = , eq. 8
Uo − U e

o tempo de secagem pode ser expresso em termos de período de meia resposta (um
período de meia resposta (H) é o tempo requerido para que uma camada fina de grãos,
completamente exposta, alcance uma razão de umidade igual a 0,5, sob determinadas
condições de secagem). Assim, e-kH = 0,5 ou ekH = 2.
Finalmente, Hukill propôs a seguinte solução:
2D
RU = D eq. 9
2 + 2Y − 1

e o tempo, em períodos de meia resposta, é:


t
Y= . eq. 10
H
em que
t = tempo após início de secagem, horas;
H = tempo de meia resposta, horas;

154 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa
Y = tempo equivalente, adimensional; e
D = unidade de profundidade, adimensional.

A unidade de profundidade equivalente (D), como definida por Hukill, é a


espessura de camada que contém quantidade de grãos suficiente para atender a
necessidade de calor para evaporar a sua umidade, de uma razão de umidade (RU = 1,0)
para uma razão de umidade final (RU = 0). A necessidade de calor tem que ser igual ao
calor sensível fornecido pelo ar em uma unidade de tempo, se sua temperatura cair de To
para Tg. Em outras palavras, uma unidade de profundidade (D) contém uma quantidade
de matéria seca (MS), determinada pela equação de balanço de energia (equação 1),
fazendo o tempo (t) igual ao tempo de meia resposta H, ou seja, em qualquer
profundidade do silo (X), o adimensional de profundidade é:

X.MS(Uo − U e )h v
D= eq. 11
.
60 m H C a (To − Tg )

Se estas unidades são usadas, após um tempo qualquer depois do início da


secagem o teor de umidade para uma determinada posição na camada do produto é
obtido pela equação 9.
De acordo com esta definição, a razão de umidade varia de (0) zero (o produto
atingiu o teor de umidade de equilíbrio) a (1) um (o produto está com teor de umidade
inicial).
A unidade de tempo, Y, é calculada pela equação 9, e o tempo de meia resposta
deve ser entendido como o período de tempo necessário para que a razão de umidade
seja reduzida de 1 para 0,5; de 0,5 para 0,25, ..., etc. em determinadas condições de
secagem.
Para o milho, o tempo de meia resposta, H, em horas, é determinado pela
equação 12.

H = exp(2,413 − 0,016.Uo + 0,003.T − 0,001.Uo.T ) eq. 12

em que
Uo = teor de umidade inicial, % b.u.; e
T = temperatura do ar de secagem, oC.

Uma equação de tempo de meia resposta pode ser obtida por meio das equações
empíricas de secagem em camada delgada. Essas equações geralmente são definidas em
função da temperatura (T), da umidade relativa (UR) e do tempo (t), ou seja, RU = f(T,
UR, t).
Fazendo RU = 0,5 e explicitando t, tem-se o valor do tempo de meia resposta
(H).
Como um fator de profundidade (D) contém uma quantidade de matéria seca,
MS, determinada pela equação 1, em que o tempo (t) é igual ao tempo de meia resposta

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 155


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

(H), tem-se:

60.Q.C a .(Ta − Te ).H


MS = eq. 13
v.hv .(U 0 − U e )

1 D = MS / (A.W) eq. 14
em que
MS = matéria seca, kg;
A = área do silo, m2; e
W = massa específica da matéria seca, kg m-3.

W = P / (1 + Uo) eq. 15
em que
P = massa específica do produto, kg m-3; e
Uo = teor de umidade inicial, decimal b.s.

3.1.1. Curvas de secagem em camadas espessas


A Figura 4 apresenta o modelo de Hukill (equação 11), em forma de curvas, para
camadas profundas chamadas Curvas de secagem em camadas espessas, que facilitam
o cálculo e o acompanhamento do processo de secagem.

Figuras 4 - Curvas de secagem em camadas espessas.

No eixo horizontal têm-se os valores de Unidade de Tempo (Y) e, no eixo


vertical tem-se o valor da Razão de Umidade (RU). Na área delimitada pelos dois eixos
têm-se as curvas correspondentes ao número de Fatores de Profundidade (D). Estas
curvas facilitam o cálculo e o acompanhamento da secagem. Por exemplo, para Y igual
a 10, podem ser feitas as seguintes observações:

a) Estando as camadas inferiores a uma altura correspondente a 3 D


(inclusive), tem-se RU = 0, ou seja, o produto já está seco (com o teor de
umidade de equilíbrio) até esta altura (faixa colorida na Figura 5).

156 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa
b) Estando as camadas superiores a uma altura correspondente a 15 D, tem-se
RU = 1, ou seja, o produto acima de 15 D está com o teor de umidade inicial
(faixa colorida na Figura 6).
c) De modo geral, a frente de secagem tem espessura 12 D (15 - 3), ou seja, as
camadas entre as curvas 3 e 15 D estão com RU variando de 0 a 1,
respectivamente (faixa colorida na Figura 7).

Figura 5 – Curvas de secagem em camadas espessas, mostrando as camadas que já


estão secas (U = Ue).

Figura 6 – Curva de secagem em camadas espessas, mostrando as camadas que não


perderam umidade (U =Uo).

O valor 12 D, para a espessura da frente de secagem, encontrada no exemplo


anterior, é fixo para qualquer tempo Y, após a formação desta frente.
Traçando uma horizontal pelo valor RU = 0,5, observa-se que a partir de D = 12 os
valores de D e Y são coincidentes, ou seja, a partir deste ponto as curvas se repetem.
Esta propriedade das curvas de secagem em camada profunda é utilizada quando, em

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 157


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

determinada situação, os valores de Y e D são superiores a 18; neste caso, basta


numerar novamente as curvas a partir de D e Y iguais a 12.

Figura 7 – Curvas de secagem em camadas espessas, mostrando as camadas que


estão secando (frente de secagem).

Exemplo 2: para D = 5 e Y = 7, o valor para RU é determinado com se vê na


Figura 8, isto é, por Y = 7, levanta-se uma perpendicular até encontrar a curva D=5. Por
este ponto, traça-se uma horizontal até encontrar (RU = 0,2).

Obs: confira os valores utilizando a equação de Hukill

Figura 8 - Curvas de secagem em camadas espessas.

158 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa
Exemplo 3: para D = 2 e Y = 10, tem-se RU = 0,0, ou seja, o produto, nesta camada, já
atingiu o teor de umidade de equilíbrio (Figura 9).

Figuras 9 - Curvas de secagem em camadas espessas, mostrando quando uma


determinada camada atinge a umidade de equilíbrio

Exemplo 4: para D = 12 e Y = 4, tem-se RU = 1,0, ou seja, o produto, nesta camada,


está com o teor de umidade inicial (Figura 10).

Figuras 10 - Curvas de secagem em camadas espessas, mostrando a camada que


ainda está com umidade inicial (U=Uo).

Exemplo 5: para determinadas condições do ar de secagem, têm-se:


Ue = 13% b.u., teor de umidade de equilíbrio do grão;
Uo = 20% b.u., teor de umidade inicial do grão;
1 D = 10 cm; e
H = 4,0 horas, tempo de meia resposta.
Determine o teor de umidade de uma camada de grãos situada a 100cm de altura,
após 40 horas de secagem.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 159


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

Solução:
se 1D ----- 10 cm;
X------ 100 cm;
X = número de D = 10;
Y = 40 horas / 4 horas = 10.

Pelo gráfico (Figura 4): D = 10 e Y = 10 => RU é aproximadamente igual a 0,5.


Pela definição de razão de umidade (RU = (U - Ue) / (Uo - Ue)),
U = RU x (Uo - Ue) + Ue. Assim, U = 0,5x(20 - 13) + 13 = 16,5.

Exemplo 6: determinar o tempo de secagem para o exemplo 1 deste capítulo, usando o


modelo de Hukill, e comparar os dois resultados.

Solução

Passo 1 - cálculo do tempo de meia resposta:


H =exp (2,413 - 0,016 x 20 + 0,003 x 25- 0,001 x 20 x 25)
H = 5,30 horas.

Passo 2 - cálculo do valor de 1 D:


Matéria seca existente em 1 D.
MS = (60 x 51,2 x 0,24.(25-20) 5,3) / (0,865 x 604 (0,25-0,131))
MS=314 kg
Massa específica expressa em matéria seca:
W = 680 / (1 + 0,25)= 544 kg m-3
Área do silo = (π x 42) / 4 = 12,6 m2
1 D = 314 / (12,6 x 544) = 0,046 m = 4,6 cm

Passo 3 - número de fatores de profundidade.


Altura do silo = 300 cm.
No de Ds = 300 / 4,6 = 64

Passo 4 - cálculo do tempo de secagem:


Como D = 64 não existe na Figura 4, faz-se nova enumeração da curva (Figura 11),
onde se observa que a camada correspondente a este fator estará seca (RU=0) para um
valor Y =70:
Y=t/H
t = 70 x 5,30 = 371 h = 15,5 dias

160 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

Figura 11 – Curva de secagem em camadas espessas, mostrando como se faz a


renumeração das camadas.

Exemplo 7: considerando as condições do exemplo anterior, determinar a espessura da


frente de secagem, sua posição e o teor de umidade médio no interior do silo, cinco dias
após o início do processo.

Solução:

Passo 1- cálculo da espessura da frente de secagem:


Espessura =12. D = 12. 4,6 = 55 cm
Passo 2- cálculo do Y correspondente a cinco dias:
t = 5 x 24 = 120 horas
Y = 120 / 5,30 = 23

Passo 3- cálculo da posição da frente de secagem:


A Figura 12 apresenta a curva de secagem em camadas profundas, renumeradas para Y
igual a 23. Observa-se que o fator de profundidade, em que RU = 0, é igual a 16.
Posição = 16 . D = 16 x 4,6 cm= 74 cm

Passo 4 - cálculo do teor de umidade médio:


Como
- altura do silo = 300 cm;
- altura do produto seco (Ue = 0,13) = 74 cm;
- espessura da frente de secagem = 55 cm; e
- altura do produto úmido = 300 - 74 - 55 = 171 cm, o teor de umidade
médio na frente de secagem será:
(0,25 + 0,13) / 2 = 0,19

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 161


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

Para calcular o teor de umidade médio no interior do silo, faz-se uma média
ponderada, utilizando a espessura de cada camada como fator de ponderação, obtendo-
se:
Umédio = (0,13 x 74 + 0,19 x 55 + 0,25 x 171) / 300 = 0,21

Umédio = 21 % b.s. = 17,3 % b.u.

Figura 12 - Curva de secagem em camadas espessas, mostrando a renumeração


das camadas.

Exemplo 8: calcular o tempo necessário para secagem do milho em sistema de alta


temperatura em leito fixo horizontal, para as seguintes condições:
- umidade inicial do produto = 20% b.u. = 25% b.s.;
- umidade final do produto = 13% b.u. = 14,9% b.s.;
- temperatura do ar ambiente = 20 oC;
- umidade relativa = 80 %;
- temperatura de secagem = 60 oC
- altura da camada do produto = 0,5 m;
- diâmetro do secador = 5,0 m;
- fluxo de ar (condições ambientais) = 10 m-3 min-1 m-2;
- massa específica do produto = 0,68 t m-1; e
- calor específico do ar = 0,24 kcal. kg-1 oC-1.

Solução: para simular o sistema de secagem com alta temperatura, recomenda-se o


seguinte procedimento:

a) dividir a camada de produto em um número predeterminado de subcamadas;


b) calcular o teor de umidade de cada subcamada em intervalos de tempo
preestabelecidos;

162 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa
c) determinar a umidade média; e
d) terminar a simulação quando a umidade média for igual ou menor do que o
teor de umidade final desejado.

Passo 1 - definição do número de camadas:


Dividir o produto em cinco camadas de 10 cm cada, e, assim, a simulação da
secagem será realizada nos seguintes pontos:
x = 5 cm, x = 15 cm, x = 25 cm, x = 35 cm e x = 45 cm

Passo 2 - cálculo do tempo de meia resposta:


H=exp (2,413 - 0,016 x 20 +0,003 x 60 - 0,001 x 20 x 60)
H= 2,92 horas

Passo 3 - cálculo da vazão de ar:


Área do secador = (3,14x52)/4 = 19,6 m2
Vazão de ar = 19,6 x 10 = 196 m3/min

Passo 4 - cálculo das propriedades psicrométricas:


Plotando a curva de umidade de equilíbrio (20%) em um gráfico psicrométrico
de altas temperaturas, e procedendo da maneira demonstrada nas Figuras 2 e 3,
obtêm-se:
-temperatura do ar de secagem = 60 oC
-umidade relativa do ar de secagem = 10%
-volume específico do ar de secagem = 0,952 m3 kg-1 de ar seco
-temperatura de equilíbrio = 30 oC

Passo 5 - teor de umidade de equilíbrio: é determinado através da equação de equilíbrio


(exemplo 1), sendo T = 60 oC e UR = 10 %.
Ue = 4,35 % b.u. = 0,05 b.s.

Passo 6 - cálculo do calor latente de vaporização:


Ue médio = (0,25 + 0,05) / 2 = 0,15 b.s.
hv = (606 - 0,57 x 60) . [1 + 4,35 exp (- 28,25 x 0,15)]
hv = 610 kcal/kg de água evaporada

Passo 7 - cálculo do valor de D:


Matéria seca existente em 1 D:
MS =(60 x 196 x 0,24 (60 - 30) 2,92) / (0,952 x 610 x (0,25 - 0,05))
MS=2.128 kg.

Massa específica expressa em matéria seca:


W = 680 / (1 + 0,25) = 544 kg.m-1
1 D = 2128 / (19,6 x 544) = 0,20 m

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 163


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

Passo 8 - cálculo dos adimensionais de tempo (Y) e de profundidade (D)

No de D=X/20 Y = t/2,92
X(cm) D t Y
5 0,25 0 0,000
15 0,75 1 0,342
25 1,25 2 0,685
35 1,75 3 1,027
45 2,25 4 1,369
5 1,712
6 2,055

Passo 9 - cálculo do teor de umidade nas várias posições para diferentes intervalos de
tempos:
Tem-se:
RU =(U - Ue) / (Uo - Ue) = 2D / (2D + 2Y - 1)
ou seja,
U = [2D / (2D + 2Y - 1)] x [(Uo - Ue)] + Ue
Uo e Ue = % b.u.

Substituindo os valores de D e Y na equação anterior, obtém-se:

Tempo (horas)
Posição (cm) 1 2 3 4 5
5 17,1 14,6 12,7 11,1 9,7
15 17,9 15,8 14,0 12,4 11,0
25 18,4 16,8 15,2 13,7 12,3
35 18,9 17,6 16,3 15,0 13,7
45 19,2 18,2 17,2 16,1 14,9
U média 18,3 16,6 15,1 13,7 12,3

Clique para acessar: Aplicativo 1 Aplicativo 2

3.2. Modelo de Thompson


THOMPSON et al. (1968) apresentaram um modelo para simulação de secagem
do milho em secadores contínuos. Este modelo simula o processo de secagem por meio
de um conjunto de equações baseadas nas leis de transferência de energia e massa, bem
como por uma equação empírica de secagem em camada delgada.
No desenvolvimento do modelo usou-se, como artifício, a divisão do processo
de secagem em vários subprocessos. Considerou-se o leito de grãos formado por várias
camadas de espessuras reduzidas, colocadas umas sobre as outras; em cada camada, as
variações nas condições do ar e dos grãos foram calculadas com base em pequenos
incrementos de tempo.
A Figura 13 apresenta um esquema das variações consideradas na simulação de

164 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa
secagem de uma camada fina que compõe um leito de grãos. Quando o ar passa pela
camada fina, durante determinado intervalo de tempo, certa quantidade de água do
produto é evaporada e passa para o ar. Nesse intervalo, a temperatura do ar diminui em
conseqüência do aumento na temperatura dos grãos e do resfriamento evaporativo que
acompanha a transferência de umidade.

Figura 13 - Variações na secagem de uma camada fina durante um intervalo de


tempo ∆t.

A quantidade de água perdida pelo produto é calculada por meio de uma


equação empírica de secagem em camada delgada. As temperaturas finais do ar e dos
grãos, consistentes com o resfriamento evaporativo, são obtidas por meio de balanços de
energia.
Para desenvolver o modelo, foram feitas as seguintes suposições:
a) A secagem de uma camada delgada de produto pode ser descrita por uma
equação obtida empiricamente.
No caso específico do milho, THOMPSON et al. (1968) obtiveram a equação

t = A . ln (RU) + B . [ ln (RU)]2 eq.16


em que
t = tempo de secagem, em h;
RU = razão de umidade do produto, adimensional; e
A e B = parâmetros que dependem da temperatura do ar.

Os parâmetros A e B da equação 16, obtidos a partir das curvas de secagem de


milho, podem ser calculados por

A = - 1,706 + 0,0088.T eq. 17

B = 148,7 . exp (-0,059 . T) eq. 18


em que
T = temperatura do ar de secagem, em oC.

a) A temperatura do grão é igual à temperatura do ar que o envolve, após os

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 165


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

balanços de energia que levam em conta o resfriamento proveniente da


evaporação da água do produto e das temperaturas iniciais do grão e do ar.
b) O teor de umidade de equilíbrio depende da temperatura e da umidade
relativa do ar nas vizinhanças do grão. A equação proposta para ser utilizada
no modelo é

Ue = 1,206 [-ln(1-0,01.UR)/(T+45,6)]0,5 eq.19


em que
UR = umidade relativa do ar de secagem, em %; e
Ue = teor de umidade de equilíbrio, em decimal, b.s.

c) A entalpia de vaporização da água no grão de milho depende da temperatura e


do teor de umidade deste grão.

hv =(606 - 0,57.T) . [1 +4,35 exp (-28,25U)] q. 20


em que
hv = entalpia de vaporização, kcal kg-1 de água evaporada.

d) A entalpia específica do milho depende de seu teor de umidade:

cp = 0,35 + (0,851.U/(1+U)) eq. 21


em que
cp = entalpia específica do milho, em kcal kg-1 oC-1; e
U = umidade base seca, decimal

3.2.1. Fluxograma do modelo


O modelo de simulação de secagem apresentado por THOMPSON et al (1968)
determina as variações ocorridas nas condições do ar e dos grãos em uma camada de
espessura reduzida, dividindo o processo de secagem em vários subprocessos. Este
procedimento tem por finalidade simplificar a solução do modelo. A seguir, são
apresentados os passos para simular a secagem em uma camada fina:

Passo 1 - cálculo da temperatura de equilíbrio entre ar e grão, considerando


somente a troca de calor sensível: para essa determinação, é necessário o
seguinte balanço de energia:

0,24 To + Wo (588 + 0,45 To) + cp . R . (1 + U) Tgo =

= 0,24 Te + Wo (588 + 0,45 Te) + cp . R . (1 + U) Tge eq. 22


em que
To = temperatura do ar na entrada da camada fina, em oC;
Wo = razão de mistura do ar na entrada da camada fina, em kgkg-1;
Tgo = temperatura do grão no instante t, em oC;
Te = temperatura do ar em equilíbrio com o grão, em oC;

166 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa
Tge = temperatura do grão em equilíbrio com o ar, em oC;
U = teor de umidade do produto no tempo t, decimal, b.s.; e
R = razão entre massa de matéria seca da camada e massa de ar seco que
passa no intervalo ∆t, em kg kg-1.

Admitindo que a temperatura do grão é igual à do ar que o envolve, tem-se

Tge = Te eq. 23

A razão entre as massas de matéria seca e de ar seco deve ser determinada no


início da simulação, por meio da equação:

R = P.ve.A. ∆x / [Q.∆t.60.(1 + Uo)] eq. 24


em que
Uo = teor de umidade inicial, decimal, b.s.;
∆x = espessura da camada fina, m;
∆t = incremento de tempo, h;
P = massa específica do grão no início da secagem, kg m-3;
Q = vazão de ar, m3 min-1;
A = área da seção transversal, m2; e
ve = volume específico do ar, m3 kg-1.

A temperatura de equilíbrio em oC (Te) pode ser então determinada:

Te=[(0,24 + 0,45 Wo)To+cp.R(1+U)Tgo]/[0,24+ 0,45 Wo+cp.R(1+ U)] eq.25

Passo 2 - cálculo da umidade relativa do ar nas condições de equilíbrio:

UR =100.Patm.Wo / [(0,622 + Wo) . Pvs] eq.26


em que
Patm = pressão atmosférica, em mmHg;
Pvs = pressão de vapor de saturação, à temperatura Te, mmHg; e
UR = umidade relativa, %.

A pressão de vapor de saturação pode ser determinada pela equação 27,


apresentada por BROOKER et al. (1992):

Pvs=51,715 exp[51,594 - 6834 / (Te +273,16) - 5,169 ln(Te+273,16)] eq. 27

Passo 3 - cálculo do teor de umidade de equilíbrio (decimal, b.s.):

Ue = 1,206 [(-ln(1 - 0,01 UR) / (Te + 45,6)]0,5 eq. 28

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 167


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

Passo 4 - cálculo do tempo equivalente:


O tempo equivalente é definido como o tempo em que o produto deve ficar
exposto às condições atuais do ar (Te, Wo) para que o teor de umidade seja reduzido do
valor inicial (Uo) para o valor atual (U). Para essa determinação, usa-se a equação
empírica de secagem em camada delgada:

te = A In(RUo) + B [In(RUo)]2 eq. 29


em que
te = tempo equivalente, em h.

RUo = (U - Ue) / (Uo - Ue) eq. 30

A = -1,706 + 0,0088 . Te eq. 31

B = 148,7 . exp (-0,059 . Te) eq. 32

Passo 5 - cálculo da nova razão de umidade do produto, RUf:


Após a secagem nas condições do ar (Te e Wo), durante um intervalo de tempo
(∆t), a razão de umidade do produto é determinada por meio da equação empírica de
secagem em camada delgada:

RUf = exp{[-A-(A2 + 4 B(te+∆t))0,5] / (2 B)} eq. 33

Passo 6 - cálculo da umidade do produto, Uf (decimal, b.s.), no tempo (t+∆t):

Uf = RUf (Uo - Ue) + Ue eq. 34

Passo 7 - cálculo da nova razão de mistura do ar:


A razão de mistura do ar consistente com a perda de umidade do produto é
determinada por um balanço de massa:

Wf = Wo + R (U - Uf) eq. 35
em que
Wf = razão da mistura do ar na saída da camada, kg.kg-1.

Passo 8 - cálculo das temperaturas finais do ar e do produto:


As temperaturas finais do ar e do produto são determinadas por meio de um
balanço de energia que leva em conta a perda de umidade dos grãos:

0,24 Te + Wo (588 + 0,45 Te) + cp.R (1 + U) Tge + (Wf - Wo) Tge =

= 0,24 Tf + Wf (588 + 0,45 Tf) + cp.R (1+ U) Tgf + (Wf - Wo) ∆L eq.36
em que
Tf = temperatura do ar após a passagem pela camada, oC;

168 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa
Tge = temperatura do grão após a passagem do ar, em oC; e
∆L = calor latente de vaporização acima do necessário para evaporar a
água livre, kcal kg-1.

∆L = (606 - 0,57 Te) 4,35 exp(-28,25 U) eq. 37

Admitindo que a temperatura do grão é igual à do ar que o envolve, tem-se

Tgf = Tf eq. 38

O primeiro e segundo termos de cada lado da equação 36 representam as


entalpias inicial e final do ar. O terceiro termo de cada lado é a energia contida no
produto, nos tempos (t) e (t + ∆t). O quarto termo do lado esquerdo da igualdade é a
quantidade de energia contida na água que está sendo retirada do produto. O último
termo da equação é o calor latente de vaporização da água no grão, que é superior ao
calor de vaporização da água livre.
Explicitando Tf na equação 36, tem-se:

(0,24 + 0,45W0 )Te − (Wf − W0 )(588 + ∆L − Te ) + C p R(1 + U)Te


Tf = eq. 39
0,24 + 0,45Wf + C p R(1 + U)

Passo 9 - os valores de Tf e Wf são consistentes?


Efetuados todos esses cálculos, é necessário verificar se o resultado obtido é
exeqüível. Em certos casos, pode-se obter resultados em que a umidade relativa
do ar, determinada matematicamente, é superior a 100%. Se isso ocorrer, novos
balanços de massa e de energia deverão ser feitos, simulando a condensação de
água no produto.
Nesses novos balanços, o ponto de estado Tf e Wf, não-exeqüível, será corrigido
para o ponto de estado T*f e W*f:

0,24 . Tf + Wf . (588 + 0,45 . Tf) + (W*f - Wf) . Tf + cp . R . (1+U) . Tf =

=0,24 . T*f + W*f . (588 + 0,45 . T*f) + cp . R . (1 + U) . T*f eq. 40

Nesta equação, há duas variáveis a serem determinadas: T*f e W*f. Outra


condição empregada para possibilitar esta determinação é que a umidade relativa
determinada matematicamente seja igual a 100%.
A quantidade de água condensada no produto faz com que sua umidade passe a
ser U*f, sendo

U*f = Uf - [W* f - Wf) / R] eq. 41

Exemplo 9 - determine a umidade final de uma camada de milho com 0,05 m de


espessura, após doze minutos de secagem.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 169


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

Dados:
- teor de umidade atual da camada: 0,20 b.s.;
- umidade inicial: 0,25 b.s.;
- massa específica inicial: 750 kg m-3;
- vazão de ar nas condições de secagem: 300 m3 min-1;
- área da secção transversal: 30 m2;
- temperatura de secagem: 60 oC;
- razão de mistura, 0,01 kg kg-1;
- volume específico do ar de secagem: 0,96 m3 kg-1; e
- temperatura do produto, 40oC.

Passo 1 - cálculo do valor da razão entre as massas de matéria seca e ar seco:


Substituindo P por 750 kg m-3; ve por 0,96 m3 kg-1; A por 30 m2; Dx por 0,05 m;
Q por 300 m3.min-1; ∆t por 0,2 h (12 minutos); e Uo por 0,25 b.s., na equação 24,
obtém-se:
R = 0,24 kg kg-1.

Passo 2 - cálculo do calor específico do milho:


Substituindo U por 0,20 b.s., na equação 21, obtém-se

cp = 0,492 kcal kg-1 oC-1.

Passo 3 - cálculo da temperatura de equilíbrio:


Substituindo To por 60oC; Wo por 0,01 kg kg-1; Tgo por 40oC; R por 0,24 kg kg-
1
; U por 0,20 b.s.; e cp por 0,492 kcal kg-1 oC-1, na equação 25, obtém-se

Te = 52,66 oC.

Passo 4 - cálculo da pressão de vapor de saturação à temperatura de equilíbrio:


Substituindo Te por 52,66oC, na equação 27, obtém-se

Pvs = 105,15 mmHg.

Passo 5 - cálculo da umidade relativa:


Substituindo Wo por 0,01 kg kg-1, Pvs por 105,15 mmHg e Patm por
760 mmHg, na equação 26, obtém-se

UR = 11,44%.

Passo 6 - cálculo da umidade de equilíbrio:


Substituindo Te por 52,66oC e UR por 11,44%, na equação 28, obtém-se:
Ue = 0,0424 b.s.

170 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa
Passo 7 - Cálculo da razão de umidade atual do produto:
Substituindo U por 0,20 b.s., Uo por 0,25 b.s. e Ue por 0,0424 b.s., na equação
30, obtém-se

RUo = 0,759.

Passo 8 - cálculo do tempo equivalente:


Os valores A e B das equações 31 e 32, para Te = 52,66, são -1,243 e 6,652,
respectivamente. Substituindo esses valores, juntamente com RUo = 0,759, na equação
29, obtém-se

te = 0,849 h.

Passo 9 - cálculo da razão de umidade após 12 minutos:


Substituindo ∆t por 0,2 h, te por 0,849 h, A por -1,243 e B por 6,652, na equação
33, obtém-se
RUf = 0,730.

Passo 10 - cálculo do teor de umidade do produto após o incremento de tempo:


Substituindo RUf por 0,730, Ue por 0,0424 b.s. e Uo por 0,25 b.s., na equação
34, obtém-se

Uf = 0,194 b.s.

Passo 11 - cálculo da razão de mistura do ar:


Substituindo R por 0,24 kg kg-1, Wo por 0,01 kg kg-1, U por 0,2 b.s. e Uf por
0,194 b.s., na equação 35, obtém-se

Wf = 0,0115 kg kg-1.

Passo 12 - cálculo das temperaturas finais do ar e do produto:


Substituindo Wo por 0,01 kg kg-1; Te por 52,66oC; Wf por 0,0115 kg kg-1; R por
0,24 kg kg-1; cp por 0,492 kcal kg-1.oC-1; U por 0,2 b.s.; e DL por 8,81 kcal kg-1, na
equação 39, obtém-se
Tf = 50,15oC e Tgf = 50,15oC.

Passo 13 - cálculo da umidade relativa de saída da camada:


Substituindo Te por 50,15oC, na equação 27, obtém-se Pvs = 92,99 mmHg. A
umidade relativa do ar determinada para Pvs = 92,99 mmHg, Wo=0,0115 kg kg-1 e
Patm = 760 mmHg, por meio da equação 26, é

UR = 14,84%.
Passo 14 - conclusão:
Como a umidade relativa do ar é inferior a 100%, o ponto de estado é exeqüível.
Portanto, não há necessidade de fazer novo balanço de energia.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 171


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

3.2.2. Simulação para uma Camada Espessa


Entendido o procedimento para o cálculo das variações ocorridas na secagem de
uma camada fina, para pequenos incrementos de tempo, fica fácil entender a simulação
da secagem em camada espessa, sejam elas fixas ou em movimento.

a) Camada Fixa
Para simular a secagem de uma camada fixa, divide-se a massa de grãos em
várias camadas finas e, consecutivamente, calculam-se tanto as variações que ocorrem
na temperatura e umidade do ar à medida que este vai passando de uma camada para
outra, quanto àquelas variações que ocorrem no produto em cada camada. A simulação
é realizada para pequenos intervalos de tempo, até o produto atingir a umidade desejada.

b) Camada em Movimento
Teoricamente, o secador de fluxos cruzados funciona como um secador em leito
fixo. O ar de secagem evapora e transporta a umidade do produto para o meio exterior.
A temperatura e a capacidade de carrear água do ar vão diminuindo à medida que o ar
passa pelas camadas. Para simular a secagem nesses secadores, admite-se que não há
revolvimento da massa de grãos. Assim, a massa de grãos apresenta-se como composta
por camadas muito longas, que passam pela coluna do secador e com o ar fluindo em
direção perpendicular a estas camadas.
Num secador de fluxos concorrentes, o ar e o produto escoam no mesmo sentido.
Para simular tal sistema, considera-se a massa de grãos como uma série de camadas
finas através das quais passa o ar. Nota-se que, a cada intervalo de tempo, nova camada
estará entrando na parte superior do secador e uma camada estará sendo removida do
fundo deste. A simulação para um secador concorrente, funcionando em regime
permanente, torna-se fácil quando o incremento de tempo (∆t) é devidamente escolhido.
Para isto, basta fazer com que a camada que está numa posição i-ésima no tempo j-
ésimo se desloque para a posição (i +1) ésima no tempo (j +1) ésimo. Assim, ∆t deve
ser igual à espessura da camada dividida pela velocidade de deslocamento do grão no
secador.
Num secador contínuo de fluxos contracorrentes, o ar e o produto escoam em
sentidos opostos. Na simulação desse processo, considera-se que a massa de grãos é
formada por um grupo de camadas finas, através das quais passa o ar. A cada intervalo
de tempo, nova camada é colocada na parte superior do secador, enquanto outra é
removida pela parte inferior do secador. A simulação é feita por iterações, porque as
condições iniciais não são conhecidas. O ponto de estado do ar no topo do secador, bem
como o teor de umidade e a temperatura da última camada, não são conhecidos. A
simulação consiste na aproximação do regime permanente, calculando-se as variações
da umidade do ar e do produto quando o ar passa de uma camada para outra, após um
intervalo de tempo (∆t), igual à espessura da camada dividida pela velocidade do
produto. Assim, trocando cada camada de posição e adicionando uma nova camada no
topo, repetem-se os cálculos até as condições tenderem para o estado permanente.

Clique para acessar: Aplicativo 1

172 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

3.3. Validação dos Modelos


Vários pesquisadores têm utilizado os modelos de Thompson et al. (1968) e de
Hukill (1947) para realizar a simulação de secagem de produtos agrícolas como milho,
café, raspa de mandioca e outros.
QUEIROZ et al. (1981) implementaram os modelos de Thompson et al. e de
Hukill, para simular a secagem de milho em secador de leito fixo, usando calculadora
programável. Devido aos limitados recursos de memória da calculadora, o leito de grãos
foi dividido em quatro subcamadas e adotou-se o incremento de tempo de 1 a 2 horas.
Os resultados, simulados por meio desses modelos, foram comparados com os
resultados experimentais obtidos por MANTOVANI (1976). Os autores concluíram
que, embora o modelo de Hukill simule com maior aproximação a secagem de milho
em leito fixo, ambos os modelos apresentaram resultados aceitáveis para previsão do
processo.
SILVA (1985) mostrou que, após alguns ajustes, o modelo de Hukill foi
eficiente para simular a secagem, em camada espessa, de milho em espiga e milho
descascado.
FIOREZE et al. (1984) implementaram um programa de computador baseado no
modelo de Thompson et al. para simular a secagem de raspa de mandioca. Os autores
apresentam um diagrama de blocos simplificado do programa implementado. Foram
realizados testes experimentais utilizando três temperaturas de secagem (34, 40,3 e
47,6oC) e teor de umidade inicial variando entre 60 e 65% b.u. Os autores concluíram
que o modelo de Thompson et al simula a secagem de mandioca dentro dos limites de
erro aceitáveis para processos de secagem em camada espessa.
SABIONI (1986) implementou um programa de computador baseado no modelo
de Thompson et al. para simular a secagem de milho em um secador de fluxos cruzados
intermitente e com reversão de fluxo de ar. Este autor apresenta um diagrama de blocos
do programa de computador implementado. Os resultados simulados foram comparados
com resultados experimentais em que se utilizaram temperaturas de secagem a 60, 80 e
100oC e teores de umidade inicial na faixa de 22 a 27% b.u. O autor concluiu que o
modelo mostrou-se eficiente para simular o comportamento do secador.
A simulação da secagem de café tornou-se possível com o trabalho de ARTEGA
(1986), apresentando uma equação para determinar o teor de umidade de equilíbrio, e o
de PEREIRA et al. (1987), que apresentou as curvas de secagem de café em camada
delgada para diferentes teores de umidade inicial.
SILVA (1991) implementou um programa baseado no modelo de Thompson et
al para simular a secagem de café em secador intermitente de fluxos contracorrentes. O
autor apresenta uma listagem do programa desenvolvido utilizando o Turbo Pascal
versão 5.0. Os resultados simulados foram comparados com os resultados experimentais
de 12 testes de secagem, utilizando temperaturas a 60, 80 e 100oC e teores de umidade
inicial na faixa de 20 a 41% b.u. Este autor concluiu que o modelo pode ser utilizado
para prever o processo de secagem, uma vez que os desvios entre os valores
experimentais e simulados são aceitáveis para aplicações em engenharia.
GUIMARÃES et al. (1991) implementaram o modelo de Thompson et al. para
simulação de secagem de café em secador de leito fixo. Para validação do programa, os
autores realizaram 10 testes de secagem em secador de leito fixo utilizando

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 173


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

temperaturas de secagem entre 50 e 80oC e teores de umidade inicial entre 60 e 70%


b.u. Também utilizaram os resultados de três testes de secagem conduzidos por Lacerda
Filho (1986). Eles concluíram que o modelo de Thompson et al. pode ser utilizado para
a simulação da secagem de café em secador de leito fixo.
BERBERT (1991) implementou um programa de computador baseado no
modelo de Thompson et al. para simular a secagem de café em secador de leito fixo,
com inversão no sentido do fluxo de ar. O autor apresenta uma listagem do programa
desenvolvido utilizando Turbo Pascal versão 5.5. Foram realizados 18 testes
experimentais, utilizando temperaturas de secagem a 50 e 70oC e teor de umidade inicial
em torno de 25% b.u. Comparando os resultados simulados com os experimentais, o
autor concluiu que o modelo de Thompson et al. pode ser utilizado na simulação de
secagem de café em secador de leito fixo com inversão de fluxo de ar.
MELONI e QUEIROZ (1991) implementaram um programa de computador
baseado no modelo de Thompson et al. para simular a secagem de milho em secador de
fluxos cruzados com reversão de fluxos de ar e reaproveitamento do ar de exaustão. Os
autores apresentam um diagrama de blocos simplificado do programa implementado.
Foram utilizados os dados experimentais da secagem de milho em secador de fluxos
cruzados contínuos, obtidos por QUEIROZ et al. (1987) para verificação do processo de
secagem com reversão e aproveitamento de ar.
Para a simulação da secagem em baixas temperaturas, foram desenvolvidos
modelos mais apropriados', como é o caso do modelo proposto por THOMPSON (1972)
e do proposto por MOREY et al. (1976). Entretanto, SINICIO et al (1986)
implementaram um programa para simulação da secagem de milho em baixas
temperaturas, baseando-se no modelo de THOMPSON et al (1968). Esses autores
determinaram uma equação de secagem de milho em camada delgada para baixas
temperaturas e compararam os resultados simulados, usando o modelo de Thompson et
al. com os resultados experimentais. Também compararam os mesmos resultados
experimentais com os resultados simulados, utilizando modelos mais completos, como é
o caso do modelo de Michigan e o modelo de Morey et al. Os autores concluíram que os
três modelos apresentam a mesma margem de erro e podem ser utilizados para
simulação da secagem de milho em baixa temperatura. Os autores creditam o bom
desempenho do modelo de Thompson et al ao fato de utilizarem uma equação de
secagem de milho em camada delgada, desenvolvida especificamente para baixas
temperaturas.
LOPES et al. (2005) implementaram o modelo de Hukill (1947) para simulação
da secagem com baixas temperaturas considerando milho, trigo e soja. Os resultados
obtidos foram comparados às simulações usando o modelo de Thompson (1968),
também implementado pelos autores. Ambos os modelos se mostraram eficientes na
simulação da secagem com baixas temperaturas, como mostram as Figuras 14 e 15.
Nestas simulações, o teor de água inicial foi considerado igual a 21%b.u., a temperatura
e a umidade relativa do ar ambiente foram iguais a 22ºC e 70%, a temperatura do ar de
secagem foi 25ºC e a vazão do ar de secagem foi igual a 5 m3 min-1 t-1. As diferenças
entre os tempos requeridos para a secagem durante estas simulações foram iguais a
18,0h, 1,0h e 13,0h para o milho, o trigo e a soja, respectivamente.

174 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa
Pode-se concluir que os modelos de Hukill e Thompson têm simulado
satisfatoriamente a secagem de diferentes produtos agrícolas, em diferentes sistemas de
secagem. A utilização de qualquer modelo para condições diferentes daquelas
encontradas na literatura, no entanto, deve ser precedida de um trabalho de validação
utilizando-se dados obtidos experimentalmente.

Figura 14 – Variações nos teores de água (secagem simulada) em silos, usando os


modelos de Hukill e Thompson

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 175


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

Figura 15 – Variações nas temperaturas simuladas (secagem em silos) usando os


modelos de Hukill e Thompson.

4. LITERATURA CONSULTADA

1. ARTEGA, M.S. Modelacion del processo de secado. In: Seminário de secado solar,
2, 1986, Instituto General de Investigacion, Cusco, Peru. 1986. p. 51-56.
2. BERBERT, P.A. Secagem de café (Coffea arabica L.), em camada fixa, com
inversão de sentido de fluxo de ar. UFV, Viçosa, MG. 1991. 83 páginas (Tese
de Mestrado).

176 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa
3. BROOKER, D.B.; BAKKER-ARKEMA, F.W. & HALL, C.W. Drying and storage
of grains and oilseeds. The A VI Publishing Company. Westport, Conn. 1992.
450p.
4. FIOREZE, R; ROSSI, S.J. & KLUPPEL, R.P. Simulação de secagem de camadas
espessas de raspas de mandioca. Revista Brasileira de Armazenamento.
Viçosa, MG. 9(1):19-22. 1984.
5. HUKILL, W.V. Grain Drying In: Storage of Cereal Grains and Their Products.
American association of Cereal Chemists, St. Paul, Minnesota. 1974 481-508.
6. LACERCA FILHO, A.F. Avaliação de diferentes sistemas de secagem e suas
influências na qualidade do café (Caffea arabica, L.). UFV, Viçosa, MG.
136p. 1986 (Tese de Mestrado).
7. LOPES, D.C.; MARTINS, J.H.; STEIDLE NETO, A.J.; STEIDLE FILHO, A.J.
Simulação da secagem de grãos com baixas temperaturas utilizando-se o
modelo de Hukill: uma nova abordagem. Exacta, v.3, 85-93. 2005.
8. MANTOVANI, B.H.M. Análise e simulação de secagem de grãos de milho em
camadas espessas. UFV, Viçosa, MG. 1976 (Tese de Mestrado).
9. MELONI, P.L.S. & QUEIROZ, D.M. Secagem de milho em secador de fluxos
cruzados com reversão de fluxo de ar e reaproveitamento do ar de exaustão.
Anais do XX Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, Londrina, PR. 1991.
10. MOREY, R.V.; CLOUD, H.A. & NELSON, W.W. Simulation of solar energy
grain drying - Minnesota contribution. Agricultural Engineering Department,
University of Minnesota. St. Paul, Minnesota, 1976. 43p.
11. PEREIRA, J.A.M.; QUEIROZ, D.M.; RIBEIRO, A.L.; SASSERON, J.L. e
DALPASQUALE, V.A. Curvas de secagem de café em camada fina de 40 a
80 graus Celsius. VIII Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de
Alimentos. Itabuna-BA, 1987.
12. PINTO, F.A.C.; SILVA, L.S. QUEIROZ, D.M. & PEREIRA, J. A. M. Simulação
de Secagem. In: Pré-Processamento de Produtos Agrícolas, Juiz de Fora,
Instituto Maria, 1995. 509p.
13. QUEIROZ, D.M.; SILVA, J.S. & MELO, E.C. Práticas de Simulação de
Secagem em Calculadoras Programáveis. Centro Nacional de Treinamento
em Armazenagem, Viçosa (MG). 1982. 83 p.
14. QUEIROZ, D.M.; PEREIRA,J.A.M. & MELO,E.C. Modelos Matemáticos de
Simulação de Secagem de Grãos. Centro Nacional de Treinamento em
Armazenagem, Viçosa (MG). 1986. 54p.
15. QUEIROZ, D.M.; MELO, E.C. & SILVA, J.S. Comparação entre os modelos de
secagem de milho de Thompson e de Hukill em computador IBM-360 e
adaptados para a calculadora Texas TI-59. Anais do XI Congresso
Brasileiro de Engenharia Agrícola. Brasília, DF. 459-473. 1981.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 177


Capítulo 6 Estudo da Secagem em Camada Espessa

16. SABIONI, P.M. Projeto e avaliação de um secador de fluxos cruzados,


intermitente e com reversão do fluxo de ar, na secagem de milho (Zea mays
L.). UFV, Viçosa, MG. 101p. 1986. (Tese de Mestrado).
17. SINICIO, R.; PINHEIRO FILHO, J.B.; FORTES, M. & DALPASQUALE, V.A.
Comparação de modelos matemáticos para a simulação de secagem de milho a
baixas temperaturas. Revista Brasileira de Armazenamento. Viçosa, MG.
11(1):36-42. 1986.
18. SILVA, F.A.P. Simulação de secagem de milho (Zea mays, L.) em espiga para
sementes. UFV, Viçosa, Mg. 53 páginas. 1985. (Tese de Mestrado).
19. SILVA, J.S. An Engineering Economic Comparison of Five Drying
Techniques of Shelled Corn on Michigan Farms. East Lansing, Michigan
State. 1980. (Tese de Doutorado).
20. SILVA, L.C. Desenvolvimento e avaliação de um secador de café (coffea
arabica L.) intermitente de fluxos contra-correntes. Viçosa, UFV, Impr.
Univ., 1991. 74p. (Tese Mestrado).
21. THOMPSON, T.L. Temporary storage of high-moisture shellede corn using
continous aeration. Transaction of the ASAE. ST. Joseph, MI. 15(2):333-
337.1972.
22. THOMPSON, T.L.; PEART,R.M. & FOSTER,G.H. Mathematical Simulation of
Corn Drying : a New Model. Transaction of the ASAE, St. Joseph, Michigan.
11(4):582-586,1968.

178 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

Capítulo

7
SECAGEM DE GRÃOS COM ENERGIA SOLAR

Juarez de Sousa e Silva


Sérgio Maurício Lopes Donzelles
Paulo César Corrêa

1. INTRODUÇÃO

Como descrito no capítulo referente ao estudo dos métodos de secagem, os


processos de secagem na própria planta, em terreiros e em plataformas elevadas foram
os primeiros métodos utilizados para secagem de grãos e desidratação de alimentos
perecíveis. Ainda hoje, estes métodos são amplamente utilizados em regiões
subdesenvolvidas e/ou em desenvolvimento. Falta de energia convencional,
desconhecimento de técnicas mais modernas, condições climáticas desfavoráveis e
reduzido investimento em capital são apontados como os principais motivos para a
utilização da secagem solar em terreiros e plataformas. Apesar das dificuldades da
utilização da energia solar em grande escala, como será visto mais adiante, desde 1974,
quando da primeira crise do petróleo, tem havido grande interesse na possibilidade de se
usar essa fonte de energia para substituir as fontes convencionais (principalmente os
derivados do petróleo) na secagem de produtos agrícolas ou em outras aplicações.

2. SECAGEM SOLAR EM TERREIROS

A secagem solar em terreiros difere da secagem natural simplesmente pelo fato de


o produto ser retirado da planta e colocado em uma superfície plana (solo batido ou
revestido com tijolos, concreto ou asfalto) previamente preparada para receber o
produto a ser secado. A energia utilizada para a remoção da umidade é proveniente da
radiação solar e da entalpia do ar. Apesar de ser muito utilizada, em todo o mundo, por
pequenos agricultores para secagem do arroz, milho e feijão etc., a secagem solar em
terreiros e plataformas é especialmente utilizada para secagem do café e do cacau.
A secagem em terreiros apresenta a desvantagem da dependência dos fatores
climáticos, que, se forem desfavoráveis, retardam o processo e propiciam a infecção do
produto por microrganismos que causam a deterioração, com redução na qualidade.
O uso exclusivo do terreiro (Figuras 1 e 2) por muitos cafeicultores deve-se,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 179


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

principalmente, a problemas energéticos, à não-preocupação com características


qualitativas do produto depois da secagem, ou ao baixo poder aquisitivo e nível técnico
da propriedade.
A principal vantagem do método é a economia de energia, pois durante a secagem
só se utiliza a radiação solar. Além disso, os raios solares têm ação germicida e não são
poluentes. Em contrapartida, para o processo de secagem em terreiros, exigem-se
extensas áreas, muita mão-de-obra e o produto pode ficar sujeito a condições ambientais
inadequadas. A plataforma coberta, utilizada para cacau, reduz, mas não elimina, os
problemas de condições climáticas adversas e suas conseqüências.

Figura 1 - Terreiros improvisados para secagem de café.

Figura 2 - Operação de distribuição e revolvimento de café em terreiros com alto


padrão de construção.

180 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

2.1. Manejo e Características Técnicas do Terreiro


No caso do café, depois dos primeiros dias de secagem (em torno do quinto dia),
quando o café já estiver parcialmente seco, às 3 horas da tarde aproximadamente, o
produto deve ser enleirado no sentido da maior declividade do terreiro e as leiras devem
ser cobertas com lonas plásticas. A cobertura do produto enleirado favorecerá a
conservação do calor absorvido durante a exposição aos raios solares, garantindo
melhor uniformização e redistribuição da umidade na massa de grãos. Ao amanhecer,
por volta das 9 horas, as leiras devem ser descobertas e removidas do local de pernoite,
para que o piso utilizado seja secado. Em seguida, o produto deve ser espalhado sobre o
terreiro, repetindo-se as operações feitas no dia anterior, até atingir o teor de umidade
ideal para o armazenamento ou até o ponto de meia-seca (30% b.u.), ponto ideal para se
iniciar a complementação da secagem na maioria dos secadores mecânicos, como será
visto mais adiante.
Para o arroz, a secagem em terreiro não significa, necessariamente, uma garantia
de qualidade, como acontece com alguns produtos. O manejo inadequado da secagem
em terreiros pode produzir grãos trincados em nível superior aos produzidos por
secadores a altas temperaturas. Se o arroz for espalhado em camadas muito finas
(inferior a 3,0 cm) e a intensidade de radiação solar for elevada, o índice de trincas será
elevado, independentemente do número de revolvimento. Manejado adequadamente, o
arroz secado em terreiro pode ter a sua qualidade comparada ao produto secado em
secadores mecânicos.
Sempre que possível, o terreiro deve estar localizado em área plana e bem
drenada, ensolarada, ventilada, em nível inferior às instalações de recepção e preparo
inicial e superior às instalações de armazenamento e beneficiamento.
Como dito anteriormente, os terreiros podem ser construídos em terra batida ou
pavimentada com tijolos, asfalto ou concreto. O piso de tijolos parece ser o mais
aconselhável, porque tem a propriedade de absorver parte dos raios solares, não
transmite gosto estranho e em geral apresenta menor custo. Os concretados, entretanto,
apresentam melhores resultados, são mais duráveis, mais fáceis de manejar e
apresentam melhores características de limpeza.
No caso especial do café, a área do terreiro pode ser calculada em função da
produção média da lavoura por mil covas, do número de cafeeiros e das condições
climáticas da região.
Na hipótese de se utilizar apenas o terreiro para a secagem, o cálculo da área
poderá ser feito segundo a equação 1:

S=0,055QT eq. 1
em que
S = área do terreiro, m2 para produção de 1.000 pés;

Q = produção média anual em cereja, no de volumes de 110 L/1000 pés; e

T = tempo médio de secagem na região, dias.

Quando da utilização somente do terreiro para realizar a meia-seca, ou seja, para

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 181


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

reduzir o teor de umidade de 60% para aproximadamente 30% b.u. (o que ocorre em
cerca de cinco dias) e complementar a secagem em secadores mecânicos, a área do
terreiro poderá ser reduzida para pelo menos 1/3 do valor.
Na medida do possível, o terreiro deverá ser dividido em quadras, para facilitar a
secagem dos lotes segundo sua origem, seu teor de umidade e sua qualidade. A fim de
facilitar o escoamento das águas pluviais, o terreiro deverá ser construído com
declividade de 0,5 a 1,5% e provido de ralos na parte inferior. Estes ralos, medindo 0,4
x 0,25 m, devem ser construídos em chapa de aço com 50% de perfuração e furos
quadrados de 3 mm de lado, no máximo, para impedir a passagem dos grãos.
Aconselha-se construir muretas de proteção medindo 0,20 m de altura por 0,15 m
de espessura ao redor do terreiro, para evitar perdas ou misturas de material dos
diferentes tipos de cafés.
A partir do ponto de meia-seca, o café completará sua secagem em montes, onde
se estabelecerá o equilíbrio entre as camadas externas e a parte interna do grão e dos
grãos entre si. Para tanto, diariamente, o café deve ser revirado e exposto por duas ou
três horas ao sol e, a seguir, amontoado e coberto.

Clique para ver o vídeo sobre o terreiro de lama asfáltica: vídeo 1


Clique para ver o vídeo sobre higienização de terreiro: vídeo 2

3. SECADOR HÍBRIDO (TERREIRO-BIOMASSA)

O secador híbrido nada mais é que um terreiro comum construído em alvenaria


de cimento onde se adaptou um sistema de ventilação com ar aquecido. Cada unidade
do secador híbrido deve ser constituída por uma área com as dimensões de 10,0 por 15,0
m, aproximadamente. Na direção do comprimento, o terreiro-secador é dotado de uma
tubulação central para ventilação. Desta, são derivadas aberturas para 6 (seis) câmaras
de secagem em camada fixa, ou igual número de tubulações secundárias para secagem
em leiras (Figura 3 A e B).
As câmaras de secagem, portáteis e construídas em caixas com um fundo falso,
feito em chapas perfuradas, ficam simplesmente apoiadas sobre as aberturas da
tubulação principal (Figura 4A). A Figura 4B, mostra um secador híbrido trabalhando
com seis câmaras de secagem. Já as tubulações secundárias, construídas com tubos de
PVC 150 mm perfurados, ficam encaixadas nas aberturas do duto principal.
Ao duto principal é acoplado um ventilador centrífugo acionado por motor
elétrico de 5 cv, 1.750 rpm, que possibilita uma vazão de 1,5 m3/s de ar.
Na ausência de radiação solar, incidência de chuvas e durante o período noturno,
o produto é recolhido às câmaras de secagem ou enleirado sobre os dutos secundários
para secagem com ar aquecido. Em ambos os casos, deve-se providenciar cobertura para
proteção dos grãos durante períodos chuvosos. Assim, a secagem poderá ser realizada
durante as 24 horas, por meio da utilização da energia solar durante os dias ensolarados
e da energia proveniente da combustão de biomassa (lenha ou carvão vegetal) durante a
ausência da radiação solar.
Durante os dias ensolarados, o terreiro terá funcionamento normal, como visto
anteriormente, e, ainda assim, pode-se usar as câmaras para secagem com ar a altas

182 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

temperaturas; ganha-se, com isso, em produtividade de secagem. Para o funcionamento


do terreiro com ar a alta temperatura, deve-se proceder de modo semelhante ao da
secagem em camada fixa, como visto no capítulo 5 – Secagem e Secadores.

Figura 3 – Vista superior e corte longitudinal do secador híbrido, com opções para
secagem em camada fixa ou em leiras.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 183


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

Figura 4 A – Câmara de secagem construída com caixa de fibra de 2.500 litros

Figura 4 B – Secador híbrido trabalhando com seis câmaras de 1000 litros.

Clique para ver: vídeo 1 vídeo 2 vídeo 3

4. ENERGIA SOLAR

Como dito anteriormente, há muito tem havido grande interesse na possibilidade


de se usar a energia solar para a secagem mecânica de produtos agrícolas e em outras
aplicações. Porém, a quantidade de energia solar que pode incidir em uma superfície
perpendicular aos raios solares é relativamente diluída, ou seja, em um dia
completamente claro (ausência de nebulosidade) e numa latitude média do Brasil, é de
aproximadamente 4.800 kcal ou 20.000 kJ/dia, por metro quadrado de área coletora.
Isso significa que uma superfície absorvedora com 2,5 m2 só poderia, na melhor das
hipóteses, interceptar uma quantidade de energia solar equivalente a 1 kg de óleo diesel
ou 3 kg de carvão vegetal por dia.
Infelizmente, existem fatores que impedem coletar e usar eficientemente o total de
energia incidente. Primeiramente, o sol não está descoberto todos os dias, e, por outro
lado, dependendo da região, a poluição atmosférica impede uma boa utilização da
radiação solar. Finalmente, a orientação do coletor tem grande efeito na quantidade total
recebida e, em muitos casos, é quase impossível orientar um coletor de maneira que ele
fique perpendicular aos raios solares, pois os investimentos adicionais para o
direcionamento da superfície coletora inviabilizariam o sistema. Uma opção econômica
seria aceitar uma menor eficiência na captação de energia com a fixação da superfície
coletora em uma posição que possa captar maior quantidade de energia.
A maioria dos trabalhos que tratam do aproveitamento da energia solar para a
secagem de grãos tem sido direcionada para sistemas de secagem a baixas temperaturas,
uma vez que seria difícil sua aplicação em sistemas que funcionam a altas temperaturas,
em razão do alto nível de energia necessária (120.000 a 300.000 kJ/hr) para secadores
mecânicos de média capacidade.
Como visto no capítulo referente ao estudo dos métodos de secagem, os sistemas

184 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

de secagem a baixas temperaturas envolvem, geralmente, a secagem em silos, nos quais


o incremento da temperatura do ar fica pouco acima da temperatura ambiente, ou seja,
um incremento abaixo de 10 oC, incluindo o aumento de temperatura proveniente do
atrito do ar no ventilador e nos dutos de distribuição deste ar. Neste caso, a energia solar
tem grande potencial como fonte de energia para a secagem.
A secagem a baixa temperatura requer longo tempo de operação, possibilitando a
deterioração das camadas superiores, caso o sistema não seja criteriosamente
dimensionado. Teores de umidade superiores a 20% b.u. propiciam a deterioração em
curto espaço de tempo, exigindo altos fluxos de ar na secagem, tornando o sistema
inviável técnica e economicamente. Esse problema pode ser amenizado se for adotado
um sistema de secagem em combinação, com uma pré-secagem a altas temperaturas, em
secadores convencionais. Neste caso, o teor de umidade do produto seria reduzido a
níveis seguros para o complemento da secagem a baixas temperaturas, em silos, com
energia solar. Tal procedimento, além de evitar a deterioração do produto, acarretará
uma economia substancial de tempo e de energia convencional.

5. O COLETOR DE ENERGIA SOLAR

Pode-se encontrar na literatura especializada, apesar de muita semelhança,


grande variedade de tipos de coletores solar. Será descrito neste capítulo um tipo que
parece ser o mais recomendável, em caso de se adotar a secagem com energia solar. É
um coletor plano e não exige nenhum dispositivo mecânico para mantê-lo perpendicular
aos raios solares. Como dito anteriormente, o coletor deve ser fixo e orientado na
direção norte-sul, com a superfície absorvedora voltada para o norte. Outro ponto
importante e que deve ser obedecido é quanto à inclinação da superfície absorvedora
com a horizontal (nível do solo). Neste caso, uma inclinação ótima para a variação anual
pode ser tomada como igual ao valor da latitude onde o sistema será instalado (Figura
5).

Figura 5 – Inclinação ótima para coletores planos.

Uma grande vantagem do coletor plano é que ele irá absorver a energia
diretamente do sol, em forma de radiação direta, e também a energia difusa (radiação
refletida pela terra e pelas nuvens). Com um coletor plano, é possível, dependendo do
fluxo de ar adotado, incrementar a temperatura do ar em até 30 oC, em dias de céu
descoberto. Um incremento de 5 oC é considerado um bom valor para se obter uma
eficiência razoável do sistema.
Além dos fatores mencionados, o coletor plano de energia solar é de construção

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 185


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

relativamente fácil e de custo mais baixo que outros tipos de coletores. Isso faz com que
os coletores planos sejam a melhor escolha para a secagem de produtos agrícolas.
Como dito anteriormente, há vários modelos de coletores planos, mas todos eles
possuem duas características básicas:
a) uma placa preta, para absorver a energia solar; e
b) um fluido circulante (ar ambiente), para retirar o calor da chapa e levá-lo
para o ponto de utilização, que, no caso de secagem, é uma câmara que
contém os grãos a serem secados.
O secador solar rotativo é uma exceção ao que foi dito e será estudado mais
adiante.
Um coletor de energia solar, tendo o ar como fluido circulante, pode ser
construído com uma simples chapa de aço ou telha de cimento-amianto, pintados em
preto fosco, ou ser construído com materiais mais sofisticados. A chapa ou telha deverá
formar um canal com a estrutura por onde deverá ser forçada a passagem do ar (Figura
6A).
Um segundo tipo possui ainda uma cobertura transparente sobre a placa coletora,
com a finalidade de aumentar o rendimento total do sistema. Esta cobertura transparente
pode ser de vidro ou mesmo um simples lençol de plástico transparente. A cobertura
transparente tem por finalidade evitar as perdas de calor da chapa coletora para o
ambiente e formar um segundo canal de ventilação para aumentar a superfície de troca
de calor (Figura 6 B).
Há diferentes maneiras de melhorar a eficiência de um coletor. Entretanto, para
que essa melhoria seja levada a cabo, deve-se analisar o benefício do investimento
adicional. Usualmente, os coletores mais eficientes são também os mais caros.

B
Figura 6 – Cortes transversais de coletores sem cobertura (A) e com cobertura (B).

5.1. Construção do Coletor Solar


Os coletores solares podem ser construídos de diferentes materiais. Entretanto,
esses materiais devem ser bastante resistentes às variações de temperaturas, à chuva, ao

186 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

vento, à radiação solar e aos agentes poluidores. De modo geral, o projeto de um coletor
deve permitir fácil manuseio e fornecer o máximo de calor com um mínimo de
manutenção e reparos.
5.1.1. Cobertura transparente
Usualmente, o vidro é a melhor cobertura para os coletores para aquecimento de
ar. O vidro é bastante transparente à radiação solar e relativamente opaco às radiações
em forma de calor, constituindo-se em um bom isolante contra o calor coletado pela
placa absorvedora (este fenômeno é conhecido como efeito estufa e explica o porquê de
os carros fechados permanecerem bastante quentes, quando expostos ao sol).
Lençóis de plástico transparente são também bastante usados como cobertura
para os coletores. Entretanto, são menos duráveis do que as coberturas em vidro.
Usualmente, a vida útil da cobertura transparente em plástico não é superior a dois anos.
O lençol plástico é mais transparente à radiação solar do que o vidro comum. Por outro
lado, é bem menos opaco à radiação em forma de calor. Nesse caso, o usuário deve
optar pelo que lhe for mais conveniente. Para baixas temperaturas, como secagem de
café, os lençóis de plástico são mais convenientes. Eles são flexíveis, mais fáceis de
instalar e custam bem menos que uma lâmina de vidro de igual tamanho. Ao montar um
coletor solar com cobertura transparente em vidro, deve-se levar em conta o tamanho e
o número de placas. Em caso de quebra, placas menores custam menos e são mais fáceis
de serem substituídas.

5.1.2. Placa coletora


As características desejáveis de uma placa absorvedora são:
- absorver o máximo da radiação solar;
- perder o mínimo de calor para o ambiente; e
- transferir facilmente o calor absorvido para o ar circulante.

Se a placa for pintada de preto, ela irá absorver mais energia radiante do que em
qualquer outra coloração. Uma superfície preta fosca pode absorver até 95% da radiação
que atravessa a cobertura transparente. Os materiais mais usados como placa coletora
são o cobre, o alumínio, o ferro, o cimento-amianto e o plástico. O cobre é o mais caro,
mas possui a mais alta condutividade térmica. Por outro lado, o cimento-amianto é
menos caro e bastante aplicável no caso de secagem de grãos (é durável e de fácil
instalação).
A superfície da placa coletora afeta também a transferência de calor para o ar
dentro dos coletores. Alguns tipos são feitos de material corrugado, com a finalidade de
aumentar a área de transferência de calor. Por esses motivos, a telha de cimento-amianto
foi escolhida para o projeto dos coletores modelos UFV.

5.1.3. Caixa protetora


Metal, fibra de vidro, concreto e madeira podem ser usados para acondicionar a
placa coletora e completar o coletor. No entanto, a estrutura de madeira é mais leve e
facilmente encontrada no mercado, exigindo apenas um carpinteiro para a confecção de
toda a estrutura do coletor. Isolamento térmico pode ser adicionado no fundo e nas
laterais da caixa protetora, para evitar as perdas de calor. Entretanto, o investimento em

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 187


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

isolamento poderá ser superior ao valor da energia adicional coletada. Lã de vidro é o


material mais utilizado para isolar os coletores solares.
Quando o coletor não estiver em operação ou estiver com a ventilação desligada,
a temperatura pode atingir valores acima de 80 oC. Dessa maneira, é aconselhável cobrir
o coletor, para evitar danos ocasionados por estas altas temperaturas e, se possível,
retirar o lençol plástico, quando não em uso, para maior durabilidade.

5.1.4. Propriedades dos coletores planos


a) Coletor sem a cobertura transparente:
- o acréscimo de temperatura é inferior a 15 oC;
- a velocidade máxima do ar dentro do coletor deve estar ao redor de 250
m.min. -1;
- o espaço entre a chapa coletora e o fundo da caixa deve estar entre quatro e
cinco centímetros; e
- o material para a placa coletora deve ser de cimento-amianto ou metal
pintado de preto fosco.

b) Coletor com cobertura transparente:


- o acréscimo de temperatura poderá atingir 40 oC;
- a velocidade máxima do ar deve estar ao redor de 250 m.min-1;
- o espaço entre a placa e o fundo do coletor deve ser de dois centímetros, e de
três centímetros entre a placa e a cobertura transparente;
- o material para chapa coletora deve ser de cimento-amianto ou metal pintado
de preto fosco; e
- o material transparente para cobertura deve ser de vidro ou plástico.

6. SECAGEM COM ENERGIA SOLAR

Mesmo com a existência de vários tipos de secadores que usam energia solar,
como o utilizado para pequenas produções de café (Figura 7), dois sistemas foram
construídos e testados na Universidade Federal de Viçosa. O primeiro, um secador
registrado como UFV - J2, se assemelha a um secador de camada fixa horizontal,
possuindo um teto solar (coletor solar), um ventilador, um duto de conexão e uma
câmara de secagem (Figuras 8, 9 e10).
O segundo, um secador solar rotativo registrado como UFV-JPC1, que é um
melhoramento do secador solar suspenso (figura 7), consta apenas de uma caixa
formada por laterais de madeira, com frente e fundos em tela de aço com malha
quadrada de 4 mm. A caixa possui um eixo central (tubo de ferro de 3/4 de polegadas),
que é apoiado em dois pequenos pilares de madeira, para permitir uma fácil rotação. O
próprio produto a secar (café) constitui o material absorvedor de calor neste tipo de
secador (Figura 11). A ventilação natural é o meio que retira o calor absorvido e elimina
a umidade, como acontece nos terreiros tradicionais ou secadores suspensos.
Nos secadores solares rotativos o café passa simultaneamente por operações de
secagem e limpeza, dispensando, assim, a utilização de terreiros e não requerendo outra
forma de energia. Como nos secadores suspensos, o produto, por não estar em contato

188 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

direto com o piso do terreiro, que apresenta problemas de limpeza e desinfecção, tem
menor chance de ser contaminado por microrganismos indesejáveis. Já o secador com
teto solar necessita de pequena área de terreiro para a secagem inicial do café com alto
teor de umidade e, ainda, de energia elétrica para o acionamento do ventilador. Para
produtos relativamente secos, como é o caso do milho, arroz ou feijão, a secagem inicial
em terreiros é totalmente dispensada.
Em comparação à secagem com ar natural, este secador tem maior capacidade de
secagem por causa da elevação da temperatura do ar. Caso o secador solar UFV-J2 seja
usado em combinação com o secador solar rotativo UFV-JPC1, o terreiro é eliminado e
o processo torna-se mais fácil e com maior capacidade de secagem.

Figura 7 - Secadores em telas suspensas, para secagem solar.

Figura 8 – Vista geral do secador solar UFV - J2

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 189


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

Figura 9– Planta baixa do secador do secador solar UFV-J2.

Figura 10 – Corte transversal (b) do secador do secador solar UFV-J2.

Figura 11 - Vista geral dos secadores solares rotativos (UFV-JPC1).

6.1. Manejo dos Secadores Solares


1 - Secador UFV-J2: no caso da secagem do café, o produto, depois de lavado,
deverá passar por uma pré-secagem em terreiro ou em secadores rotativos durante um

190 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

período de três dias, dependendo das condições ambientais. A altura total da camada de
café no tanque secador não deve ultrapassar 0,5 m, e ela pode ser colocada em camadas
(uma pequena camada por dia). Se as condições forem ideais, a secagem poderá ser
completada em torno de seis dias (até os três primeiros dias, o ventilador deverá
funcionar também durante a noite). Para evitar a ocorrência de gradientes elevados de
umidade, é aconselhável fazer o revolvimento da camada de grão pelo menos duas
vezes ao dia durante todo o período de secagem. Para secagem de milho, arroz ou feijão,
a carga do secador pode ser feita em uma única vez. Como no caso do café, é
aconselhável revolver a camada de grãos, principalmente para o arroz.
2 - Secador UFV-JPC1: ao contrário do caso anterior, depois de lavado, o café
é colocado diretamente nos secadores rotativos. Os secadores devem ser orientados na
direção norte-sul, ocupando quatro posições durante o dia, como indicado na Figura 12.
Antes de se colocar o secador numa determinada posição, o produto deve ser
homogeneizado, por meio de pelo menos cinco giros no secador. Ao girar o secador, o
operador deve ter o cuidado de fazê-lo de maneira lenta, para que o produto fique bem
misturado.
Se as condições forem favoráveis, depois de cinco dias de exposição ao sol, e no
caso do café, o volume do material dentro dos secadores rotativos deverá estar em torno
de 60% do volume inicial. Nesse ponto, o material de um secador deve ser transferido
para outros dois, e o primeiro imediatamente recarregado, de acordo com o esquema da
Figura 13. Para grãos que não sofrem redução substancial do volume durante a secagem
(milho, feijão, arroz etc.), não há necessidade da operação anterior. A única restrição
para a secagem destes produtos fica no tamanho da malha das telas dos secadores
rotativos (Figura 14).

Figura 12 - Diferentes posições do secador solar rotativo durante a secagem.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 191


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

Figura 13 - Esquema de funcionamento dos secadores rotativos.

Figura 14 – Detalhes do secador solar rotativo.

6.2. Quantidade Necessária de Secadores Solares Rotativos


Como os secadores rotativos são mais indicados para a secagem de café, devido
à relação entre preço do produto e custos dos secadores, o cálculo da capacidade de
secagem ficará restrito a este produto.
1 - Secador Solar Rotativo. Suponha que em uma pequena propriedade é
colhido 1,2 m3 de café por dia. Calcular o número de secadores rotativos de 1,2 x 1,2 x
0,15 m necessários para atender à secagem do café durante o período de colheita.

192 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

Solução. Em regiões favoráveis, são necessários, em média, treze dias de


exposição ao sol para que o teor de umidade do café seja reduzido de 60% b.u.
(colheita) para um valor próximo a 12,5% b.u., considerado ideal para uma
armazenagem segura ou para a comercialização. Isto quer dizer que cada secador solar
rotativo ficará ocupado por igual período. Após este intervalo de tempo, o secador é
descarregado e nova operação é iniciada. Como dito anteriormente, após cinco dias de
exposição ao sol, o volume de café dentro do secador será reduzido para 60% do valor
inicial, como indicado na Figura 10. Neste ponto, o material contido em um secador
deve ser transferido para completar o volume inicial de outros dois secadores. Realizada
esta operação, o secador descarregado é liberado para nova carga com produto úmido.
Este procedimento é repetido até o ponto em que os secadores completem, em
média, os treze dias de funcionamento. O número de secadores necessários é, então,
determinado pela equação 2:

Nts=13Nsd-(8Nsd / 3) eq. 2
em que
Nts = número total de secadores; e
Nsd = número de secadores usados por dia.

Assim, o resultado da colheita de 1,2 m3/dia será colocado em seis secadores de


1,2 x 1,2 x 0,15 m, com capacidade de 0,2 m3 cada. Substituindo os valores na Eq. 2,
obtém-se
Nst = 13 x 6 - (8 x 6) /3 = 62 secadores rotativos

2 - Secador Solar UFV-J2. Suponha que a mesma quantidade de café do


exemplo anterior seja colhida (1,2 m3/dia). Determinar as dimensões do secador e
quantos metros quadrados de terreiro ou secadores rotativos serão necessários.
Solução. A carga do secador solar UFV-J2 deverá ser feita em camadas, depois
de três dias de pré-secagem nos secadores rotativos ou em terreiro. Assim, para cada dia
de colheita, após o terceiro dia de exposição ao sol, aproximadamente 1,2 m3 de café
será transferido para o secador solar UFV-J2, o qual, após quatro camadas consecutivas,
conterá 1,2 x 4 = 4,8 m3 de café.
Com seis dias de secagem, depois de se colocar a quarta camada (dependendo
das condições de insolação), o secador poderá ser descarregado, iniciando-se novo
carregamento. Dessa maneira, 18 secadores rotativos (ou 90 m2 de terreiro) serão
necessários para operar em conjunto com um secador solar UFV-J2 que contenha um
tanque secador com as seguintes dimensões: 4,8 x 2,0 x 0,5 m e um teto solar de 7 x 3 =
21 m2 de área coletora. Um ventilador que forneça 10 m3.min-1.m-3 de café deverá ser
acoplado ao sistema.

6.3. Terreiro Suspenso Portátil


O terreiro suspenso e transportável ou portátil, de acordo com Darfet citado por
SILVA et al. 2005, foi inventado por Geronymo L. C. Souza, em 1888. O secador
consiste, resumidamente, de diversas caixas retangulares com tela de arame, formando

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 193


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

um tabuleiro falso 3.0 x 1.5 m, montados em pilares de madeira com 0,8 m de altura
(Figura 15).
Como se pode ver, o terreiro suspenso e fixo comercializado no Brasil (Figura 7)
tem o o projeto básico similar e não difere muito do secador portátil idealizado por
Geronymo Souza. Trabalhos de pesquisa realizados por Vilela (1997) e Hardoim
(2001), indicam que o tempo de secagem nestes secadores é mais longo que no terreiro
convencional com piso de concreto.

Figura 15 – Esquema básico do Terreiro Suspenso portátil

6.4. Terreiro Suspenso Móvel


Privilégio registrado em Novembro de 1889 por Correia da Silva, consiste de
diversos tabuleiros com fundo telado para reter os grãos. Os tabuleiros, com dimensões
apropriadas, são montadas em um sistema de trilhos. O conjunto, quando não em
funcionamento, fica abrigado sob uma cobertura fixa para proteger o produto de chuvas
ou condensações noturnas. O operador do secador tem que puxar os tabuleiros para
expô-los sob a radiação solar para secar o produto que deve ser revolvido
periodicamente (Figuras 16 A e B).

Figura 16 A – Esquema básico to terreiro suspenso móvel

194 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

Figura 16 B – Vista geral do secador tipo terreiro suspenso móvel

6.5. Secador Flex


O Seador Flex é uma fusão do secador de camada fixa tradicional com o secador
por convecção natural (Capítulo 5) e, ainda, com secador solar UFV-J2.
O ar de secagem pode ser aquecido com a energia de combustão da lenha, do
carvão, do gás, ser aquecido com energia solar ou com a mistura de energia solar e
energia da combustão. Pelo fato de usar diferentes fontes de energia, a denominação
“Secador Flex” (Figuras 17 e 18) é uma homenagem à industria automobilística
brasileira que produziu o importante motor flex para qualquer proporção “álcool e
gasolina” como combustível.
Basicamente, o secador flex, à semelhança do secador por convecção natural, é
composto por uma fornalha comum, um trocador de calor de tubo único e uma chaminé.
Ao conjunto, foi adicionado um ventilador para forçar a convecção do ar e vencer
facilmente a resistência oferecida por camadas de grãos mais profundas. Nesse caso, o
secador funciona como se fosse um secador de camada fixa tradicional com fornalha
para aquecimento indireto do ar de secagem.
É importante observar que na ausência de eletricidade, fato muito freqüente no
fornecimento rural, a secagem não será interrompida, pois o secador terá funcionamento
continuado pela convecção natural. Nesse caso, deve-se reduzir a altura da camada de
grãos ou revolvê-la com mais freqüência.
Além de forçar a convecção na câmara “plenum” do secador, outra função do
ventilador é fazer com que o ar de secagem passe pelos canais do “telhado coletor” e
seja aquecido pela energia solar. Como dito anteriormente, o aproveitamento dessa
energia, além de reduzir substancialmente o consumo de outros combustíveis, não é
poluidora e o “telhado coletor” é apenas um pouco mais caro que um telhado comum.

Figura 17 - Secador Flex com “telhado coletor” de energia solar

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 195


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

Figura 18 - Detalhes dos componentes do Secador Flex

7. FUTURO DA SECAGEM COM ENERGIA SOLAR

A energia do sol, devido a características próprias, parece ser gratuita; no


entanto, coletar, armazenar e distribuir esta forma de energia pode torná-la mais onerosa
que qualquer outra fonte energética. A sua adoção para a secagem de produtos
agrícolas, que é responsável pelo maior gasto de energia destinada ao processo de
produção (em alguns casos, superior a 50%), irá depender do suprimento e preço dos
derivados de petróleo e de outras fontes convencionais, como lenha e carvão, bem como
de outras formas não-convencionais, como de resíduos agrícolas.
A utilização da energia solar dependerá do desenvolvimento de sistemas de
secagem eficientes e econômicos. Nesse sentido, o campo de investigação é amplo e
várias pesquisas específicas deverão ser desenvolvidas. Para isso, algumas questões
como as que seguem devem ser investigadas:

a) É necessária alguma forma de armazenar energia para a secagem?


b) Economicamente, pode-se armazenar a energia solar?
c) O coletor solar poderia ser utilizado para múltiplas finalidades, como para
secagem, aquecimento de água e de ambiente, refrigeração e outros?
d) Haveria maneira de viabilizar a aplicação da energia solar em sistemas de
secagem a altas temperaturas?
e) Onde ou sob que condições a energia solar poderia ser utilizada com
economia e segurança para a secagem a baixas temperaturas?
Em muitas regiões brasileiras, durante dias ensolarados, a grande maioria dos
produtos agrícolas, como milho, soja, sorgo, arroz e café descascado (abaixo de 25%
b.u.), pode ser secada a teores de umidade seguros para a armazenagem (12 a 13%) com
o uso do ar sob condições naturais. Qualquer quantidade de calor adicionado ao ar de
secagem reduz a umidade relativa e pode causar uma supersecagem do produto,
principalmente nas camadas inferiores do silo (veja capítulos referentes à qualidade de
grãos e os métodos de secagem).
Grãos supersecos podem ser reumedecidos, com subsequente ventilação durante
dias com altas umidades relativas ou mesmo durante a noite. Entretanto, a secagem e o
reumedecimento alternados podem causar redução na qualidade do produto, como é o

196 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

caso do arroz, que produzirá grande quantidade de grãos quebrados após o


beneficiamento. Este problema pode, em muitos casos, ser solucionado com a adoção de
dispositivos de revolvimento, cuja finalidade é misturar grãos secos e úmidos,
minimizando o gradiente de umidade ao longo da camada.
Muitos métodos podem ser usados para armazenar a energia solar; dentre eles, o
mais simples é transferir o calor coletado para uma camada de pedras e usar o calor
armazenado durante os períodos noturnos, quando a umidade relativa é alta.
Obviamente, os sistemas que visam armazenamento de energia solar terão custos
bastante elevados e, neste caso, é melhor usar a energia armazenada para aplicações
mais dispendiosas do que a secagem de grãos. O uso múltiplo do sistema, como em
secagem de grãos, aquecimento e refrigeração de ambiente, dentre outros, pode ser uma
opção para reduzir os custos. Entretanto, a adaptação de um sistema solar para secagem
junto com outras atividades selecionadas, além de difícil, poderá aumentar ainda mais
os custos em decorrência do posicionamento de cada atividade dentro da propriedade
agrícola. Caso não seja necessário o armazenamento da energia, o uso de coletores
portáteis poderia ser uma opção para solucionar este problema.
Como dito anteriormente, dependendo das condições ambientais, cereais podem
ser secados em silos com o uso de ar natural ou sem aquecimento. Assim, a adaptação
de um ventilador de maior vazão no sistema de secagem trará mais sucesso que
adicionar calor suplementar, com energia solar ou qualquer outra fonte de energia.
Nas regiões úmidas, o calor adicional é necessário para reduzir a umidade
relativa do ar e possibilitar a secagem de grãos a teores de umidade adequados à
armazenagem. Nessas áreas, o calor fornecido pela radiação solar poderá ser uma
opção, mas sua adoção deverá ser baseada em resultados de pesquisa que indicarem
relativo sucesso na operação de secagem.
Concluindo, pode-se afirmar que, com a atual tecnologia disponível, a energia
solar, por meio de coletores convencionais, para a secagem de grãos só se viabilizará
caso haja uma drástica redução no suprimento, ou aumento substancial no custo da
energia proveniente de fontes energéticas.

8. LITERATURA CONSULTADA

1. CORREA, P.C., SILVA, J.S & MICHELENA, M.C. Secado de cafe con energia
solar. Conferencia internacional de Mecanizacion Agraria. Zaragoza, Espãna.
1992. p 695-701.

2. HARDOIM, P.C. Secagem de café cereja, bóia e cereja desmucilado em terreiros


de concreto, de lama asfáltica, de chão batido e de leito suspenso em Lavras.
In: 27º. Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, 27, Uberaba, 2001.
Anais.

3. SILVA, J.S. Determinação das dimensões dos coletores planos de energia solar.
Viçosa, Universidade Federal de Viçosa, Imprensa Universitária, 1973. 35p.
(Tese de Mestrado)

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 197


Capítulo 7 Secagem com Energia Solar

4. SILVA, J.S. & CORREA, P.C. Secagem com energia solar. In: Pré-
processamento de produtos agrícolas. Juiz de Fora, Instituto Maria. 1995. 509p.

5. SILVA, J.S.; NOGUEIRA, R.M & ROBERTO, C.D., Tecnologias de Secagem e


Armazenagem para a Agricultura Familiar, Visconde do Rio Branco 0- MG,
SUPEMA, 2005. 137p.
6. USDA. Solar grain drying. Washington, D.C. Information Bulletin No 401

7. VILELA, E. R. Secagem de Café em terreiro e silo com energia solar. 1977.


Dissertação (Mestrado).Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.

198 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

Capítulo

8
ENERGIA NO PRÉ-PROCESSAMENTO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS

Roberto Precci Lopes


Juarez de Sousa e Silva
Edney Alves Magalhães
Jadir Nogueira da Silva

1. INTRODUÇÃO

Na produção de grãos, a secagem, no caso específico do milho, pode representar


até 50% do consumo total de energia. Apesar de haver, à disposição do usuário,
equipamentos para controle de processos, a tomada de decisão para a otimização de uma
determinada operação cabe ao operador. As operações de secagem e armazenagem,
quando conduzidas corretamente e com equipamentos eficientes, contribuem
significativamente para a redução dos custos operacionais, em razão da economia de
energia que propiciam.
Os procedimentos a serem adotados para melhorar o uso da energia em processos
agrícolas, em especial na secagem de grãos, dependem do tipo de sistema de secagem e
dos manejos adotados. Os sistemas de secagem com ar natural ou com o ar levemente
aquecido são exemplos de sistemas econômicos. No capítulo 5 – Secagem e Secadores -
é mostrado que, colhendo milho com 25% e secando-o até 18% num sistema a altas
temperaturas, e completando a secagem até 13% num silo secador-armazenador, pode-se
economizar até 50% do combustível e dobrar a capacidade do secador. Entretanto, não
basta apenas adotar o sistema de secagem mais econômico. É preciso bom
conhecimento sobre conservação de grãos, para que o produto não se deteriore durante a
fase de secagem/armazenamento com ar natural e a baixas temperaturas. Na secagem
com ar natural, embora se utilize a entalpia do ar como fonte de energia para a secagem,
há que considerar o custo da energia elétrica para acionamento dos ventiladores, que,
dependendo do número de unidades secadoras (volume de grãos a serem secos), pode
representar um custo considerável. Caso haja uma programação por parte da
concessionária de energia elétrica, deve-se optar pela operação com tarifa diferenciada
e, se possível, evitar o funcionamento do sistema em horários de ponta.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 199


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

2. COLHEITA E ENERGIA

A antecipação da colheita como prática para economia de energia na secagem


constitui um equívoco, sendo muito utilizada por alguns fabricantes de secadores para
mostrar a eficiência de seus produtos quando secam grãos com alta umidade inicial. Esta
prática reduz as perdas no campo, mas traz como inconveniente um consumo adicional
de energia com a secagem de grãos mais úmidos. A necessidade de liberação do campo
para novos plantios ou a melhor qualidade do produto colhido antecipadamente são as
principais vantagens e, na maioria dos casos, pode compensar o gasto com energia na
secagem. A Figura 1 mostra que, para um mesmo teor de umidade final, a quantidade de
energia por unidade de água evaporada necessária para a secagem de milho é tanto
menor quanto maior o teor de umidade inicial do produto. Por essa razão, a secagem no
campo, aproveitando a entalpia do ar ambiente, promove eficientemente a secagem de
grãos úmidos, principalmente quando a umidade relativa de equilíbrio está próxima a
100%. Por outro lado, é preciso observar que, quanto maior o teor de umidade inicial do
milho, apesar da menor quantidade de energia necessária à remoção por kg da água do
grão, a quantidade total de energia requerida para secar o produto até o teor de umidade
adequado ao armazenamento aumenta para grãos com maior teor de umidade inicial.
A Figura 2 mostra que a quantidade de energia gasta para secar uma tonelada de
milho de 18% para 13% é de 140.825 kJ, ao passo que a quantidade de energia para
secá-lo de 28% para 13% é de 413.577 kJ ou três vezes maior. A economia de energia
que se obtém, não considerando o rendimento do secador e os gastos com
movimentação de ar, é de 272.752 kJ por tonelada de milho. Em termos energéticos, não
é vantajoso colher grãos com teor de umidade elevado. Deve-se colhê-los no teor de
umidade que minimiza as perdas na colheita.
A capacidade de colheita e a dos equipamentos de secagem são também
parâmetros importantes para a economia de energia. A demora, ou a rapidez, da colheita
levará a grãos com menores ou maiores teores de umidade e, se a capacidade de
secagem for inferior à de colheita, implicará um custo adicional com energia para
manutenção de grãos úmidos sob aeração em silos pulmões e com possível início de
deterioração do produto.

2.480
kJ/kg de água evaporada

Umidade final
2.460
T ar = 60 C Uf = 13 % bu
2.440
Uf = 15 % bu
2.420
Uf = 18 % bu
2.400 Uf = 20 % bu
2.380
16 18 20 22 24 26 28 30
Teor de umidade inicial, %
Figura 1 – Energia necessária à remoção de um quilo de água durante a
secagem de Milho.

200 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
480
430
T ar = 60 C Umidade final
380
Uf = 13 % bu

Energia, MJ
330
280 Uf = 15 % bu
230 Uf = 18 % bu
180 Uf = 20 % bu
130
80
30
16 18 20 22 24 26 28 30
Teor de umidade inicial, % b.u.
Figura 2 – Quantidade de energia necessária à secagem de uma tonelada de
milho

3. RACIONALIZAÇÃO DE ENERGIA

3.1. Recomendações Práticas


A implantação de um programa interno de conservação de energia constitui o
primeiro passo para o combate ao desperdício e o uso racional da energia dentro de uma
unidade armazenadora. Um programa bem elaborado permite otimizar o uso da energia,
evitando ações isoladas e duplicação de esforços, que tendem a perder seus efeitos ao
longo do tempo; é melhor utilizar os recursos econômicos, materiais e humanos para a
minimização da relação consumo/serviços, contribuindo assim para a redução dos custos
embutidos com energia nas taxas de serviços de armazenagem prestados.
Numa unidade armazenadora, a economia de energia resulta das economias
obtidas em cada etapa do pré-processamento. Equipamentos limpos e em bom estado de
conservação e com manutenção regular constituem medidas básicas para a conservação
de energia. Os pontos a seguir são sugeridos para um melhor desempenho operacional
com uso racional da energia:
1- Faça uma pré-limpeza eficiente. As impurezas aumentam o consumo de
energia na secagem e nas operações de aeração. A instalação de filtros ou
ciclones após a fonte de aquecimento e na entrada do secador contribui para a
retirada de impurezas responsáveis por incêndios e obstruções à passagem do
ar.

Clique para ver: vídeo 1

2- Monitore as condições do ar de exaustão com sensores de temperatura e


umidade. Estes parâmetros são úteis na determinação da energia contida no
ar de exaustão. Se a exaustão estiver com baixa umidade relativa, estude a
possibilidade de recuperação de parte deste ar.
3- Faça inspeções freqüentes em máquinas de pré-limpeza, coluna de secagem,
plenum de secadores, dutos de ar, costura de chapas de silos e secadores, para
certificar-se das perdas de cargas ou fuga de ar.
4- Evite secagem excessiva, verificando freqüentemente o teor de umidade dos
grãos. Um descuido na secagem de 1.000 toneladas de milho de 20 para 11%

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 201


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

b.u., quando normalmente o teor de umidade seria de 13%, resultaria num


consumo adicional de energia em 25%.
5- Utilize eficientemente os combustíveis. A presença de umidade nos
combustíveis sólidos destinados à queima em fornalhas constitui um
obstáculo à produção de calor. A água, ao ser evaporada, subtrai calor do
processo de combustão, resultando em saldo menor de energia para a
secagem. Quanto mais seco for o material combustível, maior
aproveitamento se fará do combustível. Por esta razão, a lenha deve ser
protegida das chuvas. O teor de umidade da lenha deve ser inferior a 30%.
Na impossibilidade de abrigos para lenha, pode-se empilhá-las na forma de
cones. As águas precipitadas sobre o monte escorrerão pela lateral do cone,
encharcando apenas as toras superficiais.
6- Escolha uma fornalha com alimentação constante. Caso contrário, evite que a
fornalha queime toda a lenha para ser alimentada novamente. Uma
alimentação adequada fornecerá temperatura constante ao ar de secagem e
melhor combustão da lenha.
7- Durante a alimentação da fornalha com aquecimento indireto, a tiragem
promove a entrada de grande excesso de ar, que resfria a temperatura da
chama, diminuindo a disponibilidade de energia e provocando aumento da
perda de calor sensível pela chaminé. Evite abrir desnecessariamente a
entrada de ar primário da fornalha.
8- Secadores modernos dispõem de sistemas de medição e de controle capazes
de garantir uma secagem de qualidade e segura; a aquisição de equipamentos
modernos quando da ampliação das unidades armazenadoras deve ser
considerada, pois, embora representando um custo inicial elevado, o
investimento, a longo prazo, é compensado pela qualidade do produto e
economia de energia.

3.2. Manutenção de Equipamentos e Iluminação


Mesmo reduzindo substancialmente a mão-de-obra, a granelização e automação
de unidades armazenadoras fazem destas grandes consumidoras de energia elétrica.
Assim, a determinação e eliminação dos pontos de desperdício, por meio de auditoria
energética, devem ser uma prática rotineira e executada tanto nos equipamentos elétricos
(motores, aquecedores, iluminação, etc.) como em qualquer equipamento que consuma
combustível. Todo esforço para manter os equipamentos funcionando adequadamente
pode não ser efetivo, se o consumo de energia elétrica estiver fora dos padrões
tecnicamente recomendáveis. Na avaliação geral sobre a eficiência de equipamentos
específicos, a energia elétrica representa parcela que pode comprometer o rendimento
global da unidade de pré-processamento. As medidas sugeridas a seguir podem
contribuir significativamente para melhor eficiência dos equipamentos e para o uso
racional da energia.
1- Verifique se os condutores elétricos encontram-se corretamente
dimensionados. Aquecimento nos condutores elétricos pode significar
sobrecarga e colocar em risco a segurança dos equipamentos. As perdas por
efeito Joule (aquecimento) também ocorrem em transformadores, motores e

202 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

lâmpadas. Estas perdas, que variam com o quadrado da corrente elétrica, são
significativas e devem ser erradicadas; uma nova carga só deve ser
adicionada ao circuito se estiver prevista no projeto.
2- A fuga de corrente constitui uma causa comum de perda de energia, sendo
fator de aumento na conta de energia elétrica. Os pontos de fuga são
geralmente causados pelo descaso com a manutenção das instalações, como:
emendas malfeitas e ou mal isoladas, fios desencapados ou com isolação
degradada, conexões inadequadas, tomadas inadequadas, equipamentos
defeituosos, dentre outros. Inspeções nas instalações e teste nos
equipamentos são medidas eficazes para detectar pontos de fuga.
3- Evite sobrecarregar os transformadores - quanto maior a carga, maiores as
perdas pelo efeito Joule e, conseqüentemente, redução da vida útil do
equipamento; os transformadores que trabalham com 80% de sua potência
nominal proporcionam rendimento e vida útil satisfatórios; elimine
progressivamente os transformadores mais antigos, quando avariados,
substituindo-os por equipamentos modernos e eficientes.
4- Dê atenção especial ao fator de potência - valores baixos de fator de potência
acarretam correntes elevadas; quedas de tensão acentuadas provocam
aumento no consumo de energia; motores e transformadores operando em
vazio ou superdimensionados, nível de tensão acima da nominal e grande
quantidade de motores de pequena potência são as principais causas do baixo
fator de potência em uma unidade industrial.
5- Em unidades armazenadoras que apresentam ociosidade nos períodos de
entressafra, deve-se pensar no fato de a instalação ter um transformador
extra, de menor porte, para evitar as perdas em vazio nas horas de baixa
utilização de energia (embora estas perdas possam parecer desprezíveis em
relação à potência total do transformador, elas se tornam significativas
quando comparadas com o consumo total da instalação, uma vez que o
transformador permanece em funcionamento o tempo todo).
6- Verifique o índice de carregamento dos motores elétricos de transportadores,
exaustores e ventiladores, máquinas de beneficiamento, etc; ajuste-os à carga,
utilizando de preferência motores de alto rendimento.
7- As transmissões e os acoplamentos constituem elementos de perdas de
rendimentos (quanto menor a eficiência do acoplamento, menor será a
potência à máquina acionada); portanto, opte por acoplamento direto (relação
de velocidade 1:1) e, na impossibilidade, verifique nos acoplamentos o
paralelismo, o alinhamento e a tensão dos elementos de transmissão; opere os
equipamentos na capacidade de carga para o qual foram dimensionados,
como já mencionado.
8- Elabore um plano de manutenção preventiva dos equipamentos e execute-o
segundo recomendação do fabricante; utilize o período de entressafra para
limpeza e manutenção preventiva dos equipamentos (a vida útil e o consumo
de energia dos equipamentos dependem do seu estado de conservação).
9- Nos armazéns convencionais, ligue somente as lâmpadas necessárias às áreas
de trabalho. Aproveite a iluminação natural, utilizando uma porcentagem da

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 203


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

cobertura do armazém com telhas transparentes incolores (no caso de


armazéns para café, utilize telhas transparentes que permitam boa
iluminação, mas que filtrem os raios na faixa do violeta, prejudiciais à
qualidade do café beneficiado); utilize a iluminação localizada em pontos
como painéis de controle, quadros de comandos, registros, escadas etc. (esta
prática resulta numa melhor eficiência do que a iluminação colocada em teto
do armazém).
10- Mantenha lâmpadas, refletores e lentes de luminárias limpas.
11- Dê preferência ao uso de lâmpadas fluorescentes, com reator eletrônico ou
convencional de alto fator de potência, e com luminárias espelhadas na
iluminação de áreas internas.
12- Na iluminação de grandes áreas externas, dê preferência ao uso de lâmpadas
a vapor de sódio.

4. CONSUMO DE ENERGIA E EFICIÊNCIA DE SECAGEM

Define-se consumo específico de energia como a quantidade de energia por


unidade de massa necessária à remoção da água nos grãos. Em se tratando de secadores,
esta energia provém do combustível para aquecimento do ar de secagem e da energia
elétrica necessária ao acionamento dos ventiladores e transportadores de grãos.
Considerando-se somente a energia gasta com óleo combustível (consumo de
287 kg.h-1, massa específica de 820 kg.m-3 e poder calorífico de 43.240 kJ.kg-1), o
consumo específico de energia (CEE) na secagem de milho de 18 para 13 % b.u., em um
secador que fornece 40 t/h de produto seco, pode ser determinado da seguinte forma:
a) A quantidade de produto úmido correspondente àquela tonelada é determinada
pela expressão:
100 − U f
Pi = Pf eq.1
100 − U i
em que
Pi – peso inicial do produto úmido, kg;
Pf – peso final do produto seco no teor de umidade final, kg;
Ui – teor de umidade inicial, porcentagem base úmida; e
Uf – teor de umidade final, porcentagem base úmida.

b) Quarenta toneladas de produto seco correspondem a uma carga inicial de


100 − 13
Pi = 40.000 = 42.439 kg de produto úmido.
100 − 18

c) A quantidade de água removida durante a secagem será Pi – Pf ou 2.439 kg


de água.
d) O consumo específico de energia (CEE) é dado por

consumo de combustível x poder calorífico


CEE =
água evaporada eq. 2

204 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

287kg.h −1 43.240kJ.kg −1
CEE = −1
= 5.088 kJ.kg-1
2.439kg.h
Como nem toda energia entregue ao ar de secagem é utilizada na remoção da
água dos grãos, parte do calor é então perdida na forma de calor sensível no ar de
exaustão, no aquecimento dos grãos, por condução, irradiação e convecção no corpo do
secador para o ambiente. A quantificação do consumo específico de energia e da
eficiência de um secador é importante para a avaliação do manejo e desempenho deste
equipamento. Se no exemplo anterior o conjunto secador/fornalha fosse 100% eficiente,
o consumo de combustível por hora seria menor e a quantidade de energia gasta para a
evaporação de um quilograma de água seria de um valor inferior a 5.088 kJ/kg.
Considerando a energia necessária à evaporação da água na faixa de 18 para 13% b.u.
como 2.500 kJ/kg, conclui-se que aproximadamente 50% da energia produzida pelo
combustível não é aproveitada para a evaporação da água nos grãos. Para determinar as
perdas e a eficiência de um secador, é necessário conhecer como se distribui o consumo
de energia no sistema (ar, secador e grãos). A Tabela 1 ilustra a distribuição de consumo
de energia em um secador de fluxo cruzado.
Pela tabela tiram-se algumas diretrizes que podem ser utilizadas para reduzir
o consumo específico de energia:
a) Quando possível, utilizar fornalhas com aquecimento direto em lugar das que
possuem trocador de calor ou de aquecimento indireto.
b) Reciclar parte do ar de exaustão quando este estiver abaixo da umidade
relativa de equilíbrio recomendada.
c) Utilizar o calor sensível dos grãos quentes (por exemplo, na seca-aeração ou
na secagem intermitente com períodos de repouso).
d) Isolar, de forma econômica, os pontos de dissipação de calor pela fornalha,
pelos dutos e pelo secador.

TABELA 1 – Distribuição do consumo específico de energia em um secador de fluxo


cruzado

Consumo Uso da energia sob forma de calor % do


kJ/kg de água consumo total
evaporada
754 Perdas pelo trocador e na tiragem 15
dos gases
100 Perdas no secador 2
301 Perda por aquecimento dos grãos 6
603 Perda pelo ar de exaustão não- 12
saturado
754 Perda por calor sensível ar de 15
exaustão saturado
2512 Energia necessária à vaporização da 50
água

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 205


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

5024 Consumo total 100


4.1. Eficiência do Secador
A eficiência de um secador é a razão entre a quantidade de energia necessária à
remoção da água do grão e a energia total utilizada pelo secador. Ao se escolher um
secador, deve-se comparar várias marcas, levando em consideração, além da qualidade
do equipamento e idoneidade do fabricante, a eficiência do equipamento para uma
mesma capacidade de secagem, o tipo de produto e o teor de umidade. O exemplo a
seguir ilustra o cálculo da eficiência de um secador.
Exemplo:
Em um secador de fluxo cruzado, foram secados 9.180 kg de arroz do teor de
umidade inicial de 19,5% para 13,1% b.u. Os resultados obtidos foram:
a) Tempo de secagem: 7,0 horas.
b) Consumo de lenha: 415 kg.
c) Consumo de energia elétrica: 56,6 kWh ou 203.760 kJ.
Considerando o poder calorífico da lenha de 8.958 kJ.kg-1 e o calor latente de
vaporização de 2.500 kJ.kg-1 de água, determine a eficiência do secador.
Solução
a) Perda de peso devido à redução do teor de umidade (PQ):

Ui −U f
PQ = x100 eq. 3
100 − U f

19,5 − 13,1
PQ = x100 = 7,36 % ou 676 kg
100 − 13,1
b) Consumo específico de energia:

203.760 kJ + 415 kg x 8.958 kJ.kg-1


CEE =
676 kg de água

CEE = 5.800 kJ.kg-1


c) Eficiência do secador:

η= 676 kg de água x 2.500 kJ.kg-1 de água_ x 100


203.760kJ+ (415kg x 8.958kJ.kg-1)
η = 43 %

O rendimento e a potência requerida por um secador constituem parâmetros


relevantes na análise do consumo de energia. A razão entre a potência elétrica total
(ventiladores, transportadores, etc.) e a capacidade nominal expressa em t.h-1 representa
a energia consumida por tonelada de produto (cv.h/t.). Estes parâmetros são de grande
importância quando se deseja comparar diferentes tipos de secadores.
Em alguns casos, quando não se conhece o consumo de combustível ou o
consumo específico de energia, pode-se estimar a eficiência do secador por meio das

206 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
temperaturas do ar de secagem, do ar de exaustão e do ar ambiente pela equação:

Tas − Tae
η(%) = x100 eq. 4
Tas − Taa
em que
Tas – temperatura do ar de secagem;
Tae – temperatura do ar de exaustão; e
Taa – temperatura do ar ambiente.

Obs.: como a secagem é um processo dinâmico, o rendimento calculado varia


com o decorrer da secagem.
Exemplo:
Determine o rendimento de um secador em que a temperatura média do ar na
saída da fornalha foi de 120ºC e as temperaturas médias do ar ambiente e da exaustão,
durante a secagem, foram, respectivamente, de 20ºC e 45ºC. Aplicando a equação
anterior, tem-se
120 − 45
η= x100
120 − 20

η=75%

5. COMBUSTÃO, COMBUSTÍVEIS E FORNALHAS

5.1 Combustão
Industrialmente, a conversão da biomassa em energia dá-se em fornalhas e
queimadores. Dependendo da conveniência quanto à utilização, o calor gerado pela
combustão pode ser transferido para um fluido e até mesmo para um material sólido.
O processo de combustão consiste essencialmente na reação química entre o
hidrogênio e o carbono, presente na biomassa ou no combustível fóssil, com o oxigênio
proveniente, em geral, do ar atmosférico. Uma combustão eficiente é aquela em que
todos os elementos combustíveis, resultantes do processo de queima, são transformados
totalmente em dióxido de carbono (CO2), água (H2O) e calor. A combustão, ou queima
direta, pode ser definida como o processo de oxidação de um combustível sob uma
combinação de fatores que ocorrem simultaneamente em uma reação química
exotérmica. Para que ocorra a reação de oxidação, os seguintes fatores devem estar
disponíveis simultaneamente:
- combustível (lenha, gás natural, óleo combustível, etc.);
- comburente (oxigênio); e
- temperatura de ignição.

5.2. Combustíveis
Combustíveis são substâncias ricas em carbono e hidrogênio que, ao reagirem
quimicamente na presença de oxigênio, liberam CO2, água e energia sob a forma de
calor. Alto poder calorífico deve ser a principal característica dos combustíveis e refere-

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 207


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
se à quantidade de energia liberada durante a combustão completa de uma unidade de
massa ou de volume de um combustível. Para os combustíveis sólidos, ele é expresso,
geralmente, em kJ.kg-1, e para os combustíveis gasosos, em kJ.m-3. Quando na
determinação do puder calorífico considera-se o calor latente de condensação da
umidade presente no combustível, tem-se o poder calorífico superior (PCI); quando não
é considerado, tem-se o poder calorífico inferior (PCI) do combustível.
Os combustíveis, de acordo com o seu estado físico, podem ser classificados em
sólidos, líquidos e gasosos e, quanto à origem, em naturais e derivados. Os combustíveis
naturais são utilizados nas formas em que foram obtidos, como o gás natural e a lenha.
Os derivados, ou secundários, são os combustíveis resultantes de um processo de
preparação, como o carvão vegetal e os derivados de petróleo. Na Tabela 2 são
apresentadas as composições químicas básicas dos combustíveis.

TABELA 2 - Composição química básica de alguns combustíveis

Combustíveis
Elementos Diesel Carvão Lenha seca Casca de Sabugo
(%) vegetal Arroz de Milho
Carbono 86,0 74,5 50,2 41,0 46,6
Hidrogênio 13,1 3,0 6,3 4,3 5,9
Oxigênio - 17,0 43,1 35,9 45,5
Enxofre 0,9 0,5 - - -
Nitrogênio - 1,0 0,06 0,4 0,5
Cinza - 4,0 0,38 18,3 1,4

As substâncias comburentes são definidas como todas aquelas capazes de


fornecer o oxigênio necessário à reação de oxidação do combustível, e, de maneira geral o
oxigênio é proveniente do ar atmosférico (veja capítulo 3 – Princípios Básicos de
Psicrometria).
A temperatura de ignição corresponde à temperatura que a mistura combustível e
comburente deve atingir para iniciar o processo de combustão e está relacionada com a
pressão na qual a reação irá ocorrer, bem como com o tipo de combustível. Na Tabela 3
são apresentadas as temperaturas de ignição para alguns combustíveis.
Além da temperatura de ignição, a reação de oxidação é função da turbulência do
comburente e do tempo disponível para a combustão (tecnicamente chamado de três Ts:
temperatura, turbulência e tempo). A disponibilidade desses elementos fundamentais
está relacionada com a ocorrência da combustão da seguinte forma:

a) Disponibilidade de combustível e oxigênio: o combustível deve ser dosado


de forma correta, contemplando um excesso de oxigênio para a ocorrência completa da
combustão, sendo recomendado, para os combustíveis sólidos, líquidos e gasosos,
respectivamente, os seguintes índices de excesso de oxigênio: 30 a 60%; 10 a 30%; e 5 a
20%.
b) Contato do combustível com o oxigênio: o combustível e a fonte do
comburente, durante o processo de combustão, devem ter maior contato, para facilitar as

208 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
reações químicas de oxidação, sendo isso facilitado com a pulverização, desintegração
e/ou aumentando a turbulência do comburente no interior da câmara de combustão.
c) Disponibilidade de tempo e espaço: para uma perfeita e completa
combustão, o processo deve dispor de espaço físico e tempo suficiente para a realização
das reações químicas.
d) Ocorrência da temperatura de ignição: a mistura combustível e a
substância comburente devem ser aquecidas até atingirem a temperatura de ignição do
combustível.

TABELA 3 - Temperatura de ignição de alguns combustíveis

Combustível Temperatura de Ignição( oC )


Carvão Mineral 400 – 500
Carvão Vegetal 340 – 400
Lenha Seca 300
Gás Metano 650
Monóxido de Carbono 650
GLP 500

5.3. Transformações Químicas Relacionadas com a Combustão


Basicamente, o processo de combustão está relacionado à oxidação dos
elementos químicos carbono, hidrogênio e enxofre presentes no combustível, com os
dois primeiros elementos contribuindo em maior proporção na liberação de energia
aproveitável. A combustão é dita completa quando, dentre os gases resultantes das
reações químicas da combustão, não mais existirem compostos oxidáveis. Neste caso, o
processo de combustão resulta em gás carbônico, água e calor. Caso contrário, a
combustão é dita incompleta e resultará em gases ricos em monóxido de carbono.
Na Tabela 4 são apresentadas as principais reações químicas envolvidas no
processo de oxidação do combustível, bem como a energia envolvida nas reações.

TABELA 4 - Reações químicas básicas que ocorrem durante a combustão

Combustível Reação Energia


Química
Combustão completa do C + O2 → CO2 8.100 kcal.kg-1 de C oxidado
carbono
Combustão incompleta C + ½ O2 → CO 2.436 kcal.kg-1 de C oxidado
do carbono
Combustão do H2 + ½ O2 → H2O 33.900 kcal.kg-1 de H oxidado
hidrogênio
Combustão do enxofre S + O2 → SO2 2.210 kcal.kg-1 de S oxidado

5.4. Ar Necessário à Combustão


Para o dimensionamento de equipamentos utilizados na queima ou oxidação do
combustível, para o controle da combustão e para o dimensionamento de equipamentos

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 209


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
que utilizarão o calor gerado, torna-se necessário o conhecimento da taxa de
alimentação do ar de combustão e das características dos gases gerados (composição,
volume, temperatura, etc.).
Como já mencionado, a combustão é sempre resultante de reações com o
oxigênio, e para queimar 1,0 kg de combustível é necessária uma determinada
quantidade oxigênio. De acordo com as equações de reação da combustão, a quantidade
mínima de oxigênio, teoricamente, necessária para a combustão completa de
determinado combustível é dada por
32
GO min = 12 gC + 8 gH 2 + gS − gO2 eq. 5
(kg de oxigênio/kg de combustível)
em que
g - massa do elemento no combustível, kg.

O oxigênio entra na composição do ar atmosférico na combustão numa


proporção de 23%. Portanto, o peso mínimo de ar atmosférico teoricamente necessário à
combustão será
G 100  8 
G AR min = 0,O23min = 23  3 gC + 8 gH2 + gS − gO2  eq. 6

(kg de ar/kg de combustível)

A quantidade de ar atmosférico mínima necessária à combustão completa de um


combustível recebe o nome de “poder comburívoro” de um combustível.
Como o nitrogênio não intervém nas reações, e sendo o ar atmosférico rico em
oxigênio, o ar é o comburente mais usado, dada a sua disponibilidade a baixo custo. Para
calcular o volume de ar atmosférico teoricamente necessário para que as reações de
oxidações (Tabela 4) se processem produzindo queima completa do combustível, deve-
se conhecer os pesos moleculares dos elementos e dos gases (Tabela 5).

TABELA 5 - Composição química do ar atmosférico seco

Substância Fórmula Molecular Massa Molecular Volume ( % )


(kg/ kmol)
Nitrogênio N2 28,02 78,08
Oxigênio O2 32,00 20,94
Argônio Ar 39,94 0,93
Dióxido de carbono CO2 44,01 0,03
Neônio Ne 20,18 0,001
Outros (He,CH4, SO2, H2) - 0,001

A quantidade de oxigênio mínima em volume para a combustão completa de um


combustível é dada por

210 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

 C g H 2 gS − g O 2 
g 
VO min =  12 + 4 + 32 x 22,4 eq. 7
 
(m3 de oxigênio/kg de combustível)

Como a proporção em volume do oxigênio no ar atmosférico é de 21%, resulta


em
100  gC g H 2 gs − gO 2 
 
=V
VAR min 0,21 = 21  12 + 4 + 32 22,4
O min
eq. 8
 
(m3 de ar/kg de combustível)
ou seja,

G 100  8
 g C + 8 g H + gS − g O 

V AR min
= AR min

1,293
=
29,7  3 2 2

eq. 9
3
(m de ar/kg de combustível)

O exemplo a seguir ilustra a utilização da fórmula anterior no cálculo da


quantidade teórica de ar necessária ao processo de combustão.
Exemplo:
Determine a quantidade de ar teórica necessária à combustão completa de 1 kg
de lenha de seca, com base na composição química apresentada na Tabela 2.
Solução:
100  8 
VAR min = 29,7  3 0,502 + 8x 0,063 + 0 − 0,431
3
VAR min = 4,75 m de ar/kg de combustível
Estas equações se referem a um consumo de ar atmosférico teórico
correspondendo a uma combustão ideal, na qual todas as partículas de combustível e
oxigênio são aproveitadas. Tecnicamente, é impossível assegurar uma combustão
completa apenas com o suprimento de ar estequiométrico. A granulometria do
combustível ou seu estado de divisão, o sistema de injeção de ar atmosférico, o tempo
de contato ar/combustível e o próprio equipamento de combustão intervêm no processo
de queima, obrigando a introdução de um excesso de ar atmosférico.
Uma vazão insuficiente de ar provocará combustão incompleta, com o
aparecimento de monóxido de carbono (CO) e até mesmo fuligem nos produtos da
combustão, reduzindo a eficiência da queima do combustível. Por outro lado, um
excesso de ar muito elevado é igualmente indesejável, porque resfria a fornalha e arrasta
para fora a energia térmica útil.
Devido ao curto espaço de tempo em que o combustível e o ar comburente
permanecem juntos, é necessário um excesso e íntimo contato de ar para que a
combustão seja completa. Em outras palavras, o excesso de ar atmosférico (λ) na

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 211


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
combustão significa fornecer mais comburente do que o necessário, teoricamente, para
que as reações de oxidação sejam completas. O excesso de ar é calculado a partir da
composição química do combustível e se dá em função de uma série de fatores, como:
tipo de combustível, método de queima, temperatura a ser atingida na fornalha, etc.
Combustíveis sólidos como a lenha são os que mais exigem excesso de ar, ou
seja, entre 30 a 60% do valor do ar teórico. A quantidade de ar atmosférico necessária
para a combustão completa do combustível, considerando o excesso de ar, pode ser
calculada por
a) em kg de ar / kg de combustível:

G AR = λ G AR min eq. 10

b) em m3 de ar / kg de combustível

V AR
= λ V AR min eq. 11

A Tabela 6 apresenta os valores de referência recomendados para o excesso


de ar (λ).

TABELA 6 - Valores de referência recomendados para excesso de ar para diferentes


combustíveis

Combustível Dispositivo de Queima Excesso de Ar


(λ )
Carvão britado Grelhas rotativas com ar forçado 1,15 a 1,50
Grelhas planas com ar natural 1,50 a 1,65
Carvão moído Ciclone 1,10 a 1,20
Carvão pulverizado Fornalha inteiramente irradiada 1,15 a 1,20
Óleo combustível Queimador óleo de baixa pressão de ar 1,30 a 1,40
Queimador de pulverização mecânica 1,20 a 1,25
Queimador de pulverização mecânica 1,05 a 1,15
com vapor auxiliar
Lenha Grelha plana com ar natural 1,40 a 1,50
Grelha plana com ar forçado 1,30 a 1,35
Bagaço de cana Grelha inclinada 1,40 a 1,50
Fornalha celular 1,25 a 1,30
Gás de refinaria Queimador com registro 1,05 a 1,10

5.5. Fornalhas
Fornalhas são dispositivos projetados para assegurar a queima completa do
combustível, de modo eficiente e contínuo, em condições que permitam o
aproveitamento da energia térmica liberada da combustão, obtendo-se maior rendimento
térmico possível. O projeto de uma fornalha é baseado nos 3 Ts da combustão:

212 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
temperatura, turbulência e tempo. O tamanho e a forma da fornalha dependem do tipo
de combustível, do dispositivo usado para queimá-lo e da quantidade de energia a ser
liberada num intervalo de tempo. Para que ocorra a combustão completa do
combustível, deve-se buscar uma mistura ar-combustível homogênea, na dosagem ideal
e no tempo correto. Com isso, obtém-se um aquecimento do combustível até a sua
ignição auto-sustentável.
As fornalhas podem ser classificadas, quanto à natureza dos combustíveis, em:
- fornalhas para combustíveis sólidos (lenha, carvão vegetal, sabugo de
milho, etc.);
- fornalhas para combustíveis sólidos pulverizados (carvão em pó, casca de
arroz, de café, etc.);
- fornalhas para combustíveis líquidos (óleo diesel, óleo BPF, etc.); e
- fornalhas para combustíveis gasosos (gás natural, gás GLP, etc.).

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5.5.1. Fornalhas para combustíveis sólidos


Há dois grupos principais de fornalhas para queima de combustíveis sólidos: o de
fornalha de grelha e o de fornalha para combustível pulverizado ou fragmentado. Na
maioria destas fornalhas existe um ventilador que insufla ou succiona o ar atmosférico, o
qual fornece o oxigênio necessário à combustão do combustível. As fornalhas com grelha,
além de necessitarem de maior espaço, são normalmente pesadas, caras e com potências
crescentes de ventilador.
Em razão dos diferentes parâmetros envolvidos no processo de combustão, há
várias maneiras de construir fornalhas, variando segundo o tipo de combustível utilizado,
as propriedades do combustível, a forma de aproveitamento do calor gerado na combustão,
etc. As propriedades dos combustíveis que influenciam o processo de combustão são:
a) Granulometria do combustível: a superfície específica do combustível (m2/kg)
é variável conforme o tamanho das partículas e determinará a potência da
combustão.
b) Conteúdo de água: retarda o processo de combustão, pois parte da energia
fornecida para que o processo seja auto-sustentável é utilizada para evaporar a
água presente no combustível.
c) Conteúdo de componentes voláteis: quanto mais elevado o teor de gases
voláteis oxidáveis, mais rápido será o processo de combustão e mais uniforme a
chama se apresentará.
d) Conteúdo de cinzas: um teor elevado de cinzas presente no combustível
contribuirá para atraso no processo de combustão e necessidade freqüente de
limpeza do cinzeiro.
As fornalhas destinadas à queima de combustíveis sólidos não-pulverizados,
como a lenha (Figura 3), possuem os seguintes componentes:
a) Câmara de combustão: espaço destinado ao processo de combustão
propriamente dito, onde todos os compostos combustíveis devem ser oxidados,
liberando energia térmica. O importante, em qualquer fornalha, é o
dimensionamento correto da câmara de combustão, da área das grelhas e da

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 213


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
abertura do ar primário, para se obter suficiente quantidade de oxigênio, bem
como possibilitar uma mistura comburente-combustível eficiente com o máximo
de aproveitamento do combustível e o mínimo de fumaça.
b) Grelha: estrutura que mantém o combustível sólido suspenso durante o
processo de combustão, enquanto o ar comburente circula por sua superfície.
c) Cinzeiro: reservatório localizado abaixo da grelha, destinado a armazenar os
restos da combustão ou cinzas.
d) Entradas de ar: entradas reguláveis localizadas em pontos estratégicos no
corpo da fornalha; são responsáveis pela passagem do ar comburente para o
interior da fornalha e devem ser localizadas de tal forma que facilite a mistura
comburente-combustível.
e) Saídas dos gases: aberturas destinadas à saída dos gases resultantes da
combustão do combustível e de parte do excesso de ar comburente que devem
ser utilizados em diversas finalidades como fonte de energia térmica.

Quando se utiliza a lenha na forma de tora com grande diâmetro em uma


fornalha, há necessidade de maior quantidade de ar. Assim, para facilitar a combustão, a
lenha deve ter o seu tamanho reduzido. Como foi dito, a eficiência de combustão
aumenta com o aumento da área superficial do combustível e com o contato oxigênio-
combustível. As fornalhas de grelha destinadas à queima de lenha podem ser ainda
classificadas, de acordo com o aproveitamento dos gases da combustão, em: fornalhas
com aquecimento direto e fornalhas com trocador de calor ou de aquecimento indireto.

Figura 3 – Esquema básico de uma fornalha e seus componentes.

5.5.1.1. Fornalha com aquecimento direto


Nas fornalhas com sistema de aquecimento direto, a energia térmica proveniente
dos gases resultantes da combustão é utilizada diretamente, como por exemplo, para
secagem de produtos agrícolas. A mistura de parte do gás comburente com os gases
resultantes da combustão pode se tornar indesejável nos casos em que o processo de
combustão é incompleto, gerando compostos contaminantes, como o monóxido de
carbono e a fumaça. Com o aproveitamento direto da energia térmica dos gases da
combustão, as fornalhas de fogo direto, quando sob combustão completa, apresentam
maior rendimento. Entretanto, nestas fornalhas precisa ser acoplado um decantador
tangencial ou ciclone, onde as partículas incandescentes, formadas principalmente de

214 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
carbono, entram em movimento espiral e são separadas do fluxo gasoso pela ação da
força centrífuga.
As fornalhas de fogo direto podem ser classificadas, de acordo com o fluxo de
gases provenientes da combustão, em fornalhas de fluxo ascendente e fornalha de fluxo
descendente. No primeiro caso, a substância comburente entra na parte inferior da
câmara de combustão, atravessa a grelha, entrando em contato com o combustível, e se
mistura aos gases voláteis. Este movimento dos gases no interior da fornalha é na forma
ascendente. No segundo caso, a substância comburente entra na parte superior da
fornalha, entra em contato com o combustível, atravessa a grelha e, misturando-se com
os gases voláteis, forma um fluxo descendente no interior da fornalha. Neste caso, a
chama resultante da oxidação dos gases voláteis é formada sob a grelha.
A câmara de combustão nas fornalhas de aquecimento direto confunde-se com a
própria fornalha e pode ser dividida em três partes distintas. A primeira destina-se à
carga, à ignição do combustível e à entrada do ar comburente. A segunda parte
compreende o espaço onde se desenvolve a chama e onde se completa a combustão dos
compostos voláteis. Finalmente, a terceira parte da fornalha tem a função de interligar a
fornalha ao ciclone e de aumentar o tempo de permanência dos gases na fornalha.

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5.5.1.2. Fornalha com aquecimento indireto


Nas fornalhas com sistema de aquecimento indireto, a energia térmica dos gases
provenientes da combustão é encaminhada a um trocador de calor, que tem a finalidade
de aquecer uma segunda substância, como por exemplo, uma caldeira geradora de
vapor. Neste tipo de sistema, há perda de energia térmica pela chaminé e para o sistema,
resultando em uma menor eficiência quando comparado à fornalha de fogo direto.
As fornalhas com aquecimento indireto destinam-se a produtos agrícolas que
requerem temperatura controlada e não muito alta durante a secagem, como na secagem
de sementes. Um tipo bastante interessante possui um trocador de calor do tipo tubo–
carcaça, câmara de combustão e caldeira. O ar frio, ao entrar pelos tubos do trocador de
calor, é aquecido pelo fluido circulante na carcaça do trocador de calor, até uma
temperatura máxima determinada pelo equilíbrio com a temperatura de ebulição do
fluido circulante. Além da grande durabilidade, a fornalha em questão apresenta como
vantagem a não-contaminação do ar de secagem, mesmo quando a combustão é
incompleta. Produtos que absorvem gosto de fumaça durante a secagem, como cacau e
café, não são afetados. A Figura 4 mostra o esquema básico da fornalha com
aquecimento indireto projetada e construída na UFV.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 215


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

Figura 4 – Detalhes de uma fornalha de aquecimento indireto com autocontrole de


temperatura máxima.
5.5.2 Lenha como combustível
A lenha foi o primeiro combustível utilizado pelo homem, sendo ainda de
subsistência para grande parte da humanidade. Trata-se de um combustível barato, de
fácil combustão, baixo teor de cinzas e que não exige mão-de-obra qualificada para sua
exploração. Seu baixo teor de enxofre a torna propícia à utilização na secagem de
alimentos. O desmatamento indiscriminado tem comprometido o uso deste recurso
natural como fonte de energia mas, o reflorestamento, com fins energéticos, pode
garantir o fornecimento deste combustível sem comprometer o meio ambiente.
A lenha ocupa grande espaço ao ser armazenada e requer mão-de-obra para sua
utilização e controle da queima em fornalhas. Sua massa específica varia de 250 a 450
kg.m-3, dependendo da espécie. Quanto menor seu teor de umidade, melhor a combustão
e maior o seu poder calorífico (Tabela 7). A Tabela 8 mostra o poder calorífico inferior
de algumas espécies de madeira.

TABELA 7 – Poder calorífico inferior* da lenha em função do teor de umidade

Teor de umidade%b.u. Poder calorífico inferior (kJ/kg)


0 19.880
10 17.644
20 15.412
30 13.180
40 10.947
50 8.715
60 6.483
*
Não se distinguiu a espécie

TABELA 8 – Poder calorífico inferior de algumas espécies de madeira

Espécie PCI (kJ/kg)


Eucalipto 19.228
Pinho 20.482
Cedro 18.066
Cipestre 21.443
Carvalho 19.500

216 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

5.5.3. Carvão vegetal


O carvão vegetal é obtido artificialmente em fornos através da carbonização da
lenha, com uma eficiência de conversão de 50 a 55%. O carvão vegetal e a lenha são os
melhores combustíveis para uso na secagem de produtos agrícolas no Brasil. Com o
desenvolvimento e difusão de novas tecnologias para uso do carvão vegetal em
fornalhas (Figura 5), seu uso vem aumentado paulatinamente para na secagem de
produtos agrícolas, a exemplo da lenha. O poder calorífico do carvão vegetal está
associado à temperatura de carbonização. A 400°C o poder calorífico inferior é de
7.416,9 kcal/kg. A densidade a granel varia em função da madeira que lhe deu origem,
sendo um valor médio de 220 kg.m-3. A compactação de finos de carvão, por meio da
utilização de ligantes, permite a obtenção de briquetes de elevado poder calorífico, que,
quando usados em fornalhas do tipo apresentado na Figura 5, conferem a estas, elevada
autonomia e combustão com um mínimo de cinzas.

Figura 5 - Fornalha a carvão vegetal com aquecimento direto.

Clique para ver: vídeo 1 vídeo 2

5.5.4. Resíduos agrícolas fragmentados


O Brasil, devido a sua grande área territorial, apresenta grande potencial
de recursos naturais que podem gerar energia para minimizar o suprimento de energia
convencional. Apesar dos estudos sobre energias como eólica, solar e hidráulica, o
melhoramento e desenvolvimento de processos eficientes para uso de resíduos
industriais são altamente necessários, principalmente devido ao grande crescimento das
atividades agrícolas nas últimas décadas.
A disponibilidade de resíduos provenientes da industria madeireira, carvoaria, e
do beneficiamento de produtos agrícolas como o café (palha pergaminho) e arroz são
muito grandes. Do total de resíduos gerados pelas atividades agrícolas e industriais,
aproximadamente 65% vem da industria madeireira (excluindo o uso direto da lenha
para finalidades de aquecimento). Somente na industria madeireira, a produção de
serragem pode alcançar 16% do total do volume da madeira original (Dutra e

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 217


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
Nascimento 2006). No ano 2000, o Brasil produziu, segundo (IBPQ, 2002), 26 milhões
de metros cúbicos de madeira serrada.
Da produção do café, aproximadamente 21% são transformados em resíduos
sólidos, ou seja, casca de café (casca integral e pergaminho puro), que possuem poder
calorífico próximo dos 17.500 kJ kg-1.
Na indústria de café solúvel, para cada tonelada do produto final produzido, são
geradas 4,5 ton de borra, com teor de água de 80% b.u. que, após a secagem a 25% b.u.,
apresenta poder calorífico de 17.000 kJ kg-1. Este montante poderia suprir entre 60 e
80% a demanda de combustível da empresa de café solúvel que lhe deu origem
(CEPEL, 2000).
Apesar da grande quantidade de resíduos gerados no meio agrícola e
agroindustrial, apenas uma pequena porcentagem é aproveitada em razão do
desconhecimento do potencial energético e pela falta de equipamentos apropriados para
sua utilização. Werther et al. (2000) destacam inúmeros outros problemas que afetam a
utilização destes resíduos como fonte energética. Dentre os maiores problemas estão a
dificuldade de transporte, os altos custos de investimentos em unidades geradoras, a
disponibilidade de outros combustíveis a preço competitivo e a alta demanda de mão-
de-obra.
Todos os problemas citados podem inviabilizar o aproveitamento dos resíduos
tanto em pequenas como em grandes unidades geradoras. No caso particular da palha do
café, o seu uso para a recomposição da fertilidade do solo é, econômica e
ambientalmente mais importante do que o uso como fonte energética.
Outros pontos importantes que influenciam no projeto de equipamentos para
alimentação e combustão dos resíduos são: a baixa densidade, a alta umidade, o teor de
voláteis e o baixo ponto de fusão das cinzas, que dificultam o desenvolvimento de
equipamentos eficientes.
Diante das dificuldades mencionadas, o aproveitamento de resíduos para o
suprimento de energia térmica em atividades agrícolas e, ou, agroindústrias que deram
origem ao resíduo ou que, pelo menos, estejam próximas a pontos fornecedores, pode
ser considerado uma boa opção, desde que o investimento em equipamentos, eficientes,
atenda às condições econômicas e ambientais.
A combustão direta da biomassa é a forma mais antiga de produzir aquecimento e
vem sendo usada desde os primórdios da civilização como principal fonte energética.
Ainda hoje, 97% da produção da bioenergia produzida no mundo, tem origem na
combustão direta da biomassa. Apesar de que a pirólise e a gaseificação têm sido,
intensamente, pesquisadas, elas não são, certamente, as opções mais importantes no
presente (Demirbas, 2003).
Comumente, as fornalhas destinadas à queima de combustíveis sólidos
particulados, devem possuir, além dos componentes essenciais a todas as fornalhas,
depósito de combustível e sistema de alimentação e distribuição.
A queima em suspensão é a forma mais comum quando se trata de biomassa
particulada. Porém, para este sistema é necessário que a biomassa tenha dimensões
reduzidas (< 2 mm) e baixo teor de água inferior a 15% b.u. e, para cascas, em geral, o
diâmetro de até seis milímetros é suficiente para uma boa queima.

218 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
Segundo Lora e Happ (1997) a queima em suspensão total visa grandes unidades
de produção. Apresentam custos elevados e são inviáveis em pequenas unidades em
razão da tecnologia empregada pelos sistemas de alimentação de ar e de combustível.
Além disso, há a necessidade de transformação da biomassa em fragmentos de pequenas
dimensões. Assim, a queima em suspensão em pequenas unidades, para o
aproveitamento de resíduos agrícolas e agroindustriais, deve ser realizada por meio de
equipamentos de alimentação e distribuição mais simples e que permitam trabalhar com
biomassa na forma como ela é disponibilizada, ou seja, dimensões de partículas e teores
de água acima dos recomendados. Para isso, as fornalhas devem possibilitar a queima
em semi-suspensão, contendo, em sua estrutura, a grelha, pois apenas parte do material
será queimado em suspensão e as partículas mais pesadas irão completar sua queima
sobre a grelha.
A função da grelha, além da sustentação do combustível com dimensões acima do
ideal para queima em suspensão, tem, também, a função de manter uma chama piloto
sobre ela, para iniciar e dar continuidade ao processo de queima, mantendo a
temperatura necessária para a queima dos combustíveis sólidos fragmentados. Para tal
função, a lenha é o material mais indicado no meio rural devido a sua disponibilidade e
facilidade de aquisição ao longo do ano.
No caso do uso de resíduos agrícolas como fonte energética, deve-se levar em
consideração que sua produção pode não ser constante e suficiente para atender a
determinada demanda. Desta forma, é preferível o emprego de resíduos para
complementação ou substituição parcial dos combustíveis convencionais. Desta forma,
os projetos de fornalhas devem ser pensados com a possibilidade para queimar biomassa
com diferentes configurações.
Levando em considerações as vantagens e dificuldades, o uso de resíduos
agrícolas ou industriais como fonte de energia térmica pode ser considerada uma boa
opção, se uma fornalha confiável e a baixo custo estiver disponível. Assim, o leitor
encontrará nas páginas seguinte, dois tipos de fornalhas especialmente desenhadas para
atender situações onde a disponibilidade de combustíveis sólidos e fragmentados for
suficiente para atender a finalidade de aquecimento de ar em determinada atividade no
meio rural ou em pequenas indústrias.

5.5.5. Fornalhas para resíduos


Para disponibilizar alternativa tecnológica ao uso de resíduos agrícolas para
aquecimento do ar, foram projetadas, construídas e avaliadas, nos laboratórios do
Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa, dois
modelos de fornalhas que deram origem aos trabalhos de Pós-graduação de Magalhães
(2007) e de Melo (2003). Apesar de as fornalhas apresentarem características
semelhantes e apropriadas para o aquecimento de ar, elas queimam resíduos como
serragem de madeira, pergaminho do café, moinha de carvão ou qualquer outra
biomassa fragmentada. As fornalhas, aqui apresentadas podem ser operadas com a
queima de lenha em associada à biomassa fragmentada ou apenas com a lenha.
Os protótipos testados foram dimensionados para elevar a temperatura de 80 m³
-1
min de ar ambiente em, aproximadamente, 30 ºC. Essa capacidade foi escolhida por
ser suficiente para o fornecimento de ar quente para os secadores mais comuns

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 219


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
encontrado na cafeicultura (7.000 a 15.000 litros de café), principalmente, para os
terreiros secadores (SILVA et al.2003).
As principais diferenças entre as fornalhas estão na forma da grelha, tipo de
alimentação e na troca de calor. A fornalha (F1) estudada por MAGALHÃES (2007)
apresenta a alimentação da biomassa fragmentada por meio de transportador
pneumático e troca de calor por fluxos contracorrentes (Figura 6). Já para a fornalha
(F2), estudada por MELO (2003), o sistema de alimentação da biomassa é realizada por
um transportador helicoidal e troca de calor em fluxos cruzados (Figura 7). As
características principais das fornalhas são apresentadas a seguir:

• Base: é a mesma para ambas fornalhas. Construída com tijolos cerâmicos,


apresenta formato cilíndrico. Possui uma abertura (0,30 m x 0,15 m) para
entrada do ar primário que serve, também, com acesso ao cinzeiro;
• Grelhas: podem ser construídas em tubos de aço carbono 25,4 mm de diâmetro e
2,5 mm de espessura, espaçados em 10 mm. Podem também, ser em ferro
fundido, como encontrada comercialmente em firmas especializadas;
• Câmara de combustão: cuja superfície externa é usada como trocador de calor
em ambas as fornalhas, é construída em chapa de aço carbono (3 mm). O
volume da câmara, com 0,70 m de diâmetro, foi dimensionado para uma carga
térmica volumétrica de 200 kJ s-1 m-³. A área externa do trocador de calor foi
dimensionada de acordo com a metodologia sugerida por Incropera e DeWitt
(1996). No interior da câmara de combustão (Figura 6) é possível visualizar o
sistema de separação e distribuição das partículas de biomassa quando usado
sistema de alimentação pneumático; e
• O sistema de alimentação para trabalhar com biomassa como a serragem ou
munha de carvão, pode ser do tipo pneumático ou helicoidal. As Figuras 8a e 8b
ilustram os sistemas de alimentação com pneumático e com helicóide, usados
para a fornalha F1 e F2, respectivamente. Afigura 8a mostra, também, o ciclone
terminal, cuja função é a de distribuir, uniformemente, o combustível. A
vantagem de usar sistema pneumático é a possibilidade de se construir a fornalha
a qualquer distância do depósito de combustível. Esse fato é importante para os
locais onde a higiene é indispensável e, principalmente, para reduzir a
possibilidade de acidentes. Para o alimentador helicoidal (figura 8b), é
recomendável o uso de um sistema de degraus inclinados (grelha inclinada)
sobre a grelha plana, conforme apresentado na Figura 7. O uso do alimentador
helicoidal ou por rosca transportadora, não restringe a distância entre o depósito
e a fornalha, porém o custo eleva-se consideravelmente com o aumento da
distância.
Maiores detalhes sobre a construção e funcionamentos das fornalhas, acima descritas
podem ser encontrados em (MAGALHÃES et al. 2008).

220 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

Figura 6. Vista interna da fornalha com sistema de alimentação pneumático.


Componentes:
(1) moega para o combustível; (2) alimentador pneumático; (3) duto de alimentação; (4)
base da fornalha; (5) cinzeiro e entrada do ar primário; (6) porta de alimentação da
lenha; (7)/(8) câmara de combustão/trocador de calor; (9) ciclone; (10) entrada do ar
ambiente; (11) saída do ar de exaustão (aquecimento direto); (12) chaminé

Figura 7. Vista interna da fornalha com sistema de alimentação por helicóide.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 221


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas

(a) (b)
Figura 8. (a) Sistema de alimentação pneumático e (b) por rosca transportadora.
Componentes:
(1) abertura do cinzeiro; (2) grelha plana; (3) degraus inclinados; (4) saída do helicóide; (5) câmara de
combustão; (6) saída do ar aquecido; (7) saída dos gases de combustão (aquecimento direto do ar); (8)
saída dos gases de combustão (aquecimento indireto do ar) e (9) parede de alvenaria.

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6. ADAPTAÇÃO DE FORNALHAS

Desde 1974, por ocasião da primeira crise de petróleo, tem havido crescente
interesse na possibilidade do uso de fontes alternativas de energia para suprir fontes
convencionais (principalmente os derivados de petróleo) na secagem de produtos
agrícolas. É sabido que a secagem é a operação que mais consome energia no processo
de produção. O consumo pode atingir 50% do total, como é o caso do milho colhido
com teor de umidade entre 24 e 28% b.u. Apesar de ainda não ter sido feito um
levantamento do consumo energético mais detalhado para a produção de café, que é
colhido com teor de umidade de aproximadamente 60% b.u., estima-se que o consumo
energético na secagem, em comparação com o milho, seja superior a 60%.
Além da dificuldade de distribuição e dos preços elevados, não existem, no
Brasil, condições que estimulem o consumo de derivados de petróleo para secagem de
grãos. Apesar de estar havendo incentivo por parte de algumas distribuidoras para a
utilização de gás GLP na secagem de grãos, o agricultor tem dúvidas quanto à
continuidade de fornecimento e estabilização dos preços.
Com a dificuldade de usar combustíveis convencionais, a lenha tem sido a mais
importante fonte de calor a ser utilizada, e, atualmente, grande parte dos secadores está
operando com esse tipo de combustível. Entretanto, a maioria das fornalhas a lenha, em
uso, apresenta consumo relativamente alto de energia e, em conseqüência, um
desmatamento elevado está ocorrendo para essa finalidade.

Com base nessas questões, sumariamente comentadas, foram projetados e


testados 4 tipos de fornalhas (Figuras 5, 6, 7 e 9) para serem usados, levando-se em

222 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
consideração o custo inicial, a possibilidade de serem construídas na própria fazenda, o
baixo consumo de resíduos, carvão e lenha e a preservação do meio ambiente.

Figura 9 - Fornalha a lenha com fogo direto e fluxo de ar descendente.

6.1. Construção das Fornalhas


As fornalhas propostas podem ser construídas com diferentes materiais.
Recomenda-se, no entanto, o material mais comum ou facilmente encontrado nas
proximidades da propriedade agrícola, pois, com este procedimento, o custo da
construção ou adaptação ficará bastante reduzido. As fornalhas para o aquecimento do
ar são do tipo aquecimento direto ou indireto. Em geral os gases de combustão são
misturados com o ar ambiente e succionados pelo ventilador e injetados diretamente na
massa de grãos (aquecimento direto). Para o aquecimento indireto, o ar é aquecido pela
passagem por um trocador de calor.
Caso o secador não possua um sistema que possa succionar o ar através da
fornalha, os projetos propostos não poderão ser executados. Neste caso, deve-se optar
por outro tipo de fornalha.
A opção por aquecimento direto deve-se ao fato de não haver, neste caso, a
necessidade de construção de chaminés nem de trocadores de calor, elementos que
tornam as fornalhas com aquecimento indireto termicamente ineficientes e mais caras.
O material usado nas fornalhas apresentadas consiste basicamente de tijolos
comuns, areia de barranco, terra e melaço de cana, cantoneiras, ferros de construção e
um sistema de grelha refrigerada a água e, dependendo da fornalha chapas metálicas e
tijolos refratários. Como a finalidade do atual capítulo é de informação geral, sugere-se
ao leitor consultar (SILVA et al. 2001) ou outros materiais bibliográficos disponíveis no
SITE (www.pos-colheita.com.br).
Para a construção da fornalha a carvão, o material usado consiste basicamente de
tijolos comuns, cimento, areia de barranco, terra e melaço de cana, cantoneiras, ferros de
construção e chapas metálicas no14. Apesar de esta fornalha poder ser construída quase
toda em alvenaria, recomenda-se que o depósito para carvão e o revestimento externo

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 223


Capítulo 8 Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas
sejam construídos em chapa metálica, como indicado pela Figura 5.

7. CUIDADOS PRELIMINARES

Mesmo seguindo criteriosamente todas as recomendações contidas neste


capítulo, na bibliografia especializada ou sugeridas pelo fabricante do secador, o bom
resultado no processo de secagem só será alcançado se o sistema for operado
corretamente. A manutenção diária e a limpeza geral de todos os resíduos da área de
abrangência do secador devem ser a primeira etapa na operação, vindo em seguida a
limpeza do secador, dos cinzeiros da fornalha e do ciclone. Tais cuidados são muito
importantes, porque previnem acidentes, corrosão das partes metálicas e contaminação
do produto a ser secado, entre outros, além de aumentar a eficiência de secagem, devido
ao maior fluxo de ar.

7.1. Início de Operação


O primeiro passo, após o carregamento adequado do secador, é acender a
fornalha. Nessa operação, apesar de simples, deve-se ter o cuidado de usar combustível
(lenha, carvão ou resíduos) bastante secos e de tamanho ou granulometria compatíveis
com a fornalha escolhida. A queima de lenha úmida, embora possível para a fornalha de
fluxos descendentes (Figura 9), produz lacrimejamento acentuado, possui baixo
rendimento e pode contaminar o produto. Para as outras fornalhas, os combustíveis
devem estar suficientemente secos. Para cada tipo de fornalha o operador deve ser
convenientemente informado do sistema de funcionamento do conjunto fornalha/secador
para que se obtenha o melhor em termos de energia e qualidade final do produto.
O término da operação dependerá do teor de umidade inicial do produto, da
temperatura do ar de secagem e do tipo de secador. No caso de secadores comerciais, é
recomendável que o operador siga todas as instruções do fabricante (temperatura do ar
de secagem, fluxo de grãos, etc.), pois o tempo de secagem, praticamente, independe do
tipo de fornalha.

8. LITERATURA CONSULTADA

1. AFONSO JUNIOR, P.C., VIEIRA, G. Gaseificação da madeira e do carvão


vegetal. Viçosa: UFV, 1996. 16p.
2. ANDRADE, E.B.; SASSERON, J.L. & OLIVEIRA FILHO, D. Princípios sobre
combustíveis, combustão e fornalhas. Viçosa, MG. CENTREINAR, 1984.40p.
3. ALMEIDA, M.R., REZENDE, M.E.A. O processo de carbonização contínua da
madeira. In: Produção e utilização do carvão vegetal. Belo Horizonte: CETEC,
1982. 393p.
4. BRIGE WATER, A.V. Advances in thermo chemical biomass conversion.
London: Ed. Blackei Academie and professional, 1995. 1725p.
5. CARIOCA, J.B. Biomassa: Fundamentos e aplicações tecnológicas. Fortaleza:
Ministério do Interior. Universidade Federal do Ceará, 1984. 644p.

224 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


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Rural – Energia Biomassa. Eletrobrás, Rio de Janeiro – RJ, 2000. 41 p
7. COELHO, J.C. Biomassa, biocombustíveis e bioenergia. Brasília: Ministério das
Minas e Energia, 1982. 100p.
8. CORTEZ, L. A. B., LORA, E. S. (Coord.). Tecnologia de Conversão Energética da
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el Caribe, 1991. 75 p.
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meio ambiente. Niterói – RJ. Disponível em:
http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-txt_importante/importante80.asp.
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14. ELEPANÕ A.R.; SATAIRAPAN, K.T.; DAMIAN C.E. Development of a
Rice Hull Cyclonic Furnace for Drying Applications. World Renewable
Energy Conference, Brighton, UK, July 2000. 4 p.
15. ELETROBRÁS. Manual de conservação de energia elétrica na indústria.
Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL. s/d. 80p.
16. FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS. Teoria
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17. FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS. Uso da madeira
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18. GOMES, R. A. R. Avaliação do desempenho de uma fornalha a lenha de fluxo
descendente e com sistema de aquecimento direto. Viçosa: UFV, 1988. 56p.
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19. IBQP- Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Paraná. Análise da
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345 f. Relatório Final. IBQP.
20. INCROPERA F.P.; DeWITT, D.P. Fundamentos de transferência de calor e de
massa. 4ª ed. Rio de Janeiro. LTC, 1996. 494p. (Original Inglês)
21. LACERDA FILHO, A. F., QUEIROZ, D. M., ROA, G. Avaliação experimental de

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 225


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secador comercial intermitente de arroz. Revista Brasileira de Armazenagem.
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22. LOPES, R.P. Desenvolvimento de um sistema gerador de calor com opção para
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2002. 220p. (Tese de Doutorado em Engenharia Agrícola).
23. LORA, E.S; HAPP, J.F. Classificação e balanço térmico das fornalhas para a
combustão de biomassa. In: CORTEZ, L.A.B., LORA, E.S. Tecnologia de
conversão energética de biomassa. Sistemas enegéticos II. Manaus:
EDUA/EFEI, 1997b. 540 p
24. MAGALHÃES, E.A. Desenvolvimento e análise de uma fornalha para
aquecimento direto e indireto de ar utilizando biomassa polidispersa.
Viçosa-MG: Universidade Federal de Viçosa. 2007. 212p. (Tese de doutorado
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25. Magalhães, E.A; SILVA, J.S; SILVA, L.N;MELO, F.A.S $NOGUEIRA, R. M.
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Engenharia na Agricultura. Boletim Técnico. Viçosa – MG, 2008. 41p
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descendentes. Viçosa: UFV, 1987. 45p. (Tese de Mestrado em Engenharia
Agrícola).
27. MELO, F.A.O. Projeto, construção e avaliação de uma fornalha para
aquecimento de ar utilizando combustíveis particulados finos. Viçosa-MG:
Universidade Federal de Viçosa. 2003. 91p. (Dissertação de mestrado em
Engenharia Agrícola).
28. MELO, F.A.O.; SILVA, J.N.; SILVA, J.S.; DONZELES, S.M.L. Avaliação da
utilização da palha de café para o aquecimento indireto de ar para
secagem de produtos agrícolas. Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.13,
n.1, Jan./Mar., 2005a. p. 49-54
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qualidade do carvão vegetal. In: PENEDO, W. R. (Ed.). Produção e utilização
do carvão vegetal. Belo Horizonte: CETEC, 1982. p.75-89.
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biomassa florestal. Colaboração da Companhia Energética de Minas Gerais,
Belo Horizonte, 1987. 129p.
31. MULTON, J. L. Conservation et stockage des grains et graines et produits
dérivés céréales oléagineux, protéagineux, aliments pour animaux. Paris:
Technique & Documentation Lavoisier, 1982. 1155 p. v.2.
32. OLIVEIRA, G.A. Desenvolvimento e teste de uma fornalha com aquecimento
indireto e autocontrole da temperatura máxima do ar para secagem de
produtos agrícolas. Viçosa: UFV, 1996. 69p. (Tese de Mestrado em
Engenharia Agrícola).

226 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


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61, 1982.
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cruzados. Botucatu: Universidade Estadual Paulista, 1991. 102p. (Tese de
Doutorado em Agronomia).
35. SILVA, J.N. Fontes Alternativas de Energia; energia de biomassa e combustão.
Viçosa: DPF-UFV/CEMIG, 1988. 53p. (Caderno Didático).
36. SILVA, J.S., BERBERT, P. A. Colheita, secagem e armazenagem de café.
Viçosa: Aprenda Fácil Editora, 1999. 146p.
37. SILVA, J.S. Estudo de uma fornalha para secagem de grãos com aquecimento
direto. Viçosa: Engenharia na Agricultura, Viçosa, v.1, n.2. 1991. 15p.
(Caderno Didático)
38. SILVA, J.S. Adaptação da fornalha de fogo direto na secagem de grãos. Informe
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39. SILVA, J.S.; MACHADO, M.C; DONZELES, S.M.L.; SAMPAIO, C.P. Sistemas
híbridos para secagem: solar e biomassa. Ed. JARD. Viçosa – MG. 2003.
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40. SOUZA, Z. Elementos de máquinas térmicas. Rio de Janeiro: Editora
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indireto para secadores de produtos agrícolas. Botucatu-SP: Universidade
Estadual Paulista. 1991. 123p. (Tese de doutorado em Ciências Agronômicas).
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clássica. São Paulo: Edgard Blucher, 1993. 318p.
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de eucalipto. Informe Agropecuário. Belo Horizonte, n.121, p71–74. 1980.
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Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 227


Capítulo 9 Composição do Custo de Secagem

Capítulo

9
COMPOSIÇÃO DO CUSTO DE SECAGEM

Suely de Fátima Ramos Silveira


Juarez de Sousa e Silva
Francisco de Assis Carvalho Pinto
Ricardo Caetano Rezende

1. INTRODUÇÃO

Entende-se claramente o conceito de produção quando este se refere aos bens


diretamente consumidos pela população. No entanto, produção refere-se a qualquer bem
ou serviço produzido na economia.
Do mesmo modo, quando se fala em custos, é mais fácil entender este conceito
quando se trata de bens. A teoria do custo estabelece conceitos e princípios que são
empregados na análise dos custos de produção. Para entender os conceitos relacionados
à teoria do custo, primeiramente, é necessário considerar determinados conceitos
econômicos, como, por exemplo, o curto e o longo prazo.
O curto prazo é definido como o período de tempo durante o qual parte ou todos
os insumos empregados na produção são fixos. O volume da produção pode variar,
desde que somente as quantidades dos insumos variáveis utilizados na produção variem.
Por exemplo, um produtor de grãos pode aumentar sua produção aumentando a
quantidade de fertilizante ou utilizando mais horas de trabalho das máquinas e dos
equipamentos de que dispõe. Se ele pretende reduzir a produção, ele pode dispensar
alguns trabalhadores, reduzir o número de horas trabalhadas etc., sem, contudo,
desfazer-se imediatamente de sua unidade produtiva.
O longo prazo é definido como o período de tempo no qual todos os insumos são
variáveis. No longo prazo o empresário pode ampliar o tamanho da fábrica ou o
produtor rural pode ampliar a área plantada, produzindo mais, sem no entanto ser
obrigado a pagar jornadas extras de trabalho a seus empregados, como ocorreria no
curto prazo, caso pretendesse produzir mais.
Do ponto de vista do empresário, industrial ou agropecuário, os custos a serem
considerados vão depender da finalidade, isto é, da decisão que se deseja tomar.
Para se ter uma boa composição de custos, basicamente necessita-se de
informações sobre processo produtivo, insumos utilizados, mão-de-obra necessária,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 229


Capítulo 4 Composição do Custo de Secagem

preços e condições de mercado.


As determinações de custo são feitas com várias finalidades. Elas auxiliam o
produtor rural em sua decisão quanto à escolha da cultura a ser produzida ou sobre o
investimento em animais e, ainda, quanto às técnicas de produção a serem adotadas.
Servem como subsídios na formulação de políticas e projetos de órgãos governamentais
e outras instituições de planejamento.
Qual a finalidade da determinação de custos? Quando, em qualquer sistema
produtivo, é necessário alocar recursos escassos, o empresário visa maximizar sua
receita ou minimizar seus custos, ou seja, otimizar o emprego dos recursos disponíveis.
Assim, a tomada de decisão sobre produzir ou não envolverá o conhecimento sobre os
custos da atividade que se deseja executar.
As estimativas de custos servem para facilitar estudos, selecionar investimentos
alternativos e determinar recursos exigidos pela atividade que se deseja implementar.
Independentemente do método empregado na estimativa dos custos, é importante
reconhecer que os níveis de detalhamento e precisão das estimativas são diretamente
proporcionais à precisão e ao tempo necessário para coletar as informações que
pertencerão ao conjunto de dados utilizados. Simultaneamente, os níveis de
detalhamento e precisão das estimativas de custos são diretamente proporcionais à
qualidade e quantidade dos dados utilizados.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS

Com base na teoria do custo no Curto Prazo e de acordo com as condições de


produção (físicas e tecnológicas) e com os preços unitários dos insumos utilizados na
produção, os custos classificam-se em:
a) Custos Fixos Totais (CF): são aqueles que não variam com a quantidade
produzida, como, por exemplo, os juros sobre o capital empatado, os
impostos fixos, a depreciação, a manutenção e os seguros.
b) Custos Variáveis Totais (CV): são aqueles que variam de acordo com o
volume de produção, como, por exemplo, os gastos com fertilizantes,
combustíveis e mão-de-obra. O custo total é dado pela soma dos custos fixos
totais com os custos variáveis totais (equação 1):

CT = CF + CV eq.1
em que
CT = custos totais;
CF = custos fixos totais;
CV = custos variáveis totais.

Para um secador de grãos, o custo do combustível, o custo de operação do


ventilador, o custo de inadequação do sistema e o custo da quebra-técnica são
considerados custos variáveis.
Outros conceitos importantes são os de custo médio e marginal. O Custo Médio
(CMe) é obtido dividindo-se o custo total pelo número de unidades produzidas (equação
2). Assim, o custo médio incluirá uma parcela dos custos fixos e dos custos variáveis

230 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 9 Composição do Custo de Secagem

(equações 3 e 4, respectivamente).

CMe = CT / Q eq. 2

em que
CMe = custo médio;
CT = custo total; e
Q = quantidade produzida.

O Custo Fixo Médio (CFMe) é definido como o custo fixo total dividido pela
quantidade produzida, enquanto o Custo Variável Médio (CVMe) é o custo variável
total dividido pela quantidade produzida.

CFMe = CF/Q e CVMe = CV/Q eq. 3

CMe = CFMe + CVMe eq. 4

Quando o volume produzido é pequeno, o custo médio tende a ser elevado,


devido aos custos fixos, que representam parcela significativa sobre as primeiras
unidades produzidas. À medida que a produção aumenta, os custos fixos serão
distribuídos por um número maior de unidades produzidas e, então, aumentará a
importância dos custos variáveis (Figura 1) na composição do custo total.

Figura 1 – Curvas de custo total, custo fixo total e custo variável total.

A curva clássica de custos totais médios (CMe) tem a forma de U, decrescendo


inicialmente quando sob a influência dos custos fixos médios decrescentes, atingindo
um ponto de mínimo e elevando-se novamente, quando a combinação ótima dos
recursos é ultrapassada.
A forma em “U” da curva de custo total médio tem importante significado para o
dimensionamento ótimo do investimento. A fase decrescente da curva, denominada
economia de escala, mostra que, à medida que a escala ou o tamanho do negócio
aumenta, seu custo unitário reduz, até alcançar seu nível mínimo, que representa o
tamanho ideal. A partir daí, tem-se as deseconomias de escala, e, à medida que se
aumenta a escala de produção ou o tamanho do negócio, os custos unitários também

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 231


Capítulo 4 Composição do Custo de Secagem

aumentam, reduzindo a eficiência econômica do negócio.


O Custo Marginal (CMa) é definido como o acréscimo ao custo total em
conseqüência do acréscimo de uma unidade na produção, isto é, dado o acréscimo de
uma unidade adicional à quantidade produzida, o custo marginal representa o acréscimo
ao custo total devido àquela última unidade produzida (equação 5).

CMa =CT / Q ou CMa =dCT / dQ eq. 5

As curvas de custos médios e de custo marginal estão representadas na Figura 2.

Figura 2 – Curvas do custo médio, custo variável médio, custo fixo médio e custo
marginal.

3. O CUSTO DA MÃO-DE-OBRA

Numa empresa agrícola, geralmente, a classificação dos custos fixos e variáveis


é difícil ou, até mesmo, realizada de forma arbitrária.
A classificação do custo da mão-de-obra como fixo ou variável, na maioria dos
casos, é dificultada pela própria natureza das atividades.
Sugere-se que os custos com mão-de-obra temporária ou com diaristas sejam
classificados como variáveis.
Quando se trata de mão-de-obra permanente, pode-se classificá-la como custo
fixo ou variável, dependendo de sua utilização. Quando a mão-de-obra permanente é
usada somente em tempo parcial em determinada atividade, ela poderá ser classificada
como um custo variável. À medida que as despesas não variam com a área plantada,
quantidade colhida ou quantidade de grãos a ser secada e armazenada, a mão-de-obra
será classificada como custo fixo. Deve-se ter em mente que a classificação de um custo
como fixo ou variável irá depender da situação específica que está sendo analisada.

4. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DE CUSTOS

Há várias outras classificações dos custos, como:


a) Despesas diretas: são pagamentos efetuados pela utilização dos recursos,
como por exemplo, a aquisição de sementes, fertilizantes e inseticidas para o
plantio ou, então, o valor dos insumos que estavam disponíveis na empresa,

232 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 9 Composição do Custo de Secagem

como as despesas decorrentes do uso de um trator ou um secador (gastos


com combustíveis, eletricidade e lubrificantes).
b) Despesas indiretas: são os juros pagos sobre o capital, as amortizações e o
custo do risco.
c) Custo operacional: englobam o valor dos insumos consumidos, o custo do
uso de máquinas e implementos (sem considerar os juros) e o valor da mão-
de-obra utilizada.
d) Juros, manutenção, riscos e depreciação: a disponibilidade de capital
implica o pagamento de juros, custos de manutenção, seguros contra riscos e
depreciação, a saber:
Juros: a todo capital atribui-se um juro calculado a uma taxa de mercado. A taxa
de juros corresponde ao que os credores cobram por unidade monetária emprestada, por
período de tempo (ano, mês, dia), sendo expressa como um percentual.
Manutenção: é o custo anual necessário para manter o bem de capital em
condições de operação. As despesas com a conservação de um bem de capital ou ativo
fixo representam despesas do exercício.
Risco: é a quantia em dinheiro destinada anualmente para a formação de um
fundo que permita pagar danos imprevistos. São exemplos as despesas em que se pode
incorrer para pagar danos causados por incêndios, chuvas de granizo, enchentes e outros
eventos não-previsíveis.
Depreciação: muitos bens de capital, com exceção da terra têm vida útil
limitada, e, assim, ao final de suas vidas úteis, os empresários ou os produtores deverão
substituí-los por outros idênticos ou tecnologicamente mais avançados. O valor dessa
substituição deverá ser descontado gradualmente das receitas. Os ativos fixos (prédios,
máquinas e equipamentos, móveis e instalações, dentre outros) decrescem em valor com
o tempo e o uso. Este decréscimo de valor pode ser atribuído ao desgaste físico ou à
obsolescência, com a perda de utilidade devido às mudanças tecnológicas não
relacionadas com as condições físicas do bem. A redução de valor, resultante de
qualquer uma das causas citadas, é conhecida como depreciação.
A depreciação devido à deterioração do bem é denominada depreciação física,
enquanto a depreciação devido à obsolescência é chamada depreciação funcional.
Assim, a depreciação pode ser definida como a conversão de ativos fixos em despesa.
Para ilustrar a conversão de ativos fixos em despesa, considere que um novo
equipamento para o processamento de grãos, instalado em uma unidade produtiva, custa
$5.000 (cinco mil unidades monetárias) e será depreciado em 20 anos, não tendo
nenhum valor no final dos 20 anos. Então, o valor de $5.000 é deduzido do lucro bruto à
taxa de $ 250 por ano, durante 20 anos. O valor de $ 250 é um custo devido ao uso do
equipamento para gerar receitas e lucros.
Usualmente, assume-se que o período total de depreciação corresponde à vida
útil do ativo fixo, enquanto o valor ao fim de sua vida útil corresponde ao valor residual
ou valor de sucata.
Existem vários métodos para calcular a depreciação de um ativo fixo, sendo o
método linear ou das cotas fixas o mais simples e mais utilizado na prática.
O método linear considera a depreciação simplesmente como a desvalorização
do bem, reduzindo-se gradualmente seu valor nos inventários sucessivos durante o

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 233


Capítulo 4 Composição do Custo de Secagem

período de utilização do ativo fixo considerado. A taxa anual de amortização pode ser
calculada dividindo-se o custo inicial pelo número de anos de duração provável do bem,
ou, conforme o caso, deduzindo-se do custo inicial um valor final presumido (equação
6).

D =(Ci-Cf ) / n eq. 6
em que
D = depreciação;
Ci = custo inicial;
Cf = custo final; e
n = vida útil do ativo fixo, em anos.

5. DESEMPENHO DE SECADORES

Para que um agricultor ou gerente de uma unidade comercial de armazenagem


possa escolher de forma metódica um sistema de secagem, é indispensável conhecer as
características operacionais, a eficiência energética, a capacidade do sistema e,
principalmente, sua influência na qualidade do produto processado.
Com raras exceções, a maioria dos secadores é comercializada apenas pela
capacidade de secagem fornecida pelo fabricante. Pouca ou nenhuma informação é dada
a respeito das características anteriormente mencionadas e as condições (exceto a
temperatura do ar de secagem) sob as quais a capacidade do secador foi determinada.
Quando se consideram o alto custo da energia e os baixos preços dos produtos
agrícolas, torna-se indispensável conhecer, pelo menos, o consumo de energia e a
qualidade do produto depois de seco. O custo inicial e a capacidade dinâmica não são
suficientes para se decidir quanto à aquisição de determinado sistema.
É objetivo deste capítulo oferecer uma metodologia para avaliação e escolha de
um componente para realizar determinada operação unitária, bem como prever o custo
dessa operação ou de um sistema completo para o pré-processamento de produtos
agrícolas.
Como exemplo, será analisada a secagem de milho em um secador de fluxos
cruzados, intermitente e com reversão do fluxo de ar de secagem construído e projetado
na UFV.

5.1. Avaliação do Desempenho


O desempenho de secadores varia de acordo com uma série de fatores, como
umidades inicial e final do produto, temperatura e propriedades físicas, resistência
oferecida ao fluxo de ar, condições ambientais (temperatura e umidade relativa do ar
ambiente), tipo de fornalha, sistema de carga e descarga e tipo de ventilador.
BAKKER-ARKEMA et al. (1978) propuseram uma metodologia para a
avaliação do desempenho de secadores baseada em um número reduzido de testes de
campo, sob condições padronizadas e que deve ser complementada com trabalhos de
simulação. Para facilitar, esta metodologia será denominada ASBA (avaliação de
secadores segundo Bakker-Arkema et al.).
A Tabela 1 mostra as condições estabelecidas para o ambiente e os sistemas de

234 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 9 Composição do Custo de Secagem

secagem comumente encontrados nos EUA. Os dados a serem determinados, segundo a


ASBA, estão listados na Tabela 2.
Com relação à duração dos testes, a ASBA estabelece que são necessários três
testes para secadores em lotes, com no mínimo 24 horas de funcionamento para os
secadores contínuos.
Parâmetros como condições ambientais e temperatura do ar de secagem podem
ser obtidos em intervalos regulares (dependendo da capacidade de secagem), com
posterior cálculo de valores médios.
Se possível, os secadores devem também ser caracterizados pelos níveis de
poluição sonora e de emissão de partículas no ambiente. Tabelas geradas por simulação
podem ser utilizadas para avaliar o secador sob condições não-padronizadas (capítulo 6
– Estudo da Secagem em Camada Profunda).

TABELA 1 – Padrões para avaliação do desempenho de secadores na secagem de


milho, nos EUA, durante 24 horas de teste.

Parâmetro Valor
Umidade inicial média do produto (%b.u.) 25 ± 1,5
Umidade média final do produto (%b.u.) 15 ± 0,5
Temperatura média do ambiente (oC) 10 ± 5,5
Umidade relativa média do ambiente (%) 50 ± 10
Temperatura média dos grãos (oC) 10 ± 5,5
Percentagem de impureza 3,0
Temperatura final dos grãos (acima do 8,0
ambiente)

TABELA 2 – Parâmetros e especificações do secador requeridos para a avaliação do


desempenho

PARÂMETROS DOS GRÃOS E DO AR


Tipo de grãos Milho, arroz, soja etc.
(detalhar)
Umidade inicial e final (% b.u.)
o
Temperatura C
Impureza inicial e final %
Massa específica inicial e final kg.m-3
Peso inicial kg
Índices de qualidade (detalhar)
o
Temperatura do ar de secagem C
o
Temperatura do ar ambiente (t) C
Umidade relativa do ambiente %
ESPECIFICAÇÕES DO SECADOR E USO DE ENERGIA
Densidade do fluxo de ar m3.min-1.m2

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 235


Capítulo 4 Composição do Custo de Secagem

Continuação Tabela 2
Volume total ou fluxo de grãos (m3 ) ou ( m3.h-1)
Tempo de secagem ou comprimento da coluna de (h) ou (m)
secagem
Tempo de resfriamento ou comprimento da coluna de (h) ou (m)
resfriamento
Largura da coluna de secagem m
Pressão estática mmca
Tempos de carga e descarga min
Ventilador e transportadores (kWh.lote ) ou (kWh.h-1)
-1

Tipo de combustível (especificar)


Consumo de combustível Kg.h-1
Duração do teste h
Volume do produto úmido m3
Pontos percentuais de umidade removida %b.u.
Capacidade de secagem (grãos úmidos) m3.h-1
Capacidade de secagem (grãos secos) m3.h-1
Eficiência energética de secagem
Sem energia elétrica kJ.kg-1de água evaporada
Com energia elétrica kJ.kg-1de água evaporada

6. CUSTO DE SECAGEM

Vários parâmetros estão envolvidos no custo de secagem, entre eles a energia


para aquecer o ar, a energia para acionar os ventiladores, a energia para transportar o
produto, a mão-de-obra, a manutenção, a depreciação, os juros e os custos de quebra
técnica. Admitindo o custo como uma função do tempo requerido para a secagem, pode-
se utilizar um modelo para simulação de secadores, para prever o tempo de secagem e,
com isso, avaliar o custo de combustível, o custo de operação do ventilador, os custos
fixos e o custo total de secagem, com bases nas seguintes equações (veja lista de
símbolos no final deste capítulo):

Cc = [ma.(Cpa+RM.Cpv).(T-Tamb).ts . P1]/(Pc.E1.As.X) eq.7

Cv = (Pot . ts . P2) /E2 eq.8

Para o cálculo dos custos fixos (equação 9), são incluídos depreciação,
manutenção, juros, seguro, impostos e mão-de-obra (com exceção da mão-de-obra, os
custos fixos não são afetados pela quantidade de grãos a serem secados).

Cf = (P3 + P5 . F / tmax) / mínimo A eq. 9


A=[ (Vs/ts) ou (Vpmax /tmax)]

O custo de secagem é a soma dos custos de combustível, operação do ventilador

236 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 9 Composição do Custo de Secagem

e custos fixos.

Ctot = Cc + Cv + Cf eq.10

O custo anual de secagem pode ser calculado pela equação 11:

Ca = [(C1+C2+C3+C4) . QT / CS]+C5+C6 eq.11

Os custos de combustível (C1) e da eletricidade (C2) para a secagem foram


calculados pelas equações 12 e 13, respectivamente:

C1 = (EA . P1) / (E1 . Pc) eq.12

C2 = PE . P2 / E2 eq.13

O custo da mão-de-obra é função do tempo de secagem; entretanto, considera-se


que esta é utilizada em apenas parte do tempo, devendo ser ajustada seguindo a equação
14:
C3 = n . P3 eq.14

Por causa da impossibilidade de se completarem as operações de campo em um


período de tempo adequado, deve-se debitar ao custo total o custo de inadequação do
sistema "timeliness costs", por exemplo, quando a capacidade de secagem não está
adequada para a capacidade de colheita, ocorre ociosidade em um dos sistemas. O custo
de inadequação depende da programação da operação, com respeito ao tempo ótimo, e
pode ser classificado como programação prematura, atrasada e balanceada. A equação
15 é utilizada para a obtenção deste custo:

C4 = (F1 . P4 . QT) / (Fp . HR) eq.15

Os custos fixos, que incluem depreciação, juros e impostos, são calculados como
uma porcentagem do custo inicial e variam de acordo com o tipo do sistema, sendo
calculado pela equação 16:

C5 = F .P5 eq.16

O valor de F para secadores contínuos e intermitentes móveis é de 0,15; para


silo-secador em lotes, de 0,13; e para secagem com ar natural e com ar ligeiramente
aquecido, de 0,12.
Os custos de quebra técnica devem incluir as perdas de matéria seca durante a
secagem, secagem em excesso, secagem incompleta e perdas na qualidade. Por causa da
dificuldade de estimar esses valores, o custo de quebra técnica deverá ser determinado
apenas pela perda de matéria seca, segundo a equação 17:

C6 = FQ . P4 . QT eq.17

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 237


Capítulo 4 Composição do Custo de Secagem

Para milho, o fator “Quebra Técnica” foi tomado como sendo 0,005.

7. EXEMPLO DE APLICAÇÃO

A maneira como foram avaliados os vários parâmetros deste exemplo, seguindo


a metodologia ASBA, é descrita a seguir.

7.1. Parâmetros Relativos aos Grãos


Os teores de umidade são obtidos pelo método-padrão de estufa, 103 ± 1oC por
72 horas, com três repetições. As amostras, para determinação da umidade inicial, são
obtidas da homogeneização de várias amostras simples retiradas durante o carregamento
do secador.
O produto seco deve ser pesado, e o peso inicial, obtido pela relação entre os
teores de umidade inicial e final.
As temperaturas devem ser determinadas por meio de pares termoelétricos,
localizados em vários pontos do secador, como: na câmara de descanso, na câmara de
secagem, nos “plenos” de secagem e de resfriamento, na exaustão, na entrada e na saída
dos grãos.
As percentagens de impurezas (inicial e final) devem ser determinadas por
peneiramento manual, conforme Portaria No 845 do Ministério da Agricultura.
Os valores de PH (inicial e final) devem ser determinados por meio de uma
balança de peso hectolítrico. As percentagens e os tipos de trincamento (Figura 1,
capítulo 4 – Qualidade dos Grãos) podem ser obtidos pela verificação visual em um
diafanoscópio (Figura 3), para amostras de 50 sementes e com cinco repetições.

Figura 3 – Detalhes de um diafanoscópio, para verificação de trincas.

Os índices de susceptibilidade a quebras podem ser obtidos pelo STEIN


BREAKAGE TESTER (as amostras devem ter os mesmos teores de umidade para cada
teste).
As percentagens de germinação devem ser determinadas segundo a metodologia
descrita nas Regras para Análise de Sementes.

7.2. Parâmetros Relativos ao Ar


As temperaturas médias do ar de secagem e de exaustão podem ser obtidas das

238 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 9 Composição do Custo de Secagem

temperaturas lidas a cada 30 minutos, à semelhança das medidas da temperatura dos


grãos.
As temperaturas e umidades relativas do ambiente podem ser obtidas por um
termo-higrógrafo, instalado em um abrigo meteorológico situado em torno de 50 metros
do local de teste.

7.3. Uso de Energia


As potências desenvolvidas pelos motores do ventilador e do elevador de
canecos são determinadas por meio de Wattímetro, e a energia consumida pode ser
obtida pela equação 18:

M = PM . TF . 3600 eq.18

A energia e o poder calorífico da lenha utilizada para o aquecimento do ar


podem ser determinados, respectivamente, pelas equações 19 e 20:

EPC = QC . PC eq.19

PC = 17974 (1 - 0,0114 . UC) eq. 20

A umidade do combustível deve ser determinada pelo método-padrão de estufa,


o
105 C por 48 horas .

7.4. Especificação do Secador


A pressão estática deve ser obtida por meio da média das leituras, para cada 30
minutos de secagem, realizadas com o uso de um micromanômetro instalado na câmara
" plenum" do secador. A densidade de fluxo de ar (m3.min-1.m-2) e a vazão de ar podem
ser obtidas pela equação 21 e por meio da curva característica do ventilador,
respectivamente:

DFar = VZar / As eq. 21

Os tempos de carregamento, secagem, resfriamento e descarregamento devem


ser cronometrados; já a capacidade de secagem é determinada através da equação 22.

Cs = MP / TS eq. 22

A eficiência energética de secagem, que é a quantidade de energia necessária


para evaporar uma unidade de massa de água do produto, é determinada pela equação
23:

EEs = EC / (Mi - Mf) eq. 23

Nesta equação, a energia utilizada é representada pela energia do combustível e


pela energia necessária para acionamento dos motores do secador.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 239


Capítulo 4 Composição do Custo de Secagem

7.5. Simulação de Secagem


O programa utilizado para simular o comportamento do secador foi baseado no
modelo proposto por THOMPSON et al. (1978). A opção pelo modelo foi devido à sua
simplicidade e flexibilidade de adaptação às condições de reversão do fluxo de ar e ao
modo de operação intermitente do secador em pauta.

7.6. Custos
Na avaliação dos custos de operação devem ser analisados os seguintes itens:
custo do combustível, custo da energia elétrica, custo da mão-de-obra e custos fixos. As
equações 24, 25, 26 e 27 são usadas para determinar esses valores:

CC = (QC . PK) / QS eq. 24

CEE = (TF . PM . PEE) / QS eq. 25

Na obtenção dos custos da mão-de-obra para operação do secador, considera-se


necessário apenas uma pessoa e sua remuneração mensal:

CMO = (TS . PMO) / QS eq. 26

Consideram-se como fixos os custos referentes à depreciação, à manutenção e


aos juros. Estes custos podem ser calculados pela equação 27:

CF = (CIS . PCI) / (QSA . 100) eq. 27

A percentagem do custo inicial do secador (PCI) é obtida pela soma das


percentagens referentes à depreciação, aos juros e à manutenção do secador.
A depreciação pode ser obtida pelo método linear, considerando-se 20 anos a
vida útil de um secador (5% ao ano). Os juros para investimentos agrícolas foram
considerados como de 10% ao ano, e os gastos com manutenção, de 2% ao ano.
Para obtenção da QSA, considerou-se que o secador foi adequado para secar 225
toneladas por ano, em um período de 45 dias.
O custo total da operação foi obtido pela soma dos custos de combustível,
energia elétrica, mão-de-obra e dos custos fixos. O custo de operação para o secador foi
comparado com os custos de secagem fornecidos pela extinta Companhia Brasileira de
Armazenamento. Para obtenção desse custo, considerou-se que seriam cobradas do
cliente as tarifas referentes à pesagem, ao recebimento a granel, à limpeza, à secagem
propriamente dita e à expedição a granel.

7.7. Análise dos Resultados


Os resultados obtidos na avaliação do desempenho do secador, referentes a
parâmetros dos grãos, parâmetros do ar e especificação do secador, estão relacionados
nas Tabelas 3 e 4.
Os teores de umidade iniciais variaram na faixa de 21,8 a 26,9% b.u., e os finais,

240 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 9 Composição do Custo de Secagem

entre 13,3 e 15,3% b.u. (Esses valores não obedecem rigorosamente às condições
padronizadas, de 25 ± 1,5% b.u. e 15 ± 0,5%, para as umidade iniciais e finais,
estabelecidas na ASBA). Para fins práticos, entretanto, essas diferenças não são
consideradas relevantes.
Os teores de umidade finais (Tabela 5) foram obtidos das médias das umidades
das amostras, retiradas durante a descarga do secador, com intervalo de amostragem de
cinco minutos.
A ASBA propõe que os grãos devem ser resfriados a uma temperatura não
superior a 8oC acima da temperatura ambiente. Nesta avaliação, foram resfriados até
5oC acima da temperatura do ar de resfriamento, que correspondia à temperatura no
ambiente externo ao secador. Assim, as temperaturas finais foram superiores às
recomendadas na metodologia.
Como pode ser visto na Tabela 3, existem diferenças entre as percentagens
iniciais e finais de impurezas. Na prática, porém, as diferenças observadas são
desprezíveis, pois não comprometem a classificação do milho.
A percentagem total de trincamento do produto variou entre 51 e 97%, sendo
considerada elevada para a secagem de milho. A percentagem do tipo de trincas
(simples, duplas e múltiplas) variou significativamente em relação às temperaturas de
secagem. Pela tabela, vê-se que, à medida que se eleva a temperatura, aumentam-se as
percentagens de trincas dos tipos duplos e múltiplos. Apesar das elevadas percentagens
de trincamento, em nenhum teste houve diferença significativa entre os índices iniciais e
finais de susceptibilidade a quebras. Além disso, os índices de susceptibilidade a
quebras encontrados foram pequenos, indicando boa técnica de manuseio do secador.
Apenas a temperatura de secagem de 60oC não afetou a percentagem de
germinação do produto. Este resultado está baseado no fato de a temperatura final dos
grãos não ter sido muito superior a 45oC (Tabela 3).
Da energia total consumida, apenas uma pequena parte foi proveniente da
eletricidade (Tabela 4). Esse valor torna-se maior para as temperaturas de secagem mais
baixas, pois, neste caso, o secador funcionou por um período de tempo mais longo.
No secador avaliado, os testes foram realizados com diferentes quantidades e
umidades iniciais (Tabela 5). Para contornar este problema, fez-se uma comparação
entre testes semelhantes. Pela Tabela 4, vê-se que o comportamento médio observado
durante a operação do secador é o esperado, uma vez que a capacidade de secagem
aumenta com a elevação da temperatura. Como pode ser verificado na Tabela 4, as
temperaturas de secagem mais elevadas requerem menor energia para evaporar uma
unidade de massa de água, isto é, o secador é mais eficiente para temperaturas mais
elevadas.
A eficiência energética do secador foi considerada razoável, se comparada a
outros secadores de fluxo cruzado.
Os valores obtidos para os custos de operação estão relacionados na Tabela 6.
As maiores parcelas desse custo são devidas ao custo de mão-de-obra e aos custos fixos
(90% do total). Pela comparação com custos de secagem da extinta CIBRAZEM,
observa-se que os custos de operação do secador foram semelhantes aos custos no
Estado do Rio de Janeiro e cerca de 30 a 40% inferiores aos custos em outras regiões,
sem computar o custo de transporte.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 241


Capítulo 4 Composição do Custo de Secagem

TABELA 3 – Parâmetros médios relativos aos grãos

Parâmetro Condição Temperatura de secagem (oC)


60 80 100
Umidade do grão (%b.u.) Inicial 23,9 21,6 24,3
Final 14,5 14,8 14,3
Peso do lote (kg) Inicial 2339 2391 2518
Final 2081 2162 2247
Temperatura dos grãos (oC) Inicial 25,2 24,4 24,8
Final 38,2 40,7 41,1
Percentagem de impurezas Inicial 0,28 1,10 0,52
Final 0,49 1,70 0,68
Massa específica (m3kg-1) Inicial 748 728 744
Final 792 762 776
Percentagem de trincas Zero 16,0 28,3 14,0
Simples 49,3 30,0 25,6
Duplas 19,7 27,3 31,0
Múltiplas 15,0 14,3 29,3
Total 84,0 71,7 86,0
Índice de susceptibilidade à Inicial 0,87 0,96 1,23
quebra (%) Final 0,75 0,98 0,19
Percentagem de germinação Inicial 84,3 88,0 86,0
Final 86,6 41,7 12,6
Fluxo de recirculação (m3.min.-1) 0,04 0,04 0,04

TABELA 4 – Parâmetros médios do ar e especificações do secador

Temperaturas (oC)
Parâmetros
60 80 100
Temperatura média do ar de 61,2 81,2 101,2
Ar secagem (oC)
Temp. média do ar ambiente (oC) 27,0 27,2 26,3
Umid. rel. média do ar ambiente 55,0 59,0 59,3
(%)
Energia Combustível 1668 1474 1802
consumida Energia elétrica 40,6 27,2 26,8
(kJ x 103) % da energia elétrica em relação 2,38 1,83 1,47
ao total
- Carga 14,3 25,0 16,7
- Secagem 480 300 320
Tempo - Resfriamento 30,0 36,7 30,0
minutos - Descarga 11,7 25,0 15,3
Total 536 387 382

242 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 9 Composição do Custo de Secagem

Continuação Tabela 4
Pressão estática média (mm.c.a) 37,8 27,6 27,5
Densidade de fluxo de ar 25,8 28,3 28,3
(m3.min-1.m-2)
Capacidade de -m de produto úmido.h-1
3
0,349 0,521 0,571
secagem -m3 de produto seco.h-1 0,293 0,452 0,483
kg de produto úmido.h-1 261 381 425
kg de produto seco.h-1 233 345 374
Eficiência excl. energia elétrica 6479 6314 5523
energética de incl. energia elétrica 6637 6432 5608
secagem
(kJ.kg-1 água
removida)

TABELA 5 - Teores médios de umidade (% b.u.) das amostras retiradas durante a


descarga

Condições de amostragem Temperatura de Secagem


(oC)
Amostras retiradas, a cada cinco minutos, 60 80 100
durante a descarga do secador. 14,4 14,6 14,5
14,5 14,4 14,3
14,4 14,9 14,4
14,6 15,0 14,4
15,1 13,8
15,0 13,1
14,6
Médias 14,5 14,8 14,1

TABELA 6 - Custo operacional do secador avaliado]

Custo operacional Temperatura (oC)


60 80 100
Custo do combustível ($.t-1) 5,19 4,34 5,22
% do custo de operação 8,30 7,90 9,37
Custo da eletricidade ($.t-1) 1,67 1,05 1,02
% do custo de operação 2,60 1,90 1,80
Custo da mão-de-obra ($.t-1) 19,68 13,45 13,04
% do custo de operação 31,60 24,60 23,40
Custos fixos ($.t-1) 35,75 35,75 35,75
% do custo de operação 57,40 65,60 65,40
Custo de operação total ($.t-1) 62,28 54,57 55,00
% do custo da ex-CIBRAZEM
Rio de Janeiro 109,70 100,30 92,00

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 243


Capítulo 4 Composição do Custo de Secagem

Continuação Tabela 6
Demais regiões 73,30 67,00 61,00
Custos da ex-CIBRAZEM ($.t-1)
Rio de Janeiro 56,65 54,48 59,84
Demais regiões 84,91 81,65 89,73

8. LISTA DE SÍMBOLOS

As - área de secagem, m2;


CA - custo total de secagem anual, $.ano-1;
Cc - custo do combustível para secagem, $.m-3 de produto;
CC - custo do combustível, $.t-1 de produto seco;
CEE - custo da energia elétrica, $.t-1 de produto seco;
CF - custos fixos, $.t-1 de produto seco;
Cf - custos fixos, $.m-3 de produto;
CIS - custo inicial do secador, $;
CMO - custo da mão-de-obra, $.t-1 de produto seco;
Cpa - calor específico do ar seco, kJ.kg-1.oC-1;
Cpv - calor específico do vapor de água, kJ.kg-1.oC-1;
cs - capacidade de secagem, kg.h-1;
CS - capacidade de secagem, m3.h-1;
Ctot - custo total de secagem, $.m-3 de produto;
Cv - custo de operação do ventilador, $.m-3 de produto;
C1 - custo do combustível para a secagem, $.h-1;
C2 - custo da eletricidade para a secagem, $.h-1;
C3 - custo da mão-de-obra, $.h-1;
C4 - custo de inadequação do sistema ("timeliness cost"), $.h-1;
C5 - custos fixos, $.ano-1;
C6 - custos de quebra técnica, $.ano-1;
DFar - densidade de fluxo de ar, m3.min-1.m-2;
EA - energia necessária para aquecer o ar, kJ.h-1;
EC - energia consumida, kJ;
EEs - eficiência energética de secagem, kJ.kg-1 água evaporada;
EM - energia consumida pelos motores, kJ;
EPC - energia proveniente do combustível, kJ;
E1 - eficiência da combustão, decimal;
E2 - eficiência global do ventilador e de seu motor, decimal;
F - custo da depreciação, de manutenção, de juros e de taxas, como uma fração do custo
inicial do equipamento, decimal;
Fp - fator de programação;
. programação antecipada : Fp = 2,0.ano-1;
. programação atrasada : Fp = 2,0.ano-1;
. programação balanceada : Fp = 4,0.ano-1;
FQ - fator de quebra técnica, decimal;
F1 - fator de inadequação, decimal.dia-1. Para o milho : F1 = 0,003.dia-1;

244 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 9 Composição do Custo de Secagem

HR - número de horas de secagem por dia, h.dia-1;


ma - vazão mássica do ar, kg.h-1;
Mf - massa final do produto, kg;
Mi - massa inicial do produto, kg;
MP - massa do produto, kg;
n - constante de ajuste, decimal;
. sistemas com ar aquecido : n = 0,2
. sistemas com ar natural : n = 0,0
Pc - poder calorífico do combustível, kJ.unidade-1;
PC - poder calorífico do combustível, kJ.kg-1;
PCI - percentagem do custo inicial do secador, %
. para secador estudado: PCI = 17%;
PE - potência dos equipamentos, kW;
PEE - custo da energia elétrica, $.kWh-1;
PK - custo do combustível por quilograma, $.kg-1;
PM - potência dos motores, kW;
PMO - preço da mão-de-obra, $.h-1;
Pot - potência necessária para forçar o ar através dos grãos, kW.m-3 de produto;
P1 - custo do combustível, $.unidade-1;
P2 - custo da eletricidade, $.kWh-1;
P3 - custo da mão-de-obra, $.h-1;
P4 - custo do produto, $.m-3;
P5 - custo inicial do sistema, $;
QC - quantidade de combustível, kg;
QS - quantidade de grãos secados, t;
QSA - quantidade de grãos secados por ano, t;
QT - quantidade total a ser secada, m3.ano-1;
RM - razão de mistura, kg de água.kg-1 de ar seco;
T - temperatura do ar de secagem, oC;
Tamb - temperatura ambiente, oC;
TF - tempo de funcionamento dos motores, h;
tmax - tempo máximo de secagem por ano, h;
ts - tempo de secagem, h;
TS - tempo total de operação do secador, h;
UC - umidade do combustível, % b.u.;
Vpmax - volume máximo de produção por ano, m3;
Vs - volume do secador, m3;
Vzar - vazão do ar, m3.min-1;
X - profundidade de secagem, m.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 245


Capítulo 4 Composição do Custo de Secagem

9. LITERATURA CONSULTADA

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20. YOUNG, J.H. & DICKENS, J.W. Evaluation of costs for drying grain in batch of
cross-flow systems. Transaction of the ASAE, 18(4):734-738, 1975.5.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 247


Capítulo 10 Seleção e Construção de Ventiladores

Capítulo

10
SELEÇÃO E CONSTRUÇÃO DE VENTILADORES

Juarez de Sousa e Silva


Evandro de Castro Melo
Francisco de Assis Carvalho Pinto

1. INTRODUÇÃO

Na secagem, na aeração de grãos e nos sistemas que usam ventilação forçada,


como as máquinas de separação, de limpeza e de transporte, há necessidade de um
componente para criar um gradiente energético que promova o movimento do ar através
dos elementos do sistema e do produto. Na secagem de grãos, o ar carrega a água
evaporada do produto para fora do secador. Já na aeração, a função do ar é de apenas
esfriar a massa de grãos, embora, às vezes, carreando pequenas quantidades de água
evaporada (capítulo 11 – Aeração de Grãos Armazenados).
Os ventiladores são máquinas que, por meio da rotação de um rotor provido de
pás adequadamente distribuídas e acionado por um motor, permitem transformar a
energia mecânica do rotor em formas de energia potencial de pressão e energia cinética.
Graças à energia adquirida, o ar torna-se capaz de vencer as resistências oferecidas pelo
sistema de distribuição e pela massa de grãos, podendo assim realizar a secagem, o
resfriamento, a separação, a limpeza e o transporte do produto.
Neste capítulo serão apresentados os princípios básicos para o entendimento, o
procedimento recomendado para a escolha de um ventilador, a seqüência dos cálculos e
os detalhes para a construção de um ventilador centrífugo simples, que pode ser usado
em vários tipos de secadores e sistemas de aeração.

2. CLASSIFICAÇÃO

Há diversos critérios para classificar os ventiladores. Serão mencionados os mais


utilizados nas áreas de abrangência deste livro e para uso em secagem e armazenagem
de produtos agrícolas:
a) Segundo o nível energético de pressão que estabelecem, os ventiladores
podem ser:

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 249


Capítulo 10 Seleção e construção de Ventiladores

- de baixa pressão: até 2,0 kPa (200 mmCA) e são muito usados em
aeração de pequenos e médios silos (Figura 1);
- de média pressão: entre 2,0 e 8,0 kPa (200 a 800 mmCA) usados para
aeração de silos de grandes alturas e também em secadores a alta temperatua
(Figura 2);
- de alta pressão: entre 8,0 e 25 kPa (800 a 2.500 mmCA). Muito usado
para transporte pneumático (Figura 3)

Figura 1- Ventilador axial (baixa pressão)

Figura 2 – Ventilador centrífugo de média pressão

250 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 10 Seleção e Construção de Ventiladores

Figura 3 – Ventilador centrífugo de alta pressão

Acima de 25 kPa os ventiladores são chamados de compressores. Exceto para o


transporte pneumático que deve ser de média para alta pressão, os ventiladores usados
nas operações de secagem, limpeza, separação, classificação, e aeração dos produtos
agrícolas são, no máximo, de média pressão.
b) Segundo a modalidade construtiva:
- Axiais (Figura 1): o rotor se assemelha a uma hélice. O ar entra e sai
do ventilador paralelamente ao eixo deste (Figuras 1 e 4);

- Centrífugos: nesta modalidade de ventilador o ar entra na caixa, ou


voluta, paralelamente ao eixo motor e é descarregado
perpendicularmente à direção de entrada do ar (Figuras 2 e 3). O rotor
pode ser fabricado com as pás curvadas para trás, para frente ou
radiais, com pás retas (Figuras 4 e 5))

Rotor axiais Rotor centrífugos


Figura 4 - Tipos de rotores usados no pré-processamento de produtos agrícolas.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 251


Capítulo 10 Seleção e construção de Ventiladores

Figura 5 - Formas mais comuns das pás de rotores centrífugos.

3. USO DOS VENTILADORES NA SECAGEM

Como visto em capítulos anteriores, existem duas maneiras para reduzir o tempo
consumido na secagem de produtos agrícolas:
a) aumentando a vazão de ar que passa através do produto, aumenta-se a
quantidade de água evaporada, ou seja, a velocidade de secagem, até certo
ponto, é proporcional ao fluxo de ar; e
b) aumentando-se a temperatura do ar de secagem, a capacidade do ar em
absorver água é aumentada, isto é, aumenta-se o seu potencial de secagem.
Em sistemas de secagem que usam baixas temperaturas, a secagem deve
acontecer em um tempo tal que não predisponha à deterioração as camadas superiores
da massa de grãos. A utilização de uma fonte auxiliar de calor para aquecimento do ar
de secagem pode inviabilizar economicamente esses sistemas, bem como provocar
supersecagem do produto. Assim, o cálculo do fluxo de ar e a utilização de ventilador
adequado são o modo mais prático e eficiente para se controlar o tempo de secagem.

4. GRANDEZAS CARACTERÍSTICAS

Existem certas grandezas importantes para o funcionamento e para o


desempenho dos ventiladores. Com uma combinação adequada dessas grandezas, é
possível escolher corretamente o melhor tipo de ventilador para determinadas condições
de operação. Por caracterizarem as condições de funcionamento do ventilador, essas
grandezas são conhecidas como Grandezas Características. São elas:
- número de rotações por minuto, n, ou a velocidade angular (radianos por
segundo);
- diâmetro de saída do rotor, D;
- vazão, Q;
- altura de elevação (útil, total de elevação e motriz);
- potências (útil, total de elevação e motriz); e
- rendimentos (hidráulico, mecânico e total).

4.1. Altura de Elevação


A altura de elevação representa o desnível energético entre dois pontos e é
expressa em altura de coluna fluida. A altura total de elevação, Ht, é a energia total

252 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 10 Seleção e Construção de Ventiladores

cedida pelo rotor do ventilador ao ar. Uma parte desta energia, h, perde-se no próprio
ventilador por atrito e turbilhonamento (perdas hidráulicas). Com isso, a altura útil, H, é
definida por: H = Ht - h, ou seja, a energia adquirida pelo fluido durante sua passagem
através do ventilador.
A altura motriz de elevação, Hm, é a energia mecânica fornecida pelo eixo do
motor. Como toda esta energia não é aproveitada pelo rotor para transferir ao ar a
energia Ht, uma parte dela se perde sob a forma de perdas mecânicas, Hp, nos mancais
e na transmissão por correia. Assim, pode-se escrever:

Hm = Ht +Hp

4.2. Potências
A potência é a energia fornecida para efetuar trabalho na unidade de tempo.
Portanto, a cada altura de elevação existe uma potência com a mesma designação:

- Potência Útil, Nu - é a potência adquirida pelo ar durante sua passagem pelo


ventilador;
- Potência Total de Elevação, Nt, - é a potência fornecida ao ar pelas pás do
rotor; e
- Potência Motriz, Mecânica ou Efetiva, Nm, ou ainda "Brake Horse-Power"
(BHP) - é a potência fornecida pelo motor ao eixo do ventilador.

A potência de um fluido é dada pela equação 1:

N = pe . Q . H eq.1
em que
N - potência (útil, total ou motriz), Watts;
pe - peso específico do fluido, N/m3;
Q - vazão do fluido, m3/s; e
H - altura de elevação (útil, total ou motriz), metro de coluna de
fluido.

Tem-se ainda que

H = (pressão (N/m2)) / peso específico (N/m3) eq.2

4.3. Rendimentos
Rendimento é a relação entre potência aproveitada e fornecida. No caso dos
ventiladores, têm-se:

Rendimento hidráulico

Rh = Nu / Nt eq.3

Rendimento mecânico

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 253


Capítulo 10 Seleção e construção de Ventiladores

Rm = Nt /Nm eq.4

Rendimento total = mecânico x hidráulico

Rt = Nu / Nm = η eq.5

Rendimento volumétrico

Rv =Q / (Q + Qf) eq.6
em que
Q - volume de fluido realmente deslocado pela ação do
ventilador;
Qf - volume do fluido que fica continuamente circulando no
interior do ventilador, denominada vazão de fugas.

5. ESPECIFICAÇÃO DOS VENTILADORES

Os ventiladores são especificados segundo a vazão de ar fornecida (Q) e a


pressão total aplicada ao ar (H). A vazão é determinada em função do tempo de
operação. A pressão total aplicada ao ar indica a energia total recebida pelo ar e graças a
ela é que o ar pode escoar ao longo de tubulações ou dutos e vencer as resistências
oferecidas pelas chapas perfuradas e pela camada do produto (capítulo 11 – Aeração de
Grãos Armazenados). A pressão total pode, então, ser dividida em duas parcelas, ou
seja, pressão estática (He) e pressão dinâmica (Hd):

H = He + Hd eq.7

Ao se mencionar potência do ventilador nos catálogos dos fabricantes,


normalmente se está referindo à potência motriz:

Nm = pe . Q . Hm =(pe . Q . H) / Rt eq.8

Entrando com Q em m3/min, expressando H em mmCA e considerando o peso


específico (pe) da água igual a 9.810 N/m3, obtém-se a potência em CV pela seguinte
fórmula:

Nm = ( Q . H ) / 4500 . Rt eq.9

A pressão fornecida ao ar deve ser maior que a queda de pressão ocorrida no


sistema. No caso de sistemas de secagem ou aeração de grãos, as quedas de pressão
ocorrem nos dutos de distribuição do ar, na chapa perfurada do piso e na camada do
produto.

254 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 10 Seleção e Construção de Ventiladores

5.1. Queda de Pressão no Produto


A resistência ao escoamento do ar, quando este está atravessando uma camada
de grãos ou similares, depende de características da superfície do produto (rugosidade),
forma e tamanho das impurezas presentes na massa de grãos, configuração e tamanho
dos espaços intersticiais na massa, tamanho e quantidade de grãos quebrados e altura da
camada.
Os dados da queda de pressão ocasionada pelo produto são empíricos e
normalmente apresentados na forma de gráficos e equações. Em 1953, Shedd, citado
por HENDERSON e PERRY (1976), obteve a queda de pressão para diversos produtos
agrícolas com diferentes teores de umidade e quantidade de impurezas presentes na
massa. Esses dados foram apresentados em um gráfico, “Curvas de Shedd”, em
coordenadas logarítmicas, relacionando a queda de pressão por unidade de altura da
camada do produto com o fluxo de ar (Veja capítulo 11 – Aeração de Grãos
Armazenados). Os dados representados naquele gráfico só devem ser utilizados para
altura de silos normalmente usados em fazendas, ou seja, até aproximadamente seis
metros de altura de grãos. Para fluxos de ar de 0,6 a 12 m3/min.m2, pode-se substituir o
gráfico pela equação 10:

∆Pg = (a . Q2 . hg ) / ln(1 + b.Q) eq.10


em que
∆Pg = queda de pressão devido à resistência do produto, mmCA;
Q = fluxo de ar, m3/min.m2;
hg = altura da massa, m; e
a, b - constantes que dependem do produto (Tabela 1).

Valores das constantes a e b para alguns tipos de grãos são apresentados na


Tabela 1. A relação entre ∆Pg e Q para grãos é mostrada em forma gráfica na Figura 5
do capítulo 11 – Aeração de Grãos Armazenados.
Em um sistema de secagem de grãos bem projetado, mais de 90% da resistência
ao fluxo de ar acontece na camada de grãos e menos de 10% nos canais de distribuição
de ar e na chapa perfurada.

TABELA 1 - Constantes a e b para diversos produtos (equação 10)

Produto a b
Arroz em casca 0,722 0,197
Aveia 0,718 0,243
Café Pergaminho Usar os valores para soja
Café Coco 0,017 3,900
Milho 0,583 0,512
Soja 0,333 0,302
Trigo 0,825 0,164

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 255


Capítulo 10 Seleção e construção de Ventiladores

5.2. Queda de Pressão na Chapa


Nos silos, a massa de grãos é sustentada por chapas perfuradas, e a queda de
pressão sofrida pelo ar ao passar pelas chapas é determinada pela equação 11:

∆Pch = 30,36 x 10-6 . Q / (Cp.Pf) eq.11


em que
∆Pch = queda de pressão na chapa, mmCA;
Q = fluxo de ar, m3/min.m2;
Cp = coeficiente de porosidade dos produtos (varia de 0,3 a 0,5);
e
Pf = percentual de perfuração da chapa, decimal.

Quando a perfuração da chapa for menor do que 10% da área total, a queda de
pressão deve ser levada em conta e calculada pela equação 11. Já entre os valores de 10
a 25% ela é desprezível. Taxa de perfuração acima de 25% compromete a resistência da
chapa.
Para obter melhor distribuição e impedir a vedação dos furos pelos grãos, é
preferível número maior de perfurações de pequeno diâmetro a um pequeno número de
perfurações de maior diâmetro, para a mesma percentagem de área perfurada.

5.3. Queda de Pressão em Dutos


A queda de pressão que ocorre quando se movimenta o ar em um duto é devida
ao atrito nas paredes (fricção), restrições ao fluxo, mudanças de direção, cotovelos e
alargamentos e/ou contrações da área da seção transversal do duto. O cálculo dessas
perdas foge ao objetivo deste capítulo e os valores reais podem ser encontrados em
tabelas apresentadas em muitos compêndios sobre mecânica dos fluidos.

6. CURVAS CARACTERÍSTICAS DOS VENTILADORES

Apesar das equações disponíveis e de vários fundamentos físicos, não é fácil


estudar a interdependência entre as grandezas características dos ventiladores baseando-
se em considerações puramente teóricas. Em vista disso, recorre-se a ensaios de
laboratórios que permitem expressar a variação de uma grandeza em função da outra,
em forma de gráficos, possibilitando fácil e rápida escolha do ventilador e uma análise
de seu comportamento em função das variações nas grandezas representadas. As curvas
que representam a dependência entre duas grandezas, uma vez fixadas as demais, são
denominadas CURVAS CARACTERÍSTICAS, e as mais importantes são:
- para um valor de n (rpm) constante, variação das grandezas H, Nm e Rt em
função da
vazão Q; e
- variação das grandezas Ht, Q, Nm e Rt (η) em função do número de rotações
n (rpm).

A Air Moving and Conditioning Association (AMCA) padronizou os testes para


ventiladores (Figura 6).

256 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 10 Seleção e Construção de Ventiladores

O duto conectado ao ventilador tem comprimento dez vezes maior que seu
diâmetro. A válvula cônica serve para regular a resistência ao escoamento de ar,
permitindo a variação da vazão. A vazão e a pressão são medidas com o auxílio do tubo
de Pitot e manômetro.
A Figura 7 apresenta em porcentagens a variação de He, Nm e Rt em função de
Q, para um certo valor de rpm, no caso de um ventilador de pás curvadas para trás. As
curvas de desempenho deste ventilador mostram que a zona de operação mais eficiente
situa-se entre 50 e 60% de Q máximo e que o ventilador selecionado para operar dentro
desta faixa não terá problemas de sobrecarga, pois Nm varia pouco com o aumento de
Q.
A Figura 8 apresenta curvas análogas para o caso de um ventilador com pás
curvadas para frente. Esses ventiladores têm faixa de utilização bastante estreita (limite
inferior condicionado pela instabilidade, e limite superior, pelo baixo rendimento). As
curvas de He, para esse tipo de ventilador, possuem uma depressão característica.
Quando se seleciona um ventilador inadequado para determinada aplicação, ele poderá
operar na região dessa depressão; neste caso, o fluxo de ar tenderá a oscilar entre dois
valores para uma mesma pressão. Esses ventiladores operam mais eficientemente na
faixa de 30 a 50% de Q máximo. A curva de Nm aumenta proporcionalmente ao
aumento de Q, dando a este ventilador uma característica de sobrecarga.

Figura 6 – Esquema básico para obtenção de curvas características de


ventiladores.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 257


Capítulo 10 Seleção e construção de Ventiladores

Figura 7 – Curvas características de um ventilador centrífugo de pás curvadas


para trás.

A Figura 9 mostra o aspecto das curvas dos ventiladores de pás radiais.


Apresenta, para a curva de He, um ramo ascendente e outro descendente, com um
trecho de funcionamento instável entre a e b.
A Figura 10 mostra o aspecto das curvas dos ventiladores axiais. As curvas
características destes ventiladores apresentam, geralmente, um máximo de eficiência
entre 55 e 75% de Q máximo. Como os ventiladores centrífugos de pás curvadas para
frente, esses ventiladores apresentam uma região de depressão na curva de He.

Figura 8 - Curvas características de um ventilador centrífugo de pás curvadas


para frente.

Figura 9 - Curvas características de um ventilador centrífugo de pás radiais.

258 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 10 Seleção e Construção de Ventiladores

Figura 10 - Curvas características de um ventilador axial.

6.1. Curva Característica do Sistema


Determinadas todas as quedas de pressão nos diversos componentes do sistema,
em função da vazão de ar, é possível plotar esses dados em um gráfico, H versus Q, que
é denominado Curva Característica do Sistema.
Como mencionado anteriormente, para vencer essas forças de resistência, o
ventilador deverá fornecer uma quantidade de energia que se perderá. Deve-se, portanto,
sobrepor a curva característica principal do ventilador, H=f(Q), à curva característica do
sistema. O ponto de encontro das duas curvas fornecerá as raízes comuns às equações
das duas funções, caracterizando, portanto, os valores de Q e He com os quais o
ventilador associado àquele determinado sistema irá operar (Figura 11).
Quando houver necessidade de aumentar o fluxo de ar em grandes silos, pode-se
optar pelo uso de dois ventiladores em paralelo; neste caso, deve-se lembrar que estes
devem ser semelhantes.

Figura 11 – Determinação do ponto de funcionamento do conjunto (ventilador –


sistema de distribuição/produto).

6.2. Lei de Semelhança


A partir das condições em que um ventilador está funcionando e aplicando as
Leis de Semelhança, pode-se determinar os valores das diversas grandezas quando uma
ou mais destas grandezas sofrem uma variação.
1o caso: para um rotor operando com o mesmo fluido:
Q :: n, ou seja, (Q1/Q2) = (n1/n2)
H :: n2, ou seja, (H1/H2) = (n1/n2)2

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 259


Capítulo 10 Seleção e construção de Ventiladores

Nm :: n3, ou seja, (Nm1/Nm2) = (n1/n2)3

2o caso: rotores geometricamente semelhantes, operando com o mesmo número


de rotações por minuto e mesmo fluido:
Q :: D3, ou seja, (Q1/Q2) = (D1/D2)3
Hu :: D2, ou seja, (Hu1/Hu2) = (D1/D2)2
Nm :: D5, ou seja, (Nm1/Nm2) = D1/D2)5

D = diâmetro do rotor
3o caso: rotores geometricamente semelhantes, operando com mesmo fluido e número
de rotações diferentes:
Q2 = Q1.(n2/n1).(D2/D1)3
Hu2 = Hu1.(n2/n1)2.(D2/D1)2
Nm2 = Nm1 . (Nm2/Nm1)3. (D2/D1)5

7. VENTILADOR CENTRÍFUGO DE PÁS RADIAIS

Neste item, serão apresentados os passos para calcular um ventilador centrífugo


de pás radiais. Para maiores detalhes a respeito desses passos e para cálculo de outro
tipo de ventilador, recomenda-se COSTA (1978).

Valores pré-determinados:

Q - vazão, m3/s;
H - pressão total a ser vencida, mmCA;
ângulo da pá na saída do rotor = 90o;
Ra - rendimento adiabático = 0,70;
Rh - rendimento hidráulico = 0,70; e
Rm - rendimento mecânico = 0,85.

Ordem dos cálculos:

- primeiro passo: velocidade absoluta do ar à saída do rotor (C):


C = 4,04 (H)1/2, m/s

- segundo passo: diâmetro interno do rotor (D1 ):


D1 = 2 (Q/C)1/2, m

- terceiro passo: diâmetro externo do rotor (D2):


D2 = 1,20 D1

- quarto passo: número de rotações por minuto do rotor (N):


N =(60 . U2) / (3,14 . D2)
em que
U2 - velocidade tangencial do rotor = C/1,15, (m/s).

260 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 10 Seleção e Construção de Ventiladores

- quinto passo: largura das pás do rotor na saída (L2) e na entrada (L1):
L2 = 0,2 D2
L1 = L2
- sexto passo: velocidade à entrada do rotor:
C1 = Q / (3,14.Rh.D1.L1), m/s.

- sétimo passo: velocidade tangencial de entrada no rotor (U1):


U1 = (3,14. D1 . N) / 60, (m/s).
- oitavo passo: ângulo de entrada das pás (ß1) = 90o.

- nono passo: número de pás - varia de 10 a 20.

- décimo passo: traçado da voluta ou difusor.

Um processo prático para o traçado da espiral de Arquimedes é efetuado com


quatro arcos de círculos, conforme a Figura 12, e será visto mais adiante, neste capítulo.
O processo consiste em traçar um quadrado auxiliar, cujo lado equivale a 0,10 vez o
valor do diâmetro externo do rotor, e centrá-lo no eixo deste. Considerando a Figura 9, o
quadrado auxiliar será centrado no ponto 0 (zero) e a distância do vértice 4 ao ponto f
será, então, de aproximadamente, 0,9 vez o valor do diâmetro externo do rotor. Assim,
com o centro no vértice 4 do quadrado auxiliar e o raio igual a 0,9 vez o diâmetro
externo do rotor, traça -se o arco f - d. Em seguida, com o centro no vértice 2 traça-se o
arco c – b, e com o centro no vértice 1 traça-se o arco b - a.
O estrangulamento da voluta (e), denominado “beco da voluta", é igual a 0,06
vez o diâmetro externo do rotor.

Figura 12 – Esquema para o traçado da voluta (espiral de Arquimedes).

8. O VENTILADOR E SUA CONSTRUÇÃO

Nos secadores tradicionais com fluxo de ar, a característica do ventilador é de


suma importância para o bom funcionamento do sistema de secagem. O ventilador deve
ser projetado para vencer a resistência oferecida por uma camada de produto, a uma

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 261


Capítulo 10 Seleção e construção de Ventiladores

determinada temperatura, à passagem de um determinado fluxo de ar.


O secador de camada fixa modelo UFV foi projetado para ser construído
potencializando os materiais disponíveis na própria fazenda. Entretanto, é possível que
surjam problemas na hora de adquirir um ventilador. Quase sempre há necessidade de
grandes deslocamentos, onerando ainda mais um componente, que, além de caro, pode
não apresentar as características desejadas.
O ventilador descrito a seguir é apropriado para secadores cujo diâmetro da
câmara de secagem do secador esteja próximo a 5,0 m, que é o tamanho máximo
recomendado.

8.1. Descrição do Ventilador


O ventilador é formado pelos seguintes componentes:
a) Eixo - peça que tem como função permitir e suportar o giro do rotor em
torno de 1.700 rotações por minuto. Pode ser substituído pelo próprio eixo
do motor.
b) Rotor – peça fixada na extremidade do eixo. Esta peça tem como função
produzir e direcionar o fluxo de ar. O rotor é composto de disco principal,
pás e coroa ou anel (Figura 13).

Figura 13 - Rotor mostrando o disco principal, as pás e o anel.

c) Voluta ou Caixa Coletora - este componente tem como finalidade captar o


ar que entra e que sai do rotor. É composta por: lateral de sucção, lateral
motora, suporte do eixo ou do motor, entrada de ar ou distribuidor e janela
de manutenção.

8.2. Construção e Detalhes dos Componentes


Além de se ter à disposição uma oficina com materiais e ferramentas apropriadas
para a construção do ventilador, as especificações, os detalhes e as notas explicativas
fornecidas a seguir devem ser cuidadosamente seguidos para que se obtenha um
resultado satisfatório.

8.2.1 Eixo
Utilizar eixo de serra de 1 1/4", que é de mais fácil obtenção no comércio, ou
construir um eixo comum de 1 ½" montado em mancais com rolamentos de esferas e
que apresentam custos praticamente iguais. Caso seja de interesse, o sistema pode ser

262 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 10 Seleção e Construção de Ventiladores

acoplado diretamente ao eixo do motor. Neste caso, pode ocorrer o inconveniente de


uma substituição lenta e problemática do motor, devido a uma pane elétrica ou
mecânica deste.

8.2.2 - Rotor
Para efeito de construção, o rotor é dividido em três partes:
a) Disco principal - deve ser construído em chapa metálica de 4,18 mm (no 8),
com diâmetro de 0,50 m. Deve-se retificar o furo central e as bordas em
torno mecânico ou aperfeiçoar manualmente o acabamento, evitando
empenos no disco, para não comprometer o balanceamento do conjunto
(Figuras 14 a 16).
b) Coroa ou anel - é o espaço compreendido entre os raios internos e externos
que limitam os canais do rotor (Figuras 14 e 15); deve ser construído em
chapa com espessura de 1,52 mm (no 12). Vários canais radiais são formados
pela junção do disco principal com as pás destas e o anel metálico; estes
canais dão estabilidade e direcionamento ao fluxo de ar.
c) Pás - são peças metálicas soldadas ao disco principal. No presente caso, elas
são dispostas radialmente e eqüidistantes entre si. Em número de oito a doze,
as pás devem ter as dimensões mostradas na Figura 16.
d)

Figura 14 - Detalhes do disco principal, destacando-se os locais para assentamento


das pás e do anel externo do rotor.

Figura 15 - Detalhes do posicionamento das pás e do anel externo no disco


principal.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 263


Capítulo 10 Seleção e construção de Ventiladores

Figura 16 - Dimensões, detalhes e posicionamentos das pás no disco principal.

8.2.3 Voluta ou caixa coletora


No exemplo apresentado, para efeito de construção, optou-se pela forma
espiralada, como mostram as Figuras 17 a 23. A seção transversal da voluta, no presente
caso, terá a forma retangular e será construída em chapa no16 ou 14, soldada com solda
elétrica comum. Suas partes são:
a) Lateral de sucção: nela é encaixado o distribuidor de entrada de ar (Figura
14); lateral motora: é o lado da voluta em que é preso o suporte do eixo
(Figuras 18 e 19).
b) Entrada de ar ou distribuidor: tem como finalidade direcionar o ar de
maneira uniforme para os canais do rotor. Para facilitar sua construção, o
distribuidor terá a forma cilíndrica (Figura 23) e será construído em chapa no
16.
c) Janela de manutenção - abertura na parte superior da caixa coletora que
serve para a passagem do rotor durante a montagem e manutenção do
sistema. É fechada com chapa metálica no16 e parafusos de rosca soberba
(Figura 23).

8.3. Montagem dos Componentes


Apresenta-se, a seguir, um modo prático para cortar as laterais da caixa coletora,
o balanceamento do rotor e o acabamento.
a) Traçado das laterais (motora e de sucção): um processo prático para traçar
as laterais da caixa coletora de seção transversal retangular é o de Arquimedes, efetuado
com quatro arcos de círculo (Figura 17). Para isso, toma-se o lado do quadrado auxiliar
de construção a-b-c-d igual a 10% do diâmetro do disco principal, que no presente caso
é de 5,0 cm.
Com o centro no vértice a, traça-se o arco 1-2; com centro em b, o arco 2-3; com
centro em c, o arco 3-4; e com centro em d, o arco 4-6. Devem ser obedecidas as
proporções dadas na Figura 17, para interromper o corte das laterais no ponto 5. Para
iniciar o traçado do arco 1-2, o raio a-1 deve ter o valor de 42,5 cm. Sempre que

264 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 10 Seleção e Construção de Ventiladores

possível, é aconselhável fazer um molde, para evitar que, em caso de erro, as chapas de
aço sejam desperdiçadas. O molde permitirá aproveitar o máximo de cada chapa e
poderá ser aproveitado no caso de construção de ventiladores iguais.

Figura 17 - Traçado das laterais pelo método de Arquimedes (lateral de sucção).

Figura 18 - Lateral motora e suas dimensões básicas (em cm).

Figura 19 - Lateral motora montada na envolvente (fase inicial da montagem).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 265


Capítulo 10 Seleção e construção de Ventiladores

Figura 20 - Lateral motora e de sucção montada na envolvente (segunda fase da


montagem).

Figura 21 - Suporte do conjunto e suas dimensões (terceira fase da montagem).

Figura 22 - Montagem da voluta sobre o suporte (quarta fase).

266 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 10 Seleção e Construção de Ventiladores

Figura 23 - Detalhe da lateral de sucção, mostrando o distribuidor de ar (quinta


fase da montagem).

b) Balanceamento do rotor: como o rotor irá girar em torno de 1.700 rpm, é


necessário que seu balanceamento seja correto para que não haja vibrações, garantindo,
assim, maior durabilidade do eixo e dos rolamentos. Um rotor balanceado dificilmente
irá parar na mesma posição depois de girar livremente sobre o eixo. No caso do rotor
não-balanceado, a parte mais pesada (ponto desbalanceado) irá parar sempre na posição
inferior (devido à força da gravidade). Para balancear, contrapesos metálicos são
colocados na posição oposta ao ponto desbalanceado. Encontrado o ponto próximo ao
equilíbrio, deve-se soldar os contrapesos e verificar o balanceamento, até encontrar um
equilíbrio adequado.
c) Acabamento: terminados os trabalhos de solda, faz-se o acabamento do
ventilador. Para a pintura, deve-se usar tinta resistente a altas temperaturas, que é feita
antes da montagem final do ventilador. Deve-se, também, desenhar em uma parte bem
visível (por exemplo, na parte alta da lateral motora) uma seta, indicando o sentido de
giro. Comandado pela polia motora, o giro deve coincidir com o movimento dos
ponteiros do relógio (sentido horário). Para isso, a voluta deve ser montada de tal
maneira que a boca de saída do ar esteja na parte inferior e à esquerda da lateral motora
(Figura 24).

Figura 24 - Vista final do ventilador, com detalhe do eixo e sentido de giro.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 267


Capítulo 10 Seleção e construção de Ventiladores

Para evitar acidentes e garantir o funcionamento correto do ventilador, antes de


fazê-lo funcionar, o montador deve verificar o giro do motor sem acoplar as correias de
transmissão. O rotor é acoplado ao eixo de modo semelhante ao da serra circular, isto é,
a porca do eixo é do tipo "rosca esquerda". Se o sentido de giro não for obedecido, o
rotor não ficará retido ao eixo, podendo causar danos e até mesmo um acidente.

8.4. Materiais Necessários


- eixo de serra de 1 ¼" ou eixo comum de 1 ½", mancais com rolamentos de
esferas;
- 3 m2 de chapa preta no 16;
- 2 m2 de chapa preta no 8;
- 1 m2 de chapa preta no 12;
- 12 parafusos com porcas 5/16";
- 28 parafusos com rosca soberba de 3/16" x ½";
- quatro parafusos de 2" x ½", para fixação do eixo;
- 1 kg de eletrodo (solda elétrica) de 2,5 mm;
- 2 litros de tinta para superfície metálica;
- 1 litros de solvente "Thinner";
- 20 kg de cantoneiras de ferro, com abas iguais, 1 ½" de espessura de 1/8",
para construção do suporte do motor e voluta.

9. LITERATURA CONSULTADA

1. BROOKER, D.B.; BAKKER-ARKEMA, F.W. & HALL, C.W. Drying cereal


grains. The AVI Publishing Company, Inc., Westport, Connecticut. 1974.
265p.
2. COSTA, E.C. Compressores. Ed.Edgar Blücher, São Paulo. 1978. 172 p.
3. HENDERSON, S.M. & PERRY, R.L. Agricultural process engineering. The AVI
Publishing Company, Inc., Westport, Connecticut. 1976. 442p.
4. MACINTYRE, A.J. Ventilação industrial e controle da poluição. Ed. Guanabara
S.A.; Rio de Janeiro (RJ). 1988. 403p.
5. PEREIRA, J.A.M. & PEREIRA, A.R.M Aeração de grãos (Parte II) -
Movimentação de ar e dimensionamento de sistemas. Centro Nacional de
Treinamento em Armazenagem. Viçosa (MG). 44p.
6. SILVA, J. S. & PINTO, F. A. C. Ventiladores e sua construção. In: Pré-
processamento de produtos agrícolas, Instituto Maria, Juiz de Fora, 1995. 510p.
7. SILVA, J. S. & LACERDA FILHO, A. F. Construção e operação de secador de
grãos. Boletim de Extensão. Universidade Federal de Viçosa - Imprensa
Universitária, Viçosa (MG), 1990, 28p.

268 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

Capítulo

11
AERAÇÃO DE GRÃOS ARMAZENADOS

Juarez de Sousa e Silva


Adílio Flauzino de Lacerda Filho
Ivano Alessandro Devilla
Daniela de Carvalho Lopes

1. INTRODUÇÃO

Os grãos, como materiais biológicos vivos, estão sujeitos a transformações de


naturezas distintas, oriundas da tecnologia aplicada ao sistema de pré-processamento.
A armazenagem tem por objetivo preservar as qualidades físicas, sanitárias e
nutricionais dos grãos, depois de colhidos. Durante essa fase, os fatores que influenciam
a boa conservação desses produtos são a temperatura e a umidade relativa do ar
intergranular e a temperatura e o teor de água dos grãos. Além desses, as características
estruturais e de higiene das instalações são fatores indispensáveis para a obtenção de
boas práticas de armazenagem.
Assim que a célula de armazenamento estiver sendo carregada, os grãos
variarão, provavelmente, em temperatura e conteúdo de umidade, por causa de
variações em maturidade, condições climáticas e variações na secagem. Porções de
grãos quentes e deterioradas podem ser criadas dentro do silo, mesmo que a condição
média da massa de grãos possa ser considerada adequada.
Ainda hoje, em unidades armazenadoras antigas, os operadores, ao verificarem
problema que possam comprometer a qualidade do produto, fazem movimentar a massa
de grãos através do ar ambiente. A esse procedimento denomina-se "transilagem". Essa
operação, apesar de resolver parcial ou totalmente os problemas, na prática, resulta em
vários inconvenientes, como:
a) Eleva o índice de danos mecânicos no produto durante a movimentação da
massa de grãos;
b) Necessita, na maioria das vezes, de mais tempo para a sua execução,
considerando que com apenas uma circulação do produto pelo ar ambiente o problema
pode não ser totalmente solucionado;
c) Apresenta elevado custo de instalação, já que o processo exige uma célula de

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 269


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

estocagem vazia na unidade armazenadora;


d) Tem custo operacional mais elevado, não só pela maior demanda de tempo,
mas também por envolver maior número de equipamentos e consumo de energia; e
e) Durante a movimentação, o atrito entre grãos e componentes do sistema de
transporte e entre os próprios grãos, provoca o aparecimento de pó orgânico, que é
potencialmente explosivo.
Para solucionar alguns desses problemas, sugerem-se o uso da técnica de aeração,
que consiste na passagem forçada do ar, com fluxo adequado, através da massa de grãos,
com o objetivo de prevenir ou solucionar problemas de conservação. A aeração apresenta
vantagens, como a possibilidade de supervisionar tanto o sistema quanto o produto
durante a operação de aeração. Além disso, é utilizada para melhorar a preservação das
qualidades dos grãos, em sistemas de armazenagem a granel, objetivando-se igualar a
temperatura da massa, minimizar as atividades dos fungos, diminuir a taxa de respiração
do produto armazenado e, quando possível, reduzir a temperatura dos grãos.
É possível que sucessivas aplicações de aeração resultem na formação de blocos
compactados de grãos e na concentração de finos em pontos localizados, dificultando a
passagem do ar. Neste caso, deve-se corrigir o problema com uma movimentação ou
transilagem do produto e, se possível, passá-lo pelo sistema de limpeza. Sabe-se que a
armazenagem a granel torna-se difícil, sem o uso da aeração, se for realizada por longo
período, mesmo sabendo que o produto encontra-se devidamente limpo e seco.

2. OBJETIVOS DA AERAÇÃO

A aeração pode ter diferentes efeitos sobre a massa de grãos, dependendo das
condições do ambiente e do próprio produto. Antes de colocar o sistema de aeração em
funcionamento, é essencial fazer previsões sobre os possíveis resultados da operação. A
utilização da técnica pode atender aos seguintes objetivos:
a) Resfriar a massa de grãos.
b) Uniformizar a temperatura da massa de grãos.
c) Prevenir aquecimento e umedecimento de origens biológicas.
d) Promover secagem, dentro de certos limites.
e) Promover remoção de odores.

2.1. Resfriar a Massa de Grãos


O resfriamento da massa de grãos armazenados constitui o principal objetivo e a
principal utilidade da aeração.
O microclima formado dentro da massa de grãos poderá trazer vários benefícios
ao processo de conservação. Até há pouco tempo, esses benefícios estavam relacionados
à supressão do desenvolvimento de insetos, ácaros e fungos. Entretanto, sabe-se que
grãos armazenados em temperaturas elevadas, 25 a 40 °C, como ocorre em muitas
regiões brasileiras, têm a atividade respiratória intensificada, o que propicia incremento
na perda de matéria seca, aumenta a umidade relativa do ar intergranular e produz calor.
Na Tabela 1, observa-se que milho armazenado em temperaturas variando entre
25 e 35 °C tiveram de 6 a 27 vezes mais perda de matéria seca, respectivamente, do que
grãos refrigerados a 10 °C.

270 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

Além disso, na faixa de temperatura de 25 a 40 °C a oxidação de lipídios pode


ser intensificada, o que contribui para a degradação da qualidade dos grãos, visto que a
mesma é acelerada pela ação do calor, luz, reações de ionização, dentre outros. Durante
esse processo degradativo, várias reações de decomposição podem ocorrer, levando à
produção de hidrocarbonetos, aldeídos, álcoois e cetonas. Entretanto, a produção de
ácidos graxos livres, resultante da degradação de lipídios, contribui significativamente
para o aumento do custo de produção de óleos vegetais, causando significativos
prejuízos às indústrias.

TABELA 1 - Perda de matéria seca em 1.000 t de milho armazenado durante 30 dias

Condições ambientes Temperatura (°C) Perda de matéria seca


Temperatura ambiente - média 25 Perda de 0,12% (= 1,2 t)
Temperatura ambiente - alta 35 Perda de 0,54% (= 5,4 t)
Grãos refrigerados 10 Perda de 0,02% (= 0,2 t)
Fonte: Brunner, citado por LAZZARI, (2007).

2.2. Inibir a Atividade de Insetos-praga e Ácaros


A maioria dos insetos-praga que infestam os grãos armazenados é de origem
tropical e subtropical e a faixa de temperatura adequada para o seu desenvolvimento está
entre 27 e 34 °C, sendo consideradas ideais as temperaturas entre 29 e 30 °C. Depois de
alguns meses de armazenagem, ou em ambientes com temperaturas acima de 27 °C, a
massa de grãos poderá ter elevado nível de infestação se ações preventivas não forem
tomadas. Os insetos-praga são sensíveis a baixas e a altas temperaturas, reduzindo seus
desenvolvimentos em temperaturas inferiores a 16 e superiores a 42 °C. Podem-se
estabelecer manejos adequados para o controle dos insetos-praga quando a temperatura é
mantida entre 17 e 22 °C, para aqueles cujo ciclo de vida é da ordem de três meses ou
mais. Isto porque a oviposição e fecundação dos mesmos é restrita em baixa temperatura,
com baixo crescimento da população, o que lava a danos menos significativos aos grãos.
A umidade relativa crítica para o seu desenvolvimento é da ordem de 30%.
Entretanto, são capazes de sobreviverem obtendo água metabólica, do ar ambiente ou do
próprio grão. A Tabela 2 contém informações sobre o comportamento de algumas
espécies de insetos-praga, de importância econômica para o processo de armazenagem,
em relação ao ambiente.
Os ácaros são pragas de grande importância econômica, principalmente nas em
regiões de clima tropical e temperado. Podem danificar o germem dos cereais, casca de
leguminosas, contaminarem os produtos com fezes e odores indesejáveis. O produto
infestado por ácaros, se destinado para a alimentação animal, poderá causar problemas
nutricionais aos mesmos e alergia aos operadores durante o manuseio. É importante
ressaltar que a presença de ácaros está relacionada a fungos, uma fez que os mesmos,
também, se alimentam desses microrganismos.
Desenvolvem-se em ambientes cuja temperatura varia entre 7 e 30 °C e umidade
relativa acima de 60%. O ambiente ideal para o seu desenvolvimento é estabelecido por
temperaturas entre 20 e 25 °C e umidade relativa entre 80 e 90%. Portanto, para o seu
controle deve-se estabelecer, principalmente, umidade relativa de equilíbrio inferior a

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 271


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

60%, o que se consegue por meio da redução do teor de água dos grãos, considerando-se
determinada temperatura. Grãos com umidade superior a 14% (b.u.) devem ser mantidos
em temperatura baixa (possível em climas temperados) ou por meio do resfriamento
artificial do ar, evitando-se focos aquecidos na massa. Alguns pesquisadores consideram
que, para infestações de pequena intensidade, o emprego dessa técnica poderá ser
dispendioso.
Na Tabela 3 contém informações sobre as temperaturas mínimas e ótimas para o
desenvolvimento de algumas espécies de ácaros.

TABELA 2 – Valores das temperaturas ótimas e favoráveis para o desenvolvimento de


insetos-praga em 100 dias e das umidades relativas mínimas para o
desenvolvimento de algumas espécies.

Tolerância à Temperatura (°C) Umidade


Tolerância
Espécies umidade (1) relativa
ao frio Ótima Segura
relativa mínima (%)
Trogoderma granarium 33 - 37 22 1
Tolerante a
Cryptolestes ferrugineus Resistente 32 - 35 20 10
baixa UR
Oryzaephilus surinamensis 31 - 34 19 10
Tribolium confusum Tolerante à
Moderado 30 - 33 21 1
baixa UR
Tribolium cataneum Susceptíve Tolerante à
32 - 35 22 1
l baixa UR
Rhyzopertha dominica Moderado Moderado 32 - 35 21 30
Cryptolestes pusillus Susceptíve
UR elevada 28 - 33 19 60
l
Sitophilus granarius Resistente UR elevada 26 - 30 17 50
Sitophilus oryzae Moderado UR elevada 27 - 31 18 60
Fonte: Navarro et al. (2002). (1) da oviposição.

Tabela 3 – Valores de temperaturas mínimas e ótimas para o desenvolvimento de algumas


espécies de ácaros

Temperaturas (°C)
Espécies Mínimas Ótimas
Tyrophagus putrescentiae 9 - 10 23 – 28
Glycyphagus deestructor 10 - 15 15 – 25
Cheyletus eruditos 12 25 – 27
Carpoglyphus lactis 15 25 - 28
Aleuroglyphus ovatus 22 23 – 25
Rhizoglyphus echinopus 6 - 10 23 – 27
Caloglyphus berlesei 16,5 22 - 30
Acarus siru 7 23 - 30
Fonte: Navarro et al. (2002).

272 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

2.3. Inibir o Desenvolvimento da Microflora


O teor de água do produto e a temperatura dos grãos e a temperatura e umidade
relativa do ar intergranular influenciam o desenvolvimento da microflora. Sabe-se que
grãos com teor de água de até 15% (b.u.) podem ser armazenados durante mais tempo, se
a temperatura for baixa (8 a 10 oC) e a umidade relativa do ar intergranular, não
ultrapassar 70%. Em regiões de clima tropical e subtropical é difícil estabelecer estas
condições por meio de aeração com ar natural.
Segundo Lazzari (1999), apesar de existir grande número de espécies de fungos
produtoras de micotoxinas, são poucos os que apresentam importância econômica, por
infectarem os grãos. Na Tabela 4 estão relacionadas algumas das principais espécies
produtoras de toxinas.

TABELA 4 - Principais fungos toxicogênicos que infectam grãos e seus derivados, com
as toxinas produzidas

Espécies de fungos Toxinas Grãos e produtos


Aflatoxinas B1,
Aspergillus flavus
B2, G1 e G2
Sementes de algodão, amendoim,
Aspergillus parasiticus
arroz, aveia e cevada.
Zearalenona e
Fusarium graminearum Canola, milho, trigo e triticale.
vomitoxina
Sorgo, soja, farelos (soja,milho e
Fusarium moliniforme Fumonisinas
trigo) e tortas (algodão e amendoim).
Fusarium roseum
Fusarium tricinctum
Penicillium viridicatum Ocratoxina A
Fonte: Lazzari, (1999).

Navarro et a. (2002) informam que para remover a umidade dos grãos com ar
natural é necessário mais ar do que para fazer resfriamento. Afirmaram que no processo
de aeração normal é utilizado entre 0,22 e 33 m3 de ar . min-1. t-1 para aerar,
temporariamente produtos úmidos, enquanto que com o resfriamento será necessário
aproximadamente0,11 m3 de ar . min-1. t-1 para resfriar ao ponto de inibir a atividade de
fungos e ácaros.
A Tabela 5 contém as indicações de temperaturas e umidades relativas mínimas
ótimas e máximas para o desenvolvimento de algumas espécies fúngicas.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 273


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

TABELA 5. Valores de umidade relativa, umidade de equilíbrio e de temperatura mínima,ótima e máxima para que ocorra o
desenvolvimento de fungos

Umidade relativa mínima para Umidade de equilíbrio Temperatura de desenvolvimento


Espécies de fungo germinação (%)a (% b.u.)b (°C)
Mínima Ótima Máxima
Alternaria 91b 19 -3 20 36-40
Aspergillus candidus(1) 75 15 10 28 44
A. flavus(1) 82 16-17 6-8 36-38 44-46
A. fumigatus(1) 82 16-17 12 37-40 50
A. glaucus(1) 72 13,5-14,0 8 25 38
A. restrictus(1) 71-72 13,5 - - -
Cephalosporium acremonium 97 22 8 25 40
Epicoccum 91 19 -3 25 28
Fusarium moniliforme 91 19 4 28 36
F. graminearum 94 20,5 4 25 32
Mucor 91 19 -3 28 36
Nigrospora oryzae 91 19 4 28 32
Penicillium funiculosum 91 19 8 30 36
P. oxalicum 86 17 8 30 36
P. brevicompactum(1) 81 16 -2 23 30
P. ciclopium(1) 81 16 -2 23 30
P. viridicatum(1) 81 16 -2 23 36
Nota: (1) se desenvolvem em baixo a moderado teor de água, as demais espécies, em alto teor de água. a Umidades relativas em que 5% ou mais de esporos podem germinar. b Umidade de equilíbrio à,
aproximadamente, 25,5 °C que estabelecem as mínimas umidades relativas de germinação de fungos, propiciando aumento no teor de água dos grãos, permitindo a competitividade dos fungos (valores
médios para milho e trigo). Fonte: Lacey et al, citados por NAVARRO et al. (2002).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 275


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

2.4. Preservar a Qualidade dos Grãos


A qualidade dos grãos armazenados pode ser definida em função de diferentes
atributos, os quais devem atender a diferentes seguimentos de mercado, tais como, o
sementeiro, o da indústria de concentrados para a alimentação humana e animal, e o da
comercialização do produto “in natura”. Por isso, além da germinação, outros atributos
são utilizados para avaliar a qualidade dos grãos armazenados, quais sejam o teor de água,
o índices de impurezas, o envelhecimento acelerado, a condutividade elétrica, a infecção
por microrganismos, a contaminação por toxinas, a acidez de óleos e a formação de
peróxidos, índices de quebrados, trincados e danificados, infestação por insetos-praga,
massa específica aparente.
Grãos que possuem baixa viabilidade são mais vulneráveis à infecção por fungos
e, portanto, susceptíveis ao processo de deterioração. As modificações químicas que
ocorrem nos grãos, quando mantidos em baixa temperatura durante a armazenagem, são
lentas e, às vezes, até insignificantes. A velocidade das reações químicas que ocorrem nos
alimentos armazenados pode ser reduzida à metade quando a temperatura decresce em 10
o
C.
Grãos armazenados a granel formam um ecossistema característico, em estado
quase latente, em que todas as atividades bióticas são imperceptíveis (Figura 1), desde que
sejam estabelecidas condições favoráveis para o estabelecimento desse estado de latência.
Esta condição de aparente inatividade deve ser mantida durante maior tempo possível,
desde que o processo não resulte em perdas de qualidade do produto armazenado, o que é
alcançado por meio da redução de temperatura, do teor de água e do índice de impurezas
dos grãos, principalmente. Acréscimo na temperatura e, ou na umidade relativa do ar
intergranular poderá propiciar desequilíbrios em quaisquer dos fatores do sistema biótico,
resultado em perdas parciais ou totais da massa de grãos. A introdução de uma massa de
ar com temperatura baixa é uma técnica benéfica à conservação dos grãos, em estado de
repouso, por período de tempo mais prolongado.

Figura 1 – Composição do ecossistema da massa de grãos em um silo.

276 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

A Tabela 6 contém informações sobre o período máximo de armazenagem de


milho, considerando-se a perda de matéria seca de até 0,5%, em diferentes condições de
temperatura e teor de água.

TABELA 6 – Estimativa do tempo possível de armazenagem de milho, em dias, com


diferentes teores de água

Temperatura Teor de água (% b.u.)


(ºC) 15 16 17b 19b 21 23 25
c c c
0 377 206 131 92
c c
4 448 197 108 68 48
10 491 265 155 69 39 26 21
16 275 148 85 39 22 16 10
21 154 83 49 22 12 8 5
27b 86 47 28 12 7 4 3
32 48 26 15 7 4 2 2
38 27 15 9 4 3 1 1
Notas: b aeração contínua, com fluxo de 30 a 60 m3 h-1 t-1, durante o período em que o milho foi mantido
com 18% b.u. e, ou à temperatura de 27 ºC.
c
mais que dois anos.
Fonte: Steele et al.; Thompson; Friday, citados por Noyes & Navarro (2002).

2.4. Uniformizar a Temperatura


Outro importante objetivo da aeração, principalmente nas regiões onde existem
grandes amplitudes térmicas durante o dia, esta técnica pode ser utilizada para prevenir
ou evitar a migração de umidade. Neste caso, não se busca o resfriamento efetivo da
massa de grãos, mas mantê-la sob temperatura uniforme. Pelo fato de serem maus
condutores de calor, variações nas temperaturas da massa de grãos, inferiores a 4 °C,
são consideradas uniformes.
Gradientes elevados de temperatura poderão intensificar as correntes de
convecções naturais do ar intergranular, resultando no fenômeno de migração de
umidade, por propiciar a difusão de água. Por ocasião de tempo frio aparece uma
corrente convectiva com o ar descendo pela camada de grãos mais frios, ao longo e
próximos das paredes do silo, que sobe através das camadas de grãos, mais quente, no
centro do silo.
À medida que o ar sobe pelo centro, irá sendo aquecido e terá sua capacidade de
absorver umidade aumentada, retirando água dos grãos. Entretanto, quando o ar estiver
próximo da superfície superior e fria ele resfriará, perdendo capacidade de absorver
umidade e transferindo a umidade adquirida anteriormente para a camada superior de
grãos. Isto criará uma região de grãos úmidos no topo central do silo com grande
potencial para deterioração (Figura 2 a).
Por ocasião da estação mais quente, ocorrerá um fluxo de ar oposto (Figura 2b)
por causa das temperaturas ambientais mais altas. A condensação com um potencial
para deteriorarão acontecerá na região central no fundo do silo.
Um dos maiores problemas decorrentes da migração de umidade, quando são

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 277


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

criadas condições favoráveis para o desenvolvimento de fungos e de insetos, consiste na


mistura das camadas contaminadas com as descontaminadas, quando ocorrer a descarga
parcial ou total do produto armazenado. Dentre os danos causados, o mais preocupante é a
contaminação por micotoxinas.
A intensidade da migração de umidade poderá ser influenciada pela espessura da
camada de grãos e pela variação da temperatura em diferentes pontos da massa. Em
camadas muito espessas, observa-se aumento na velocidade das correntes naturais de
convecção e, consequentemente, incrementa-se o transporte de umidade e, a combinação
entre camadas de alta espessura com elevada diferença de temperatura, também,
intensifica a quantidade de umidade transportada.

(a) (b)
Figura 2 – Pontos de possíveis danos à superfície da massa de grãos, em função do
processo de migração de umidade.

2.5. Prevenir o Aquecimento dos Grãos


Esta vantagem aplica-se freqüentemente à armazenagem em silo pulmão, com
grãos úmidos, recém colhidos. Deve-se lembrar que, nessas condições, o produto deve
passar por uma operação de pré-limpeza. Neste caso, a aeração permite aumentar o fluxo
de entrada de produto úmido na unidade armazenadora, reduzindo nos investimentos ou
no super dimensionamento de secadores.
Existem limites máximos para teores de água e temperaturas dos produtos úmidos,
em relação ao tempo de espera para a secagem. A Tabela 6 contém esses referenciais para
milho. O operador deve estar atento e consultar a tabela sobre o tempo permissível para a
armazenagem de grão sob diferentes condições de umidade e temperatura. Nesse caso, o
sistema de aeração deve ser projetado para fornecer grandes volumes de ar, a fim de
manter a qualidade original do produto úmido até o início da operação de secagem. Para
as regiões tropicais, subtropicais e temperadas, o fluxo de ar aplicado em produtos úmidos

278 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

pode ser entre 10 e 15 vezes superior ao utilizado para fazer a aeração de equabilização ou
de resfriamento.

2.6. Promover a Secagem Dentro de Certos Limites


Em geral, não se entende a aeração como processo de secagem, porém, em
condições favoráveis, grãos úmidos (abaixo de 20% b.u.) são secados (secagem com ar
natural) em silos com altas vazões de ar em operação contínua, desde que a temperatura
do ar não atinja valores próximos de 0 oC. O fluxo de ar mínimo recomendado para
secagem, dependendo das condições ambientais e, como dito anteriormente, o fluxo é 15
a 25 vezes maior que o fluxo para a aeração de resfriamento. Por questões didáticas, a
utilização da secagem em silos deve ser diferenciada da aeração de resfriamento.
Remover os odores: em função da atividade biológica dos grãos e dos
organismos que constituem o ecossistema da massa, odores não-desejáveis podem
ocorrer. A aeração pode ser utilizada para remover, além desses odores, os gases
resultantes do combate às pragas e devolver aos grãos o cheiro característico.

3. SISTEMA DE AERAÇÃO

Consiste de um conjunto de equipamentos necessários à perfeita realização da


aeração. Basicamente, é composto por:
Ventilador com motor – devem fornecer a quantidade de ar necessária ao
resfriamento do produto e ser capaz de vencer a resistência oferecida à passagem deste ar
pela massa de grãos armazenada.
Dutos - permitem a insuflação ou a sucção de ar através da massa de grãos.
Silos - armazenam a massa de grãos.
Dispositivos para monitoramento - indicam as condições do ambiente interno e
externo da massa de grãos e, em alguns casos, podem acionar ou ligar o sistema de
ventilação em função daquelas condições.
Um sistema de aeração com ventilador fixo para cada unidade de armazenagem
pode ser simples, versátil e eficiente sob o ponto de vista técnico. Entretanto, pode ser a
opção mais cara, por exigir vários motores e vários ventiladores para produzir a mesma
quantidade de ar. A utilização de um único ventilador e duto de distribuição para mais de
uma unidade de armazenagem é uma alternativa satisfatória para o suprimento de ar.
Neste caso, faz-se a aeração em vários silos sucessivamente. A adoção de um ou mais
sistemas de ventilação deve ser baseada em um criterioso estudo técnico e econômico. A
Figura 3 ilustra um sistema de aeração em um silo.
Algumas definições importantes sobre os componentes e a operação de um
sistema de aeração são dadas a seguir:
Dutos para distribuição de ar - podem ser divididos em duto principal ou de
suprimento e duto secundário ou de aeração (Figura 4). O primeiro tem a finalidade de
conectar o ventilador a um ou mais dutos secundários e, estes, a de distribuir, o mais
uniformemente possível, o ar através da massa de grãos. A diferença básica está no fato
de que o duto principal não possui perfurações.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 279


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

Figura 3 – Componentes básicos de um sistema de aeração em silos.

Os dutos podem ser circulares, semicirculares, retangulares, em forma de "U" ou


de "V" invertidos. Silos com fundo falso, totalmente perfurado, são também utilizados.
Nos dutos perfurados, a área de perfuração deve corresponder no mínimo a 15% da área
total do duto, e cada furo deve ter dimensão e formas tais que não permitam a passagem
de grãos.

Figura 4 – Tipos de dutos de aeração.

Clique para ver: vídeo 1

280 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

As principais dimensões de um sistema de dutos são:


Tamanho - a seção transversal e a profundidade influenciarão a velocidade do ar
dentro do duto e a uniformidade de distribuição do ar na massa de grãos.
Área superficial - influenciará a pressão de saída de ar do duto para a massa de
grãos.
Espaçamento entre dutos - tem influência sobre a uniformidade de distribuição
do ar na massa de grãos.
Velocidade do ar dentro dos dutos - a velocidade admissível para o ar dentro do
duto é 470 a 600 m.min-1, quando o seu comprimento é de no máximo 7,5 m, ou 300 a
470 m.min-1, quando o comprimento varia de 7,5 a 18 m.
A velocidade do ar ao deixar os furos dos dutos para a entrada na massa de grãos
não pode exceder a 10 m.min-1, em silos horizontais (predominância do diâmetro ou da
largura sobre a altura), e 15 m.min-1, em silos verticais.
Ventilador: é a máquina utilizada para movimentar o ar através da massa de
grãos. Essa movimentação é feita por meio de um rotor centrífugo ou axial, acionado por
uma unidade motora (veja Capítulo 10). O ventilador deve ser dimensionado para:

a) Fluxo de ar: deve-se fornecer uma determinada quantidade de ar, medida em


unidade de volume por unidade de tempo e de massa ou de volume de grãos (m3
de ar por minuto por m3 de grãos ou m3 de ar por minuto por tonelada de
grãos). Adotam-se diferentes fluxos em função da variação na distribuição de ar,
para diferentes tipos de armazéns. Para silos verticais, pode variar entre 0,05 e 0,1
m3 min-1. t-1 de grãos, e para estruturas horizontais, entre 0,1 e 0,20 m3 min-1. t-1 de
grãos. Apesar da possibilidade de existirem variações devido a condições
atmosféricas, tipos de grãos, potência do motor, finalidade e tempo de aeração, a
Tabela 7 fornece indicação de alguns fluxos de ar para aeração.

b) Pressão estática: o ventilador deve vencer a resistência à passagem do fluxo de


ar, isto é, ter pressão superior à pressão estática do sistema, que é medida em
força por unidade de área e equivale à resistência que os grãos e o sistema de
distribuição oferecem à passagem do ar. A pressão estática é um valor importante
para o dimensionamento da potência do motor e o cálculo do ventilador.
Normalmente este valor é dado em milímetros de coluna de água (mmca) ou
Pascal (Pa). A pressão estática varia diretamente com a altura da camada de grãos
e com a velocidade com que o ar atravessa esta camada. A Figura 6 mostra essa
relação.

Unidade armazenadora: é a estrutura acondicionadora de grãos. Esta estrutura


pode ser vertical ou horizontal e depende das características técnicas e da relação entre a
altura e o diâmetro ou altura e largura da estrutura.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 281


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

Figura 6 – Variação entre a vazão do ar e a pressão estática, por metro de


profundidade de coluna de grãos.

TABELA 7- Recomendação de fluxos de ar para aeração

Fluxo de ar (m3 min-1. t-1 de grãos)


Tipo de unidade/finalidade
Região fria Região quente
Horizontal / grão seco 0,05 a 0,10 0,10 a 0,20
Vertical / grão seco 0,02 a 0,05 0,03 a 0,10
Pulmão / grãos úmidos 0,30 a 0,60 0,30 a 0,60
Seca-aeração 0,50 a 1,00 0,50 a 1,00

Clique para ver: vídeo 1

4. OPERAÇÃO DO SISTEMA DE AERAÇÃO

Antes de optar pelo uso de um sistema de aeração, deve-se avaliar as condições


climáticas, para atender aos objetivos propostos, principalmente quando se trata dos
aspectos de conservação dos grãos durante a armazenagem.
Um diagrama que relaciona temperatura e umidade de um lote de grãos é usado
para previsão das características de conservação da massa, durante o armazenamento.
Pelo diagrama, pode-se prever a natureza dos riscos a que o produto ficará sujeito
durante a operação de aeração (Figura 6). Neste diagrama, a melhor condição para
armazenar os grãos é estabelecida pela delimitação da área no espaço inferior à linha A

282 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

e à esquerda da linha B.
O diagrama apresentado na Figura 7 mostra outras variáveis que permitem uma
análise técnica sobre o uso de aeração.
Pelo diagrama, pode-se estabelecer as seguintes condições:
a) Para umidade relativa superior a 90%, a aeração é recomendada somente no
caso em que a diferença de temperatura entre os grãos e o ar for superior a 5
o
C.
b) Para umidade relativa inferior ou igual a 60%, a aeração só é recomendada e
aplicável em grãos úmidos ou que estejam aquecidos a uma temperatura muito
superior à do ar, necessitando, portanto, de resfriamento. Em outra situação,
poderá haver supersecagem da massa.
c) Resfriamento inferior a 3 oC torna a aeração desnecessária.
d) Resfriamento entre 3 e 5 oC torna a aeração recomendável.
e) Resfriamento com gradiente de temperatura superior a 7oC torna a aeração
possível, porém pode provocar condensação do vapor d'água na superfície da
massa e nas paredes do silo.

4.1. Como Resfriar ou Aquecer uma Massa de Grãos


O conceito de frente de resfriamento, assim como se entende o conceito de
frente de secagem, é importante para se entender a técnica da aeração. O funcionamento
do sistema de ventilação por umas poucas horas não irá resfriar toda a massa de grãos, a
não ser que o silo esteja carregado com uma camada pequena do produto. Num silo
cheio ou com carga de alguns metros de espessura, os grãos próximos da entrada de ar
serão resfriados à temperatura do ar, enquanto a temperatura dos grãos nas camadas
superiores permanecerá praticamente nas condições iniciais, exceto em uma faixa onde
está acontecendo o abaixamento de temperatura ou a frente de resfriamento (Figura 8).
Assim, é necessário continuar a operação de aeração até que a frente de resfriamento
tenha se movido através da massa de grãos e até que a camada superior tenha sido
resfriada e atingido valor igual à temperatura do ar.
Se o operador interromper a aeração, com a frente de resfriamento no interior da
massa de grãos, as diferenças de temperatura entre as camadas resfriadas, as camadas
em processo de resfriamento e as camadas em condições iniciais podem ser suficientes
para que ocorra migração de umidade, além de acelerar o processo de deterioração do
produto. Como foi dito, um dos objetivos da aeração é manter a temperatura da massa
de grãos o mais uniforme possível e próxima da condição ambiental. Além do visto
anteriormente, deve-se fazer aeração para evitar migração de umidade e promover o
resfriamento da massa de grãos. Nesses casos, deve-se operar o ventilador sempre que a
temperatura externa for 7oC inferior à temperatura dos grãos, levando-se em
consideração a umidade relativa média do ar de resfriamento, que deve ser igual ou um
pouco inferior à umidade relativa de equilíbrio do produto armazenado. Entretanto, a
flutuação diária da umidade relativa permitirá, de modo geral, operar o sistema de
aeração quando os valores de umidade relativa do ar estiverem 10% acima dos valores
da umidade relativa de equilíbrio.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 283


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

Figura 6 - Diagrama indicativo de aeração.

Figura 7 – Diagrama de conservação de grãos.

284 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

Figura 8 - Detalhe das camadas de grãos durante pequeno período de resfriamento

5. SUCÇÃO OU INSUFLAÇÃO DO AR

A forma de passar o fluxo pela massa de grãos pode gerar algumas


características muito importantes para o sistema de aeração. Quando o movimento de ar
é ascendente e o ventilador encontra-se instalado na base do silo, o sistema é conhecido
como insuflação ou ventilação positiva. Em sentido contrário, a ventilação é chamada
de sucção ou negativa (Figura 9). Em ambos os casos, tem havido controvérsia quanto
às vantagens da utilização de uma ou outra forma de ventilação.
Para se decidir sobre o uso de uma das opções, o operador da unidade
armazenadora deve considerar alguns pontos importantes. Um deles é que a insuflação irá
adicionar calor ao ar devido à ineficiência dos ventiladores. Em geral, os ventiladores e o
próprio sistema de distribuição produzem acréscimos superiores a 3oC na temperatura do
ar. Dessa forma, a escolha da insuflação poderá ser uma alternativa correta, se a umidade
da massa de grãos estiver acima da ideal de comercialização. A adição de calor abaixará a
umidade relativa do ar e poderá provocar secagem do produto, caso a umidade do grão
esteja acima da umidade de equilíbrio com a nova umidade relativa do ar.
Em se considerando o controle de pó, devido principalmente a problemas
ambientais e de segurança, o uso da sucção ou ventilação negativa é a opção correta.
Outro fator que pode ser considerado na adoção de ventilação positiva ou negativa é
a posição do foco de aquecimento. Se o ventilador estiver instalado na base do silo e o
foco quente estiver na parte superior da camada de grãos, a ventilação deve ser
ascendente, e, caso o foco esteja nas camadas inferiores, o fluxo deve ser descendente.
De modo geral, o operador deve considerar as seguintes vantagens:

5.1. Ventilação Positiva


a) facilita a avaliação da temperatura da massa de grão, em caso da inexistência do
sistema de termometria;
b) o calor gerado pela radiação solar no teto da unidade armazenadora não é
incorporado à massa de grãos e sim eliminado imediatamente; e

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 285


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

c) o ar ambiente pode ter sua umidade relativa reduzida pela elevação da


temperatura, em sua passagem pelo sistema de aeração antes de entrar na massa
de grãos, sem perigo de aumentar o teor de umidade do produto.

5.2. Ventilação Negativa


a) existe menor probabilidade de que ocorra condensação na superfície da massa
de grãos e no teto da unidade armazenadora;
b) os odores característicos que indicam a deterioração podem ser facilmente
detectados na saída do ventilador;
c) o calor proveniente do ventilador e do sistema de distribuição de ar não é
transferido para a massa de grãos e, neste caso, não afeta de maneira
pronunciada a umidade do produto, quando a umidade relativa do ambiente
estiver próxima à de equilíbrio com a umidade da massa de grãos; e
d) no caso de usar ventiladores axiais acionados por motores trifásicos, basta usar
uma chave de reversão para mudar o sentido do fluxo de ar.

(a) (b)
Figura 9 - Fluxo de ar sendo impulsionado para cima (a) e succionado através da
massa de grãos (b)

6. ACONDICIONAMENTO DO PRODUTO
Material fino, sementes de erva daninha e outros materiais estranhos irão afetar
negativamente a aeração, especialmente, se estes materiais estiverem concentrados em
um determinado local que, de modo geral, ficam localizados nas projeções centrais do
silo. Considerando que para aeração é usado pequenos fluxos de ar, qualquer aumento
na resistência ao fluxo terá grandes efeitos na trajetória do fluxo. Além disso, o
segmento cônico da carga, causado pelo ângulo de repouso do produto, quando
espalhadores não são utilizados, faz com que as trajetórias do ar próximo às paredes,
fiquem maiores do que nas regiões centrais do silo. Como resultado, será necessário

286 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

mais tempo deslocar a frente de aeração pelas regiões onde houver a concentração de
finos ou maior altura de grãos (Figura 10). Para evitar os problemas, um ou mais dos
seguintes procedimentos podem ser considerados pelo operador:
a) Fazer uma limpeza correta do silo e do produto antes de carregá-lo;
b) Evitar, ao máximo, que o produto caia com alta velocidade, produzindo
grandes quantidades de quebrados e finos;
c) Na impossibilidade de boa limpeza, distribuir, uniformemente, o produto
(inclusive os materiais estranhos e finos) ao longo da altura do silo. A
distribuição uniforme da "resistência" causará uma densidade global mais
alta no silo. Entretanto, uniformiza a distribuição do fluxo de ar;
d) Após o carregamento, tentar remover um pouco do produto do centro do
silo. Esse procedimento ajudaria a eliminar parte do material "resistente"
acumulado no centro do silo. O material central removido será,
conseqüentemente, substituído por um produto mais limpo; e
e) Certificar-se de que a frente de aeração tenha percorrido toda a massa de
grãos. Ou seja: ventilar por tempo mais prolongado.

Figura 10 - Caminhos, intensidade de fluxo e formas da frente de aeração; (a)


insuflação (b) sucção.

7. SISTEMA DE TERMOMETRIA

Um fluxo contínuo de elétrons é estabelecido através de dois fios de metais


diferentes (termopar) quando as suas junções são expostas a duas temperaturas
diferentes, como é mostrado na Figura 11.
Quando se aquece a junção 1 e se resfria a junção 2 (junção de referência), a
corrente elétrica começa a fluir no sentido de 2 para 1, até a junção quente. Esta corrente
gerada é chamada de corrente termelétrica e, devido à diferença de temperatura, a força
eletromotriz existente entre as duas junções é chamada de termo-força eletromotriz. A
f.e.m. gerada nos termopares é dada em mV e depende da temperatura da junção de
trabalho, da resistência e do tipo do termopar empregado.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 287


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

Figura 11 – Circuito termelétrico de diferentes metais.

7.1. Instalação do Sistema de Termometria


Na escolha do termopar devem-se levar em consideração o custo, a finalidade ou
faixa de temperatura a ser medida, as condições ambientais, o esforço físico a que será
submetido e a precisão da medida. Na prática, o termopar “cobre-constantan” é o mais
utilizado para monitorar temperaturas nos sistemas de aeração.
A instalação do sistema é feita com fixação dos cabos em pontos estratégicos na
massa de grãos. O espaçamento entre os cabos e entre os pontos é determinado por
critérios técnicos e econômicos, estabelecendo-se uma distância máxima de 6,0 m entre
cabos e 2,0 a 2,5 m entre os pontos de cada cabo (Figura 12).
Além dos fios condutores, o sistema é composto por cabos de aço com capacidade
para suportar esforços de tração provenientes do escoamento dos grãos durante a descarga
(Figura 13).
O sistema de leitura pode ser feito por instrumentos (potenciômetros) portáteis,
próprios para pequenas instalações, ou mesas computadorizadas, próprias para grandes
unidades armazenadoras, cujos pontos de medição são identificados em quadros
sinópticos (Figura 14). Nestas mesas, as temperaturas dos pontos são determinadas por
meio de cabos termelétricos que possuem uma série de fios de cobre em volta de um fio
de constantan, suportado por um cabo de aço (Figura 13).

7.2. Monitoramento do Produto Armazenado


Para manejar corretamente o produto, o operador deve estar apto a determinar as
temperaturas da massa de grãos em vários pontos do silo, obedecendo corretamente os
manuais dos fabricantes dos equipamentos e as normas da unidade armazenadora.
Especial atenção deve ser dada na obtenção das temperaturas das últimas partes a serem
atingidas pela frente de aeração. Em silos pequenos, pode-se trabalhar, razoavelmente,
com sondas simples, porém, em silos com grandes dimensões, um sistema de
termometria eficiente é altamente recomendado.
Caso seja necessária a entrada do operador no silo, para o monitoramento das
condições do produto, devem ser usadas medidas de segurança adequadas como:
a) nunca entrar no silo durante a descarga;
b) se parte do produto já foi retirada da célula, fique atento. Uma camada de
grãos compactada pode esconder uma cavidade que pode desmoronar
facilmente, com sérios danos para a célula ou para o operador.

288 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

c) escadas especiais devem ser instaladas nas paredes do silo para permitir
acesso fácil e seguro. Uma corda de segurança, bem ajustada, deve ser usada
se houver necessidade sair da escada de liberar uma das mãos; e
d) mesmo usando equipamentos de segurança e com iluminação adequada,
nunca entre em um silo sem estar acompanhado de um auxiliar.

Figura 12 – Posicionamento dos cabos termométricos

Figura 13 – Segmento de um cabo de termometria.

Figura 14 – Sistema para controle de temperatura em silos

Clique para ver: vídeo 1

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 289


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

8. CÁLCULO DE UM SISTEMA DE AERAÇÃO

O exemplo a seguir fornece o memorial de cálculos para o dimensionamento de


um sistema de aeração e para o tempo provável de resfriamento da massa de grãos.
Exemplo: dimensionar um sistema de aeração por dutos, para um silo de fundo
plano com 10,0 m de diâmetro e 12,0 m de coluna de grãos.

Dados:
- massa específica do produto: 750 kg.m-3;
- silo localizado em uma região quente; e
- eficiência do sistema de ventilação (n): 60%.

O dimensionamento de um sistema de aeração consiste em calcular a vazão de ar e


pressão estática do ventilador, a potência do motor, a área de perfurações, o número de
dutos, o espaçamento entre os dutos e o tempo provável de resfriamento da massa de
grãos. Para maior facilidade, o problema será equacionado obedecendo-se à solução passo
a passo.
Primeiro passo - cálculo da capacidade do silo (Ca):

Ca = A . H. Me eq.1
em que
A - área da base do silo, m2;
H - espessura da camada de grãos, m; e
Me - massa específica do produto, kg.m-3.

Ca = 78,5 x 12,0 x 750 = 706.500 kg ou 942,0 m3


Segundo passo - cálculo de vazão de ar (Q, em m3.min-1):
Da Tabela 1 obtém-se o fluxo de ar (F), indicado para unidades verticais, em
regiões quentes. O valor 0,05 m3/min.t é o mais indicado.

Q = F . Ca eq. 2

Q = 0,05 . 706,5 = 35,3 m3 de ar . min-1

Terceiro passo: cálculo da pressão estática (Pe, em cmca):


A Figura 5 fornece a variação entre a vazão específica de ar e a pressão estática,
por metro de camada de grãos, para diferentes produtos. Para efeito de cálculo, sugere-se
a utilização de valores obtidos na curva do produto que oferecer a maior resistência à
passagem do ar. Neste caso, faz-se a opção pelo trigo.

A vazão de ar (Q) por metro quadrado de piso é


35,3 / 78,5 = 0,45 m3 de ar. min-1. m-2 de piso
Da Figura 5 obtém-se a pressão estática (Pe):

Pe = 0,25 cmca . m-1 de camada de grãos.

290 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

A pressão estática total será obtida somando-se a pressão equivalente à altura total
da camada de grãos, a perda de carga devido a tubulações, válvulas, registros, curvas, etc.,
que é estimada em 20% da resistência oferecida pelos grãos. Considera-se, ainda, um
fator de compactação da massa de grãos igual a 60% em relação à pressão na camada de
grãos.
A pressão estática total (Pet) será:
Pet = Pe + (Pe . 0,2) + (Pe . 0,6)
Pet = 0,25 . 12 + (12 . 0,2) + (12 . 0,6) = 5,4 cmca.

Quarto passo - potência necessária ao sistema (Pot):

Pot (CV) = Q x Pet / 450 . n eq. 3

Pot = (35,3 . 5,4) / (450 . 0,6)


Pot = 0.71 ⇒1,0 CV

Quinto passo - cálculo da superfície perfurada (SP):


No cálculo da superfície perfurada, toma-se como referência a velocidade do ar
admissível na saída dos dutos para a massa. Neste exemplo, considera-se a velocidade
máxima do ar igual a 10 m/min, o que implicará menor queda de pressão.

SP = Q (m3./min-1) / V (m.min-1) eq. 4


SP= 35,3 /10
SP = 3,5 m2

Sexto passo - cálculo da seção transversal do duto principal (ST):


A área da seção transversal do duto principal é função da máxima velocidade do
ar admitida. Este exemplo considera a máxima velocidade do ar igual a 350 m/min:

ST=Q(m3.min-1) / V (m.min-1) eq. 5

ST =35,3 / 350= 0,10 m2

Sétimo passo: cálculo da largura (l) e da altura (h) do duto principal:


Extraindo a raiz quadrada do valor de ST calculado, podem-se obter os lados do
duto principal, admitindo uma seção quadrada. Entretanto, se for admitida uma seção
retangular, pode-se chegar a valores, para cada um dos seus lados (l), iguais a:

l = 0,30 m e h = 0,35 m

Estas dimensões devem ser preferidas, considerando-se os aspectos de construção.

Oitavo passo - cálculo do comprimento dos dutos perfurados (c):


Considerando que a altura dos dutos com área perfurada será igual à altura (h) do
duto principal, o comprimento do duto perfurado será:

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 291


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados
C=SP / h eq. 6

C=3,5 / 0,35 = 10 m de dutos

Nono passo: espaçamento dos dutos:


Na maioria dos casos, não é possível ter um duto único no silo para suprir o ar
necessário à massa de grãos. Portanto, torna-se necessário dividir o duto perfurado em
vários segmentos, que sejam adequadamente posicionados no fundo dos silos, para uma
perfeita distribuição do ar. Após o estabelecimento do posicionamento dos dutos e a
definição do posicionamento (Figura 4), deve-se dimensionar o espaçamento. Este
espaçamento é definido a partir da relação entre a maior distância (L) e a menor distância
(H) que o ar irá percorrer através da massa de grãos (Figura 15).
A relação ideal de L/H é 1,5. No entanto, variações entre 1,2 e 1,7 são toleradas.
L=H+X
em que X é o afastamento do duto, em m.

Assim:
L / H = 1,5
(H + X) / H = 1,5
X = 6,0 m

O valor de 1,5 não é uma relação desejável para dois dutos. O resultado sugere
uma relação de menor valor, por exemplo, 1,2.
L / H = 1,2
(H + X) / H = 1,2
X = 2,4m

O valor de X = 2,4 pode ser aproximado para 2,5 m, o que coloca os dutos
eqüidistantes do centro do silo, sem prejudicar a operação de descarga (Figura 16).
Outra maneira que pode ser usada para localização de dutos em um silo retangular
é usando o diagrama mostrado na Figura 17, adaptado de Hilborn (1976)

Figura 15 – Relação de distâncias para a distribuição dos dutos.

292 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

Décimo passo - cálculo da largura (l) dos dutos perfurados:


Foi definido anteriormente (sétimo e oitavo passos) que as alturas dos dutos
principais e perfurados terão o mesmo valor.

Considerando que há dois dutos perfurados e que os dois receberão a mesma


quantidade (Qi) de ar, tem-se:
Qi = Q/2
em que
Qi = vazão de ar na saída em cada duto perfurado, em m3.min-1.

No oitavo passo foi definido um comprimento total de 10,0 m para o duto


perfurado. Nestas condições, cada duto deverá ter comprimento (C1) igual a 5,0 m.
Com base nessas informações, obtém-se a largura (l) do duto perfurado.
A área total da seção perfurada (SP) é igual a 3,5 m2. Para cada duto, a área
perfurada (SP1) será:

SP1 = SP / 2 = 3,5 / 2 = 1,75 m2


L1 = SP1 / C = 1,8 / 5 = 0,36 = 0,40 m

Figura 16 – Localização dos dutos em relação ao centro do fundo do silo

Décimo primeiro passo.


cálculo do tempo provável de resfriamento:
O tempo provável para o resfriamento de uma massa de grãos em um silo, como
neste exemplo, pode ser determinado pela equação 7:

t = (16,6 mg Cg) / Qt Da Ca eq. 7


em que
t: tempo, horas;
mg : massa total de grãos, t;
Cg : calor específico do grão, kJ.kg-1 oC-1;
Qt : fluxo de ar total, m3.min-1.;
Da : densidade do ar, kg.m-3; e
Ca : calor específico do ar, kJ.kg-1oC-1.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 293


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

Considerando a densidade do ar como 1,15 kg/m3 e o calor específico do grão e do


ar como 1,67 e 1,00 kJ.kg-1oC-1, respectivamente, tem-se:

t = (16,6 x 706,5 x 1,16) / (35,3 x 1,15 x 1,00)


t = 482 horas

Figura 17 – Espaçamento entre dutos para silos retangulares.


Adaptado de Hilborn (1976)

Clique para acessar: Aplicativo 1

9. LITERATURA CONSULTADA

1. ARAÚJO, J.M.A. Oxidação de lipídios em alimentos. In: ARAÚJO, J.M.A.


Química de alimentos: teoria e prática. Viçosa, MG: Editora UFV, 2004. p.1-
67
2. HALL, C.W. Drying Farm Crops. Edwards Brothers, Inc., Ann Arbor, Michigan,
1957. 336p.
3. HOLMAN, L.E. Aeration of Grain in Commercial Storages, Marketing Research
Report, Nº 178, Washington, 1960. 46p.
4. HILBORN, D. Grain Aeration, March,1976 (disponível em:

294 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 11 Aeração de Grãos Armazenados

http://www.omafra.gov.on.ca/english/engineer/facts/85-003.htm
20/06/2008)
5. KEPLER, WEBER S.A. Aeração, Seca-Aeração, Termometria, Grafosul, Porto
Alegre, R.S., 1973. 34p.
6. LASSERAN, J.C. Aeração de Grãos, Série CENTREINAR, Nº 2, Artes Gráficas
Formato S.A., Belo Horizonte, M.G., 1981. 131p.
7. LAZZARI, F. A. Comunicação pessoal. 2007
8. LAZZARI, F.A. Controle de micotoxinas no armazenamento de grãos e
subprodutos. In: MOLIN, R.; VALENTINI, M.L. Simpósio sobre
micotoxinas em grãos. São Paulo: Fundação Cargill. 1999. p. 81-106.
9. MAIZTEGUI, A.P. & SABATO, J.A. Física, Vol. 2, Editora Globo, Porto Alegre,
R.S. 1973. 557p.
10. MESQUITA, A.L.S., GUIMARÃES, F.A. & NEFUSSI, N. Engenharia de
Ventilação Industrial, Editora Edgard Blucher Ltda, São Paulo, S.P., 1977.
442p.
11. NAVARRO, S. & CALDERON, M. Aeration Of Grain in Subtropical climates,
FAO - Agricultural Services Bulletin, Nº 52, 1982. 119p.
12. NAVARRO, S.; NOYES, R.; ARMITAGE, D.; MAIER, D.E. Objectives of
aeration. In: NAVARRO, S.; NOYES, R. The mechanics and physics of
modern grain aeration management. New York: CRC Press, 2002. p. 1-34.
13. NOYES, r.; NAVARRO, S. Operating aeration systems. In: NAVARRO, S.;
NOYES, R. The mechanics and physics of modern grain aeration
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14. PREOBRAZHENSKY, V. Measurements & Instrumentation in Heat
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15. SIMPSON, J.B. & PETTIBONE, C.A. Temperature. In: Instrumentation and
Measurement for Environmental Sciences, American Society of Agricultural
Engineering, St. Joseph, Michigan, 6.01-6.15. 1975.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 295


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

Capítulo

12
MANUSEIO DE GRÃOS

Juarez de Sousa e Silva


Adílio Flauzino de Lacerda Filho
Roberta Martins Nogueira
Gilmar Vieira

1. INTRODUÇÃO

O sistema de movimentação ou manuseio de grãos tem grande importância em


uma unidade armazenadora. Pesquisas mostram que os danos mecânicos causados aos
produtos, tanto em intensidade quanto no ponto onde o grão recebe o impacto, ocorrem
devido ao uso inadequado dos equipamentos ou de equipamentos inapropriados para a
movimentação do produto. SHREEKANT et al (2002) encontraram que os danos em
semente de soja aumentaram em 2,9, em média, durante o transporte em elevador de
canecas antes de cair na máquina de limpeza e lotes de sementes com teor de água a
10,7 b.u sofreram menos danos do que as sementes com menores teores de água. Em
UBS modernas, os elevadores de caneco ou caçambas com correia vem sendo
substituídos por elevadores de corrente com caçambas com o intuito de diminuir a
quantidade de danos.
Pesquisas mostram que a alta velocidade de movimentação, associada ao baixo
teor de umidade do produto, constitui a principal causa de danos mecânicos em
sementes. Assim, torna-se importante conhecer o princípio do funcionamento de cada
equipamento para se obter melhor qualidade, diminuir o consumo de energia, evitar o
desgaste nos componentes das máquinas, diminuir o tempo de operação e o gasto com a
mão-de-obra e, ainda, garantir menor possibilidade de misturar o produto manuseado.
Este último fator é de fundamental importância para quem trabalha com produção de
sementes.

2. TIPOS DE TRANSPORTADORES

A racionalização do transporte de grãos e sementes para a movimentação interna


em uma unidade armazenadora é um dos fatores que contribui para a redução dos custos
operacionais e, se os transportadores forem adequadamente selecionados, contribuem

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 297


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

para a manutenção da qualidade do produto. O movimento de produto durante o


processamento e armazenagem pode ser classificado em três grupos: transportes
verticais, horizontais e por deslizamento; neste capítulo serão mencionados somente os
transportadores mais utilizados em unidades armazenadoras e em fábricas de ração.
Serão destacados os seguintes equipamentos:

a) Transportador helicoidal (rosca-sem-fim).;


b) Elevador de caçambas.
c) Fita transportadora.
d) Transportador pneumático.

2.1. Transportador Helicoidal ou Rosca Sem-Fim


É um equipamento simples e muito utilizado para fazer a movimentação de
materiais granulares e farelos. Basicamente, consiste de um helicóide com movimento
rotativo e de um condutor estacionário (tubo ou calha). O transporte é realizado quando
o material, colocado em uma abertura de recebimento do condutor fixo, é deslocado ao
longo do helicóide por seu movimento de rotação.
Registros de descarga podem ser colocados em diferentes posições ao longo do
transportador. Os transportadores helicoidais podem ser também utilizados para
misturar diferentes materiais durante o transporte. São equipamentos compactos e de
fácil instalação em locais congestionados. É normalmente montado na posição
horizontal, podendo, entretanto, operar com qualquer inclinação.
Basicamente, um transportador helicoidal é composto pelos seguintes elementos
:
- helicóide;
- condutor;
- polia motora;
- suporte; e
- extremidades.

A Figura 1 mostra a configuração geral de um transportador helicoidal e as


dimensões importantes para o cálculo da capacidade e da potência necessária para
realizar o transporte do produto.
Nos equipamentos pequenos, portáteis ou montados sobre rodas e que
apresentam múltiplas funções de transporte em uma unidade armazenadora, a parte
exposta ou extremidade de carga do transportador helicoidal pode não ser apoiada em
mancais. Para os transportadores de grandes dimensões ou que trabalham em uma
posição fixa, as extremidades tanto de carga como de descarga devem ser apoiadas em
mancais com rolamentos blindados. No caso de o transportador apresentar grande
comprimento, o helicóide deve ser apoiado em um ou mais mancais intermediários, que
geralmente estão distanciados em 10 m.
As dimensões características de um helicóide e que são apresentadas na Figura
1, são:
a) Passo (P): é a distância compreendida entre duas cristas consecutivas
medidas paralelamente ao eixo do parafuso. No helicóide-padrão, o passo

298 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

tem a mesma dimensão do diâmetro do helicóide. No caso de parafusos


dosadores em que há necessidade de uniformidade no fluxo do produto, a
dimensão do passo pode ser de 1/3 a 1/2 menor que o diâmetro do helicóide.
b) Diâmetros: em um transportador helicoidal são considerados os diâmetros
do helicóide (C) e do eixo do helicóide (e). O diâmetro do helicóide
corresponde à distância vertical entre duas cristas consecutivas.

Figura 1 – Componentes e esquema básico de um transportador helicoidal.

2.1. 1. Tipos de helicóides


Dependendo do material a ser transportado e do trabalho a ser executado, haverá
uma característica específica para o helicóide e para o condutor. A Figura 2 mostra os
tipos de helicóides mais comuns utilizados para o transporte de produtos agrícolas.

Figura 2 – Tipos de helicóides : a) padrão - para transporte horizontal, b) para


transporte inclinado ou vertical (alimentação contínua), c) recortado -
tranportador misturador e d) fita - para produtos viscosos ou picado.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 299


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

2.1.2. Condutores
Condutor é o componente do transportador que suporta o helicóide e contém o
produto a ser transportado. Os condutores podem ser tubulares ou calhas em forma de
"U", com ou sem tampa protetora (Figuras 1 e Figura 3).
As calhas são utilizadas para o transporte horizontal e podem tolerar inclinações
de até 20o, sendo muito utilizadas para o transporte de produtos como rações e farinhas.
Os condutores cilíndricos, geralmente construídos em chapas metálicas, têm
utilização bastante ampla, pois podem trabalhar em qualquer inclinação (entre o
helicóide e o condutor deve existir um espaço variável de 1 a 10 mm).
A carga e a descarga podem ser feitas em qualquer ponto ao longo do
transportador, indiferentemente do tipo de condutor. Normalmente, a transmissão é feita
por correia e polias, no caso de equipamentos de menor capacidade e com caixa de
redução, no caso de transportadores de maior capacidade.

Figura 3 – Helicóide montado sobre calha aberta.

2.1.3. Dimensionamento do transportador


Consiste em estimar a capacidade do transportador e a potência necessária para a
execução de determinados trabalhos. A capacidade é função do tipo de produto e da
taxa de carga. A Figura 4 mostra os fatores de carga para diferentes características dos
produtos.
A carga mínima de 45% destina-se a grãos ou material fino que não possui
características abrasivas. A carga de 35% é adequada ao trabalho com materiais
abrasivos, torrões e misturas de torrões com materiais finos. É também adequada para
materiais fibrosos e polpas. Quando se trabalha com materiais pesados, abrasivos ou
fibrosos, como o feno cortado e a areia, ela não deve ultrapassar 15%. Para condutores
tubulares, como é o caso de grãos agrícolas, pode-se trabalhar até com 100% de carga.
A capacidade nominal de um transportador helicoidal trabalhando na posição
horizontal pode ser estimada pela equação 1:

300 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

Q = 4,71x10-5 ( D2 - d2 ) . p . N eq.1

em que
Q = capacidade de transporte, m3.h-1;
D = diâmetro do helicóide, cm;
d = diâmetro do eixo do helicóide, cm;
p = passo do helicóide, cm; e
N =número de rotações do eixo do helicóide, rpm.

Figura 4 – Fatores de carga para os transportadores helicoidais

Como a capacidade do transportador é função do diâmetro (D) e da velocidade


periférica do helicóide (N), o diâmetro máximo da partícula do material a ser
transportado determinará o diâmetro mínimo do transportador. Assim, o tamanho, a
consistência, a fluidez e a abrasividade do material limitam a velocidade máxima. A
Tabela 1 fornece os valores de massa específica e fator de potência para o
dimensionamento do transportador helicoidal, e a Tabela 2 relaciona as variáveis que
influenciam a capacidade do transportador, para uma taxa de carga de 45%.
Relacionando as variáveis contidas nas Tabelas 1 e 2, obtém-se a máxima
rotação admitida para um determinado produto e diâmetro do transportador (equação 2):

m3.h-1 req. = (ton.h-1) / (ton.m-3)

rpm req. = (m3.h-1) / (m3.h-1.rpm-1) eq.2

A potência requerida (equação 3) é função da capacidade, do comprimento, do


tipo de apoio do helicóide e do material transportado.

P = 2,22x10-4 ( Q . Me . L . Fm ) eq.3

em que
P = potência do requerida do transportador, cv;
Q = capacidade do transportador, m3.min-1;
Me = massa específica do material, kg.m-3;
L = comprimento total do transportador, m; e
Fm = fator de potência (depende do material), adimensional.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 301


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

TABELA 1 – Valores aproximados de massa específica e fator de potência para o


dimensionamento de um transportador helicoidal

Produto Massa específica (kg.m-3) Fator de potência (Fm)


Cevada 609 0,4
Soja 800 0,5
Milho 720 0,4
Aveia 416 0,4
Arroz 769 0,4
Trigo 770 0,4
Farelo 250 0,4

TABELA 2 – Relação entre as variáveis que influenciam a capacidade do helicóide


para uma taxa de carga de 45%

Tamanho Helicóide Capacidade (m3.h-1)


da partícula
Diâmetro (mm) rpm rpm rpm
(mm)
máxima 1 (um) máxima
19 152 165 0,06 11
38 229 150 0,23 34
51 305 140 0,56 76
63 356 130 0,87 113
76 406 120 1,23 159
76 457 115 1,87 215
89 508 105 2,69 283
89 610 100 4,73 473
Nota: a capacidade decresce com o aumento do ângulo de inclinação em, aproximadamente, 30%
para 15o e 55% para 25o.

Para assegurar o movimento com eventuais sobrecargas, quando a potência


atinge valores inferiores a 5 cv, deve-se fazer um incremento na potência calculada, de
acordo com a Tabela 3.

TABELA 3 – Fatores de correção para potência do transportador helicoidal

Potência (cv) Fator de correção (Fc)


menor que 1,0 2,00
de 1,0 a 2,0 1,50
de 2,0 a 4,0 1,25
maior que 5,0 sem correção

Para a utilização de uma rosca transportadora, o usuário deve conhecer pelo


menos os seguintes fatores:

302 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

- o fluxo de grãos ou a capacidade necessária; e


- as distâncias horizontais e verticais.

Necessita-se determinar:
1 - o ângulo de inclinação aproximado;
2 - o comprimento do transportador requerido;
3 - o número de rotações (rpm) da rosca;
4 - as dimensões do helicóide;
5 - o diâmetro da polia motora;
6 - o comprimento da parte exposta da rosca; e
7 - a potência necessária ao bom funcionamento do equipamento.

Os itens 1 e 2 podem ser obtidos segundo exemplo na Figura 5; o item 3, como


na Figura 6; e os itens 3 a 7 podem ser determinados por tabelas, fórmulas e diagramas.

Figura 5 - Conversão de distâncias horizontais e verticais em ângulo de inclinação


e distância inclinada.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 303


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

Figura 6 – Diagrama para cálculo da rotação do helicóide.

Na Tabela 4 são apresentadas a capacidade, a potência requerida (equação 3) e a


potência nominal para diferentes tamanhos de helicóides-padrão (diâmetro = passo),
para transporte horizontal de milho.

TABELA 4 - Capacidade (m3/h), potência requerida (cv) e nominal (cv) para transporte
horizontal de milho com diferentes tamanhos de helicóides
(diâmetro=passo)

Diâmetro Característica 200 rpm 400 rpm 800 rpm


(cm) Comprimento (m)
5 10 15 5 10 15 5 10 15
1
Pot. Requerida. 0,16 0,33 0,49 0,33 0,65 0,98 0,65 1,30 1,95
12 Pot. Nominal2 1/2 1/2 1/2 1/2 3/4 1 3/4 1 1/2 2
Capac.3 15 15 15 30 30 30 60 60 60
Pot. Requerida 0,33 0,65 0,98 0,65 1,30 1,95
15 Pot. Nom. 1/2 3/4 1 3/4 1 1/2 2
Capacidade 30 30 30 60 60 60
Pot. Requerida 0,79 1,57 1,77
20 Pot. Nominal. 1 2 2
Capacidade 70 70 70
Nota: para inclinações de 15o e 25o, a capacidade reduze entre 30 e 55%,
respectivamente. 1. potência requerida; 2. potência nominal; 3. capacidade

304 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

2.1.4 - Exemplo
Estimar a capacidade e a potência requerida por um transportador helicoidal que
opera na posição horizontal com 45% de carga, ao descarregar um secador. O
transportador apresenta as seguintes características:
- passo = 0,35 m;
- diâmetro do helicóide = 0,36 m;
- diâmetro do eixo = 0,08 m;
- rotação = 113 rpm;
- comprimento do helicóide = 5,0 m; e
- massa específica do produto = 680 kg.m-3

Solução: a partir da equação 1 pode-se estimar a capacidade do transportador para


operar com carga plena na horizontal:

Q = 4,71x10-5 (362 - 82) 35 x 113

Q = 229,5 m3.h-1

Como o regime de operação é com 45% da carga, Ter-se-á:

Q = 229,5 m3.h-1 x 0,45 = 103 m3.h-1

A potência necessária para o acionamento do transportador é dada pela equação


3:
P =2,22x10-4 x (1,72 x 680 x 5 x 0,4)

P = 0,50 cv

Como a potência estimada é menor que 1,0 cv, deve-se aplicar o fator de
correção de acordo com a Tabela 3:

P = 0,50 x 2 = 1,0 cv.

2.2. Elevador de Caçambas


É o transportador ideal para material granular. De maneira geral, trabalha na
posição vertical ou com pequena inclinação em relação à vertical. Além de possibilitar o
desalinhamento, a inclinação pode causar grandes dificuldades durante a operação do
elevador. A Figura7 mostra os componentes básicos de um elevador de caçambas que é
composto de:
- cabeça;
- módulos ou corpo;
- pé ou base;
- correia ou corrente; e
- caçambas
O produto deve apresentar grau de fluidez que garanta a continuidade do fluxo a

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 305


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

cada passagem das caçambas (carga) e que elas permaneçam limpas após descarga. As
caçambas ou canecas (Figuras 7 e 11) podem ser fabricadas em metal, plástico ou fibra
de vidro. A característica do material a ser transportado exige formas distintas de
caçambas, para evitar danos ao produto e aumentar o rendimento do transporte. Neste
sistema, o produto é elevado a uma altura que possibilita sua distribuição por gravidade,
por meio de dutos especiais. A carga das caçambas é feita na base, ou pé, e pode ocorrer
em:
- posição posterior, do lado em que as caçambas estão descendo; e
- posição anterior, do lado que as caçambas estão subindo.
A carga pela posição anterior é preferível, porque nela produtos com pouca
fluidez, como o café úmido e o arroz em casca, danificam menos o sistema de fixação
das caçambas à correia e a própria caçamba.

2.2.1. Cabeça do elevador


É o componente no qual se faz a descarga do produto, que pode ser realizada
pela ação da força centrífuga ou pela gravidade.
O dispositivo de descarga consta de um prolongamento da cabeça do elevador,
cuja principal característica consiste em minimizar os danos ao produto, devido ao
impacto durante a descarga.
No caso de transportadores de grande capacidade, a polia superior, que é
responsável pela movimentação do sistema correia/caçambas, tem a superfície
vulcanizada, a fim de minimizar o índice de patinação que ocorre principalmente no
início do acionamento. Em geral, o acionamento é feito por um motor elétrico acoplado
a uma caixa de redução. Nos elevadores de pequena capacidade, as polias são simples e
o sistema redutor de velocidade é feito pelo conjugado polia/correia.
O freio de retrocesso é um componente da cabeça do elevador, que impede o
retorno das caçambas, caso haja interrupção no fornecimento de energia elétrica. Com
isso, evitam-se entupimentos e outros tipos de problemas. Nos transportadores de
pequena capacidade, o freio mais utilizado é do tipo catraca. Para os elevadores de
grande capacidade, podem ser utilizados os freios de fita metálica ou, ainda, os freios
eletromagnéticos. A Figura 8 mostra a cabeça do elevador de caçambas, com detalhes
de seus componentes.

2.2.2. Corpo
Geralmente é constituído de chapas metálicas com perfil retangular ou circular.
É a estrutura que sustenta a cabeça do elevador e serve como condutor do sistema
correia/caçambas. O corpo é composto de módulos com extremidades flangeadas, para
permitir a união entre eles por meio de parafusos. Em um dos módulos existe uma
abertura com tampa, destinada aos serviços de manutenção e reparos.

2.2.3. Pé ou Base
É construído em chapas metálicas e possui os seguintes componentes (Figura 9):
- polia inferior;
- esticador de correia;
- dispositivo de carga; e

306 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

- janelas de inspeção e limpeza.

A polia inferior tem a superfície de contato vazada (Figura 10), a fim de evitar o
esmagamento e acúmulo de grãos entre a polia e a correia, o que poderia causar o
desalinhamento do sistema e danos ao produto.
O esticador de correia é constituído por um sistema cujos mancais do eixo
inferior são montados em um componente móvel. O deslocamento é feito pela ação
sobre parafusos de " chamada", o que, além de esticar, permite também o alinhamento
da correia.
O dispositivo de carga é responsável pelo direcionamento do produto nas
caçambas. Como sua posição interfere na intensidade de impacto do produto durante a
carga, influenciará diretamente o desempenho do transportador.
As janelas de visita são aberturas, em forma de registro de gaveta, que permitem
a limpeza dos restos de produtos ou impurezas remanescentes da operação anterior.

Figura 7 – Componentes de elevador de caçambas.

Figura 8 – Detalhes da cabeça de um transportador de caçambas.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 307


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

Figura 9 – Base ou pé do elevador.

Figura 10 – Vista da polia inferior.

2.2.4. Correia / Corrente

Qualquer um destes elementos é satisfatório para compor a maioria dos


elevadores que se destinam ao transporte de produtos agrícolas. A correia, entretanto,
permite maior velocidade de operação, o que resultará em maior capacidade de
transporte, mantendo-se as outras dimensões constantes. A característica do material de
construção é um fator importante a ser considerado ao se optar pelo uso da correia, a
qual deve resistir à tração, ter flexibilidade, resistir a trincas, absorver o mínimo de
umidade e permitir perfeita fixação das caçambas.
Os elevadores equipados com correia permitem a descarga centrífuga ou por
gravidade. A fim de evitar danos, é indicada a descarga por gravidade para o transporte
de sementes.
A corrente apresenta uso simples, é durável, resistente e de baixo custo, quando
comparada à correia. No entanto, exige baixa velocidade durante a operação de
transporte e não deve ser utilizada em elevadores muito altos. Por trabalhar em baixa
velocidade, normalmente os equipamentos com corrente possuem menores capacidades.

308 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

2.2.5. Caçambas
São recipientes fixados na correia ou corrente e recebem o produto no ponto de
carga. Dependendo das características do produto a ser transportado e da capacidade do
transportador, as caçambas terão desenhos, tamanhos e modo fixação diferentes.
O espaçamento entre as caçambas influencia a capacidade do elevador, e a
distância entre elas é de aproximadamente duas vezes a sua largura . Nos elevadores
com caçambas contínuas, forma-se uma sequência de quinze a vinte caçambas, e
somente a inferior possui fundo. Esta disposição refere-se a elevadores de alta
capacidade (Figura 11) .

Figura 11 – Modos de distribuição de caçambas na correia do elevador.

2.2.6. Estimativa da Capacidade e da Potência

A capacidade e a potência para acionar elevadores de caçambas dependem do


tipo de descarga. Produtos sujeitos a danos por impacto, que reduzem seu índice de
germinação e seu vigor, podem ser descarregados por gravidade. Neste caso, a
velocidade da correia não deve ultrapassar os 30 m.min-1.
O equipamento com descarga centrífuga, utilizado no transporte de grãos
comerciais, apresenta maior velocidade na correia e, conseqüentemente, maior
capacidade de transporte. A rotação necessária para que ocorra a descarga por
centrifugação pode ser obtida a partir da equação 4:
N = 30/ R ½ eq.4

em que
N = velocidade tangencial ou periférica da polia motora, rpm; e
R = raio efetivo da polia motora, m.

Raio efetivo é a distância entre o centro da polia e o centro geométrico da


caçamba (Figura 12).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 309


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

A velocidade linear das caçambas (v, m.min.-1) pode ser calculada pela equação
5.
v=2.π.R.N eq. 5

A capacidade do transportador (Q, kg.min-1) é função da capacidade de cada


caçamba, da velocidade e do número de caçambas por metro de correia. A equação 6
permite estimar a capacidade do transportador.

Q=v.n.q eq.6
em que
q = capacidade de cada caçamba, kg de produto.caç-1 ; e
n = número de caçambas por metro de correia, caç.m-1.

Para calcular a potência exigida para o acionamento do elevador carregado, além


da capacidade de transporte, deve-se considerar a altura a que o produto deve ser
elevado (equação 7).

P = 2,22x10-4 ( Q x H ).Fa eq.7


em que
P = potência requerida, cv;
H = altura de elevação do produto, m; e
Fa = fator de segurança (1,10 a 1,15).

A Tabela 5 apresenta as características mínimas de um elevador de caçambas


para diferentes capacidades de transporte de milho.

Figura 12 – Caracterização do raio efetivo e sistema de forças na polia motora.

310 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

TABELA 5 - Algumas características de elevadores de caçamba para diferentes


capacidades e alturas de elevação

Cap. Caçambas Cap. Altura Diâmetro Largura Potência


(t/h) por metro Caçamba (m) polia Correia
(g) (cm) (cm) (cv)
10 3,5 430 10 30 15 0,5
15 0,75
20 1,0
20 4,5 580 10 40 22 1,0
15 1,5
20 2,0
30 5,0 800 10 40 22 1,5
15 2,0
20 2,5

2.2.7. Exemplo
Deseja-se elevar grãos de milho a uma altura de 20 m utilizando um
transportador de caçambas cuja polia tem raio efetivo de 0,35 m (raio da polia de 0,30
m). Existem 211 caçambas com capacidade individual de 0,80 kg, fixadas na correia.
Considerando que a descarga será feita por centrifugação e que a massa específica do
milho é igual a 750 kg.m-3, pede-se:
a) estimativa da capacidade, em kg.min-1 e em m3.min-1; e
b) estimativa da potência, em cv.

Solução:
a) Pela equação 4 obtém-se a rotação na polia do transportador:

N = 30/ (0,35)1/2 = 50,71 rpm.

A equação 5 fornece a menor velocidade da polia motora que permitirá a


realização da descarga por centrifugação:

v = 2 . 3,14 . 0,35 . 50,71 = 111,5 m.min-1

O número de caçambas por metro pode ser obtido relacionando-se o


comprimento da correia ao número total de caçambas.
O comprimento da correia é obtido a partir da soma dos dois ramos da correia
correspondentes à distância entre os eixos do transportador mais o perímetro de uma das
polias, conforme a equação 8:

L = Ra + Rd + (2 . π . r) eq.8
em que
L = comprimento total da correia, m;
Ra = comprimento do ramo ascendente da correia, m;

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 311


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

Rd = comprimento do ramo descendente da correia, m; e


r = raio da polia, m.

Quando os valores de Ra e Rd são iguais, correspondem à altura de elevação do


produto. Assim:
L = 20 + 20 + (2 . 3,14 . 0,3) = 41,90 m

Sendo o número total de caçambas igual a 211, Ter-se-á:


n = 211/41,9 = 5 caçambas por metro de correia.

A capacidade do transportador será (equação 6):

Q = 111,5 . 5 . 0,8 = 446 kg.min-1 = 0,6 m3.min-1

b) A potência obtida a partir da equação 7 fornece:


P = 2,22 . 10-4 . (446 . 20) . 1,15 = 2,5 cv.

2.3. Fita Transportadora


Equipamento de alta eficiência mecânica em que os danos por atrito ou impacto
só ocorrem, eventualmente, durante a carga ou na descarga. A correia é composta de
uma polia motora, uma polia-guia com esticador, roletes ou plataforma de deslizamento,
chassis ou estrutura de suporte e sistemas para carga e descarga. De instalação e
operação simples, é usada para transportes leves (frutas) ou mais pesados (grãos, brita,
minerais, etc.). Um transportador de correia pode operar em altas velocidades e
transportar produtos a longas distâncias, mas o limite de sua inclinação para o transporte
de produtos agrícolas é de 15o . Tem custo inicial e vida útil maiores que de outros tipos
de transportadores.
As Figuras 13 e 14 mostram detalhes de um transportador de correia.

Figura 13 - Fita transportadora de materiais granulados.

312 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

Figura 14 – Corte transversal de uma correia transportadora do tipo reversível ou


dupla.

As principais características mecânicas que a correia transportadora deve possuir


são:
a) Flexibilidade: deve-se adaptar a qualquer diâmetro de polia sem se tornar
quebradiça, o que poderia reduzir sua vida útil.
b) Resistência à tensão: deve ser resistente a este esforço, visto que, está
sempre sujeita a este tipo de deformação.
c) Resistência à corrosão: o revestimento da correia deve ser resistente à
corrosão, pois, em muitos casos, o produto pode receber tratamentos
químicos por meio de equipamentos instalados sobre a correia para o
controle de insetos. A resistência à abrasão é uma característica importante,
principalmente para o transporte de arroz.

O sistema de acionamento da correia é instalado no ponto de descarga, e a polia


motora deve ter um diâmetro que permita o máximo de contato com a correia. Em
muitos casos, é necessário um número maior de polias não apenas para ajudar no
esticamento, mas também para solucionar os problemas devidos à contração e expansão
da correia provenientes de variações climáticas do ambiente. O ajustamento ou
esticamento de uma correia pode ser feito por meio de parafusos de "chamada",
instalados no suporte da fita, por meio de polias livres no ramo de retorno ou por contra-
peso no eixo da polia secundária (mais usados em correias de grande capacidade).
Nos transportadores de correia, a carga pode ser feita em um ponto fixo por meio
de uma peça metálica de configuração geométrica afunilada ou por meio de um
componente móvel que permita o deslocamento para a carga ao longo de toda a correia.
A descarga pode ser feita naturalmente, no extremo oposto à carga ou em qualquer
ponto, por meio do "tripper", que consiste no arranjo de duas polias livres que dão à
correia a configuração de um "S" invertido (Figura 15).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 313


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

Figura 15 – Descarregador móvel ou “Tripper”.

Clique para ver: vídeo 1 vídeo 2

2.3.1. Dimensionamento da Fita Transportadora


A capacidade da fita transportadora é função da sua concavidade transversal
(Figura 14), que por sua vez é função da inclinação das polias livres (roletes). A relação
e inclinação das polias livres dependem do material transportado (tamanho, forma e
fluidez das partículas), de acordo com os valores apresentados na Tabela 6. No caso de
grãos e partículas semelhantes, secas e limpas, esse ângulo vai de 8 a 19o. O
equipamento sai de fábrica com ângulo de inclinação dos roletes de 5 a 10o menor que o
ângulo de repouso do produto. Para o transporte de grãos em geral, é muito usada a
inclinação de 450 para roletes com espaçamentos iguais.

TABELA 6 - Área da seção transversal (m2) de uma fita transportadora com diferentes
larguras e ângulos de sobrecarga

Largura Margem Ângulo de sobrecarga Velocidade máxima


da fita livre (m/min)
(m) (m) 10o 20o 30o Mat. fino Grãos
0,36 0,043 0,0069 0,0089 0,0109 91,4 122,0
0,41 0,045 0,0094 0,0122 0,0150 91,4 137,0
0,46 0,046 0,0124 0,0161 0,0199 121,9 152,0
0,51 0,050 0,0158 0,0204 0,0253 121,9 183,0
0,61 0,056 0,0239 0,0308 0,0381 152,4 213,0
0,76 0,063 0,0391 0,0504 0,0622 167,6 244,0
0,91 0,071 0,0578 0,0746 0,0921 182,8 244,0
1,07 0,079 0,0807 0,1040 0,1273 182,8 244,0

A equação 9 é usada para determinar a potência necessária de uma correia


transportadora.
P = [1,292 V.L (0,015 + 3,28.10-4C) + M(0,48 + 9,9.10-3C) +
+ (3,33h .M)]/100 eq. 9

314 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

em que
P = potência estimada, cv;
V = velocidade da correia, m.min-1;
L = largura da correia, cm;
C = comprimento do transportador, m;
M = vazão mássica do produto, ton.h-1; e
h = altura de elevação, m.

2.3.2. Exemplos

a) Dimensionar o sistema de transporte de acordo com as especificações


apresentadas na Figura 16:

Figura 16 - Sistema hipotético de secagem e armazenagem.

1. Cálculo do elevador do secador: o elevador deve atender à capacidade do


secador, que é de 10 toneladas por hora. Para garantia de fluxo, recomenda-se que o
secador seja calculado com carga adicional de 20%. Portanto, o elevador deverá ser
dimensionado para uma capacidade de 12 toneladas por hora.
Supondo que a polia motora possua raio de 30 cm e raio efetivo de 35 cm, pode-
se calcular sua rotação utilizando-se a equação 4:
N = 30 / (0,35)1/2 ≅ 51 rpm
Utilizando-se a equação 5, calcula-se a velocidade linear mínima das caçambas
que permitirá descarga centrífuga:
V = 2πRN = (2). (3,14). (0,35). (51) ≅ 112 m.min-1

Admitindo-se a capacidade do elevador como12 t.h-1 e a capacidade unitária da


caçamba de 450 g, o número de caçambas por metro de correia, segundo a equação 6,
será:
12 t.h-1 ≅202 kg.min-1 = Vnq = (112).(n).(0,450)
n = 4 caçambas por metro de correia

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 315


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

A potência necessária para acionar o elevador carregado é calculada segundo a


equação 7:
P = 2,22 x 10-4 Q.H.Fa = 2,22.10-4. (202).(15).(1,15) = 0,77cv ≅ 1,0cv

2. Cálculo da rosca-sem-fim: a rosca sem fim deve atender à capacidade do


secador com capacidade adicional de 20%. Portanto, a rosca também deverá ser
dimensionada para a capacidade de 12 toneladas por hora ou 0,28 m3.min-1, para o
produto com massa específica de 721 kg.m-3. Utilizando um helicóide-padrão com
diâmetro e passo iguais a 15 cm, diâmetro do eixo igual a 5 cm e rotação de 120 rpm,
pode-se calcular a potência necessária para o acionamento da rosca de acordo com a
equação 3:

P = 2,22 x 10-4 (Q.Me.L.Fm) = (2,22 x 10-4).(0,28).(721).(10).0,4 = 0,18 cv

Pela Tabela 3, deve-se multiplicar o resultado por 2. Assim,


P = 0,18 x 2 ≅ 0,36 cv .

Comercialmente, adota-se um motor de 0,5 cv.

3. Cálculo do elevador para o silo: utilizando-se procedimentos semelhantes ao


empregado no cálculo do elevador do secador, considerando um elevador com cinco
caçambas por metro e capacidade de 15 t.h-1, encontram-se os seguintes valores:

N = 30 / (0,35)1/2 ≅ 51 rpm
V = 2πRN = (2). (3,14). (0,35). (51) ≅ 112 m.min-1
Q = Vnq = (112).(5).(0,450) ≅ 252 kg.min-1 ≅ 15 t.h-1
P = 2,22 x 10-4 Q.H.Fa = 2,22 x 10-4 . (252).(12).(1,15) = 0,77 cv ≅ 1,0 cv

4. Cálculo da fita transportadora: a fita deve atender à capacidade do elevador


do silo, que é de 15 toneladas por hora, com capacidade adicional de 20%. Portanto, a
fita deverá ser dimensionada para uma capacidade de 18 toneladas por hora ou 0,42
m3.min-1, para um produto com massa específica de 721 kg.m-3. Utilizando uma fita
com um ângulo de sobrecarga de 10o, pode-se, por meio de tentativas e com os valores
da Tabela 6, estimar a largura da fita. O volume transportado (Vol) é função da
velocidade (Vel) e da área da seção transversal da fita carregada (A). Admitindo, como
primeira tentativa, uma fita com 36 cm de largura e velocidade máxima de 122 m.min-1,
o volume transportado será:

Vol = A.Vel = (0,0069).(122) = 0,84 m3/min = 50,4 m3/h = 36,3 t/h

Pode-se calcular a potência necessária para o acionamento da fita de acordo com


a equação 9:
P = [1,292 x 122 x 36 (0,015 + 3,28.10-4 x 40) + 36,3 (0,48 + 9,9.10-3x 40) +

316 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

+(3,33 x 0 x 36,3)] / 100 = 1,91 cv ≅ 2,0 cv

A menor fita transportadora, pela tabela, tem capacidade superior à capacidade


necessária. Como a fita é um dos equipamentos mais caros entre os transportadores de
materiais granulares, sugere-se ao projetista fazer uma análise técnico-econômica para
escolha de outro transportador, como, por exemplo, uma rosca sem fim. Alternativa
seria a utilização de um elevador com saídas para os diferentes silos.

b) Uma fita com ângulo de 20o na sobrecarga transporta 45 toneladas de trigo


(PH = 78) por hora. Que largura deve ter a fita para operar em velocidade máxima?
A estimativa da largura da fita pode ser feita por tentativa, a partir da Tabela 6.
Sabe-se que o volume transportado pela fita, na unidade de tempo, é função da área da
seção transversal e da velocidade máxima.

Vol(m3h-1) = A seç. transv.(m2) . vel.(m.h-1)

Pela Tabela 6, com 20o no ângulo de sobrecarga e velocidade máxima para


grãos, Ter-se-á:
Vol = 0,0089 m2 x 122 m.min-1 x 60 min.h-1

Vol. = 65 m3.h-1.

Nota-se que este volume pode ser transportado em uma fita cuja largura seja
igual a 0,36 m, atendendo às especificações do problema.
A potência exigida para que a fita transporte o produto pode ser calculada
levando-se em consideração uma possível elevação do produto, a resistência oferecida
pela fita durante o deslocamento e a resistência contrária ao movimento, proveniente
das polias livres e dos acessórios. As constantes utilizadas em tais procedimentos
variam conforme as condições de operação e a flexibilidade da fita entre as polias livres,
causadas pela carga e absorvendo parte da potência.
A estimativa da potência deve ser executada em uma etapa, pelo uso da equação
9, ou em três etapas:

a) Estimativa da potência necessária para a movimentação da fita sem carga:

Pa =[V. L . 1,292 (0,015+3,28.10-4C)]/100 eq.10

b) Estimativa da potência necessária para transportar o material na posição


horizontal:

Pb =[M (0,48+9,9.10-3C)] /100 eq.11

c) Estimativa da potência necessária para a fita transportar o produto em posição


inclinada:
Pc = ( h x 3,33 x M ) / 100 eq.12

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 317


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

em que
P = potência estimada, cv;
V = velocidade da correia, m.min-1;
L = largura da correia, cm;
C = comprimento do transportador, m;
M = massa de produto a ser transportado, ton.h-1; e
h = altura de elevação, m.
A potência total estimada é dada por:

Pt =Pa + Pb + Pc eq.13

Exemplo:
Estimar a potência necessária para transportar 60 t.h-1 de trigo cuja massa
específica é 780 kg.m-3, a uma distância horizontal de 50 m, com uma elevação de 8,8
m, utilizando um transportador de correia sobre roletes em forma de calha.
O comprimento do transportador é determinado pela hipotenusa formada a partir
das distâncias horizontal e vertical, estabelecidas no problema.

tg(a) =8,8/50= 0,18


a = 10o (inclinação da fita).

O comprimento C será calculado por:


C = 8,8 / sen(10o)= 8,8 /0,19 =50,7 m.

O volume de produto transportado na unidade de tempo e a área da seção


transversal ocupada com o produto serão, respectivamente:
Vol = 60 t.h-1/0,78 ton.m-3 = 77 m3.h-1
Vol = Área seç. transv. x Vel. da correia.

Por tentativa, seleciona-se uma largura da fita, segundo a Tabela 6, para obter a
velocidade máxima correspondente.

Para L = 0,36 m e 10o de inclinação:


Vol = 0,0069 m2 x 122 m.min-1 x 60 min.h-1 = 50,5 m3.h-1.

Verifica-se que a fita com 0,36 m de largura não atende às necessidades de


transporte; faz-se então novo cálculo para uma fita de maior largura.

Para L = 0,41 m e 10o de inclinação:


Vol = 0,0094 m2 x 137 m.min-1 x 60 min.h-1 = 77,3 m3.h-1.

Este valor atende às necessidades do problema, isto é, 77,0 m3.h-1 de produto


transportado.
A estimativa da potência necessária para movimentar a fita sem carga (equação
10) será:

318 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

Pa = [137 x 0,41 x 1,292 (0,015 + 0,000328 x 50)] / 100

Pa = 0,02 cv.
A estimativa da potência exigida para o transporte na horizontal é dada pela
equação 11:
Pb = [60,0 x (0,48 + 0,0099 x 50)] / 100 = 0,6 cv.
Pela equação 12 estima-se a potência necessária para o transportador trabalhar
em posição inclinada:
Pc = (8,8 x 3,33 x 60) / 100 = 17,58 cv.

A estimativa da potência total será:


Pt = 0,02 + 0,6 + 17,58 = 18,2 cv.

Escolhe-se o motor com a potência comercial mais adequada que é 20 cv.

Nota: nos cálculos não foi considerada a eficiência do equipamento.

2.4. Transportadores Pneumáticos


Os transportadores pneumáticos movem os grãos, empregando-se um fluxo de ar
em alta velocidade, através de um sistema de tubulação hermético.
O projeto ou o uso de transportadores pneumáticos exige determinados
conhecimentos, como: pressão, velocidade e quantidade de ar necessária para o arraste
dos grãos; potência exigida; e características físicas do material transportado,
considerando-se que estas variáveis irão influenciar o desempenho do equipamento.
Como vantagens, os transportadores pneumáticos apresentam baixo custo inicial,
simplicidade mecânica, percurso de transporte único ou ramificado, facilidade na
variação da trajetória e sistema auto-limpante.
Elevada potência e danos ao material transportado (principalmente grãos) são as
principais desvantagens a serem consideradas na adoção de sistemas pneumáticos.
Os sistemas pneumáticos podem ser classificados de acordo com o sistema de
carga do produto, da seguinte forma:

2.4.1. Sistema de sucção


É um sistema que opera com pressão abaixo da pressão atmosférica, sendo muito
utilizado na descarga de caminhões, vagões e barcos e no transporte de materiais cuja
textura dificulta a fluidez através de válvulas, roscas alimentadoras e ventiladores
(Figura 17).
Nesse sistema, o material a ser transportado não passam pelo ventilador, pois
um ciclone retira o produto da corrente de ar e permite sua descarga. Geralmente, a
carga é realizada através de tubos flexíveis e ajustáveis para permitir maior ou menor
entrada de material granular.
Uma das vantagens deste sistema é a possibilidade de transportar material de
dois ou mais pontos para um ponto comum.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 319


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

2.4.2. Sistema por pressão


Nos transportadores por pressão, os grãos são colocados na tubulação por meio
de dosadores (injetores) para que a proporção de material granular e o fluxo de ar sejam
adequados (Figura 18).

2.4.2. Sistema combinado (Pressão e sucção)


É o sistema mais comum. Parte do transporte dos grãos é efetuada por sucção e
outra por pressão. Pode ser portátil, montado sobre rodas que permite fácil
deslocamento do conjunto. A Figura 19 mostra um esquema deste sistema
O ciclone, na linha de sucção, não permite que o material passe pelo
ventilador e alimente a linha de pressão.
A grande vantagem da utilização de um transportador pneumático está no fato de
este permitir o movimento do produto em qualquer direção, inclusive trajetos curvos,
além de permitir mudança de direção durante o transporte.
O conhecimento das características do ventilador, eficiência, pressão total,
potência requerida em função da vazão de ar a diversas rotações é de suma importância
para a escolha correta do ventilador, de modo que a eficiência do transportador
pneumático não fique comprometida.
Segundo SEGLER (1951), um incremento de 100% na potência consumida pode
facilmente surgir por meio de ventilador inapropriadamente dimensionado.
A pressão e a quantidade de ar a ser fornecida pelo ventilador são determinadas
em qualquer sistema de transporte pneumático pelas características da linha de
transporte. Essas condições são dependentes de vários fatores, tais como: diâmetro,
comprimento e natureza da tubulação, do fluxo e dos grãos a serem transportados, bem
como da queda de pressão ocorrida quando os grãos são alimentados no transportador.
Dependente, também, de outras características da linha de transporte, como: tipo de
alimentação, altura e tipo de descarga, mudança de direção.
A velocidade do ar na tubulação, que é função da pressão dinâmica, é descrita
pela equação 14:

v = 4,04 ⋅ Pd Eq.14
Onde:
v = velocidade do ar no transporte (m.s-1);
Pd = pressão dinâmica (mmca).

A vazão de ar no transportador é função da velocidade deste na linha de


transporte e da área da seção transversal da tubulação, conforme descrito na equação 15:

Q = v. A Eq.15
Onde:
Q = vazão de ar no transportador (m³.s-1);
A = Área da seção transversal da tubulação (m²).

320 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

Para determinação da potência do sistema, utiliza-se a equação 03:

Q ⋅ Pt Eq.16
Pot =
455.η inj ⋅ η ven
Onde:
Pot = Potência requerida (cv);
Pt = Pressão total (cmca);
ηinj = eficiência do injetor (dec);
ηven = eficiência do ventilador (dec).

Figura 17 – Transporte pneumático por sucção.

Figura 18 - Transporte pneumático por pressão.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 321


Capítulo 12 Manuseio de Grãos

Figura 19 - Transporte pneumático por sucção e pressão.

2.4.1. Movimento das Massas


a) Vertical: dependendo do tipo de grãos, a quantidade mínima de ar necessária
para a movimentação do produto varia de 0,93 a 3,16 m3.kg-1 de produto (Tabela 7).
Quando a velocidade do ar é reduzida e/ou a alimentação do equipamento contendo o
produto não é uniforme, a necessidade de ar por unidade de massa do produto
transportado pode ser aumentada bastante.
A pressão estática exigida para a sucção vertical do transportador é função da
perda de pressão devido ao atrito do ar contra as paredes do tubo, da pressão resultante
do peso do material granular no tubo e da perda de energia do material devido ao atrito
contra as paredes do tubo condutor.

TABELA 7 – Velocidade recomendada para transporte de produtos agrícolas

Produto Velocidade Produto Velocidade


m.min-1 m.min-1
Cevada 1524 -1981 Algodão (caroço) 1219 - 1829
Café (coco) 914 - 1067 Aveia 1372 - 1829
Milho 1534 - 2134 Trigo 1524 - 2134

b) Horizontal: embora o transporte do produto em condutores horizontais tenha


sido estudado por vários pesquisadores, há muitas dúvidas quanto à importância dos
mecanismos que envolvem os procedimentos dos projetos do sistema. Sabe-se,
entretanto, que existem perdas de energia resultantes do atrito entre o ar e as paredes do
conduto, entre os grãos e o ar, entre o grão e a parede do conduto e entre os próprios
grãos. Devido à falta de informação, há necessidade de conhecer certos fundamentos
mecânicos para o transporte horizontal.
Ao escoar livremente, a partícula estará sujeita a ação de força horizontal, devido
ao movimento do ar, e de força vertical, devido à gravidade.

3. LITERATURA CONSULTADA

1. DOBIE, J.B. & CURLEY, R.G. Materials handling for livestock feeding, circular
no. 517, University of California, 1963, 39p.
2. GIUDICE, P.M.del; HARA, T; PINHEIRO FILHO, J.B.; COELHO, D.T. &
AZEVEDO, J.M.P. Manuseio, secagem e armazenamento de café, Viçosa-
MG, UFV, 1972, 272p.
3. HENDERSON, S.M. & PERRY, R.L. Agricultural process engineering, The AVI
Publishing Company, Inc. Westport, 1976, 441p.
4. LACERDA FILHO, A. F.; SILVA, J. S. & AFONSO, A . D.L. Transportadores de
grãos. In: Pré-processamento de produtos agrícolas, Juiz de Fora, Instituto
Maria, 1995. 509p.

322 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 12 Manuseio de Grãos
5. REMPE, J.B. & COOPERCO, O.A. Bulk materials handling and storage. In:
American Feed Manufactures Association, Inc., Chicago, 1970, 497-528p.
6. SEGLER, G. Pneumatic grain conveying with special reference to agricultural
engineering. Natl. Institute of Agricultural Engineering, Wrest Park, Silsoe,
Bedfordshire, England, 174 p., 1951.
7. Shreekant R. Pardea, Rameshwar T. Kausalb, Digvir S. Jayas and Noel D. G. White.
Mechanical damage to soybean seed during processing Journal of Stored
Products Research Volume 38, Issue 4, 2002, Pages 385-394
8. SPIVAKOVSKY, A.O. & DYACHKOV, V.K. Conveying machines, Mir
Publishers, Moscou, Vol I, 1985, 229p.
9. SPIVAKOVSKY, A.O. & DYACHKOV, V.K. Conveying machines, Mir
Publishers, Moscou, Vol II, 1985, 262p.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 323


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

Capítulo

13
BENEFICIAMENTO DE GRÃOS

Juarez de Sousa e Silva


Fátima Chieppe Parizzi
Roberta Martins Nogueira
José Cardoso Sobrinho

1. INTRODUÇÃO

O beneficiamento é uma das últimas etapas do programa de produção de grãos.


É na unidade de beneficiamento que o produto adquire, após a retirada de contaminantes
(sementes ou grãos imaturos, rachados ou partidos, sementes de ervas daninhas,
material inerte, pedaços de plantas etc.), as qualidades físicas, fisiológicas e sanitárias
que possibilitam sua boa classificação em padrões comerciais.
Qualquer projeto agrícola que se queira iniciar deve ser baseado na escolha
correta das tecnologias. Portanto, após usar técnicas adequadas de preparo e fertilização
do solo e as boas práticas pós-plantio, nada sairá bem se o uso de sementes ou mudas de
alta qualidade não foi aplicado.
Numa unidade moderna, o beneficiamento é realizado por máquinas projetadas
com base em uma ou mais diferenças nas características físicas do produto e dos
contaminantes a serem retirados, ou seja, os grãos e as sementes devem passar pelas
etapas de pré-limpeza, secagem, limpeza e classificação e embalagem. No caso do café,
outras operações devem ser realizadas antes do beneficiamento, propriamente dito,
como separação. É sugerido ao leitor fazer uma passagem pelo Capítulo 2 (Estrutura e
propriedades físicas dos produtos agrícolas)

2. BASES PARA SEPARAÇÃO

A retirada das impurezas de um lote de grãos é feita com base na utilização das
diferenças físicas dos materiais que compõem o lote original (grãos perfeitos, impurezas
ou materiais estranhos e outros). O método mais primitivo de beneficiamento utilizado
foi o abano, que se baseia na diferença de densidade entre o produto perfeito e as
impurezas. No caso do café, as folhas são levadas pelo vento e o produto menor que o

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 325


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

café passa pelo crivo da peneira (Figura 1)


Entretanto, a densidade não é a única característica física dos grãos; outras
diferenças, como tamanho (comprimento, largura e espessura), forma, cor,
condutividade elétrica, textura do tegumento e afinidade com líquidos, são reconhecidas
e constituem, hoje, as bases para projetos de máquinas modernas para separação dos
diferentes produtos agrícolas. Sugere-se ao leitor uma revisão detalhada do capítulo 2
(Estrutura, Composição e Propriedades dos Grãos).

2.1. Tamanho
Quanto ao tamanho, os grãos podem ser diferenciados por suas dimensões
(largura, espessura e comprimento), que podem ser mais bem caracterizadas segundo a
espécie em questão. Os grãos, que diferem em uma ou mais dimensões, podem ser
separados por:
a) Largura: de modo geral, quando é a única dimensão variável, isto é, quando
o comprimento e a espessura são iguais, podem ser separados nas peneiras de
crivos circulares ou de malhas quadradas (Figura 2A), que podem ser planas,
como nas máquinas de ventilador e peneiras, ou cilíndricas alveoladas, como
as usadas no classificador por largura.
b) Espessura: quando a espessura é a com maior variabilidade, isto é, com
mesmo comprimento e mesma largura, podem ser separados com peneiras de
crivos oblongos ou retangulares (Figura 2B). A largura do furo deve estar
relacionada com a espessura do grão ou semente. Para uma separação
efetiva, pode-se usar peneiras planas, ou separador cilíndrico, como no caso
anterior.
c) Comprimento: grãos que possuem a mesma largura e espessura, mas que
diferem em comprimento, podem ser separados pela máquina de discos ou
pelo separador cilíndrico alveolado (Figuras 3A e B). O separador cilíndrico
é o mais usado ultimamente.

No passado Ainda no presente

Figura 1 – Abano manual com peneira para separação do café no campo

Clique para ver: vídeo 1 vídeo 2

326 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

(A) peneira de crivo circular (B) peneira de crivo retangular

Figura 2 – Tipos mais comuns de peneiras para separação.

Figura 3A – Máquina separadora de disco e detalhe da separação por


comprimento.

Figura 3B – Corte transversal e detalhes de funcionamento do separador


cilíndrico.

2.2. Peso
Os grãos que apresentam diferenças de peso ou de densidade entre si ou entre os
materiais estranhos podem ser separados com máquinas em que o material impuro passa
por uma corrente de ar. Nessa passagem, o componente de baixa densidade será
carreado pelo fluxo de ar, e os grãos pesados passam por um sistema contendo uma

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 327


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

mesa densimétrica (Figura 4) ou, ainda, por um sistema em leito fluidizado. Antes de
passar pela mesa densimétrica, o material deve passar primeiramente por um separador
do tipo ar e peneira (Figura 5).

2.3. Forma
Os grãos esféricos podem ser separados dos materiais de formato irregular ou de
outros grãos que tenham a forma achatada, usando-se um separador espiral. Este
equipamento não possui partes móveis, mas permite que sementes esféricas rolem com
mais facilidade sobre um plano inclinado em forma de aspiral (Figura 6). Com maior
velocidade de descida, as sementes esféricas, com maior força centrífuga, são
descarregadas para uma espiral inferior, onde são separadas.

Figura 4 – Mesa densimétrica ou de gravidade.

Figura 5 – Separadora com ar e peneira

328 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

Figura 6 – Separador centrífugo ou espiral.

2.4. Cor
Os separadores por cor (seletron) tornam possível a separação de sementes que
não podem ser separadas por nenhum dos métodos citados. Como exemplo, pode-se
citar o caso de grãos de café, que apresentam homogeneidade quanto a tamanho, forma
e densidade, mas têm colorações diferenciadas. O separador por cor (Figura 6) consiste
de um sistema de células fotoelétricas, que mudam sua características elétricas de
acordo com a intensidade luminosa emitida pelos grãos.

Figura 6 – Esquema básico da separação por cor “fotoelétrico”.

2.5. Condutividade Elétrica


Apesar de pouco utilizados, os separadores eletrostáticos separam as sementes,
geralmente de pequenos tamanhos, por diferenças entre suas propriedades elétricas,
induzidas ou ao natural. Um dos sistemas típicos consiste em uma correia
transportadora carregada eletrostaticamente. O material carregado com carga negativa
fica aderido à correia e é retirado na parte inferior da máquina por um conjunto de
escovas ou por um processo de eliminação gradual da carga elétrica (Figura 7).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 329


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

Figura 7 – Esquema básico de um separador eletrostático.

2.6. Textura do Tegumento


Uma máquina muito utilizada no beneficiamento separa as sementes pelas
características externas do tegumento. Um modelo especial consiste basicamente de
dois cilindros inclinados, recobertos por um tecido aveludado ou uma flanela. Os
cilindros giram em sentidos contrários e sob determinada velocidade angular para cada
tipo de sementes, que, para serem separadas, são colocadas entre os cilindros na parte
mais alta da inclinação. O material com superfície áspera ou rugosa é carreado pelo
veludo ou pela flanela para fora das laterais da máquina e o material com superfície lisa
deslizará entre os cilindros, e, pela ação da gravidade, é descarregadas na parte inferior
dos cilindros (Figura 8). Como em outras máquinas de separação, é necessário que o
material passe antes por máquina de ventilador e peneira.

Figura 8 – Esquema básico de um separador por tipo de tegumento.

330 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

3. ETAPAS DO BENEFICIAMENTO

Durante o beneficiamento, os grãos e, principalmente, as sementes passam por


uma série de etapas (Figura 9), que devem ser realizadas com o máximo de cuidado. No
caso de uma usina de beneficiamento de sementes, deve-se planejar uma trajetória que
contemple os seguintes pontos:
a) As sementes devem receber, em seqüência apropriada, todos os tratamentos
necessários.
b) Deve-se selecionar as máquinas, segundo a capacidade e qualidade, de modo
que a seqüência operacional não seja interrompida.
c) As sementes não devem ser danificadas por excesso de manuseio (se
possível, movimentar o produto sempre por gravidade e a baixa velocidade).
d) A unidade de beneficiamento e seus equipamentos devem ser dispostos de
modo que possam ser higienizados adequadamente e com o máximo de
facilidade.
e) Deve-se evitar todos os pontos de contaminação.
f) Todas as operações devem ser otimizadas de modo a permitir menor custo de
produção.

Figura 9 – Fluxograma operacional da uma unidade de beneficiamento (Sementes


Petrovina - MT).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 331


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

3.1. Recepção
Dependendo das condições em que chegam à unidade de beneficiamento (em
sacos ou a granel), os grãos podem ser colocados nos depósitos ou silos para produtos a
granel (armazenagem provisória para produtos úmidos ou para produtos secos). Podem
também ser transportados diretamente para a linha de beneficiamento, iniciando-se,
primeiramente, pela operação de pré-limpeza para o café, veja.

3.2. Pré-Limpeza
Grãos colhidos com máquinas ou trilhadoras mecânicas apresentam grande
quantidade de impurezas, como pedaços de ramos, folhas, palhas, torrões, poeira etc.
Com o objetivo de facilitar e melhorar a eficiência dos sistemas de secagem, o
transporte e as demais operações de beneficiamento, deve-se eliminar total ou
parcialmente as impurezas. Para realizar esta operação, utilizam-se máquinas
denominadas peneirões ou abanadoras. Estas máquinas são constituídas de uma ou mais
peneiras, cilíndricas ou planas vibratórias, geralmente acompanhadas de um sistema de
ventilação, para eliminação de poeira e materiais leves.

Clique para ver: vídeo 1 vídeo 2

3.3. Secagem
Quando os grãos ou sementes chegam à unidade de beneficiamento com
umidade inadequada para o processamento ou para armazenamento por tempo mais
prolongado, o produto deve ser encaminhado o mais rapidamente possível para a
operação de secagem, depois de passar pela máquina de pré-limpeza. Quanto aos
sistemas de secagem a ser utilizados, sugere-se leitura detalhada do capítulo 5 –
Secagem e Secadores e do capítulo 17 – Secagem e Armazenagem de Produtos
Agrícolas.

3.4. Limpeza
A operação de limpeza visa essencialmente separar impurezas remanescentes da
pré-limpeza e as produzidas pelo sistema de secagem. Esta operação consta de uma
separação rigorosa de todos os materiais indesejáveis, como sementes ou grãos de
outras espécies (cultivadas ou silvestres), sementes defeituosas e imaturas, sementes ou
grãos quebrados etc.
Na operação de limpeza, usa-se, normalmente, a máquina de ventilador e
peneira, que, dependendo do rigor de separação, pode possuir várias peneiras e mais de
um ventilador. Estas máquinas são consideradas primordiais em toda Unidade de
Beneficiamento de Sementes (UBS).

Clique para ver: vídeo 1

3.5. Separação e Classificação


A separação auxilia e complementa o processo de limpeza. Nos casos em que as
máquinas de ventilador e peneiras não conseguem realizar plenamente as operações de
limpeza e separação, deve-se utilizar outras máquinas que realizem essas operações,

332 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

com base em outras características físicas.


No caso específico de sementes, algumas operações, como o tratamento químico
e o plantio, exigem uniformidade em forma e tamanho, para maior eficiência. Para isso,
é necessário que se faça uma rigorosa operação de classificação quanto às características
desejadas da semente. A operação de classificação é feita por máquinas separadoras,
como as de peneiras, de cilindro, de disco e outras, descritas anteriormente.

3.6. Tratamento
Essas operações consistem na aplicação de produtos químicos em formas
líquida, suspensão ou pó, visando proteger as sementes contra o ataque de fungos e
insetos. No caso em que o uso de um equipamento comercial não seja viável, pode-se
utilizar um tratador simples, que pode ser feito na própria fazenda (Figura 10). Esses
equipamentos produzem resultados aceitáveis, porém não permitem controle ideal da
dosagem e, se não forem operados com cuidado, podem provocar danos às sementes.
Usando tanto o tratador caseiro como o comercial, deve-se cuidar para que a aplicação
do produto seja o mais uniforme possível. Além disso, nunca se deve deixar que as
sementes tratadas fiquem sem identificação, a qual é feita pela aplicação de um corante,
para diferenciar das sementes não-tratadas. Uma identificação indicando que o produto
é prejudicial à saúde deve ser bem posicionada na embalagem.

Figura 10 – Tratador simples para sementes.

3.7. Transportadores e Acessórios


Durante todas as etapas do beneficiamento, grãos e sementes são movimentados
através de muitos componentes da UBS. Como as sementes não podem sofrer qualquer
tipo de danos mecânicos, cuidado especial deve ser dado à escolha, ao manejo e à
limpeza dos transportadores. Dentre os tipos de transportadores, já estudados no
capítulo 12 – Manuseio de Grãos, deve-se evitar o uso das roscas-sem-fim e dos
transportadores pneumáticos no transporte de sementes.
Além das máquinas de benefício e dos transportadores, que devem ser bem
selecionados e operados, a unidade deve ser provida de moegas, balanças, depósitos,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 333


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

ensacadeiras, embaladoras, aspiradores de pó, carregadeiras e um laboratório para


análise de sementes.

4. PLANEJAMENTO DE UMA UBS

Vários são os aspectos a serem considerados no planejamento de uma Unidade


de Beneficiamento de Sementes. O esquema básico de uma unidade deve ser
cuidadosamente estudado, a fim de assegurar que todos os pontos essenciais vistos no
tópico 3 (Etapas do beneficiamento) sejam plenamente atendidos. O projeto deve,
também, ser eficiente do ponto de vista econômico, ou seja, a operação do
beneficiamento não deve ser um componente que onere em demasia o custo final do
produto.
Muitas UBSs, além de não possuírem um quadro de pessoal com treinamento
adequado, são construídas sem planejamento, resultando em ineficiência de operação.
Portanto, é primordial providenciar que as cabeças dos elevadores fiquem bem cobertas;
que os poços de elevadores sejam amplos, para facilitar a manutenção e limpeza; que as
máquinas não sejam alimentadas diretamente pelo elevador; e que haja distribuição
adequada de máquinas no piso. Finalmente, deve-se planejar, para uma boa flexibilidade
de operações e para facilidade de limpeza e inspeção dos equipamentos.
Na seleção e aquisição dos componentes, deve-se dar preferência a marcas de
reconhecida qualidade, que possam prestar eficiente assistência técnica e treinamento
adequado ao corpo de operadores.

5. CONTROLE DE QUALIDADE E CLASSIFICAÇÃO

Os grãos e as sementes devem ser acondicionados e armazenados em condições


que mantenham sua qualidade para a comercialização e o plantio da lavoura
subseqüente. A manutenção da boa qualidade dos produtos primários refletirá em maior
rendimento para o agricultor e menor preço ao consumidor.
Mesmo sob as melhores condições de armazenamento, a qualidade dos produtos
agrícolas, exceto para o caso das sementes, que podem ser selecionadas e separadas de
maneira econômica, não pode ser melhorada, mas apenas mantida. A velocidade das
transformações degenerativas depende das condições sob as quais o produto foi
submetido no campo, antes e durante a colheita, na secagem e no beneficiamento.

6. QUALIDADE DOS PRODUTOS

As qualidades físico-fisiológicas caracterizam-se pela possibilidade de


manutenção das propriedades físico-químicas e pela capacidade das sementes de
desempenhar funções vitais, como manter elevado poder germinativo, vigor e
longevidade para a comercialização. Os grãos e sementes atingem a máxima qualidade e
o máximo conteúdo de matéria seca (ponto de maturidade fisiológica) quando ainda
estão retidos na planta. Normalmente, a avaliação da qualidade de grãos ou sementes é
realizada por meio do teste-padrão de germinação, por testes de vigor, como o do

334 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

envelhecimento precoce, por teste de viabilidade por sais de tetrazólio e por meio de
características como: umidade, tamanho, cor, forma e quaisquer outras características
externas. Os grãos, por sua vez, são comercializados com base em padrões nacionais e
internacionais de classificação. Para que se possa melhor entender os aspectos de
qualidade dos produtos agrícolas, é necessário, primeiramente, reconhecer alguns
pontos básicos, como:

a) Maturidade fisiológica: o ponto de maturidade fisiológica é considerado o


período em que a semente apresenta a máxima qualidade. Em termos
fisiológicos, de modo geral, corresponde ao acúmulo máximo de matéria-
seca, máximo de germinação e máximo de vigor. Contudo, neste período, a
colheita e a trilha mecânica são inviabilizadas, devido ao fato de o grão ou
semente apresentarem alto teor de umidade. Assim, é necessário retardar a
colheita, deixando o produto sujeito, em alguns casos, a condições climáticas
adversas, que facilita o ataque de microrganismo, dando início ao processo
deterioração.
b) Deterioração: inclui toda e qualquer transformação degenerativa irreversível
do produto, depois de atingido o nível de qualidade máxima. Apesar de se
poder retardá-la, a deterioração é um processo inevitável e irreversível, que é
mínimo no período de maturação, mas que evolui com o tempo e as
condições de armazenagem. A taxa de deterioração pode ser controlada, até
certo ponto, pelo emprego de técnicas adequadas de produção, colheita,
secagem, beneficiamento, embalagem, armazenamento e manuseio.
c) Longevidade: é o período de tempo em que a semente permanece viável isto
é, capaz de germinar e produzir nova planta. As espécies cultivadas
apresentam variação natural quanto à longevidade das sementes. Assim,
sementes mais longevas podem manter, por mais tempo, tanto o poder
germinativo quanto um vigor aceitável. Dessa forma, sementes ou grãos de
espécies resistentes e que não sofreram nenhum tipo de danos irão conservar
a qualidade por um longo período de armazenamento. Também, lotes de
sementes com melhor qualidade inicial terão melhores condições de
armazenagem e maior resistência ao processo de deterioração.

A porcentagem de germinação, apesar de não estar listada nos padrões para a


classificação de grãos para a indústria, é um ótimo indicador de qualidade. Grãos que
sofreram secagem inadequada dificilmente manterão alta porcentagem de germinação,
pois esse fator é o primeiro a sofrer com qualquer operação pós-colheita inadequada.
Detalhes sobre fatores que favorecem a deterioração de grãos e sementes podem ser
vistos nos capítulos 4, 5 e 14.

6.1. Teste de Envelhecimento Precoce


A premissa básica do teste de envelhecimento precoce é de que o processo de
deterioração nas condições do teste é similar àquele que ocorre em condições normais
de armazenamento, porém com velocidade de deterioração muito aumentada. O teste
consiste basicamente em submeter pequenas amostras dos lotes de sementes, a serem

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 335


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

comparados, às condições adversas de temperaturas e umidades relativas elevadas, por


um período de tempo determinado, e, a seguir, submetê-las a teste comum de
germinação. As temperaturas, as umidades relativas e o tempo de exposição a essas
condições são variáveis e dependem das espécies que estão sendo avaliadas.

6.2. Fatores que Afetam a Qualidade


Desde a maturação das sementes, ocorrida no campo, os processos de
deterioração tornam-se ativos e inicia-se a perda de qualidade. O armazenamento visa
preservar essa qualidade para a posterior comercialização. Entre os fatores que afetam a
qualidade dos produtos armazenados encontram-se: longevidade, qualidade inicial, teor
de umidade, suscetibilidade a danos mecânicos, danos térmicos, condições de
armazenamento, ataque de fungos, insetos e roedores. Dentre estes fatores, merecem
atenção os danos mecânicos sofridos pelos produtos agrícolas durante seu
processamento e armazenamento.
Pelo fato de a colheita manual em grande escala não ser viável nem prática nem
economicamente, todas as fases a partir da produção até o armazenamento são
mecanizadas, o que possibilita a ocorrência de danos mecânicos ao produto. Os
equipamentos, mesmo quando perfeitamente regulados, provocam danos durante a
operação de colheita, debulha e beneficiamento. Se forem colhidos muito secos, podem
sofrer quebras, e, se muito úmidos, estão sujeitos aos danos por esmagamento. Toda vez
que passar por elevadores, por transportadores e por máquinas de beneficiamento, o
produto sofrerá quedas, impactos e abrasões, que causam lesões externas e internas,
altamente prejudiciais às sementes.
Outro fator importante refere-se à danificação térmica sofrida pelos produtos na
secagem. Como já mostrado anteriormente, temperaturas elevadas causam, dentre
outros danos, redução na germinação e no vigor. Trincamentos internos são freqüentes,
devido a choques térmicos (resfriamento rápido).
Temperaturas elevadas durante a secagem podem induzir transformações
bioquímicas, como oxidação de lipídeos e desnaturação de proteínas.

7. PADRONIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

Considerada um importante serviço auxiliar à comercialização de produtos


agrícolas, a classificação de grãos é uma prática obrigatória em todos os segmentos do
mercado interno.
Entende-se por classificação o ato de determinar a qualidade de um produto,
mediante análises específicas e por comparação entre a amostra analisada e os padrões
oficiais. Nesse contexto, a qualidade deve ser entendida como o atendimento das
necessidades ou aspirações do usuário, seja ele uma pessoa física ou uma empresa.
A padronização e a classificação dos produtos vegetais são imprescindíveis à
comercialização e apresentam as seguintes vantagens:
a) Possibilitam a seleção de produtos para diferentes usos, em função da
qualidade, e com conseqüente diferenciação de preços, aumentando a
eficiência no seu manuseio, nas diversas etapas da comercialização.
b) Facilitam a fixação de preços nas operações de financiamento.

336 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

c) Facilitam a rápida comparação de preços dos produtos em diferentes


mercados.
d) Possibilitam a comercialização sem o exame prévio do produto.
e) Facilitam a realização de negócios nas bolsas para entregas imediatas ou
futuras.
f) Evitam a comercialização de produtos inadequados ao consumo.

A competência para normatizar, coordenar e fiscalizar a atividade de


classificação e padronização em todos os seus níveis cabe ao Ministério da Agricultura,
que poderá celebrar convênios com os estados, os territórios, o Distrito Federal e com
outras entidades públicas ou privadas, para a execução dos serviços de classificação.
As normas legais pertinentes à classificação devem ser cumpridas por todas as
pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que por conta própria ou
como intermediárias participem em qualquer uma ou mais etapas da cadeia “produção-
distribuição” de produtos naturais ou industrializados.
Dessa forma, são considerados usuários ou clientes do Sistema de Classificação:
cooperativas, agroindústrias, cerealistas, empacotadores, beneficiadores,
armazenadores, supermercados e empresas públicas e as companhias estatais de
armazéns gerais.

7.1. Elaboração dos Padrões


Para que a classificação seja possível, faz-se necessária a elaboração prévia do
padrão físico e descritivo de cada produto.
Sob o ponto de vista das atividades inerentes à classificação vegetal, e quando
examinado sob o ângulo da comercialização, o termo padrão deverá ser entendido como
o modelo oficial representativo das características de um produto, que servirá de base
para a sua classificação comercial.
Nas normas de padronização de cada produto constam os parâmetros
qualitativos, representados pelos defeitos, e os quantitativos, representados pelos níveis
de tolerância desses defeitos e que são expressos em valores percentuais.
Os padrões dos diversos produtos são previamente determinados, mas não são
definitivos. Mediante portarias específicas do Ministério da Agricultura, os padrões
poderão sofrer alterações e revisões, de forma a adequá-los às evoluções tecnológicas
do setor agrícola, ou mesmo às preferências do consumidor, aos hábitos culturais e aos
processos de utilização nas diferentes regiões do País.
As normas de padronização são válidas e devem ser adotadas em todo o
território nacional, independentemente do local onde o produto seja classificado, e a
competência para instituir e aprovar as normas e os padrões de comercialização de
produtos vegetais destinados ao comércio interno é exclusiva do Ministério da
Agricultura. Já para os produtos destinados à exportação, compete à Secretaria de
Comércio Exterior a responsabilidade de elaborar tais padrões.
Nas normas de padronização e classificação de cada produto constam desde o
procedimento a ser adotado na amostragem até as especificações que irão permitir a
caracterização e tipificação do produto.
A elaboração dessas normas requer algumas condições básicas, de forma a

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 337


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

conferir à padronização o máximo de racionalidade e facilidade de compreensão das


especificações. As condições para a elaboração de tais normas incluem:
a) Os padrões devem abranger a maior parte das safras, evitando grandes faixas
desclassificadas, ou outras classificadas injustamente.
b) A maior porcentagem das safras deverá recair no tipo médio da série de
padrões.
c) Os padrões devem ser fixados com características que o consumidor
considere importante.
d) As diferenças entre os tipos, na série de padrões, devem ser perceptíveis ao
usuário.
e) Os fatores que determinam os tipos devem ser interpretáveis e passíveis de
medição precisa.
f) A terminologia usada deve ser, tanto quanto possível, exata e compreensível
pelos produtores e consumidores.

Dessa forma, os termos e critérios técnicos empregados nas especificações dos


padrões dos diversos produtos podem ser assim definidos:
a) Grupo: refere-se à forma de apresentação para produtos como o amendoim e
o arroz, que podem ser enquadrados como "em casca" ou "beneficiado". Para
o milho, o grupo significa a consistência do grão, cujos grupos são "duro",
"semiduro" e "mole"; e, para o feijão, determina-se o grupo de acordo com a
espécie botânica, sendo o produto da espécie Phaseolus vulgaris L.
enquadrado no grupo "anão" e o da espécie Vigna unguiculata (L) Walp no
grupo "de corda".
b) Subgrupo: especificação prevista para poucos produtos, podendo significar
a forma de preparo, quando se tratar de arroz, cujos subgrupos são: natural,
parboilizado, integral e polido; ou indicar o método utilizado para
determinação do comprimento de fibra, quando se tratar de algodão, que
prevê os subgrupos comerciais e extensão.
c) Classe: identifica o produto de acordo com os seguintes aspectos:
- cor: refere-se geralmente à coloração da película para produtos como
milho, sorgo e feijão. Na classificação de algumas frutas, a cor pode
referir-se à casca, no caso do abacate, ou à polpa, no caso do abacaxi.
- tamanho, forma ou peso: estes fatores podem ser considerados
separadamente ou agrupados, dependendo do produto analisado. Para
o amendoim consideram-se o tamanho e o peso. Para o arroz, a forma
(largura e espessura) e o tamanho dos grãos irão definir se o produto
é longo fino, longo, médio ou curto. O algodão, em pluma ou em
caroço, será enquadrado em classes de acordo com o comprimento da
fibra.
d) Umidade: é o percentual de água encontrado na amostra em seu estado
original. É determinada em estufa à temperatura de cem a cento e dez graus
centígrados até peso constante, ou em aparelhos que dêem resultado similar.
e) Tipo: refere-se à qualidade do produto, podendo ser representado por
números ou letras. Na tipificação final do produto classificado, poderão ser

338 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

encontrados, ainda, os seguintes termos:


- abaixo do padrão: refere-se ao produto que, pelas suas
características, não se enquadra nas tolerâncias mínimas estabelecidas
pelas normas de padronização; e
- desclassificado: refere-se ao produto que, devido a condições
inadequadas de transporte, armazenagem ou manuseio, se apresentar
com características atípicas quanto ao aspecto físico-químico, sendo
proibida a sua comercialização para consumo humano e animal.
f) Defeitos: são consideradas defeitos quaisquer alterações de coloração, peso ou
forma do grão, que resultem ou não em processos bioquímicos de fácil
disseminação na massa do produto e que, de alguma forma, comprometam a sua
conservação. Os principais tipos de defeitos descritos nas normas de
padronização estão relacionados a seguir:
- grãos ardidos: são grãos ou pedaços de grãos que se apresentarem
com coloração escura, proveniente do processo de fermentação, com
alteração da casca e da parte interna;
- grãos pretos: grãos ou pedaços de grãos que se apresentarem
totalmente enegrecidos por ação do calor ou da umidade;
- grãos mofados: grãos ou pedaços de grãos que apresentarem sinais
visíveis de fungo (bolor);
- grãos carunchados: grãos ou pedaços de grãos que se apresentarem
prejudicados por carunchos;
- grãos manchados: grãos que apresentarem qualquer tipo de mancha
na película de revestimento sem, contudo, afetar a polpa;
- grãos descoloridos: grãos que apresentarem alteração na cor original
do produto; e
- grãos quebrados: pedaços de grãos sadios, inclusive cotilédones,
que ficarem retidos na peneira específica de cada produto.
g) Matéria estranha: é todo e qualquer detrito estranho ao produto, como grãos
ou sementes de outras espécies vegetais, sujidades e restos de insetos.
h) Impurezas: são fragmentos de grãos ou de partes da planta, como cascas,
folhas e talos.
i) Renda do benefício: é definida para classificação do arroz em casca e
corresponde ao percentual de arroz beneficiado resultante do benefício do
arroz em casca.
j) Rendimento do grão: é o percentual de grãos inteiros e de grãos quebrados,
resultante do benefício do grão.
k) Peso hectolítrico (PH): é a relação peso/volume (peso relativo ao volume de
100 litros de trigo) que revela a aptidão do trigo para utilização industrial
(veja capítulo 2 - Estrutura, Composição e Propriedades dos Grãos).

7.2. Certificado de Classificação


A classificação de um produto agrícola é atestada mediante a emissão do
Certificado de Classificação, que se constitui em documento hábil para todas as

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 339


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

transações comerciais, endossável no seu prazo de validade e aceito em todo o território


nacional.
Alguns segmentos do setor produtivo vêm realizando esforços em órgãos
competentes, no sentido de suprimir a validade do certificado de classificação,
transferindo ao interessado, comprador ou vendedor, a opção de exigir o certificado
recente ou aceitar o certificado emitido na época de depósito do produto na unidade
armazenadora.
O certificado de classificação somente será válido se emitido pelo órgão
conveniado com Ministério da Agricultura, em cada estado. Não poderá conter emendas
ou rasuras e deverá ser assinado por um classificador devidamente registrado no
Ministério da Agricultura.

7.3. Operacionalização da Classificação


A classificação inicia-se com a coleta de amostra, que é de total responsabilidade
do classificador (vide capítulo 4 – Qualidade dos Grãos), para coleta, manuseio e
determinação de umidade de amostras.
O lote objeto da classificação deve estar marcado e identificado, para permitir a
checagem entre o certificado emitido e o produto disponível no momento da
comercialização.
Ao comparecer ao local da amostragem, o classificador poderá se recusar a
retirar amostras quando constatar as seguintes condições:
- produto contaminado com doenças ou pragas que constituam ameaça
à produção agrícola nacional e que tenha sua comercialização
proibida pela defesa sanitária vegetal e destinar ou transitar por
região indene (livre da doença ou da praga); e
- produto infestado por insetos vivos.

A amostra destinada à análise deverá ser homogeneizada e dividida, com o


auxílio do homogeneizador ou manualmente, sobre uma superfície limpa e seca, para
obtenção da amostra de trabalho.
O tamanho da amostra destinada à determinação do teor de umidade será
definido em função do método e equipamento no local de classificação.
Para a caracterização dos defeitos e dos demais parâmetros, como grupo, classe e
subclasse, o tamanho da amostra é definido pelas normas oficiais de classificação.

8. LITERATURA CONSULTADA

1. BRANDÃO, F. A padronização de produtos agrícolas, Belo Horizonte-MG, 26p.


2. BRASIL, Ministério da Agricultura, SNAB/SESAC, Manual de classificação e
fiscalização de produtos de origem vegetal, Brasília-DF.
3. BROOKER, D.B.; BAKKER-ARKEMA, F.W. & HALL, C.W. Drying cereal
grains. Westport, The AVI Publishing Co., Inc., 1974. 265p.
4. COMPANHIA ESTADUAL DE SILOS E ARMAZÉNS. Grãos: beneficiamento

340 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 13 Beneficiamento de Grãos

e armazenagem. Porto Alegre, Livraria Sulina Editora, 1974. 148p.


5. COPELAND, L.O. Principles of seed science and technology. Minneapolis,
Burgess Publishing Company, 1976. 369p.
6. INSTITUTO MINEIRO DE AGROPECUÁRIA. Manual do Serviço de
Padronização e Classificação Vegetal. Belo Horizonte, DPV/SPCV, 1993.
7. KRZYZANOWSKI, F.C. Planejamento e operação de UBS. Viçosa,
CENTREINAR. 75 p.
8. POPINIGIS, F. Fisiologia da semente. Brasília, AGIPLAN, 1985. 289p.
9. PUZZI, D. Abastecimento e armazenagem de grãos. Campinas, Instituto
Campineiro de Ensino Agrícola, 1986. 603p.
10. SILVA, J.S.; DONZELES, S.M. & AFONSO, A.D.L. Qualidade dos grãos. Viçosa,
Engenharia na Agricultura, 2(6): 01-29, 1992. (Caderno Didático).
11. VAUGHAN, C.E.; GREGG, B.R. & DELOUCHE, J.C. Beneficiamento e
manuseio de sementes. Brasília, AGIPLAN, 1976. 195p.
12. WELCH, G.B. Beneficiamento de sementes no Brasil. 2a ed. Brasília, AGIPLAN,
1974. 205p.
13. WORMSBECKER, A. Beneficiamento de sementes. Viçosa, CENTREINAR.
33p.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 341


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

Capítulo

14
ESTRUTURAS PARA ARMAZENAGEM DE GRÃOS

Juarez de Sousa e Silva


Adílio Flauzino de Lacerda Filho
Roberta Martins Nogueira
Ricardo Caetano Rezende

1. INTRODUÇÃO

Em países como França, Argentina e Estados Unidos, a capacidade estática de


armazenagem nas fazendas varia de 30 a 60% das suas safras. No Brasil, estima-se que
esta capacidade corresponda a 3,5% da produção total de grãos. Contribuem para este
baixo índice o fator econômico, a pouca difusão da tecnologia gerada e/ou adaptada e a
falta de planejamento global da estrutura armazenadora.
Nos países citados, a seqüência do sistema de armazenagem tem origem na
fazenda e evolui para os sistemas coletores, intermediários e terminais. No Brasil ocorre
o contrário, considerando que a estrutura de armazenagem evolui dos sistemas coletores
para os intermediários e terminais, geralmente representados pelas cooperativas,
resultando numa atividade tipicamente urbana.
O armazenamento na fazenda constitui prática de suma importância tanto para
complemento da estrutura armazenadora urbana quanto para minimizar perdas quanti-
qualitativas a que estão sujeitos os produtos colhidos. Sabe-se que, no Brasil,
dependendo da região, as perdas podem atingir 30% ou mais e são ocasionadas pelo
ataque de pragas, devido à inadequação de instalações e à falta de conhecimentos
técnicos adequados.
As primeiras referências oficiais sobre armazenagem nas fazendas datam de
1900, o que evidencia a preocupação brasileira com o problema, que persiste até o
momento. Mesmo com a instituição do Programa Nacional de Armazenagem -
PRONAZEM, em 1975, disponibilizando linhas de crédito com a finalidade de
ampliação da capacidade armazenadora brasileira, nos diversos níveis, o
armazenamento na fazenda não teve aumento significativo. Grande parte dos grãos
retidos nas fazendas tem a finalidade, quase exclusiva, de subsistência, sendo
comumente armazenada em paióis ou depósitos precários, sujeita a todo tipo de
deterioração.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 343


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

No Brasil, as propriedades agrícolas apresentam inúmeras diferenças entre si, no


desenvolvimento tecnológico, na área, na produtividade, na produção e diversidade de
produtos e na quantidade ou fração dessa produção que é retida na fazenda. Estas
variáveis mostram a necessidade de estudos preliminares para se definir o tipo de
unidade armazenadora adequada às diferentes características apresentadas.
Uma unidade armazenadora tecnicamente projetada e convenientemente
localizada constitui uma das soluções para tornar o sistema produtivo mais econômico.
Além de propiciar a comercialização da produção em períodos adequados à
maximização de preços, evitando as pressões naturais do mercado na época da colheita,
a retenção de produtos na propriedade, quando bem conduzida, apresenta inúmeras
vantagens, como:
- minimização das perdas quantitativas e qualitativas que ocorrem no campo;
- economia em transporte, uma vez que o frete tem preço majorado no "pique de safra";
- custo de transporte reduzido pela eliminação de impurezas e do excesso de umidade;
- maior rendimento na colheita, por evitar a espera dos caminhões nas filas nas unidades
coletoras ou intermediárias; e
- possibilidade de obtenção de financiamento através de linhas de crédito próprias para a
pré-comercialização (EGF e AGF).

2. CARACTERIZAÇÃO DE UNIDADES ARMAZENADORAS

A definição das características técnicas e a localização de uma unidade


armazenadora estão relacionadas à sua área de influência. No caso específico de
unidades na fazenda, a caracterização da área se faz pelo levantamento da área plantada,
da produtividade, dos tipos de produtos, do tempo de armazenagem, das condições de
transporte em diferentes épocas do ano, do nível de desenvolvimento tecnológico da
propriedade e da capacidade de adoção de novas tecnologias pelo proprietário.
Esses fatores, além de úteis para a definição das características da unidade
armazenadora, têm importância sobre o treinamento que o agricultor deve receber. No
entanto, independentemente do padrão tecnológico da unidade, ela deverá apresentar
condições básicas para a manutenção das qualidades desejáveis ao produto e ser
economicamente viável. Assim, uma unidade, na fazenda, deverá ser simples e
projetada conforme os princípios e os conceitos básicos de armazenagem.
A granelização consiste na conversão das estruturas construídas para armazenar
em sacaria, em estruturas para armazenagem a granel. Pode contribuir para elevar o
percentual de armazenagem na fazenda, devido ao número de armazéns convencionais
já existentes. Por terem o fundo plano, os equipamentos utilizados para a descarga são
adaptados às características do fundo, dificultando a operação de descarga. Em
comparação à armazenagem convencional (em sacos), a granelização apresenta algumas
vantagens, como:
- redução do custo de operação devido à eliminação de sacaria;
- maior facilidade na operação de controle de pragas; e
- manuseio facilitado e menor uso de mão-de-obra.

344 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

2.1. Unidades para Armazenagem a Granel

2.1.1. Silos
São células individualizadas, construídas de chapas metálicas, de concreto ou de
alvenaria. Geralmente possuem forma cilíndrica, podendo ou não ser equipadas com
sistema de aeração. Estas células apresentam condições necessárias à preservação da
qualidade do produto, durante longos períodos de armazenagem. Quando os silos são
agrupados em uma unidade de recebimento e processamento, são denominados
"bateria". A disposição física de uma "bateria" deve permitir ampliação da capacidade
estática, com baixo custo adicional.
Os silos podem ser classificados em horizontais e verticais, dependendo da
relação que apresentam entre a altura e o diâmetro. Os verticais, se forem cilíndricos,
podem, para facilitar a descarga, possuir o fundo em forma de cone. De acordo com sua
posição em relação ao nível do solo, classificam-se em elevados ou semi-enterrados. Os
silos horizontais apresentam as dimensões da base maior que a altura e, comparados aos
verticais, exigem menor investimento por tonelada armazenada.

2.1.2. Armazéns "graneleiros"


São unidades armazenadoras horizontais, de grande capacidade, formados por
um ou vários septos, que apresentam predominância do comprimento sobre a largura.
Por suas características e simplicidade de construção, na maioria dos casos, representa
menor investimento que o silo, para a mesma capacidade de estocagem. Como os silos
horizontais, os graneleiros apresentam o fundo plano, em V ou septado. Essas unidades
armazenadoras são instaladas ao nível do solo ou semi-enterradas.

2.1.3. Unidades de armazenagem para sacaria


a) Galpões ou depósitos: são unidades armazenadoras adaptadas de construções
projetadas para outras finalidades; por isso não apresentam características
técnicas necessárias à armazenagem segura e são utilizadas, em caráter de
emergência, durante períodos curtos. Esses depósitos recebem a denominação de
paiol, quando construídos por ripas de madeira, espaçadas entre si, o que
favorece, muito, a aeração natural do produto. Apesar de diversas desvantagens,
o paiol é muito difundido, principalmente pela facilidade de construção e pelo
emprego de recursos da fazenda. A maior desvantagem é a dificuldade de se
fazer um eficiente controle de pragas.

b) Armazéns convencionais: são de fundo plano, de compartimento único, onde


os produtos são armazenados em blocos individualizados, segundo a sua origem
e suas características. São construídos geralmente em alvenaria, estruturas
metálicas ou mistas e apresentam características técnicas necessárias à boa
armazenagem, como ventilação, impermeabilização do piso, iluminação, pé-
direito adequado e cobertura.
Uma derivação, de natureza emergencial, do armazém convencional são
os armazéns estruturais, muito empregados em fronteiras agrícolas. São
sustentados por estruturas metálicas ou de madeira, cobertos e revestidos por

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 345


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

chapas metálicas ou por polipropileno. São mais resistentes que os infláveis e


afeta menos o produto devido às condições de ventilação do primeiro. Podem ter
o piso construído de terra batida ou de concreto. Prestam-se à armazenagem de
produtos ensacados, durante pequeno período.

2.2. Armazenagem a Granel na Fazenda


Uma unidade armazenadora de cereais deve satisfazer a finalidade precípua de
armazenar o produto por determinado período e manter suas qualidades desejáveis para
utilização futura. Para maior aprofundamento no presente tópico, sugere-se ao leitor
uma consulta aos capítulos 4, 5, 10 e 11, onde são apresentados os parâmetros
necessários à orientação para a escolha e o manejo de unidades armazenadoras
destinadas, principalmente, aos criadores de pequenos animais e aos agricultores que
colhem e/ou adquirem milho no período da safra e o utilizam durante o ano.
Cada futuro usuário poderá, uma vez escolhido o tipo de unidade, dotá-la de
acessórios diversos com o objetivo de adequá-la às necessidades e condições
específicas. O objetivo final é obter uma estrutura suficientemente resistente para
suportar o material armazenado, protegê-lo de intempéries, permitir o controle da
temperatura e da umidade dos grãos e o controle de insetos, roedores e pássaros e que
seja de fácil operação, com possibilidade de ampliação futura, e que seja econômica.
Apesar de pouco comum em propriedades de agricultura familiar, a
armazenagem a granel é um procedimento que vem sendo adotado por produtores com
avançado nível tecnológico. Algumas empresas com grande mercado de café com
características uniformes vem, também, adotando o sistema .
Para se ter uma unidade armazenadora a granel de boa qualidade, é necessário a
adaptação de ventilação e sistema de termometria, a fim de possibilitar a manutenção do
produto em condições ideais de temperatura e umidade.
Para o caso especial do café, uma das objeções ao seu armazenamento a granel é
a dificuldade de realizar inventários ou quantificar a quantidade de produto estocado.
Qualquer pequena variação na densidade aparente do produto pode causar grande erro
na avaliação do estoque. Esse fato não se verifica quando o produto é armazenado em
sacos que permitem a contagem individual. A importância de se realizar avaliação do
estoque reside no alto valor do saco de café, que é, em geral, quinze vezes maior que o
mesmo peso do milho.
Silos de tamanhos compatíveis com a capacidade de produção de grande parte
dos produtores rurais são facilmente encontrados no mercado brasileiro (Figura 1).
Entretanto, devido aos custos relativamente elevados e da dificuldade de financiamento
para maioria dos pequenos agricultores, eles não têm sido utilizado. Para atender essa
classe de produtores, será mostrado a seguir, a possibilidade de construção de alguns
modelos que podem ser construídos na própria fazenda.

2.2.1. Construção do silo secador-armazenador


Ao decidir pela armazenagem a granel e que a construção seja realizada na
fazenda, um passo muito importante é a escolha do local. Diferentemente dos silos
metálicos, comerciais, que podem ser deslocados com certa facilidade, os modelos que
seguem, são estruturas permanentes. Portanto, a escolha do local para construção do silo

346 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

deve ser baseada nos seguintes aspectos: ser de fácil acesso e, preferencialmente,
próximo à unidade de beneficiamento dos grãos.
Para o caso de armazenamento de café, deve-se verificar a seqüência operacional
da unidade de preparo, secagem e beneficiamento. O ideal é que o silo seja construído
sob uma área coberta, possibilitando a carga e descarga independentes das condições
climáticas, além de permitir melhor proteção do produto armazenado.
Apesar de os modelos de silos apresentados neste trabalho terem capacidade
para armazenar ao redor de 60 sacos, o agricultor poderá, segundo a necessidade da
fazenda, construir silos maiores ou vários pequenos silos, lado a lado.
Além de procurar atender a necessidade de armazenagem, o projeto deve ter por
base, uma dimensão tal que o custo por tonelada de produto armazenado seja cada vez
menor. Apesar de o custo da tonelada estocada diminuir com o tamanho do silo, vários
silos de menor capacidade individual proporcionam maior opção de manejo da safra
armazenada e, no caso do café, pode-se facilmente armazenar o produto por classes
diferenciadas.
Na impossibilidade de construir uma cobertura (Figura 2) componente altamente
importante, os silos podem ser construídos ao ar livre. No entanto, as mesmas condições
de preparo do local devem ser observadas, ou seja, o terreno deve ser plano, bem
drenado, bem limpo e arejado, evitando-se locais próximos a árvores; se o piso não for
cimentado, deve ser feita uma boa compactação, para o caso de descarga por gravidade
(Figura 3). Caso o silo seja construído diretamente sobre o solo (Figura 4), deve-se ter
maior cuidado na construção da base, que deve ser bem impermeabilizada.

Figura 1 – Silos metálicos para fazendas

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 347


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

Figura 2 – Sistema de silos secadores sob cobertura de proteção.

Figura 3 – Silo armazenador, com descarga central (modelo UFV).

Figura 4 – Silo secador-armazenador, com descarga lateral (modelo UFV).

348 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

A construção de um silo tem início com a marcação e o posicionamento do


elemento de sustentação do silo (parede para o silo com descarga central ou base
circular para o silo secador ou silo armazenador com diâmetro superior a 2,50 m) -
Figura 5.

Figura 5 – Bases dos silos: a) descarga central e b) silo secador armazenador.

Caso seja usado para secagem em combinação, o silo a ser adquirido ou


construído deve apresentar algumas características especiais, próprias de um silo
secador que não são exigidas para os silos empregados apenas para armazenagem.
No exemplo, aqui apresentado e que foi utilização para secagem combinada, em
um projeto realizado na UFV, o silo foi projetado e construído segundo as
recomendações de Silva et al. (2005).
A base do silo secador, onde se localiza a câmara plenum (Figura 6a), foi
construída em alvenaria com diâmetro interno de 2,0 m e altura de 0,30 m (a técnica é
válida para outros tamanhos de silos). Sobre a base foi montado um piso confeccionado
em chapas metálicas perfuradas n° 16, com aproximadamente 20% de perfuração,
visando à distribuição uniforme do ar de secagem.
Como o sistema de ventilação (ventilação e fundo perfurado) tem custo elevado
em comparação ao custo total do silo, aconselha-se que ele seja construído com
diâmetros maiores (entre 3,00 e 4,00 m) e com mesma altura do silo anterior. Caso
queira construir silos com ventilação com altura superior a 2,00 m, recomenda-se que o
novo projeto seja feito por um especialista. Um ventilador que forneça pelo menos 2
m3.min.de ar.m-3 de grãos deve ser adaptado ao sistema. Pode-se também adaptar um
único ventilador de maior capacidade. A fim de fornecer ar ambiente aos vários silos
para a operação de secagem ou aeração.
Para sustentação do piso (chapas metálicas), foi construído um suporte em ferro
CA50 de ½”, da altura da câmara plenum (30 cm), de modo que ficasse apoiado sobre o
piso de concreto (Figura 6b).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 349


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

(a) (b)

Figura 6 - Detalhes da base do silo secador-armazenador: (a) base-câmara plenum;


e (b) piso em chapa perfurada.

A Figura 7a mostra a instalação do piso de chapa perfurada sobre a base de


alvenaria, formando a câmara plenum. A base do silo, e piso já instalado, pode ser visto
na figura 7b.

(a) (b)

Figura 7 - Montagem da base do silo: (a) colocação do piso perfurado; e (b) piso
fixado, formando a câmara plenum

A parede do silo foi projetada de forma a reduzir os custos e facilitar sua


construção. Dessa forma, a estrutura da parede do silo foi construída com uma armação
de tela em arame n°14, que foi envolvida por uma tela do tipo viveiro. A primeira tela
deve ser de malha menor ou igual a 50 mm (Figura 8). Essa tela de aço foi amarrada
com arame no piso perfurado e suas extremidades unidas também por fios de arame. A
tela do tipo cerca foi utilizada para conter o produto e a do tipo viveiro, para facilitar a
aplicação da argamassa.

350 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

Figura 8 - Detalhe de fixação da armação telada ao piso perfurado.

Na parte interior da armação de telas foi fixada uma lona de plástico comum,
para evitar o contato do produto com argamassa, que é usada na construção da parede
do silo (Figura 9a). Para evitar a saída de grãos por baixo da lona plástica, na armação
telada foi fixada, exteriormente, uma cinta de contenção, confeccionada em chapa
galvanizada n˚ 21 com 0,10 m de largura, na base da armação (Figura 9b).

(a) (b)

Figura 9 - Revestimento do silo secador-armazenador: (a) internamente, com lona


plástica; e (b) colocação da cinta de contenção.

Na base do silo secador, após a colocação da cinta de contenção, foi instalada a


porta de descarga (Figura 10).
À medida que o silo é carregado com o produto a secar ou armazenar, faz-se o
revestimento exterior com argamassa (Figura 11), segundo as recomendações de Silva
et al. (2005).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 351


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

(a) (b)
Figura 10 - Silo secador-armazenador: (a) colocação da porta para descarga; e (b)
enchimento.

Figura 11 - Revestimento externo do silo secador–armazenador com argamassa.

Após ser totalmente cheio, cobre-se o silo secador com o excedente da lona
plástica que revestiu o seu interior, para facilitar o acabamento da parede, sem
contaminar o produto.
Após a adição da primeira camada de produto dentro do silo, o ar ambiente já
pode e deve ser insuflado pelo ventilador (Figura 10b).
Para a construção de silos de maiores dimensões, é sugerida uma consulta do
anexo apresentado em Silva et al (2005).

2.2. Fumigação e Vedação do Silo


Completa a secagem, o silo pode servir como armazenador. Portanto, deve-se
realizar a fumigação do produto, utilizando-se pastilhas de fosfeto de alumínio
(comumente encontradas no mercado com o nome de Gastoxin). Para esta operação,
utiliza-se um cano PVC de ¾’’, com vários furos laterais com diâmetro tal que não
passem grãos e liberem o gás formado (Figura 12). O cano deve ser fechado na sua
extremidade inferior com um tampão cônico, para facilitar a sua introdução na massa de
grãos. Pela extremidade superior aberta, introduz-se o número de comprimidos ou
pastilhas de fosfina na dosagem recomendada pelo fabricante, fechando em seguida essa
extremidade.

352 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

Após aplicação das pastilhas ou comprimidos de Gastoxin, deve-se fazer a


vedação do silo amarrando a lona interna, como se fosse o fechamento de um saco
(Figura 13 a, b). O fechamento termina com a colocação de um lençol plástico, de
coloração clara, no topo do silo. Como dito anteriormente, o lençol plástico deve cobrir
parte do silo e ser bem amarrado, para evitar entrada de ar ou água, caso o silo seja
construído fora de uma área coberta (Figura 4). A Figura 14 é uma vista do silo
construído segundo a tecnologia proposta, com detalhes da porta de descarga e sistema
de ventilação.

Observação: O fosfeto de alumínio é letal também para o homem. Portanto, para a


correta e segura aplicação do Gastoxin, devem-se seguir as precauções e dosagens
recomendadas pelo fabricante, que constam no rótulo do produto.
A descarga do produto pode ser feita pela porta lateral, em se tratando do silo
secador; no caso do silo com descarga central, basta utilizar um carrrinho-de-mão ou
outro recipiente qualquer sob o dispositivo de descarga e abri-lo. Ressalta-se que,
quando o silo for descarregado por partes, o dispositivo de descarga deve ser sempre
bem vedado, para evitar, ao máximo, a entrada de ar dentro do silo.

Figura 12 – Tubo para aplicação das pastilhas ou comprimidos de Gastoxin.

(a) (b)
Figura 13 – Detalhes da aplicação da argamassa (a) e silo pronto para receber
pintura (b).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 353


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

Figura 14 - Vistas gerais do silo, mostrando ventilador e porta de descarga.

2.3. Armazenagem Convencional


Apesar dos avanços tecnológicos dos últimos anos, a maior parte dos grãos, no
Brasil, é armazenada em sacos, tecnicamente dispostos no armazém. O saco de grãos é
uma unidade que se adapta ao manuseio e ao comércio em pequena escala. Este tipo de
armazenagem possui vantagens e desvantagens, em relação aos sistemas a granel, que
deverão ser ponderadas antes de decidir por sua adoção. Como vantagens, pode-se citar:
- oferecer condições para manipular quantidades e tipos de produtos variáveis,
simultaneamente;
- permitir individualizar produtos dentro de um mesmo lote;
- em caso de deterioração localizada, existe a possibilidade de removê-la sem
o remanejamento de todo o lote; e
- menor gasto inicial com a instalação.

Como desvantagens, têm-se:


- o elevado custo da sacaria, que, inevitavelmente, é substituída, por não ser
um material permanente;
- elevado custo de movimentação, por demandar muita mão-de-obra; e
- necessita de muito espaço por tonelada estocada.

Alguns pontos relativos à construção, que influenciarão na utilização do


armazém, devem ser criteriosamente observados, quando se decide pelo uso de sistemas
em sacaria. É, portanto, indispensável:
- a instalação de portas, em números e locais tecnicamente escolhidos, de
modo a facilitar as operações de carga e de descarga;
- que as portas sejam instaladas frontalmente, isto é, no mesmo alinhamento,
em paredes opostas;
- que o pé-direito tenha altura de 6 m (seis metros);

354 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

- a construção de paredes lisas, evitando-se reentrâncias e terminando em


"meia cana" junto ao piso e nunca em ângulo reto;
- o fechamento lateral das paredes, junto ao piso e à cobertura, para evitar o
acesso de roedores, pássaros e insetos ao interior do armazém;
- a colocação de aberturas laterais de ventilação, protegidas por estruturas de
telas e com aberturas reguláveis;
- a instalação de lanternins, tecnicamente dispostos para a boa circulação de ar
natural;
- a utilização de telhas transparentes, para melhorar a iluminação natural
(mínimo de 8% da área coberta);
- que o piso seja impermeável, de concreto, e que esteja, no mínimo, 40 cm
acima do nível do solo;
- a construção, em cada porta, de marquises, para carga e descarga em dias
chuvosos;
- para o máximo de aproveitamento, a área do piso deve ser projetada em
função dos estrados, das ruas principais e secundárias; e
- instalação de sistema de prevenção e combate a incêndios.

2.3.1. Piso do armazém


As características dos materiais empregados na construção e no revestimento do
piso devem ser escolhidas com especial atenção, por envolver aspectos técnicos e
econômicos ligados, diretamente, à preservação dos produtos agrícolas ou de qualquer
outra mercadoria. O principal material empregado na construção do piso é o concreto.
Entretanto, em alguns armazéns, principalmente destinados à armazenagem de café, em
fazendas, utiliza-se o piso de madeira, cuja construção é suspensa em relação ao nível
do solo. Qualquer destes materiais apresenta vantagens e desvantagens:
a) Piso de madeira: é um revestimento de boas características no que se refere
ao isolamento de calor, podendo evitar grandes oscilações de temperatura dentro dos
armazéns. As suas principais desvantagens são:
- tem elevado custo, em relação ao concreto;
- não é impermeável; e
- tem durabilidade reduzida.
b) Piso de cimento: atualmente é o piso mais utilizado. Apresenta, sobre o piso
de madeira, a vantagem de ser mais barato e ter maior durabilidade. Não é isolante
térmico e nem impermeável. A impermeabilização deve ser feita com técnicas e
produtos apropriados. O emprego de estrados sobre o piso de concreto, além de oneroso,
é compulsório.

3. OPERAÇÕES DE ARMAZENAGEM

As operações de armazenagem compreendem as técnicas disponíveis para


otimização da ocupação de espaços e para atendimento dos requisitos administrativos.
Além dos termos técnicos mais comumente usados para retratar os espaços internos de
um armazém, que serão definidos a seguir, sugere-se ao leitor uma consulta detalhada
ao Manual do Armazenista, do Engenheiro-Agrônomo Filadelfo Brandão:

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 355


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

a) Área: é todo o espaço ocupado pelo armazém e divide-se em:


- área útil: aquela efetivamente ocupada pelo produto; e
- área inaproveitável: aquela destinada ao trânsito no interior do
armazém, ao espaço ocupado por balanças e outros equipamentos e à
recepção.
b) Divisão do armazém: a divisão de um armazém é função de sua arquitetura,
da disposição das portas, das colunas que eventualmente possam existir, das travessas
de sustentação etc. Tecnicamente, o armazém é dividido em duas partes:
- coxia: é a área interna do armazém, delimitada pela projeção
horizontal de cada uma das " águas" da cobertura sobre o piso. No
caso do armazém construído em pavilhões geminados, ele terá tantas
coxias quanto forem os planos ou "águas" da sua cobertura; e
- quadras: são as divisões das coxias. São baseadas nas colunas de
sustentação do telhado, nas travessas de sustentação e no
posicionamento das ruas longitudinais e transversais. O número de
quadras pode variar em função do tamanho e da arquitetura do
armazém.
c) Demarcação do armazém: a demarcação do armazém é a delimitação dos
espaços correspondentes à área útil e à área inaproveitável. Uma vez delimitados os
espaços correspondentes às coxias e quadras, a subdivisão destas dará o surgimento das
ruas e, ainda, o posicionamento dos lotes. As ruas são os espaços reservados para a
circulação de pessoas, equipamentos e produtos no interior do armazém. São os
corredores que separam as coxias e algumas quadras e lotes. Classificam-se em ruas
principais e secundárias. As ruas principais são permanentes e se caracterizam por
dividir longitudinalmente as coxias e por ligarem, transversalmente, as portas laterais do
armazém. As ruas secundárias não têm demarcação fixa e são localizadas em função do
melhor aproveitamento de espaços. Podem separar quadras ou lotes diferentes, dentro
da mesma quadra. Normalmente as ruas secundárias têm largura entre 0,60 e 0,80 m e
permitem a circulação mais livre de pessoas e de sacaria.
Além da distribuição dos espaços no interior do armazém e de se ter como
objetivo o atendimento da maior demanda de produto estocado, deve-se levar em
consideração os aspectos referentes à iluminação, circulação de ar etc. A título de
ilustração, são dado alguns exemplos, conforme mostram as Figuras 15, 16 e 17:

Figura 15 – Esquema de um armazém muito estreito sem delimitação de área.

356 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

Figura 16 – Esquema de um armazém muito estreito com delimitação de área.

Figura 17 – Esquema de um armazém muito largo.

- lotes: sob o ponto de vista físico, um lote é constituído por um conjunto de


mercadorias de uma mesma espécie, pertencente a um depositante. A terminologia
espécie não caracteriza o produto pela sua identificação botânica, mas sim por sua
característica física. Pode-se ter, por exemplo, dois lotes distintos de arroz, sendo um
lote de variedade distinta do outro.
- lastro: é a formação básica para a disposição dos sacos no ato do
empilhamento e é característica da pilha por representar a primeira fiada de sacos sobre
o estrado. O lastro pode ter formações de diferentes números de sacos, dependendo das
dimensões e características do armazém. Uma pilha, ou um conjunto de pilhas poderá
dar origem a um lote, e a linha de divisão de cada uma dessas pilhas recebe o nome de
corte, isto é, a divisão do lote em duas ou mais pilhas. A Figura 18 mostra a formação
de uma pilha.

Figura 18 – Formação de pilhas e blocos.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 357


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

d) Etiquetagem: a etiquetagem é a colocação, em uma pilha ou lote, de uma


etiqueta que contenha as seguintes informações completas sobre o produto: nome do
produtor, teor de umidade do produto, características dos invólucros, quantidade total de
volumes, padrão de classificação, data de entrada do produto, número da nota fiscal de
entrada, dentre outras.
e) Marcação de pilhas: a marcação consiste na identificação por escrito,
diretamente nos volumes ou nos lastros. A marcação, de preferência, deve ser feita na
altura correspondente à quinta fiada, aproximadamente a 1,0 m. Esta marcação deve
conter o número que o lote recebeu, o número de volumes do lastro e o número de
fiadas do lote, se todas as fiadas contiverem o mesmo número de sacos. Caso haja
diferença no número de sacos das fiadas, a marcação deve ser feita em cada fiada.
Para exemplificar, imagine um lote de 125 sacos, cuja pilha é formada por lastro
de 10 sacos e que, ao entrar no armazém, este lote tenha recebido a numeração 3. A sua
marca seria assim:
L3 = 10 x 12 + 5
em que
- L3 é o número de identificação do lote;
- 10 é o número de volumes de cada fiada;
- 12 é o número de fiadas; e
- 5 é o número identificativo de que a 13ª fiada só possui, apenas, cinco
volumes.

3.1. Cálculo da Capacidade de um Armazém


A capacidade de um armazém é função da área disponível do piso, bem como da
altura a que poderão ser elevadas as pilhas. Como foi visto, a área de um armazém é
dividida em duas categorias:
- área útil para a estocagem; e
- área destinada à circulação e movimentação de mercadorias.
Normalmente, nos armazéns bem projetados, admite-se um aproveitamento de
75 a 85% do total da sua área para ser ocupada com produto. Por questão de iluminação
e movimento de operadores, a altura de uma pilha deve ser de 1,0 a 1,5 m inferior à
altura do pé-direito, que, em geral, tem altura igual a 6,0 m.
A Tabela 1 que auxilia o cálculo da capacidade do armazém e foi baseada em 4,5
m de altura de pilha e 20% da área para circulação.
Como exemplo, calcule a capacidade de um armazém (20 x 40 x 6 m) para
armazenar arroz em casca.
Com essas dimensões, o armazém apresenta 800 e 640 m2 para a área total e área
útil, respectivamente. Admitindo que as pilhas terão altura de 4,5 m, a quantidade de
volumes estocados será calculada da seguinte maneira: da Tabela 1 obtém-se a
informação de que se pode armazenar 6,29 sacos em 1 m3. O volume útil do armazém é
obtido pelo produto entre a área útil e a altura da pilha. No presente caso, 2.880 m3. Se
podem ser estocados 6,29 sacos/m3, a capacidade total será de 18.115 sacos de arroz em
casca.
Outra metodologia utilizada para o cálculo da capacidade estática do armazém
está na aplicação da equação 1:

358 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

C = 1,6 x H x S eq. 1
em que
C = capacidade estática de estocagem, em sacos;
1,6 = constante, m2, já deduzidos 20% de área total e 2
sacos/m2;
H = altura do bloco em nº de fiadas; e
S = área útil do armazém em m2.

Para efeito de comparação, o problema anterior, calculado por este método,


fornece:
Dimensões do armazém:
- comprimento = 40 m;
- largura = 20 m;
- altura da pilha = 4,5 m (admitindo-se como 0,20 a espessura média de
um saco, têm-se 22,5 fiadas):

S = 20 x 40 = 800 m2
Sútil = 800 m2 x 0,8 = 640 m2
C = 1,6 x 22,5 x 640 = 23.040 sacos de arroz
Nº sacos/m2 = 23.040 / 640 = 36 sacos/m2.

A ex-CIBRAZEM, entretanto, sugere a utilização da equação 2 para o mesmo


cálculo:

C = 0,55 x V x H eq. 2
em que
C = capacidade estática do armazém, em sacos;
V = volume útil do armazém, m3; e
H = nº de sacos por m3.

TABELA 1 - Número de sacos de 60 kg por unidade de volume e de área utilizados


como base para cálculo da capacidade de armazéns (altura H = 6,0 m)

Produto Dimensão ensacado Número de Toneladas


metros sacos
a b c m3 m2 m3 m2
Arroz 0,81 0,54 0,20 8,10 36,45 0,486 2,18
Arroz Casca 0,92 0,61 0,20 6,29 28,30 0,377 1,69
Café 0,92 0,61 0,20 6,29 28,30 0,377 1,69
Trigo 0,79 0,52 0,20 8,63 38,83 0,518 2,33
Farelo Trigo 0,89 0,59 0,18 7,14 32,13 0,428 1,61
Feijão 0,82 0,54 0,20 7,89 35,91 0,478 2,15
Milho 0,80 0,53 0,20 8,36 37,62 0,502 2,26

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 359


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

4. ELABORAÇÃO DE PROJETOS

A realização de um projeto de unidades armazenadoras implica o


estabelecimento de conhecimentos técnicos e práticos que melhor utilizem recursos
disponíveis para obter o produto desejado.
Como finalidade, o projeto é o documento de análise que permite avaliar os
elementos para a tomada de decisão sobre sua execução ou sobre o apoio e a infra-
estrutura necessários para a implantação da obra.
No caso de unidades destinadas ao pré-processamento e armazenagem de grãos,
deve-se estabelecer critérios que permitam estudos técnicos, básicos e complementares,
no sentido de dar transparência aos trabalhos de análise.
O estudo técnico compreende o agrupamento adequado de elementos que
reúnem as informações necessárias para obtenção de resultados sobre tamanho,
processo de produção, localização, características de máquinas e equipamentos,
descrição de obras físicas, organização para a execução, necessidade de mão-de-obra,
cronograma de realização, dentre outras. Assim, o estudo técnico demonstrará a
viabilidade do projeto e as alternativas técnicas que melhor se ajustam aos critérios de
otimização.
O estudo básico estabelece as principais características físicas e tecnológicas do
bem ou serviço a ser prestado, em função das exigências técnicas aplicáveis ao
processamento do produto e às características de mercado ou normas técnicas,
previamente, estabelecidas.

4.1. Localização e Dimensionamento


Para a localização, deve-se levar em consideração os aspectos básicos que, sendo
analisados, tornam-se indispensáveis para a justificativa do local proposto e, ao mesmo
tempo, contribuem para a análise que permite a eliminação de outras alternativas. Os
principais parâmetros a serem considerados neste tipo de estudo são:
- o mapa geográfico do município que mostre, com clareza, o
perímetro urbano, suburbano e rural;
- local de construção;
- vias de transporte;
- área da ação do proponente;
- área de influência da unidade;
- vias de escoamento da produção; e
- modalidades de transporte.

4.1.1. Vias de escoamento e meios de transporte


Neste estudo deve-se dar atenção ao sistema de transporte, descrevendo as
ferrovias, rodovias e hidrovias, além do estado de conservação em que estas se
encontram.
Deve-se analisar as possíveis mudanças no sistema de transporte que
possibilitem futuras alterações na direção do fluxo de produção agrícola para outras
regiões, considerando a área de influência da unidade.
Deve-se avaliar o tipo de transporte, considerando a distância da unidade a ser

360 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

implantada, dos centros consumidores, dos portos e de outras unidades armazenadoras.


De modo semelhante, considerando os períodos de safra e de entressafra, deve-se
avaliar o custo de transporte do centro de produção até a unidade a ser implantada, e
desta para os centros de consumo ou exportação.

4.1.2. Estudos de mercado


Deve-se verificar quais os agentes de comercialização, suas influências e suas
formas de atuação, bem como caracterizar quanto e qual o tipo de influência que a
unidade a ser implantada exercerá sobre o município, evidenciando as quantidades
produzidas, os tipos de produtos, as quantidades a serem processadas por produto e a
possibilidade de atendimento à produção de outros municípios.

4.1.3. Infra-estrutura e aspectos agrícolas regionais


Devem ser analisados o sistema de comunicação, o fornecimento de energia, os
serviços bancários e atendimentos sociais, bem como:
- Levar em consideração os aspectos agrícolas, clima e solo,
considerando as diferentes lavouras implantadas.
- Estabelecer, com base nas características dos produtos, qual a
demanda por armazenagem a granel e por sacaria.
- Estimar, com base em pelo menos cinco anos e para cada produto, a
possibilidade de aumento da produtividade ou da produção pelo
aumento da área plantada.
- Analisar os períodos de colheita, estabelecendo o início e o final de
cada safra, com estimativas da quantidade colhida em cada mês, além
de quantificar as perdas, por produto, da colheita à armazenagem.
Avaliar as quantidades de produtos consumidas nas indústrias, como sementes,
como ração e nas propriedades rurais, quantificando os estoques existentes e o
comportamento da movimentação de estoques, em relação a outras regiões. Se possível,
compilar o saldo mensal de armazenagem, por produtos, no caso de existência de
unidades armazenadoras concorrentes.

4.2. Aspectos de Engenharia


Compreende os serviços de obras civis, eletromecânicas, arquitetônicas,
"layout", memoriais descritivos e fluxogramas.
O local de edificação deverá ser caracterizado por um levantamento topográfico
plani-altimétrico, sondagens de subsolo, observando, principalmente, a resistência deste,
o nível do lençol freático e a presença de plataformas rochosas.

4.2.1. Memoriais descritivos


Deve-se discriminar as edificações a serem realizadas, descrevendo-as quanto às
suas características de posição, forma e detalhe, dentro do projeto, assim como destacar
as obras primárias, como fosso de balanças rodoviárias ou rodo-ferroviárias, moegas de
recepção, central para processamento, fundações de silos metálicos, edificações de silos
de concreto e de graneleiros, armazéns para sacarias, e outras. São consideradas obras
complementares as instalações de escritórios, laboratórios, cabina de balança, guarita,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 361


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

oficina de manutenção, almoxarifado, sanitários, refeitórios, vias de circulação,


jardinagem etc.
Os equipamentos devem ser caracterizados de modo a não permitir ambigüidade
por parte do fornecedor. O projetista deverá ter conhecimento técnico e operacional
sobre os sistemas, de custo e de mercado, a fim de ampliar as possibilidades de análise
do referido projeto.
Para facilitar a elaboração e análise, deve-se considerar as características da
unidade e as condições nas quais o produto se encontra durante o recebimento, isto é,
sujo e úmido, limpo e úmido, sujo e seco e limpo e seco. Deve ser considerada, ainda, a
possibilidade do recebimento simultâneo de diferentes espécies, diferentes variedades
dentro da mesma espécie e diferentes teores de umidade para cada lote recebido. Estas
informações permitem estabelecer o fluxograma básico que irá caracterizar a futura
unidade, conforme o seguinte:
- pátio de amostragem;
- balança;
- moegas para recebimento;
- silos pulmões;
- equipamentos para movimentação;
- equipamentos para pré-limpeza;
- sistemas de secagem;
- equipamentos para limpeza;
- sistemas de movimentação e distribuição de produto;
- sistemas de armazenagem;
- sistemas de termometria, aeração e tratamentos fitossanitários;
- sistemas de expedição; e
- laboratórios.

4.3. Investimentos e Financiamentos


Devem ser considerados os investimentos fixos, os quais totalizam os valores
aplicados e distribuídos conforme o cronograma físico-financeiro elaborado
previamente, de acordo com os seguintes tópicos:
- construção civil;
- máquinas e equipamentos;
- instalações, montagens e fretes;
- elaboração de projetos;

Com base na quantificação e qualificação das variáveis que compõem os tópicos


anteriormente mencionados, pode-se estimar os investimentos e o retorno financeiro,
como:
a) Encargos financeiros durante o período de carência.
b) Fontes e uso do cronograma financeiro apresentado ao agente financiador,
como: parcela de recursos próprios, indicando a origem e os meios
empregados para a sua mobilização, e parcela financiada, indicando o valor
do empréstimo e o agente financiador, bem com a especificação de outros
recursos.

362 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

c) Rentabilidade e capacidade de pagamento:


- custos: indicar as estimativas de custo fixo e variável, justificando os
critérios adotados na sua elaboração, incluindo memorial de cálculo,
tabelas e tarifas utilizadas;
- receitas: especificar e quantificar as estimativas das receitas
operacionais, conforme o nível de utilização mensal e índice de
rotatividade anual; e
- definir o esquema de reembolso, apresentando fluxo de caixa, taxa de
retorno, ponto de nivelamento e outros indicadores convenientes à
análise do projeto.
d) Responsabilidade técnica, com definição de nomes e registros no CREA.

Exemplo:
Dimensionamento de uma unidade armazenadora, categoria de fazenda,
considerando os aspectos técnicos e operacionais e que foram fornecidas ao projetista as
seguintes informações:
- produto: arroz;
- tipo de processamento: grãos comerciais;
- estimativa de produção: 100.000 sacos;
- tempo efetivo de colheita: 60 dias;
- umidade média de colheita: 24% b.u.;
- recepção do produto: granel;
- tipo de armazenagem: ensacado;
- tempo de armazenagem: aproximadamente 200 dias; e
- demais condições são favoráveis ao desenvolvimento do projeto.

Solução:
Primeira etapa – estabelecimento do fluxograma operacional
A escolha e o dimensionamento dos equipamentos devem ser compatíveis com o
fluxograma operacional da unidade (Figura 19), previamente estabelecido, considerando
o seguinte:
- capacidade de colheita e de transporte do campo para a unidade;
- moega de recebimento;
- máquina para pré-limpeza;
- transportadores;
- tulhas de espera;
- secador;
- tulhas de ensaque;
- ensaque; e
- armazenagem.
Segunda etapa – cálculo do dimensionamento dos equipamentos
. produção: 100.000 sacos
. período de safra: 60 dias
. horas de trabalho por dia: 10
Número de sacos a serem colhidos por dia (equação 3):

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 363


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

N = Pt/Ps q. 3
em que
N = número de sacos colhidos por dia
Pt = produção total, sacos
Ps = período de safra, dias
N = 1.670 sacos
A capacidade horária de colheita (C) será (equação 4):

Colheita diária
C= eq. 4
Horas de trabalho diário

C = 167 sacos/hora

Figura 19 - Sugestões de um fluxograma operacional.

Terceira etapa – escolha do secador


a) Admitir a utilização de um secador, que permita a secagem em lotes ou em fluxo
contínuo, encontrado no mercado.
b) Por informações do fabricante, sabe-se que o equipamento necessita de 3,5 a 4,0
horas para carga, secagem, resfriamento e descarga.
c) Admitir três turnos de trabalho ou 20 horas efetivas de secagem.
A capacidade horária de secagem será (equação 5):

Colheita diária
CS = eq.5
Horas de secagem por dia

CS = 83,5 sacos/hora
Sabendo-se que um lote, ou carga necessita de quatro horas de secagem e que a
demanda de secagem é de 83,5 sacos/hora, a capacidade estática do secador (CE)

364 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

será dada pela equação 6:

Número de sacos
CE = ⋅ tempo de secagem eq. 6.
Horas

CE = 334 sacos
No mercado foi encontrado um equipamento com capacidade de estática igual a
330 sacos (0,08 m3/saco). Dessa forma, haverá quatro sacos excedentes, por carga, ou
20 sacos por dia.
Quarta etapa – dimensionamento da moega
Antes de proceder a este cálculo, deve-se admitir que:
- o recebimento será a granel;
- a colheita do dia será feita em 10 horas e o processamento em 20
horas, permitindo o acúmulo de produto;
- será instalada uma tulha de espera com a mesma capacidade de
secagem (334 sacos ou 26,72 m3); e
- será considerado o cronograma de recebimento conforme a Tabela 2.

TABELA 2 - Cronograma de recebimento diário de produto

Hora da colheita Sacas colhidas Sacas no Sacas na tulha Acúmulo


secador/h de espera na moega
1a. hora 167 00 h – 167 sc 00 00
2a. hora 167 01 h – 330 sc 00 04
3a. hora 167 02 h – x 171 00
4a. hora 167 03 h – x 330 08
5a. hora 167 04 h – x x 175
6a. hora 167 05 h – 330 sc 0 342
7a. hora 167 06 h – x 330 179
8a. hora 167 07 h – x x 346
9a. hora 167 08 h – x x 513
10a. hora 167 09 h – 330 sc 0 680
10 h – x 330 350
11 h – x x x
12 h – x x x
13 h – 330 sc 0 20
14 h – x 330 x
15 h – x x x
16 h – x x x
17 h – 220 sc 0 x
18 h – x 20 0
19 h – x x x
20 h – x x x
Final do processo

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 365


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

Quinta etapa – máquina de pré-limpeza


A capacidade da pré-limpeza deverá atender a capacidade de secagem e o
cronograma de recebimento. Neste exemplo, na primeira hora de recebimento a pré-
limpeza deverá produzir 330 sacos, o que equivale a aproximadamente 15 t/h (26,0 m3).
Entretanto, a capacidade efetiva da máquina dependerá do índice de impurezas que o
produto apresenta no recebimento, uma vez que o teor de umidade é conhecido.

Sexta etapa – Transportadores


Admitindo-se que serão utilizados transportadores de caçambas, a sua
capacidade deverá atender às necessidades da pré-limpeza e da secagem, isto é, devem
ter capacidade de transporte igual a 15,0 t/h.

Sétima etapa – capacidade do armazém (ver item 3.1)

5. PÓ ORIUNDO DO MANUSEIO DE GRÃOS

O pó de grãos agrícolas é produzido durante a colheita, secagem, manuseio,


armazenagem e industrialização, devido ao atrito entre grãos, entre grãos e
equipamentos, a quebras ou qualquer fonte de escarificação do produto, decorrente do
manuseio. Além das propriedades intrínsecas do pó, a ele podem estar agregadas
partículas contaminantes que podem ser prejudiciais à saúde do homem.
Os principais efeitos são notados por meio de irritações nas vias respiratórias,
através de sintomas de reações alérgicas.
Como pequenos efeitos sintomáticos pode-se relacionar:
- irritação de olhos e nariz;
- tosse e dificuldades respiratórias; e
- irritações na pele.

Entre os efeitos mais graves pode-se relacionar o aparecimento de sintomas


asmáticos, bronquites crônicas e problemas pulmonares.
As unidades de moagem de farinhas, indústrias de alimentos, maltarias e
cervejarias, terminais graneleiros, áreas de pré-limpeza e limpeza de grãos, operações de
manuseio, padarias e armazéns para sacarias ou granel, são as que expõem mais
intensamente o operador ao efeito do pó.
É importante ressaltar que, além dos problemas relacionados diretamente à saúde
do homem, por serem compostos ricos em carboidratos, são, também, excelentes
combustíveis. Portanto, na presença de faíscas elétricas, fragmentos metálicos
superaquecidos ou chamas de qualquer origem, podem propiciar condições de incêndios
ou de explosões (Figura 20).
Informações estatísticas apresentadas nos EUA revelaram que, desde o início
deste século, houve, aproximadamente, 1.085 explosões de pó de grãos nos diferentes
tipos de unidades processadoras, causando 640 mortes e 1.712 feridos, envolvendo
perdas materiais da ordem de U$ 98 milhões.
Dados norte-americanos revelaram a ocorrência de 18 explosões causadas por pó
em 1998 e 16 em 1997, sendo de 13,5 explosões a média dos últimos 10 anos. Foi

366 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

verificado que, em 18 explosões, 11 ocorreram em elevadores de caçambas, três em


sistemas de moagem, uma em indústria de milho por via úmida, uma em indústria de
massas refrigeradas, uma em usina de açúcar e uma em fábrica de aviões. As fontes
prováveis de ignição, referentes aos acidentes mencionados, foram: falta de orientação
de pessoal (3), aquecimento de metais (3), eletricidade (2), fogo, solda, pequenas
chamas (1) e fontes desconhecidas (7).
No Brasil, o incremento da produção tem aumentado o número deste tipo de
acidentes, e, em conseqüência, verifica-se maior interesse de cooperativas, indústrias e
seguradoras em quantificar, identificar a origem e estudar alternativas que minimizem
ou até eliminem as possibilidades de ocorrência de incêndio e explosões, causadas por
pó de cereais, em unidades armazenadoras.
Sabe-se que as condições climáticas de algumas regiões brasileiras são
favoráveis à ocorrência de tais acidentes. Por outro lado, é importante ressaltar a falta de
preocupação do projetista brasileiro com a seleção e localização dos equipamentos
utilizados para a movimentação, limpeza e secagem dos produtos, nas unidades de pré-
processamento de grãos.

Figura 20 – Flagrante de uma unidade armazenadora após explosão.

5.1. Origem do Pó
A manipulação e o processamento dos grãos acarretam a produção de pó, devido
a escarificação e fragmentação causadas por impacto e fricção dos grãos entre si e com
as superfícies dos equipamentos, durante a movimentação.
As indústrias de farinhas, fábricas de ração, indústrias de alimentos e unidades
de pré-processamento são as que mais produzem pó. Dentro das instalações, os
principais pontos de concentração de pó estão, normalmente, localizados em moinhos,
calhas, filtros, ciclones, silos e em vazamentos de condutos.
A quantidade de pó produzida por uma massa de grãos está relacionada à sua
constituição, às características físicas e ao estado de conservação, sendo influenciada
pela relação entre a quantidade de grãos inteiros e quebrados, presença de insetos,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 367


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

impurezas etc. Durante a movimentação, a quantidade de pó produzida em uma unidade


armazenadora pode variar entre 0,1 e 1,0% do volume de grãos processados.

5.2. Características do Pó Combustível


São partículas sólidas de materiais orgânicos, de diferentes tamanhos, atingindo
até 1000 mícrons de diâmetro. Apesar de as máquinas de limpeza removerem, pela ação
do ar, partículas de diâmetro superior a 100 mícrons, a presença de partículas de
diâmetro igual ou inferior a 200 mícrons apresenta riscos de incêndio ou explosão, se
houver condições favoráveis.
As partículas inferiores a 100 mícrons são aderentes aos grãos, durante a
operação de limpeza, podendo se desprender durante a movimentação e, por isso,
permanecer em suspensão. Estudos revelaram que, partículas inferiores a 100 mícrons
demoram mais de 24 horas para decantar até 2 centímetros e que quanto menor o seu
diâmetro, maior será a facilidade de combustão, considerando o aumento de sua
superfície específica, o que reduz a concentração mínima do pó em suspensão, bem
como a temperatura e energia de ignição. Além disso, as nuvens de pó seco podem
armazenar eletricidade estática e gerar fagulhas a partir de descargas elétricas. As
partículas de pó apresentam as seguintes propriedades:
- teor de umidade – 5 a 11% b.u.;
- carboidratos – 30 a 70%;
- proteínas – 6 a 20%;
- lipídios – 1 a 4%; e
- fibras – 7 a 15%.

5.3. Concentração de Pó
À semelhança dos gases e vapores, o pó agrícola exige limites de concentrações,
em suspensão no ar, para que possam ocorrer explosões ou incêndio. Os valores de
concentração são expressos em unidades de peso por unidade de volume e são
específicos para diferentes tamanhos, considerando que a concentração mínima
explosiva diminui com a redução do diâmetro da partícula. Outros fatores podem alterar
o índice de concentração de pó, aumentando o risco de explosão; dentre eles, pode-se
relacionar:
- a concentração de oxigênio;
- a energia da fonte de ignição;
- a turbulência da nuvem de pó; e
- o teor de pureza do pó.

A Tabela 3 relaciona as variáveis críticas, estabelecendo limites inferiores e


superiores de riscos de explosão.
O conhecimento de parâmetros relacionados à presença do pó e à possibilidade
de explosão permite a adoção de medidas preventivas, além da educação do trabalhador
para o risco de acidentes. Medidas preventivas, como o controle de concentração de pó
no ambiente, avisos com proibição de fumar, manutenção de redes elétricas, utilização
de protetores para lâmpadas e emprego de motores blindados, são básicas e
fundamentais.

368 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 14 Estruturas para Armazenagem de Grãos

Como ilustração, pode-se informar que 50 g/m3 de pó de trigo, com teor de


umidade inferior a 12% b.u., podem proporcionar explosão, caso as demais condições
apresentadas na Tabela 3 sejam satisfeitas. Como medida preventiva, adotada quando na
elaboração do projeto da unidade de processamento, pode-se citar a pulverização de
óleos neutros sobre o produto, impondo, com isso, a aderência do pó à superfície dos
grãos em processamento

TABELA 3 - Limites críticos de ocorrência de explosão de pó de grãos agrícolas

Características da partícula Limites críticos


Tamanho < 0,1 mm
Concentração 40 g/m3 – 4000 g/m3
Teor de umidade < 100 % b.u.
Concentração de oxigênio > 12 %
Energia de ignição > 10 mJ – 100 mJ
Temperatura de ignição 410 – 600 °C
.
6. LITERATURA CONSULTADA

1. BRANDÃO, F. Manual do armazenista. Viçosa M.G., UFV. Imprensa


Universitária, 1989. 269p.
2. CESA. Grãos: beneficiamento e armazenagem. Porto Alegre, Sulina. 1974. 148p.
3. CIBRAZEM. Recomendações para um programa de incentivo à armazenagem
na fazenda. Brasília, 1974. 7p.
4. CIBRAZEM. Manual de armazenamento na fazenda. Brasília, 1975. 40p.
5. CORRÊA, P.C & SILVA, J.S. Unidades armazenadoras IN: Pré-processamento
de produtos agrícolas, Juiz de Fora, Instituto Maria, 1995. 509p.
6. EMATER. Manual de armazenamento de milho. Belo Horizonte, EMATER,
1981. 64p.
7. KOSOSKI, A.R. & BITTENCOURT, P.R.L. Armazenamento de grãos. Brasília,
CIBRAZEM, 1079. 118p.
8. MERCH, R.F. & GOMES, N.K. Armazenamento de grãos, Porto Alegre,
CORAG. 1982. 104p.
9. PUZZI, D. Conservação dos grãos armazenados. São Paulo, CERES, 1973.217p.
10. PUZZI, D. Abastecimento e armazenagem de grãos. Instituto Campineiro de
Ensino Agrícola, Campinas, SP, 1980. 603p.
11. ______. Interpretation of final rule on air contaminants applicable to grain

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 369


Capítulo 4 Estruturas para Armazenagem de Grãos

dust, starch, sucrose, and particulates not otherwise regulated exposure


limits for the grain handling industry (55:52840). In __ OSHA Occupational
Safety & Health Administration, US Department of Labor. 1999. (www.osha-
slc.gov/FedReg_osha_data/FED19901224.html);
12. _____. Dust explosion. In ___ Grainnet – Breaking News, 16/04/1999.
(www.grainnet.com/BreakingNews/articles.html?ID=3555);
13. SILVA, J.S.; NOGUEIRA, R.M.; ROBERTO, C.D. Tecnologias de secagem e
armazenagem para a agricultura familiar. Viçosa-MG: Suprema Gráfica e Editora.
2005. 138p

370 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Capítulo

15
MANEJO DE PRAGAS NO ECOSSISTEMA DE GRÃOS ARMAZENADOS

Lêda Rita D`Antonino Faroni


Juarez de Sousa e Silva

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, maiores produções agrícolas, particularmente de grãos, têm


sido alcançadas como resultado do desenvolvimento e da implementação de técnicas
eficientes de produção e de proteção. No entanto, é essencial que a viabilidade dos grãos
e de outros produtos agrícolas seja solidificada pelo desenvolvimento de práticas
efetivas de armazenagem, a fim de minimizar as perdas pós-colheita. Embora não haja
dados concretos sobre perdas causadas somente por pragas em estruturas modernas e
tradicionais de armazenamento de grãos, estima-se que, em países desenvolvidos, esta
perda seja insignificante, quando comparada com valores superiores a 15% em muitos
países em desenvolvimento, onde contínuas crises econômicas e a deficiente ligação
entre o conhecimento teórico e a aplicação prática são os principais empecilhos para
colocar a perda de alimentos em níveis toleráveis, isto é, abaixo de 5%.
Com o aumento crescente da produção de grãos no Brasil, há necessidade de
haver, também, estruturas de apoio ao sistema pós-colheita, assim como medidas
eficientes de pré-processamento e armazenamento. No que se refere ao armazenamento,
muito tem sido feito no sentido de redução das perdas e conservação adequada dos
produtos agrícolas, pois quaisquer modificações na qualidade ou disponibilidade dos
alimentos são imediatamente acusadas pela população, com sérias repercussões
socioeconômicas.
Como visto em capítulos anteriores, a massa de grãos armazenada é um
ecossistema em que a deterioração é o resultado da interação entre:
a) variáveis físicas (temperatura e umidade da massa de grãos, umidade
relativa do ar intergranular, propriedades físicas da massa de grãos:
porosidade, fluidez, acamamento dos grãos, sorção e propriedades térmicas,
estrutura da unidade armazenadora e suas inter-relações e variáveis
meteorológicas);
b) variáveis químicas (disponibilidade de oxigênio no ar intergranular);
c) variáveis biológicas de fontes internas (longevidade, respiração,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 371


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

maturidade pós-colheita e germinação); e


d) variáveis biológicas de fontes externas (fungos, leveduras, bactérias,
insetos, ácaros, roedores e pássaros).
O grau de deterioração depende da taxa de aumento do efeito destas variáveis,
que, por sua vez, são afetadas pela interação da temperatura e umidade e pela inter-
relação destas variáveis com o produto e com a estrutura do armazém.
Além dos principais fatores de deterioração, serão discutidas, neste capítulo, a
prevenção e as formas de controle das principais pragas encontradas no ecossistema dos
grãos armazenados.

2. PRINCIPAIS FATORES DE DETERIORAÇÃO

2.1. Temperatura da Massa de Grãos


A temperatura inicial dos grãos armazenados, que deve estar igual ou superior à
temperatura do ar atmosférico, deve ser reduzida rapidamente para não permitir a
deterioração dos grãos, pois quando estes estão frios há menor possibilidade de que isto
ocorra. Temperaturas baixas podem compensar os efeitos de maiores teores de umidade
no desenvolvimento de microrganismos, insetos e ácaros que atacam os grãos
armazenados. É por isso que, em climas mais frios, os grãos com umidade superior em
até 1,5 ponto percentual acima da indicada para locais de clima mais quentes podem ser
armazenados com segurança. A Tabela 1 dá uma indicação das condições de
temperatura e umidade relativa para o desenvolvimento de alguns agentes biológicos de
fontes externas.

TABELA 1 - Temperatura e umidade relativa para a sobrevivência e condições ótimas


para o desenvolvimento e multiplicação de insetos, ácaros e fungos

Temperatura ºC Umidade Relativa %


Sobrevivência Ótima (média) Sobrevivência Ótima
Insetos 8 a 41 30 1 a 99 50 a 70
Ácaros 3 a 41 25 42 a 99 70 a 90
Fungos -2 a 55 30 70 a 90 80

A temperatura está entre os fatores que influenciam o processo de respiração dos


grãos. Há aumento de intensidade de respiração, proporcional ao aumento da
temperatura, que fica na dependência do teor de umidade dos grãos. Sob alto índice de
umidade, superior a 14%, a respiração aumenta rapidamente na maioria dos cereais, o
que causa a sua deterioração.
A medida da temperatura é usada como método para se detectar a deterioração
de grãos armazenados. No entanto, devido ao fato de os grãos possuírem baixa
condutividade térmica, a deterioração normalmente inicia-se em focos pequenos e
localizados, podendo afetar a temperatura de apenas uma pequena parte da massa de
grãos. Para detectar a deterioração na fase inicial, a temperatura deve ser medida no
maior número de pontos possíveis ou naqueles locais sujeitos ao acúmulo de pó e
sementes quebradas, próximo da parede e do centro do armazém e na superfície da

372 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

massa; deve-se medir, também, onde há pouca circulação de ar, como nos cantos e entre
os dutos de aeração.

2.2. Umidade
O teor de umidade do grão é uma outra variável que limita o desenvolvimento de
bactéria, actinomicetes, leveduras, fungos, ácaros e insetos, que são os principais
agentes de deterioração dos grãos armazenados. A quantidade de água livre contida em
um cereal logo depois de colhido e durante o armazenamento determina indiretamente,
na maioria dos casos, a qualidade dos grãos. Para um armazenamento seguro, são
importantes os seguintes pontos: teor de umidade abaixo de 13% inibe o crescimento da
maioria dos microrganismos e ácaros; teor de umidade abaixo de 10% limita o
desenvolvimento da maioria dos insetos de grãos armazenados; e teores de umidade na
massa de grãos não são uniformemente distribuídos, variam de estação para estação e de
uma zona climática para outra.

2.3. Estrutura do Armazém e suas Inter-relações


O desenho e a construção de unidades armazenadoras apropriadas são fatores
importantes na manutenção e melhoria da estabilidade da massa de grãos armazenados.
Para uma conservação segura, os grãos devem ser guardados secos, em local fresco, e
protegidos de água e agentes bióticos externos. A escolha do local do armazém, seu
desenho e o material usado em sua construção em grande parte determinam se certos
organismos daninhos, incluindo pássaros e roedores, serão pragas significantes.
Geralmente, exigências estruturais para estocagem de grãos poderão variar de acordo
com o clima, o tipo de colheita e as espécies de pragas dominantes de um país ou área
geográfica. As construções deverão são adequadas para a redução de infestação de
pragas, a fim de minimizarem o calor na parte superior do ambiente e maximizarem a
perda de calor e de umidade do grão para o meio ambiente (vide capítulo 13 –
Estruturas para Armazenagem).

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2.4. Disponibilidade de Oxigênio


A disponibilidade de oxigênio (ao lado do teor de umidade) é provavelmente o
fator mais importante, pois afeta o crescimento e desenvolvimento de todos os
organismos nocivos, exceto bactérias anaeróbicas. Devido ao fato de que fungos, ácaros
e todos os insetos requerem oxigênio livre para o seu desenvolvimento, os grãos podem
ser armazenados com perda mínima de qualidade, se esta variável for excluída ou
manipulada pela modificação da atmosfera (vide Capítulo 16 - Controle de Pragas por
Atmosferas Controladas).

2.5. Longevidade das Sementes


O período de viabilidade do grão durante o armazenamento pode ser longo ou
curto. As causas da morte da semente são ainda obscuras. Uma hipótese é de que os
grãos morrem devido à degeneração da proteína, que, em geral, é influenciada pela
deterioração do núcleo das células. É geralmente sabido que a vida do grão armazenado

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 373


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

é regulada pelo tipo de grão, pela microflora presente e pela interação entre a
temperatura e umidade.

2.6. Respiração
A propriedade de respiração do grão e da microflora presente é crucial no
entendimento do processo de deterioração do grão. Ambos respiram pelo mesmo
princípio fisiológico. A respiração dos grãos ou grãos quebrados produz energia e
ocorre na presença (aeróbica) ou na ausência de oxigênio (anaeróbica). Na respiração
aeróbica ocorre uma oxidação completa da glicose, produzindo dióxido de carbono,
água e energia (674 kcal), enquanto na anaeróbica a glicose é completamente
decomposta, formando dióxido de carbono, álcool etílico e energia.
Os efeitos diretos da respiração são a perda de peso e o aumento do teor de
umidade do grão, o aumento do nível de dióxido de carbono no ar e o aumento da
temperatura dos grãos. A intensidade da respiração dos grãos e dos fungos determina,
em parte, a taxa e a extensão da deterioração da massa de grãos.
A intensidade do processo respiratório é regulada por um conjunto de variáveis
bióticas e abióticas, como: umidade, temperatura, concentração de gases, aeração,
tamanho e forma do grão e da massa de grãos, da espécie, da variedade, da colheita, da
maturidade pós-colheita e das condições de transporte.

2.7. Maturidade Pós-Colheita


A maturidade pós-colheita é uma das propriedades dos grãos menos entendidas.
Complexas mudanças bioquímicas ocorrem nos dias e nas semanas que se seguem ao
armazenamento de grãos colhidos “frescos”. O período final da síntese química, que se
inicia na maturação principalmente de cereais no campo, pode ser completado com
sucesso somente após o grão ter amadurecido no campo e colhido com o mínimo de
injúrias.
Quando a colheita é realizada na época correta (depois da maturação dos grãos),
é possível melhorar a estabilidade do armazenamento e a manutenção da qualidade do
grão. Durante muitos anos acreditou-se que o trigo recém-colhido não tinha o mesmo
desempenho que o trigo armazenado por um período de muitas semanas ou meses.
Estudos recentes mostraram que a qualidade da farinha de trigo recém-colhido
para a panificação é melhor do que aquela que ficou armazenada por um curto período
de tempo. Subseqüentemente, vê-se que o envelhecimento não melhora o potencial de
panificação e que o armazenamento prolongado pode gerar declínio gradual na
qualidade de panificação ou cozimento.

2.8. Germinação
A germinação é definida como o fenômeno pelo qual, sob condições apropriadas,
o eixo embrionário dá prosseguimento ao seu desenvolvimento, que tinha sido
interrompido por ocasião da maturidade fisiológica. Várias teorias têm sido propostas
para explicar a perda de viabilidade das sementes durante o armazenamento.
Basicamente elas são divididas em dois grupos: um em que a perda da viabilidade é um
fator intrínseco, resultante do metabolismo da semente, e outro em que as causas são
extrínsecas para as sementes e são completadas com microrganismos que vivem em

374 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

associação com a semente. A viabilidade das sementes de cereais é condicionada à


temperatura e umidade do armazenamento. Ela pode ser prolongada com baixos teores
de umidade e temperatura.

2.9. Microrganismos
Os organismos vivos e os componentes de um ambiente inerte interagem para
causar danos aos grãos armazenados. Para efeito de armazenagem, os organismos vivos
podem ser divididos em dois grupos: os consumidores (insetos, pássaros e roedores) e
decompositores (fungos e bactérias). Quando o grão está armazenado, os
decompositores estão normalmente em estado de dormência, e os consumidores (insetos
e roedores) estão ou poderiam estar ausentes. A predominância de uma determinada
espécie desses organismos na massa de grãos fica na dependência de muitos fatores,
destacando-se os fatores climáticos onde os grãos são produzidos e as condições de
armazenagem e da espécie ou variedade vegetal. Para as condições tropicais, os fungos
constituem os principais microrganismos da microflora presente na massa de grãos.

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2.9.1. Fungos
São constituídos por delicados filamentos que se ramificam, denominados hifas,
e cujo conjunto é chamado de micélio. O micélio executa as funções vegetativas, e a
função reprodutiva é realizada por órgãos frutíferos, denominados esporos, os quais são
disseminados de diversas maneiras: ventos, chuvas, insetos, ferramentas, utensílios
agrícolas etc.
Em condições favoráveis do meio ambiente, os esporos germinam, produzindo
hifas, as quais invadem os tecidos dos grãos e de seus subprodutos. Os fungos mais
freqüentes são os dos gêneros Aspergillus e Penicillum, os quais produzem ácidos que
decompõem a matéria orgânica (como os produtos armazenados).

2.9.2. Bactérias
São organismos unicelulares, cuja multiplicação se dá simplesmente por divisão
celular. Sem condição de penetrar no tecido intacto do grão, necessitam que haja uma
abertura natural ou ferimentos causados por insetos ou tecidos apodrecidos.

3. DETERIORAÇÃO DOS GRÃOS POR MICRORGANISMOS

A ação dos microrganismos afeta o poder germinativo das sementes, as


qualidades organolépticas, o valor nutritivo e o aproveitamento industrial dos grãos e
seus subprodutos. Alguns são produtores de substâncias extremamente tóxicas
(micotoxinas).
As várias espécies de fungos invadem várias partes das sementes, incluindo o
germe, causando ou contribuindo para redução do poder germinativo.
As matérias graxas (combinação de ácidos graxos e glicerina) são muito
instáveis quando armazenadas em condições desfavoráveis à sua preservação,
provocando rancificação a qual, provém da oxidação ou hidrólise da matéria graxa que

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 375


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

dá origem aos ácidos graxos livres. O teor de ácidos graxos livres constitui índice de
deterioração dos grãos, que é aumentado pelo desenvolvimento de fungos que infestam
a massa de grãos.
Os grãos armazenados têm a sua temperatura elevada se mantidos com elevado
teor de umidade, em razão da alta taxa de respiração dos grãos úmidos e dos
microrganismos associados à massa. Caso o teor de umidade esteja abaixo de 15% b.u.,
o aumento da temperatura é geralmente devido a uma população de insetos. Acima
deste valor, pode ser atribuído quer aos fungos quer aos insetos, ou a ambos. Grandes
aumentos de temperatura, entre 45ºC e 57ºC, são devidos aos fungos, já que a
temperatura de 45ºC é suficiente para matar os insetos (adultos).
O aumento de temperatura acima do nível letal para a maioria dos fungos (55ºC)
pode provocar calor até o ponto de ignição.

3.1. Fatores que Afetam a Atividade dos Microrganismos


Os principais fatores que afetam a atividade dos fungos são: teor de umidade dos
grãos, temperatura, taxa de oxigênio, condições do tegumento dos grãos e impurezas
existentes na massa de grãos armazenada.
Quando a umidade relativa do ar intersticial da massa de grãos alcança 75%, a
maioria dos cereais apresenta teor de umidade entre 14 e 15% (vide capítulo 4 –
Qualidade dos Grãos). Este teor de umidade é suficiente para que os esporos dos fungos
presentes nos grãos germinem e se desenvolvam; com o aumento da temperatura em
níveis superiores a 25ºC, o crescimento dos fungos é acelerado.
Temperaturas muito altas e muito baixas inibem tanto o desenvolvimento dos
fungos quanto o das bactérias.
O tegumento é uma barreira natural contra a infecção dos microrganismos. Os
grãos estragados pelo manuseio ou atacados por insetos são mais sujeitos à ação da
microflora do que os grãos em perfeito estado.
O produto que contém impurezas (fragmentos do próprio produto) e matérias
estranhas (detritos vegetais e corpos estranhos) é portador de maior quantidade de
microrganismos e apresenta condições que intensificam sua deterioração, já que as
matérias estranhas apresentam teores de umidade mais elevados que o produto sob a
mesma condição de armazenagem.

3.2. Controle dos Microrganismos de Grãos Armazenados


Os métodos empregados para evitar a deterioração dos grãos armazenados
consistem em manter o teor de umidade, a temperatura e a taxa de oxigênio em níveis
desfavoráveis ao desenvolvimento da microflora.
A secagem e o resfriamento do produto por meio da aeração são as operações
mais práticas para evitar as condições ótimas para o desenvolvimento de
microrganismos. Adicionalmente, o uso de máquinas de limpeza, objetivando a redução
do teor de impurezas e de matérias estranhas existentes na massa de grãos, é fator
primordial para que as operações de secagem e aeração atinjam seus objetivos.
O período máximo em que se pode armazenar uma massa de grão, sem
prejudicar o tipo comercial do produto pela ação da microflora, depende dos seguintes
fatores: espécie ou variedade dos grãos, teor de umidade e temperatura (veja capítulo 9).

376 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

4. INSETOS DE GRÃOS ARMAZENADOS

A extensão dos danos e das perdas na pós-colheita causados por insetos, nos
grãos e seus derivados (produtos processados), é difícil de quantificar. A perda nos
grãos pode ser considerada de variadas formas: perda de peso, nutricional, da qualidade,
da viabilidade das sementes e outras. Os produtos já processados também estão sujeitos
a perdas, porém o pior dano é a contaminação. Em alguns países, a simples presença de
insetos em produtos processados é causa de rejeição do produto.
A proposta, ou seja, o objetivo deste capítulo, não será discutir o método de
determinação quantitativa das perdas que ocorrem, mas descrever os tipos de danos e
perdas que podem ocorrer direta ou indiretamente como resultado da infestação de
insetos em grãos e seus derivados.

4.1. Danos Diretos em Grãos e Subprodutos

4.1.1. Consumo de grãos pelos insetos


Todos os insetos que infestam os grãos e neles se desenvolvem consomem parte
destes. Espécies que infestam internamente, como o gorgulho-do-milho (Sithophilus
zeamais Motschulsky), o menor broqueador dos grãos (Rhyzopertha dominica (F.)), e
mariposas, alimentam-se largamente do endosperma.
A alimentação das espécies que infestam internamente resulta em um grão com
variável porcentagem de perda em peso. Foi detectado que o gorgulho-do-arroz, S.
oryzae (L.), pode consumir cerca de 30% do peso dos grãos de trigo em que se
desenvolvia. Larvas de R. dominica causaram perda de peso de 9,5%, em média, em
grãos de trigo no período de 20 dias. A perda de peso causada pelos adultos foi de 19,4,
12,0, 9,5 e 6,5% durante a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª semanas, respectivamente, após a emergência
dos adultos. O peso médio acumulado em 60 dias foi, em média, de 56,9%.
O consumo de trigo por espécies que o infestam influencia a classificação do
produto, a aceitabilidade, o processamento e o uso como semente.

4.1.2. Contaminação dos grãos e dos seus subprodutos


A infestação de insetos que contaminam os grãos armazenados se dá em virtude
da presença, em suas fases de desenvolvimento, de insetos vivos e mortos, seus
produtos metabólicos e outros aspectos do seu processo de vida.
Na classificação do produto, a designação “infestado” é determinada com base
no número de insetos vivos na porção da amostra usada para classificação. Os critérios
para grãos usados na alimentação humana são mais restritos que aqueles usados na
alimentação animal. Apesar de ovos, larvas e pupas poderem estar presentes no interior
do grão e não serem observados na amostra, eles ainda constituem contaminação. Os
processadores de grãos estão preocupados com esta forma de infestação, porque ela
provavelmente será a fonte de contaminação do produto processado. Larvas, pupas e
adultos (vivos ou mortos) no interior do grão são impossíveis de ser removidos
completamente antes do processamento, o que resulta em fragmentos como

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 377


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

contaminantes no produto processado. Para a farinha de trigo, o Food and Drug


Administration – EUA tinha estabelecido um nível de 75 fragmentos por 50 g como
nível de contaminação aceitável. Entretanto, alguns compradores de farinha de trigo têm
estabelecido níveis de rejeição bastante rigorosos, muito abaixo deste valor.
Contaminantes como insetos vivos e fragmentos podem ser determinados por
métodos simples. Já os resíduos metabólicos na forma de excremento/fezes não são
detectados nem quantificados; contudo, a determinação de ácido úrico pode dar uma
indicação do nível de contaminação.
Gorgulhos e larvas de mariposas/traças depositam a maior parte de seus
excrementos no interior do grão, enquanto as larvas de Rhyzopertha empurram a maior
parte do excremento que elas produzem para fora. As larvas da traça da farinha de trigo
e outras traças que infestam grãos deixam um fio sedoso, por onde elas se movem: sobre
a superfície dos grãos, nos produtos processados e nos equipamentos. A quantidade
deste emaranhado de fio é dependente do tamanho e da espécie da população da traça.
Dependendo da extensão e concentração dos emaranhados de fio, além da dificuldade
de fluidez dos produtos processados, a operação de aeração da massa de grãos pode
ficar bastante comprometida.
Em produtos processados, contaminantes que são resultado da infestação externa
de insetos não são facilmente detectados ou removidos. As larvas, quando sofrem
ecdise, deixam uma casca/pele, que pode contaminar os produtos processados. Besouros
na farinha de trigo, quando presentes em grande número, produzem secreções
(quinonas), que têm odor pungente e podem tornar o produto impróprio para o
consumo.

4.2. Danos Indiretos em Grãos e Subprodutos

4.2.1. Aquecimento e outras formas de deterioração


O aquecimento é mais comum na massa de grãos úmidos (acima de 15% b.u.) e
não-usual em grãos secos (até 14% b.u.). Os insetos, entretanto, são capazes de causar
aumentos da temperatura em grãos secos. Fatores que determinam a quantidade de calor
produzido pelos insetos são relacionados com as espécies de insetos, o tamanho da
população, a temperatura e a umidade contida nos grãos.
Insetos, durante seu consumo de grãos, produzem calor como resultado de seus
processos metabólicos. Como o endosperma e as outras partes dos grãos são
consumidos, os insetos produzem dióxido de carbono, água e energia. Quando a
infestação de insetos é muito grande e concentrada, a produção de calor é maior do que
a quantidade que pode ser dissipada pelos grãos, formando-se, no local, o que se chama
de “bolsa” de calor. O calor produzido pelos insetos, além de acelerar a atividade
metabólica destes, gera um ambiente favorável ao seu próprio desenvolvimento, mesmo
que a temperatura externa e aquelas em outras partes da massa de grãos não sejam
favoráveis.
Em situações em que a infestação é detectada com antecedência, a operação de
fumigação resulta na eliminação da fonte de calor e na redução da temperatura. Se não
for detectada precocemente, a infestação pode criar condições de aumento de
temperatura e umidade favoráveis ao desenvolvimento de fungos no local da infestação.

378 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

O calor também cria um gradiente de temperatura dentro da massa de grãos, que por sua
vez gera um movimento de ar quente no sentido da superfície, fenômeno chamado de
migração de umidade (veja capítulo 9 – Aeração de Grãos).

4.2.2. Disseminação de microrganismos na massa de grãos


Insetos e ácaros têm sido envolvidos no transporte de esporos de fungos na
massa de grãos. É sabido que pelo menos os insetos-pragas mais comuns de grãos
armazenados transportam grande carga de inóculos de fungos. Como no
desenvolvimento da população de insetos ocorre aumento da temperatura e de umidade
do grão, criam-se, assim, condições favoráveis para o desenvolvimento do fungo.
O potencial dos insetos para transmissão de bactérias patogênicas, como
Salmonella, Streptococus e outras, foi bastante estudado, tendo sido verificado que o
gorgulho-do-arroz reteve interna e externamente a Salmonella montevides por pelo
menos cinco semanas e foi capaz de transmitir a bactéria para um trigo não-
contaminado.

4.2.3. Resistência do consumidor a produtos contaminados


Os produtos processados podem, algumas vezes, ser rejeitado com base em um
inseto em uma carga de farinha de trigo ou um inseto em um pacote de cereal. A
rejeição é um meio pelo qual as cadeias de consumidores reagem com a presença de
produtos contaminados no sistema. Se um consumidor compra um produto infestado
e/ou contaminado, ele pode rejeitá-lo e adquirir o produto do concorrente. Em outros
casos, o produto infestado pode ser descartado e o responsável pelo processamento
daquele produto, além da má reputação de seu negócio, fica sujeito a notificação ou
processo, por intermédio de órgãos de defesa do consumidor.

5. ÁCAROS

Dentre as 6.000 espécies conhecidas de ácaros, menos de 30 delas são


conhecidas como praga de grãos armazenados. A classe Arachinidea, com sete famílias,
que se diferenciam pelas características morfológicas, bioecológicas e fisiológicas, é
encontrada em grãos, em grãos armazenados e seus derivados e em moinhos de grãos.
Como pragas de grãos armazenados, somente duas famílias são importantes:
Tyroglyphidae e Glycyphagidae.
Todas as espécies de ácaros têm forma oblonga e medem entre 0,2 e 1 mm. Seu
corpo é dividido em duas partes: cefalotórax e abdômen. No cefalotórax encontram-se a
boca e dois pares de patas. No abdômen estão inseridos dois pares de patas o aparelho
genital e o aparelho excretor. Essas espécies possuem antenas e o seu corpo apresenta
pêlos ou espinhos de todos os tipos e formas.
Os ácaros aparecem quando as condições de estocagem não estão reguladas ou
quando os subprodutos dos grãos não foram cuidadosamente manuseados. Sob
condições normais de armazenagem, os grãos e subprodutos são pouco afetados pelos
ácaros. O valor nutritivo da ração diminui com o aumento da infestação por ácaros,
podendo até causar doenças em animais alimentados com produtos infestados.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 379


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

6. ROEDORES E PÁSSAROS

Além do homem, os roedores (ratos e camundongos) são os mamíferos mais


bem sucedidos e abundantes sobre a terra. Para chegar a esse ponto, os roedores
contaram com a ajuda do homem, que, inadvertidamente, proporcionou condições
favoráveis à sua proliferação e sobrevivência, com alimento e abrigo. Os ratos e
camundongos são considerados comensais, devido ao fato de que eles vivem às custas
do homem, comendo seu alimento, contaminando seus produtos, invadindo suas
moradias, além de serem vetores de doenças como peste bubônica, leptospirose, raiva,
tifo e antavírus.
Os roedores têm como característica principal a presença de fortes dentes
incisivos, com crescimento contínuo, usados para roer. Não possuem dentes caninos ou
pré-molares, e entre os incisivos e molares existe um espaço que lhes permite roer ou
cavar materiais não-alimentares, sem colocá-los na boca.
Alimentos armazenados geralmente estão propensos ao ataque de roedores,
tornando estes mamíferos pragas em várias regiões do mundo. Os produtos vulneráveis
ao ataque de ratos e camundongos são o milho, arroz, sorgo, milheto, cevada, trigo e
seus subprodutos (farinhas e fubás). Apesar de o ataque de roedores em produtos
armazenados ser bastante comum, estimativas de danos ou perdas têm sido pouco
estudadas. As perdas de cereais não ocorrem somente devido à redução de peso, mas
principalmente pela contaminação através de pêlos e dejetos, como fezes e urina, o que
torna os produtos impróprios para o consumo humano e até mesmo, em alguns casos,
para o consumo de outros animais.
Os pássaros são animais altamente especializados entre os vertebrados. São os
únicos animais providos de penas e possuem os pés e bicos adaptados à exploração de
diferentes hábitats e tipos de alimentos. Dessa forma, os pássaros podem viver nos mais
variados ambientes. Estão aptos a nadar, saltar e correr, alimentando-se de peixes,
animais mortos, pequenos organismos como insetos, vegetais, frutos, grãos e sementes.
A importância dos pássaros-pragas de grãos armazenados tem sido evidenciada em
muitos países.
Espécies de pássaros são atraídas inicialmente, quando a cultura ainda se
encontra no campo, através de amadurecimento, secagem e debulha no momento da
colheita. Algumas espécies têm desenvolvido uma estreita relação com fontes
permanentes de cereais e seus subprodutos, tornando-se problemas de pragas em
lavouras e produtos armazenados. Como os ratos, os pássaros são atraídos por porções
de grãos derramados próximos ao local de armazenamento; este descuido pode levar ao
estabelecimento de populações capazes de invadir o ambiente de armazenagem,
causando sérios danos ao sistema de embalagem, com conseqüente contaminação do
produto. Além disso, os pássaros são hospedeiros de piolhos e ácaros, que são
prejudiciais ao homem quando ninhos estão próximos da construção. Os ninhos servem
como abrigo para várias espécies de insetos-pragas de grãos armazenados. As fezes, as
penas e os restos de pássaros mortos em decomposição podem contaminar seriamente os
estoques de alimentos por meio de microrganismos patogênicos, como bactéria e fungos

380 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

causadores de doenças como diarréias (salmonelose), histoplasmose e aspergilose.

7. CONSEQÜÊNCIAS DA ARMAZENAGEM INADEQUADA

O armazenamento de grãos é um dos segmentos da pós-colheita. Armazenar


grãos não significa guardá-los em qualquer lugar. A importância da armazenagem reside
no fato de que o armazenamento adequado dos produtos agropecuários evita perdas e
preserva a qualidade.
Como visto anteriormente e no capítulo 9 - Aeração de Grãos, o produto
armazenado é constantemente submetido a fatores externos, que constituem o ambiente
de armazenamento e que foram classificados como físicos: temperatura e umidade;
químicos: fornecimento de oxigênio; e biológicos: fungos, bactérias, ácaros, insetos,
pássaros e roedores. Controlando-se adequadamente os dois primeiros fatores e
reduzindo a atividade metabólica do grão (respiração) pelo processo de secagem, os
insetos assumem particular importância, em razão de a massa de grãos constituir um
ambiente ideal para o desenvolvimento das pragas. As perdas e alterações causadas
pelos insetos que atacam os grãos armazenados são:
1) Perda de peso ou quantitativa - refere-se às reduções de peso ou de volume
e não retrata adequadamente a degradação nutricional do alimento, nem os
danos indiretos, como os causados por aquecimento da massa de grãos,
disseminação de microrganismos, doenças, danos à estrutura e depósitos da
unidade armazenadora, custos de controle, resíduos tóxicos etc.
2) Desvalorização do produto ou perda qualitativa - caracteriza-se pelas
alterações na qualidade do produto, em razão da diminuição do valor
nutricional. Embora, ocasionalmente, estas mudanças possam resultar em
ganho aparente, em quase todos os casos, entretanto, a infestação por pragas
leva a perda nutricional, desvalorização do produto atacado, diminuição do
grau de higiene do produto pela presença de insetos, excrementos, ovos etc. e
perda da qualidade de panificação da farinha. A natureza e extensão destas
alterações podem ser resumidas em seis fatores: mudanças químicas, teor de
umidade, condução de calor, transformações, consumo e aceitabilidade.
3) Mudanças ou alterações químicas - alguns alimentos, como frutas e
hortaliças, podem, na sua maioria, deteriorar-se em poucos dias, enquanto
outros, como os grãos, sofrem mudanças lentas. Um estudo com trigo, livre
de pragas, armazenado frio e seco por 30 anos, mostrou incrementos nos
ácidos graxos livres e diminuição na qualidade de cozimento e não
apresentou, essencialmente, alterações nos níveis de tiamina (vitamina B1) e
proteína. No entanto, quando as pragas penetram ou quebram o alimento em
pequenos pedaços, elas introduzem microrganismos, além de elevarem os
níveis de temperatura e umidade, que facilitam e aumentam as taxas de
transformações.

Embora algumas alterações químicas sejam inócuas e umas poucas possam até
ser benéficas, a grande maioria representa perdas ou se torna imprópria para a nutrição
humana e animal devido, principalmente, às intoxicações por micotoxinas, às alergias,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 381


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

aos distúrbios intestinais e a outros problemas graves de saúde, em adição aos efeitos de
uma nutrição deficiente.
Uma infestação muda de tal forma a composição física e química do alimento
que o conteúdo de água cresce de forma substancial. Na maioria das situações, ocorre
grande diminuição do produto, causando, desse modo, notável redução no valor
nutricional, por unidade de peso. Esta diminuição está associada, principalmente, ao
fato de que a maioria das degradações por pragas torna o alimento mais higroscópico.
Como foi visto, as pragas podem também danificar as embalagens, permitindo a entrada
de umidade. Embora algum aumento volumétrico do produto possa resultar da elevação
do teor de umidade, aumento maior ocorrerá na massa, pois grande parte do peso do
alimento dependerá da quantidade de água absorvida (capítulo 4 – Qualidade dos
Grãos).
Quando as pragas se concentram em uma determinada região da massa de grãos,
o calor gerado pelo processo metabólico do sistema causa aquecimento daquele ponto,
formando a "bolsa de calor". Em razão do baixo coeficiente de condutividade térmica da
massa de grãos, o calor gerado não se propaga rapidamente e cria-se uma corrente
convectiva entre o foco de aquecimento e a superfície dos grãos. Como visto no capítulo
“Aeração de grãos”, se as condições de temperatura da superfície do produto ou do ar
exterior forem suficientemente baixas, pode ocorrer condensação de água e aumento do
teor de umidade da camada fria de grãos, acarretando maior deterioração química e
desenvolvimento de microrganismos, com conseqüente degradação do valor nutricional
do produto.
Alimentos infestados com artrópodes sofrem contínuas diluições, como
resultado da sua presença e de seus excrementos, teias, exoesqueletos resultantes das
metamorfoses e corpos mortos de gerações anteriores. Após longos períodos de
infestação, as diluições geradas por pragas podem se igualar ou até exceder a quantidade
do alimento original existente. Um exemplo disso foi verificado em uma carga de
amendoins descascados e tratados com inseticidas, originária de determinada região da
África. Desenvolveu-se nela uma população de 90.000 a 100.000 insetos vivos por saco,
durante quatro meses de armazenamento. Fezes, exoesqueletos e insetos mortos,
somados ao peso dos próprios insetos, constituíam a maior porção da carga.
Grãos danificados por insetos apresentam, geralmente, baixa percentagem de
germinação. Se usado como semente, deve ser plantado em muito maior quantidade
para dar um bom resultado. Cada larva de S. oryzae, durante o seu crescimento,
metaboliza cerca de 14 mg de um grão de trigo em dióxido de carbono, água, calor e
excrementos. Durante o processo, o inseto consome cerca de dois terços do endosperma
do grão. Em contraste, a R. dominica consome quase todo o grão, deixando apenas a
poeira e a casca. O S. granarius (L.) consome 62,6% do conteúdo calórico do grão de
trigo, sendo cerca de cinco sextos usados no seu metabolismo. Em populações densas,
insetos comem os grãos parcialmente ou até deixarem apenas a casca, pequenos pedaços
de endosperma e um pó fino de fezes. Apesar de ser, no Brasil, um dos problemas
menos estudados no manejo de alimentos armazenados, as alterações no produto são,
até agora, um dos mais significantes.
Em adição aos problemas associados às alterações nutricionais causadas por
insetos nos alimentos, as infestações também causam danos e produzem mudanças

382 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

notáveis de cor, textura, sabor e odor. Essas mudanças tornam o alimento impróprio
para a comercialização, resultando em perdas econômicas.
A avaliação das perdas e/ou das alterações dos grãos armazenados reforça a
importância das pragas. Levantamentos preliminares, feitos em algumas regiões do
Brasil, mostram, ainda hoje, redução de peso em torno de 25% nos grãos atacados por
insetos após oito meses de armazenamento em fazendas.
O valor do grão, para processamento ou consumo, está diretamente relacionado
com o nível de contaminação por insetos. Somente nos Estados Unidos as perdas anuais
causadas por insetos e outros artrópodes têm sido estimadas em aproximadamente cinco
bilhões de dólares, e as perdas causadas por roedores e outros vertebrados, em dois e
meio bilhões. Estas cifras são estimadas, principalmente, em função das mudanças de
peso e/ou volume.

8. PRINCIPAIS INSETOS E SUAS CARACTERÍSTICAS

Dentre as diferentes ordens em que os insetos são agrupados, apenas nove têm
sido relatadas em associação com os produtos armazenados; os insetos que são
realmente considerados pragas de grãos armazenados pertencem a cinco ordens, sendo
duas destas - Coleoptera (pequenos carunchos ou gorgulhos) e Lepidoptera (mariposas
ou traças) - as de maior importância econômica e social. Os gorgulhos são pequenos e
apresentam o primeiro par de asas muito resistente (élitros), que permite sua
movimentação e sobrevivência em grandes profundidades da massa de grãos, onde os
espaços são reduzidos e o grão está muito comprimido. As traças, em razão de suas asas
membranosas, bem menos resistentes que os élitros, o que as tornam mais frágeis,
restringem-se à superfície da massa de grãos, causando menos prejuízos que os
gorgulhos.
As pragas de grãos armazenados estão adaptadas a uma dieta à base de material
vegetal seco. Muitas delas possuem estruturas características que lhes permitem viver
em condições de baixa disponibilidade de água.
Quanto aos seus hábitos alimentares, os insetos de produtos vegetais
armazenados podem ser classificados em:
1) Insetos primários: são aqueles capazes de romper o grão inteiro e sadio e são
divididos em dois grupos:
Primários internos - são os insetos dotados de mandíbulas desenvolvidas, com
as quais rompem os grãos e se alimentam do seu conteúdo interno (Figura 1).
Completam seu ciclo evolutivo no interior do grão e, além de causarem danos
específicos, abrem caminho para o ataque de outros insetos. Como exemplo de insetos
primários citam-se os gorgulhos dos grãos – Sitophilus zeamais; o caruncho-do-feijão -
Zabrotes subfasciatus (Boheman) e Acanthoscelides obtectus (Say); e as traças-dos-
cereais - Sitotroga cerealella (Olivier) etc.
Primários externos - alimentam-se do grão externamente, podendo, entretanto,
atacar a parte interna. Favorecem o ataque de outras pragas que são incapazes de romper
a película protetora dos grãos (Figura 2). A Plodia interpunctella (Hübner), o menor
broqueador dos grãos, Rhyzopertha dominica e os besourinhos Lasioderma serricorne
(F.) e Tenebroides mauritanicus (L.) são exemplos de insetos primários externos.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 383


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

2) Insetos secundários: são aqueles que não conseguem romper os grãos


inteiros e se alimentam de grãos previamente danificados pelos insetos primários,
acidentalmente quebrados ou trincados (Figura 3). Como exemplo, têm-se os
besourinhos Tribolium castaneum (Herbst), T.confusum (Jaqueline Du Val),
Oryzaephilus surinamensis (L.), Cryptolestes ferrugineus (Stephens) e outros. Além dos
grãos, os insetos secundários infestam, principalmente, seus subprodutos, como
farinhas, farelos, fubás e rações.
3) Insetos associados: são freqüentemente encontrados nos grãos, porém sem
atacá-los. Alimentam-se de detritos e fungos e contribuem para prejudicar o aspecto e a
qualidade do produto armazenado. Além do besouro Tenebrio molitor (L.), pode-se
incluir neste grupo os parasitas, predadores e ácaros, tanto os que produzem danos nos
grãos como os predadores.
Os insetos de grãos e produtos armazenados apresentam algumas características
próprias:
a) Elevado potencial biótico: o grande número de indivíduos obtido em cada
reprodução e o elevado número de gerações em curto período permitem que
poucos indivíduos formem uma população considerável.
b) Infestação cruzada: é a capacidade de infestar o produto nos depósitos e no
campo. Muitas vezes, os grãos colhidos no campo já vêm infestados para o
armazém. Como exemplos, têm-se a traça-dos-cereais - S. cerealella e o
gorgulho - S. zeamais, que infestam o milho no campo; os gorgulhos - S.
oryzae e S. zeamais, que infestam os cachos de arroz no campo; e o
caruncho-do-feijão – A. obtectus, que infesta as vagens do feijão antes da
colheita.
c) Polifagia: é a capacidade que a maioria das pragas dos grãos armazenados
têm para atacar diversos produtos. S. zeamais ocorre em milho, mas
desenvolve-se muito bem em sorgo; R. dominica, que é praga importante de
praticamente todos os cereais, ataca e se reproduz muito bem em sementes
de feijão; e Z. subfasciatus, além do feijão, seu hospedeiro preferido, ataca a
ervilha, a soja e o grão-de-bico.

1 2 3
Figura 1 – Exemplo de insetos primários internos: 1 (Sitophilus zeamais), 2
(Acanthoscelides obtectus) e 3 (Sitotrogta cerealella )

384 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

1 2 3 4
Figura 2 – Exemplos de insetos primários externos: 1 (Plodia interpunctella), 2
(Rhyzopertha dominica), 3 (Lasioderma serricorne) e 4 (Tenebroides
mauritanicus).

1 2 3 4
Figura 3 – Exemplos de insetos secundários: 1 (Tribolium castaneum), 2
(T.confusum), 3 (Oryzaephilus surinamensis) e 4 (Cryptolestes
ferrugineus).

9. PROGRAMA DE CONTROLE

O programa de controle de insetos inicia-se na recepção dos grãos pela unidade


armazenadora e/ou processadora. Além das análises comumente realizadas, que
englobam verificação do teor de umidade, classificação, impurezas, peso hectolítrico
etc. (veja “Classificação de Produtos Agrícolas”), é importante que se faça uma
inspeção do lote, observando-se os seguintes fatores:

Clique para ver: vídeo 1

- índice de infestação por insetos;


- temperatura da massa de grãos;
- presença de fungos; e
- contaminação por roedores e pássaros.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 385


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Antes das operações de limpeza, secagem e armazenamento propriamente dito,


as instalações e o local da unidade armazenadora deverão ter sido preparados conforme
se segue:
- O primeiro passo é uma limpeza completa e cuidadosa, tanto da parte interna
como externa e, principalmente, dos equipamentos existentes, como moegas, pé de
elevadores, máquinas de limpeza, correias transportadoras, secadores, dutos de aeração
etc. Na parte interna dos armazéns, a limpeza deve ser iniciada na cobertura,
estendendo-se a entradas de ar, lanternins, paredes e janelas laterais, piso e possíveis
frestas existentes; os resíduos retirados deverão ser queimados em locais seguros e
distantes das instalações, visando a eliminação dos insetos em qualquer fase em que se
encontrem, evitando-se, assim, a infestação dos novos produtos que entrarem no
armazém. Após o processo de limpeza, deverá ser feita uma pulverização de toda a parte
interna e externa do armazém e dos equipamentos ali existentes, utilizando-se um
inseticida com bom poder residual e, preferencialmente, com princípio ativo diferente
do inseticida usado na safra anterior.
- O segundo passo refere-se aos grãos propriamente ditos. Serão apresentados os
principais métodos de controle, com ênfase nos métodos corretivos, já que inspeção e
limpeza são consideradas métodos preventivos.

10. CONTROLE DE INSETOS

A eficácia de um método de controle de insetos em grãos armazenados depende


da estimativa precisa da densidade populacional de insetos. A amostragem é um
processo pelo qual se determinam as características de uma população de pragas, como:
densidade ou número de insetos e espécies que ocupam uma área, dispersão ou
agrupamentos de indivíduos no espaço, modificações da taxa de nascimento ou morte,
número relativo de vários estágios dos insetos e alterações do número de insetos ao
longo do tempo. Programas de amostragem devem avaliar também a efetividade das
medidas de controle de insetos. O Manejo Integrado de Pragas reduzirá o uso de
pesticidas, porque as medidas de controle serão usadas somente quando a amostragem
indicar que a densidade de insetos excedeu o limite econômico.
O Manejo Integrado de Pragas é uma metodologia que usa análises de custo-
benefício para a tomada de decisões. Em programas de manejo de pragas, o controle é
economicamente eficiente se o custo de controle for menor que a redução no valor de
mercado, causada pela praga. A alternativa ao Manejo Integrado de Pragas é o uso de
inseticidas em doses regulares, sem determinar se o controle de insetos é necessário. O
desenvolvimento de programas de Manejo Integrado de Pragas em produtos
armazenados tem sido considerado pela indústria de alimentos, tanto para alimentos "in
natura" como para alimentos processados.
O uso de eficientes programas de Manejo Integrado de Pragas passa pelo
desenvolvimento de níveis de danos e níveis de controle. Estes níveis devem ser
estabelecidos para se decidir quando medidas de controle serão economicamente
eficientes. As análises de custo-benefício para o Manejo Integrado de Pragas são
baseadas em dois limites: Nível de Dano Econômico e Nível de Controle ou Ação. O

386 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Nível de Dano Econômico é a densidade de insetos que causa uma redução no valor de
mercado maior que o custo de controle. Quanto ao Nível de Controle, é a densidade de
insetos no qual o controle deve ser aplicado para evitar que a população alcance o Nível
de Dano Econômico. O Nível de Controle permite retardar a tomada de decisão de
aplicar medidas de controle e permite que seja avaliado o tempo necessário para que as
medidas de controle reduzam a densidade do inseto.
O cálculo do Nível de Dano Econômico é baseado no custo de controle e na
redução no valor de mercado. O cálculo do custo de controle, além do custo de
inseticidas, dos equipamentos de aplicação e da mão-de-obra dos aplicadores, deve
incluir os custos de programas de amostragem, programas de manejo de resistência a
inseticidas e o risco para a saúde humana e para o ambiente. Quanto à redução no valor
de mercado, seu cálculo pode ser baseado na perda de peso da massa de grãos e/ou nas
perdas de qualidade.
Os vários métodos de controle são classificados como: legislativo, físico,
químico e biológico.

10.1. Controle Legislativo


No controle legislativo são incluídas a quarentena e a sanidade. A quarentena
refere-se às proibições ou restrições impostas ao transporte dos grãos armazenados
supostamente infestados por pragas. A sanidade refere-se às medidas de higiene que
devem ser tomadas para diminuir ou eliminar os insetos. Estas medidas envolvem:
colheita em época própria, utilização de equipamentos desinfetados, limpeza cuidadosa
dos grãos e dos depósitos, separação de produtos de safras diferentes e utilização de
armazéns à prova de roedores e pássaros.

10.2. Controle Físico


O controle físico é uma manipulação do meio físico sobre a população de
insetos, diminuindo, eliminando ou reduzindo estas pragas. Embora tenha sido um dos
primeiros métodos empregados para controlar insetos de produtos armazenados, sua
utilização foi deixada de lado com a introdução dos modernos inseticidas artificiais. No
entanto, espera-se que os químicos sintéticos sejam utilizados numa escala cada vez
menor, em razão dos resíduos químicos que afetam o grão, da segurança do trabalhador,
do ambiente e das populações de insetos resistentes aos inseticidas, e que o controle
físico abranja maiores extensões.
Os controles físicos incluem a umidade e a temperatura, o impacto ou ação
mecânica, os envoltórios resistentes à penetração de insetos, os pós-inertes, a irradiação
e a resistência do grão.

10.2.1. Temperatura e Umidade


A umidade e a temperatura são muito importantes no controle de pragas em
grãos armazenados. Para os insetos, a principal fonte de umidade é a umidade inicial do
grão e, em menor escala, a umidade atmosférica e a água metabólica. Desse modo, um
fator importante a ser considerado é o equilíbrio higroscópico estabelecido entre a
umidade atmosférica e a umidade do grão, pois a umidade e a temperatura são fatores
que influenciam a sobrevivência e a reprodução de muitos insetos. O teor crítico de

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 387


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

umidade para reprodução dos insetos é de aproximadamente 9% b.u. À medida que a


umidade do grão ou subproduto aumenta, entre os limites de 12 a 15% b.u., os insetos
se desenvolvem e se reproduzem com maior intensidade. Além desses limites,
predominam os ácaros e os fungos, e, com maior teor de umidade, prevalecem as
bactérias.
A diminuição da temperatura dos produtos, com o propósito de evitar a
deterioração, é intensamente usada em climas temperados, juntamente com aeração com
ar ambiente. Há dois efeitos básicos resultantes da baixa temperatura: a redução da taxa
de desenvolvimento, alimentação e fecundidade dos insetos e a queda de sobreviventes.
A temperatura ótima para a fecundidade e o desenvolvimento dos insetos de
produtos armazenados está entre 25 e 33oC. Sob baixa temperatura, a fecundidade é
reduzida e os insetos desenvolvem-se mais lentamente. Temperaturas entre 13 e 25oC
diminuem o desenvolvimento. Para a maioria dos insetos de produtos armazenados, a
temperatura de 20oC detém o desenvolvimento. Os ácaros em grãos levemente úmidos
somente param de se desenvolver a 2oC. Embora nestas temperaturas não ocorra
desenvolvimento, os insetos e ácaros permanecem vivos por longos períodos e causarão
danos se a temperatura do produto elevar-se.
A fase de desenvolvimento afeta a capacidade do inseto de resistir a baixas
temperaturas. Em muitas espécies, o ovo é o estágio mais susceptível. Para algumas
espécies há trabalhos mostrando que a idade do ovo pode afetar a susceptibilidade. As
larvas são os estágios mais tolerantes. O adulto é o estágio mais resistente.
Temperaturas para os índices máximos de multiplicação são, em geral, 5oC
acima das temperaturas de desenvolvimento. O S. oryzae tem um índice máximo de
desenvolvimento a 29oC e interrompe o seu desenvolvimento a 35oC; do mesmo modo,
as temperaturas para a R. dominica são de 32 e 39oC, respectivamente. A temperatura
mais elevada que causa a mortalidade depende da exposição a essa temperatura, das
espécies, do estágio do desenvolvimento, da aclimatação e da umidade relativa.
A temperatura da massa de grãos é afetada por vários fatores, que podem ser
controlados ou modificados para aumentar a eficiência do controle físico das pragas de
grãos armazenados. Altas temperaturas iniciais de armazenamento ocorrem quando o
grão é colhido sob calor, em dias ensolarados, por exemplo, 5 a 8ºC acima da
temperatura do ar ambiente, ou quando o grão não é resfriado suficientemente depois da
secagem com ar aquecido.
A temperatura dos grãos no armazenamento sem aeração segue as temperaturas
do ar do ambiente externo à massa de grãos. Em razão de a maior parte dos grãos
armazenados ou das sementes de oleaginosas terem baixa condutividade térmica
(menores que as fibras), a temperatura dos grãos estocados muda lentamente. O controle
da temperatura é feito pela aeração (veja capítulo 9 – Aeração de Grãos).

10.2.2. Irradiação
A irradiação de alimentos tem sido muito estudada nos últimos anos. Em muitos
países é tida como operação comercial, sendo mais usada para prevenir brotação de
batatas e cebolas ou infestações microbianas em alimentos e carnes.
Há dois tipos de irradiação: ionizante, com raios gama e irradiação por feixe de
elétrons, e não-ionizante, quando se refere à radiação eletromagnética (ondas de rádio,

388 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

ondas infravermelho, luz visível e microondas), que não contêm energia suficiente para
expulsar elétrons das moléculas. A radiação ionizante prejudica os organismos, em
virtude da produção de íons ou radicais livres, tornando as moléculas altamente reativas.
Além da ionização, as ligações químicas também podem ser quebradas. Radiação gama
com cobalto 60, como fonte de radioatividade, é o método comercial mais comum de
irradiação de alimentos.
Embora baixos níveis de irradiação não produzam toxina nos alimentos tratados,
a irradiação pode reduzir o teor de vitaminas A, C, E, B1 (tiamina) e K. O grau de
redução é dependente do alimento irradiado, da dose e de outros fatores. As doses de
irradiação necessárias para matar insetos também matam sementes, tornando este tipo
de controle inconveniente para malte e cevada ou sementes armazenadas. A qualidade
do pão será afetada se o trigo for irradiado com doses altas de irradiação.

10.2.3. Ação mecânica


São dois os métodos básicos para controlar população de insetos dos produtos
armazenados, utilizando-se formas mecânicas: indireta (manipulação do meio ambiente)
ou direta (manipulação dos insetos). Um método indireto é a limpeza ou redução de
impurezas e matérias estranhas (sementes quebradas, terra, pedras e sementes de ervas
daninhas) e sementes com rachaduras no endosperma. Muitos insetos, como C.
ferruginus, Oryzaephilus sp. e T. castaneum, são classificados como pragas secundárias,
porque requerem uma rachadura na superfície da semente para infestarem os grãos. A
presença de impurezas e matérias estranhas contribui para o aumento da população
destes insetos. Outro método indireto é simplesmente uma boa sanitização, bem como a
remoção de resíduos de alimentos. Os equipamentos e as estruturas de armazenamento
devem ser projetados de modo que a limpeza seja facilitada, não deixando resíduos de
alimentos.
Um método direto de controle é a remoção da população de insetos. Os
equipamentos utilizados para remover impurezas e matérias estranhas devem também
remover insetos que estão fora da semente. No entanto, não removeriam os estágios
imaturos de Sitophilus sp. ou R. dominica.
O método direto mais usado no controle mecânico é o Entoleters, que usa a força
centrífuga para impactar insetos ou sementes contendo insetos. Entoleters são usados
em moinhos, onde são colocados na linha de produção antes de o trigo ser moído.
Grãos infestados com Sitophilus sp. ou R. dominica quebram e são separados daqueles
intactos. A velocidade de impacto pode ser ajustada de tal forma que os insetos sejam
mortos, mas os grãos não-danificados não são quebrados.
Apenas o revolvimento dos grãos pode controlar os insetos de produtos
estocados, pelo esmagamento. Vários pesquisadores têm investigado o efeito de impacto
em grãos infestados. Um estudo mostrou, por exemplo, que, movimentando o milho a
cada duas semanas, as espécies Sitophilus, em 87%, Tribolium, em 75%, e Cryptolestes,
em 89%, podem ser reduzidas. Em outro estudo, foi demonstrado que algumas espécies
eram particularmente susceptíveis aos danos durante o transporte pneumático dos grãos.
Os neonatos de Acanthoscelides obtectus, o inseto comum do feijão, precisam de
um tempo superior a 24 horas para entrarem em um grão de feijão. Para isto, eles
necessitam se espremer contra eles mesmos em feijões vizinhos para penetrar na

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 389


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

semente. A movimentação do feijão a cada oito horas reduz a população de A. obtectus


em 97%, porque a larva neonata não é capaz de realizar totalmente sua entrada no grão.

10.2.4. Embalagens
As embalagens são uma barreira física que previne ou impede a infestação por
insetos. No entanto, vários insetos, como L. serricorne, Stegobium paniceum
(Linnaeus), P. interpunctella, C. cautella, Corcyra cephalonica (Stainton) e
Trogoderma variable, têm capacidade para penetrar nas embalagens intactas. Embora R.
dominica também possa penetrar nas embalagens, são raramente encontradas em
embalagens de alimento. Os outros insetos de produtos armazenados (T. castaneum, T.
confusum, C. ferrugineus, C. pusillus, O. mercato e O. surinamensis) necessitam de
uma pequena abertura para entrar nas embalagens.

10.2.5. Pó inerte
As argilas foram usadas como protetores de grãos pelos nativos da América do
Norte e África há milhares de anos. A principal vantagem de um pó inerte é sua não-
toxicidade. Os tipos mais comuns de pó inerte são: terra, terras de diatomáceas e sílica.
A terra de diatomácea, vendida comercialmente no Brasil, é um resíduo silicoso
fossilizado de diatomas, que são plantas aquáticas unicelulares microscópicas, com uma
fina concha formada de sílica opalina (SiO2 + nH2O).
A principal atuação dos pós inertes é que eles promovem uma dessecação dos
insetos, os quais morrem quando perdem 60% de sua água ou cerca de 30% de seu peso
corpóreo total. Além da perda de água, alguns pós absorvem as ceras cuticulares dos
insetos. A terra de diatomácea, além de absorver a cera cuticular, tem efeito abrasivo
sobre a cutícula. Pelo fato de os insetos de grãos armazenados viverem em ambientes
muito secos e com acesso limitado a água livre, a retenção de água é crucial para sua
sobrevivência. Também, uma vez que os insetos são muito pequenos, eles têm grande
área superficial em relação ao peso de seu corpo, apresentando, portanto, maior
problema de retenção de água que os grandes animais. Os insetos protegem-se da
dessecação de vários modos; no entanto, a graxa cuticular, que é destruída pelo pó, é um
dos principais mecanismos para manter o equilíbrio hídrico.
Diversos fatores determinam a eficiência de pós inertes: maior capacidade dos
insetos de obterem água do seu alimento, maior reabsorção de água durante a sua
excreção, menor perda de água através da cutícula, tipo de graxa cuticular ou o quanto
ele se movimenta através dos grãos. Nem toda a mortalidade observada em grãos
tratados com pó inerte pode ser atribuída à dessecação.
Os principais problemas com o uso de pós inertes decorrem do fato de eles
diminuírem a densidade e o escoamento dos grãos. Por ser um pó, é difícil sua
aplicação, e, além do mais, ele é ineficiente em alguns casos. Em razão de os pós inertes
aderirem à superfície dos grãos, aumentando a fricção entre eles, o grão não flui tão
facilmente. Há aumento do ângulo de repouso e da densidade total da massa. A terra de
diatomácea, na proporção de dois quilos por tonelada, causou diminuição de 4,4 quilos
por hectolitro na densidade da massa de milho e de 6,2 kg/hl em trigo. Por ser o
dessecamento um modo de ação, a terra diatomácea não controla insetos em grãos
úmidos tão bem como em grãos secos. Para minimizar o problema de produção de

390 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

poeira, aplicações aquosas para tratamento de superfície são usadas, embora isso
diminua a eficiência dos pós inertes. As principais vantagens deste pó é que eles não são
tóxicos para mamíferos e protegem continuamente os grãos dos insetos.

10.2.6. Resistência dos grãos aos insetos


O controle de insetos por meio de variedades resistentes, embora pareça ser um
método ideal, encontra-se ainda em fase de estudos. Entende-se por variedade resistente
aquela que, devido à constituição de seus genótipos, é menos danificada por um inseto
do que outra, em igualdade de condições.

10.3. Controle Químico


O método de controle químico deve complementar mais do que suplantar outras
medidas, como sanidade, manejo da temperatura e da umidade, uso de instalações
adequadas etc. O controle de insetos com produtos químicos é o mais usado, em razão
das facilidades para aplicação e da maior rapidez de ação, sendo atualmente o método
mais econômico. No entanto, as desvantagens decorrentes do emprego do controle
químico são: o controle não é permanente; há riscos, como explosões, resíduos e
toxicidade, no momento da aplicação; e, ainda, a resistência dos insetos e o custo dos
inseticidas e equipamentos. Há no momento uma tendência em desenvolver produtos
que ofereçam menos riscos, sejam seletivos, biodegradáveis e de efeito prejudicial
mínimo sobre o meio ambiente.
O inseticida ideal é aquele que mata rapidamente as pragas; não causa mal ao
homem ou ao meio ambiente; apresenta uma atividade residual de apenas o necessário;
e que tem um nível aceitável de contaminação. Além disso, não deve ser caro, ser de
fácil manuseio e preparo e produzir odores de proteção.
Há vários modos de ação para diferentes tipos de inseticidas. Diversas espécies
de insetos e estágios de desenvolvimento de cada um respondem diferentemente a um
inseticida específico; por exemplo, os piretróídes são mais tóxicos para os insetos
broqueadores (R. dominica) do que os organofosforados. Alguns insetos, uma vez
estabelecidos, são mais difíceis de ser controlados, pelo fato de se desenvolverem dentro
dos grãos, como, por exemplo, as espécies de Sitophilus.
Normalmente, os inseticidas são utilizados no controle dos insetos de grãos
armazenados, nas modalidades convencionalmente chamadas de pulverização residual,
pulverização protetora, nebulização e fumigação ou expurgo.
Na pulverização residual, o inseticida é pulverizado, interna e externamente, em
paredes, pisos, estrados, tetos, equipamentos existentes dentro do armazém e em volta
da unidade armazenadora (Figura 4). O seu uso objetiva o extermínio dos insetos
abrigados em depressões, vãos e fendas. Esses inseticidas apresentam poder residual, de
tal modo que os insetos que venham a transitar posteriormente no local tratado são
eliminados.
Na pulverização protetora (Figura 5), o inseticida é pulverizado diretamente
sobre a sacaria ou os grãos a granel em esteira transportadora, durante o enchimento do
silo. Para pequenas quantidades de grãos armazenados, pode-se aplicar o inseticida na
forma de pó (polvilhamento). A finalidade desse controle é preventiva e não curativa.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 391


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Figura 4 – Pulverização residual.

Figura 5 – Pulverização protetora de grão durante a carga do silo.

No processo de nebulização, a produção de gotas é obtida com o uso de calor.


Neste caso, obtêm-se gotas com diâmetro menor que 50 micras. O inseticida deve ser
bastante volátil, de modo que, ao ser misturado com óleo mineral ou diesel, produza
uma fumaça com pequenas partículas, com o princípio ativo do inseticida, que
permanece em suspensão durante um tempo mais prolongado. Esse método visa o
combate de insetos voadores, como traças e moscas. Outros insetos diretamente
atingidos pelo inseticida podem ser combatidos. Os equipamentos denominados
termonebulizadores (Figura 6) convertem o inseticida e o óleo em uma densa neblina,
que atinge todas as áreas do armazém.

Figura 6 – Termonebulizador e modo de aplicação.

392 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Na operação de fumigação ou expurgo dos grãos e subprodutos utiliza-se um


inseticida fumigante, isto é, um produto que pouco depois de aplicado, sob
determinadas condições de temperatura e pressão, se transforma em gás letal aos insetos
em ambientes hermeticamente fechados. A fumigação é um processo de eliminação de
todas as fases dos insetos, ovo, larva, pupa e adulto, pela exposição a um gás tóxico ou a
uma mistura de gases. Uma importante propriedade do fumigante é a sua habilidade
para penetrar em materiais como filmes de embalagens e mesmo dentro dos produtos.
Para combater os insetos no centro da massa de grãos, o gás tóxico, dada a sua
capacidade de difusão, atinge a praga. A difusão do gás está relacionada diretamente
com o seu peso molecular e sua densidade.

Clique para ver: vídeo 1

10.3.1. Modos de atuação dos inseticidas

10.3.1.1. Inseticidas de contato


As classes de inseticidas de contato usadas nos produtos armazenados incluem
piretrina sinergizada/piretróides e organofosforados. Os piretróides, além de caros, são
extremamente irritantes para os aplicadores. Os compostos organofosforados são
ótimos, com toxidade e atividade residual adequadas. No Brasil, um pequeno número de
inseticidas de contato é registrado para uso em grãos armazenados. Os inseticidas de
contato, registrados no Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma
Agrária até 1995, os quais são adicionados diretamente aos grãos no início da
armazenagem, são: Pirimifos-methyl (Actellic 500 CE), para trigo, arroz, milho e
cevada; Deltamethrin (K-Obiol 2 P), para milho em espiga com ou sem palha;
Deltamethrin (K-Obiol 25 CE), para milho e trigo; Permethrin (Pounce 384 CE), para
milho a granel; e Fenitrothion (Sumigran 500 CE), para milho, trigo, cevada e feijão.
Dentre as vantagens dos protetores de grãos sobre os fumigantes, pode-se citar:
apresentam persistência prolongada, ou seja, por meses a anos; segurança na aplicação;
menor exigência de equipamentos especializados; prevenção de infestação de pragas; e
maior eficiência em estruturas construídas para estocagem que não podem ser
fumigadas com eficácia. O maior ponto negativo dos protetores são os resíduos que
permanecem no alimento, apesar de eles geralmente degradarem com o tempo de
armazenagem e com o processamento do alimento.
Alguns inseticidas de contato são também empregados no tratamento de gretas e
fendas do material estrutural, como madeira, concreto ou aço utilizados em pisos,
paredes etc., e no tratamento localizado ou geral de sacarias e equipamentos.
Recomenda-se que todo resíduo deve ser removido dos armazéns no final do período de
armazenamento e que tanto o interior quanto o exterior do armazém devem ser
pulverizados algumas semanas antes de enchê-lo. Os tratamentos dos espaços vazios de
armazéns ou dos espaços superiores acima de um produto são feitos ocasionalmente, a
fim de controlar insetos voadores; para isso, utilizam-se Pirimifos-methyl e
Deltamethrin.
Os limites máximos internacionais para resíduos de inseticidas em grão, grão
processado e sementes oleaginosas, que resultam de aplicação na pós-colheita, são

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 393


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde e pela Organização das Nações


Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Em sua maioria, os inseticidas de
contato usados em armazéns são lipofílicos e acumulam-se em áreas de alto teor de
gordura, como no gérmen e farelo dos cereais e no óleo nas sementes oleaginosas.
Os fatores que afetam a absorção do inseticida pelo produto são: tipo de
inseticida, tipo de grão (teor de óleo e tamanho do grão) ou do produto processado e
armazenado, idade do armazém, temperatura e interações. A persistência e translocação
do inseticida diminuem de acordo com o tempo de construção do depósito.
É geralmente recomendado que sementes oleaginosas não sejam armazenadas
em estruturas recentemente tratadas com inseticidas, já que a maioria é lipofílica e
rapidamente absorvida pela semente, a qual é formada de 45% de óleo (colza, linho,
girassol etc.).
A degradação dos inseticidas de contato em grãos armazenados é afetada pelo
teor de umidade e pela temperatura do grão. Altas temperaturas geralmente causam
rápida degradação, mas os produtos químicos são mais tóxicos para insetos a altas
temperaturas, embora alguns piretróides sejam mais tóxicos a temperaturas baixas. A
presença de fungos pode também acelerar a degradação de inseticidas para compostos
não-tóxicos. O tipo de formulação do inseticida geralmente não afeta a taxa de
degradação; entretanto, estas taxas aumentam consideravelmente quando a umidade dos
grãos está em equilíbrio com uma umidade relativa de 70% ou mais.
A atividade residual de muitos inseticidas é acentuadamente diminuída em
superfícies como o concreto, que, em razão da hidrólise, tem pH em torno de 10,5. Na
madeira tratada e no aço permanecem efetivos por longos períodos, por causa do pH
moderado, em torno de 6,0. Isto é importante, pois em graneleiros e armazéns os pisos
são geralmente de concreto.
Nas estruturas dos armazéns, geralmente os insetos têm refúgio (fendas etc.)
para se esconder, mas muitos fatores afetam o comportamento de procura por refúgio.
No entanto, todos os insetos eventualmente morrem, porque eles vagueiam; porém, se
for usado um inseticida de baixa toxicidade ou se ocorrer degradação rápida, isto
resultará em um controle pouco efetivo.
As formulações líquidas, usadas como sprays, incluem concentrados
emulsionáveis (CE), que são diluídos em água, e soluções que são dissolvidas em água
ou óleo.
Formulações secas usadas como spray incluem pós higroscópicos, que
geralmente contêm 50% ou mais de ingredientes ativos e permanecem suspensos em
água, e pós solúveis, que dissolvem em água. Pós que têm ingredientes ativos de
inseticidas carregam partículas secas, como farinha de trigo, argila inerte, talcos ou pós
inorgânicos, ou seja, ácido bórico ou dióxido de silício.

10.3.1.2. Fumigantes
No Brasil, os fumigantes são amplamente empregados e considerados um tipo
especial de pesticida/inseticida. Um conceito que tem sido usado para determinar a
eficácia da maioria dos fumigantes é a concentração x tempo de exposição. Esse
produto é obtido medindo-se a concentração do fumigante durante a fumigação e
multiplicando-se a concentração média pelo tempo de exposição. Se a concentração for

394 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

aumentada, o tempo de exposição pode ser reduzido ou vice-versa. No entanto, o fator


tempo é de fundamental importância, pelo fato de as altas concentrações de fosfina
poderem causar aos insetos uma narcose. Em adição, a fosfina pode não ser absorvida
pelo inseto na proporção direta de sua concentração.
Sob condições práticas, os principais fatores que determinam a concentração do
fumigante depois da aplicação são temperatura, sorção e tempo de exposição do
fumigante, umidade relativa, teor de umidade do produto que está sendo fumigado e
vazamento. Em geral, quanto mais elevada for a temperatura do produto, mais
rapidamente o fumigante matará os insetos. O teor de umidade do produto afetará a
absorção do fumigante e, no caso da fosfina, afetará a reação que libera o gás fosfina.
Em geral, no que se refere ao sucesso da fumigação, o vazamento é o fator de maior
preocupação.
Em qualquer fumigação é necessário manter o gás fumigante em contato com a
praga durante certo tempo, para que ocorra a morte. Se o local estiver mal vedado, o
gás escapará e a fumigação não terá êxito. Isto é verdadeiro quando o envoltório for o
próprio local de armazenamento, saco ou lona impermeabilizada. Outro fator simples,
além da segurança, que também deve ser considerado é a vedação apropriada do
envoltório no qual ocorrerá a fumigação. Mesmo pequenas fendas podem causar falhas,
especialmente quando existem mudanças de pressão entre o interior e exterior do
envoltório, em razão do vento ou do sol que podem atingir o envoltório.
O fumigante mais usado diariamente no controle de insetos dos produtos
armazenados é a fosfina (PH3). O brometo de metila (CH3Br), embora tenha registro
para grãos armazenados, é, atualmente, muito pouco utilizado.
A fosfina é um gás sem cor e insípido, com cheiro de alho ou peixe podre,
quando se apresenta na formulação sólida de fosfeto de alumínio ou fosfeto de
magnésio. Outras propriedades da fosfina são listadas na Tabela 1. Além do baixo peso
molecular e baixo ponto de ebulição, a fosfina é somente 1,2 vez mais pesada que o ar,
o que lhe permite se misturar a este sem o sistema de recirculação. A maior
desvantagem da fosfina é o tempo requerido para eliminar completamente o foco da
população de pragas, que é de três a sete dias.
A ação da fosfina em algumas espécies-alvos ou em alguns insetos roedores
ocorre por causa da interrupção da respiração. Há muitas vantagens em se usar a fosfina
na fumigação. Ela é facilmente aplicada e mistura-se com o ar para a sua melhor
distribuição, penetrando no produto mais rapidamente. Pelo fato de ser molécula
pequena, a fosfina difunde-se rapidamente e, conseqüentemente, a ação com material
fumigado é rápida. Além disso, deixa resíduo mínimo após fumigação e aeração e não
interfere na germinação, podendo ainda ser usada em sementes.
O brometo de metila é um gás pouco colorido e com pouco odor nas
concentrações usadas para fumigação. Em concentrações muito altas, o brometo de
metila tem um odor semelhante ao do clorofórmio. Este gás pode ser usado sem nenhum
risco de explosão, pois não é inflamável. Desde a sua descoberta, em 1932, o brometo
de metila tem sido utilizado na fumigação de objetos e de estruturas.
O modo de ação do brometo de metila em ataque de pragas não é bem
conhecido. Tem sido observado que ele age no sistema nervoso central e que os
sintomas são freqüentemente retardados. Com isso, o procedimento correto é esperar no

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 395


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

mínimo 24 horas depois da aplicação para se obter sucesso na fumigação.


A maior vantagem do brometo de metila está na sua alta toxicidade para as
pragas, na sua capacidade de penetrar nos materiais em diferentes temperaturas e
pressões e no fato de não ser inflamável. Por causa destas propriedades, relativamente
curtos períodos de exposição são necessários para se obter uma fumigação efetiva.
Assim, o brometo de metila pode ser usado quando o tempo é um fator crítico, tal como
quando grandes quantidades de materiais devem ser fumigadas em pouco tempo.
As desvantagens do brometo de metila são as seguintes: é um líquido e pode ser
volatilizado no momento da aplicação; é mais pesado que o ar, mas pode ser recirculado
depois da aplicação; pode deixar resíduos em alimentos após a aeração; e a fumigação
de alguns tipos de materiais pode não ser recomendada, pois reduz a germinação e, por
este motivo, seu uso em sementes pode ser arriscado. Tem sido recentemente reportado
que o brometo de metila pode reagir com o ozônio, contribuindo assim para a
diminuição da camada de ozônio, localizada na parte superior da atmosfera.
O brometo de metila tem sido classificado como um ozônio depressor. O “U.S.
Clean Air Act” (Seção 602) - Ação pelo Ar Puro - e o Protocolo de Montreal da
Convenção de Viena de 1992 ordenam a redução da produção de brometo de metila até
os níveis obtidos em 1991 e a eliminação de toda a produção e uso, incluindo a
fumigação, até o ano 2001.

TABELA 1 - Propriedades do fumigante fosfina

Propriedades Descrição
Fórmula PH3
Peso molecular 34,08
Ponto de ebulição - 87,4ºC
Massa específica (ar=1) 1,214 a 0ºC
Ponto de explosão: muito baixo 1,79% de volume no ar
Odor Pura → Inodora
Em mistura → Alho ou peixe podre
Solubilidade em água (baixa) 26 cc/100ml a 17ºC
Método de obtenção (para Fosfeto de alumínio (AlP) ou fosfeto de
fumigação) magnésio (Mg3P2) em reação com a
umidade do ar
Reação AlP + 3H2O → PH3 ↑ + Al(OH)3
Mg3P2 + 6H2O → 2PH3 ↑ + 3Mg(OH)2
1 mg/L = 0.0718% = 718 ppm
Concentração letal para 2,8 mg/L (2.800 ppm)
mamíferos
Nome alternativo Fosfeto de hidrogênio
Fonte: WHITE e LESSCH (1996).

10.3.2. Operações de fumigação ou expurgo


A fumigação de produtos é feita em duas formas gerais. A primeira é a de
quarentena, na qual o produto, sendo exportado ou importado, deve ser fumigado para

396 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

assegurar que a praga associada a ele não seja transportada para uma área onde a praga
não exista. Estas fumigações, consideradas as mais rigorosas, podem ser realizadas no
país de origem ou no país importador. No controle de quarentena o objetivo é matar
100% da população de pragas. Para alcançar este objetivo, o processo de fumigação é
rigidamente controlado. Fumigação de quarentena geralmente ocorre em câmaras
especialmente construídas e planejadas com determinadas proporções para que as
concentrações de fumigantes e a temperatura do produto possam ser medidas através do
processo de aeração e fumigação. Atenção particular é dada à vedação da câmara, para
que o fumigante possa ser conservado a uma concentração que irá matar os insetos na
temperatura do produto. O processo de aeração é também monitorado de perto,
determinando o tempo após o qual o operador poderá, seguramente, entrar na câmara
para remover o produto tratado.
Um outro tipo de fumigação realizada em produtos é o de controle, que é usado
para matar pragas que podem danificar a carga, diminuindo assim sua vida de
armazenagem. As fumigações de controle são conduzidas em uma variedade de
produtos a granel ou embalados (natural ou processados).
No momento em que a fumigação for planejada, é extremamente importante
formular um plano para realização da operação, por exemplo: preparar a carga para o
tratamento, o qual inclui selamento adequado para fechamento; conduzir a fumigação e,
se possível, medir a concentração de gases; e aerar o produto no final do processo.

Clique para ver: vídeo 1

10.3.2.1. Expurgo de grãos a granel


Para se estabelecer um plano de fumigação para o sistema a granel, é necessário,
primeiramente, conhecer o tipo de unidade armazenadora a ser trabalhada. Cada
unidade apresenta características próprias, seja um silo vertical ou os próprios
graneleiros, cuja capacidade, modalidade de estocagem, condições de hermeticidade,
sistema de movimentação do produto e padrão construtivo vão influenciar na maneira
de aplicação e nas dosagens dos fumigantes.
Geralmente, quando se trabalha com fumigante sólido, a distribuição é feita
durante a operação em que o produto está sendo armazenado. Os tabletes, comprimidos
ou sachês são colocados em intervalos regulares sobre a correia transportadora, durante
o carregamento. Em silos de grande capacidade, geralmente são usados equipamentos
que fazem a dosagem automática dos comprimidos ou tabletes (Figura 7).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 397


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

Figura 7 – Aplicação manual e automática para fumigação em silos.

No caso em que as unidades armazenadoras estiverem carregadas, os tabletes ou


comprimidos poderão ser aplicados por meio de sondas, obedecendo-se à seqüência
operacional:
a) Vedar com papel kraft betuminado ou similar os locais de vazamento mais
comuns, como: janela de inspeção (lateral e superior), ventiladores de
aeração, pontos de carga e descarga, respiradores etc.
b) Uniformizar a superfície da massa de grãos, quando possível, de modo a
facilitar a operação de expurgo.
c) Determinar a quantidade de produto existente no silo ou graneleiro e calcular
a dosagem do fumigante.
d) Colocar lençóis plásticos sobre a superfície da massa de grãos (para a
vedação próxima às paredes, utilizar cobras-de-areia).
e) Distribuir o fumigante através das emendas dos lençóis plásticos,
introduzindo a sonda até a profundidade máxima permitida; o acabamento
das emendas dos lençóis deverá ser com velcro, para facilitar o fechamento.
f) Manter o depósito fechado e vedado por um período mínimo de cinco dias.
g) Fazer aplicação de um inseticida residual na superfície da massa de grãos,
após a retirada do lençol plástico.

10.3.2.2. Expurgo de grãos ensacados


Para os grãos ensacados, a operação de expurgo poderá ser feita por meio de
câmaras (móveis ou fixas) ou cobrindo-se as pilhas com lençóis plásticos. Feito em
policloreto de vinila (PVC), com espessura de 0,2 mm, este tipo de plástico oferece,
além da impermeabilidade aos gases, boa resistência ao manuseio. O sistema de
vedação no ponto de contato do lençol com o piso é feito com "cobras-de-areia". Após a
colocação do lençol, deve-se distribuir os comprimidos ou tabletes dentro de caixas que
serão colocadas nas laterais da pilha. O tempo de exposição varia de 96 a 120 horas,
dependendo das condições de temperatura. Após o expurgo, abrir portas e janelas, para
melhor exaustão dos gases.
Para confecção das "cobras-de-areia", cortam-se tiras de pano de 30 cm de
largura por dois metros de comprimento e costuram-se as laterais, formando tubos que
são preenchidos com areia, até a uma altura 25 cm inferior ao comprimento total do

398 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

tubo. Este procedimento visa dar maior flexibilidade à "cobra-de-areia".


Na operação de expurgo de grãos ensacados, obedece-se à seqüência a seguir e
ilustrada pela Figura 8.
a) Verificar a estabilidade da pilha.
b) Inspecionar os lençóis a serem usados na cobertura da pilha, para detectar
possíveis furos;
c) Antes do empilhamento, verificar e retificar possíveis trincas no piso.
d) Colocar o lençol plástico sobre a pilha e distribuí-lo de forma a cobrir todo o
lote a ser fumigado.
e) Fazer a vedação do lençol plástico sobre o piso, pela colocação de "cobras-
de-areia".
f) Calcular a dosagem do fumigante, em função do número de sacos ou do
volume da pilha.
g) Distribuir o fumigante ao redor da pilha e embaixo do lençol plástico.
h) Após duas horas, verificar se existe vazamento do gás; para isso, utiliza-se
papel mata-borrão embebido em solução de nitrato de prata a 10%, que na
presença do gás fosfina reagirá, produzindo manchas escuras (em caso de
vazamento, faz-se novamente a vedação do local).
i) O tempo de exposição deverá ser de pelo menos cinco dias.
j) Proceder à retirada do lençol plástico, sempre observando o sentido do vento.
Tomar o cuidado de abrir todas as portas e janelas, para facilitar a saída de
gases.
k) Fazer uma pulverização protetora em todos os lados e no topo da pilha.

(a) (b)

(c) (d)

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 399


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

(e) e (f) (g)

(h) (i) a (k)

Figura 8 – Seqüência operacional do expurgo de grãos ensacados.

Clique para ver: vídeo 1

10.3.2.3. Expurgo de milho em palha


O armazenamento do milho em palha é uma prática muito usada por pequenos
agricultores em todo o mundo. No Brasil, estima-se que aproximadamente 50% do
milho seja armazenado dessa forma por algum tempo.
Para a operação de expurgo do milho em palha, recomenda-se a seqüência
operacional descrita a seguir:
a) Amontoar uma quantidade conhecida de milho em palha sobre uma área
cimentada ou sobre uma lona plástica.
b) Cobrir o milho com lençol plástico próprio para expurgo ou lona
impermeável ao gás.
c) Vedar com cobras-de-areia, ou outro material que dê boa vedação, a
intercessão do lençol plástico com o piso.
d) Distribuir o fumigante em locais predeterminados, de acordo com as
dosagens pré-calculadas.
e) Deixar o produto exposto ao gás por um período mínimo de cinco dias.
f) Ao armazenar o milho em palha, pulverizar com um inseticida protetor a
superfície de cada camada.

10.3.4. Resistência aos inseticidas

400 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

O uso excessivo dos inseticidas tem resultado no fracasso destes produtos para o
controle efetivo dos insetos em grãos armazenados. São várias as razões do fracasso de
um inseticida. Como exemplo, o insucesso de uma aplicação pode ocorrer quando ele é
aplicado em doses menores do que as indicadas, resultando em exposição dos insetos a
níveis subletais. No entanto, a razão mais provável do fracasso do inseticida é o
surgimento de resistência na população de insetos. Resistência é a habilidade de os
indivíduos de uma mesma espécie resistirem a doses de substâncias tóxicas que
deveriam ser letais para a maioria dos indivíduos em uma população normal.
A extensão do problema da resistência em insetos de produtos armazenados é
séria, devido à dimensão com que cresce. No Brasil foi encontrada resistência de S.
oryzae ao DDT, lindane e malathion. Também foi observada resistência a
organofosforados em S. oryzae, T. castaneum e R. dominica. Nestas três espécies, foi
documentada resistência à fosfina. Resistência a DDT e piretróides foi detectada em seis
raças de S. zeamais, coletadas em quatro estados do Brasil. Utilizando o método de dose
diagnóstico, avaliou-se resistência a malathion, pirimifós-methyl e fenitrothion em S.
oryzae, S. zeamais, R. dominica e T. castaneum. As linhagens dos insetos avaliadas
eram originadas de áreas de armazenamento de grãos e foram coletadas entre 1986 e
1989. A resistência ao malathion foi generalizada em S. oryzae, R. dominica e T.
castaneum. Sitophilus zeamais foi susceptível a todos os três organofosforados. Em
poucas linhagens de S. oryzae, R. dominica e T. castaneum foram encontradas
resistência ao pirimifós-methyl e fenitrothion. Algumas linhagens de T. castaneum
resistentes ao pirimifós-methyl foram também resistentes ao fenitrothion.
À proporção que os insetos vão desenvolvendo resistência a um determinado
inseticida, tornando-o ineficiente, novos produtos deveriam ser utilizados. O uso de
novos inseticidas pode oferecer excelente controle inicial dos insetos, mas, com o
tempo, certas espécies são capazes de desenvolver resistência aos novos produtos,
tornando-os ineficientes. Os piretróides são estáveis nos grãos e, freqüentemente,
protegem por longo período e em baixas doses (menos que 2 ppm). Entretanto, os
insetos podem desenvolver alto nível de resistência aos piretróides.
O melhor modo de retardar a resistência ao inseticida é o manejo integrado de
pragas (MIP). No MIP são utilizados métodos não-químicos em vez de pesticida, só
aplicando-os se a densidade da praga atinge o nível de dano econômico. Os inseticidas
podem ser usados em misturas, rotação, mosaico (algumas áreas tratadas com um
produto e outras com outro), além de outros métodos. Misturas de inseticidas, embora
sejam de alto custo, podem ser a estratégia mais efetiva, porque poucos insetos são
provavelmente resistentes a dois ou mais produtos. No período de aplicação do produto,
o sistema de rotação é melhor que o uso seqüencial, porque os genótipos suscetíveis
têm, geralmente, uma vantagem reprodutiva sobre os genótipos resistentes, na ausência
do inseticida. A freqüência do genótipo suscetível pode aumentar durante o período em
que o inseticida não é usado. O uso de mistura de inseticidas para retardar o
desenvolvimento de resistência nem sempre é melhor que o sistema de rotação.

10.3.5. Resistência aos Fumigantes


Embora o brometo de metila venha sendo usado por, aproximadamente, 60 anos,
pouca ou nenhuma resistência foi desenvolvida para este fumigante. Em 1976, a FAO e

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 401


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

a Inspeção Global de Susceptibilidade a Pesticidas demonstraram que somente 4,7% das


famílias testadas mostraram resistência ao brometo de metila, das quais 9,7%
apresentaram resistência à fosfina. Quando a eliminação do brometo de metila vir a ser
uma realidade, a dependência da fosfina deverá certamente crescer. Técnicas de
aplicação deverão ser desenvolvidas, para evitar rigorosos problemas de resistência.
Resistência à fosfina já tem sido demonstrada em várias espécies de pragas de produtos
armazenados. Em muitas pesquisas, visando encontrar uma causa provável para a
resistência, foi concluído que esta resistência ocorreu em razão das repetidas e
ineficientes técnicas de fumigação. Pesquisas para identificar novos fumigantes e novos
métodos e técnica de desinfestação são de grande importância para proteger os produtos
armazenados até chegarem ao consumidor. A atmosfera modificada poderá ser uma
solução parcial para reduzir o número de fumigantes disponíveis, mas, para tal
propósito, pesquisa necessita ser desenvolvida.
Novos métodos de aplicação e de distribuição do fumigante fosfina têm sido
descritos. Por exemplo, a distribuição de fosfina na massa de grãos pode ser melhorada
se a formulação deste fumigante for aplicada com uma pequena quantidade de CO2. O
uso desta técnica permitirá rápida penetração da fosfina em uma grande massa de grãos
sem precisar instalar equipamentos de recirculação dentro do armazém.
Com relação ao meio ambiente, há uma preocupação com os efeitos dos
fumigantes na atmosfera. Como já mencionado, o brometo de metila é considerado um
dos elementos que contribuem para a destruição da camada de ozônio e, atualmente,
tem-se lutado pela sua eliminação. Pesquisas são necessárias para se detectar a
quantidade e, principalmente, para verificar que quantidade de brometo de metila
artificial contribui para a degradação da camada de ozônio na estratosfera.

10.3.6. Atmosfera modificada


A necessidade de reduzir os níveis de infestação de insetos sem o aumento do
uso de inseticidas, sem a possibilidade de intoxicação dos operadores e sem a presença
de resíduos nos alimentos, proporcionando assim menor impacto ambiental, levou à
busca de alternativas para combater os insetos-pragas de grãos armazenados. Uma
alternativa é a adoção de métodos físicos, dentre os quais destaca-se a proteção dos
produtos armazenados por meio de atmosferas modificadas e controladas.
Vários tipos de atmosferas têm sido estudados: alta concentração de CO2 e, ou,
N2 com baixo O2, alta concentração de CO2 com redução de O2, queima de gás (alto
CO2, baixo O2 mais outros gases) e armazenamento hermético. Os métodos de aplicação
normalmente usados são aqueles que produzem mais facilmente e economicamente a
modificação requerida (veja capítulo 16 ).

10.3.7. Resistência à atmosfera modificada


Atmosferas modificadas não estão na mesma posição dos fumigantes em relação
aos danos causados ao ambiente, uma vez que elas são vistas como compostos que
ocorrem naturalmente, provavelmente escapando de um intenso estudo, como ocorre
para os fumigantes. Entretanto, é válido pensar que estes compostos podem ser
perigosos para aplicar como fumigantes. Ambos, dióxido de carbono e nitrogênio, são
capazes de matar humanos. O primeiro é tóxico e tem valor-limite tolerável de 5% no

402 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

ar. Por outro lado, o segundo, embora apresente um nível natural de 78%, pode fazer
com que a pessoa simplesmente adormeça, por causa da redução de oxigênio.
Novas pesquisas sobre fumigantes e atmosferas modificadas deverão ser
diretamente incorporadas em programas de técnicas de manejo integrado de pragas
(MIP), para armazenamento e proteção de produtos de todos os tipos.
O manejo de grãos armazenados é uma tarefa complexa e os inseticidas são
apenas uma das ferramentas disponíveis para minimizar o dano em grãos e evitar perdas
econômicas causadas por insetos. Os produtos químicos devem ser usados em conjunto
com outras práticas de armazenagem num sistema de manejo integrado de pragas. Os
produtos químicos escolhidos serão baseados em pequeno número de produtos
registrados, custos, efetividade contra os insetos-pragas presentes, resistência do
inseticida, condições ambientais, formulação desejada e duração da atividade residual
requerida.
10.4. Controle Biológico
O controle biológico promete ser um importante componente de estratégias do
manejo integrado de pragas para muitos tipos de armazenamento. Agentes de controle
biológico incluem os patógenos, parasitóides e predadores e são distinguidos pelo fato
de serem capazes de reproduzir depois de sua liberação. Vale ressaltar que o controle
biológico deve ser usado somente como profilaxia e não como estratégia de remediação,
podendo ser mais efetivo quando integrado com outras estratégias, como sanitização,
aeração etc.
Um programa de controle biológico para pragas de produtos armazenados requer
cuidadoso planejamento. Não é simplesmente uma matéria viva de parasitóides e
predadores selecionados de uma lista. Muitos dos inimigos naturais são hospedeiros
específicos, podendo-se determinar que espécie de praga está causando o problema.
O controle biológico é mais efetivo quando há uma relação de parasita para cada
hospedeiro, como 1:2. Cada parasita pode atacar inúmeros hospedeiros por dia. A
integração do controle biológico com outro método de controle é muito importante.
Alguns métodos são compatíveis, outros não. Um exemplo de um método perfeito de
controle compatível é o uso de parasitóides mais aeração do trigo. Neste sistema, os
parasitóides são liberados nos grãos cerca de três semanas depois do armazenamento.
Os parasitóides inibem as populações de insetos antes que excedam os níveis de danos
econômicos durante os meses de verão, até que a aeração possa ser usada para resfriar o
grão.
Os inseticidas têm sido tradicionalmente incompatíveis com a aplicação de
controle biológico; algumas vezes eles afetam os parasitóides e predadores mais
severamente que a praga-alvo. Por exemplo, organofosforados, piretróides e carbamatos
foram mais tóxicos para Anisopteromalus calandrae que para Callosobruchus
maculatus. Uma forma de reduzir a incompatibilidade de inseticidas com o controle
biológico é usar formulações de alta “seletividade”, a qual é mais tóxica para pragas que
para os agentes de controle biológico.
Inseticidas microbianos como Bacillus thuringiensis (Bt) são algumas vezes
mais seletivos que componentes sintéticos; no entanto, eles podem adversamente afetar
parasitóides e predadores. Entretanto, se inimigos naturais atacam preferencialmente
hospedeiros que recebem baixas doses ou que são menos suscetíveis a inseticidas ou

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 403


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

patógenos, a compatibilidade pode ser melhorada.


O tipo de produto, o meio ambiente e as condições de armazenamento podem
afetar decisões sobre quando e como muitos agentes de controle biológico podem agir.
A qualidade dos próprios agentes de controle é um assunto sério, porque sua eficácia
pode ser afetada pelas condições durante produção, genética, criação, armazenamento,
preço e condições de manuseio.
Nos Estados Unidos, os agentes de controle biológico já estão legalizados para
uso em muitas situações de armazenamento de alimentos. O Bt é utilizado
comercialmente, e pelo menos um insetário comercial é abastecido de poucas espécies
de parasitóides e predadores apropriados para produtos armazenados. No entanto, para
ser realizado, é preciso que haja um sistema de regulamentação de parasitóides ou
predadores, estabelecendo eficácia, segurança e forma de aplicação, como existe para
inseticidas químicos ou biológicos. No Brasil, a introdução do ácaro Acarophenax
lacunatus como agente de controle biológico de Rhyzopertha dominica ocorreu somente
depois de um estudo completo de sua eficácia como inimigo natural no controle das
populações de sua presa; os autores constataram que A. lacunatus é bastante eficiente no
controle das populações de R. dominica, causando reduções de até 94% das populações
do inseto adulto, e de 99% de ovos e larvas, num período de 45 dias.
A necessidade de uma integração de métodos biológicos, físicos e químicos no
controle de pragas de grãos armazenados já é reconhecida e alguns estudos estão sendo
realizados, principalmente, em condições tropicais. Embora pareça inicialmente de alto
custo, quando uma demanda real dessas novas técnicas for criada, estimulará a produção
comercial de equipamentos e agentes de controle a preços competitivos. A importância
dessas estratégias está no fato de que elas complementam e reduzem os efeitos adversos
inerentes ao controle químico.

11. LITERATURA CONSULTADA

1. BROOKER, D. B.; BAKKER-ARKEMA, F. W.; HALL, C. W. Drying and


storage of grains and oilseeds. Westport: AVI, 1992. 450p.
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Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 405


Capítulo 15 Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos Armazenados

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406 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 16 Controle de Pragas por Atmosferas Controladas

Capítulo

16
CONTROLE DE PRAGAS POR ATMOSFERAS CONTROLADAS

Adriano Divino Lima Afonso


Juarez de Sousa e Silva
Pedro Amorim Berbert

1. INTRODUÇÃO

Pela constante necessidade de melhor qualidade dos alimentos, em um futuro


próximo, o método de controle químico, assim como outros métodos de conservação de
produtos agrícolas, poderão não ser utilizados por razões de saúde humana e animal,
ambiental e por questões econômicas.
Com relação ao armazenamento de grãos, os principais estudos objetivam a
redução das perdas ocasionadas, principalmente, por insetos e fungos e a conservação
do produto por sistemas de aeração/termometria mais eficientes.
As pragas dos grãos armazenados em condições de climas tropicais,
particularmente os insetos, têm grande importância como agentes causadores de perdas
qualitativas e quantitativas por encontrarem um ambiente ideal para o seu
desenvolvimento (veja capítulo 15 – Manejo de Pragas no Ecossistema de Grãos
Armazenados).
O controle químico tradicional, empregado em todo o mundo pelos agentes
armazenadores na proteção e no combate à infestação de insetos nos produtos agrícolas
armazenados, é efetivo, de fácil manejo e de baixo custo, quando comparado com
métodos não-tradicionais. Os problemas de segurança com operadores, devido à
inobservância das práticas corretas de aplicação do inseticida, de aplicação de
subdosagens e do princípio ativo recomendado, e o desrespeito ao tempo mínimo de
contato do inseticida têm feito com que determinados insetos que atacam o produto
armazenado desenvolvam resistência às dosagens convencionais do princípio ativo de
determinados inseticidas.
Os fatos mencionados, aliados aos problemas da presença de resíduos químicos
nos alimentos, inobservância do prazo de carência e do impacto ambiental causado pelo
lixo das embalagens do inseticida, têm feito com que se desenvolvam estudos visando
encontrar maneiras alternativas para manutenção da qualidade dos grãos durante o
armazenamento que não sejam danosas à saúde e ao meio ambiente. Apesar dos bons

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 407


Capítulo 16 Controle de Pragas por Atmosferas Controladas

estudos até então desenvolvidos, nenhum método não-químico está sendo


comercialmente difundido em grande escala. O controle dos insetos por meios químicos
continua sendo praticado com bons resultados, apesar dos problemas já citados.

2. USO DE ATMOSFERA CONTROLADA

Nos últimos anos, principalmente na Europa, um número significativo de


informações vem sendo obtido a respeito dos efeitos de atmosferas modificadas ou
controladas sobre a qualidade dos produtos armazenados e sobre os organismos vivos a
eles associados. Além disso, a armazenagem subterrânea de produtos agrícolas tem sido
praticada há séculos, visando criar um ambiente letal aos organismos vivos que atacam
os grãos armazenados. Este sistema se traduz numa forma de Armazenagem em
Atmosfera Controlada (AAC). Usualmente, a técnica denominada AAC consiste em
armazenar o produto em ambiente contendo maior quantidade de certos gases do que
numa atmosfera normal de nitrogênio, oxigênio, dióxido de carbono etc., ou
simplesmente saturando a atmosfera natural da massa de grãos com uma atmosfera
inerte, objetivando suprimir todos os parasitas e manter inalteradas a viabilidade e a
preservação das qualidades do produto armazenado.
Basicamente, a técnica de atmosfera controlada substitui, após o carregamento
da unidade armazenadora com o produto a ser armazenado, a atmosfera interna da
massa de grãos pela injeção de um gás (dióxido de carbono, nitrogênio, amônia ou uma
mistura de gases) até que a concentração de oxigênio residual seja reduzida a um
determinado valor. Algumas pesquisas têm monstrado que a maioria dos insetos
presentes na massa de grãos morre quando a concentração de oxigênio no ar
intergranular é reduzida a 2% em volume.
Na Austrália, a AAC com alto teor de CO2 é usada comercialmente no controle
de insetos em grãos de trigo e, na Itália, a utilização do nitrogênio vem sendo testada
desde meados dos anos 70, ambos de forma economicamente competitiva com a
armazenagem convencional, a qual requer produtos químicos para o controle das
pragas. Nos Estados Unidos, a aeração refrigerada vem sendo aplicada com sucesso em
escala experimental para armazenagem de trigo.
Sistemas não-químicos representam uma grande conquista como forma de
controle de insetos, considerando-se a crescente resistência que os insetos estão
apresentando aos métodos químicos tradicionais. Na América Latina, com exceção de
alguns trabalhos realizados na Argentina, só recentemente relatou-se a preocupação dos
técnicos com a AAC. Neste sentido, alguns trabalhos foram realizados no ITAL-SP e na
UFV. Uma comparação sistemática dos resultados encontrados por diferentes
pesquisadores é bastante difícil de se conseguir, considerando que a mortalidade dos
insetos, obtida sob condições de variadas composições gasosas, depende muito das
condições de temperatura e umidade relativa do ar intersticial na massa de grãos. Além
disso, os efeitos da atmosfera controlada sobre os insetos nas formas de ovos, larvas e
pupas são também variáveis e constituem objeto de muitos estudos, como será visto
mais adiante.
Além do nível de hermeticidade e da concentração residual de oxigênio no
interior de uma unidade armazenadora, o tempo necessário para que a população de

408 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 16 Controle de Pragas por Atmosferas Controladas

insetos, em todas as fases de desenvolvimento presentes em uma massa de grãos em


condições de AAC, atinja a percentagem ideal de mortalidade irá depender de fatores
como: teor de umidade e estado físico do produto, intensidade do ataque de insetos,
temperatura e umidade relativa do ar intergranular.

3. EFEITOS DAS CONDIÇÕES AAC

3.1. Composição Gasosa


Pesquisas demonstram o efeito sinergístico da combinação "baixa concentração
de O2 e alta de CO2" sobre os adultos de Tribolium castaneum e mostram a
possibilidade de usar concentrações relativamente altas de oxigênio, quando
suplementado por dióxido de carbono, como fórmula de atmosfera controlada no
controle dos insetos que infestam os grãos armazenados. Este método é vantajoso nos
casos em que a solução dos problemas de vazamento de gás nas unidades de tratamento
é de difícil controle. Observou-se, em testes de laboratórios, que ovos de Tribolium
castaneum não eclodem em atmosferas com concentrações de CO2 acima de 20%,
mesmo quando a concentração de O2 está em torno de 19%. Concentrações de CO2 em
torno de 60%, para tempo de exposição de quatro dias e temperatura de 27°C, foram
suficientes para eliminar 95% da maioria dos insetos de grãos armazenados. Inferiu-se,
então, que a elevação da concentração de CO2 e a diminuição simultânea do O2
propiciam ambiente ainda mais favorável ao controle de pragas.
Outros pesquisadores relatam que o fator decisivo no controle de pragas é a
remoção do oxigênio presente e não a elevação da concentração de CO2 nos espaços
intergranulares. Em infestações contendo insetos em diversos estágios de
desenvolvimento (ovo, larva, pupa e adulto), a maior parte das formas imaturas morre
quando a concentração de O2 reduz-se a níveis próximos de 5%. Os insetos adultos
sobreviventes morrerão de forma natural após quatro a seis semanas, ao completarem
seu ciclo de vida. A reduzida população que emerge a cada nova geração irá estabilizar-
se e não dará origem a infestações severas.
Para prolongar o tempo permissível de armazenagem, garantindo também a
qualidade dos grãos, a amônia (NH3) tem sido indicada durante a secagem em baixas
temperaturas. Em doses baixas (0,5%), a amônia inibe o desenvolvimento de
microrganismos, enquanto estudos têm sido feitos sobre a ação da amônia em doses
elevadas na desintoxicação de produtos contaminados com aflatoxina. Entretanto,
nenhum trabalho foi realizado para mostrar o efeito da amônia no controle de insetos.
Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) não liberou esta técnica,
ao considerar que a amônia está sendo usada como germicida. Liberou, no entanto, os
produtos tratados com amônia para uso na alimentação animal. Uma grande dificuldade
encontrada no emprego da amônia refere-se a seu alto poder corrosivo, que, em curto
espaço de tempo, danifica as partes metálicas da estrutura de armazenamento e muda
substancialmente a cor do produto. Para contornar estes problemas, a unidade de
tratamento deve ser construída com material apropriado ou as estruturas convencionais
existentes devem receber tratamentos especiais anticorrosão. Já as mudanças de cor
afetam pouco a qualidade do produto destinado à ração animal, não perdendo o valor
comercial enquanto for usado na própria fazenda.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 409


Capítulo 16 Controle de Pragas por Atmosferas Controladas

3.2. Efeito da Temperatura


Apesar de ser possível encontrar na literatura diversos dados sobre o controle de
insetos com atmosferas modificadas, a grande maioria destes trabalhos foi desenvolvida
para condições de climas temperados. Portanto, há grande carência de dados sobre a
utilização de atmosferas modificadas em condições tropicais.
O tempo necessário à obtenção de certo nível de mortalidade dos insetos
expostos a uma determinada composição da atmosfera gasosa é altamente dependente
da temperatura ambiental de armazenagem. De fato, sob o aspecto fisiológico, a uma
atmosfera normal, o desenvolvimento de insetos só ocorre dentro de uma faixa bastante
pequena de temperatura. Por exemplo, das fases de ovo a adulto de Sitophilus oryzae, os
limites para desenvolvimento estão próximos ao intervalo de 18-40oC. Abaixo e acima
destes valores, observa-se grande índice de mortalidade, enquanto dentro destes limites
a taxa de desenvolvimento é muito afetada pela temperatura.
Como tem sido mostrado por vários estudos, o efeito do tratamento inseticida,
especialmente quando se trata de produtos que agem através do sistema respiratório
(caso dos fumigantes), é muito mais acentuado em altas temperaturas. Apesar dos
poucos estudos, o efeito da atmosfera controlada parece ser similarmente dependente da
temperatura da atmosfera granular. A Figura 1 mostra que, a uma dada composição
gasosa, quanto mais alta for a temperatura, menor será o tempo necessário para atingir
95% de mortalidade.
Numa atmosfera com menos de 1% de O2 e com 9 a 9,5% de CO2, adultos de
Rhyzopherta dominica foram mais tolerantes que o Tribolium castaneum. O decréscimo
no número de horas para alcançar 95% de mortalidade, para as espécies apresentadas na
Figura 1, foi bastante acentuado, entre 15 e 20oC. Esta figura mostra, também, que
tempos maiores serão necessários, a uma mesma concentração de gases, para atingir um
controle efetivo, quando as temperaturas na massa de grãos forem mais baixas.

Figura 1 - Efeito da temperatura no tempo de exposição para produzir 95% de


mortalidade em insetos sob duas composições de gases.

410 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 16 Controle de Pragas por Atmosferas Controladas

Se houver diferentes temperaturas nas várias partes da massa de grãos, a


temperatura mais baixa, média, indicará o tempo necessário para um controle mais
efetivo. Também, ao se empregar a técnica de atmosfera controlada, devem-se levar em
conta as espécies mais resistentes encontradas na massa do produto armazenado, a fim
de estabelecer o tempo mínimo de tratamento necessário.

3.3. Efeito da Umidade Relativa


A umidade relativa do ar influencia a sobrevivência dos insetos, afetando
principalmente sua umidade corporal. Condições extremamente secas são, geralmente,
desfavoráveis à reprodução de muitas espécies de insetos. A sobrevivência de insetos
sob condições secas depende de suas condições de equilíbrio entre a perda de água
corporal e o ganho de água do ambiente. Assim, a manutenção da quantidade de vapor
d'água dentro de certos limites, em produtos armazenados, é um aspecto importante que
influenciará a estrutura e a fisiologia dos insetos, considerando-se que a umidade
relativa do ar dentro da massa de grãos é altamente dependente do teor de umidade do
produto.
Quando se levam em consideração uma baixa concentração de O2 e uma alta
concentração de CO2, a umidade relativa tem grande influência sobre o tempo
necessário para atingir a mortalidade total dos insetos, ou seja, o tempo de exposição do
inseto a determinada atmosfera controlada é diretamente proporcional à umidade
relativa do ar intersticial na massa de grãos. Estudos indicam que, a uma umidade
relativa entre 20 e 24% (considerada extremamente baixa para as condições normais de
armazenamento), são necessários 3,2% de O2 e 4,3% de CO2 no ar intergranular para
alcançar 100% de mortalidade da Ephestia cautella. Por outro lado, quando a atmosfera
a esta composição, se encontra em umidades relativas mais altas, ocorre grande número
de sobreviventes na fase de pupa. Esses resultados indicam que os tratamentos que usam
atmosfera controlada podem ser mais eficazes quando o teor de umidade do produto for
baixo. Devido ao fenômeno de migração de umidade, o teor de umidade do produto em
determinadas partes da massa de grãos é maior do que em outras. Este fato determina
que se deve aplicar uma concentração maior de gases para compensar o elevado teor de
umidade nos pontos mais úmidos, na massa de grãos.

3.4. Efeito da Hermeticidade da Célula Armazenadora


A total hermeticidade do sistema armazenador é condição primordial para um
controle eficaz de pragas, visto que garantirá a manutenção da concentração de oxigênio
em níveis reduzidos durante o período de tempo necessário para alcançar a mortalidade
desejável. Para construir ou adaptar grandes células de armazenamento em ambientes
totalmente herméticos, é ainda economicamente inviável. Em face destas restrições, a
utilização de ambientes totalmente herméticos torna-se uma alternativa economicamente
viável somente para armazenar pequenos volumes de grãos com grande valor comercial.
Uma solução razoável para o problema consiste na redução da concentração de oxigênio
nos espaços intergranulares por meio da introdução de um gás inerte rico em dióxido de
carbono produzido artificialmente, a um custo reduzido, e periodicamente injetado na
célula armazenadora.
Alguns estudos, entretanto, mostram que é técnica e economicamente viável a

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 411


Capítulo 16 Controle de Pragas por Atmosferas Controladas

conversão de determinadas estruturas de armazenamento em unidades com elevado grau


de hermeticidade para o uso da armazenagem em atmosferas modificadas (AAM), onde
o oxigênio do ar intergranular é consumido pela respiração do produto e dos insetos.
Considera-se então que a utilização de atmosferas controladas em ambientes pouco
herméticos também seja uma alternativa tecnicamente viável, desde que seja possível o
fornecimento, a baixo custo, de uma atmosfera rica em CO2. Neste caso, deve-se
estabelecer o critério ideal de manejo (intervalo entre aplicações), visando o controle e a
manutenção das populações de insetos em níveis mínimos aceitáveis.

4. AMBIENTES COM BAIXAS CONCENTRAÇÕES DE OXIGÊNIO

Ambientes com baixas concentrações de oxigênio e altas concentrações de


dióxido de carbono podem ser obtidos pelos seguintes métodos:
a) Armazenamento de grãos em células herméticas - trata-se de um método
de conservação em atmosfera modificada tradicional, onde os grãos secos são
armazenados em um ambiente hermético com modificação gradual da composição da
atmosfera intergranular, que é obtida pela redução e pelo aumento das concentrações de
O2 e CO2, respectivamente, e pela respiração dos grãos, insetos e dos organismos
presentes no produto armazenado. Nestas condições, resulta-se na morte das pragas por
asfixia. Basicamente, a respiração aeróbica envolve a quebra de carboidratos, presentes
na constituição dos grãos, na presença de oxigênio, produzindo dióxido de carbono,
água e energia (equação1).

C6H12O6 + 6 O2 ⇒ 6 CO2 + 6 H2O + energia eq.1

Parte da energia liberada no processo de respiração é utilizada pelos próprios


organismos para manutenção de seus processos vitais e parte é liberada para o ar
intergranular em forma de calor latente.
Tendo como principal característica a hermeticidade do sistema armazenador
(ausência de trocas gasosas), nesta forma de armazenagem, uma vez carregada e
fechada a célula armazenadora, esta só poderá ser aberta por ocasião da utilização do
produto. Em razão de problemas técnicos e econômicos para a manutenção da
hermeticidade de grandes unidades, a disseminação desta técnica de armazenamento é
muito pequena.
Além dos fatores anteriormente mencionados, qualquer entrada acidental de
oxigênio, aliado ao armazenamento de produto infestado por insetos, trará
conseqüências danosas. A baixa condutividade térmica dos grãos resultará em
aquecimento, aumento da infestação e conseqüente deterioração do produto
armazenado.
b) Introdução de gás tóxico ou inerte (AAC) - em face da restrição de
hermeticidade total do sistema, imposta pelo método anterior, a alternativa consiste na
redução da concentração de oxigênio nos espaços intergranulares por meio da
introdução de um gás tóxico ou inerte (dióxido de carbono ou nitrogênio) nas células
armazenadoras. O objetivo deste método é atingir o sistema respiratório do inseto em
sua demanda por oxigênio, com aplicações periódicas num ambiente não-hermético,

412 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 16 Controle de Pragas por Atmosferas Controladas

como é o caso de muitos silos para armazenagem de grãos. De modo geral, os custos
envolvidos na implantação e operação, em sistemas não-herméticos, são relativamente
elevados, devido ao elevado custo de transporte e à disponibilidade comercial de gases
próximos aos sistemas armazenadores, razão pela qual não é, ainda, utilizado em grande
escala.
c) Atmosfera controlada pela geração de CO2 - este método consiste na
queima de um combustível em equipamentos denominados geradores de CO2,
utilizando-se do oxigênio presente na massa de grãos armazenada e no ar atmosférico.
Pode-se dizer, em termos práticos, que a composição média em volume do ar
intergranular de um silo convencional é próxima à do ar atmosférico, ou seja: 78% de
N2, 21% de O2 e 1% de outros gases, incluindo o CO2. Dessa forma, a concentração
máxima de dióxido de carbono que se pode obter nos gases provenientes da queima de
um combustível é de 21%, considerando uma combustão completa, ou seja, que todo o
oxigênio presente no ar tenha reagido com o combustível no interior do gerador de CO2,
produzindo dióxido de carbono, água e energia (equações 2 e 3).

Combustão completa do carbono:


C + O2 → CO2 + ∆Q1 eq. 2

Combustão do hidrogênio:
2H2 + O2 → 2H2O + ∆Q2 eq. 3

Além de não ser necessária uma total hermeticidade das células armazenadoras,
a principal vantagem da utilização desta forma de atmosfera controlada é a obtenção do
CO2 pela simples queima de um combustível (carvão vegetal, álcool, GLP, etc.)
disponível e próximo à unidade armazenadora. Esta vantagem é explicada pela
facilidade na obtenção a baixo custo, pela geração própria do CO2 e pela facilidade de
operação do sistema, que é realizada por injeção periódica do gás, cujo intervalo de
aplicação irá depender do grau de hermeticidade da célula armazenadora e do nível de
infestação por insetos.
Como desvantagem da técnica de obtenção do CO2 há a necessidade de cuidados
especiais necessários durante a operação de queima do combustível. Durante a queima
do combustível, deve-se ter como objetivo a combustão completa ou estequiométrica. A
queima incompleta formaria monóxido de carbono, gás altamente explosivo e tóxico ao
ser humano (equação 4).

Combustão incompleta do carbono:

C + ½ O2 → CO + ∆Q3 eq. 4

A Figura 2 mostra o esquema de um circuito fechado de geração CO2,


desenvolvido no Departamento de Engenharia Agrícola/UFV, para a conservação de
milho em atmosfera modificada.
Basicamente, o gerador de CO2, modelo UFV, é constituído de um queimador de
combustível; de um trocador de calor, que tem por objetivo abaixar a temperatura dos

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 413


Capítulo 16 Controle de Pragas por Atmosferas Controladas

gases provenientes da combustão; e de um refrigerador/trocador de calor, que tem por


finalidade abaixar a temperatura e a umidade relativa dos gases que serão injetados na
célula armazenadora.

Figura 2 - Esquema de armazenamento em atmosfera modificada, utilizando um


gerador de CO2, modelo UFV.

Como dito anteriormente, a obtenção do oxigênio para a queima do combustível


pode ser de dois modos:
Uso do oxigênio do ar intergranular - neste caso, utiliza-se o O2 da atmosfera
intergranular num sistema de recirculação até que a combustão se torne impossível, isto
é, a combustão não poderá ser mantida. A vantagem está na obtenção de concentrações
cada vez maiores de dióxido de carbono e menores de oxigênio no interior da célula.
Como desvantagem, apresenta risco maior de formação de monóxido de carbono, que é
formado na escassez de oxigênio.
Uso do oxigênio do ar atmosférico - neste caso, os gases provenientes da
combustão são injetados na célula armazenadora, substituindo o ar intergranular. A
concentração final de dióxido de carbono dependerá do tipo de combustível e da
capacidade do gerador para maximizar a reação entre o oxigênio e o combustível para a
produção de dióxido de carbono.

5. CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS

De acordo com os resultados apresentados por grande número de pesquisadores,


sobre o uso da atmosfera controlada, o índice de 100% de mortalidade de insetos
dificilmente é atingido. Uma razão que justifique essa falta de índices elevados não foi
ainda analisada com profundidade. Normalmente, os testes de campo têm sido baseados
na manutenção de uma composição gasosa, dentro dos limites indicados pela literatura,
em silos e "containeres" com o máximo possível de hermeticidade.

414 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 16 Controle de Pragas por Atmosferas Controladas

Na prática, é muito difícil e dispendioso manusear grandes estruturas


completamente herméticas. É por esta razão que, em muitos casos, observa-se grande
número de insetos sobreviventes onde há vazamento, principalmente no topo e no fundo
da unidade e em aberturas para carga/descarga e ventilação.
Um dos maiores problemas que podem surgir ao longo do tempo devido à falta
de hermeticidade em silos refere-se ao desenvolvimento de formas resistentes à
atmosfera controlada; isto ocorre, apesar das poucas referências existentes sobre o fato.
Também, outros fatores, não advindos de vazamentos, podem contribuir para uma baixa
efetividade no controle de insetos. Períodos prolongados de exposição (várias semanas)
são necessários, dependendo da espécie, temperatura e umidade relativa para alcançar
bons índices de mortalidade.
Sob certas condições, é pouco prático manter uma concentração de gases
satisfatória por tempos prolongados especialmente quando a temperatura está abaixo da
faixa-limite para o desenvolvimento do inseto que está infestando o produto. Os
carregamentos adicionais de grãos sobre a massa de grãos em tratamento também
constituem fatores que exigem o prolongamento do tempo de exposição, pois podem
causar rápida reinfestação. A secagem em um nível que possibilite um controle eficiente
é também considerada antieconômica e pouco prática. Portanto, o teor de umidade do
produto deve ser seriamente observado quando se determinam a concentração de gases e
o tempo de exposição necessário a um controle efetivo.
Assim, o tratamento usando atmosfera controlada deveria ser empregado quando
houvesse altas temperaturas por tempo prolongado. Após o tempo necessário de
exposição, deve-se fazer uma aeração para reduzir a temperatura da massa de grãos.
Essa seqüência de tratamentos garantirá um controle mais eficaz das espécies que
infestam o produto, ou seja, o tratamento com atmosfera controlada deverá produzir a
maior mortalidade possível, enquanto o resfriamento contribuirá como uma etapa
protetora, impedindo que ocorra aumento na taxa de reprodução dos elementos
sobreviventes de uma população de insetos.
Resumindo, pode-se dizer que, há anos, a propriedade inseticida das atmosferas
modificadas de oxigênio, dióxido de carbono e nitrogênio vem sendo reconhecida em
várias partes do mundo. Também é crescente o interesse pela adoção da nova
tecnologia, visto que os métodos químicos atuais vêm sendo progressivamente
descartados, embora, na fazenda, alguns estudos indiquem custos desfavoráveis para
esta técnica, quando ela é comparada ao uso de fumigantes.
Finalmente, pode-se afirmar que quatro fatores são necessários ao uso da
atmosfera controlada no combate aos insetos que infestam os grãos armazenados: a
atmosfera deve ser facilmente obtida em volume suficiente para deslocar e substituir
com eficiência a atmosfera normal da massa de grãos dentro de uma unidade de
tratamento; a atmosfera deve ser letal dentro do menor tempo possível; a atmosfera não
pode ser prejudicial à qualidade do produto nem à estrutura da unidade armazenadora
(problema encontrado com o uso da amônia); e a unidade armazenadora deve possuir
boa capacidade para retenção de gases.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 415


Capítulo 16 Controle de Pragas por Atmosferas Controladas

6. LITERATURA CONSULTADA

1. BAILEY, S.W., BANKS, H.J. A review of recent studies of the effects of


controlled atmospheres on stored product pests. Canberra: CSIRO Division
of Entomology, 1980. p. 101-118.
2. BURREL, N.J. Effect of Airtight on Insect pests of Stored Products. IN:
Controlled Atmosphere Storage of Grains - International Symposium,
Castelgandolfo, Italy, 1980.
3. CALDERRON, M., NAVARRO, S. Synergistic effect of CO2 and O2 mixtures on
two stored grain insect pest. In: SHEJBAL, J. (Ed.). Controlled atmosphere
storage of grains. Amsterdam: Elsevier, 1980. p.101-118.
4. FARONI, L.R.A. Biologia y control del gorgojo de los granos Rhyzopertha
dominica (F.). Universidad Politécnica de Valencia, E.T.S.I.A. Valencia,
Espanha 134p. 1992 (Tesis doutorado).
5. FARONI, L.R.A. Manejo das pragas dos grãos armazenados e sua influência na
qualidade do produto final. Rev. Bras. de Armazenamento, Viçosa, vol. 17,
No 1 e 2, 1992.
6. GUEDES, R.N.C. Manejo integrado para a proteção de grãos armazenados contra
insetos. Rev. Bras. de Armazenamento, Viçosa, Vol. 15 e 16 No. 1 e 2,
1990/91.
7. JAY, E.G., ARBOGAST, R.T., PEARMAN, JÚNIOR, G.C. Relative humidity its
importance in the control of stored - product insects with modified atmospheric
gas concentrations. J. Stored Prod. Res., Vol. 6, s.n., p. 325-329, 1971.
8. JAY, E.G. Imperfections in our current knowledge of insect biology as related to
their response to controlled atmospheres. In: RIPP E. (Ed). Controlled
atmosphere and fumigation in grain storage. Amsterdam: Elsevier, 1984.
p.493-508.
9. MARTINAZZO, A.P. Utilização da fosfina em combinação com dióxido de
carbono no controle do Rhyzopertha dominica (F.). Viçosa: UFV, 1998. 88p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) - Universidade Federal de
Viçosa, 1998.
10. NAVARRO, S. & CALDERON, M. Integrated approach to the use of controlled
atmospheres of insect control in grain storage. IN: Controlled Atmosphere
Storage of Grain - International Symposium, Castelgandolfo, Italy, 1980.
11. NAVARRO, S. DIAS R., DONAHAYE, E. Introduced tolerance of Sitophilus
oryzae adults to carbon dioxide. J. Stored Prod. Res., Vol. 21, no.4, p. 207-
213. 1985.
12. SCOTT, H.G. Nutrition changes caused by pests in food. Management of Food
Industry Pests. Harrington, Virginia, 4(35): 463-467. 1991.

416 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Capítulo

17
SECAGEM E ARMAZENAGEM DE PRODUTOS AGRÍCOLAS

Juarez de Sousa e Silva


Adílio Flauzino de Lacerda Filho
Solenir Ruffato
Pedro Amorim Berbert

1. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE MILHO

Para armazenamento seguro do milho por 12 meses, o teor ideal de umidade está
entre 12 e 13% b.u., podendo-se ter tolerância máxima de 14% b.u., quando aplicada
corretamente a técnica de aeração. Para períodos superiores, aconselha-se que, mesmo
com os devidos cuidados, a umidade máxima não ultrapasse os 11% b.u.,
principalmente para as regiões mais quentes e úmidas.
A secagem do milho pode ser feita no próprio campo ou em secadores que
utilizam a energia do sol, ou, ainda, em secadores mecânicos que utilizam a queima de
biomassa e derivados do petróleo para promover o aquecimento do ar de secagem.
A secagem do milho produzido no Brasil, em grande parte, ocorre na própria
planta, ainda no campo. Isto porque as condições climáticas por ocasião da colheita são
favoráveis, e esta prática é muito difundida entre os pequenos agricultores, que, devido
à falta de capital disponível, não investem em infra-estrutura adequadas para a secagem
e armazenagem de seus produtos. Assim, as técnicas utilizadas para secagem do milho
no Brasil, com exceção dos grandes empresários, são as mais simples e, para a maioria
dos pequenos produtores, as mais precárias.
A secagem natural, como descrita no Capítulo 5 (Secagem e Secadores), é pouco
segura, uma vez que o produto fica no campo, sujeito a condições ambientais
desfavoráveis. Além disso, em ambientes com temperaturas elevadas que causam
elevação da taxa respiratória, faz com que o produto consuma parte de suas reservas,
comprometendo sua qualidade final.
Outra desvantagem da secagem no campo é que o milho pode ser atacado por
insetos, pássaros, roedores e microrganismos, principalmente fungos, que contribuem
significativamente para sua deterioração.
Uma prática comum adotada por pequenos agricultores consiste em colher as
espigas secas e amontoá-las ao longo da linha de plantio. Isto provoca aumento nas

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 417


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

tensões causadas pela secagem e reumedecimento, resultantes de variações nas


temperaturas noturna e diurna, umidade relativa do ar e chuvas esporádicas.

1.1. Secagem Artificial do Milho


A secagem em secadores é uma técnica que visa preservar as qualidades do
milho, considerando que, quando colhido mecanicamente, apresenta-se com alto teor de
umidade (24 a 26% b.u.) para armazenagem, porém com alta qualidade e elevado teor
de matéria seca.
A Tabela 1 mostra o tempo permissível para armazenagem (TPA) de milho sob
diferentes condições de temperatura e umidade. Observa-se que, à medida que o produto
perde umidade, sob uma mesma temperatura, o risco de deterioração diminui. Caso a
secagem seja um processo contínuo em toda a camada de grãos, o tempo durante o qual
ela deve ser concluída pode ser maior do que o tempo previsto com base nas condições
iniciais do produto. Por outro lado, se for deixada com elevado teor de umidade dentro
de um silo sem ventilação, poderá deteriorar em tempo menor do que o previsto, pois
sofrerá aquecimento resultante do processo respiratório e da atividade dos
microrganismos, intensificando ainda mais o processo de deterioração.

TABELA 1 – Número de dias em que o milho a granel poderá, sob determinadas


condições, permanecer armazenado sem que a perda de matéria seja
superior a 0,5%

Temperatura do grão Teor de umidade (% b.u.)


o
C 16 18 20 22 24
Tempo permissível para armazenagem (dias)
16 158 60 27 16 11
18 116 45 23 14 9
20 94 36 18 11 8
22 78 29 15 9 6
24 63 24 12 8 5
26 51 19 10 6 5
28 41 16 8 5 4

A secagem do milho pode ser realizada em diversos tipos de secadores e


sistemas de secagem. Quando bem manejados, os secadores que utilizam baixas
temperaturas ou ar natural são os que mais contribuem para a manutenção da qualidade
original do produto e os mais adequados para secagem de sementes.
Na secagem com ar natural, o ar deve apresentar umidade relativa um pouco
inferior àquela de equilíbrio com o produto (Tabela 2).
No sistema de secagem em silos a baixa temperatura, distingue-se diferentes
faixas de teores de umidade durante o processo (capítulo 5 – Secagem e Secadores). O
tempo para que a frente de secagem atinja o topo da massa de grãos dentro do silo pode
variar de poucos dias a semanas. Os principais fatores que influenciam este tempo são,
para a mesma vazão de ar, umidade inicial do produto, temperatura e umidade relativa
do ar de secagem.

418 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Em regiões tropicais, a utilização da secagem em baixas temperaturas é


recomendada para milho com teor de umidade inicial inferior a 18% b.u. Para valores
superiores a este, são necessários grandes fluxos de ar e alta potência dos ventiladores,
inviabilizando economicamente o sistema. Já em condições de clima temperado, este
limite pode chegar a 24 % b.u.
Em regiões produtoras com elevada insolação durante a colheita, pode-se utilizar
energia solar para reduzir a umidade relativa do ar. Um aumento de 1oC na temperatura
reduz a umidade relativa em aproximadamente 4,5%.
Para esclarecer esta questão, apresenta-se o seguinte problema: determine o
aquecimento que o ar deve sofrer para secar milho, até 13% b.u., sob condições médias
de 20oC e 80% de umidade relativa. Considere que o ventilador aquece o ar em 1oC.

TABELA 2 – Umidades de equilíbrio do milho, % b.u, em função da temperatura e


umidade relativa do ar de secagem

Temperatura. oC Umidade relativa (%)


50 55 60 65 70 75 80
16 11,6 12,4 13,3 14,2 15,0 16,0 17,1
18 11,5 12,3 13,1 13,9 14,8 15,8 16,9
20 11,3 12,1 12,9 13,7 14,6 15,6 16,7
22 11,2 11,9 12,7 13,6 14,4 15,4 16,5
24 11,0 11,8 12,4 13,4 14,3 15,2 16,3
26 10,9 11,6 12,3 13,2 14,2 15,0 16,1
28 10,7 11,5 12,1 13,1 13,9 14,9 15,9
30 10,6 11,3 12,0 12,9 13,8 14,7 15,7
32 10,5 11,2 11,8 12,8 13,6 14,5 15,5
34 10,4 11,1 11,7 12,6 13,4 14,4 15,4

A solução mostra que, para temperatura de 20oC e umidade relativa de 80%, a


Tabela 2 indica um teor de umidade de equilíbrio de 16,7% b.u. Como o ventilador
aquece o ar em 1oC, a temperatura passa a ser de 21oC. Utilizando o gráfico
psicrométrico, obtém-se a umidade relativa de 75%. Usando a Tabela 2, obtém-se um
teor de umidade de equilíbrio igual a 15,5% b.u., que ainda é superior ao desejado.
Aumentando-se a temperatura em 3oC, tem-se 24oC, enquanto a umidade relativa cai
para 63%. Uma interpolação na Tabela 2 mostra um teor de umidade de equilíbrio de
aproximadamente 13% b.u. Portanto, o sistema de aquecimento deve produzir um
aumento de 3oC na temperatura do ar para que o teor de umidade final desejado seja
atingido.
As principais vantagens da secagem de milho em baixas temperaturas são:
- alta qualidade do grão seco;
- manuseio mínimo do produto;
- possibilidade de o grão ser introduzido no silo-secador à medida que for
colhido;
- utilização do potencial de secagem do ar ambiente;
- mínima dependência de combustível nobre; e

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 419


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

- possibilidade de ser combinada com secadores de altas temperaturas,


aumentando a capacidade de secagem do sistema.
As maiores limitações do sistema são:
- tempo de secagem relativamente longo e dependência das condições
climáticas; e
- necessidade de mão-de-obra treinada para operar e supervisionar o
processo.
No caso de secagem em baixa temperatura, é recomendável manter o ventilador
ligado continuamente, quando o milho armazenado apresentar teor de umidade superior
a 16%. Se o ventilador ficar desligado, a liberação de energia devido à respiração dos
grãos e atividade de microrganismos provocará o aquecimento da massa de grãos,
acelerando o processo de deterioração. Em período de elevada umidade relativa (80 a
90%), como, por exemplo, durante a noite, a ventilação manterá a massa de grãos
resfriada. Nesta faixa de umidade, o milho praticamente não sofrerá reumedecimento,
visto que o aquecimento provocado pelo ventilador (1 a 2oC) reduz a umidade relativa
do ar em aproximadamente cinco pontos percentuais.
Em regiões mais secas (UR abaixo de 75%), o ventilador deverá permanecer
ligado continuamente até o final da secagem, mesmo não havendo produto no silo com
teor de umidade superior a 16%. Caso o ventilador seja ligado somente durante o dia,
poderão ocorrer problemas de supersecagem. Em regiões mais úmidas, com umidade
relativa superior a 75%, e não havendo produto no silo com teor de umidade superior a
16%, o ventilador deverá permanecer ligado, somente durante as horas em que a
umidade relativa for mais baixa, o que geralmente ocorre no período diurno.
A secagem em alta temperatura possui a vantagem de ser um processo rápido e
cômodo. A temperatura máxima de secagem deve ser aquela que não prejudica a
qualidade do produto. Neste tipo de secagem deve-se considerar a finalidade do milho,
ou seja, para semente, indústria ou alimentação animal (Tabela 3).

TABELA 3 - Temperatura no grão, do ar de secagem e teor máximo de umidade


(%b.u.), para armazenamento e classificação do milho

Temperatura Umidade no
Finalidade do milho máxima (oC) armazenamento Classificação
Grão Ar 1 até 5 anos
Semente 44 74 13 11 14,5
Amido 55 85
Ração 82 112

É universalmente aceito que a temperatura para secagem de sementes não deve


ser superior a 40oC. Esta afirmativa por si só é incompleta, uma vez que o tempo de
exposição do produto ao ar de secagem é um fator a ser considerado. Sem um controle
rígido de temperatura e do tempo de secagem, o uso de alta temperatura afeta as
características biológicas, químicas e físicas, como germinação, vigor, conteúdo
energético, consistência, cor e umidade de equilíbrio.

420 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Na secagem em alta temperatura, quando a temperatura da massa é superior a


60oC, o endosperma dos grãos sofre alterações químicas. Estas alterações não afetam o
produto como alimento, mas reduzem a taxa de extração de amido. Por esta razão, as
indústrias que processam o milho não desejam grãos que passaram por secagem em
temperaturas elevadas. Naturalmente, os compradores não conhecem a temperatura sob
a qual foi realizada a secagem, mas podem avaliar a qualidade final do produto por meio
do teste de germinação. Redução no índice de germinação dos grãos indica o uso de alta
temperatura de secagem. No Brasil este controle ainda não é rígido, porém, em países
como os Estados Unidos, muitas indústrias recusam o milho ao verificarem que a
secagem foi realizada em altas temperaturas.
Com relação ao processo de secagem, devem ser consideradas duas
temperaturas:
- temperatura da massa de grãos; e
- temperatura do ar de secagem.

Apesar da grande preocupação com a temperatura do ar de secagem em sistemas


de altas temperaturas, a temperatura atingida pelos grãos ou sementes é mais importante
para a prevenção de danos. Assim, quando se conhece o tipo de secador, a temperatura
do ar de secagem torna-se um indicador do processo.
Em vários tipos de secadores, a temperatura dos grãos durante a secagem não
atinge a temperatura do ar aquecido que é insuflado através da massa de grãos, pois
parte do calor é absorvida pelos grãos para evaporar a água contida no produto (calor
latente) e parte é usada para aumentar a temperatura dos grãos (calor sensível). Assim, a
possibilidade de utilização de determinadas temperaturas na secagem de milho
dependerá do sistema de secagem, tipo de secador, tempo de exposição do produto a
essas temperaturas, método de resfriamento (lento ou rápido), além da presença ou não
de câmaras de descanso nos secadores, da espessura da camada, do fluxo de grãos e do
teor de umidade inicial, dentre outros.
O efeito da temperatura de secagem sobre o valor nutricional do milho para
alimentação animal tem recebido considerável atenção dos pesquisadores. Estudos têm
mostrado que o milho secado em temperatura acima de 60oC tem seu valor energético
diminuído, além de sofrer perdas na palatabilidade. Para atingir a mesma umidade final,
é provado que o aumento da temperatura do ar de secagem provoca redução na
percentagem de lisina.
Em geral, as técnicas usadas para a secagem de sementes de milho não diferem
daquelas usadas para a secagem de grãos para a indústria ou para alimento. Todas as
sementes recebidas, com teor de umidade superior a 16%, devem ser secadas.
Nos secadores, devem-se empregar temperaturas adequadas a cada lote de
sementes. Se as sementes apresentam elevado teor de umidade (acima de 30%),
recomendam-se temperaturas de até 32oC durante a primeira fase da secagem. No final
do processo, quando o teor de umidade estiver próximo a 18%, poderá atingir 42oC.
Quando recebidas com teor de umidade próximo a 18%, podem ser imediatamente
secadas a 42oC. Mesmo quando se tratar de cultivares resistentes, o emprego de
temperatura superior a 42oC não é recomendado. Os diversos tipos de secadores
comerciais, com suas respectivas características de secagem, têm grande influência

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 421


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

sobre a qualidade final do produto (Figura 1).

Figura 1 – Redução da viabilidade em função de diferentes sistemas de secagem.

A formação de trincas (Figura 2) é atribuída ao gradiente de umidade e de


temperatura que se forma no interior do grão, na direção do centro para a periferia.
Quando se torna demasiadamente grande, este gradiente provoca o aparecimento de
tensões internas que se manifestam na forma de trincas. A maior parte das trincas ocorre
durante as últimas etapas de secagem e durante o resfriamento rápido. Temperaturas
inferiores a 70oC e resfriamento lento são recomendados para evitar a ocorrência de
rachaduras.
No Brasil, a secagem artificial de milho em fazenda é pouco expressiva, porém,
devido à conscientização dos agricultores sobre a necessidade da secagem para se obter
um armazenamento seguro, alguns secadores encontram-se instalados em médias e
grandes propriedades agrícolas. Os mais utilizados são os de leito fixo, cuja construção
é simples, sendo de fácil manejo e podendo ser usados para a secagem de vários
produtos agrícolas (veja capítulo 5 – Secagem e Secadores).
Nas operações comerciais, em que apresenta grande fluxo de grãos, os secadores
em torre (cascata) são os mais usados para a secagem de milho. Os de fluxos cruzados,
por serem de construção e operação simples e apresentarem menor custo inicial, são os
preferidos pelos agricultores americanos. Dentre os secadores de fluxos cruzados, os
que secam em lote custam menos, quando comparados com os secadores contínuos.
Numa análise comparativa entre cinco métodos de secagem do milho em
fazenda (secador de fluxos cruzados em lotes, secagem em silo contracorrente, secagem
em silos com ar natural e com baixa temperatura), SILVA (1980) mostrou que a
qualidade final do produto foi afetada pelo método utilizado. Além disso, concluiu que
o silo contracorrente produziu milho menos susceptível a danos do que o milho secado
em secador de fluxos cruzados em lotes. Esta mesma análise mostrou que, ao usar uma
combinação de secagem em altas e baixas temperaturas, o número de grãos danificados
(quebrados ou rachados) foi substancialmente menor que o resultante da secagem em

422 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

silo contracorrente e em secadores em lotes, de fluxos cruzados.


Um sistema de secagem largamente utilizado nos Estados Unidos é o de seca-
aeração. Quando corretamente projetado, este sistema pode aumentar em até 50% a
capacidade de um secador e reduzir substancialmente o número de grãos trincados.
Deve-se considerar que, no processo de resfriamento, o teor de umidade pode ser
reduzido em até 2,5%, enquanto o aumento de 50% na capacidade do secador é
acompanhado por 20 a 30% de economia em combustível (Figura 25, capítulo 5 –
Secagem e Secadores).

(a) b)
Figura 2 – Grãos de milho sem danos (a) e com o endosperma seriamente trincado
(b), observados por meio do diafanoscópio.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 423


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

2. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE ARROZ

O arroz é o cereal mais cultivado no mundo e constitui o alimento básico de


mais da metade da população do planeta. Entretanto, os padrões comerciais
estabelecidos para o seu consumo variam nas diferentes regiões, conforme os hábitos
populares. Tradicionalmente, no Brasil, os grãos inteiros têm maior valor comercial por
serem a forma preferencial de consumo. Este comportamento não é o mesmo nas
regiões orientais, particularmente nas Filipinas, cujo hábito alimentar admite, também, o
consumo de arroz na forma de canjica ou quirera.
Estudos sobre demanda alimentar, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, mostraram que, para uma dieta composta por arroz, feijão e milho, a
demanda per capita anual de arroz será de 49 kg. Com este resultado, estima-se que o
Brasil, com 1860 milhões de habitantes, tenha uma demanda efetiva deste cereal em
torno de 8,5 milhões de toneladas por ano. A safra de 2007/2008, segundo o Anuário
Estatístico do Brasil (2008), foi de 11,99 milhões de toneladas.

2.1. Classificação do Arroz


A classificação do arroz é feita conforme a aceitação e as definições dos padrões
comerciais de consumo, sendo regulamentada por portarias do Ministério da Agricultura
e do Abastecimento.

2.1.1. Principais defeitos do arroz

1) Matérias estranhas: os grãos ou as sementes de outras espécies, detritos


vegetais, sujidades e corpos estranhos de qualquer natureza, não-oriundos do produto.

2) Impurezas: os detritos do próprio produto, como cascas e palhas.

3) Defeitos graves

Ardidos: quando o arroz descascado e polido, inteiro e/ou quebrado apresentar,


no todo ou em partes, coloração escura.

Pretos: quando o arroz descascado e polido, inteiro e/ou quebrado apresentar

424 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

aspecto enegrecido ou carbonizado.

4) Defeitos gerais

Danificados, manchados e/ou picados: quando o arroz descascado e polido,


inteiro e/ou quebrado apresentar manchas escuras e/ou esbranquiçadas, bem como
perfurações provocadas por insetos e outros agentes.

Amarelos: quando o arroz descascado e polido, inteiro e/ou quebrado apresentar


coloração amarela.

Gessados: quando o arroz descascado e polido, inteiro e/ou quebrado apresentar


coloração totalmente opaca e semelhante ao gesso, sem a proteção de uma camada
externa dura, brilhante e com textura vítrea.

Rajados: quando o arroz descascado e polido, inteiro e/ou quebrado apresentar


estrias vermelhas no sentido longitudinal em 50% ou mais do grão.

2.2. Grupos

1) Arroz em casca: é o produto fisiologicamente desenvolvido, provido de sua


casca, depois de colhido, trilhado, limpo e seco ao sol, ou por processo tecnológico
adequado.

2) Arroz beneficiado: é o produto maduro, limpo, sadio e seco que, submetido a


processo de beneficiamento, acha-se desprovido de sua casca ou tegumento.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 425


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

2.3. Subgrupos

Arroz em casca Arroz beneficiado


Natural Macerado
Macerado Parboilizado
Parboilizado Pardo
Pardo parboilizado
Polido

2.4. Classe
Longo fino: mínimo de 80% dos grãos inteiros medindo 6 mm ou mais no
comprimento e 1,80 mm no máximo, na espessura, e cuja relação comprimento-largura
seja superior a 3 mm, após o polimento dos grãos.

Longo: mínimo de 80% dos grãos inteiros medindo 6 mm ou mais no


comprimento, após o polimento dos grãos.

426 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Médio: mínimo de 80% dos grãos inteiros medindo de 5 mm a menos de 6 mm


no comprimento, após o polimento dos grãos.

Curto: mínimo de 80% dos grãos inteiros medindo menos de 5 mm no


comprimento, após o polimento dos grãos.

Misturado: produto que contiver menos de 80% de uma das classes anteriores,
apresentar-se-á constituído de duas ou três classes distintas

2.5. Grãos quebrados


Quebrados grandes (canjicão): fragmentos de grãos que se apresentarem de
tamanho inferior a três quartas partes, porém maiores que a metade do comprimento dos
grãos inteiros da classe a que pertencem.
Quebrados médios (canjica): fragmentos de grãos que se apresentarem isentos
de quebrados grandes, que ficarem retidos em peneiras de furos circulares de 1,4 mm de
diâmetro (0,055 polegadas).
Quebrados pequenos (quirera): fragmentos de grãos que vazarem na peneira
de quebrados médios (furos circulares de 1,4 mm de diâmetro ou 0,055 polegada).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 427


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

2.6. Fragmentos de grãos


A Tabela 4 fornece o índice de tolerância para a classificação de tipos do arroz
conforme a portaria do Ministério da Agricultura e do Abastecimento.

TABELA 4- Valores percentuais de tolerância de defeitos do arroz

Categoria Quebrados
Grandes Médios Pequenos
Tolerância (Canjicão) (Canjica) (Quirera)
Tipo 1 Tipo 2 Tipo 1 Tipo 2 Tipo Único
Defeitos gerais e
graves agregados 10 20 10 20 25
Matérias estranhas
e/ou impurezas 0,5 1,0 0,5 1,0 5,0

Será considerado quebrado (grande, médio ou pequeno) aquele produto que, na


amostra original, apresentar 50% ou mais de grão quebrados da categoria predominante.

2.7. Secagem do Arroz


A secagem de arroz pode ser realizada por processo natural ou artificial. A
secagem natural é aquela que ocorre na própria planta, quando o produto atinge o teor
de umidade de equilíbrio, considerando as condições do campo. A secagem artificial é
aquela cujos procedimentos utilizam artifícios como terreiros, medas ou secadores
mecânicos, os quais permitem acelerar o processo de redução do teor de umidade do
produto, indiferentemente das condições naturais de campo.
Em virtude das características da própria planta, não se deve deixar que o arroz
seque naturalmente no campo. A sua permanência na lavoura levaria a degranação e
perdas, antes que o teor de umidade para a conservação (13,0 % b.u.) fosse atingido. A
exposição contínua das panículas à ação dos ventos, ao ataque de pássaros, insetos e
roedores ocasionaria grandes perdas qualitativas e quantitativas.

2.7.1. Secagem em Alta Temperatura


Nos sistemas em alta temperatura, o ar de secagem ultrapassa o limite de 10°C
acima da temperatura ambiente e atingirá um valor máximo, o qual dependerá do tipo
de produto ou das finalidades a que se destinam. No caso do arroz, a temperatura
máxima para o ar de secagem é aquela em que a temperatura da massa de grãos não
ultrapasse 55°C.

Secagem em lotes: é um processo de secagem artificial caracterizado pelos


seguintes passos operacionais: após o carregamento do secador, faz-se a secagem a alta
temperatura, intercalada por períodos de repouso, até que o produto atinja a umidade
desejada (13% b.u.). Após o resfriamento lento da massa de grãos, faz-se a descarga do
secador, para que um novo lote seja processado.

Secagem contínua: é caracterizada pela capacidade de redução do teor de

428 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

umidade do arroz em uma única passagem pelas câmaras de secagem e de resfriamento.


Entre a câmara de secagem e a câmara de resfriamento deve existir uma câmara de
descanso. Tanto na secagem em lotes como na contínua, não se deve remover mais que
três pontos percentuais de umidade, sem passar por uma câmara de descanso. Altas
taxas de secagem, isto é, remoção de água maior que 3,0 pontos percentuais, provocarão
trincas nos grãos, desvalorizando comercialmente o arroz. Esta dificuldade na secagem,
associada ao número de classes e tipos do arroz, leva à utilização, em maior número,
dos sistemas de secagem em lotes. Além disso, a colheita mecânica, feita a um teor de
umidade entre 18,0 e 22,0% b.u. obriga a recirculação do produto, em obediência à taxa
máxima de secagem. Outra imposição que obriga a secagem em lotes está no risco da
mistura entre classes e tipos, principalmente em cooperativas e armazéns gerais que
trabalham com prestação de serviços.
A secagem do arroz em secadores contínuos (Figura 3) deve ser preferida quando se
secam grãos de uma mesma variedade, do mesmo dono, em lavouras extensivas ou
quando não se contempla, com rigor, a tipificação do produto. Por exemplo, se para uma
grande lavoura uma análise prévia mostrou um potencial de apenas 20%, para tipo 2 e
80% para os tipos 3 e 4, bem como diferença de preços não atraente entre esses tipos,
não se deve aconselhar custos adicionais com o processamento em lotes.
A secagem em alta temperatura requer do operador conhecimento e cuidados especiais,
considerando que o objetivo fundamental do processo é fazer a secagem rápida sem que
o produto perca as suas características originais ou aquelas que poderiam ser obtidas
com a secagem natural. O arroz, por suas características físicas e seus padrões
comerciais, é um cereal de difícil processamento, em comparação com os outros tipos
de grãos.
Na maioria das regiões brasileiras produtoras de grãos, em um mesmo ano
agrícola são, normalmente, produzidos mais de um produto. Assim, os equipamentos
utilizados para secagem de outros grãos, em altas temperaturas, são também utilizados
para a secagem de arroz. Para isso, devem ser estabelecidas determinadas adequações ao
processo, de modo a evitar ou minimizar os possíveis danos térmicos ou mecânicos.
Além dos problemas de trincas, a alta temperatura possibilita alterações na
coloração, modificações na estrutura do amido, morte dos grãos e redução do seu valor
comercial. Todos estes danos poderão trazer problemas durante o período de
armazenagem. Uma alternativa para minimizar os danos térmicos é a de proceder à
secagem parcelada, que consiste em várias passagens do produto pela câmara de
secagem, respeitando o índice de redução do teor de umidade entre 2 e 3 pontos
percentuais, por passagem. Para isso, o controle de temperatura máxima do ar de
secagem e dos grãos, assim como do tempo de residência destes na câmara de secagem,
deverá ser feito com maior rigor.
Em condições práticas, para secadores de fluxos contínuos, tem-se observado
que o uso de temperaturas de secagem muito elevadas (90 a 100°C) quando o teor de
umidade do arroz é muito alto torna os grãos mais susceptíveis ao trincamento durante o
beneficiamento, nas variedades de sequeiro.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 429


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

Figura 3 - Vista geral de secador contínuo.

Os secadores contínuos que possuem uma câmara de secagem, uma de


homogeneização e uma de resfriamento e que são utilizados para a secagem de milho,
soja e trigo devem ser remanejados para a secagem de arroz. No início da secagem, o
arroz será submetido ao seguinte manejo: a temperatura inicial deve ser de 70°C na
câmara de secagem; a câmara de repouso deve permanecer como originalmente; e a
câmara de resfriamento deve ser transformada em câmara de secagem e, nela, deve-se
usar a temperatura do ar entre 80 e 90 °C. Quando o teor de umidade do produto atingir
18% b.u., as duas câmaras de secagem passam a trabalhar com 80°C até que o arroz
atinja 13%. Neste ponto, reduz-se gradativamente o aquecimento com a câmara de
resfriamento, trabalhando na forma original. Este procedimento transforma o secador
contínuo em secador de lotes (Figura 4).
O fluxo de grãos no secador deve ser regulado em função da temperatura do ar
de secagem e da umidade inicial do arroz, de modo a perder, no máximo, três pontos
percentuais de umidade. Na fase de resfriamento, o produto deve sair do secador com no
máximo 5 oC acima da temperatura ambiente e o resfriamento complementar deve ser
feito em silos, durante o armazenamento. O bom manejo do secador deve ser observado
principalmente para o arroz de sequeiro, que é mais susceptível ao trincamento.
Nas regiões tropicais, onde ocorrem chuvas seguidas de forte insolação, o
produto fica sujeito a intensos ganhos e perdas de água, que promovem ou intensificam
as trincas do arroz, quando ainda no campo.
Outra constatação prática importante que objetiva melhorar a qualidade do arroz
é o estabelecimento de um período de repouso variável entre 12 e 24 horas,
imediatamente após a colheita e antes da secagem em alta temperatura. Este tempo é
definido em função inversa ao teor de umidade inicial dos grãos. Tem-se verificado que

430 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

este procedimento pode reduzir substancialmente o índice de trincas no arroz, durante o


processo de secagem.
Quando ainda na lavoura, o arroz é exposto continuamente às condições de
vento e calor (energia do sol) e, portanto, sujeito à secagem natural. A continuidade
deste processo manterá a superfície externa dos grãos mais seca que o seu interior. Caso
este produto, após a colheita, seja imediatamente submetido à secagem em alta
temperatura, este gradiente de umidade será intensificado. Com isso, a variação entre a
pressão de vapor interna e a superficial atingirá valores tais que poderão causar intensa
migração de água, suficiente para trincar o produto. O repouso, antes da secagem, tem
como finalidade a redistribuição de umidade com redução deste tipo de estresse.

Figura 4 - Possibilidades de adaptação em um secador contínuo para secagem em


lotes.

Temperização: entende-se por temperização o período de repouso dado ao


arroz, durante a secagem, sem que este receba mais calor. Os secadores de lotes
intermitentes possuem uma câmara, normalmente localizada acima da câmara de
secagem, denominada câmara de repouso ou de homogeneização, a qual mantém o
produto sem receber o ar de secagem, em cada circulação completa no secador (veja
capítulo 5). Além desta importância, a câmara tem a finalidade de aumentar a
capacidade estática do secador.
Dentro de certos limites, quanto maior a câmara de repouso, melhor será seu
efeito na temperização do arroz. Em um bom projeto, o volume da câmara de repouso
deveria representar aproximadamente 2/3 da capacidade do secador.
A temperização pode ser adaptada para secadores contínuos desprovidos de
câmaras de repouso. Para isto, basta instalar secadores e silos em série e fazer com que
o fluxo de grãos seja desviado para um silo, antes de entrar na câmara de secagem do

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 431


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

secador seguinte. Procedimento semelhante pode ser usado para transformar um secador
contínuo em um secador em lotes, isto é, basta adaptar um silo como câmara de
descanso, antes que o produto retorne à câmara de secagem (Figura 5).
Na prática, a temperização funciona da seguinte maneira: os grãos, ao passarem
pela câmara de secagem, ficam com a superfície mais seca que o interior. Ao entrarem
na câmara de repouso, sem a ação do ar quente, ocorrerá a migração de umidade do
interior (úmido) para a superfície do grão (mais seca). Ao retornarem à câmara de
secagem, agora com a superfície mais úmida, os grãos passarão novamente pela ação do
ar quente, com temperatura controlada, para uma nova etapa de secagem. Este
procedimento se repetirá até que o produto atinja o teor de umidade desejado e com os
danos térmicos minimizados pela redução do gradiente de pressão de vapor entre o
interior e a superfície do grão.
Caso não houvesse o repouso, os sucessivos repasses pela câmara de secagem
provocariam um gradiente muito grande, fazendo com que a umidade migrasse com
muita velocidade. Como a forma geométrica do grão de arroz é semelhante à de um
cilindro, cujo raio diminui nas extremidades, estas partes do grão de arroz secam a
ponto de serem rompidas, dividindo o grão em três partes.
Pesquisas realizadas sobre o assunto mostraram que:
a) O rendimento de grãos inteiros aumenta com o aumento do número de
passagens.
b) O tempo efetivo de secagem é reduzido com o aumento do número de
passagens.
c) O aumento no rendimento é pouco afetado por períodos de repouso superior
a cinco horas.
d) O consumo de combustível diminui quando o período de repouso aumenta.
e) A capacidade de secagem aumenta com o aumento do fluxo de ar.
f) O rendimento de grãos inteiros diminui com o aumento do fluxo de ar.

Figura 5 - Silo de temperização acoplado a um secador

432 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

2.7.2. Secagem em baixas temperaturas


Em terreiros: neste método de secagem, faz-se a passagem do produto pelo ar,
através de revolvimentos manuais e contínuos da massa de grãos, em superfícies de
terra batida, revestidas por cimento ou alvenaria. O aquecimento do produto, para a
evaporação da umidade, é feito pela ação direta dos raios solares.
Como grande parte da produção brasileira de arroz é feita por pequenos
proprietários, a secagem em terreiros é mais utilizada. Contudo, o maior volume da
produção brasileira de arroz é secado em secadores mecânicos, em alta temperatura,
pelo fato de a estrutura econômica de produção ser liderada por grandes produtores ou
por sistemas cooperativistas ou associativistas. As estatísticas mostram que a grande
maioria dos produtores de arroz é enquadrada na categoria de pequenos. Entretanto, a
soma da produção dos pequenos é inferior à dos grandes produtores que podem contar
com tecnologia moderna.
Para o arroz, a secagem em terreiro não significa, necessariamente, uma garantia
de qualidade, como acontece com alguns produtos. O manejo inadequado da secagem
em terreiros pode produzir grãos trincados em níveis superiores aos produzidos por
secadores em altas temperaturas. Se o arroz for espalhado em camada muito fina
(inferior a 3,0 cm) e a intensidade de radiação solar for elevada, o índice de trincas será
elevado, independentemente do número de revolvimento.
Em alguns casos, o arroz secado em terreiro pode ter a sua qualidade comparada
ao produto secado em secador mecânico de alta temperatura. A Tabela 5 apresenta os
resultados de alguns testes realizados com um secador de fluxos cruzados e em terreiro
de cimento.

TABELA 5 - Rendimento de benefício e rendimento de grãos, após a secagem do arroz


em secador intermitente, de fluxos cruzados, a diferentes temperaturas do
ar de secagem e em terreiro de cimento

Teste Secador Terreiro


Temp. °C I Q P I Q P
1 45 41,3 21,2 37,5 47,6 12,3 40,1
2 80 58,0 7,0 34,0 57,0 8,0 36,0
3 100 56,0 11,0 33,0 57,0 7,0 36,0
4 115 57,0 8,0 35,0 - - -
I= inteiros, Q = quebrados e P = palha

Secagem em silos: apesar de poder ser executada em outros tipos de secadores


mecânicos, a secagem em baixa temperatura é realizada, na maioria das vezes, em silos
secadores. É importante observar que, no caso do arroz, as perfurações das chapas
devem ser circulares. Furos oblongos ou longitudinais podem permitir a passagem dos
grãos, impedindo a circulação do ar.
O sistema é recomendado para silos pequenos (inferior a 150 toneladas de
capacidade). Pode ser usado como operação complementar aos sistemas em alta
temperatura. Neste caso, o processo é caracterizado como secagem combinada, em que
a temperatura do ar, na segunda fase de secagem, pode ser a do ambiente (secagem com

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 433


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

ar natural) ou com ar aquecido até 10°C acima da temperatura ambiente (secagem em


baixa temperatura). A utilização do ar em condições naturais fica restrita às variações
sazonais de temperatura e umidade relativa, uma vez que a secagem será encerrada
quando o produto atingir o teor de umidade de equilíbrio.
No caso de arroz, estas variações podem ser observadas na Tabela 6. A região
escura indica a combinação entre a temperatura e a umidade relativa ambiente, com
potencial para apresentar resultados satisfatórios. Outros parâmetros, como teor de
umidade inicial do produto e método adotado no sistema de secagem, devem ser
considerados.

TABELA 6 - Teor de umidade de equilíbrio do arroz em função da temperatura e


umidade relativa do ambiente

Umidade relativa - %
Temperatua °C 50 55 60 65 70 75 80
16,0 11,4 12,0 12,5 13,1 13,8 14,5 15,4
18,0 11,3 11,8 12,4 13,0 13,7 14,4 15,2
20,0 11,2 11,7 12,3 12,9 13,5 14,3 15,1
22,0 11,0 11,6 12,1 12,7 13,4 14,1 15,0
24,0 10,9 11,5 12,0 12,6 13,3 14,0 14,9
26,0 10,8 11,3 11,9 12,5 13,2 13,9 14,8
28,0 10,7 11,2 11,8 12,4 13,1 13,8 14,7
30,0 10,6 11,1 11,7 12,3 13,0 13,7 14,6

O arroz com teor de umidade inicial superior a 26 % b.u. não deve ser secado
sob altas temperaturas, sem o revolvimento do produto, independentemente do fluxo de
ar utilizado; um fluxo de ar próximo a 1,5 m3/min/.t de grãos é satisfatório para a
secagem natural de arroz com teor de umidade inicial inferior a 18 % b.u. Este limite
para o teor de umidade inicial se prende ao fato da possibilidade de deterioração do
produto na camada úmida, caso a frente de secagem não atinja, em tempo hábil, a
superfície da massa de grãos.
Se o sistema operar em ambientes de temperatura mais elevada e umidade
relativa baixa, poderá ocorrer a supersecagem nas camadas inferiores, e os grãos
beneficiados nestas condições terão menor renda de benefício e maior índice de
quebrados.

2.8. Secagem de Arroz para Sementes


Apesar de recomendados para arroz de consumo, os grãos para sementes
colhidos com teor de umidade igual ou superior a 20% b.u. não devem aguardar por
período superior a 24 horas, para serem secados. A escolha do método de secagem a ser
utilizado se dará em função do volume de sementes e das condições climáticas do local,
respeitando, no caso de aquecimento do ar, os limites superiores de temperatura para
cada tipo de secador, já que a temperatura da massa de grãos não pode ultrapassar 38oC.
Na utilização de secadores, recomenda-se a adoção do método intermitente,
seguido de períodos de repouso, com mais de uma passagem do produto pelo sistema.

434 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Se a opção for por secadores de leito fixo, a temperatura do ar de secagem não deve
ultrapassar os 40 °C e o produto deve ser revolvido periodicamente (veja capítulo 5 –
Secagem e Secadores). Quanto maior o teor de umidade inicial das sementes, menor
deverá ser a temperatura do ar, principalmente no início da secagem. Em geral, para
teores de umidade superiores a 18,0% b.u., a temperatura do ar de secagem deve estar
próxima de 32°C; na faixa de 12 a 18% b.u., não deve ultrapassar 38°C; e abaixo de
12% b.u., não deve ser superior a 40°C.
A espessura da camada de sementes nos sistemas de leito fixo não deve
ultrapassar o limite de 40 cm, e, a fim de eliminar o gradiente de umidade estabelecido
entre a superfície e a base da camada de grãos, deve-se fazer o revolvimento da massa
em intervalos de 60 minutos. Caso a secagem seja de arroz para consumo, a temperatura
poderá ser mais elevada, porém o operador deve observar um período de repouso de
pelo menos 30 minutos, que pode ser obtido durante o revolvimento manual da camada,
com o ventilador desligado.

2.9. Secagem de Arroz Parboilizado


Arroz parboilizado é definido como o produto que, ao ser beneficiado, apresenta
os grãos com coloração amarelada e uniforme, em decorrência do processo de
parboilização utilizado para elevar o teor vitamínico e de sais minerais do produto. O
processo consiste na imersão do arroz em casca em água potável, em temperatura
superior à do ambiente, submetendo-o ao processo de autoclavagem.
A Portaria mo 10, de 12/05/96, do Ministério da Agricultura e do Abastecimento,
que trata da classificação de arroz, estabeleceu que serão considerados ardidos os grãos
de arroz parboilizado que possuírem a cor amarela destoante, de tom escuro. Estabelece,
também, que não será considerado como defeito os grãos que apresentarem pequenas
rachaduras longitudinais, desde que se mantenha o formato normal dos grãos. Esta
informação torna-se importante a partir do momento em que o processo de
parboilização e de secagem do produto está sujeito a variações na combinação entre o
binômio tempo e temperatura, que poderão dar ao produto características de ardido ou
trincá-lo durante o processo de secagem.
O arroz parboilizado é caracterizado pelas modificações que os grãos sofrem
durante o processo. A combinação do tratamento com água e calor ocasiona
modificações físicas, químicas, bioquímicas, sensoriais e estéticas. Todas estas
modificações estão ligadas, diretamente, às técnicas do processo e à matéria-prima
utilizada.
São várias as fases do processo de parboilização: na primeira, o arroz em casca,
seco e livre de impurezas, é encharcado em água potável aquecida; na segunda, o arroz
é submetido à cocção parcial com a presença de vapor d’água; e, na terceira, os grãos
com teor de umidade próximo de 32 % b.u. são secados até 13% b.u.
A principal diferença em relação à secagem do arroz comum é que, para o arroz
parboilizado, a temperatura do ar de secagem atinge valores próximos a 100°C, com
teor de umidade inicial próximo a 32 % b.u.
A secagem do arroz parboilizado, feita após o encharcamento e cozimento
parcial sob pressão, é essencial para obter um produto de boa qualidade após o
beneficiamento. A redução deste teor de umidade até os 13 – 14% b.u. deve ser feita

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 435


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

com o intuito de minimizar as fissuras, a coloração escura e a desuniformidade de


coloração.
A coloração final do arroz está associada à variedade e à relação entre tempo e
temperatura, durante a fase de encharcamento do arroz em casca. A rapidez com que a
umidade é removida é de fundamental importância na manutenção da qualidade do
arroz parboilizado. Baixa velocidade de secagem poderá permitir o desenvolvimento de
microrganismos, danificando parcial ou totalmente o produto. Por outro lado, a secagem
rápida proporcionará gradientes de temperatura e umidade entre o interior e a superfície
dos grãos, caso não haja um período de repouso. A duração do repouso é função
primária da temperatura dos grãos. Um período de tempo entre 30 e 60 minutos é
suficiente para aliviar as pressões quando a temperatura está na faixa de 40 a 50°C.
O arroz parboilizado apresenta, durante a secagem, um teor de umidade crítico,
em torno de 16% b.u., dependendo da variedade e da severidade do processo. Acima do
ponto crítico, a umidade é retirada com mais facilidade, ou seja, os grãos são mais
elásticos e menos sensíveis a alta temperatura em relação à ocorrência de trincas e
fissuras. Abaixo de 16% b.u. a umidade é mais difícil de ser removida e os grãos são
mais sensíveis aos danos causados pela alta temperatura do ar de secagem.

2.10. Armazenagem do Arroz


A armazenagem de arroz é a operação que visa preservá-lo em ambiente natural,
sem que ele perca a aparência e as qualidades organolépticas e nutricionais, podendo,
assim, manter a viabilidade como semente. A redução do teor de umidade e a limpeza
são operações indispensáveis para a armazenagem adequada do arroz e de qualquer
outro produto.
Em ambiente natural, os cereais podem ser armazenados a granel ou em sacarias.
Os silos ou armazéns utilizados para a armazenagem do arroz devem atender a
determinadas características de projeto, a fim de proporcionar melhor ambiente e
condições técnicas para a conservação do arroz. No Brasil, os diferentes tipos
comerciais de arroz fazem com que haja predominância do sistema de armazenagem em
sacarias. Esta proporção se fundamenta no fato de que a armazenagem a granel
necessitaria de número expressivo de silos para acondicionar as diferentes classes e
tipos, elevando muito o custo inicial das instalações. Entretanto, nas regiões de grande
produção, principalmente de lavouras irrigadas, onde pode ser conseguida maior
padronização dos grãos, a armazenagem a granel é muito utilizada, principalmente em
grandes fazendas e cooperativas.
Outro fator de importância no incremento da armazenagem em sacarias é o
cultural. O produtor tradicional de arroz, mesmo ciente do maior custo operacional,
gosta de ver o seu produto individualizado no armazém, o que só é possível formando
lotes com o produto ensacado. Esta condição faz com que a armazenagem em sacarias,
tradicionalmente denominada armazenagem convencional, tenha grande importância
técnica e econômica tanto na produção de arroz como na de café.

2.11. Armazenagem a Granel


A armazenagem a granel tem menor custo operacional e apresenta melhor
relação entre a área disponível e o volume armazenado, resultando em melhor

436 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

desempenho econômico. Entretanto, exige maior conhecimento técnico para a execução


e o acompanhamento das operações.
No Brasil, a armazenagem de arroz a granel é feita com maior intensidade no
Estado do Rio Grande do Sul, que é o maior produtor deste cereal. No Estado de
Roraima, aonde a produção de arroz vem alcançando destaque econômico, a
armazenagem a granel vem sendo muito utilizada, sem, contudo, dispensar a
armazenagem em sacarias. Entretanto, em qualquer destas regiões, têm-se verificado
problemas decorrentes de desconhecimento técnico e da falta de recursos disponíveis
nas próprias instalações, que impossibilitam o bom desempenho operacional. Para a
prática segura desta tecnologia é necessário que o sistema disponha dos seguintes
componentes básicos:
a) Silos, para o acondicionamento do produto.
b) Sistema de aeração, para permitir, principalmente, a remoção de possíveis
focos de aquecimento, odores etc.
c) Sistema de termometria, para o monitoramento diário da temperatura do
produto durante a armazenagem.
d) Sistemas de monitoramento diário das condições meteorológicas.

O sistema de aeração deve ser visto como um recurso técnico disponível e


obrigatório em um sistema de armazenagem a granel bem projetado. Entretanto, a sua
disponibilidade não deverá condicionar o seu uso sistemático, uma vez que o
conhecimento profundo das relações entre o produto armazenado e as condições
psicrométricas ambientes é fundamental para a sua aplicação.
A aeração, como recurso técnico dos sistemas de armazenagem do arroz, se
prestará, fundamentalmente, para dissipar possíveis focos de aquecimento, odores e
manutenção da massa de grãos sob temperaturas mais baixas.
É importante observar que o ataque de insetos, em intensidade elevada,
proporciona a formação de pontos quentes na massa de grãos. A passagem do ar por
estes pontos resolveria, momentaneamente, o problema. Em curto intervalo de tempo, a
temperatura voltaria a subir no ponto infestado. Uma forma de diagnosticar o problema
é observar se o ponto aquecido muda de local ao atingir valores próximos a 40 °C. Se
for positivo, o problema deverá ser solucionado por expurgo, pois o deslocamento do
ponto aquecido dentro da massa de grãos é um comportamento característico de
aquecimento causado por insetos.
Nos períodos frios, o ar intergranular, próximo das paredes do silo, mantém-se
numa temperatura inferior à do interior da massa de grãos. O ar frio se deslocará para
baixo, criando uma corrente de ar quente, ascendente no interior do silo. O ar quente,
com algum potencial de secagem, poderá absorver umidade e, ao atingir a camada
superior de grãos, cuja temperatura poderá estar baixa, pode atingir o ponto de orvalho e
ter o seu vapor d’água condensado (migração de umidade), criando no local uma região
com potencial de deterioração (ver capítulo 11 - Aeração de Grãos Armazenados).
Durante o período quente ocorrerá uma situação inversa, isto é, o ar quente,
menos denso, próximo à parede do silo subirá e criará uma corrente descendente no
interior destes, formando uma região com potencial para deterioração nas camadas
inferiores do silo.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 437


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

Observa-se, na descrição das duas possibilidades de condensação, que o


fenômeno ocorre pelo fato de não se ter permitido a renovação do ar no interior do silo,
a partir da convecção natural.
Para evitar custos adicionais com o uso da aeração em locais onde o fenômeno
tiver a possibilidade de ocorrência, deve-se abrir os registros de saída de ar na cobertura
dos silos, durante as horas quentes do dia. Na maioria das regiões brasileiras isto pode
ser feito entre as 10 e 16 horas. Em qualquer dos casos de migração de umidade, o
problema deve ser resolvido por meio da aeração.

438 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

3. PREPARO, SECAGEM E ARMAZENAGEM DE CAFÉ

A secagem de café é comparativamente mais difícil de ser executada do que a de


outros produtos. Além do elevado teor de açúcar presente na mucilagem, o teor de
umidade inicial, geralmente ao redor de 60% b.u., faz com que a taxa de deterioração,
logo após a colheita, seja bastante alta.
Quaisquer que sejam os métodos de secagem utilizados, como será visto mais
adiante, devem-se ressaltar os seguintes aspectos para que se tenha êxito no preparo do
café:
a) Evitar fermentações indesejáveis antes e durante a secagem.
b) Evitar temperatura excessivamente elevada (o café tolera 40°C por um ou
dois dias, 50°C por poucas horas e 60°C por menos de uma hora, sem se
danificar).
c) Secar os grãos, evitando os efeitos danosos de temperatura, no menor tempo
possível até o teor de umidade de 18% b.u. (abaixo deste teor de umidade o
café é menos susceptível à deterioração rápida).
d) Procurar obter um produto que apresente coloração, tamanho e densidade
uniformes.
No Brasil, segundo os aspectos tecnológicos envolvidos, utilizam-se
basicamente dois métodos para secagem de café:
- secagem em terreiros: esparrama-se o produto em pisos, que podem ser de
cimento, de tijolo, de chão batido ou de asfalto; e
- secagem em secadores: força-se o ar aquecido a passar através da massa de
grãos.
Mais recentemente, a secagem em combinação vem sendo estudada e aplicada
em localidades específicas. Neste método de secagem, faz-se uma pré-secagem em
terreiro ou pré-secadores e a secagem complementar em silo ou tulha secadora com ar
natural ou levemente aquecido (até 10 oC acima da temperatura ambiente).
Como a importância da secagem adequada do café cresce com o aumento da
produção e com a demanda interna e externa por cafés de melhor qualidade, a secagem
com técnicas eficientes apresenta as seguintes vantagens:
a) Permite melhor programação da colheita.
b) Permite armazenagem por períodos mais prolongados, sem o perigo da
deterioração ou perda de qualidade do café.
c) No caso de produção de café para sementes, faz com que o poder
germinativo seja mantido por mais tempo.
d) Impede o desenvolvimento de microrganismos e insetos.
e) Minimiza a perda do produto na lavoura ou em terreiros durante os períodos
chuvosos.
Como a secagem inadequada afeta negativamente qualquer tipo de grão, o leitor
deverá estar informado sobre fundamentos da higrometria (capítulo 3 – Princípios
Básicos de Psicrometria), teor de umidade e teor de umidade de equilíbrio (capítulo 4 –
Qualidade dos Grãos), fluxo de ar e velocidade de secagem (capítulo 5 – Secagem e
secadores), classificação e qualidade do café, para que possa tirar todo o proveito das
técnicas de secagem e reduzir os custos de produção (detalhes sobre as técnicas de

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 439


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

secagem de café serão vistos mais adiante).

3.1. Classificação e Qualidade do Café


O café é um produto cujo preço está vinculado a parâmetros qualitativos.
Partindo-se do valor obtido por um produto de máxima qualidade, este sofre descontos
proporcionais à medida que são reduzidas as características desejáveis quanto ao tipo e
à bebida.
A qualidade do café depende principalmente da forma como ele é cultivado,
colhido e processado. A obtenção de um produto de boa qualidade depende de fatores
inerentes à planta, como a genética das variedades e de fatores referentes ao ambiente
externo da planta, como: fertilidade do solo, condições climáticas, pragas e doenças.
A operação de colheita, de prepara e armazenagem na fazenda, o beneficiamento
e a armazenagem comercial devem ser realizadas de forma a manter a qualidade obtida
no campo.
O ataque por microrganismos é extremamente prejudicial à qualidade do grão de
café, podendo ocorrer em diversas fases do ciclo produtivo. Entretanto, a adoção de
técnicas adequadas de manejo pode minimizar a ação desses microrganismos.
Tem sido intensivamente demonstrado que uma bebida de melhor qualidade é
obtida quando se processa o café na fase de cereja. Isto é explicado pelo fato de ser o
estágio cereja a fase correspondente ao ponto ideal de maturação dos frutos, no qual
casca, polpa e sementes se encontram com composição química adequada,
proporcionando ao fruto sua máxima qualidade.
É da boa apresentação do café que depende, em grande parte, a sua colocação no
mercado. O cafeicultor deve, portanto, depois de haver realizado corretamente todas as
operações envolvidas na produção de um produto de boa qualidade, ficar atento durante
a fase de classificação do seu produto, que é uma operação de grande importância no
processo de comercialização.
A Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos aprovou, em março
de 1978, a Resolução nº 12.178, que fixa padrões de qualidade e identidade para
alimentos e bebidas, incluindo o café.
Os atuais procedimentos para avaliação do café comercial, isto é, depois de
colhido, preparado, seco, beneficiado e ensacado e que recebe a denominação de “café
verde”, baseiam-se principalmente em uma série de apreciações subjetivas feitas por
especialistas. As avaliações são baseadas nas características físicas, como forma,
tamanho, cor, uniformidade dos grãos e tipo de bebida. A cor, por estar diretamente
relacionada com a bebida, tem grau de importância superior ao tamanho e é a
característica que mais chama a atenção durante a comercialização. O café pode ser
classificado como se segue:

3.1.1. Quanto ao tipo


A classificação do café quanto ao tipo consiste na determinação do número de
grãos imperfeitos ou na quantidade de impurezas contidas em uma amostra de 300 g.
Esta classificação apresenta sete tipos, numerados de dois a oito. A cada tipo
corresponde maior ou menor número de defeitos existentes no café, como grãos pretos,
ardidos, verdes, preto-verdes, quebrados, brocados, conchas, chochos, cocos e

440 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

marinheiros e impurezas como cascas, paus, torrões, pedras etc. A Tabela 7 relaciona o
tipo com o número de defeitos. Como há uma variação muito grande do número de
defeitos entre dois tipos consecutivos, é comum utilizar uma notação intermediária, ou
seja, tipo 2/3, 3/4, etc., quando o número de defeitos for superior a 8 (oito), 19
(dezenove), etc. respectivamente. A equivalência em defeitos é dada pela Tabela 8, e o
tipo 4 é denominado “Tipo Base”.

Preto Ardido Verde

Preto verde Quebrado Brocado

Conchas Paus e pedras


3.1.2.- Quanto à cor
Indica o grau de envelhecimento do café beneficiado. Nessa forma de
classificação empregam-se as denominações: verde, esverdeado, claro, amarelo e
vermelho. O teor de umidade, o índice de maturação, o tempo de exposição à luz, o
método de preparo e secagem e as condições do ambiente de armazenamento são os
responsáveis pela cor do café.

3.1.3. Quanto à peneira


Tomando-se por base as dimensões e a forma dos grãos, o café é classificado
como chato-grosso, médio, miúdo; moca graúdo, médio e miúdo; quebrado e minimal.

3.1.4. Quanto ao aspecto


Classificado como bom, regular e mau, o aspecto é importante no julgamento da
qualidade. O aspecto do produto permite prever sua característica de torração, que, por

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 441


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

sua vez, é classificada como:


Fina – quando apresenta homogeneidade na cor e no aspecto e não tem defeitos.
Boa – quando apresenta pequenas irregularidades na homogeneidade da cor e no
aspecto, possuindo alguns defeitos e não podendo apresentar irregularidades em
nenhuma destas duas características.
Regular – quando apresenta irregularidade na cor e no aspecto ou maiores
irregularidades em uma única destas características.
Má – quando mostra grandes irregularidades em qualquer uma das
características ou em ambas, simultaneamente.

3.1.5. Quanto à bebida


Esta classificação baseia-se no sabor detectado na chamada prova de xícara, feita
por degustadores treinados. Apresentam-se, na Tabela 9, os diferentes tipos de bebida.
A bebida pode apresentar nuanças de sabor, podendo ser, dentro da
característica, “moles” muito encorpado, encorpado e sem corpo. Pode apresentar,
ainda, leve acidez cítrica ou acidez acética.
Deve-se considerar, ainda, na apreciação da bebida a possível ocorrência de
gostos estranhos, como: gosto de terra, mofo, azedo, “chuvado”, avinagrado,
fermentado, enfumaçado e outros.

Tabela 7 - Relação entre tipos e números de defeitos

Tipo 2 2/3 3 3/4 4 4/5 5


Defeito 4 8 12 19 26 36 46
Tipo 5 5/6 6 6/7 7 7/8 8
Defeito 46 66 86 123 160 260 360

Tabela 8 - Equivalência em defeitos

Quantidade. Tipo de defeito Defeitos


1 Grão preto 1
1 Pedra, pau ou torrão grandes 5
1 Pedra, pau ou torrão regulares 2
1 Pedra, pau ou torrão pequenos 1
1 Coco 1
1 Casca grande 1
2 Ardidos 1
2 Marinheiros 1
2/3 Cascas pequenas 1
2/5 Brocados 1
3 Conchas 1
5 Verdes 1
5 Quebrados 1
5 Chochos ou mal granados 1

442 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Tabela 9 - Classificação oficial do café pela bebida

Classificação Características
Estritamente Mole Bebida de sabor suavíssimo e adocicado
Mole Bebida de sabor suave, acentuado e adocicado
Apenas Mole Bebida de sabor suave, porém com leve adstringência
Dura Bebida com sabor adstringente, gosto áspero
Riada Bebida com leve sabor de iodofórmio ou ácido fênico
Rio Bebida com sabor forte e desagradável, lembrando
iodofórmio ou ácido fênico
Rio Zona Bebida de sabor e odor intoleráveis ao paladar e ao olfato
(BÁRTHOLO et al., 1989)

3.2. Secagem em Terreiro Convencional


O uso exclusivo do terreiro por muitos cafeicultores deve-se, principalmente, à
não-preocupação com as características qualitativas do produto depois da secagem, ou
ao baixo poder aquisitivo e nível técnico da propriedade.
No terreiro, o desenvolvimento de microrganismos na superfície dos frutos e o
aumento da respiração e da temperatura do produto são fatores que aceleram o processo
de fermentação. Apesar destes riscos, pequenos e médios produtores utilizam
intensivamente os terreiros como única etapa na secagem do café.
No processo de secagem em terreiro, o café é seco pela ação dos raios solares. É
aconselhável, durante o processo, trabalhar com lotes homogêneos, considerando-se
tanto a época de colheita quanto o estádio de maturação ou teor de umidade, para
obtenção de um produto final uniforme e de boa qualidade.
De modo geral, devido às características da maioria dos secadores mecânicos
comercializados, a secagem do café logo após a colheita, ou recém-saído do lavador
(alto teor de umidade), é altamente prejudicada pela dificuldade de escoamento do
produto dentro do secador. Portanto, para acelerar o processo de secagem, deve-se
combinar a secagem artificial com a secagem em terreiro.
Uma prática recomendada é secar o café em terreiros ou pré-secadores até o
estado de meia-seca (35 a 40%), sendo a secagem continuada em secador mecânico até
o ponto de tulha ou, ainda, até que a umidade caia para 22%, para que possa ser
submetido a uma secagem complementar, em silos ventilados, durante o processo de
armazenagem, até que atinja a umidade de comercialização.
Os terreiros convencionais podem ser construídos de cimento, tijolos, asfalto e
chão batido, e o produto a ser seco deve ser distribuído em camada fina.
O terreiro com piso de terra apresenta menor rendimento de secagem e pior
aspecto visual do produto em relação àquele seco em terreiros com piso de outros
materiais de construção.
Preferencialmente, a secagem deve ser feita em terreiros concretados, que são
mais eficientes e apresentam menores riscos de comprometimento da qualidade.
De modo geral, depois de lavado e separado por diferenças de densidade (cerejas
e bóias), é costume do cafeicultor espalhar o café no terreiro, numa camada de no

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 443


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

máximo 4 cm. Para esta operação, são normalmente utilizados os carros espalhadores,
como mostra a Figura 6 (a, b).

Figura 6 - Carrinho espalhador de café em terreiros (a) e detalhes do carrinho (b).

No início da operação de secagem, quando o teor de umidade do café é elevado


ou quando este é retirado do lavador, a superfície do terreiro fica completamente
molhada (Figura 7a). Caso parte da superfície do terreiro não seja exposta à secagem
imediata do excesso de água, o produto fica altamente susceptível à contaminação,
devido à alta umidade na parte inferior da camada. Para isso, deve-se abrir a camada do
café, pelo menos nos cinco primeiros dias, de maneira a formar pequenas leiras, como
mostram as Figuras 7a, 7b e 8. As leiras devem ser quebradas e refeitas continuamente
ou em intervalos regulares de tempo nunca superior a 60 minutos, com auxílio de um
raspador-enleirador (Figura 9a), cujos detalhes de construção, em chapa no 12, estão
apresentados na Figura 10. Em todos os casos, o operador deve ter cuidado para que
parte do terreiro seja raspada, de modo a ficar exposta ao sol, a fim de que a sua
secagem e o seu aquecimento propiciem, indiretamente, a secagem do café na próxima
virada (Figuras 7b e 8).
Passados os primeiros dias de secagem (ao redor do quinto dia), quando o café já
estiver parcialmente seco, às três horas da tarde, aproximadamente, o produto deve ser
distribuído em grandes leiras, no sentido da maior declividade do terreiro, as quais
devem ser cobertas com lonas plásticas (Figura 9b). A cobertura do produto enleirado
favorecerá a conservação do calor absorvido durante a exposição aos raios solares,
garantindo melhor uniformização e redistribuição da umidade na massa de grãos.
Ao amanhecer, aproximadamente às nove horas, as leiras devem ser descobertas
e removidas do local de pernoite, para que o piso utilizado seja secado. Em seguida, o
produto deve ser espalhado sobre o terreiro, repetindo-se as operações feitas nos dias
anteriores (Figuras 8 e 9c), até atingir o teor de umidade ideal para o armazenamento
(12% b.u.), ou até o ponto de meia-seca (30% b.u.), que é o ideal para se iniciar a
complementação da secagem em secadores mecânicos.
O terreiro deve estar localizado em área plana e bem drenada, ensolarada,
ventilada, em nível inferior às instalações de recepção e preparo inicial e superior às
instalações de armazenamento e beneficiamento. Como dito anteriormente, os terreiros
podem ser construídos em terra batida ou pavimentada com tijolos, asfalto ou concreto.
Os pisos concretados apresentam melhores resultados, são mais duráveis, mais fáceis de

444 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

manejar e apresentam melhores características de higienização.

Errado Correto

(a) (b)
Figura 7 – (a) Detalhe do terreiro após a distribuição do café vindo do lavador,
mostrando a umidade do piso; (b) operação real de distribuição e
revolvimento do café no terreiro.

Figura 8 - Formação e quebra das leiras e revolvimento do café no terreiro.

(a) (b) (c)

Figura 9 – (a) Raspador-enleirador para café em terreiro; (b) formação de leiras


durante os períodos finais de secagem em terreiro; (c) distribuição do
café em terreiro em sistema de minileiras.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 445


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

Figura 10 - Detalhes para construção do rodo raspador de café.

3.2.1. Localização e construção do terreiro convencional


A área do terreiro deve ser calculada em função da produção média da lavoura
por mil covas, do número de cafeeiros e das condições climáticas da região.
Na hipótese de se utilizar apenas o terreiro para a secagem, o cálculo da área
poderá ser feito segundo a equação 1:

S = 0,0005 Q .T eq.1
em que
S = área do terreiro, m2 para produção de 1.000 pés
Q = média anual de produção de café cereja, no litros/1.000 pés;
T = tempo médio de secagem na região, dias.

446 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Quando da utilização somente do terreiro para realizar a meia-seca, ou seja, para


reduzir o teor de umidade de 60% para aproximadamente 30% b.u. (o que ocorre em
cerca de seis dias) e complementar a secagem em secadores mecânicos, a área do
terreiro poderá ser reduzida para 1/3 do valor original.
Sempre que possível, o terreiro deverá ser dividido em quadras, a fim de facilitar
a secagem dos lotes, segundo sua origem, seu teor de umidade e sua qualidade. Para
facilitar o escoamento das águas pluviais, o terreiro deverá ser construído com
declividade de 0,5 a 1,5% e provido de ralos na parte inferior. Estes ralos, medindo 0,4
x 0,25 m, devem ser construídos em chapa de aço com 50% de perfuração, com furos
quadrados de 4 mm de lado, no máximo, para impedir a passagem dos grãos de café. No
caso de se adotarem perfurações circulares, deve-se usar a mesma porcentagem de
perfuração, com furos de menores dimensões (diâmetro máximo de 2,0 mm).
Aconselha-se construir muretas de proteção medindo 0,20 m de altura por 0,15
m de espessura ao redor do terreiro, para evitar perdas ou misturas de material dos
diferentes tipos de cafés.
Após o ponto de meia-seca, a secagem do café deverá ocorrer em montes ou em
grandes leiras, onde se estabelecerá o equilíbrio entre as camadas externas e a parte
interna do grão e dos grãos entre si. Para isso, diariamente, o café deve ser revirado e
exposto por duas ou três horas ao sol e, a seguir, amontoado e coberto.

3.2.2. Resumo dos cuidados com o uso dos terreiros tradicionais

a) Não misturar lotes diferentes de café.


b) Esparramar o café, lavado ou não, no mesmo dia da colheita em camadas
finas de 3 a 5 cm e proceder à formação das minileiras. Caso haja grande
percentagem de frutos verdes, pode-se usar leiras maiores (cerca de 10 cm de
altura), porém haverá necessidade de revolver o café com maior freqüência
(no máximo a cada hora).
c) Revolver o café pelo menos oito vezes ao dia, de acordo com a posição do
sol. A sombra do trabalhador deve ficar à sua frente ou atrás, para que as
pequenas leiras feitas durante o revolvimento não sombreiem o café (Figura
9c).
d) Fazer com o café, após o segundo dia de seca, pequenas leiras de 15 a 20 cm
de altura, no final da tarde, e esparramar no dia seguinte bem cedo, o que
acelera a secagem e impede que o sereno umedeça muito o café.
e) Fazer leiras grandes com café, no sentido da maior declividade do terreiro,
em caso de chuvas. Estas leiras devem ser trocadas de lugar o maior número
de vezes possível, a fim de aumentar o contato com o ar na massa de café.
Quando a chuva terminar, deve-se continuar a revolver as leiras até que o
terreiro seque. Logo após esparramar o café, deve-se proceder como no item
b.
f) Nunca amontoar o café cereja antes do ponto de meia-seca, ponto em que ele
não estará mais colando na mão quando apertado. A amontoa, a partir desta
fase, é uma operação muito importante, devido à propriedade que o grão de

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 447


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

café em coco tem de trocar calor entre si, proporcionando maior igualdade na
seca.
g) Amontoar o café por volta das 15 horas e, se possível, deixá-lo coberto com
lona até o dia seguinte.
h) Esparramar o café por volta das 9 horas, quando a umidade do ar é adequada
e, como no item c, movimentá-lo até às 15 horas, quando deve ser
novamente amontoado.
i) Continuar o processo até a secagem final, recolhendo o café frio pela manhã,
para a tulha, com 11 a 12% de umidade.
Dentro do terreiro podem ser construídas “coroas ou meias-luas”, que são
pequenas muretas de 5 cm de altura e 3 m de diâmetro, cuja finalidade é servir de local
para se amontoar o café, evitando-se escorrimento da água de chuva sob a lona.
Deve-se evitar a construção de terreiros em lugares úmidos, como baixadas e
próximos de represas ou locais sombreados e com construções adjacentes.
Na Tabela 10, pode-se verificar o material gasto na construção de um terreiro de
concreto de 150 m2, com pavimentação feita com concreto 1:4:8 de 8 cm de espessura e
seu arremate com argamassa 1:3, com 2 cm de acabamento.

TABELA 10 - Materiais gastos na construção de um terreiro de concreto de 150 m2

Discriminação Unidade Quantidade Preço Preço Total Participação


Geral Unitário (R$) (%)
(R$)
Trator de esteira hora 2 80.00 160,00 4,04
Servente dia 29 25,00 725,00 18,32
Pedreiro dia 16 50,00 800,00 20,21
Cimento saco 58 16,00 928,00 23,45
Areia m3 11 45,00 495,00 12,51
Brita m3 11 65,00 715,00 18,06
Sarrafo m 75 1,30 84,50 2,16
Tijolos unidade 250 0,20 50,00 1,26
TOTAL GERAL 3.957,50 100,00
Custo/m2 = R$ 26,38 – Julho de /2008.

A construção de bons terreiros em pequenas e médias propriedades representa


grande investimento, o que onera o custo de produção do café. Assim, muitos
produtores secam o café em terreiros de chão batido, que, por sua vez, são contra-
indicados na maioria das regiões produtoras, em conseqüência da má qualidade final do
café. Para facilitar a construção de terreiros revestidos, especialmente em relação à
redução de custo, pode-se utilizar o sistema saibro-cimento. Pelas Tabelas 10 e 11,
pode-se fazer uma avaliação do custo do terreiro de saibro-cimento em comparação com
o piso de concreto. O terreiro de saibro, com espessura de 5 cm, pode ser construído
com uma mistura de oito partes de saibro e uma de cimento. Verifica-se que o terreiro
saibro-cimento tem um custo, por m2, 45% inferior ao do terreiro concretado.

448 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

TABELA 11 - Custo estimado para a construção de 100 m2 de terreiro de saibro-


cimento

Itens Necessidade Valor Unitário (R$) Custo total (R$)


A – Material
Lajotas 320 un. 0,20 64,00
Areia 0,75 m3 45,00 33,75
Brita 0,75 m3 65,00 42,25
Saibro 8 m3 - 200,00
Cimento (mureta e piso) 34 sc 16,00 544,00
B – Mão-de-obra
Pedreiro 2d 50,00 100,00
Ajudantes 16 d 25,00 400,00
Subtotal - - 1084,00
Eventuais (10%) - - 108,40
TOTAL 1192,40
Custo/m2 = R$ 11,92 – Julho/2008.

3.3 - Terreiro Híbrido - Solar e Biomassa


Como descrito no capítulo 7 - Secagem de Grãos com Energia Solar, o terreiro
híbrido, ou terreiro secador, nada mais é que um terreiro convencional,
preferencialmente concretado, onde se adaptou um sistema de ventilação com ar
aquecido por uma fornalha, para a secagem do café na ausência de radiação solar direta
ou em período chuvoso. Cada módulo do terreiro híbrido deve ser constituído por uma
área com as dimensões de 10,0 por 15,0 m, aproximadamente (Figura 11 e Figura 3,
capítulo 7). Na direção do comprimento, o terreiro secador é dotado de uma tubulação
principal (central ou lateral), para fornecimento de ar a pontos específicos do terreiro.
Para isso, são derivadas aberturas para 6 (seis) câmaras de secagem em camada fixa, ou
igual número de tubulações secundárias, para secagem em leiras transversais ou
longitudinais (Figura 4 a, b, capítulo 7).
As câmaras de secagem, portáteis e construídas em caixas com um fundo falso,
feitas em chapas perfuradas, ficam simplesmente apoiadas sobre as tomadas de ar
quente na tubulação principal ou nas aberturas da tubulação secundária derivadas do
duto lateral. Já os dutos de distribuição de ar, construídos preferencialmente em chapa
metálica perfurada, ficam encaixados nas tomadas de ar.
Ao duto principal é acoplada uma fornalha, com um ventilador centrífugo que
possibilite uma vazão de 1,5 m3/s de ar. Na ausência de radiação solar direta, incidência
de chuvas e durante o período noturno, o produto é recolhido às câmaras de secagem ou
enleirados sobre os dutos de distribuição de ar para secagem com ar aquecido. Em
ambos os casos, deve-se providenciar cobertura para proteção dos grãos durante
períodos chuvosos. Assim, a secagem poderá ser realizada durante as 24 horas, por meio
da utilização da energia solar em dias ensolarados e da energia proveniente da
combustão de biomassa (lenha ou carvão vegetal) ou gás, durante a ausência da radiação
solar direta.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 449


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

Figura 11 – Planta baixa e corte AA do terreiro híbrido, módulo de 150 m2 e


detalhes do sistema de ventilação.

Durante os dias ensolarados, o terreiro terá funcionamento normal, como visto


anteriormente, e, ainda assim, pode-se usar as câmaras para secagem com ar a altas
temperaturas; ganha-se, com isso, produtividade de secagem. Para o funcionamento do
terreiro com as câmaras de secagem, deve-se proceder de modo semelhante ao da
secagem em camada fixa.
Na secagem em camada fixa, o produto permanece num compartimento de
fundo perfurado, por onde passa o ar de secagem. A altura da camada de produto pode
variar, para grãos em geral, devendo situar-se em torno de 0,4 m. Altura acima desta
faixa poderá acarretar problemas, como alto gradiente de umidade.
A operação do sistema em camada fixa é simples, embora exija alguns cuidados.
A movimentação do produto em intervalos de tempo regulares é uma operação
importante para evitar a desuniformidade na sua umidade final.
Como dito anteriormente, ao duto principal do terreiro-secador será acoplado um
ventilador centrífugo acionado por motor elétrico de 5 cv, 1.750 rpm, que possibilitará
vazão média do ar de secagem de aproximadamente 1,5 m3/s (veja construção do
ventilador). No terreiro-híbrido, o ventilador succiona o ar aquecido por uma fornalha.

3.4 - Secagem em Altas Temperaturas


Para obtenção de café de boa qualidade, é necessário cuidado especial no
controle da temperatura da massa de grãos, principalmente a partir do momento em que
o café passa a apresentar teor de umidade inferior a 35% b.u. Para teores de umidade

450 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

inferiores a este valor, dependendo do sistema de secagem utilizado, há tendência de a


temperatura da massa de grãos se igualar à temperatura do ar de secagem. Essa
tendência é causada pela dificuldade de migração da umidade das camadas mais
internas para a periferia dos grãos.
A temperatura máxima do ar que o café pode suportar, em um secador
convencional, é de 70°C. Temperaturas mais elevadas são prejudiciais ao produto, uma
vez que muitos grãos que não fluem adequadamente dentro do secador ficam
supersecos, enquanto outra parte não atinge o teor de umidade ideal (11-12%b.u.),
transformando a torrefação em um processo de difícil controle.
No mercado brasileiro, encontra-se à disposição do cafeicultor grande variedade
de modelos de secadores industrializados ou modelos que o agricultor, com o auxílio do
extensionista local, poderá construir na própria fazenda. Para o bom funcionamento de
boa parte dos secadores mecânicos fabricados no Brasil, a massa de café não deve
apresentar excesso de água; por isso, deve-se fazer uma pré-secagem em terreiro ou em
pré-secadores, como o rotativo ou o secador em camada fixa, modelo UFV. A Figura 14
(capítulo 5 – Secagem e Secadores) mostra um tipo de secador mecânico muito
utilizado para a secagem do café. Deve-se evitar que a temperatura do ar ou da massa de
café ultrapasse 70 e 45°C, respectivamente, por períodos superiores a duas horas.
Estudos realizados pelo extinto IBC sobre equipamentos para secagem de café
em fluxos cruzados concluíram que os resultados obtidos na prova de xícara indicaram
uma qualidade de bebida bem semelhante, significando que os diferentes equipamentos
encontrados no mercado nacional não afetaram a qualidade da bebida do café. Isso
indica que a adoção de uma ou outra marca de secador deve ser baseada na preferência
do agricultor, na idoneidade do fabricante, na facilidade de operação e manutenção e,
adicionalmente, em uma análise econômica. De qualquer maneira, é bom verificar se o
secador possui uma boa câmara de descanso e sistemas adequados de controles de
temperatura, do fluxo de ar e do fluxo de grãos.

3.5. Secagem em Lote com Leito Fixo


O secador de leito fixo vem sendo muito utilizado na pré-secagem ou na
secagem do café. Neste caso, a temperatura recomendada para o ar é de 50 °C. A
camada de café, dependendo das condições do produto, pode variar de poucos
centímetros até 0,50 m de espessura. No secador em camada fixa, modelo UFV
(capítulo 5 – Secagem e Secadores), o produto deve sofrer revolvimentos para
homogeneização da secagem em intervalos regulares de três horas. No caso de
secadores com 5,0 m de diâmetro, o operador deve revolver, cuidadosamente, o produto
e tentar realizar a operação em tempo não inferior a 30 minutos.
Estudos realizados com o secador modelo UFV mostraram que a secagem de
café com camada de 40 cm de espessura, temperatura do ar de secagem de 55oC e
intervalo de revolvimento de três horas (180 min) necessita, em média, de 32 h para
reduzir o teor de umidade de 60% para 12% b.u. Nestas condições, a operação de
secagem não compromete a qualidade da bebida e o tipo obtido é, geralmente, superior
ao mesmo café secado em diferentes tipos de terreiros.
Diferentemente da maioria dos secadores mecânicos, o secador em camada fixa
pode dispensar a pré-secagem em terreiros quando as condições climáticas não forem

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 451


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

favoráveis e pode ser usado como pré-secador em sistemas mais complexos.


O exemplo a seguir mostra o dimensionamento, passo a passo, de um sistema de
secagem em camada fixa, utilizando-se o secador modelo UFV.

Exemplo de Cálculo
Dimensionar um sistema de secagem compatível com a colheita de um
determinado cafeicultor que forneceu as seguintes informações:

INFORMAÇÕES VALORES
Número de covas 100.000
Produtividade esperada 18 litros / cova
Capacidade de colheita 200 litros / homem.dia
Temperatura e umidade relativa médias 22oC e 70%
Período de colheita 3 meses
Mão-de-obra Suficiente

Dados práticos:
- 160 litros de café cereja =100 litros de café coco = 40 kg café coco = 20 kg
café beneficiado.
- Com cinco dias de sol, o café cereja (62% b.u.) passa para café meia-seca
(30% b.u.).
- 1,0 m2 de terreiro deve conter 0,04 m3 de café.
- A altura máxima da camada de café no secador é de 0,40 m.
- Desaconselha-se a construção de secadores com diâmetros superiores a 5 m
ou no formato retangular superior a 20 m2.
- Massa específica do café em função do teor de umidade (equação 2).

ρ = (39648 - 172,48 x U) / (100-U) eq. 2

em que:
ρ = massa específica do café, kg/m3; e
U= teor de umidade, % b.u.
Solução:

Cálculo da colheita diária


100.000 covas x 18 1itros / cova =1.800.000 litros em 3 meses
3 meses =75 dias úteis ⇒ 24.0001itros / dia ou 24 m3 / dia

Cálculo da área do terreiro


[(24 m3 / dia) / (0,04 m3 / m2)] x 5 dias =3.000 m2

Total de café em coco por dia


24 m3 café cereja x (100 1itros de café coco / 160 1itros de café cereja) =15 m3
café coco (meia seca) / dia

452 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Diâmetro do secador (Ds)


(15 m3 café coco / dia)/ 0,4 m ( altura da camada ) ≅ 38 m2
Ds = [(38 x 4) / 3,14]1/ 2 ≅ 7,0 m
Recomenda-se redimensionar com a metade da área:
Ds = {[(38 / 2)x 4] / 3,14}1/2 = 5 m
Têm-se, assim, dois secadores de 19 m2 e 7,5 m3 de com capacidade

Carga do secador (Cs)


Cs = (volume do secador) x (ρ)
ρ = [39648 – (172,48 x 30)]/(100 - 30) = 492 kg/m3 (30% b.u.)
Cs = 7,5 m3/secador x 492 kg/m3 = 3.690 kg/secador

Vazão de ar (Q)
Considerando o fluxo de ar q =10 m3/min.m2
Q = q(área do secador) = 10 x 19 =190 m3/min

Condições psicrométricas do ar

Variável Ar ambiente Ar no plenum Ar de exaustão


1 2 3
Temperatura Tbs, oC 22 50 38
Umidade relativa UR, % 70 15 40*
Razão de mistura RM, g/kg 12 12 16
Volume úmido V, m3/kg 0,85 0,94 0,91
Entalpia H, kJ/kg 52 80 80
* Com base em dados práticos.

Quantidade de água a ser removida (Ma)


O café será secado de 30% para 12% b.u.

Ma = [(Ui-U0)/(100-Uf)] Cs eq. 3

Ma = [(30 - 12)/(100 - 12)] 3690 ≅ 756 kg de água.

Quantidade de ar (Qar) para remover a massa de água (Ma)


qar = Ma /(RM3 - RM2 ) = (756 /0,004) = 189.000 kg de ar seco
Qar = (qar) (v2) = (189.000) (0,942) = 178.038 m3 de ar

Tempo de secagem (ts)


ts = (Qar /Q) = (178.038 / 190) = 937 min ≅ 16 h

Tempo total de operação (top)


top = ts + tr + tc + td
em que:

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 453


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

ts = tempo de secagem;
tr = tempo de revolvimento;
tc = tempo para carregamento do secador; e
td = tempo para descarregamento do secador.

Considerando-se que são necessários 20 minutos de revolvimento a cada três


horas de secagem, tem-se:
tr = [(tempo de secagem)/(intervalo entre revolvimentos)] x
[tempo necessário para cada operação de revolvimento]

tr = [(16 h) / (3 h)] x [20 min] =106 min ou 2 h

Considerando-se tc = 2,0 h e td = 1 h, tem-se:

top = 16 + 2 + 2 + 1 = 21 h

3.6. Secadores de Fluxos Concorrentes


Estudos desenvolvidos na UFV sobre a secagem de café em secadores de fluxos
concorrentes (Figura 17, capítulo 5 - Secagem e Secadores), ou seja, em secadores em
que o ar de secagem e o produto fluem na mesma direção, utilizando temperaturas de
80, 100 e 120 °C e teor de umidade inicial de 25% b.u., mostraram que é possível obter
razoável consumo específico de energia utilizando temperaturas mais elevadas.
Verificou-se que, embora a temperatura recomendada seja de 80°C, é possível,
com determinados cuidados, secar café com o ar de secagem até 120oC, em secadores
de fluxos concorrentes, sem prejudicar a qualidade final da bebida. Para isso, deve-se ter
o cuidado de aumentar a velocidade do produto dentro do secador e certificar-se de que
o produto esteja fluindo uniformemente. Para evitar problemas oriundos de situações
operacionais adversas, é preferível manter a temperatura do ar de secagem abaixo de
100oC. Geralmente, o consumo de energia por quilograma de água evaporada dos grãos
(kJ.kg-1) é menor nos secadores concorrentes do que em secadores tradicionais de fluxos
cruzados ou de camada fixa.

3.7. Seca-aeração
A seca-aeração consiste, essencialmente, em resfriar os grãos depois da secagem
em altas temperaturas, porém não mais na zona de resfriamento do secador, e sim em
tulha de têmpera, com aeração forçada. O café é removido do secador sem ser
submetido ao resfriamento e contendo em torno de 2,0 pontos percentuais de umidade
acima do teor recomendado para o armazenamento. Antes de passar pela aeração, a
massa de café é mantida em repouso e, a seguir, resfriada lentamente, para que seja
removido o excesso de umidade.
O período de repouso tem como finalidade permitir uma redistribuição de
umidade tanto no interior do próprio grão quanto na massa de café, o que requer de 6 a
10 h. Na fase de resfriamento, deve-se empregar um fluxo de 0,5 m3 de ar por minuto,
por tonelada de café. Com o fluxo de ar recomendado, dependendo da temperatura e do
tempo de repouso, pode-se reduzir até 2,5 pontos percentuais de umidade (base úmida),

454 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

utilizando-se a energia residual presente na massa de grãos. Depois de resfriado à


temperatura ambiente, o café deve ser transferido para tulhas de armazenagem, que, se
possível, devem possuir sistemas de aeracão.
Caso o repouso do produto seja realizado nas próprias tulhas de armazenamento,
o operador só poderá ligar o sistema de aeração quando a tulha já estiver carregada com,
no mínimo, metade de sua capacidade. Em ambos os casos, a capacidade dinâmica do
secador pode ser aumentada em até 100%.
Em resumo, o processo de seca-aeração pode ser aplicado da seguinte forma:
quando o café atingir teor de umidade de aproximadamente 14% b.u., deve-se retirá-lo
ainda quente (acima de 45oC) do secador, colocando-o em tulha com aeração, e deixá-lo
repousando por, no mínimo, seis horas. A seguir, deve-se resfriá-lo até que sua
temperatura se iguale à do ambiente. Para maior eficiência do processo de seca-aeração,
é conveniente, ao final do processo de secagem, elevar a temperatura da massa de café
para 55°C por uma hora, no máximo.

3.8. Secagem Parcelada


A secagem parcelada consiste em secar o café durante determinado período de
tempo e depois retirá-lo do secador, deixando-o armazenado em tulhas de descanso. À
semelhança do processo de seca-aeração, a umidade interna do grão será redistribuída e
a temperatura da massa de café ficará mais homogênea. Essa homogeneização ocorre
por causa da migração de umidade do centro para a periferia do grão, facilitando a
retirada de umidade na etapa seguinte de secagem. Estudos mostram que, quanto
maiores os parcelamentos e os tempos de repouso (no máximo de 10 h), menores serão
os tempos reais de secagem.
O parcelamento da secagem é um processo que possibilita melhorar a qualidade
do produto e aumentar a capacidade do secador. No entanto, exige investimentos
adicionais em pelo menos duas tulhas e equipamentos de transporte de grãos.

3.9. Secagem com Energia Solar


Apesar de ser a fonte primária de energia mais utilizada e apresentar relativo
sucesso quando se usa o terreiro, o emprego da energia solar direta para secagem de
grãos em camadas profundas só é viável em sistemas de secagem em baixas
temperaturas. Os altos níveis de energia necessários (120.000 a 300.000 kJ/h) em
secadores mecânicos de média capacidade inviabilizam sua aplicação em sistemas de
alta temperatura (veja capítulo 7 – Secagem de Grãos com Energia Solar).

3.10. Secagem com Ar Natural e em Baixas Temperaturas


Os sistemas de secagem com ar natural e em baixas temperaturas geralmente
envolvem a secagem em silos (veja capítulo 5 – Secagem e Secadores).
O café natural com teor de umidade acima de 25% b.u. está sujeito a rápida
deterioração, exige altos fluxos de ar para a secagem e, dependendo das condições
climáticas, torna o sistema técnica e economicamente inviável.
Trabalhos realizados no setor de armazenamento do Departamento de
Engenharia Agrícola da UFV mostraram que, em condições climáticas semelhantes às
de Viçosa, é técnica e economicamente viável secar café cereja descascado ou

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 455


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

despolpado com teor de umidade inicial de até 25% b.u. A maior vantagem da secagem
com ar natural ou em baixas temperaturas é que, além da economia substancial de
energia e do aumento no rendimento dos secadores, o produto final apresenta coloração
e umidade bastante uniformes, propiciando boa torração.

3.11. Secagem Combinada


Para solucionar possíveis problemas em decorrência de condições climáticas
desfavoráveis e de teor de umidade inicial elevado, foram realizados alguns estudos
utilizando a técnica da secagem em combinação (alta temperatura na primeira fase e
baixa temperatura ou ar natural na segunda fase) para a secagem do café. Neste sistema,
depois de separar adequadamente, por densidade, o café tipo cereja, procede-se ao
descascamento e à lavagem para retirar parte da mucilagem. A seguir, realiza-se uma
pré-secagem em um secador de camada fixa, com revolvimento da camada a cada três
horas. A pré-secagem pode também ser realizada em secador rotativo ou em outro
sistema de secagem em alta temperatura que funcione adequadamente para café com
alto teor de umidade e parte da mucilagem.
Em qualquer dos casos, o ar de secagem deve ser aquecido indiretamente, para
evitar possível contaminação do produto por fumaça. Nesta fase, o café deve ser secado
até que o teor de umidade atinja valores próximos a 25% b.u. (dependendo das
condições climáticas para a secagem em baixas temperaturas) e, em seguida, ser
transferido para a secagem complementar em silos, com ar natural ou aquecido (até no
máximo 10oC acima da temperatura ambiente). Além de evitar a deterioração do
produto, este procedimento permite reduzir o tempo de secagem em alta temperatura,
aumenta a capacidade dos secadores e reduz o consumo de energia em mais de 50%,
quando comparado aos processos tradicionais de secagem.
Independentemente do tipo de pré-secagem, é importante ressaltar que, em todas
as fases do processamento, deve-se evitar qualquer tipo de fermentação, para que se
obtenha café de alta qualidade e com sabor natural. Para isso, o operador do sistema de
secagem em combinação deverá ficar familiarizado com o processo e estar atento
quanto à operação do sistema de ventilação durante a segunda etapa de secagem. A
secagem deve ser processada da seguinte maneira:
a) O café descascado e lavado deve ser transferido para o sistema de pré-
secagem o mais rápido possível e ter o teor de umidade reduzido a um valor
preestabelecido, segundo as condições locais.
b) Além do secador em leito fixo, um pré-secador ou secador rotativo é
indicado para esta operação. Nesta fase, deve-se operar o secador utilizando
fornalha com aquecimento indireto e não permitir que a temperatura da
massa de grãos ultrapasse 45oC, para não afetar a qualidade do café.
c) Deve-se transferir o produto para o silo secador e, em seguida, acionar o
sistema de ventilação, que deverá permanecer ligado até que o café da
camada superior do silo atinja um teor de umidade ao redor de 17% b.u.
Abaixo deste valor, o ventilador permanecerá ligado somente durante os
períodos em que a umidade relativa do ar estiver abaixo de 70%, o que
normalmente ocorre durante o dia. O ideal seria acoplar um umidistato ao
sistema de ventilação, para que este seja acionado automaticamente para a

456 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

faixa de umidade relativa estabelecida. Apesar de se adicionar ao sistema um


dispositivo automático, o operador deve estar sempre atento e inspecionar
diariamente o sistema de secagem, a fim de certificar-se do funcionamento
correto, para que não ocorra o crescimento de fungos na camada superior de
grãos.
d) Deve-se desligar o sistema de ventilação quando a umidade do produto
atingir o teor de umidade de equilíbrio (próximo a 12,5% b.u.), isto é,
quando o ar não mais conseguir retirar a umidade do café. O tempo para que
isso ocorra irá depender da altura total da camada de café, da quantidade
adicionada diariamente no silo secador, dos fluxos de ar no início e no final
do carregamento de silo, das condições climáticas e do teor de umidade
inicial do café. Para a maioria das regiões produtoras, a umidade de
equilíbrio está próximo a 12,5% b.u. Ao desligar o sistema de ventilação, o
operador deve ter o cuidado de fechar a entrada de ar do ventilador, para que
não ocorram correntes de ar indesejáveis, que possam possibilitar a
reumidificação e possível deterioração do produto.
e) Depois de seco, o monitoramento do sistema consiste na inspeção periódica
(diária ou semanal) da temperatura e do teor de umidade da massa de grãos.
Caso ocorra aquecimento ou aumento no teor de umidade, deve-se verificar a
causa e providenciar o acionamento do ventilador até que toda a massa de
grãos volte às condições normais.

Ao pensar na adoção de um sistema em combinação para a secagem do café, o


agricultor deve consultar um especialista com reconhecida capacidade em secagem de
café. Apesar de aparentemente simples e de fácil adaptação a sistemas já existentes em
fazendas, o sistema de secagem em combinação é altamente dependente das condições
climáticas da propriedade, das tecnologias utilizadas antes da operação de secagem em
baixa temperatura e do nível de treinamento do operador. Isto quer dizer que nem
sempre um sistema projetado para um cafeicultor será necessariamente adequado a
outro.
O especialista deve prestar seus serviços de maneira individual, ou seja, deve
conhecer as condições da propriedade e do cafeicultor e orientá-lo nos moldes de uma
relação consultor/cliente.
Apesar de se poder realizar a secagem combinada com um ou dois silos, o que
resulta em menor custo de instalação, é altamente recomendado que o agricultor adote
um sistema composto por sete silos.

3.11.1. Secagem combinada com sete silos


O sistema de “sete silos” consiste na adoção de sete silos ou tulhas ventiladas
(metálicas, de madeira ou em alvenaria), que serão carregados por camadas. Os silos
devem ser dimensionados para receber, semanalmente, uma determinada quantidade de
produto com umidade inicial preestabelecida (Figura 12).
Cada silo ou tulha (Figura 13) deverá, até o final da colheita, ter a sua capacidade de
carga completada. Quando a última camada for adicionada ao último silo, significa que
todas as outras já estarão em equilíbrio com o ambiente, e o final da secagem deve ser

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 457


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

monitorado pela umidade do café na superfície superior da última carga. A partir desse
ponto, pode-se, finalmente, desligar o sistema de ventilação. O silo de número 7 (Figura
12) deve ser considerado um silo reserva, portanto, deve estar sempre vazio para
solucionar problemas eventuais durante o período de colheita.
Para simplificar o processo dos “Sete Silos”, suponha que o primeiro dia de
colheita aconteça em uma segunda feira. Assim, o café, depois de convenientemente
preparado e ter sido pré-secado, deve ser imediatamente levado para o primeiro silo
(silo 1) e ter o sistema de ventilação ligado. Na terça feira, segundo dia de colheita, o
produto deve ser levado para o silo 2, com o mesmo tratamento. Com essa rotina,
chegaremos ao sábado, sexto dia de colheita, a qual deve ser colocada no silo 6.
Deve-se lembrar que no domingo não há colheita. Assim, na segunda semana de
colheita, que se iniciará na segunda-feira, o silo 1, que recebeu o café do primeiro dia de
colheita, já terá secado a primeira camada e estará pronto para receber o café do sétimo
dia de colheita. Portanto, o oitavo dia de colheita deverá ir para o silo 2 e assim,
sucessivamente, até que ela termine.
Dessa forma, pode-se concluir que, uma semana após a finalização da colheita,
todo o café cereja descascado já estará seco e pronto para ser comercializado, ou poderá
permanecer armazenado, nos silos, até que melhor oportunidade de comercialização
apareça.

Figura 12 - Esquema do sistema de secagem em sete silos.

458 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Figura 13 - Tulhas de madeira e com sistema de ventilação para secagem


complementar do café (Ibituruna - MG).

3.11.2. Simulação para secagem combinada


Para ilustrar o método de secagem pelo sistema de sete silos, simulou-se, para este
trabalho, uma situação em que as condições médias de umidade relativa e temperatura
do ar ambiente da região foram de 70% e 22°C, respectivamente.
Considerou-se uma produção de 99.000 kg de café pergaminho, a serem
processados durante 48 dias de colheita e pré-secados até atingir o teor de umidade
inicial para cada subcamada a ser adicionada ao silo. Em função do tempo total de
colheita, e considerando a semana de colheita com seis dias úteis, determinou-se que
cada silo seria composto por oito subcamadas, ou seja, 48dias de colheita e seis dias
úteis por semana, caracterizando dessa forma o sistema de secagem em sete silos, sendo
um silo de reserva. As dimensões do silo foram determinadas de modo que recebesse
uma camada de 0,40 m de café pergaminho por dia.
Na Tabela 12 são apresentados os parâmetros necessários à simulação e os valores
obtidos utilizando o modelo de Hukill. Pela tabela, pode-se verificar que, para cada
subcamada depositada semanalmente no silo, o seu teor de umidade inicial deverá ser
menor que o da anterior. Esse fato se deve à redução do fluxo de ar decorrente do
aumento da pressão estática com a adição de uma nova subcamada. Nota-se, também,
que a umidade final de todas as subcamadas são iguais, pelo fato de a secagem só
ocorrer até a umidade de equilíbrio para as condições médias do ar de secagem.
É importante ressaltar que os resultados apresentados foram obtidos em um
exemplo de gerenciamento do método com sete silos e para uma condição ambiental
favorável ao processo de secagem. Em regiões onde as condições climáticas não sejam
favoráveis, poderá ser necessário, caso a umidade relativa seja alta, promover pequeno
aquecimento do ar de secagem.
Em caso de aquecimento com gás ou eletricidade, existem no mercado
dispositivos capazes de permitir o controle do sistema pelo monitoramento da umidade
relativa e da temperatura, os quais ligam o sistema de aquecimento do ar somente
naquelas condições desfavoráveis ao processo.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 459


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

Em locais de umidade relativa baixa, o sistema de ventilação deve ser regulado


para funcionar nos períodos favoráveis, ou seja, naqueles em que a umidade relativa
seja maior, evitando possível supersecagem do produto. Pode-se, também, adaptar um
vaporizador para adicionar vapor de água ao ar de secagem nos períodos muito secos
(caso muito comum nas regiões de cerrado).
Mais uma vez, deve-se ressaltar que, no caso de adoção do método de secagem
combinada pelo sistema de sete tulhas ou silos, é recomendado consultar um
especialista em secagem de café para adequar o sistema às condições da propriedade.
Um sistema bem projetado, além de facilitar a operação e reduzir os custos
operacionais, pode reduzir substancialmente o custo de instalação ou de adaptação do
sistema.

Tabela 12 - Considerações e valores obtidos na simulação para cada silo

Considerações para simulação


Tempo de colheita, dias 48 Fluxo de ar, m3 min-1 t-1 5
Número de silos 6 Aquecimento pelo ventilador, °C 1
Número de camadas do silo 8 Temperatura de secagem, °C 23
Diâmetro do silo, m 3 Umidade relativa de secagem, % 66
Altura do silo, m 3,2 Umidade de equilíbrio, % b.u. 11,6
Tempo de secagem por camada,
Altura da subcamada, m 0,4 168
horas (fixo)
Temperatura ambiente, °C 22 Potência do ventilador, cv 1
UR do ar ambiente, % 70
Resultados da simulação
Variáveis simuladas Camadas de cada silo
a a
1 2 3a 4a 5a 6a 7a 8a
Umidade inicial, % b.u. 27,0 26,0 26,0 25,0 25,0 24,0 23,0 19,0
3 -1
Vazão de ar, m min 50,8 48,0 44,9 41,6 37,7 33,2 27,2 13,0
Umidade final, % b.u. 11,6 11,6 11,6 11,6 11,6 11,6 11,6 11,6

3.11.2. Um novo sistema combinado (pré-secador, secador e silo-secador)


Na Figura 14 é mostrado o esquema básico de um modelo, recentemente
desenvolvido na UFV, para secagem em combinação. O sistema é composto pela
associação de um pré-secador (terreiro secador), de um secador pneumático de fluxos
concorrentes, com carga, descarga e revolvimento pneumáticos, e de silos, com
ventilação, para secagem complementar do produto.
Como pode ser observado na Figura 15, foi construído apenas um silo secador.
Entretanto, o produtor pode optar por construir vários silos, inclusive de diferentes
tamanhos, com capacidade total para receber a produção de café em pergaminho.
A Tabela 13 fornece os resultados da classificação comercial de três lotes de
café cereja descascado que foram secados combinando: pré-secador, secador de fluxos
concorrentes e silo-secador, como mostrado na Figura 15.
Outro exemplo da aplicação bem sucedida do sistema de secagem combinada é o
caso do Professor Sebastião Ferreira, cafeicultor no município de Viçosa-MG. No

460 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

sistema instalado, o Prof. Sebastião usa o terreiro suspenso como pré-secador, a


secagem parcial em terreiro híbrido e a complementação da secagem em dois silos
secadores (Figura 16).
Para adaptação do sistema de secagem combinada, o cafeicultor pode optar por
adquirir os silos no comercio ou construí-los em alvenaria ou outro material qualquer.
Entretanto, o silo a ser adquirido ou construído deve apresentar algumas características
especiais, próprias de um silo secador-armazenador, que não são exigidas para os silos
empregados apenas para armazenagem. Nos exemplos da utilização da secagem
combinada citados anteriormente, o silo foi projetado e construído segundo as
recomendações de Silva et al. (2005).

Figura 14 - Esquema básico de um sistema combinado modelo UFV.

Silo Secador-
Armazenador

Figura 15 - Modelo real, construído e instalado no DEA-UFV.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 461


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

Figura 16 - Vista dos silos para secagem em combinação, na fazenda do Prof.


Sebastião Ferreira (Viçosa - MG).

TABELA 13 - Resultados da classificação do café, após secagem complementar no silo


secador-armazenador

Umidade Peneira Catação Renda


Camada Tipo Bebida
%b.u** % % %
1 (superior) 11,8 67* 8 5 71 MOLE
2 11,8 62 8 5 73 MOLE
3 12,0 60 11 5 73 MOLE
4 11,8 68 10 5 68 MOLE
5 11,6 64 12 5 73 MOLE
6 11,5 64 10 5 72 APM
7 11,2 63 16 5 73 APM
8 11,7 79 10 5 73 MOLE
9 (inferior) 11,4 59 12 5 70 APM
Composta*** 11,5 67 12 5 71 MOLE
* Peneira 17 acima.
** Determinador de umidade comercial.
*** Amostra composta, com parcelas extraídas de cada saca, após descarga do silo.

3.12. Armazenamento e Beneficiamento


No caso de café natural (café em coco), o produto deve ser armazenado em
locais adequados, de forma a não sofrer alterações de qualidade.
O café é geralmente acondicionado em sacos de juta novos, com capacidade para
30 kg. Na entressafra, estes sacos são armazenados em pilhas de acordo com sua
origem. O local de armazenagem deve ser limpo, abrigado do sol, da chuva e bem
ventilado. A utilização de sacos de juta é vantajosa por serem resistentes e por
facilitarem a vedação de aberturas feitas por ocasião da retirada de amostras. Devido ao
grande volume a ser armazenado e ao elevado custo da operação de armazenamento, o
café em coco pode ser também armazenado a granel, em silos ou tulhas. Nestes, apesar
da proteção da casca, existe a possibilidade de ocorrência de modificações físicas e
químicas, principalmente nas camadas superiores das tulhas, caso o sistema não possua
um sistema de ventilação forçada e proteção contra umidade e chuvas.

462 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

3.12.1. Beneficiamento
O beneficiamento é uma operação pós-colheita que transforma, pela eliminação
das cascas e separação dos grãos, o fruto seco (coco ou pergaminho) em grãos de café.
É uma operação que deve ser realizada o mais próximo possível da época de
comercialização, para que o produto possa manter suas características originais.
Dependendo das condições em que o café foi secado ou mesmo em virtude das
mudanças que podem ocorrer durante o armazenamento, é conveniente passar o
produto, com bastante cuidado, por secador ou tulha aerada, para que haja uma
homogeneização do teor de umidade para um valor ideal para o benefício. Caso se use
um secador a alta temperatura para solucionar um problema de umidade alta, deve-se ter
o cuidado de não beneficiar o produto quente. O resfriamento natural evita a incidência
de grãos quebrados.
Uma unidade de beneficiamento, em nível de propriedade, deve possuir os
seguintes equipamentos:

a) Bica de jogo: é formada por um conjunto de peneiras com diferentes tipos


de furos com a finalidade de separar o café das impurezas leves (graúdas e
miúdas). Deve ser localizada entre a parte inferior da moega e o catador de
pedras.

b) Catador de pedras e metais: geralmente conjugado a um sistema de


ventilação, tem por finalidade separar as impurezas mais pesadas, incluindo
o café descascado dos cafés coco e casquinha. Possui um sistema magnético
que retém materiais metálicos (Figura 17).

c) Descascador: conjugado a um sistema de ventilação, o descascador é


constituído de um conjunto de navalhas metálicas giratórias e de uma fixa,
reguláveis, que têm a finalidade de retirar a casca e o pergaminho do café
(Figura 18). A palha é retirada pelo sistema de ventilação e o café desce para
a sururuca, onde é feita a separação do café limpo do café marinheiro ou
café que não foi descascado. O café limpo desce para o brunidor (Figura 19)
e o marinheiro retorna para o descascador.

d) Classificador: é um sistema que separa o café por tamanho, forma e


densidade. É constituído por um conjunto de peneiras com diferentes
tamanhos e tipos de furos e colunas de ar reguláveis que separam as
impurezas leves ou cafés mal granados (Figura 20).

Unidades de beneficiamento mais sofisticadas possuem ainda máquinas de


rebenefício como a separadora densimétrica (Figura 21) e as catadeiras eletrônicas
(Figura 22), que têm a finalidade de melhorar o tipo do café, segundo o interesse do
mercado.
Outros equipamentos como balanças, ensacadeira/costuradeira e transportadores
devem compor uma unidade ideal de beneficiamento.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 463


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

As maiorias dos pequenos cafeicultores, sem condições de investimento em


máquinas próprias, ou sem a disponibilidade do serviço de cooperativas, usam
geralmente o serviço de beneficiadoras ambulantes (Figura 23).

Figura 17 - Catador de pedras.

Figura 18 - Descascador de café pergaminho ou coco.

464 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Figura 19 - Brunidor.

Figura 20 - Classificadora de peneiras.

Figura 21 - Separadora densimétrica.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 465


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

Figura 22 - Vista geral de um conjunto de catadeiras eletrônicas.

Figura 23 - Vista geral de uma beneficiadora ambulante.

3.13. Armazenamento de Café Beneficiado


Nos países produtores, o café beneficiado ou café verde é tradicionalmente
armazenado em sacos em vez de granelizado. Apesar das muitas desvantagens, o
armazenamento em sacaria (Figura 24) permite a segregação de lotes, aspecto este
muito importante, considerando-se que o produto é avaliado, além de outros padrões de
qualidade, pelo teste de xícara.

Figura 24 - Detalhe do armazenamento em sacaria, mostrando a formação de lotes.

466 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Além do fácil acesso aos lotes, a circulação de ar sobre a sacaria, a fácil inspeção
e amostragem são fatores importantes a serem considerados durante o armazenamento
do café em armazéns convencionais (sacos de 60 kg, formando pilhas, geralmente com
pequeno ou nenhum controle das condições ambientais). Apesar disso, é possível
manter o produto armazenado por períodos relativamente longos (acima de três anos),
sem o risco de deterioração, como acontece com produtos como o milho ou trigo.
Dentro do armazém, deve-se prever espaços vazios para corredores, entre pilhas
e entre pilhas e paredes, para facilitar a inspeção e o manuseio do produto. Isto faz com
que, no máximo, 3/4 da área do piso de um armazém seja disponível para o
armazenamento do produto. As principais desvantagens do armazenamento
convencional em sacaria dizem respeito ao uso intensivo de mão-de-obra, ao custo da
sacaria e as dificuldades associadas com o controle de pragas.
O branqueamento e a redução da densidade são outros problemas relacionados
ao método tradicional de armazenagem de café. De acordo com o nível de dano durante
o armazenamento, podem ocorrer reduções de até 40% no preço do produto.
Finalmente, durante armazenamento do café ensacado, a quantidade de luz incidente
sobre a sacaria deveria ser cuidadosamente controlada; sob um ambiente iluminado com
luz de determinados comprimentos de ondas, os grãos de café podem sofrer mudanças
na coloração desejada comercialmente (branqueamento), que, por sua vez, é
considerada como indicativo da qualidade do produto.
O armazenamento em sacos, no entanto, oferece algumas vantagens como:

a) possibilita manipular lotes que variam quanto a tipo, teor de umidade e


quantidade de produto;

b) não requer técnicas e equipamentos sofisticados para o manuseio do produto;

c) problemas de armazenagem que ocorre em um ou mais sacos podem ser


resolvidos sem a necessidade de remoção de todo lote; e

d) baixo custo inicial de instalação.

Na armazenagem em sacaria, devem-se levar em consideração alguns pontos que


podem aumentar a eficiência e a proteção que o armazém pode oferecer ao café:

a) o excesso de luz deve ser evitado, por causar mudanças na cor do café
(branqueamento);

b) prover o teto e a parte inferior das paredes do armazém com aberturas


controláveis protegidas, para renovação natural do ar;

c) instalar exaustores, se possível; e

d) impermeabilizar o piso ou construir pisos suspensos.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 467


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

Embora não difundido nos países produtores, o armazenamento a granel de café


beneficiado é um procedimento que vem sendo adotado por produtores e firmas que
comercializam grandes quantidades de café com características uniformes.
Além das modificações necessárias nos sistemas convencionais de
armazenamento, para a armazenagem do café a granel, por longos períodos, exige-se,
também, um bom sistema de aeração. Este sistema deve ser dotado de termometria, a
fim de que seja possível manter a massa de grãos sob temperatura e umidade ideais para
uma boa comercialização.
Uma objeção ao sistema de armazenagem a granel deve-se à dificuldade de
realizar inventários precisos. Qualquer pequena variação na densidade aparente ou uma
compactação da massa de grãos pode causar grandes erros na avaliação do estoque, fato
que não ocorre quando o café está armazenado em sacaria. A importância de inventários
precisos da quantidade armazenada deve-se ao fato de o café ser um produto mais caro
que outros tipos de grãos. A principal vantagem da armazenagem a granel é que a
mecanização do processo permite grande redução na mão-de-obra requerida em relação
ao método tradicional.

468 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

4. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE TRIGO

Como já comentado, grande parte dos agricultores brasileiros tem por tradição
armazenar a produção em sacaria, e este tipo de armazenamento tem algumas
desvantagens, como: é caro, depende de muita mão-de-obra e oferece pouca proteção
contra o ataque de insetos e roedores. Em estados do Sul do País, à semelhança dos
países desenvolvidos, o armazenamento a granel em silos é muito usado.
Nos últimos anos vem aumentando o volume de trigo submetido à secagem
artificial. Além das características indesejáveis de alguns cultivares, as alterações na
qualidade da farinha para panificação ocorrem em conseqüência de altas temperaturas
utilizadas na secagem. Secagem em alta temperatura é procedimento muito utilizado
para trigo colhido com teor de umidade acima do limite adequado aos sistemas de
secagem em baixas temperaturas.

4.1. Anatomia e Composição Química do Grão de Trigo


Apresentam-se aqui o resumo histórico, a composição química e as
características físicas do trigo. De origem asiática, pertence à família das gramíneas,
gênero Triticum, e compreende várias espécies, das quais a mais conhecida é a T.
aestivum (T. vulgare). Sua produção atinge extensa distribuição geográfica e pode ser
cultivado no cerrado brasileiro. O trigo exige solos profundos, bem drenados e férteis.
Do ponto de vista funcional, a semente é composta por uma cobertura protetora,
um eixo embrionário e um tecido de reserva. As substâncias de reservas (capítulo 2 -
Estrutura, Composição e Propriedades dos Grãos) estão localizadas no endosperma
(sementes albuminosas), onde as principais substâncias armazenadas são: carboidratos
(amido), lipídeos e proteínas (glúten e grãos de aleurona).
A composição química dos grãos de cereais varia amplamente, dependendo de
condições ambientais, solo e variedade, manuseio, armazenagem e processamento
(Tabela 14). O glúten, matéria protéica do trigo, confere propriedades plásticas à massa
procedente da farinha de trigo, ou seja, coesão, elasticidade, plasticidade e tenacidade.
As qualidades da massa, adequadas à panificação, dependem da quantidade e qualidade
do glúten presente no endosperma. A massa destinada à panificação deve apresentar
uma relação adequada entre o glúten e o amido, pois estes formam um tipo de esponja
com capacidade para reter os gases produzidos durante a fermentação. Portanto, para
obter farinha de boa qualidade para panificação, é necessário que o trigo contenha esses
elementos em quantidade e qualidade. Os níveis aproximados de proteína exigidos para
vários produtos derivados do trigo, segundo o CERTREM, estão apresentados na Tabela
15.

4.2. Limpeza do Trigo


Ao chegar ao moinho, o trigo contém várias impurezas de diferentes natureza e
tamanhos. As máquinas desenvolvidas para remover essas impurezas são conhecidas
por utilizarem peneiras, correntes de ar, discos ou cilindros com cortes de tamanhos e
formas especiais. Máquinas adicionais, conhecidas como limpadoras, possuem cilindros
abrasivos sobre os quais o grão é atirado por batedores. Este tratamento é útil na
remoção de sujeiras e fungos. Outra máquina importante é a selecionadora de metais,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 469


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

como pregos, parafusos e outros, que podem danificar o equipamento de moagem.

TABELA 14 – Composição aproximada de alguns grãos de cereais

Componentes TRIGO Milho Arroz Sorgo


Umidade , % base seca 10,0 15,0 11,4 10,6
Proteínas, (6,25N) 14,3 10,2 9,2 12,5
Gorduras, % 1,9 4,3 1,3 3,4
Fibras, % 3,4 2,3 2,2 2,2
Cinzas, % 1,8 1,2 1,6 2,0
Tiamina, mg.kg-1 5,5 4,6 3,2 4,6
Niacina, mg.kg-1 63,3 26,6 40,0 48,4
Riboflavina, mg.kg-1 1,3 1,3 0,7 1,5
A. pantotênico, mg.kg-1 13,6 5,9 7,0 12,5

TABELA 15 – Exigência do conteúdo protéico da farinha de trigo em função do uso

Produto final Conteúdo de proteína


(grãos com 14% de umidade)
Macarrão e massas alimentícias 12,5 ou mais
Pão francês 12,5 –13,5
Pão doce 12,5 – 15,5
Massa folheada 7,2 – 8,5
Bolachas 7,2 – 8,5

4.3. Secagem do Trigo


Quando colhido com alto teor de umidade, o trigo deve ser secado ou
comercializado imediatamente, descontando-se o excesso de umidade.
Comparado ao milho, o trigo é relativamente fácil de secar, pois os teores de
umidade durante a colheita estão abaixo daqueles comuns para o milho. No entanto,
para as mesmas condições de secagem, o trigo oferece maior resistência ao fluxo de ar
do que o milho.
É de fundamental importância a utilização da secagem artificial que não
provoque modificações nas propriedades da farinha. O controle adequado das condições
do processo térmico, durante a secagem deste cereal, resulta em produto de melhor
qualidade. Desconhece-se um método rápido e eficiente que permita detectar, durante a
comercialização, os grãos de trigo danificados pelo excesso de temperatura, durante a
secagem. Geralmente, todos os sistemas de secagem utilizados para o milho e outros
grãos são adaptáveis à secagem do trigo, incluindo a secagem com ar natural em silos.
No entanto, é necessário ajustar uma camada mais fina de grãos, para diminuir a
resistência ao fluxo de ar.
Nos secadores tradicionais, devido a características de fabricação, torna-se difícil
o controle da temperatura dos grãos, o que, geralmente, resulta em gradientes de
temperatura e de umidade em locais distintos do secador.

470 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

A qualidade da semente de trigo é prejudicada pelo retardamento do início da


secagem, que condiciona a semente a uma redução progressiva em sua qualidade
fisiológica. Durante o armazenamento, quanto maior o teor de umidade do grão, mais
rápidas serão as alterações provenientes deste retardamento. Quando a capacidade do
secador é baixa, as sementes colhidas com teor de umidade elevado podem ser secadas
parcialmente e aguardar por maior período de tempo para que a secagem seja finalizada.

4.3.1. Efeitos da Temperatura de Secagem


Na secagem do trigo, devem ser tomados certos cuidados para evitar o aumento
excessivo da temperatura. O teor de umidade do grão, a temperatura e o tempo de
aquecimento devem ser considerados ao se estabelecerem condições seguras de
secagem (Tabela 16).

TABELA 16 – Temperatura máxima de secagem de sementes de trigo em função da


umidade inicial

Umidade inicial da semente(%b.u.) Temperatura máxima do grão (oC)


Acima de 18 32
12 a 18 38
Abaixo de 12 43

Segundo POPINIGS (1985), as sementes podem atingir temperaturas mais


elevadas que as indicadas, sem que haja redução imediata em seu poder germinativo.
No entanto, sofrem redução no vigor e perdem rapidamente seu poder germinativo
durante o armazenamento (Tabela 17). Foi observada também uma correlação entre as
alterações nos níveis de proteínas e perdas de viabilidade e qualidade industrial dos
grãos, conseqüentes à secagem em alta temperatura.
A capacidade de germinação é reduzida em temperaturas razoavelmente
menores do que as que danificam o glúten. Quando o trigo a 14% b.u. é submetido por
36 minutos a temperaturas entre 70 e 85 oC, causa danos ao glúten. Recomenda-se,
portanto, que o trigo a ser fornecido aos moinhos não deve ser secado em temperaturas
superiores a 60 oC, e, para sementes, dependendo do tipo de secador, a temperatura não
deve ultrapassar 43oC. Na maior parte do processo de secagem, os danos devidos ao
calor ocorrem segundo a relação tempo de exposição e temperatura de secagem. Em
geral, quando a umidade inicial está baixa, pode-se, até certo ponto, aplicar calor por
mais tempo. Quanto mais alto for o teor de umidade inicial, menor deverá ser a
temperatura utilizada, a fim de evitar danos térmicos.
Estudos mostram que é possível secar o trigo, sem alterar a qualidade da farinha,
quando a temperatura do grão não ultrapassar 58oC. Temperaturas superiores a esta
podem modificar a porcentagem de proteínas, reduzir o conteúdo de glúten e alterar as
características alveográficas, diminuindo, assim, a qualidade do pão. Recomenda-se,
portanto, que as temperaturas não sejam superiores a 65 oC e que o tempo de exposição
a esta temperatura seja inferior a 15 minutos.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 471


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

TABELA 17 – Efeitos imediatos e latentes da secagem intermitente sobre o poder


germinativo do trigo

Temperatura Data da Porcentagem de germinação


de secagem secagem
o
C Inicial T1- 28/5 T2- 12/6 T3-26/6 T4-1/8
40 16/4 91 90 - 86 88
50 23/4 92 90 - 89 88
60 24/4 85 89 - 91 85
70 7/5 90 91 - 93 92
80 8/5 93 91 91 92
90 31/5 88 - 76 76 85
100 28/5 59 - 22 43 22

4.4. Armazenamento do Trigo


A conservação correta dos grãos de trigo recém-colhidos é muito importante sob
o ponto de vista econômico/social. Algumas alterações bioquímicas podem afetar o
poder germinativo e produzir aquecimento, descoloração, odor característico e
toxicidade, tornando o produto impróprio para o consumo humano ou animal.
O armazenamento em silos herméticos ou silos com atmosfera modificada
previne o ataque de fungos e insetos. Trabalhos mostram que, independentemente do
teor de umidade, o trigo armazenado abaixo de 4oC durante dois meses apresentou
ótimas condições e nenhuma contaminação por fungos. Entretanto, observou-se alta
infestação por insetos, quando armazenado com teor de umidade de 19 % b.u. e
temperatura de 20oC.
A deterioração durante o armazenamento do trigo é promovida, em grande parte,
pela ocorrência de danos mecânicos durante a colheita, o transporte e a secagem, pois os
fungos atacam preferencialmente os grãos danificados. Esta situação é agravada por
fatores ambientais adversos durante o armazenamento, como temperatura, umidade,
microrganismos, insetos e ácaros. A umidade e a temperatura destacam-se como os
principais fatores que influenciam a conservação dos cereais. Os grãos armazenados em
baixa temperatura estão menos sujeitos à deterioração, pois, em um mesmo teor de
umidade, a velocidade das reações químicas diminui com a redução da temperatura.

4.4.1. Teor de Umidade Ideal para Armazenamento


Para armazenagem segura, o teor máximo de umidade dos grãos de trigo
depende, entre outros fatores, do tipo e período de armazenamento e das condições
ambientais. Em geral, os grãos de trigo com umidade de 13% b.u. conservam-se bem
em silos pelo período de até um ano e, à medida que o teor de umidade diminui, o
período de conservação aumenta. Mantendo-se a umidade da massa de grãos em 11%, o
tempo de armazenamento pode atingir vários anos.
O grão de trigo é um organismo biologicamente ativo e está sujeito às
transformações advindas da respiração durante a armazenagem. Umidade, temperatura e
oxigênio estão diretamente relacionados com o processo de respiração e geram calor.
Esse processo é reduzido a níveis de 14 % b.u. e 20 oC e aumentado com a elevação

472 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

desses fatores.
Quando o trigo é armazenado com alto teor de umidade, a respiração aumenta,
provocando aquecimento gradual na massa de grãos. Este aquecimento acelera o
processo respiratório, tornando acumulativo o processo de geração de calor. Assim, com
indicação de aumento de temperatura, o sistema de aeração ou transilagem deve ser
acionado imediatamente (veja Aeração de grãos).
Com umidade entre 16 e 30 % b.u. o trigo é um substrato ideal para o ataque de
fungos. Acima de 30% de umidade ocorrerá o crescimento bacteriano, levando à
deterioração do produto e produção de mais calor. Na faixa de 10 a 13% b.u. pode,
ainda, ocorrer ataque de insetos, enquanto o produto com umidade abaixo de 10% torna-
se menos susceptível aos problemas apresentados.
Os insetos tornam-se mais ativos com a elevação da temperatura na massa de
grãos, bem como sua respiração também contribui para aumentar esta temperatura.
Neste caso, providências devem ser tomadas no sentido de combater a causa do
aquecimento. Para uma mesma temperatura, a umidade relativa do ar intergranular entra
em equilíbrio com diferentes umidades de armazenamento (Tabela 18).

TABELA 18 – Umidade de equilíbrio do trigo para a temperatura de 25 oC

Umidade relativa no armazenamento Teor de umidade do grão


(%) (% b.u.)
30 8,6
40 9,9
60 11,8
70 13,8
80 15,8

Como a elevação da umidade relativa intergranular e a temperatura são os


fatores que favorecem o crescimento de microrganismos, torna-se mais seguro o
armazenamento de grãos com baixos teores de umidade (13% ou menos). As
temperaturas máximas de secagem são estabelecidas em função do teor de umidade do
grão e da umidade relativa de equilíbrio.
Se, ao chegar ao silo, o teor de umidade do trigo exceder o teor de umidade
crítica, os grãos devem ser secados imediatamente.
Os grãos relativamente úmidos podem ser armazenados com segurança em silos
herméticos, onde o oxigênio no ar intergranular será rapidamente utilizado, paralisando
tanto a respiração quanto a transpiração e eliminando a produção de calor. No entanto, a
viabilidade desses grãos é facilmente afetada por este método de armazenagem, que os
torna inadequados para o consumo humano e desaconselháveis para a produção de
farinha. A concentração de oxigênio e dióxido de carbono na atmosfera que envolve a
massa de grãos também influencia a taxa de respiração. Em condições de umidade e
temperatura altas, ocorre a respiração anaeróbica com formação de compostos
intermediários, como fenóis e álcoois, que depreciam o produto.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 473


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

4.5 – Classificação do Trigo


O trigo será classificado em Tipo Único, definido em função do percentual de
ocorrência de defeitos (impurezas, matérias estranhas, grãos verdes e grãos
germinados), da umidade e do peso hectolítrico.
O peso hectolítrico (PH) tem grande importância comercial, pois oferece uma
indicação sobre a quantidade de farinha que poderá ser extraída do trigo, e,
conseqüentemente, os preços serão baseados nesta característica. O peso básico para o
trigo limpo, cujo teor de umidade é 13% b.u., é 78 kg por hectolitro ou PH 78. Durante
o processo de secagem pode ocorrer alguma alteração; quanto mais alta a temperatura,
menor será o peso hectolítrico numa mesma faixa de umidade final.
Para definir o tipo de trigo, serão considerados os limites máximos de tolerância
para defeitos/tipo, umidade e peso hectolítrico estabelecidos na Tabela 19. O produto
que não atender os limites de tolerância será classificado como “Abaixo do Padrão”,
mas poderá ser expurgado, rebeneficiado, desdobrado e recomposto para efeito de
enquadramento em tipo.
O trigo que apresentar os itens a seguir será desclassificado e sua
comercialização proibida para consumo humano e animal:
- mau estado de conservação, incluindo processos de fermentação e mofo;
- odor estranho de qualquer natureza, impróprio ao produto;
- presença de sementes tóxicas (mamona e outras), que sejam prejudiciais à
utilização normal do produto; e
- substâncias nocivas à saúde.
O trigo que, após o rebeneficiamento, estiver isento de qualquer dos itens
mencionados anteriormente poderá ser comercializado.

TABELA 19 – Limites máximos de tolerância de defeitos/tipo e PH para trigo

Tipo Umidade Impurezas/matérias Peso Hectolítrico


% b.u estranhas, germinados e (PH) ou kg/ 100l
verdes
Único 13,0 1,0 65 (mínimo)

474 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

5. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE FEIJÃO

Como outros tipos de grãos, para se garantir uma armazenagem segura, a


manutenção da aparência e da qualidade como alimento ou da viabilidade como
semente, o feijão deve passar por um processo de secagem. Para este produto em
particular, a secagem deve ocorrer em duas etapas, isto é, a pré-secagem da planta e a
secagem dos grãos logo após a trilha, para que se tenha boa qualidade e eficiência
energética no processo.
A pré-secagem das ramas normalmente é feita ao sol, com a planta em sua
forma original, ou enleiradas no campo de cultivo ou ainda colhidas e espalhadas em
lonas ou terreiros, próximo ao local da trilha. O tempo de exposição no campo ou nos
terreiros depende das condições climáticas, como incidência de sol, vento, temperatura e
umidade relativa do ar. Deve-se ter o cuidado para que as ramas não reumedeçam, face
à ação das chuvas ou do sereno.
A ação do sereno pode ser minimizada, amontoando ou enleirando as ramas
durante à tarde e espalhando, novamente, na manhã seguinte. No caso do “feijão das
águas”, cuja colheita coincide com períodos de chuvas prolongadas, a única alternativa
para a secagem das ramas é a secagem artificial com o uso de ar aquecido. Por razões
econômicas, a secagem das ramas em secadores só é viável quando as condições
atmosféricas não permitem ou quando há uma grande facilidade de energia. Deve-se
lembrar que a secagem da vagem não significa que, as sementes estejam secas. O ponto
de seca da vagem deve ser aquele ideal para a trilha, que corresponde a um teor de
umidade da semente em torno de 20%.

5.1. Secagem a Altas Temperaturas


Em face à impossibilidade de se processar a secagem das ramas em secadores
convencionais a altas temperaturas, foram desenvolvidos, na Universidade Federal de
Viçosa, modelos de secadores que podem ser construídos na própria fazenda.
O primeiro é um secador em camada fixa, que vem sendo bastante utilizado na
pré-secagem e na secagem do café, do feno e de grãos em geral (Figura 12, Capítulo 5).
É facilmente utilizado na secagem do feijão em ramas e, em seguida, na secagem dos
grãos após a trilha. Por sua versatilidade, o secador em camada fixa, além do feijão em
ramas, pode secar grãos, milho em espiga, raspa de mandioca, feno etc. É de operação
simples e o feijão deve ser revolvido em intervalos regulares de duas horas para maior
uniformidade na secagem.
Um outro secador, mais específico para a atividade (Figura 25), foi construído
de tal forma que pode ser desmontado após a utilização. Em de suas dimensões, vários
secadores podem ser construídos sob uma mesma cobertura ou galpão, deixando espaço
outras finalidades após a operação de secagem. Preferencialmente, devido ao consumo
de energia na secagem das ramas, as fornalhas para este tipo de secador devem ser de
aquecimento direto, ou seja, usando gases da combustão misturados com o ar ambiente
para se processar a secagem.
A maioria dos secadores encontrados no mercado brasileiro pode ser utilizada
para a secagem de feijão em grãos. Deve-se observar, entretanto, se o modelo escolhido
provoca danos mecânicos e se, durante a secagem, permite que a combinação entre

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 475


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

temperaturas elevadas (acima de 40oC na massa de grãos) e umidades relativas do ar


abaixo de 40% cause danos térmicos às sementes. Como a secagem é um dos fatores
que mais prejudica a qualidade final do feijão, o agricultor deve estar atento para as
instruções de operação e manutenção do secador.
Na secagem de feijão com secadores a altas temperaturas, pode-se usar o secador
de camada fixa horizontal, em que o produto permanece estático num compartimento de
fundo perfurado, onde o ar é insuflado. Deve-se recomendar ao operador que, neste tipo
de secador, a temperatura do ar de secagem não deve ultrapassar 45oC (Tabela 4,
Capítulo 5).

Figura 25 - Secador para feijão em ramas, modelo UFV.

Vantagens do secador: menor custo operacional; baixo custo inicial.


Desvantagens: alto gradiente de umidade ao longo da camada do produto e
baixo rendimento por causa do limite de espessura da camada (máximo 1,0 m).
Apesar de que muitos outros secadores comerciais a altas temperaturas possam
ser usados para o feijão, devemos novamente lembrar sobre os danos mecânicos e
térmicos que eles podem causar aos grãos.
Tanto para uso como semente como para consumo humano, os métodos de
secagem do feijão com baixas temperaturas resultam em um produto com melhor
qualidade final. Suas principais limitações (umidade inicial do produto e clima local)
fazem com que o método seja substituído pela secagem com altas temperaturas, que é
um método mais rápido e independente do clima.

5.2. Aeração do Feijão


Aeração é a manutenção forçada de ar ambiente através da massa de grãos para
controlar sua temperatura que, dependendo do fluxo de ar, pode ser usada para secagem.
Em qualquer caso, o ar pode ser insuflado ou aspirado por um ventilador, e forçado por
um sistema de distribuição diretamente nos espaços vazios (espaços intersticiais) da
massa de grãos. Com a aeração, atende-se aos seguintes objetivos, sem precisar
movimentar a massa de grãos:
a) resfriamento da massa e uniformização da sua temperatura;
b) aeração de manutenção ou conservação;
c) remoção de odores;
d) aplicação de fumigantes.

476 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Apesar de se poder armazenar o feijão em sacaria, experimentos tem mostrado


que a melhor maneira de armazenar o feijão por períodos de até um ano sem redução
substancial em suas qualidades é por meio da aeração em silos. Neste caso, deve-se
procurar manter o produto em temperaturas e umidade relativas próximas a 22oC e 70%,
respectivamente. Caso o armazenamento seja feito pelo processo tradicional em
sacarias, deve-se ter o cuidado de, pelo menos uma vez por mês, em armazéns bem
cuidados, fazer uma mudança geral no empilhamento, para que o feijão sofra um
processo de aeração e de resfriamento.
Além de atender os objetivos que contribuem para a conservação das qualidades
do feijão, o sistema de aeração deve ser calculado para fornecer um fluxo de ar
suficiente para inibir o desenvolvimento de insetos e de microrganismos.
No tópico sobre secagem com baixas temperaturas ou com ar ambiente, viu-se
que o fluxo de ar recomendado fica entre 1,5 a 2,5 m3/min.m3 de grãos em bom estado
de limpeza e teor de umidade inicial na ordem de 20% b.u. Se a massa de feijão
apresentar alto índice de impurezas finas, como a munha, maior será a queda de pressão
estática ao longo da camada. A presença desse material diminui em até 70% o fluxo de
ar projetado, obrigando o aumento da potência do ventilador. Se o produto apresentar
alto teor de impurezas ou alta umidade, deve-se alterar os valores do fluxo de ar e as
dimensões dos dutos de distribuição. A Tabela 21 mostra os valores aproximados de
fluxo de ar para aeração de feijão a granel com alta umidade. Em caso de se necessitar
de um acréscimo no fluxo de ar, pode-se optar pela redução da camada de grãos, como
indicado no Tabela 22.

TABELA 21- Fluxo de ar recomendado para aeração de feijão e soja.

Fluxo de ar Teor de água (% b.u.)*


m3 /min.m3 de grão Soja Feijão
0,13 12 16
0,20 13 17
0,20 13 17
* Deve-se verificar o tempo permissível para armazenagem

TABELA 22 - Fatores de aumento do fluxo com a redução da camada

Camada (m) Camada normal (m)


3 3,5 4
4,0 - - 1,0
3,5 - 1,0 1,2
3,0 1,0 1,2 1,5
2,5 1,3 1,6 1,9
2,0 1,7 2,2 2,6
1,5 2,7 3,4 4,1

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 477


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

5.2.1. Aeração por sucção versus insuflação


Como visto no Capítulo 11, os sistemas de aeração podem ser de fluxo
ascendente ou descendente, ambos supridos por ventiladores colocados no nível do piso
ou na cobertura, por sucção ou por insuflação. O fluxo ascendente tende a manter o
material fino onde foi previamente depositado, evitando o entupimento dos dutos;
permite a passagem de ar pela massa de grãos e retira calor do topo da estrutura. No
inverno, para remover a umidade que pode condensar na camada superficial e dar ao
feijão um aspecto “chuvado”, deve-se instalar o exaustor no topo do silo. Em ambos os
tipos de fluxos, devem-se fornecer um mínimo de 1000 m3/min.m3 de grãos. Caso o
ventilador esteja desligado, a entrada ou a saída deve ser fechada, para evitar uma
corrente de ar decorrente do “efeito chaminé” que pode causar migração de umidade.

5.2.2. Problemas no armazenamento


Fungos, tanto de campo quanto de armazém, são os microrganismos
responsáveis pelos principais danos causados ao feijão. As perdas que provocam
durante o armazenamento inadequado podem chegar à totalidade da massa armazenada.
Os fungos de campo atacam sementes e grãos em crescimento e maturação (teor
de umidade acima de 25%, b.u.). Os de armazém desenvolvem-se em sementes e grãos
com teor de umidade abaixo de 17% b.u.
Teor de umidade e temperatura do produto, período de armazenamento, grau de
contaminação, teor de impurezas, ataque por insetos, concentração de oxigênio e danos
físicos durante a colheita e o beneficiamento são os principais fatores que determinam o
grau de suscetibilidade ao ataque de fungos. Os principais danos ou prejuízos causados
são a diminuição do poder germinativo, descoloração, produção de toxinas,
aquecimento, transformações bioquímicas, modificações celulares, emboloramento e
apodrecimento.
A qualidade final do feijão é influenciada pelas condições do armazém e pelas
condições iniciais dos grãos. Os cuidados devem começar na lavoura, com providências
contra danos mecânicos, ataques de insetos e reumedecimento e germinação na vagem.
Se necessário, deve-se fazer a pré-secagem do produto ainda na rama e limpar os
equipamentos de trilha, de transporte e o local de armazenamento, para eliminar focos
de contaminação.
Além dos fungos, outros causadores de prejuízos em feijão armazenado são os
insetos e a própria atividade metabólica (respiração dos grãos). Nas condições tropicais,
os insetos têm maior importância, pois a massa de grãos é seu ambiente ideal. O ataque
de insetos provoca perda de peso e redução do poder germinativo das sementes,
contaminação da massa por dejetos, com desvalorização do produto.
No que se refere ao segmento de secagem e armazenagem de feijão, os grandes
problemas surgem devido a fatos como:
a) plantio, tanto local como regional, de muitas variedades que na maioria das
vezes, possuem aparência e propriedades físicas bastante diferenciadas. Este
fato impede que se possa, em casos de secagem e/ou armazenagem comerciais,
fazer misturas ou blends com material provenientes de diferentes locais e mesmo
de diferentes agricultores. Quando o impedimento não se faz pelo fator cor, o
fator propriedades físicas, como tamanho, forma, densidade, dureza e

478 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

permeabilidade do tegumento dentre outras, impossibilita a formação de grandes


lotes homogêneos, dificultando os trabalhos tanto de pré-processamento quanto
de comercialização;

b) como no Brasil e principalmente em Minas Gerais, a maior parte da produção


de feijão é feita por pequenos agricultores que em geral apresenta baixa
produtividade, fica difícil fornecer tecnologia de secagem compatível com a
capacidade de investimentos destes agricultores. Quanto ao armazenamento, a
Revista Engenharia na Agricultura (Série Extensão, ano 1 no 1) do DEA - UFV,
publicou o artigo “Armazenamento de Grãos em Pequenos Silos” que descreve e
detalha a construção e a operação de um silo para armazenar até 3,5 toneladas de
grãos, a um custo de instalação de R$120,00 por tonelada e bastante eficiente,
tanto na manutenção das qualidade inerentes ao produto, quanto ao ataque de
pragas, para armazenagem de feijão a nível de pequenas propriedades.

Além das adversidades apontadas, o “endurecimento do grão”, que reduz


drasticamente o valor comercial do feijão, é o fator de maior importância durante o
armazenamento. Este fator faz com que apareçam problemas no preparo, em razão dos
longos períodos de tempo necessários para a maceração e cozimento do produto.
Embora o tratamento térmico seja necessário para o desenvolvimento do sabor e textura
adequados ao consumo, longos períodos de exposição ao calor são apontados como
causadores das perdas de vitaminas, decréscimos no teor de minerais absorvíveis e
redução nas qualidades das proteínas. Assim, até que trabalhos confiáveis indiquem ao
contrário, os autores sugerem que se evitem a armazenagem tradicional do feijão, para
consumo, por períodos superiores a seis meses.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 479


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

6. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE SOJA

No Brasil, principalmente na região central, onde predominam altas


temperaturas e umidades relativas, o desafio na produção e armazenagem de soja para
grãos e semente maior que nas regiões sul e sudeste. De acordo com dados divulgados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - 2008) a produção brasileira
de soja encontra-se atualmente estimada em torno de 58 milhões de toneladas, tendo o
Estado do Mato Grosso como o maior produtor, onde são plantados anualmente mais
de 5,5 milhões de hectares, o que corresponde a aproximadamente 30% produção
brasileira.
Uma vez maduros, os grãos ou as sementes de soja serão submetidos a diversas
operações, cujo propósito é manter, o máximo possível, a qualidade original do produto.
Colheita, transporte, recebimento do produto, pré-limpeza, secagem, limpeza e
separação por tamanho, separação por gravidade, tratamento com fungicida, embalagem
e armazenamento, podem afetar a qualidade final, principalmente se houver necessidade
de refazer algumas dessas operações.
O tegumento ou casca da soja é frágil e, se muito seca, podem desenvolver
trincas durante o manuseio deixando o produto susceptível à deterioração. Outro fato
que deve ser levado em consideração é que a soja é também susceptível a outras formas
de danos como a redução do poder germinativo devido, principalmente, a choques
mecânicos.
Ensaios de laboratório mostram que lotes de sementes tiveram a germinação
reduzida devido à queda livre de 1m de altura e que os danos em semente de soja
aumentaram em 2,9, em média, durante o transporte em elevador de canecas antes de
cair na máquina de limpeza. Lotes de sementes com teor de água a 10,7 b.u sofreram
menos danos do que as sementes com menores teores de água (SHREEKANT et al
2002).
De um modo geral, as recomendações feitas para a secagem de feijão, devem,
também, ser observadas para a secagem de soja industrial. Portanto, deste ponto em
diante, serão feito referencias apenas sobre a soja para semente.
A temperatura máxima para secagem de sementes de soja dependerá do teor de
água antes da secagem e da umidade de colheita cuja faixa ideal compreende 14 e 16%
b.u., para evitar excesso de danos mecânicos. De modo semelhante ao feijão e
independente da temperatura de secagem, a umidade relativa do ar de secagem não pode
estar abaixo de 40%. Umidades relativas baixas aumentam o índice de trinca na casca.
Já a umidade final, para uma armazenagem segura, deve ser de, aproximadamente, 11%
b.u. Secagem abaixo de 10% b.u. pode favorecer o aparecimento de trincas no
tegumento durante o manuseio.
Quando os grãos ou sementes chegam à unidade de beneficiamento com
umidade inadequada para o processamento ou para armazenamento por tempo mais
prolongado, o produto deve ser encaminhado o mais rapidamente possível para a
operação de secagem, depois de passar pelo sistema de pré-limpeza.
Sementes de soja podem ser secadas com diversos tipos de secadores
trabalhando com o ar de secagem sob altas e baixas temperaturas e com diferentes
teores iniciais de água. Em quaisquer dos casos o operador deve cuidar para que as

480 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

sementes não sejam danificadas pelas condições do ar de secagem. Sob qualquer


temperatura, a umidade relativa do ar de secagem nunca deve ser inferior a 40% e que a
temperatura da massa de sementes nunca ultrapasse 38oC.
Caso queira usar secadores convencionais, devem-se evitar aqueles que
recirculem a camada de sementes durante o processo de secagem. Deve-se dar
preferência a sistemas que minimize quedas superiores a 1m de altura sobre superfícies
rígidas. No caso de se usar a secagem em silos, como é detalhado no Capítulo 5, devem-
se evitar os espalhadores convencionais que, apesar de serem fundamentais para alguns
tipos de grãos, é altamente prejudicial para sementes de soja.
Para o armazenamento seguro e manutenção da viabilidade como semente, a soja
deve ser secada imediatamente e, no caso de ser colhida manualmente (pequenas
produções), a secagem deve ocorrer em duas etapas, isto é, a pré-secagem da planta e a
secagem das sementes logo após a trilha. A colheita das plantas deve ser feita logo após
a queda de grande parte das folhas e a pré-secagem realizada ao sol, com a planta em
sua forma original espalhadas em lonas ou terreiro, próximos ao local da trilha.
O tempo de secagem ao sol depende das condições climáticas, quantidade de
radiação solar, vento, temperatura e umidade relativa do ar. Deve-se ter o cuidado para
que as vagens não sofram reumedecimento, face à ação de chuvas ou de sereno. No caso
de a colheita coincidir com períodos de chuvas prolongadas, a alternativa para a
secagem das plantas é a secagem artificial com o uso de ar aquecido.
Por razões econômicas, a secagem das plantas em secadores só é viável quando
as condições atmosféricas não forem favoráveis e com grande chance de perdas do
material. Deve-se lembrar que a secagem da vagem não significa que, as sementes
estejam secas. O ponto de seca da vagem deve ser aquele ideal para a trilha, que
corresponde a um teor de umidade da semente em torno de 18%.
Face à impossibilidade da secagem das plantas em secadores convencionais,
pode-se usar o secador de camada fixa modelo UFV (Figura 12, Capítulo 5). O secador
que é muito utilizado para a secagem do café, pode ser facilmente utilizado na secagem
das plantas de soja e, em seguida, para a secagem das sementes após a trilha.
O secador, modelo UFV, é de operação simples e a camada de sementes, com
altura é inferior a 60 cm, deve ser revolvida, manualmente, com auxílio de pás, em
intervalos regulares de duas horas, para maior uniformidade na secagem. Como o
secador tem capacidade estática para sete toneladas e que uma batelada pode ser
preparada em sete horas, o secador em pauta pode ser usado para secagem comercial de
sementes de soja. Por exemplo, uma bateria de três secadores pode secar facilmente 40
toneladas de semente de soja por dia em dois turnos de trabalho.
O operador deve ter o cuidado para que a temperatura do ar de secagem nunca
ultrapasse 40oC e, como dito anteriormente, a umidade relativa ar não de ser inferior a
40%. Apesar ser indicado para uma produção empresarial, o secador em pauta tem
aplicação em várias situações e em diferentes níveis de produção no Brasil ou em países
em desenvolvimento.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 481


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

7. SECAGEM E ARMAZENAGEM DE CACAU

O cacau comercial resulta de um conjunto de operações unitárias pelas quais


passam as amêndoas dos frutos do cacaueiro. Essas operações têm por finalidade
modificar as características das amêndoas frescas, de modo a lhes conferir sabor e
aroma característicos de um produto de boa qualidade e um teor de umidade adequado
ao armazenamento.
Inicialmente as amêndoas são retiradas dos frutos com a mucilagem que as
recobre e colocadas em caixas de madeira para fermentar. Durante a fermentação, que
dura entre seis a sete dias, os açúcares da polpa mucilaginosa são inicialmente
convertidos em álcool e, posteriormente, com o aumento da temperatura, o álcool é
convertido em ácido acético. Durante a fermentação, inicia-se o processo de
desenvolvimento do sabor e aroma nas amêndoas, o qual deve continuar, numa secagem
bem conduzida.
Sabe-se que a secagem é uma etapa importante no processo de beneficiamento
de qualquer produto agrícola, por garantir um armazenamento seguro. No caso
específico do cacau, tem importância especial por definir a qualidade do produto.
Após a fermentação, o lote de amêndoas é transferido para o secador, para que
seu teor de umidade, inicialmente na faixa de 55 a 65% b.u., seja reduzido a um valor
seguro para armazenagem, igual ou inferior a 8% b.u. A secagem deve ser conduzida de
modo a reduzir o teor de umidade e também permitir a continuação das reações
bioquímicas responsáveis pela formação do sabor e aroma do chocolate. Uma secagem
bem feita permite que se retire, por volatilização, grande parte do ácido acético,
reduzindo a acidez das amêndoas.

7.1 - Cuidados na Secagem


Para o desenvolvimento de um produto de alta qualidade, devem-se secar as
amêndoas do cacau gradativa e uniformemente, sem elevações bruscas na temperatura.
Altas temperaturas devem ser evitadas porque ativam as reações bioquímicas
prejudiciais à qualidade do cacau, principalmente pela degradação dos produtos
responsáveis pelo desenvolvimento do aroma e sabor do chocolate, e, ainda, evitam a
retenção de ácido acético. Não existe consenso na literatura, mas admite-se que a
temperatura de 70oC seja o limite superior de tolerância a que as amêndoas podem ser
submetidas durante a secagem. Para uma secagem uniforme, tanto em secadores de alta
temperatura quanto em secadores de plataforma ou barcaças, o produto deve ser
revolvido periodicamente. Este revolvimento, no entanto, quase sempre causa danos
mecânicos e quebras de amêndoas, devendo, portanto, ser feito o mínimo de vezes
possível e de maneira apropriada.
A formação de mofo no exterior das amêndoas não causa maiores problemas,
pois a casca é retirada durante o processo industrial. No entanto, se os cotilédones forem
invadidos, o sabor do chocolate será afetado. Assim, devem ser evitados danos que
facilitem a penetração de patógenos. No caso de formação de mofo durante a secagem,
o que ocorre principalmente nas barcaças, deve-se remover o mofo da superfície das
amêndoas imediatamente. Na prática, esta operação é feita pelo pisoteio das amêndoas
previamente umedecidas.

482 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Finalmente, deve-se ter muito cuidado com a possível contaminação do produto


por fumaça. O cacau possui gorduras especiais, que têm a propriedade de reter os odores
a que são expostas. O cheiro de fumaça é considerado um defeito no produto comercial
e abaixa sua classificação. No Brasil é proibida a exportação de cacau com cheiro de
fumaça, o que favorece a competição deste produto no mercado internacional. A
instalação de residências de trabalhadores sob os lastros das barcaças de secagem, que é
feita por medida de economia, é totalmente condenada porque, quase sempre, implica a
contaminação do cacau por cheiro de fumaça proveniente de cozinhas. Os secadores
comumente usados são freqüentemente citados como fonte de contaminação, quer por
sua característica construtiva, quer pelo manejo inadequado.

7.2. Secagem com Ventilação Natural


É realizada pela exposição das amêndoas aos raios solares. Há, neste caso,
vantagens econômicas com investimentos em equipamentos e utilização de energia.
Entretanto, a capacidade de secagem é influenciada pelas condições atmosféricas,
podendo prejudicar a qualidade do produto, uma vez que podem provocar a deterioração
das amêndoas. Quando mofam durante a secagem, é prática comum agrupar as
amêndoas em pequenos montes e, depois de borrifadas com um pouco de água,
submetê-las a um pisoteio, para retirada do "mofo cinza". Esta prática deve ser feita o
mais próximo possível do final da secagem, quando o teor de umidade das amêndoas
estiver entre 12 e 15% b.u., reduzindo ao máximo as quebras. Com as variações de
temperatura entre o dia e a noite, surge outro problema, inexistente em outros processos
de secagem, que é a aderência da casca aos cotilédones das amêndoas, causando
grandes problemas para a indústria.
O período de secagem dura em média 10 dias, dependendo das condições
ambientais. Para maiores períodos, o cacau começa a perder as características de sabor e
aroma, prejudicando a qualidade do produto final.

7.2.1. Secador barcaça ou plataforma


Consiste, basicamente, de uma plataforma de madeira, fixa, denominada lastro.
Possui uma cobertura móvel, geralmente constituída por telhado de chapas metálicas
montado sobre rodas que giram sobre trilhos. O lastro e os trilhos são montados sobre
pilares de concreto ou alvenaria, com espaçamento entre 2 e 3 metros. As barcaças
(Figura 26) são construídas isoladamente ou em conjunto com as casas de fermentação,
os secadores, depósitos e armazéns. É recomendável, como dito anteriormente, não
construí-las em conjunto com moradias, para evitar a contaminação das amêndoas pela
fumaça proveniente de fogões a lenha.
Na barcaça, após a fermentação, a massa de amêndoas é espalhada por todo o
lastro em camada com aproximadamente 5 cm de espessura, correspondente a uma
carga média de 35 kg de cacau úmido por metro quadrado de área de secagem (Tabela
24) .
Depois de espalhadas no lastro da barcaça, as amêndoas devem ser,
periodicamente, revolvidas com um rodo de madeira, para uniformizar a umidade no
perfil da camada e proporcionar uma secagem homogênea. De modo semelhante à
secagem do café em terreiros, devem-se expor faixas do lastro ao sol, para perder a

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 483


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

umidade recebida das amêndoas. Quando se apresentam secas, estas faixas são cobertas
com as amêndoas, liberando aquelas faixas anteriormente ocupadas, para submetê-las ao
mesmo tratamento.

Figura 26 – Secador barcaça ou de plataforma.

TABELA 24 – Área e capacidade anual de secagem em barcaças, para diferentes


dimensões de lastro

Dimensões do lastro (m) Área (m2) Capacidade média (kg.ano-1)


3,0 x 6,0 18 4000
4,0 x 8,0 32 7000
5,0 x 10,0 50 12500

7.2.2. Balcões de Secagem


Nos secadores tipo balcão a cobertura é fixa. É composto por vários lastros em
forma de gavetas com rodas de ferro ou madeira, que deslizam sobre corredeiras de
madeira ou trilhos de ferro. Não muito difundida, o uso desta técnica limita-se aos
pequenos produtores

7.3. Secagem em Alta Temperatura


Na maioria das áreas brasileiras produtoras de cacau, principalmente no sul da
Bahia, principal região produtora do Brasil, a colheita coincide com os meses de maior
ocorrência de chuvas, onde são freqüentes chuvas repentinas e a baixa insolação.
Em condições adversas, a secagem em barcaças ou em balcões torna-se lenta,

484 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

propiciando o desenvolvimento de fungos na superfície externa das amêndoas, com


risco de contaminação interna (defeito que prejudica a qualidade do cacau) ou mesmo
deterioração do produto. Além de solucionar tais problemas, a secagem em alta
temperatura é usada para manter o volume de produção. Assim, em adição ao uso das
barcaças, muitos produtores possuem também secador mecânico com ar aquecido em
alta temperatura.
Como o desenvolvimento do sabor e do aroma continua após a fermentação, é
aconselhável que a secagem em alta temperatura seja precedida em dois a três dias pela
secagem em barcaças, visando finalizar o processo e reduzir o consumo de energia.
Durante a secagem, os revolvimentos devem ser feitos em intervalos regulares
de uma hora, e a alimentação da fornalha deve ser feita com regularidade. Dependendo
do secador, a espessura da camada de amêndoas não deve ser superior a 10 cm,
evitando-se assim grandes variações na temperatura e no teor de umidade ao longo da
espessura da camada.
A temperatura do ar de secagem constitui fator de primordial importância, uma
vez que durante o processo de secagem as reações bioquímicas são intensificadas com o
aumento da temperatura, podendo prejudicar a qualidade do cacau. Além disso, pode
haver supersecagem, antecipando o processo industrial, tornando o produto quebradiço
e, conseqüentemente, prejudicando a qualidade. Portanto, a temperatura deve subir
lentamente e não ultrapassar 60oC até que o processo seja completado.
A secagem artificial em alta temperatura pode ser feita em secadores de vários
tipos e capacidades, dependendo do tamanho e da característica da propriedade agrícola.
Uma condição essencial é que o produto da combustão nunca entre em contato com as
amêndoas, evitando, dessa forma, impregná-las com o cheiro de fumaça.

7.3.1. Secador por convecção natural


É um secador tradicionalmente usado nas lavouras cacaueiras da Bahia.
Construído em alvenaria, pode ser elemento único ou estar associado a um secador-
barcaça. Encontrado nas dimensões de 4 x 4 m, 5 x 5 m ou 6 x 6 m, é formado por uma
câmara plenum acima do nível do solo, sobreposta por um piso em ripas ou em chapas
perfuradas, formando a câmara de secagem. Possui ainda uma fornalha conectada a um
tubo metálico (trocador de calor), instalado longitudinal e horizontalmente sobre o
primeiro piso. O tubo atravessa toda a câmara plenum e sua extremidade oposta à
fornalha é ligada a uma chaminé, construída do lado de fora do secador (Figura 23,
capítulo 5 – Secagem e Secadores).
A lenha queimada na fornalha produz gases quentes que passam ao longo do
tubo, sobem pela chaminé e saem para a atmosfera. O fluxo destes gases é controlado
por um registro do tipo borboleta, localizado na base da chaminé. Durante a passagem
dos gases pelo tubo, parte do calor é transferida para o ar da câmara plenum, tornando-o
menos denso e mais seco. O produto úmido é colocado sobre o piso perfurado e secado
pelo ar quente, que sobe por convecção natural (diferença de densidade).
Aberturas nas paredes da câmara plenum, localizadas na parte inferior do
primeiro piso, permitem a entrada do ar que passa pela camada de cacau. O sistema de
aproveitamento do calor nestes tipos de instalações é ineficiente. Além disso, este
secador tem grandes dimensões, encarecendo o custo de secagem. Nessas instalações

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 485


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

pode ocorrer a produção de cacau de baixa qualidade, devido aos riscos de


contaminação pela fumaça, em caso de danos no trocador de calor.
O desempenho dos secadores por convecção natural pode ser melhorado com a
introdução de ventilação forçada, adaptando-se um ventilador na câmara de
aquecimento de ar. No entanto, deve-se verificar se o custo desta adaptação é
compensado pelo aumento da capacidade dinâmica do secador.

7.3.2. Secador plataforma CEPEC


Este secador é, em alguns pontos, semelhante ao secador de leito fixo, modelo
UFV. É composto por uma fornalha com sistema de aquecimento indireto (trocador de
calor), que aquece o ar de secagem; um ventilador axial para insuflar o ar através da
fornalha e do produto; e uma câmara de secagem com fundo em chapas perfuradas e
formato retangular.
O cacau é secado em camadas espessas de até 30 cm durante aproximadamente
50 horas. A possibilidade de adaptação de divisórias na plataforma de secagem confere
grande versatilidade a este secador, como carga variável, secagem simultânea de
diferentes produtos e secagem de um mesmo produto com diferentes teores de umidade
inicial.
A carga variável pode ser utilizada devido ao fato de haver necessidade da
secagem artificial no início da safra temporã, que, além de escassa, é irregular. Nesse
secador é usada uma fornalha que não permite o contato entre o ar de secagem e os
gases de combustão da lenha que saem pela chaminé. No entanto, como na maioria dos
secadores de fogo indireto, há risco de danos nos trocadores de calor, possibilitando a
contaminação do produto por cheiro de fumaça. Este problema pode ser solucionado por
meio de adaptação de fornalha com autocontrole de temperatura (Figura 4, capítulo 8 –
Energia no Pré-processamento de Produtos Agrícolas).

7.3.3. Secador rotativo vertical


Este secador consiste basicamente de uma plataforma horizontal, circular e
estacionária, sobre a qual é montado um conjunto de anéis concêntricos e elevados,
formando um tronco de cone. Acima deste existe um cilindro de aproximadamente 1,2
m de altura, formando a câmara de descanso do secador.
Com movimento giratório lento, o conjunto (câmara de secagem - câmara de
descanso) permite realizar a descarga do produto por meio de um pequeno espaço entre
a plataforma e o tronco de cone. O secador é carregado com o produto (cacau, café etc.)
pela parte superior (câmara de descanso), por meio de um elevador de canecas (Figura
27).
Durante a operação, as amêndoas de cacau, que estão entre o cone e a plataforma
fixa, são descarregadas como uma camada fina, por meio de um raspador que joga o
produto no elevador de caçambas, para recirculação. Como o produto movimenta-se
continuamente de cima para baixo e o ar de secagem atravessa perpendicularmente a
massa de cacau, esse secador rotativo é classificado como de fluxos cruzados. Muito
utilizado na secagem de café, é fabricado para capacidades que variam de 2.400 a 9.500
kg de cacau úmido.

486 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

A secagem ocorre em aproximadamente 36 horas; para maior eficiência, o


secador deve funcionar, sempre que possível, com a carga máxima

Figura 27 – Secador rotativo vertical.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 487


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

8. CURA DA CEBOLA

A cebola (Allium cepa L.) é uma das hortaliças mais antigas e mais cultivadas
em todo o mundo, devido mais às características condimentares decorrentes de sua
composição química do que de suas características alimentares. No Brasil, a produção
de cebola concentra-se no Sul, Centro-Sul e Nordeste.
A oferta desse produto flutua muito, principalmente quando há sobreposição da
produção em determinadas épocas, com conseqüências negativas sobre o preço ao
produtor, que, desestimulado, deixa de produzir. Invertendo-se a situação, o problema se
transfere para os consumidores. O aprimoramento, ou mesmo o uso de técnicas
alternativas que visem melhorar a conservação da cebola, torna-se indispensável para a
solução deste problema.
Dados oficiais mostram que, com o emprego das técnicas tradicionais de
manipulação da cebola, o Brasil perde entre 40 e 50% da produção anual. Além de
fatores como condições do clima, solos, técnicas de cultivo e tratamentos fitossanitários,
as técnicas de colheita e pós-colheita têm influência decisiva sobre capacidade de
conservação do produto. Uma possibilidade de aproveitamento do produto, em épocas
de grande produção, seria o incentivo à industrialização do excedente, como, por
exemplo, a produção de cebola desidratada. Outra possibilidade seria o aprimoramento
de técnicas como a cura artificial, utilizando secadores, garantindo um produto de
melhor qualidade e que suporta maior tempo de armazenamento.

8.1. Colheita
A colheita antecipada (Figura 28, a) torna a cura difícil e demorada. Como o
colo da cebola não está totalmente fechado, as folhas interiores continuam crescendo,
resultando em produto com mau aspecto. Em colheitas muito tardias (Figura 28, b) e
principalmente em condições de chuva ou umidade acentuada, os bulbos podem perder
as túnicas externas, o que deprecia seu valor comercial, além de torná-los altamente
suscetíveis à podridão. É recomendável iniciar a colheita quando, no mínimo, 60% das
plantas estiverem "estaladas". Em climas úmidos, é preferível colher o produto antes
que a folhagem tenha murchado totalmente e completar artificialmente a secagem e a
cura em locais apropriados.

8.2. Perecibilidade
Como é um produto agrícola de alta perecibilidade, contendo aproximadamente
90% de água, a cebola exige condições especiais de armazenagem, pois os processos
fisiológicos continuam após a colheita, necessitando de ambiente apropriado para que se
mantenha o estado de dormência por tempo prolongado. Durante a colheita, a
manipulação e o transporte inadequados, os bulbos podem sofrer uma série de danos,
que provocam aumento na taxa de respiração, aceleram a perda de peso, estimulam a
podridão e podem estimular o brotamento prematuro. Tais danos devem ser evitados,
para que se possa obter armazenagem segura por maiores períodos de tempo.
Além de outros fatores, a dormência da cebola depende da taxa de respiração.
Em caso de interrupção ou quebra dessa dormência, o brotamento é quase inevitável.
Quando a velocidade de escoamento for prejudicada, em período de safra, é

488 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

recomendável procurar recursos que garantam o estado de dormência por tempo mais
prolongado. Em condições normais, esse tempo é de aproximadamente um mês.

(a)

(b)
Figura 28 – cebolas: colheita precoce (a) e colheita tardia (b)

8.3. Cura
Como a maioria dos produtos agrícolas, as características adequadas ao
armazenamento da cebola dependem da relação entre a quantidade de água e a matéria
seca. Quanto maior a quantidade de matéria seca do bulbo, maior será a capacidade de
armazenagem. As variedades com baixo potencial de conservação caracterizam-se pela
casca de cor clara e pelo baixo conteúdo de matéria seca (8 a 9%), por serem menos
picantes e mais propensas ao amolecimento e murchamento, devido às elevadas perdas
de peso após a colheita. Estas características são opostas àquelas encontradas nas
cebolas suscetíveis a um armazenamento mais prolongado.
A cura é um processo fundamental para preservação da cebola. Consiste em
secar as partes externas, como raízes, pescoço e túnicas, permitindo, até certo ponto,
isolar os bulbos do ambiente, minimizar a perda de umidade e a possibilidade de
infecção por agentes causadores de podridão, além de propiciar o desenvolvimento da
coloração característica. A perda de massa durante a armazenagem é causada pelo
consumo de reservas durante a respiração e pela perda de água. Como pode ser visto no
capítulo 18 – Armazenamento de Frutas e Hortaliças, a perda de água dos produtos
perecíveis (frutas e hortaliças) é o principal fator de deterioração durante o
armazenamento.
Em cebola, a perda de água ocorre principalmente pelo ponto de inserção do
pseudocaule (colo). Entretanto, após realizado o processo de cura, as condições físicas
da película externa passam a ser responsáveis pela perda de água. Assim, dentre os

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 489


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

diferentes fatores que interferem na qualidade fisiológica da cebola, a cura merece


atenção especial, por influir decisivamente no poder de conservação do produto.
A secagem e a cura são os principais processos envolvidos no preparo da cebola,
para o armazenamento em condições naturais. A secagem consiste na redução do
excesso de umidade das partes externas do bulbo (túnicas externas, pescoço e raiz),
enquanto a cura propriamente dita promove o desenvolvimento da coloração da casca.
Como a cura começa antes de completar a secagem, estes dois processos são
freqüentemente denominados "cura". O ponto final de cura é definido pelo fechamento
do colo (ou pescoço) do bulbo e pela secagem das películas externas que farfalham ao
toque, condição esta alcançada quando a cebola perde entre 3 e 5% de seu peso. Numa
cura bem feita, o teor de umidade da película externa deve estar abaixo de 16%. Nestas
condições, as perdas de peso durante a armazenagem serão controladas pela relativa
impermeabilidade das películas externas ao vapor d'água.
Embora a necessidade e as vantagens da cura sejam reconhecidas, ainda não
foram determinados os parâmetros que indicam a condição de cebolas adequadamente
curadas. O Teste de Passagem de Vapor D'água (TPVA) permite avaliar a passagem de
vapor através de amostras de túnicas secas, possibilitando o estabelecimento de índices
para avaliação da eficiência da cura e acompanhamento da conservação posterior.
Agricultores experientes utilizam características como o estado de desidratação do
pescoço e das túnicas externas para determinar o grau de cura. Em geral, o pescoço deve
estar seco e firme e as películas externas devem estar com cor intensa, secas e
quebradiças. A perda de peso (3 a 5%) pode variar de acordo com o estado de
maturação na colheita, a umidade do solo durante o crescimento, a época de colheita, o
grau de cura natural e a proporção de tecidos curados.
Cebolas colhidas em condições úmidas ou com tecidos externos verdes podem
perder até 13% de peso. Para a cebola destinada ao consumo imediato não é necessária a
cura total, mas a chamada " meia cura". Quando ela é destinada a mercados distantes ou
quando se deseja conservá-la por períodos de tempo mais prolongados, a cura completa
e bem feita torna-se indispensável.
Amadurecimento normal e cultura livre de pragas e doenças são condições
necessárias para o armazenamento satisfatório de cebolas. A viabilidade econômica do
armazenamento e a manutenção das qualidades fisiológicas por tempo prolongado
devem ser analisadas, visando aos interesses de produtores e consumidores.

8.3.1. Cura ao Sol


A cura ao sol (natural) é feita diretamente no campo. Uma vez colhidas, as
cebolas são dispostas em fileiras de modo que as folhas de uma fileira cubram
parcialmente os bulbos da fileira seguinte, evitando assim a incidência direta da
radiação solar sobre os bulbos. A incidência direta dos raios solares pode causar
queimaduras ou promover o desenvolvimento de clorofila, que depreciam muito a
qualidade do produto para comercialização. O período da cura ao sol é geralmente de
dois dias e, dependendo das condições atmosféricas, pode chegar a mais de uma
semana. Em épocas chuvosas, as cebolas devem ser colocadas para secar sobre um
estrado feito com ripas de madeira ou com tela metálica, abrigadas da chuva, de modo a
não absorver umidade.

490 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

8.3.2. Cura à Sombra


A cura à sombra processa-se em galpões secos e bem ventilados, onde as plantas
permanecem até as folhas secarem. A permanência das folhas na planta favorece a perda
de umidade. As plantas de cebola geralmente são colocadas em estruturas de madeira
com a forma de " V" invertido, ou em estrados com fundo telado, de maneira a permitir
a livre circulação do ar. A cura à sombra pode ser também uma prática complementar da
cura ao sol, quando as condições do clima não são favoráveis. Este método é
inconveniente para locais onde a umidade relativa não é suficientemente baixa
(UR<75%) para secar os bulbos, dificultando assim a perda de umidade necessária a
uma cura satisfatória em tempo razoavelmente curto. No Brasil, ainda é muito comum o
uso de restiamento da cebola, que é também entendido como cura à sombra.

8.3.3. Cura em Secador de Leito Fixo


O método de cura artificial mais difundido utiliza um fluxo de ar que é aquecido
e forçado a passar através da massa de produto em camada estacionária. A profundidade
da camada de cebola dentro do secador não deve ultrapassar dois metros, para evitar
danos mecânicos. Neste tipo de secador ou silo, a cura termina quando os bulbos da
superfície da camada estiverem completamente curados. A cura artificial em camada
estacionária pode ser realizada em poucas horas ou dias. As condições ambientais e os
processos anteriores estabelecerão o tempo da cura propriamente dita. Experiências
comprovam que são necessárias temperaturas acima de 21 oC para o desenvolvimento
da coloração do bulbo. Processos de cura a 52oC por 24 horas, 46oC por 30 horas e 40oC
durante 5 dias causaram sérios danos aos bulbos. De modo geral, os danos não são
perceptíveis logo após a cura. Posteriormente, porém, ocorrem excessiva perda de peso,
aumento na freqüência de películas externas rachadas e perda destas, decomposição
interna e amolecimento dos tecidos da região do pescoço. Acredita-se que a temperatura
máxima utilizada na cura seja influenciada pelas condições climáticas nas quais as
cebolas se desenvolveram.
Como recomendação geral, temperatura em torno de 30oC e umidade relativa a
65% podem ser uma condição indicada como ideal para cura, com tempo médio de uma
semana, dependendo da pré-cura natural no campo. A umidade relativa do ar de
secagem não deve exceder 75%.
O ciclo da cura abrange um período inicial, caracterizado por decréscimo
acentuado no teor de umidade (primeiros 3 a 5 dias de secagem), e um período final, em
que o teor de umidade decresce lentamente (cura propriamente dita). Recomenda-se, em
geral, a manutenção de fluxos de ar entre 3 e 7 m3.min-1.t-1, para o primeiro e segundo
períodos, respectivamente.

8.4. Armazenamento da Cebola


Além de passar pelo armazenamento tradicional por períodos curtos, a cebola
pode ser mantida em armazéns com atmosfera controlada e sob refrigeração. Entende-se
como atmosfera controlada as condições existentes num ambiente cujas instalações
possibilitem, pelo menos, controlar a vazão, temperatura e umidade relativa do ar, com
o mínimo de variações. Trabalhos têm mostrado que, mantendo-se a umidade relativa
baixa, embora ocorrendo perda de peso um pouco mais acentuada, obtêm-se

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 491


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

retardamento e diminuição acentuada no brotamento de alguns cultivares de cebola.


O armazenamento em baixas temperaturas permite a oferta do produto com
todas as suas qualidades, em qualquer época do ano, e garante a estabilidade de preços
no mercado consumidor. A vida útil das cebolas, conforme visto anteriormente, depende
das condições de cultura, da colheita, do tratamento pós-colheita e dos tipos de
cultivares. Em geral, os cultivares com maior teor de matéria seca prestam-se melhor ao
armazenamento prolongado em qualquer ambiente, empregado na armazenagem de
cebola. O cultivar Baía Periforme, que pode ser mantido por 90 dias em condições
ambientais normais, pode permanecer por mais de 140 dias a 0oC sem sofrer qualquer
tipo de danos.
A estabilidade de armazenagem da cebola, assim como de qualquer perecível,
está muito relacionada ao pré-resfriamento do produto (capítulo 18 – Armazenamento
de Frutas e Hortaliças). O pré-resfriamento consiste na diminuição da temperatura de
colheita até atingir a temperatura de armazenagem, sob determinadas condições de
umidade relativa ambiental e num tempo máximo de 24 horas. Para o caso específico da
cebola, as condições ambientais ideais de armazenagem são 0 oC e umidade relativa em
torno de 75%. A ocorrência de variações por pequenos períodos, ou seja, + ou - 5% na
umidade relativa e + ou - 2 oC na temperatura do ar ambiente, não prejudica a
estabilidade de armazenagem, e a umidade relativa muito inferior a 70% pode causar
excessiva perda de peso. Até certo ponto, quanto mais alta a umidade relativa, maior
será a eficiência de manutenção da qualidade dos bulbos.

492 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

9. FENAÇÃO

Dentre os diversos sistemas de alimentação do rebanho de grandes animais, a


alimentação volumosa forrageira se destaca, principalmente por razões econômicas. O
nível de produção de forrageiras não é constante, sendo alto no período chuvoso e baixo
no período seco. O excedente de material verde, produzido na época chuvosa, pode ser
usado na forma de silagem ou feno, para suprir a deficiência das pastagens no período
seco do ano.
Silagem é o processo de conservação da forragem por fermentação com elevado
teor de umidade e em local hermético. Já o feno é obtido pela secagem da forragem
verde, realizada no campo e/ou em secadores. Neste capítulo serão enfocados apenas os
aspectos de engenharia envolvidos na produção e armazenagem do feno.

9.1. Características Gerais da Fenação


Para a maioria dos autores, a melhor época para o corte da forrageira destinada à
produção de feno é o início da floração, uma vez que a partir desta época ocorre redução
em digestibilidade e valor nutritivo, sem haver aumento apreciável de rendimento. A
qualidade do feno não depende apenas da fase de desenvolvimento da planta, mas
também das condições ambientais e da maneira como se dá a manipulação da forrageira
no momento do corte. A planta ceifada demasiadamente exposta ao sol e à chuva perde
grande quantidade de nutrientes, enquanto a manipulação excessiva resultará em perda
de grande parte das folhas. Chuva, respiração e atividades microbianas são, dentre
outros, os fatores que mais influenciam a redução da qualidade do feno.
Para ser de qualidade, o feno deve garantir boa digestibilidade, boa quantidade
de proteína e grande quantidade de matéria seca. Deve ainda possuir coloração
esverdeada, hastes macias e flexíveis, grande quantidade de folhas, cheiro agradável e
não estar contaminado por substâncias estranhas ou fungos.

9.2. Técnicas de Produção de Feno


A produção de feno compreende as seguintes etapas básicas:
- corte;
- pré-secagem e/ou secagem;
- recolhimento; e
- armazenamento.

Dependendo da tecnologia empregada, estas etapas podem apresentar diferentes


aspectos. Apresenta-se a seguir uma abordagem resumida destas etapas, com atenção
especial para a secagem e o armazenamento.

9.2.1. Corte da Forragem


Pode ser feito manual ou mecanicamente. Os implementos utilizados são
genericamente denominados segadoras. Há dois tipos de segadoras:
a) Segadoras alternativas (comercialmente denominadas ceifadeiras ou barras
ceifadeiras): promovem o corte pela ação de uma barra de corte alternativa e um
conjunto de dedos fixos. As segadoras alternativas podem ser do tipo segadora-

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 493


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

condicionadora, que, além do corte, promove um certo " esmagamento" da


forragem, facilitando a secagem. Este efeito é obtido pela passagem do material
entre cilindros, reduzindo a diferença entre as taxas de secagem de folhas e
caules.
b) Segadoras rotativas ou roçadeiras: promovem o corte pela ação de facas
rotativas, por impacto. Apesar de provocar maiores danos mecânicos à
forrageira, este sistema facilita a etapa de secagem.

9.2.2. Revolvimento/enleiramento no campo


O revolvimento é feito para acelerar a secagem e o enleiramento, a fim de
facilitar o recolhimento, que pode ser feito manual ou mecanicamente. Os implementos
de tração mecânica que realizam estas operações são os ancinhos mecânicos.

9.2.3. Recolhimento
Pode também ser feito manual ou mecanicamente. Há dois tipos básicos de
máquinas que realizam esta etapa: as recolhedoras simples e as recolhedoras-
enfardadoras.

9.3. Secagem no Campo


Por ocasião do corte, as plantas apresentam alto teor de umidade, geralmente
entre 80 e 85% b.u., que é reduzido rapidamente para valores próximos a 65% b.u.,
devido à perda de água superficial.
O tempo de exposição no campo depende de condições climáticas, como a
incidência de sol e vento, temperatura e umidade relativa do ar. Para as condições
brasileiras, dois dias de exposição, em média, são suficientes para a retirada de
aproximadamente 40 pontos percentuais de umidade. Deve-se ter cuidado para que a
forragem não reumedeça, em virtude da ação da chuva ou do sereno. A ação do sereno
pode ser minimizada enleirando-se o produto durante a noite e removendo ou
espalhando a leira, novamente, no dia seguinte.

9.4. Uso de Secadores


Por razões econômicas, a secagem em secadores só é viável quando as condições
atmosféricas não permitem o preparo no campo ou quando há facilidade de energia.
Para evitar o emboloramento, a operação de secagem deve ser realizada no tempo
máximo de uma semana. Mesmo onde as condições atmosféricas permitem, o feno de
leguminosa deve ser preparado em secadores.
Neste caso, o material será armazenado antes de perder partes das folhas, o que
acontece com o feno preparado apenas no campo. A secagem feita em secadores com ar
aquecido evita uma perda apreciável de elementos nutritivos, conseqüência da
fermentação durante o processo de fenação. Estudos têm mostrado perda de até 10% da
matéria seca quando o feno é secado apenas sob condições de ar ambiente.
Em face da impossibilidade de processar a secagem com secadores de fluxos
concorrentes, contra-correntes, em cascata ou em fluxos cruzados, normalmente
utilizados para grãos, apenas o secador de camada fixa pode ser usado para fenação. O
secador de camada fixa desenvolvido na UFV e apresentado na Figura 12 (capítulo 5 –

494 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 17 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

Secagem e secadores) vem sendo usado para secagem de feijão em rama, na


desidratação da cana e no preparo do feno. Como a secagem de outros produtos
agrícolas, a do feno pode ser feita com ar natural ou levemente aquecido. Como neste
caso o incremento de temperatura é pequeno, é possível a utilização da energia solar
nessa operação.
Apesar da existência de alguns trabalhos sobre a secagem de feno em
temperaturas superiores a 50oC, o risco de incêndio, o alto consumo de energia e as
perdas na qualidade desaconselham a utilização de temperaturas elevadas.
Para a secagem em secadores, devem ser obedecidos os seguintes passos:
- cortar o material verde;
- expor o produto ao sol, durante um certo intervalo de tempo,
para que ele atinja 40% de umidade, aproximadamente; e
- levar o produto ao secador (picado em pequenos pedaços, em
rama, como de origem, ou em forma de fardos).

A secagem em secadores forma uma frente de secagem na massa de produto, até


que a última camada esteja seca ou em equilíbrio com o ar de secagem. Caso seja
possível, é recomendável fazer o revolvimento do material para quebrar os gradientes de
temperatura e umidade da camada de feno. Este revolvimento deverá ser determinado
em função da temperatura e do fluxo de ar e da umidade inicial do produto. Caso se
utilize o secador em camada fixa, modelo UFV, os parâmetros de operação deverão ser
os seguintes:
- temperatura do ar: 50oC;
- forma: picado ou esmagado;
- camada (sem compactaçao): 50 cm; e
- revolvimento da camada: a cada 120 min.

O secador desenvolvido especialmente para a secagem de feijão em ramas


(Figura 25), pode ser usado para a secagem de feno não-picado. Este secador é
construído de tal forma que pode ser desmontado após a utilização. Com isso, grande
parte do galpão pode ser usada para outros fins, quando o secador não estiver sendo
utilizado.
Preferencialmente, por questão de eficiência energética, a fornalha para
aquecimento do ar, para a secagem de feno, deve ser de aquecimento direto. No entanto,
a construção do ciclone exige atenção especial, a fim de prevenir a injeção de fagulhas
na massa de produto, que podem provocar incêndios.
O Terreiro híbrido (Figura 3, Capítulo 7), desenvolvido especialmente para a
secagem do café, tem mostrado bons resultados na secagem de feno, cana picada e,
principalmente, quando da secagem do Ramí para alimentação de coelhos (Figura 29)

9.5. Armazenamento do Feno


O feno secado a 25% b.u., dependendo das condições climáticas, pode ou não
ser armazenado em campo coberto, em barracões ou armazéns.
No decorrer da armazenagem, o produto exposto à ventilação natural ou forçada
deve perder umidade até aproximadamente 15% b.u., o que garantirá boa condição de

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 495


Capítulo 17 Secagem e armazenagem de Produtos Agrícolas

estocagem. O feno originário de plantas em estádio inicial de desenvolvimento deverá


ser armazenado com menor teor de umidade (cerca de 12% b.u.), porque seu alto teor de
açúcares poderá favorecer as fermentações.
Como se trata de um material de fácil combustão, todos os cuidados dispensados
aos materiais inflamáveis devem ser aplicados à estocagem do feno

Figura 29 – Uso do terreiro híbrido para secagem de Rami.

.
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Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 499


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

Capítulo

18
ARMAZENAMENTO DE FRUTAS E HORTALIÇAS

Juarez de Sousa e Silva


Fernando Luiz Finger
Paulo César Corrêa

1. INTRODUÇÃO

Apesar da inexistência de estatísticas oficiais, o desperdício de frutas e


hortaliças no Brasil é estimado em mais de 40% da produção, ou seja, mais de 14
milhões de toneladas. Enquanto essa perda supera a produção total de muitos países da
América Latina, mais de 30% da população brasileira não tem acesso a nenhum tipo de
fruta ou hortaliça.
Tanto em qualidade como em quantidade, as perdas dos produtos
hortifrutícolas ocorrem entre a colheita e o consumo. A magnitude da perda de frutas
após a colheita é estimada entre 5 e 25% em países desenvolvidos, chegando a 50%
nos países em desenvolvimento, dependendo do produto. Diversos autores enfatizam
que há necessidade de se realizarem levantamentos precisos para estimar a extensão
das perdas de perecíveis em nível global e as principais causas de perdas na diferentes
regiões do globo. Apesar dos esforços realizados no sentido de reduzir essas perdas,
um resultado favorável só será alcançado quando grande maioria dos responsáveis pela
produção, pelo transporte, pela armazenagem e pela distribuição conhecer os fatores
biológicos e ambientais envolvidos na deterioração e utilizar técnicas pós-colheita que
permitam manter a qualidade por um tempo mais prolongado.
Frutas "in natura", hortaliças e plantas ornamentais (perecíveis) são compostas
por tecidos vivos sujeitos a modificações contínuas após a colheita. Embora algumas
destas modificações sejam desejáveis sob o ponto de vista do consumidor, a maioria
não o é. Como algumas dessas alterações não podem ser interrompidas depois de
iniciadas, esforço deverá ser feito, dentro de certos limites, na tentativa de diminuí-las,
para garantir o aumento do tempo de armazenagem.
A colheita de frutos e hortaliças interrompe o suprimento de água para o órgão
vegetal e, assim, a perda de água subseqüente por transpiração determina, em grande
parte, as perdas quantitativas e qualitativas destes produtos. O murchamento e
enrugamento de frutos e hortaliças são os sintomas iniciais da excessiva perda de água,

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 501


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

a qual pode ocorrer em poucas horas ou dias, dependendo do produto e das condições
de temperatura e umidade do ar. Além disso, há estímulo à deterioração dos produtos
em virtude do aumento da taxa de algumas reações de origem predominantemente
catabólica, como elevação da produção de etileno e degradação de clorofila.
Diferenciando ligeiramente dos grãos, os produtos perecíveis têm as qualidades
comerciais reduzidas e podem sofrer muitas alterações fisiológicas motivadas por
danos mecânicos.
Neste capítulo, o frio será abordado como uma das técnicas utilizadas para
diminuir as perdas pós-colheita.

2. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Após a colheita, os frutos mantêm muitos dos processos vitais predominantes


no momento anterior à colheita, principalmente a respiração. Diversas mudanças
ocorrem na estrutura e composição da parede das células, resultando em amolecimento
do fruto. Por exemplo, a mudança na cor da casca do fruto, decorrente da destruição da
clorofila, dá lugar aos pigmentos carotenóides vermelho e amarelo, enquanto a redução
no teor de amido é acompanhada pelo aumento no teor de açúcar. Alguns compostos
voláteis produzidos conferem aos frutos sabor e aroma. O etileno, um dos compostos
voláteis encontrados na maioria dos frutos em certos estádios do desenvolvimento, ao
atingir uma concentração suficiente, induz o amadurecimento, que resultará em
aumento de sua produção, acelerando o processo de senescência dos tecidos.
Uma das leis fundamentais da química é que a taxa das reações é controlada
pela temperatura. Essa taxa praticamente dobra para cada aumento de 10oC. O termo
Q10 é conhecido como “Quociente de Temperatura" e pode ser representado pela
equação 1:

10 /(t 2 − t1)
R 
Q10 =  2  eq. 1
 R1 
em que:
Q10 = quociente de temperatura para cada incremento de 10 oC
(para a maioria dos frutos é de aproximadamente 2,4);
R1 = taxa de respiração à temperatura 1 (t1); e
R2 = taxa de respiração à temperatura 2 (t2oC).

Diversas enzimas envolvidas nos processos de respiração e de amadurecimento


dos frutos são também afetadas pela temperatura. Dessa forma, o controle da
temperatura por meio da refrigeração é o meio mais efetivo para prolongar a vida
comercial dos frutos.
Em geral, os frutos apresentam diferenças em suas características durante a
armazenagem. Essas diferenças dependem da estação de crescimento, taxa de
respiração, quantidade de etileno liberado e de fatores genéticos.

502 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

3. RESPIRAÇÃO

A respiração tem sido considerada o índice mais adequado para expressar a


atividade fisiológica e também o potencial de armazenamento de perecíveis. A energia
obtida da oxidação de compostos orgânicos, principalmente açúcares, é utilizada na
síntese de novas substâncias. Uma fórmula simplificada da respiração pode ser escrita
como:
(C6 H12 O6 ) + 6 O2 --- 6 CO2 + 6 H2O + CALOR

O processo é oposto à fotossíntese, na qual o CO2 é consumido pelas plantas


para síntese de açúcares e liberação de O2. A respiração, portanto, envolve a
decomposição oxidativa de constituintes orgânicos e perda das reservas alimentares
(amido, ácidos orgânicos e açúcares). As mudanças decorrentes do metabolismo
ocasionam, principalmente:
- senescência acelerada, em função da exaustão das reservas;
- perda do valor do produto como alimento (energético e vitamínico);
- redução das características de qualidade, como o sabor; e
- perda de matéria fresca.
A quantificação do calor liberado é muito importante para a estimativa das
necessidades de refrigeração e ventilação. A qualidade dos perecíveis, medida pelo seu
estádio de maturação, depende do controle adequado da taxa respiratória e da
dissipação do calor por intermédio do frio.
Durante a respiração ocorrem trocas gasosas com o ar ambiente, sendo liberado
o CO2 e consumido O2. Se o nível de O2 for baixo, a combustão será incompleta e
formará subprodutos, tais como álcoois e aldeídos, que conferem sabor anormal aos
frutos. A quantidade de O2 necessária para evitar a ocorrência da fermentação
anaeróbica é determinada pela temperatura, taxa de respiração e sensibilidade dos
tecidos a baixas concentrações de O2. Desse modo, a embalagem dos frutos e
hortaliças não deve ser feita com material impermeável; sacos plásticos perfurados ou
não-perfurados que permitam trocas dos gases respiratórios podem ser usados como
embalagens destinadas ao consumidor. Sob temperatura de armazenamento em frio, o
limite inferior de O2 para a maioria dos frutos é de cerca de 2%. Teores de O2
inferiores aos valores normais da atmosfera inibem a respiração, produção e ação do
etileno e, conseqüentemente, o amadurecimento dos frutos.
O armazenamento com atmosfera controlada, em que o teor normal de O2 é
reduzido e a concentração de CO2 aumenta até níveis toleráveis, pode ser usado para
prolongar o período de armazenamento de alguns frutos, principalmente maçãs.
As taxas de respiração são normalmente expressas em mg de CO2 por kg de
fruto por hora. Em muitos casos podem também ser expressas em Unidade Térmica
gerada, por tonelada de produto, durante 24 horas. De modo geral, todos os produtos
possuem baixa taxa de respiração em 0oC. A Tabela 1 mostra a taxa respiratória
(produção de calor) de diferentes produtos, em várias temperaturas. Embora a taxa
varie para o mesmo fruto, os mesmos cultivares e estádios de maturação, ela tende a
ser mais constante entre 0 e 5oC, que é a faixa de temperatura em que os frutos são
mantidos armazenados por maior período de tempo e com o mínimo de redução na

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 503


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

qualidade.
Uma refrigeração rápida reduz a atividade metabólica, controla o
envelhecimento e é, portanto, desejada para conservação dos frutos mais perecíveis.
Inversamente, uma armazenagem sob altas temperaturas apresenta, como
conseqüências mais sérias, o rápido crescimento de organismos infecciosos, a
aceleração do amadurecimento, a perda da cor verde e a redução no período de
comercialização. Assim, a temperatura de armazenamento afeta tanto a taxa de
respiração como também o tempo total de armazenagem.
De acordo com o padrão de respiração, os frutos são classificados em:
a) Frutos de respiração climatérica: são os que apresentam aumento
repentino da respiração, medida pela evolução do gás carbônico e produção de etileno
com o amadurecimento dos frutos. A ocorrência deste fenômeno é observada em
frutos, colhidos ou não, quando já estão fisiologicamente maduros. Exemplos: abacate,
ameixa, banana, maçã, mamão, manga, pêra e pêssego.
b) Frutos de respiração não-climatérica: são os que apresentam poucas
mudanças fisiológicas após a colheita e taxas constantes ou decrescentes de respiração
durante o crescimento e a pós-colheita, independentemente do estádio de
desenvolvimento em que foram colhidos. Estes frutos só amadurecem enquanto estão
ligados à planta. Exemplos: abacaxi, cereja, figo, limão, laranja, melão, morango, uva
etc.

4. PRODUÇÃO DE ETILENO E SEUS EFEITOS

Sabe-se há muito que as peras amadurecem, em locais fechados, na presença de


fumaça. A laranja pode ficar amarelada mediante o uso de fumaça de queimadores a
querosene ou exaustão de motores a gasolina, em salas especiais. Isto se deve ao efeito
do etileno existente na fumaça. O etileno (C2H4) é um gás inodoro produzido pela
combustão parcial de combustíveis fósseis ou produzido pelos frutos e pelas plantas.
Pequena quantidade de etileno é suficiente para provocar certos efeitos
fisiológicos, como: o limão torna-se amarelo com 0,025 a 0,050 ppm de etileno e a
banana amadurece com 0,1 a 1,0 ppm. Alguns efeitos prejudiciais, como o
amadurecimento prematuro, o desfolhamento e o amolecimento das hortaliças, são
também causados pela presença do etileno. Estes efeitos podem ser inibidos por meio
de alguns processos, entre os quais:
- manutenção do produto em baixa concentração de O2;
- aumento da concentração de CO2; e
- controle da temperatura entre 0 e 5oC ou acima de 35oC
Estas condições mostram a importância de uma atmosfera controlada no
armazenamento. Em determinados casos há grande interesse em purificar o ar para
armazenamento a frio, removendo o etileno e outros voláteis em ambiente cuja
temperatura permite ao etileno ser fisiologicamente ativo. Em geral, os frutos
climatéricos (Tabela 2) têm taxas mais altas de produção e concentração interna de
etileno.
A razão entre a concentração interna e a taxa de produção de etileno é expressa
em microlitro por quilo de fruta e está entre 1,8 e 13,0. Por exemplo, a maçã, cuja

504 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

concentração interna é de 600 ppm, produz etileno à taxa de 52 microlitros/kg/hora e


sua razão é de 11,5 (600/52).
A Tabela 3 mostra o efeito da concentração de etileno no ambiente para
diferentes espécies de frutos.

TABELA 1 – Taxas de produção de calor por produto armazenado a várias


temperaturas

Produto Kcal por tonelada por 24 horas


(oC)
0 5 15 20 25
Abacate --- 1.107 3.422 4.077 6.516
1.616 8.680 19.196 23.699 ---
Banana --- --- 1.157 1.811 ---
--- --- 1.283 1.912 ---
Laranja 100 201 704 1.232 1.358
277 402 1.308 1.886 2.239
Limão 127 151 578 1.031 1.132
226 478 1.258 1.409 1.559
Maçã 126 277 755 931 ---
226 402 1.711 1.937 ---
Mamão --- 226 830 --- 2164
--- 327 1.208 --- 4.880
Manga --- 553 --- 4151 ---
--- 1.207 2.490 8.378 6.642
Morango 679 906 3.925 5.660 9.359
981 1.837 5.107 10.843 11.674
Pêra 100 --- 603 855 1.085
126 --- 1.333 1.534 4.503
Pêssego 226 352 1.837 3.270 4.503
352 503 2.339 5.661 6.743
Uva 75 176 553 --- 1.383
126 327 654 --- 1.663
Alface 327 729 1.761 2.818 4.050
931 1.107 2.490 3.321 5.057
Batata --- 151 327 453 ---
--- 478 654 880 ---
Cenoura 528 704 1.434 2.541 ---
1.132 1.459 2.969 5.258 ---
Tomate --- 277 906 1.560 1.912
--- 452 1.560 2.289 2.818
1kcal=4,18kJ=3,968btu
adaptado de USDA, Handbook 66

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 505


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

TABELA 2 – Concentração interna de etileno em vários tipos de frutas

Produtos Concentração interna em ppm


Maçã 25,00 – 2.500,00
Abacate 29,00 – 74,00
Banana 0,05 – 2,10
Limão 0,11 – 0,17
Lima 0,30 – 1,96
Manga 0,04 – 3,00
Pêssego 0,90 – 20,70
Pêra 80,00
Abacaxi 0,16 – 0,40

TABELA 3 – Resposta de alguns produtos à concentração de etileno no ambiente de


armazenamento

Produto Concentração de etileno Efeito


(ppm)
Abacate 0,10 Amadurecimento
Banana 0,10 – 1,00 Amadurecimento
Manga 0,04 – 0,40 Amadurecimento

Maiores períodos de armazenamento têm sido conseguidos pela redução da


pressão atmosférica do local de armazenagem. Este processo aumenta a taxa de
transferência de etileno para a atmosfera externa, reduzindo sua concentração e
diminuindo o nível de O2 nos frutos.
O nível de etileno normalmente encontrado no ambiente é inferior a 0,005 ppm
e, felizmente, está abaixo da concentração que provocaria efeitos fisiológicos. Altas
concentrações de etileno, na presença de oxigênio, além de provocarem distúrbios
fisiológicos, são, também, explosivas. Como produzem etileno e outros gases tóxicos,
as máquinas de combustão interna devem ser evitadas em locais de armazenagem de
perecíveis. A prática leva também a evitar o armazenamento de mercadorias
suscetíveis aos efeitos do etileno (flores, cenoura, alface e outros,) juntamente com
frutas que produzem este gás em grande quantidade, como, por exemplo, pêras e
maçãs.

5. VIDA DO FRUTO

5.1. Crescimento e Desenvolvimento


A vida de um fruto começa com a fertilização do óvulo durante o
florescimento. Poucos dias após a polinização e fertilização, o fruto cresce
rapidamente, competindo por nutrientes com as outras partes da planta. A fertilização
não é sempre necessária para o desenvolvimento do fruto. Sem a fertilização, o fruto
terá poucas sementes ou será partenocárpico, como banana, abacaxi, figos, uvas e

506 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

outros.
O fruto é formado por um processo de rápida divisão celular que, em alguns
casos, pode durar várias semanas. Após esse período, inicia-se o crescimento das
células já constituídas, formando a polpa do fruto. Muitos frutos, como maçã, pêra e
ameixa, dentre outros, têm uma taxa razoavelmente constante de crescimento e,
conseqüentemente, aumentam em tamanho mesmo após atingirem a maturação
fisiológica. Este fato justifica a recomendação de não colher o produto precocemente,
ou seja, antes que ele atinja o tamanho ideal. Caso os frutos sejam colhidos muito
precocemente, poderá não ocorrer amadurecimento dos frutos climatéricos e qualidade
organoléptica inferior para os frutos não-climatéricos.

5.2. Maturação
Para utilizar adequadamente o armazenamento em frio, é necessário
compreender o significado do termo "maduro" e a importância da determinação da
maturidade das frutas. A maturidade fisiológica pode ser definida como o ponto em
que o fruto já atingiu um estádio de desenvolvimento que permite o manuseio
adequado durante a colheita e pós-colheita (incluindo o amadurecimento por etileno),
sem que haja alteração da qualidade mínima exigida pelo consumidor (Figura 1).

Figura 1 - Ponto de Maturação para Hortaliças

Um exemplo muito comum é o caso de algumas frutas, em geral as


climatéricas, como, por exemplo, a banana, que, embora possuindo maturidade
adequada à colheita, ainda apresenta a cor verde (Figura 2). A qualidade comestível
nesse estádio de maturação, entretanto, está longe de ser ótima para consumo ao
natural ou para determinados processos industriais. Todavia, para a grande maioria das
hortaliças, a maturação ótima para colheita coincide com a qualidade comestível ótima.
Muitas pesquisas têm sido feitas para estudar a composição dos frutos em
diferentes estádios de desenvolvimento, pois, durante essa fase, ocorrem muitas
transformações físicas e químicas, indicando a qualidade do fruto e o comportamento
pós-colheita. Dentre as mais importantes transformações que ocorrem no último
estádio de maturação estão:
- incremento do açúcar;

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 507


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

- decréscimo de acidez;
- decréscimo do teor de amido (maçãs, pêras e bananas);
- aumento da quantidade de óleo (coco e abacate);
- desenvolvimento de voláteis que contribuem para o sabor e aroma;
- formação de pigmentos na casca e polpa;
- incremento do ácido ascórbico, seguido por decréscimo;
- acréscimo em caroteno; e
- a casca de muitos frutos, quando maduros, desenvolve cera, dando brilho e
proteção contra a perda de umidade.

Muitas características ou propriedades dos frutos têm sido usadas como índice
de colheita e padronização para comercialização. Alguns exemplos são a razão entre
açúcar e ácido, para frutas cítricas; quantidade de óleo, para abacates; e quantidade de
açúcar, para uvas.

Figura 2 - Ponto de Colheita e de Maturação da Banana

5.3. Amadurecimento
Desenvolvimento, maturação, amadurecimento e envelhecimento são fases na
vida do fruto. Desenvolvimento inclui maturação, que corresponde ao último estádio
de desenvolvimento, em que o fruto atinge o tamanho máximo e a qualidade ótima
para alimentação. O amadurecimento é o processo terminal de maturação, quando o
fruto desenvolve sabor, textura e aroma. Entretanto, alguns frutos não amadurecem
convenientemente enquanto presos às plantas, como o abacate, a pêra e a manga. Este
problema, segundo alguns pesquisadores, tem sido relacionado ao etileno e à sua ação
como hormônio do amadurecimento ou a substâncias antagônicas à ação do etileno.

5.4. Senescência
Define-se senescência ou envelhecimento como o período subseqüente ao
desenvolvimento do fruto, durante o qual o crescimento foi paralisado e o processo de
envelhecimento substitui o amadurecimento, podendo ocorrer antes ou após a colheita
(Figura 3). Acredita-se que na respiração climatérica ocorre um súbito incremento na
liberação de CO2, marcando o começo do envelhecimento.

508 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

Como o etileno pode estimular um fruto a iniciar a senescência, acredita-se que


frutos jovens podem conter um inibidor de etileno, ou a insensibilidade dos tecidos
evita sua ação como hormônio estimulante da senescência.

Figura 3 – Couve flor e abacaxi em adiantado estado de senescência.

6. PERDA DE ÁGUA

O fruto perde água, diminuindo seu volume, durante os períodos quentes e


secos do dia, mas, se ainda estiver preso à árvore, recuperará a umidade durante a
noite. Depois da colheita, o processo de transpiração continua, porém não há como
recuperar a água. Esse fenômeno faz com que as condições inadequadas de transporte
e de armazenagem afetem seriamente o valor econômico do fruto, especialmente se for
vendido com base no peso. Para compensar alguma perda de peso devida à perda de
água, não alterando o peso comercial mínimo exigido por caixa, o produtor deverá
colocar maior quantidade de frutas em cada caixa.
Como a grande maioria dos produtos perecíveis contém de 75 a 95% de água e
sua umidade relativa, nos espaços intercelulares, é próxima a 100%, o vapor d'água
tende a escapar dos tecidos dos frutos para o meio ambiente, como ocorre no
armazenamento de grãos muito úmidos. Uma transpiração excessiva pode
comprometer seriamente a aparência das frutas, tornando-as enrugadas e com
coloração opaca. A perda de água também afeta a firmeza dos frutos e das hortaliças,
os quais se apresentam flácidos, moles ou murchos, reduzindo substancialmente seu
valor comercial, principalmente para consumo ao natural.
O peso perdido durante o armazenamento dependerá, dentre outros fatores, do
tipo, tamanho, composição, estrutura e temperatura do fruto e, ainda, da temperatura,
umidade relativa e velocidade do ar de armazenamento. A Tabela 4 mostra a perda
aproximada de peso para algumas frutas, em condições recomendadas de
armazenagem.
Como os frutos com maior temperatura tendem a perder mais umidade, é regra
prática resfriá-los rapidamente, usando alta velocidade do ar de resfriamento, água fria
ou gelo, e armazená-los com o ar a uma velocidade suficiente para manter a
temperatura uniforme. Como visto anteriormente, e à semelhança do que ocorre em
armazenamento de grãos (capítulo 4 - Qualidade dos Grãos), o fruto também perde

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 509


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

água quando a pressão de vapor de sua umidade interna é maior que a pressão de vapor
do ar ambiente. Como algumas substâncias estão dissolvidas na água dos frutos, a
pressão de vapor desses frutos está entre 96 e 98% da pressão de saturação. Até certo
ponto, este fato permite que os frutos sejam armazenados em umidades relativas
inferiores a 100%.
Para a maçã, foi encontrada perda de umidade a uma taxa de apenas 1/70, em
comparação com a mesma área exposta de evaporação da água livre. Neste caso, como
em outros frutos, a grande perda de peso ocorre por meio de quebras e aberturas na
cutícula da casca.

TABELA 4 – Perda de peso (%) de alguns tipos de frutas em condições de


temperatura e umidade para maior vida pós-colheita

Produto Armazenamento Temperatura Umidade Perda


(semanas) (oC) Relativa de peso
(%) (%)
Abacate
Antilhana 2 10 85 –90 6,3
Guatemalense 4 10 85 - 90 10,0
Abacaxi verde 4-6 10 85 - 90 4,0
Banana 3-4 15 90 - 95 5,2
Goiaba 2-5 10 90 14,0
Maçã 30 3 90 1,5
Mamão 3-4 8 85 - 90 5,8
Manga 3-4 13 85 - 90 6,5

As perdas de matéria fresca em diversos frutos são expressas em percentagem


por dia por milímetro de déficit na pressão de vapor (diferenças nas pressões de vapor).
Quando diminui a umidade, a perda de matéria fresca por milímetro de déficit de
pressão de vapor decresce e sempre tende a decrescer com o tempo. Isto indica que, no
processo de perda de umidade, as células superficiais se tornam secas e agem como
uma barreira para a transpiração. Como no caso de outros produtos agrícolas, nem toda
perda de peso dos frutos é devida apenas à perda de água, pois a respiração contribui
com uma boa parte. Por exemplo, respirando 5 mg de CO2/kg/h, em armazenamento
refrigerado em temperatura entre -1 e 2oC, a maçã perderia apenas 0,8% de seu peso
original em 120 dias. No processo de respiração, a água formada torna-se parte do teor
de água das células, podendo ser usada na hidrólise do amido ou de outras substâncias,
causando perda de matéria seca.
A perda de água pode ter efeitos sobre a deterioração pós-colheita de alguns
frutos. Por exemplo, a maçã desenvolve menos ferimentos quando mantida em baixas
umidades, nas quais a perda de água é alta. Assim, a utilização de baixas umidades tem
sido defendida, por se reconhecer que altas umidades relativas favorecem o
desenvolvimento de microrganismos. No entanto, quando tratados com fungicida, os
frutos sadios podem ser armazenados em temperatura próxima a 0oC e umidade
relativa de 95%.

510 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

Se a temperatura ambiente variar, e a umidade relativa for alta, haverá


condensação de água sobre o fruto, podendo causar trinca na casca e favorecer o
desenvolvimento de microrganismos. Como o calor produzido pela respiração, além de
afetar a perda de umidade, é também responsável pelo aumento de temperatura dos
frutos no centro das caixas, a perda de umidade nos frutos continua mesmo quando a
umidade relativa do ar for de 100%.

7. CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS

Para retardar a perda de umidade, os produtos perecíveis devem ser


rapidamente resfriados até próximo da temperatura de armazenagem. Por ser rápido e
não evaporar umidade durante o processo, o hidroresfriamento é um método ideal e
econômico (Figura 4). Se o meio refrigerante for o ar frio, as caixas deverão ser
arranjadas de modo que seu movimento de ar frio seja homogêneo ao longo de todas as
pilhas. Sendo geralmente secas, as caixas de embalagem absorvem umidade
proveniente dos frutos e do ar. Para contornar este problema e compensar a quantidade
de água retirada pelas caixas e superfícies internas do armazém e prevenir perda
excessiva de umidade pelos armazenagem.

Figura 4 - Resfriamento com água (hidroresfriamento) e resfriamento a ar frio

Na comercialização dos frutos, embalagens protetoras, como o plástico, estão


sendo usadas para retardar a perda de umidade. Entretanto, à semelhança de grãos e
sementes, na armazenagem de produtos hortifrutícolas com baixos teores de umidade,
como amêndoas, frutos secos e cebola, é desejável manter a umidade em torno de 60%,
para dificultar ou evitar o crescimento de fungos, que, além de causar mudanças nas
propriedades físicas e químicas desses produtos, podem produzir toxinas altamente
indesejáveis à alimentação humana ou animal (baixas temperaturas da superfície de
resfriamento e embalagens protetoras são necessárias para evitar reumedecimento).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 511


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

8. DISTÚRBIOS FISIOLÓGICOS

8.1. Distúrbio Devido ao Congelamento


O congelamento danifica os produtos perecíveis, destruindo as células após a
formação de cristais de gelo. Danificada ou morta, a célula perde sua resistência à
infecção microbiana e a rigidez normal (Figura 5). As temperaturas de congelamento
de algumas frutas tropicais são apresentadas na Tabela 5.

Figura 5 – Danos por congelamento (postharvest.tfrec.wsu.edu)

TABELA 5 – Temperatura de congelamento de alguns frutos tropicais

Produto Temperatura (oC)


Abacate -0,3
Abacaxi -0,1
Banana -0,7
Coco -0,9
Mamão -0,9
Manga -0,9

8.2. Distúrbio Devido ao Frio


Alguns perecíveis, principalmente de clima tropical, são danificados quando
submetidos a baixas temperaturas durante o armazenamento. Diferentemente do caso
anterior, o dano é causado por temperatura acima do ponto de congelamento, porém
abaixo daquela apropriada para o armazenamento. A ocorrência desses danos é
explicada pela redução na produção de certos componentes essenciais ou pelo aumento
na produção de algum produto tóxico, como o etanol. A susceptibilidade a esses danos
varia para diferentes espécies e cultivares. A banana, por exemplo, cuja temperatura de
armazenamento é superior a 13oC, é extremamente sensível e pode ser danificada em
poucas horas de exposição a temperaturas inferiores a esta (Figura 6).
A permanência numa temperatura intermediária por algum tempo, antes do
armazenamento, reduz os danos em citros, pêssego, maçã e batata-doce. Frutos
imaturos são, geralmente, mais suscetíveis ao frio do que os frutos maduros. Um meio

512 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

para contornar esse problema, ou diminuir os sintomas causados pelo frio, consiste na
armazenagem em condições de atmosfera modificada ou controlada. O
acondicionamento de hortaliças como pimentão e quiabo em filmes de polietileno ou
PVC reduz o aparecimento de sintomas de injúria causada pelo frio.

Figura 6 – Danos pelo frio em bananas verdes (a) e bananas maduras (duas
semanas de armazenamento) - (postharvest.tfrec.wsu.edu)

O dano causado pelo frio é influenciado pelo estádio metabólico do perecível.


Foi observado que as maçãs são mais danificadas quando expostas a baixas
temperaturas e estão no pico da respiração climatérica; já as bananas, quando estão no
estádio em que são normalmente colhidas.
Não é fácil constatar rapidamente o dano causado pelo frio. Na maioria das
vezes, ele só é percebido quando o produto, já retirado da câmara de armazenagem,
sofre leve aquecimento (Figura 7). O escurecimento dos tecidos e as descolorações são
a indicação visível do dano. Como resultado final, as áreas danificadas são facilmente
invadidas por microrganismos que causam a podridão do fruto. Outros sintomas de
dano causado pelo frio são pequenas depressões, amolecimento reduzido ou
escurecimento da casca e no envoltório da polpa, amadurecimento inadequado e, em
muitos casos, falta de sabor (Tabela 6).

Figura 7 – Danos causado pelo frio no armazenamento

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 513


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

TABELA 6 – Sintomas dos danos causados pelo frio

Produto Temperatura mínima Sintoma


Sujeito a danos (oC)
Abacate 7 Polpa marrom-acinzentada.
Banana 13 Casca sem brilho, amadurecimento
deficiente.
Laranja 3 Pequenas depressões na casca, manchas
escuras.
Limão 13 Pequenas depressões na casca.
Maçã 3 Escurecimento interno, secagem,
amolecimento da parte externa.
Mamão 7 Pequenas depressões na casca e
deficiência no amadurecimento.
Manga 12 Descoloração da casca e
amadurecimento desuniforme
Adaptado de USDA, Handbook 66.

9. DISTÚRBIOS CAUSADOS PELA CÂMARA

9.1. Umidade Relativa.


Como comentado anteriormente neste capítulo, a umidade relativa do ar tem
efeito direto sobre a conservação das qualidades comerciais dos perecíveis
armazenados em uma câmara frigorífica. Se a umidade relativa for muito baixa,
provavelmente ocorrerá murchamento e enrugamento; quando muito alta, irá favorecer
o desenvolvimento de microrganismos e induzirá o enraizamento, principalmente em
cebola e alho (capítulo 17 – Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas). Como
apresentado na Tabela 4, umidades relativas entre 85 e 95% são recomendadas para a
maioria das frutas e hortaliças; o alho e a cebola, entretanto, devem ser armazenados
em câmaras com umidade relativa em torno de 65 a 75%.

9.2. Concentração de O2
Uma concentração mínima de oxigênio é necessária para promover a respiração
normal durante o armazenamento. Abaixo desse nível, ocorre respiração anaeróbica,
com concomitante produção de álcool e acetaldeído, os quais destroem as células,
quando não removidos imediatamente. A falta de oxigênio na atmosfera de
armazenamento pode, também, causar o desenvolvimento de sintomas similares aos
resultantes dos distúrbios causados pelo frio, embora, com a falta de oxigênio, o
escurecimento seja caracteristicamente encontrado nos tecidos mais internos (Figura
8).
A Tabela 7 mostra os níveis mínimos de O2 para o armazenamento de
diferentes produtos hortícolas.

514 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

Figura 7 - Danos por baixo teor de O2 (postharvest.tfrec.wsu.edu)

TABELA 7 - Classificação de alguns produtos quanto à tolerância a baixa


concentração de O2

Mínimo de O2 Produto
tolerado (%)
0,5 Nozes e frutos secos

1,0 Alguns cultivares de maçã e pêra, brócolis, alho e cebola.

Maioria dos cultivares de maça e pêra, kiwi, nectarina,


2,0 pêssego, ameixa, morango, abacaxi, melão cantaloupe,
milho-doce, feijão-de-vagem, alface, repolho, couve-flor
e couve de bruxelas.

3,0 Abacate, tomate, pimentão, pepino e alcachofra.

5,0 Frutos cítricos, ervilha, aspargo, batata-doce e batata.

Adaptado de Kader & Ke (1994).

9.3. Concentração de CO2


Os perecíveis podem sofrer distúrbios fisiológicos na presença de grande
quantidade de CO2 na câmara de armazenamento. Altos níveis deste gás na atmosfera
fazem com que a quantidade dissolvida na célula, ou combinada com outros
constituintes, também aumente. Esse acréscimo na concentração de CO2 dentro das
células provoca algumas mudanças fisiológicas (Figura 8). Assim, frutos e hortaliças
toleram níveis máximos de CO2, como mostra a Tabela 8.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 515


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

Figura 8 – Danos causados por CO2 (postharvest.tfrec.wsu.edu)

TABELA 8 - Classificação dos hortícolas quanto à tolerância a alta concentração de


CO2

Máximo de Produto
CO2 (%)
2 Maçã (Golden Delicious), pêra, uva, tomate, pimentão,
alface, alcachofra e batata-doce.

5 Maioria dos cultivares de maçã, pêssego, nectarina, ameixa,


laranja, abacate, banana, manga, mamão, kiwi, ervilha,
berinjela, couve-flor, repolho, couve-de-bruxelas e cenoura.

Pomelo, limão, lima, abacaxi, pepino, quiabo, aspargo,


10 brócolis, salsa, aipo, cebola-de-folha, cebola, alho e batata.

15 Morango, cereja, figo, melão cantaloupe, milho-doce,


cogumelo e espinafre.
Adaptado de Kader & Ke (1994).

9.4. Concentração de Etileno

Embora a aceleração no desenvolvimento dos frutos, induzida pelo etileno, seja


considerada benéfica, inquestionavelmente ela torna-se maléfica ao resultar em
senescência precoce dos tecidos vegetativos. Para a maioria das hortaliças, o efeito do
etileno é quase sempre prejudicial. Portanto, não é recomendável armazenar produtos
sensíveis ao etileno, por mais de algumas horas, juntamente com produtos que liberam
esse composto, como maçã, melão e outros. O armazenamento de produtos danificados
mecanicamente também deve ser evitado, uma vez que as infecções e injúrias podem
aumentar substancialmente a produção de etileno, causando a maturação das hortaliças
e dos frutos ou a senescência de seus tecidos (Figura 9).
A amônia é um gás tóxico usado como refrigerante em muitos sistemas de

516 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

refrigeração. Se houver vazamento e a concentração deste gás na câmara exceder a


0,5%, as hortaliças armazenadas poderão ser seriamente danificadas em menos de uma
hora.

Figura 9 – Danos causados por alta concentração de etileno (ipm.ncsu.edu/...)/

9.5. Distúrbios Provocados pela Luz


Quando a cebola ou a batata é exposta à luz, antes ou depois da colheita, a
clorofila desenvolve-se nas camadas superficiais. A quantidade produzida deste
pigmento é função da intensidade e qualidade da luz, duração da exposição e
maturidade dos bulbos ou tubérculos. O número e a intensidade de lâmpadas
fluorescentes, nos modernos supermercados, têm aumentado a ocorrência de coloração
esverdeada desses produtos durante a comercialização. No caso da batata, a cor verde é
um problema sério, porque afeta não somente a aparência e a qualidade (Figura 1),
como também relaciona-se à formação de um composto amargo e tóxico, a solanina.

Figura 10 – Danos causados pela luz em batatas

10. TRATAMENTOS PRÉ-ARMAZENAGEM

10.1. Limpeza
Para evitar danos e a presença de agentes patogênicos e facilitar a ventilação, é
necessário que todas as partículas de terra, pedras e os restos de plantas sejam
eliminados antes do armazenamento, especialmente quando se pretende armazenar o
produto a granel (Figura 11).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 517


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

Figura 11 – Limpeza e lavagem de raízes e folhosas

10.2. Classificação por Tipo e Qualidade


O produto deve ser classificado, para enquadramento em tipos e uniformidade
dos lotes. Produtos danificados, infestados e em fase de maturação avançada
(senescência) devem ser eliminados, pois perdem água com facilidade e são facilmente
invadidos pelos agentes patogênicos presentes, convertendo-se em fonte de infecção
para os produtos sadios.

Figura 12 - Classificação por tipo (tamanho)

10.3. Tratamentos Profiláticos


A maioria das perdas pós-colheita resulta da invasão e decomposição do
produto por microrganismos. Os danos físicos, devidos ao manejo inadequado,
predispõem o produto ao ataque de agentes patológicos, dentre os quais,
ordinariamente, os fungos são os principais. O controle é possível mediante a aplicação

518 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

de fungicidas em doses não-fitotóxicas.


Os desinfetantes clorados são úteis quando aplicados na água de lavagem ou
resfriamento, mas são pouco eficientes porque o material ativo combina facilmente
com qualquer material orgânico, diminuindo rapidamente sua eficácia. Para um
resultado satisfatório, é essencial que os produtos químicos sejam rigorosamente
selecionados e aprovados, antes de serem usados após a colheita, e que sua aplicação
siga rigorosamente as instruções do fabricante e seja orientada por um técnico
especializado. É importante verificar que nem sempre a aplicação de produtos
químicos é necessária, visto que a atmosfera da câmara de resfriamento nem sempre é
propícia ao desenvolvimento de microrganismos.

10.4. Recobrimento da Superfície


Para alguns mercados, é comum aplicar recobrimentos superficiais,
especialmente cera, a certas frutas e hortaliças, como, por exemplo, pepino, tomate,
pimentão, maçã, abacate e cítricos, a fim de reduzir a perda de água e melhorar a
aparência da superfície (Figura 13). A quantidade de cera aplicada é muito pequena e
destina-se principalmente a substituir a própria cera natural do produto, que foi retirada
durante a lavagem e limpeza. Geralmente de origem vegetal, estas ceras podem servir
também como meio para incorporar fungicidas.

Figura 13 – Aplicação de cera em laranjas (www.tecnofrut.com)

10.5. Pré-resfriamento
Essencial para a maioria dos produtos perecíveis, o pré-resfriamento é a rápida
remoção do calor antes que o produto seja transportado, armazenado ou levado ao
processamento.
Uma vez na câmara a frio, o produto irradiará para o ambiente o denominado
calor de campo e, também, o calor liberado durante o processo de respiração. Assim,
enquanto o produto não atingir a temperatura ótima de armazenamento, a respiração

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 519


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

não estará controlada, a perda de água se elevará e o tempo máximo de armazenamento


será diminuído. O calor liberado pelo produto passará para o ar e daí será transferido
para o evaporador, que o eliminará no ciclo normal de refrigeração, que será abordado
mais adiante neste capítulo.
O tempo necessário para alcançar a temperatura ótima de armazenamento
(tempo de resfriamento) dependerá da capacidade total de refrigeração do equipamento
e da velocidade com que o ar passa pelo evaporador e pelo produto. O movimento
rápido de ar sobre o produto aumenta a perda de água, e é por isto que, na maioria das
câmaras refrigeradas para armazenamento prolongado, a circulação de ar é moderada,
a fim de manter a perda de peso mínima.
Como a redução da temperatura para criar estas condições será lenta, o ritmo da
respiração também será reduzido lentamente. Usualmente, os armazéns projetados para
manter um produto sob refrigeração não têm capacidade para resfriá-lo em intervalo de
tempo suficientemente seguro. A fim de superar estes problemas, vários métodos de
pré-resfriamento vêm sendo empregados para resfriar rapidamente o produto, antes que
ele seja introduzido na câmara refrigerada para armazenamento prolongado. Assim, o
pré-resfriamento para a armazenagem geralmente é uma operação separada, que requer
equipamentos especiais. Embora o principal propósito do pré-resfriamento seja reduzir
a temperatura do produto antes do armazenamento, ele é também um método efetivo
para retardar a perda de umidade e os danos aparentes. Os fatores que determinam a
taxa de pré-resfriamento são:
- temperaturas inicial e final do produto;
- temperatura e propriedades do meio refrigerante;
- acessibilidade do produtor ao meio refrigerante;
- tamanho, forma e área específica do produto;
- propriedades térmicas da fruta, como calor específico, condutividade
térmica e resistência da superfície à transferência de calor; e
- volume e velocidade do meio refrigerante.

A Tabela 9 apresenta os valores de temperatura e umidade relativa


recomendados para armazenamento a frio, o tempo máximo de armazenamento e de
pré-resfriamento e o calor específico de vários produtos.

10.5.1. Pré-resfriamento em câmaras


É o método mais antigo e convencional de pré-resfriamento de perecíveis.
Consiste na exposição do produto ao frio, em uma câmara refrigerada com distribuição
uniforme do ar. Além de requerer instalações simples, o resfriamento em câmaras
permite que o produto seja pré-resfriado e armazenado no mesmo local, evitando o
excesso de manuseio. A principal limitação deste processo é o longo período exigido
para o completo resfriamento, favorecendo, assim, a deterioração de produtos mais
sensíveis.

10.5.2. Pré-resfriamento com ar forçado


Consiste na passagem de um fluxo de ar frio diretamente sobre o produto.
Neste caso, o volume de ar determinará a velocidade do pré-resfriamento. Geralmente

520 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

o tempo consumido no processo é de 1/4 a 1/10 do tempo exigido, quando se utilizam


câmaras refrigeradas. Para evitar que o fluxo contínuo de ar provoque perda
significativa de peso do produto, o ambiente deve permanecer sempre saturado com
água.

TABELA 9 – Temperatura e umidade relativa, tempo de armazenagem, tempo de pré-


resfriamento e calor específico de alguns produtos perecíveis.

Umidade Tempo Calor


Temperatura Resfriamento
Produto Relativa de Específico
(oC) (hora)
(%) Armaz. Kcal.kg-1.oC-1
Abacate 10 85 - 90 20 dias 22 0,75
Abacaxi 10 85 - 90 20 dias 3 0,88
Banana 15 90 - 95 20 dias 12 0,80
Figo 0 85 - 90 8 dias - 0,82
Goiaba 10 90 15 dias - 0,86
Laranja 7 85 - 90 3 meses 22
Limão 15 85 - 90 4 meses 20 0,91
Manga 13 85 - 90 20 dias - 0,85
Mamão 8 85 - 90 20 dias - 0,93
Maçã 3 90 8 meses 24 0,87
Morango 0 90 - 95 7 dias - 0,92
Uva 0 90 - 95 3 meses 20 0,85
Alface 0 95 20 dias - 0,96
Alho 0 65 - 70 5 meses - 0,69
Beterraba 0 95 3 meses 24 0,90
Batata 5 90 4 meses - 0,85
Cebola 0 65 - 70 5 meses 24 0,90
Cenoura 0 90 - 95 4 meses 24 0,91
Pepino 12 90 - 95 10 dias 24 0,97
Tomate 12 85 - 90 15 dias 34 0,94
Adaptado de USDA, Handbook 66 e Dossat, R.T., 1978

10.5.3. Pré-resfriamento com água


Este processo utiliza a água fria em movimento e em contato direto com o
produto. Não ocorre remoção de umidade do produto e, em alguns casos, pode haver
restabelecimento dos tecidos ligeiramente afetados pela ausência de água.
Para garantir a eficiência do método, é recomendável que a água escorra sobre
a maior superfície possível do produto e seja tão fria quanto possível, sem danificar o
produto.
O pré-resfriamento com água (Figura 14) pode ser feito também por imersão,
mas apresenta menos eficiência do que por aspersão, devido à dificuldade em manter
um movimento adequado da água e do produto. A principal limitação da aspersão é

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 521


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

que a altura da queda da água pode causar danos, principalmente no caso de hortaliças
folhosas.

Figura 14 – Pré-resfriamento com água

10.5.4 . Pré-resfriamento a vácuo


O pré-resfriamento a vácuo consiste no uso de uma câmara de aço, ou
autoclave, hermeticamente fechada. Baseia-se no princípio segundo o qual, em
pressões reduzidas, a temperatura do ponto de ebulição da água diminui. A energia
necessária à evaporação da água é retirada do produto, fazendo com que ele resfrie. As
vantagens deste método estão relacionadas à velocidade e uniformidade do pré-
resfriamento. Entretanto, é recomendado apenas para produtos que apresentam grande
relação entre a superfície e a massa (alface, couve ou similares). Para minimizar ou
mesmo eliminar o problema da perda de peso, recomenda-se o umedecimento do
produto antes ou durante o processo de pré-resfriamento.

10.5.5. Embalagem em gelo


Este método limita-se aos produtos que requerem um resfriamento rápido e
toleram o contato direto com o gelo. Suas principais limitações são o alto custo das
embalagens à prova d'água para o transporte e a redução do peso líquido do produto
por embalagem.

10.5.6. Cobertura de gelo


Usualmente utilizado para suplementar a refrigeração mecânica dos veículos de
transporte, este método consiste em colocar uma camada de gelo finamente moído
sobre a carga.

10.5.7. Refrigeração mecânica


Os refrigeradores mecânicos são especificados em toneladas de refrigeração por
dia. Uma tonelada de refrigeração significa a quantidade de calor requerido para
derreter uma tonelada de gelo a 0oC e equivale a 72.580 kcal (303.823 kJ) ou 288.000
BTU.
A quantidade de refrigeração requerida para resfriar um produto depende do

522 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

calor específico, das temperaturas inicial e final, do calor de respiração e da quantidade


em peso do material a ser resfriado.
De acordo com o teor de água, o calor específico das frutas varia entre 0,75
kcal/kg oC para o abacate e 0,93 kcal/kg oC para o mamão. A Tabela 10 mostra a
comparação entre os métodos usados em pré-resfriamento de produtos perecíveis.

TABELA 10– Comparação entre os métodos de pré-resfriamento

Variável Sistema de resfriamento Câmara resfriamento. e


armazenagem
a água a vácuo com frio com ar
convencional úmido
Tempo 20 a 40 min 20 a 40 min 2,5 horas 2 a 8 horas
Carga simples simples especial especial
Perda de nenhuma pequena moderada mínima
peso
Perigo propagação de Congelamento congelamento nenhum
para doenças do produto do produto
o produto
Consumo alto alto moderado alto
energia

11. ARMAZENAGEM REFRIGERADA

Produtos como maçã, uva, pêra, limão, beterraba, alho, cebola, mamão, manga
e outros podem ser armazenados, sob refrigeração, por períodos prolongados (semanas
ou meses). Devido à sazonalidade da produção, a armazenagem refrigerada destes
produtos vem se tornando uma prática quase imprescindível ao sistema de distribuição
de alimentos nos grandes centros. Além disso, a comercialização
(exportação/importação) de frutas só é possível por meio de um sistema de transporte
apropriado e da refrigeração.

11.1. Princípios de Refrigeração


A refrigeração cria uma superfície fria que absorve calor por condução,
convecção ou radiação. A fonte de refrigeração convencional é um refrigerante, que
absorve calor ao passar de líquido a vapor. A amônia é o refrigerante mais comum em
grandes instalações, pois não é cara, vaporiza-se a baixas pressões e absorve grande
quantidade de calor (cerca de 334 kcal/kg sob vaporização). No entanto, poderá causar
danos ao produto em caso de vazamento, pois é corrosiva quando combinada com a
água, explosiva em certas concentrações e tóxica ao homem. Por essas razões, Freon-
12 ou Freon-22 são substitutos da amônia em instalações de pequeno e médio porte.
Esses compostos fluorcarbonados (CFC) não são tóxicos nem inflamáveis. Existe,
porém, uma preocupação mundial quanto à destruição da camada de ozônio pelo CFC,
motivando a proibição de seu uso. Na Figura 15 é apresentado o esquema simplificado

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 523


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

de um ciclo de refrigeração por compressão.


O refrigerante entra no compressor em baixa pressão como vapor
superaquecido. Deixando o compressor, entra no condensador como vapor, em pressão
elevada, onde a condensação do refrigerante ocorre pela transferência de seu calor para
a água de refrigeração ou para o meio ambiente. O refrigerante deixa então o
condensador como líquido, a uma pressão elevada. Esta pressão é reduzida ao fluir
pela válvula de expansão, resultando em evaporação instantânea de parte do líquido. O
líquido restante, agora em baixa pressão, é vaporizado no evaporador, como resultado
da transferência de calor da câmara e do produto que está sendo refrigerado. Esse
vapor aquecido retorna então para o compressor, completando o ciclo.

Figura 15 –Esquema de um sistema de refrigeração por compressão.

11.2. Componentes do Sistema de Refrigeração

O equipamento usado em armazenamento refrigerado consta de evaporador,


compressor, condensador, ventilador, válvulas e medidores. Para que o sistema
funcione correta e economicamente, todos os componentes devem ser compatíveis em
tamanho e capacidade.

a) Evaporador: há vários anos, os evaporadores ou resfriadores em


construções para armazenamento de perecíveis consistiam de uma simples serpentina
ou tubos montados nas paredes ou no teto das câmaras. O ar circulava por convecção
natural. Assim, os produtos próximos ao piso geralmente congelavam e aqueles
próximos ao teto permaneciam aquecidos. Hoje, a armazenagem depende de
ventiladores para circular o ar, uniformizar a temperatura e aumentar a taxa de
transferência de calor.
b) Condensador: é o componente no qual o calor proveniente da câmara de
armazenagem é rejeitado. Os condensadores com água fria são usuais nos grandes

524 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

sistemas. Em decorrência de sua crescente escassez, as águas de torres de resfriamento,


lagos ou condensadores evaporativos são recirculadas. Os condensadores a ar são
comumente utilizados em pequenas instalações. Alguns condensadores, semelhantes
aos evaporadores, consistem de finas serpentinas resfriadas por ar ou água. Outros,
mais complexos, são feitos de tubos duplos, onde circula água fria em um tubo e o
refrigerante no outro.

c) Compressor: em geral, em sistemas de refrigeração são empregados três


tipos de compressores: o cíclico (cilindro e pistão), o rotativo e o rotativo helicoidal. O
compressor cíclico é o mais comum. A capacidade de refrigeração de um compressor é
especificada em toneladas-padrão, ou seja, 70 kgf/cm2 quando opera à pressão na
cabeça e 9 kgf/cm2, à pressão de sucção. A capacidade do compressor baseia-se no
deslocamento do volume do pistão e na velocidade de operação e aumenta com o
funcionamento em altas pressões de sucção e baixas pressões na cabeça.
No armazenamento de perecíveis há uma época de alta e outra de baixa
demanda de refrigeração. Portanto, o compressor deve ser escolhido de modo a atender
a carga máxima de refrigeração e possuir um sistema de redução de capacidade.
Depois que o produto é refrigerado até atingir a temperatura de armazenamento, a
máxima capacidade do refrigerador torna-se desnecessária. Em algumas instalações,
vários compressores são usados e, neste caso, um menor número continuará
funcionando logo depois que a carga máxima for alcançada.

12. CONSTRUÇÃO DE CÂMARAS

Nas câmaras ou nos armazéns refrigerados, comumente as paredes são


construídas em blocos de carvão ou de concreto especial reforçados, e o piso, em
concreto comum com isolamento. Geralmente são estruturas de pavimento único, para
facilitar o uso de empilhadeiras e o manuseio das caixas. É recomendável que o piso
tenha capacidade para suportar carga mínima de 0,5 kg/cm2 e seja impermeável à
umidade, enquanto o isolamento usado deve suportar o desgaste da superfície de
concreto. Os lados aquecidos das paredes e o forro são cobertos com uma camada
contínua e impermeável, que se estende até o encontro da parede com o piso.
Geralmente, o forro do teto tem um espaço ventilado e um acabamento interior,
comumente de plástico, sob o isolante.
A camada impermeável pode compor o material isolante ou ser aplicada sobre
o lado aquecido da estrutura. Os materiais usados com esta finalidade são o asfalto, a
resina, o revestimento de polímeros e outros. Em geral, são utilizadas duas técnicas
para o isolamento em armazéns refrigerados: uma emprega material isolante com alta
permeabilidade ao vapor, como fibra de vidro e fibra de rocha; e outra emprega
isolante relativamente impermeável ao vapor de água, como o polietileno e
poliuretano. A escolha do isolante depende de seu custo, da disponibilidade de mão-
de-obra especializada e da qualidade de isolamento desejada no armazém.
O isolamento das paredes e do forro pode ser feito com painéis isolados pré-
fabricados. O isolamento dentro dos painéis deve ser completamente impermeável ao

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 525


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

vapor, e as juntas entre eles devem ser coladas. A construção em paineis apresenta
vantagens, como controle de qualidade, rapidez de construção e facilidade para
aumentar o tamanho dos armazéns.
A circulação do ar é necessária, para resfriar o produto à temperatura desejada e
mantê-lo uniforme em todos os pontos da câmara e ao longo do período de
armazenagem. Como regra geral, a circulação de ar dentro da câmara deve estar entre
25 e 30 m3/tonelada de refrigeração. Esta capacidade é prevista para uma diferença de
5,5o C entre as temperaturas do ar que sai e que entra no refrigerador, durante o
resfriamento. Durante o armazenamento propriamente dito, essa diferença deve estar
em torno de 1oC. Por questões termodinâmicas, o produto no armazenamento nunca se
torna tão frio quanto o ar da câmara. Quando uma unidade do produto armazenado
estiver totalmente envolvida pelo ar ambiente da câmara, sua temperatura estará
aproximadamente 0,5oC mais quente que o ar. Portanto, o operador deve estar atento à
temperatura do produto e nunca confiar apenas nas condições do ar.

12.1. Umidade
Para manter a umidade desejável no armazenamento a frio, é necessário operar
o evaporador o mais próximo possível da temperatura da câmara. Armazéns bem
isolados ou herméticos reduzem a carga de calor imposta ao evaporador, permitindo
que este funcione a temperaturas próximas àquelas da câmara. Isto minimiza a
condensação de umidade sobre as superfícies frias do evaporador.

12.2. Armazéns Revestidos


Um método para resolver o problema de baixa umidade em armazéns
refrigerados consiste em construir uma parede dupla. Neste tipo de armazém, o calor
conduzido através do piso, das paredes e do forro é interceptado e removido pelo
sistema de refrigeração, antes de alcançar o espaço de armazenagem. Piso, paredes e
forro agem como superfícies de resfriamento. Umidades próximas a 100% são
mantidas neste tipo de armazém, cuja construção é mais cara do que as construções
convencionais.

12.3. Ventilação
A ventilação normalmente usada para promover a movimentação do ar dentro
do armazém pode, em alguns casos, ser utilizada para remover gases indesejáveis do
ambiente, como acontece na exaustão do etileno no armazenamento de limão e do SO2,
utilizado como fumigante, no armazenamento de uva.

13. DETERMINAÇÃO DE CARGA TÉRMICA

As principais fontes de calor, que compõem os cálculos energéticos no


estabelecimento da capacidade e tamanho dos equipamentos necessários a uma câmara
frigorífica, são:
- calor que entra na câmara, por condução, através das paredes isoladas;
- calor que penetra na câmara, por radiação direta, através de vidro ou
outros materiais transparentes;

526 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

- calor do ar exterior (abertura de portas);


- calor do produto quando sua temperatura está sendo reduzida;
- calor oriundo de pessoas que ocupam o espaço refrigerado;
- calor proveniente de qualquer equipamento gerador de calor, localizado no
interior da câmara (calor adicional); e
- calor devido à respiração do produto.

13.1. Tempo de Funcionamento do Equipamento


Embora a capacidade dos equipamentos de refrigeração normalmente seja
expressa em Toneladas de Refrigeração (12.000 BTU/h ou 3.020 kcal/h = 1 tonelada
de refrigeração), a capacidade de refrigeração pode ser determinada pela razão entre a
carga total do equipamento para o período de 24 horas e o tempo de funcionamento
desejado durante as 24 horas (equação 2):

Capacidade = Carga térmica total/Tempo de funcionamento eq.2

Para possibilitar o remanejamento da carga térmica, os equipamentos de


refrigeração não devem ser projetados para funcionar continuamente. Isto porque, ao
passar pela serpentina do evaporador, normalmente o vapor d’água do ar condensa e,
quando a temperatura da serpentina chega a limites abaixo do ponto de congelamento,
as gotículas de água congelam em torno da serpentina. Com o decorrer do tempo de
funcionamento, esse congelamento acumula-se e diminui a eficiência do sistema de
refrigeração, exigindo descongelamento do evaporador. Se a temperatura da câmara
estiver acima de 1oC, esse descongelamento pode ter ciclo livre, ou seja, o próprio
calor da câmara descongela a água do evaporador, estando este desativado. Entretanto,
quando a temperatura da câmara está abaixo de 1oC, o ciclo livre é dificultado,
podendo comprometer o produto armazenado. Neste caso, emprega-se o
descongelamento suplementar, ou seja, a superfície da serpentina é aquecida
artificialmente com resistência elétrica, água ou com o ar quente do sistema de
refrigeração do compressor. Independentemente do método usado, o degelo requer
determinado tempo, em que o efeito da refrigeração cessa, possibilitando o
descongelamento da serpentina. A água proveniente do degelo é drenada do
evaporador pelas tubulações existentes em toda a câmara frigorífica.
No descongelamento em ciclo livre, o tempo de funcionamento máximo dos
evaporadores, durante as 24 horas, é de 16 horas. Para o descongelamento com
aquecimento artificial, o tempo de funcionamento de cada evaporador varia entre 18 e
20 horas por dia.

13.2. Cálculo da Carga Térmica


Para simplificação dos cálculos, a carga térmica total de uma unidade de
refrigeração será, aqui, dividida em várias cargas individuais, de acordo com cada
projeto, conforme estabelecido anteriormente. As principais fontes de calor que
comporão a carga térmica total de uma unidade de refrigeração, para armazenagem de
produtos agrícolas de rápida perecibilidade, são apresentadas mais detalhadamente a
seguir.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 527


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

a) Carga térmica proveniente das paredes: existe sempre um fluxo de calor


direcionado para o interior das câmaras frigoríficas, provocado pelo gradiente de
temperatura entre o interior e o exterior do ambiente refrigerado, que é amenizado pelo
material isolante de revestimento das paredes. Mesmo na presença de uma camada
isolante adequada, o calor emanado das paredes representa a maior parte da carga
térmica total de uma unidade frigorífica.

b) Carga térmica devido a mudanças de ar: quando o ar exterior penetra no


interior das câmaras frigoríficas pela abertura de portas e por fendas existentes, o calor
desse ar deve ser removido, para que as condições internas de temperatura e umidade
relativa se mantenham próximas do ideal. Esse calor removido é denominado carga
térmica de troca de ar, que, muitas vezes, pode ocorrer por meio de ventilação, visando
a outros objetivos. A carga de ventilação refere-se às cargas térmicas oriundas do ar
exterior e da ventilação necessária à renovação do ar ambiente, em conformidade com
as exigências do produto armazenado.
A carga de infiltração, que deve ser reduzida ao mínimo, refere-se às cargas
térmicas oriundas do ar que penetra através das frestas e da abertura de portas no
ambiente refrigerado. Ainda que a dispersão do ar não tenha efeito significativo sobre
a carga de refrigeração, o vapor de água que condensa nas fendas e freqüentemente se
transforma em gelo é indesejável e deve ser evitado. Para reduzir a dispersão do ar,
além de portas e juntas bem alinhadas e ajustadas e do fechamento cuidadoso de outras
aberturas nas paredes, costuma-se aquecer o perímetro da porta com uma resistência
elétrica, mantendo sua temperatura maior que a temperatura do ar exterior, evitando-se
assim a condensação do ar e formação de gelo.

c) Carga térmica devida ao produto: a carga devida ao produto é formada


pelo calor correspondente à diferença entre a temperatura do produto, antes de entrar
para o armazenamento, e aquela considerada ideal para maior tempo de estocagem. No
caso de produtos congelados, o calor latente removido é considerado parte da carga
devida ao produto. No caso de produtos agrícolas, o calor de respiração ou calor vital
deve, obrigatoriamente, ser computado para o cálculo da carga térmica total. Em
alguns casos, a carga devida ao produto é insignificante; porém, em certas
circunstâncias, ela representa quase a totalidade da carga térmica do sistema. No caso
em que o produto é pré-resfriado à temperatura de armazenamento, antes de ser
colocado na câmara de armazenamento, somente a carga devida à respiração do
produto, se for o caso, deve ser considerada. Caso contrário, a quantidade de calor a ser
removida do produto para reduzir sua temperatura, obrigatoriamente, deverá ser
computada como parte da carga total.

d) Cargas adicionais: embora relativamente pequenas, as cargas adicionais ou


suplementares referem-se ao calor gerado por pessoas trabalhando internamente na
câmara, lâmpadas, motores elétricos de ventilação e quaisquer outros equipamentos
usados dentro do espaço refrigerado.

528 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

13.3. Carga de Calor Cedido pelas Paredes


O fluxo de calor através das paredes da câmara frigorífica pode ser estimado
pela seguinte equação:

Q = A.U .∆T eq.3

em que
Q = fluxo de calor através da parede, kcal/hora;
A = área externa das paredes, m2;
∆T = diferencial de temperatura através das paredes, oC; e
U = coeficiente global de transmissão de calor, kcal/h.m2.oC.

O coeficiente global de transmissão de calor, U, é a medida do fluxo de calor


que passará através de uma unidade de área de paredes, teto e piso que separam os
ambientes interno e externo da câmara de refrigeração, para cada grau de diferença de
temperatura. O valor de U deve ser o menor possível. Para isto, os materiais
empregados na construção das câmaras frigoríficas devem ser bons isolantes térmicos
e apresentar um custo que não inviabilize o projeto.

13.3.1. Determinação do fator U


O coeficiente global de transmissão de calor, U, pode ser determinado pela
seguinte equação:

1 x x k 1
U =1 + + + ... + + eq.4
f 1 k1 k 2 kn fo

em que
f1 = coeficiente de convecção da parede interna, do piso ou teto;
fo = coeficiente de convecção da parede externa, do piso ou teto;
x = espessura de cada componente da parede; e
ki = condutividade térmica de cada componente da parede.

As condutâncias das superfícies, para velocidades médias do vento, são dadas


na Tabela 11.

13.3.2. Diferença de temperatura sobre as paredes de uma câmara


A temperatura interna de projeto de uma câmara frigorífica depende,
basicamente, do tipo de produto e do tempo de armazenagem (Tabela 9). A
temperatura externa de projeto depende da localização do frigorífico.
Para as paredes e os tetos localizados dentro de uma construção, as
temperaturas de projeto externas às paredes frias são tomadas como sendo as
temperaturas internas da construção. Quando as paredes de armazenagem são expostas
ao ar atmosférico, a temperatura externa de projeto é a temperatura média da região,
incluindo uma margem para variações normais durante um período de 24 horas.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 529


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

13.3.2.1- Diferença de temperatura entre tetos e pisos


O tratamento para tetos é o mesmo dado às paredes. O mesmo tratamento pode
ser dado ao piso quando este não está fixado diretamente sobre o solo. Quando o piso
da câmara frigorífica é fixado diretamente numa prancha sobre o solo, alguma
precaução deve ser tomada para evitar a saída e o eventual congelamento de água
subterrânea sob o piso da câmara. Dutos de ar quente, resistências elétricas, serpentinas
para circulação de salmoura ou soluções anticongelantes são artifícios empregados
para manter a temperatura do solo acima do ponto de congelamento.

TABELA 11 – Condutividade térmica dos principais materiais usados na construção


de câmaras para armazenagem a frio

Material Condutividade Condutância


térmica (k) térmica (C)
(kcal.m-2 cm-1 h-1oC-1) (kcal.m-2 h-1oC-1)
Tijolo comum 9,6
Argamassa 9,6
Concreto (agregado de areia) 23,1
Bloco de concreto
Agregado de areia - 10 cm 6,8
Agregado de areia - 20 cm 4,4
Lajota (argila) vazada - 10 cm 4,4
Pinho 3,9
Madeira compensada - 1,3 cm 7,8
Cobertura de rolo de alfalto 12,5
Manta de fibra de vidro 0,52
Placa de cortiça 0,58
Lã mineral 0,52
Ar parado 8,1
Ar em movimento (12 km/h) 19,5
Ar em movimento (24 km/h) 29,3

13.3.2.2- Efeitos de radiação solar


A radiação solar pode provocar acréscimos na temperatura da parte externa das
paredes e dos tetos das câmaras frigoríficas, superiores à temperatura do ar ambiente.
A Tabela 12 mostra o decréscimo em graus que deve ser adicionado à temperatura do
ar exterior, em função do posicionamento geográfico das paredes.

a) Cálculo da carga de troca de ar


Quando a quantidade de ar que entra no ambiente refrigerado é conhecida, a
carga de troca de ar pode ser perfeitamente determinada pela seguinte equação:

cp = m(ho − hi ) eq.5
em que

530 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças
cp = carga de troca de ar, kcal/dia;
m = massa de ar que entra na câmara, kg/dia;
ho = entalpia do ar externo, kcal/kg; e
hi = entalpia do ar interno kcal/kg.

Como é difícil detectar a quantidade de ar que vai penetrar num espaço


refrigerado durante 24 horas, a Tabela 13 mostra o número aproximado de trocas de ar
durante 24 horas, para vários tamanhos de câmaras frigoríficas (os valores são dados
para uso médio).

USO MÉDIO: incluem instalações não sujeitas a temperaturas extremas,


quando a quantidade de produto guardado no refrigerador é normal. Exemplo:
refrigeradores de confeitarias e clubes.

USO PESADO: inclui instalações como aquelas de mercados movimentados,


cozinhas de hotéis e restaurantes, quando períodos de grande movimento estabelecem
cargas pesadas sobre os refrigeradores e quando grandes quantidades de alimentos
quentes são armazenadas.

TABELA 12 – Tolerância para a radiação solar (oC a serem acrescidos à diferença


normal de temperatura)

Tipo de Superfície Paredes Telhado Plano


iluminadas
Negras ou muito escuras 4 11
Meio-tom ou claras 3 8
Brancas 2 5

TABELA 13 – Média de trocas de ar em 24 horas, para câmaras de armazenamento,


devido a abertura de portas e infiltrações de ar

Volume Trocas de ar por 24 horas Trocas de ar por 24 horas


(m3)
Acima de 0oC Abaixo de 0oC
5 40 30
15 24 19
30 16 12
100 9 6
200 6 4
450 4 3

b) Cálculo da carga de produto e embalagem


Todo produto colocado em câmara frigorífica cuja temperatura está acima da
temperatura de armazenagem cederá calor ao espaço refrigerado, até atingir o

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 531


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças
equilíbrio térmico. O calor oriundo do produto é calculado pela seguinte equação:

rp = m.c.∆T .24horas /dia eq.6

em que
rp = quantidade de calor, kcal/dia;
m = massa do produto, kg/h;
c = calor específico do produto acima do ponto de
congelamento, kcal/kg.oC; e
∆T = diferencial de temperatura entre produto e câmara,
o
C.
A equação 7 fornece a quantidade de calor retirada do produto em 24 horas e
pode ser assim expressa:

m.c.∆T .24horas
rp = eq.7
Trd

em que
Trd = tempo de resfriamento desejado, horas.

Velocidade de resfriamento
No caso de câmaras de pré-resfriamento, a carga térmica é mais elevada no
início do resfriamento. Em conseqüência da grande diferença de temperatura entre o
produto e o ar de refrigeração, a velocidade de resfriamento e a carga térmica devida
ao produto tendem a se concentrar na fase inicial do período de resfriamento. Como a
seleção do equipamento baseia-se na hipótese de que a carga do produto é distribuída
igualmente em todo o período de resfriamento, o equipamento selecionado não terá
capacidade térmica para retirar o calor durante os estágios iniciais de resfriamento,
quando a carga térmica devida ao produto estará no pico (calor de campo e calor de
respiração). Para compensar a distribuição desigual da carga térmica, um fator de
regime de resfriamento equivalente a 0,70 para frutas e 0,85 para hortaliças deverá ser
introduzido nos cálculos. Como resultado, o equipamento frigorífico terá capacidade
maior e suficiente para manter a velocidade de resfriamento constante, mesmo no
início do resfriamento.
A equação para a carga térmica devida ao produto, quando se usa o fator de
resfriamento, é:
m.c.∆T .24horas
rp = eq.8
tr. fr
em que
tr = tempo de resfriamento, horas; e
fr = fator de regime, adimensional.
Quando as câmaras já recebem os produtos pré-resfriados, não é necessário
usar o referido fator. No caso em que o produto deve ser congelado e armazenado a
temperaturas abaixo de 0oC, à carga térmica dos dois períodos de resfriamento (acima

532 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças
de 0oC e abaixo de 0oC) deve ser acrescentada a carga devida ao congelamento (calor
latente de solidificação). A carga do produto resultante apenas do congelamento é dada
pela equação 9:

Q = m.hif eq.9

em que
m = massa de produto, kg; e
hif = calor latente de solidificação do produto, kcal/kg.

Calor de respiração
Como explicado anteriormente, as frutas e hortaliças continuam a experimentar
mudanças durante o armazenamento. A mais importante dessas mudanças é produzida
pela respiração, quando esses produtos são armazenados a uma temperatura acima da
temperatura de congelamento. A Tabela 1 fornece o calor de respiração de alguns
produtos, que deverá ser incluído na carga de calor devida ao produto.
Embalagens
Quando um produto é armazenado em recipientes, como o leite em pacote ou
garrafa, ovos em engradados e frutas em cestas ou caixas, deve-se computar o calor
oriundo dos materiais para diminuir sua temperatura de armazenagem.

c) Cálculo de carga mista


As luzes contribuem com 0,86 kcal/Watt = 3,61 kJ/Watt. Os motores
contribuem com carga térmica equivalente a 745 kcal/hora.hp, e as pessoas
trabalhando, com aproximadamente 239 kcal/hora.

d) Fator de segurança
Quando a carga térmica é estimada por métodos precisos, torna-se
desnecessário o emprego do fator de segurança; porém, quando ela é calculada por
métodos rápidos, comumente adiciona-se 5 a 10% da carga total como fator de
segurança.

13.4. Exemplo de Aplicação


O exemplo a seguir e as definições apresentadas anteriormente mostram os
fatores a serem considerados na determinação da carga de refrigeração para uma
câmara de armazenamento a frio, para produtos agrícolas.

Produto: Pêra (temperatura de armazenamento -1,0oC)

- Dimensões da câmara 15,2 x 15,2 x 4,6 (m)


- Superfície externa
(incluindo o piso) 743 (m2)
- Dimensões do interior da câmara 14,9 x 14,9 x 4,3 (m)
- Volume interno da câmara 955 (m3)
- Isolamento de 76,2 mm K = 0,0308 kcal/m2.mm.oC

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 533


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças
com poliuretano U = 0,262 kcal/hr.m2.oC
- Condições de colheita 29,4oC e 50% UR
- Temperatura do produto 21oC
- condições de armazenamento 22oC e 70% UR
- Capacidade da câmara 13.200 caixas com 22,65 kg/caixa
- Capacidade total 298.980 kg de pêra
Peso da caixa 2,72 kg => peso total 35.904 kg
- Fluxo de carga 600 caixas ou 13.590 kg/dia
22 dias para encher a câmara
- Taxa de resfriamento de 21 para 4,5oC no primeiro dia e de 4,5
para -1oC no segundo dia
- Troca de ar devido à abertura da 6 trocas/dia
porta durante a refrigeração
- Troca de ar devido à abertura da 1,8 trocas/dia
porta durante o armazenamento
- Calor específico da pêra 0,861 kcal/kg.oC
- Calor específico da caixa 0,500 kcal/kg.oC
- de calor p/ diminuir a temperatura
do ar de 29,4oC e 50% UR para –1oC
17,81 kcal/m3
- Carga de calor p/ diminuir a
temperatura do ar de 7,2oC e 70%
UR para –1oC 3,65 kcal/m3
- Cargas diversas na câmara
iluminação 2400 W-hr/hr
ventilador 3 HP = 2235 W
2 carregadeiras (8 horas) 1102 kcal/hr.carregadeira
2 homens (8 horas) 239 kcal/hr.homem

Solução:

A) Carga de refrigeração durante o resfriamento e enchimento da câmara


(kcal/dia)

Diferença de temperatura: ∆T= 29,4-(-1,0) 30,4oC

1 - Carga de transmissão de calor na câmara:


cc = (coef. de transmissão).(area). (∆t).(horas)
cc = (0,262 kcal/m2 .oC.h).(743 m2 ).(30,4 oC). (24 h/dia)
Carga de transmissão de calor na câmara 142.028 kcal/dia

2 - Carga de troca de ar devido à abertura de porta:


cp = (carga de calor).(volume).(troca de ar)
cp = (17,81 kcal/m3), (955 m3).(6 trocas /dia)
Carga devida à abertura da porta 102.051 kcal/dia

534 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças

3 - Carga devida ao produto:


Resfriamento do produto e das caixas.
Primeiro dia:
rp = (peso do produto).(calor específico). (∆T=21- 4,5 oC)
rp = (13.590 kg/dia).(0,861 kcal/kg.oC).(16,5 oC)
Resfriamento do produto 193.066 kcal/dia
o
rc = (peso da caixa).(calor específico da caixa).( ∆T=21- 4,5 C)
rc =(1.632 kg/dia).(0,500 kcal/kgoC).(16,5oC)
Resfriamento das caixas 13.464 kcal/dia

Segundo dia:
rp = (peso do produto).(calor específico). (∆T = (4,5-(-1,0) oC)
rp = (13.590 kg/dia).(0,861 kcal/kg.oC).(5,5 oC)
Resfriamento do produto 64.355 kcal/dia
rc = (peso da caixa).(calor específico da caixa).( ∆T = (4,5-(-1,0) oC)
rc = (1.632 kg /dia).(0,500 kcal /kg oC).(5,5oC)
Resfriamento das caixas 4.488 kcal/dia

CARGA TOTAL DE RESFRIAMENTO 275.370 kcal/dia

B) Calor de respiração durante o resfriamento (calor vital):

Primeiro dia: temperatura média = (21+4,5)/2 =12,8oC


taxa de respiração≅1000 kcal/t.dia (Tabela 1)
crr = (taxa de respiração).(peso do produto)
crr = (1000 (kcal/t.dia).(13,59 t.)
Calor de respiração 13.590 kcal/dia

Segundo dia: temperatura média = (4,5+(-1))=1,7oC


taxa de respiração≅126 kcal/t.dia (Tabela 1)
crr =126(kcal/t.dia).(1 3,59 t).
Calor de respiração 1.712 kcal/dia

Acumulado na câmara antes de completar o resfriamento:


peso total de frutas (298.980 kg)
2 dias de carregamento (2x13.590 kg/dia =27.180 kg)
298.980 kg - 27180 kg = 271.800 kg ou 272 t.
taxa de respiração da pêra a -1,0 oC =100 kcal/t.dia
crr = (100 kcal/t.dia).(272 t.)
Acumulado antes do resfriamento 27.200 kcal/dia

CARGA TOTAL DE RESPIRAÇÃO (máxima) 42.502 kcal/dia

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 535


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças

4 - Cargas de calor diversas na câmara


iluminação = (2.400 W-h/h).(0,862 kcal/W-h).(8 h/dia)
Iluminação 16.550 kcal/dia
ventilador = (3 hp).(745 kcal/h.hp).(24h/dia)
Ventilador 53.640 kcal/dia
carregadeira = (2 ).(1.102 kcal/h).(8 h/dia)
Carregadeira 17.632 kcal/dia
homens trabalhando = (2 ).(239 kcal).(8h)
Homens trabalhando 3.824 kcal/dia

CARGA TOTAL DE DIVERSOS 91.646 kcal/dia

Carga total de calor durante o resfriamento:


-carga de transmissão de calor da câmara 142.028 kcal/dia
- carga devida à abertura de porta 102.051 kcal/dia
- carga total de resfriamento 275.370 kcal/dia
- carga total de respiração 42.502 kcal/dia
- carga total de diversos 91.646 kcal/dia

TOTAL 653.597 kcal/dia


+10% adicional de segurança 65.359 kcal/dia
TOTAL DE REFRIGERAÇÃO REQUERIDA 718.956 kcal/dia

Assumindo que o equipamento de refrigeração irá operar 18 horas por dia:


(718.956 kcal/dia)/(18 h/dia) = 39.942 kcal/h
Uma tonelada de refrigeração absorve 3.024 kcal/h (12.000 b.t.u./h)
(39.942 kcal/h)/(3.024 kcal/h/t. de refrigeração) =>13,2 toneladas de
refrigeração.
As 13,2 t de refrigeração = capacidade máxima.

C) Carga durante a operação normal de estocagem:


média do ambiente externo: 22oC e 70% UR
temperatura de estocagem: -1oC
∆t = 22 - (-1) = 23oC

1 - Transmissão de calor da câmara:


cc = (0,262 kcal).(743 m2).(23oC).(24 h/dia)/ (m2 .oC.h)
Carga de transmissão de calor da câmara 107.455 kcal/dia

2 - Carga de troca de ar devido à abertura de porta:


cp = (3,65 kcal).(951 m3).(1,8 troca/m3.dia)
Carga devida à abertura de porta 6.248 kcal/dia

3 - Carga devida ao produto (respiração):

536 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e hortaliças
taxa de respiração da pêra a -1,0 oC =>100 kcal/t/dia
crr = (100 kcal / t.dia).( 299 t)
Carga total de respiração 29.898 kcal/dia

4 - Cargas de calor diversas na câmara:


iluminação = (2.400 W-h/h).(0 ,862 kcal/W-h).(4 h/dia)
Iluminação 8.275 kcal/dia

ventilador =3 hp (745 kcal/h).(24 h/dia)


Ventilador 53.640 kcal/dia
homens trabalhando = (239 kcal/hom./h).(4 h/dia)
Homens trabalhando 956 kcal/dia

CARGA TOTAL DE DIVERSOS 62.871 kcal/dia

Carga total durante estocagem:


- carga de transmissão de calor da câmara 107.455 kcal/dia
- carga devida à abertura de porta 6.248 kcal/dia
- carga total de respiração 29.898 kcal/dia
- carga total de diversos 62.871 kcal/dia

TOTAL 206.472 kcal/dia


+10 % adicional de segurança 20.647 kcal/dia

REFRIGERAÇÃO REQUERIDA 227.119 kcal/dia

Assumindo que o equipamento de refrigeração irá operar 18 horas por dia:


(227.119 kcal / dia)/(18 h/dia) = 12.617 kcal/h
Uma tonelada de refrigeração absorve 3.024 kcal/h
(12.617 kcal / h)/(3.024 kcal/h) = 4,2 toneladas de refrigeração.

A capacidade operacional do equipamento de refrigeração em condições


normais de estocagem é de 4,2 toneladas de refrigeração. Assim, deve-se adotar um
sistema que atenda 13,2 t de refrigeração nos dias de carregamento e 4,2 t de
refrigeração para a estocagem. Por garantia, é recomendável adotar duas unidades que,
somadas, forneçam 15 t de refrigeração, isto é, uma de 10 que só funcionará durante o
carregamento e outra de 5 para os dois períodos.

14. LITERATURA CONSULTADA

1. BRASIL. Frutas brasileiras - Exportação. Ministério da Agricultura.


CODEVASF. Brasília. 1989. 352 p.
2. DOSSAT, R.J. Manual de refrigeração. Vol 2. Hemus Livraria Ed. Ltda. São

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 537


Capítulo 18 Armazenamento de Frutas e Hortaliças
Paulo. 1978. 215 - 449 p.
3. FAO. Manual para el mejoramiento del manejo poscosecha de frutas y
hortalizas - Parte II. Serie: Tecnologia Poscocheta 7. Santiago, Chile, 1989.
83 p.
4. ITAL. Frutas Tropicais 3 - Banana. Secretaria da Agricultura. São Paulo,
Campinas, 1978. 197p.
5. KADER, A.A. & KE, D. Controlled atmospheres. In: PAULL, R.E. &
ARMSTRONG, J.W. ed. Insect pests and fresh horticultural products:
treatments and responses. Wallingford, CAB International, 1994, p.223-
236.
6. RYALL, A. L. & PENTZER, W. T. Handling, transportation and storage of
fruits and vegetables. Westport, Connecticut. The AVI Publishing
Company, INC. 1974.
7. UDELL, M. Factors and equipment for the design or the refrigeration system.
In: THE POTATO STORAGE DESIGN, CONSTRUCTION, HANDLING
AND ENVIRONMENTAL CONTROL. Michigan, B. F. CARGIL, 1976.
466 p. p.335 - 350.
8. USDA. The commercial storage of fruits, vegetables, and forest and nursery
stocks. Handbook 66, Washington, 1968. 94p.
9. WILSON, E.B. Refrigeration requirements for the early harvest and the
extended season. In: THE POTATO STORAGE DESIGN,
CONSTRUCTION, HANDLING AND ENVIRONMENTAL CONTROL.
Michigan B.F. CARGIL, 1976. 466p. p. 327 - 334.
10. WILLS, R.; MCGLASSON, R.; GRAHAM, D & JOYCE, D. Post harvest – In:
introduction to the physiology and handling of fruit, vegetables &
ornamentals. CAB International, Wallingford.1998, 262p.

538 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

Capítulo

19
SEGURANÇA DE PRODUTOS NA PÓS-COLHEITA

Consuelo Domenici Roberto


Juarez de Sousa e Silva
Roberta Martins Nogueira

1. INTRODUÇÃO

O Brasil está entre os principais produtores e exportadores de alimentos para a


população mundial. Em 2005, o agronegócio foi responsável por 36,9% das
exportações, 27,9% do PIB e 37% dos empregos gerados no país. O acesso aos
mercados de gêneros alimentícios, no entanto, está diretamente relacionado à
capacidade de adequar a produção e elaboração de alimentos às exigências do mercado
interno e externo quanto à segurança e qualidade dos produtos e às questões ambientais
e trabalhistas.
Em termos de segurança, o conceito de alimentos seguros está relacionado à
disponibilidade de alimentos livres de qualquer tipo de agente químico, físico ou
microbiológico e de substâncias ou materiais estranhos que poderiam estar presentes no
produto no momento do consumo e quando ingeridos causar danos à saúde do
consumidor. Compreende, principalmente, o atendimento às exigências sanitárias
aplicadas à produção e elaboração de alimentos, visando à prevenção da presença destes
perigos e os graves efeitos causados pela contaminação de alimentos e produtos
agrícolas tanto em termos de saúde pública quanto em termos econômicos.
Em razão do grande volume de produtos agrícolas produzidos nos países em
desenvolvimento, como o Brasil, e exportados para os demais países, as exigências pela
qualidade e segurança destes produtos são rígidas. Na produção agrícola, a
contaminação de grãos e derivados por microrganismos, a presença de micotoxinas e o
uso excessivo de defensivos agrícolas são preocupações constantes de instituições
governamentais nacionais e internacionais voltadas à saúde pública, por serem fatores
responsáveis por impactos negativos no comércio local e internacional de alimentos e na
competitividade e confiabilidade dos produtos no mercado.
Em geral, estudos detalhados são conduzidos por agências governamentais em
parceria com instituições públicas e profissionais capacitados para identificar os
possíveis perigos associados ao consumo dos alimentos. Baseados em informações

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 539


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

sobre os fatores relacionados à contaminação de determinado produto por


microrganismos ou outros agentes tóxicos, programas de segurança dos alimentos,
como Boas Práticas Agrícolas (BPA), Boas Práticas de Fabricação (BPF),
Procedimentos Operacionais Padrões de Higienização (POPH) e o sistema de Análise
de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) são desenvolvidos e estabelecidos
procedimentos de controle e medidas preventivas, buscando garantir a inocuidade dos
alimentos.

2. PRODUÇÃO PRIMÁRIA

A produção primária inclui as etapas da cadeia de alimentos relacionadas à


colheita e processamento pós-colheita de produtos agrícolas, o abate, ordenha e pesca e
deve ser realizada de forma a garantir que o alimento seja seguro e adequado para o uso
a que se destina. Neste caso, os produtores devem buscar a adoção, dentro do possível,
de medidas para:
• Controlar a contaminação procedente do ar, do solo, da água, da dieta dos
animais, dos fertilizantes (inclusive naturais), pesticidas, drogas veterinárias ou
de outros agentes usados na produção primária;
• Controlar o estado de saúde das plantas e animais para que não represente uma
ameaça à saúde humana por meio do consumo de alimentos ou que afete de
forma adversa a adequação do produto;
• Proteger os insumos alimentares da contaminação fecal e de outras
contaminações e em especial, deve-se ter cuidado no manejo de resíduos e no
armazenamento de substâncias perigosas.
Os possíveis efeitos das atividades da produção primária sobre a segurança e a
adequação dos processos subseqüentes na cadeia produtiva deverão ser levados em
consideração, identificando-se todos os pontos específicos dessas atividades nos quais
possam existir riscos elevados de contaminação de alimentos e adotando medidas
específicas para reduzir ao mínimo qualquer risco.

2.1. Produção de Grãos e Derivados: Micotoxinas


Durante a maturação, colheita e armazenamento, os grãos são contaminados com
uma ampla variedade de microrganismos, que sob ambientes favoráveis, se
desenvolvem e os colonizam. A proliferação desses microrganismos é um dos fatores
mais importantes, causadores de danos em produtos, principalmente em grãos
armazenados, sendo que a microflora dos grãos é constituída por fungos microscópicos
e bactérias, naturalmente presentes desde a fase de campo.
Dentre os fatores mais importantes que levam à proliferação dos fungos estão a
atividade de água, a composição da atmosfera intergranular, temperatura, umidade
relativa, teor de água do produto, a espécie do fungo contaminante, competição
microbiana e o substrato (Tabelas 1 e 2). Os procedimentos empregados para o controle
dos fatores intrínsecos, relacionados ao substrato, e fatores extrínsecos, que se referem
às condições que envolvem este substrato são relevantes para prevenir a contaminação
microbiana destes produtos, constituindo um dos pontos importantes para a garantia da
inocuidade de grãos e cereais.

540 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

TABELA 1 - Condições críticas para crescimento de fungos durante o armazenamento


de grãos e cereais entre 25ºC e 27 ºC

Microrganismos Umidade relativa de Umidade (% b.u.)


equilíbrio (%)
Aspergillus halophilieus 68 12-14
A. restrictus 70 13-15
A. glaucus 73 13-15
A. candidus, A. ochraceus 80 14-16
A. flavus¸ A. parasiticus 82 15-18
Penicillium spp. 80-90 15-18
FONTE: BAKKER - ARKEMA (1999)

TABELA 2 - Temperaturas mínimas, máximas e ótimas para crescimento de fungos


comuns no armazenamento de grãos e cereais

Espécies Mínima (ºC) Ótima (ºC) Máxima (ºC)


Aspergillus restrictus 5 – 10 30 – 35 40- 45
Aspergillus glaucus 0–5 30 – 35 40- 45
Aspergillus candidum 10 – 15 45 – 50 50 – 55
Aspergilu flavus 10 – 15 30 – 35 45 – 50
Penicillium spp. -5 - 0 20- 25 35 - 40
FONTE: SCUSSEL (1998)

Além da deterioração e perda da qualidade, causadas pela presença de


microrganismos nestes produtos, as micotoxinas, produzidas por fungos toxigênicos
geralmente durante as operações de pós-colheita para armazenamento seguro são
indesejáveis (Tabela 3).

TABELA 3 - Fungos e micotoxinas de grande importância mundial

Fungos Micotoxinas
Aspergillus parasiticus Aflatoxinas B1, B2, G1, G2
Aspergillus flavus Aflatoxinas B1, B2
Fusarium sporotrichioides Toxina T-2
Fusarium graminearum Deoxinivalenol (ou Nivalenol) / Zearalenona
Fusarium moniliforme (F. verticillioides) Fumonisina B1
Penicillium verrucosum Ocratoxina A
Aspergillus ochraceus Ocratoxina A
Fonte: FAO, 2001

As micotoxinas são metabólitos fúngicos que, quando ingeridos, inalados ou


absorvidos pela pele, causam baixa imunidade ou morte em humanos e animais. Alguns
estudos demonstraram que tais substâncias podem ser neurotóxicas, hepatotóxicas,
teratogênicas, imunossupressoras e carcinogênicas, sendo que a exposição a essas
substâncias pode gerar toxicidade crônica ou aguda, levando à morte ou resultando em
efeitos nocivos sobre os sistemas nervoso central, cardiovascular, pulmonar e sobre o
trato digestivo de humanos e animais. A possibilidade de algumas micotoxinas de

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 541


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

comprometer a resposta imune e, conseqüentemente, de reduzir a resistência do


indivíduo a doenças infecciosas, é considerada o efeito mais importante destas
substâncias.
A aplicação de programas baseados nas recomendações de BPA, POPH, BPF e
do sistema APPCC têm sido considerada medida eficiente para o controle dos perigos
identificados na produção de grãos, cereais e derivados.

3. PROGRAMAS PRÉ-REQUISISTOS

Os princípios básicos de higiene dos alimentos devem ser aplicados desde a


produção primária de forma a reduzir a probabilidade de introdução de um perigo que
possa afetar a segurança do alimento ou a sua adequação ao consumo em etapas
posteriores da cadeia de alimentos.
O Codex Alimentarius (do latim Lei ou Código dos Alimentos) é um programa
conjunto da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e a
Organização Mundial da Saúde (OMS), criado em 1962, no qual, uma das finalidades é
proteger a saúde da população mundial. Suas normas alimentares são
internacionalmente reconhecidas e dirigidas a governos e à cadeia de alimentos
(incluindo desde os produtores primários até o consumidor final), sendo apresentadas
sob a forma de códigos de práticas, diretrizes e outras medidas recomendadas. Esta
coletânea de normas e padrões alimentares é a base dos programas de pré-requisitos.
As Boas Práticas Agrícolas se referem a um conjunto de recomendações que
inclui princípios de higiene pessoal, de equipamentos, utensílios e instalações, desde a
colheita ao armazenamento e transporte do produto; itens para controle de pragas,
aplicação de adubos, fertilizantes e defensivos agrícolas, de forma a garantir a
inocuidade dos produtos do ponto de vista químico, físico e microbiológico. São
aplicadas na produção primária em produtos de origem animal e vegetal, como grãos,
cereais, frutas, hortaliças, leite, carne, entre outros. Além de contribuir para a segurança
destes produtos, os programas de BPA contribuem também para uma produção
sustentável.
Os Procedimentos Operacionais Padrões de Higienização são planos elaborados
para prevenir a contaminação direta, indireta ou adulterações nos produtos, envolvendo
itens referentes à qualidade da água; condições de limpeza de equipamentos, utensílios e
materiais em geral que entrem em contato com o produto; prevenção de contaminação
cruzada; proteção dos alimentos contra contaminação por lubrificantes, combustíveis,
defensivos agrícolas, agentes de limpeza e outras substâncias químicas e contaminantes
físicos e biológicos; armazenamento de produtos químicos; controle das condições de
saúde dos trabalhadores; higiene pessoal; e de instalações sanitárias e controle de
pragas.
Os princípios das Boas Práticas de Fabricação são aplicados nas indústrias de
alimentos de forma a assegurar que todos envolvidos na elaboração e processamento
dos alimentos tenham conhecimento, comprometimento e conscientização sobre os
princípios básicos de higiene e controles aplicados aos processos e produtos, incluindo
elementos previamente descritos que controlam as condições operacionais dentro da
fábrica, favoráveis à produção de um alimento seguro. Assim, itens para controle geral

542 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

de higiene e qualidade; controle de pragas; controle químico; treinamento; recepção de


matéria-prima, ingredientes e materiais em geral; rastreabilidade; equipamentos; e
estruturas físicas das plantas de processamento de alimentos, fazem parte deste
programa.
Os programas de pré-requisitos devidamente implantados são a base sobre a qual
um eficiente plano APPCC deve ser construído para garantia da segurança dos
alimentos em conformidade com as exigências sanitárias quanto à produção, elaboração
e processamento de alimentos seguros.

3.1. Boas Práticas Agrícolas na Produção de Produtos Agrícolas


De uma maneira geral, práticas durante o cultivo, a colheita e pós-colheita de
grãos e cereais são recomendadas por órgãos diretamente ligados à saúde pública de
vários países. Os códigos de práticas, destinados principalmente à prevenção do
crescimento fúngico e produção de micotoxinas em grãos e cereais, são aplicados desde
o cultivo e são específicos para cada tipo de cultura. No cultivo, são levadas em
consideração as condições climáticas bem como as práticas agronômicas adotadas pelo
produtor para cada cultura, o tipo de solo e os tratos culturais da lavoura.
Tendo como referência os princípios gerais elaborados pelo Codex Alimentarius
para a prevenção de micotoxinas da colheita ao transporte desses produtos, as seguintes
práticas podem ser consideradas:

• Na colheita:
ƒ Planejar corretamente o tempo de execução das operações de colheita e
pós-colheita, de acordo com os equipamentos e métodos disponíveis,
para garantir o menor tempo possível entre a colheita e secagem;
ƒ Colher grãos e cereais no estádio de maturação adequado de acordo com
as características de cada cultura;
ƒ Disponibilizar equipamentos e utensílios em número suficiente e em
perfeito estado de conservação antes de se iniciar operação de colheita;
ƒ Realizar a manutenção periódica de equipamentos e utensílios;
ƒ Realizar a limpeza adequada de equipamentos, utensílios e instalações
antes da colheita de forma a eliminar possíveis focos de contaminação de
grãos e cereais;
ƒ Disponibilizar equipamentos devidamente calibrados por método padrão,
como método de estufa a 105ºC/24 horas ou pelo método ISO 6673 para
a medição do teor de água dos produtos;
ƒ Evitar o contato de grãos e cereais com o solo;
ƒ Evitar misturar grãos e cereais danificados com outros sadios;
ƒ Realizar de forma adequada as operações de limpeza para separação de
grãos e cereais danificados e materiais estranhos que possam
comprometer a qualidade e segurança dos produtos sadios;
ƒ Evitar amontoar grãos úmidos. Se inevitável, que seja o mais breve
possível antes das operações de limpeza ou de secagem.
ƒ Não misturar lotes com diferentes teores de água, principalmente grãos
secos com grãos úmidos.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 543


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

• Na secagem:

ƒ Evitar locais relativamente úmidos para construção das instalações de


processamento pós-colheita;
ƒ Manter a organização e limpeza das instalações;
ƒ Coletar amostras representativas dos produtos para determinação do teor
de água logo após colheita e ao término da operação de secagem por
meio de um método padrão, como método de estufa a 105ºC/24 horas ou
pelo método ISO 6673 (Determinação de perda de massa a 105ºC para
café verde), ou, ainda, usando equipamento calibrado pelo método
padrão;
ƒ Realizar medições da atividade de água dos lotes do produto ao término
da secagem;
ƒ Calibrar corretamente o equipamento antes de se iniciar as medições do
teor de água e atividade de água;
ƒ Limpar adequadamente as superfícies de secagem antes de iniciar a
operação;
ƒ De preferência iniciar a operação de secagem no mesmo dia da colheita
dos lotes do produto;
ƒ Secar até teor de água recomendado para a armazenagem segura de
acordo com as características de cada produto e de forma que ao final da
secagem o valor da atividade de água no produto seja inferior a 0,70;
ƒ Atingir um teor de água final uniforme em toda massa de grãos;
ƒ Não misturar lotes de produto com diferentes teores de água;
ƒ Evitar a reumidificação do produto;
ƒ Evitar o contato do produto com qualquer tipo de fonte de contaminação
como animais, equipamentos, superfícies e utensílios não higienizados.

• No armazenamento:

ƒ Evitar locais relativamente úmidos para construção das instalações de


processamento pós-colheita;
ƒ Assegurar paredes, pisos e telhados impermeáveis;
ƒ Projetar o telhado de forma a minimizar a transferência de calor;
ƒ Evitar contato do produto com as paredes e com o piso do armazém;
ƒ Higienizar adequadamente equipamentos, depósitos, silos e armazéns,
separando resíduos e evitando acúmulo de sujeiras e materiais
descartados antes de iniciar o armazenamento;
ƒ Manter um programa de controle de pragas (roedores, aves e outros
animais) e infestação por insetos;
ƒ Utilizar produtos (fumigantes e inseticidas) permitidos pela legislação e
nas quantidades recomendadas;
ƒ Monitorar continuamente a temperatura e o teor de água durante o
armazenamento dos produtos em intervalos regulares de forma que a

544 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

atividade de água no produto seja mantida a valores inferiores a 0,70


durante todo o período de armazenamento;
ƒ Prevenir a recontaminação, evitando o contato dos grãos limpos com
casca, pó e embalagens danificadas e separar grãos secos do material
descartado;
ƒ Evitar reumidificação dos grãos e cereais armazenados;
ƒ Separar os produtos aparentemente contaminados por fungos e enviar
para análise.
ƒ Manter valores uniformes de teores de água em toda massa de grão e
cereais, porém não mais que 12 ou 13% b.u., de forma que a atividade de
água no produto armazenado seja mantida a valores inferiores a 0,70;
ƒ Monitorar o teor de água do produto por meio de um método padrão,
como método de estufa a 105ºC/24 horas, ou pelo método ISO 6673, ou,
ainda, usando equipamento calibrado pelo método padrão.

• No transporte do produto após armazenagem:

ƒ Transportar o produto seco, limpo e isento de crescimento visível de


fungos, da presença de insetos ou de qualquer outro tipo de
contaminação;
ƒ Transportar o produto em veículos e containers adequados à carga a que
se destinam;
ƒ Higienizar adequadamente veículos, containers e todo material,
equipamento e utensílio que entre em contato com o produto antes de
serem utilizados e ao término do transporte;
ƒ Esvaziar completamente o veículo ou contairner utilizado para transporte
do produto e higienizá-lo adequadamente, bem como todos os utensílios,
materiais e equipamentos;
ƒ Evitar reumidificação dos grãos e cereais durante o transporte;
ƒ Não misturar lotes de produtos com diferentes teores de água.

O emprego de mão-de-obra capacitada e o treinamento de todos envolvidos na


cadeia produtiva são essenciais e um dos pontos chaves para que os objetivos de tais
programas sejam alcançados.

4. O SISTEMA APPCC

O sistema de Análises de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), seus


conceitos e sua introdução na prática foram relatados primeiramente pela “Pillsbury
Company” no projeto de pesquisas de alimentos para o programa espacial americano.
As bases do sistema APPCC foram desenvolvidas a partir do sistema de Análise de
Modo e dos Efeitos das Falhas (FMEA -“Failure, Mode and Effect Analysis”) usado na
indústria metalúrgica e mecânica, onde se observa em cada etapa do processo, aquilo
que pode sair errado, juntamente com as prováveis causas e efeitos, estabelecendo-se os
mecanismos de controle.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 545


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

Em 1971, o APPCC foi formalmente apresentado ao público em geral, como um


método preventivo para segurança dos alimentos na indústria alimentícia, durante a
“National Conference on Food Protection”. O primeiro documento detalhando a técnica
de APPCC foi publicado em 1973 e serviu como base para o treinamento dos inspetores
do FDA (“Food and Drug Administration”). Em 1993, a Comissão do Codex
Alimentarius incorporou o “Guidelines for the Application of the APPCC System”,
sendo este sistema reconhecido internacionalmente como uma ferramenta de garantia da
qualidade e segurança dos alimentos, recomendado por órgãos como a OMC
(Organização Mundial do Comércio), OMS (Organização Mundial de Saúde) e FAO
(Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). É exigido por alguns
segmentos do setor alimentício da Comunidade Européia e EUA no comércio de
alimentos e no Brasil, entre outras medidas, a Portaria nº 1428/93 do Ministério da
Saúde estabeleceu um sistema de qualidade de acordo com as exigências do APPCC
para as indústrias de alimentos. Assim como a Portaria nº 46 do Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento que estabeleceu o Manual de procedimentos para
a implementação do sistema APPCC nas indústrias de produtos de origem animal que
têm Serviço de Inspeção Federal (SIF).
Apesar da sua maior aplicação em indústrias do setor de alimentos, tal sistema
vem sendo aplicado em todos os segmentos da cadeia produtiva, desde a fazenda até o
consumidor final, sendo que em países desenvolvidos a sua aplicação já ocorre na
produção primária. Apesar de ser um sistema efetivo, eficaz e uma referência para as
exigências internacionais de garantia de segurança dos alimentos. é complexo e caro,
exigindo investimentos e recursos financeiros, operacionais e humanos para sua
implementação e manutenção.
A aplicação do sistema APPCC deve ser baseada em evidências científicas de
riscos à saúde humana e construído sobre um programa sólido de pré-requisitos como
BPA, BPF e POPH. Na avaliação do sistema APPCC, devem-se considerar todos os
perigos associados a ingredientes, matéria-prima, práticas de produção e processo, bem
como estocagem, distribuição, comercialização do produto, entre outras etapas. Os
controles e monitoramentos necessários para prevenir, eliminar ou reduzir, em níveis
seguros, os perigos relevantes para a segurança do alimento devem ser identificados e
implementados.

4.1. Definições Importantes


Para a utilização dos princípios do sistema APPCC, é preciso o entendimento de
alguns conceitos, cujos significados são descritos a seguir:
Perigo: agente físico, químico ou biológico de provável ocorrência, que pode
causar risco de doença ou injúria ao consumidor, caso não seja prevenido, reduzido ou
eliminado.
Risco: estimativa da probabilidade de ocorrência de um perigo.
Árvore decisória: seqüência de perguntas para determinar se uma matéria-
prima ou etapa do processo é, na realidade, um ponto crítico de controle.
Ponto Crítico de Controle (PCC): um local, uma prática ou procedimento no
qual um controle pode ser aplicado sobre um ou mais fatores, os quais se corretamente
controlados poderão prevenir, eliminar ou reduzir o risco a um nível aceitável.

546 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

Ponto de Controle (PC): um local, uma prática ou procedimento na qual a


perda de controle pode ser corrigida em uma etapa subseqüente do processo e não
resulta em riscos à saúde do consumidor.
Limite crítico: um valor máximo ou mínimo para o qual os parâmetros
biológicos, químicos ou físicos podem ser controlados para prevenir, eliminar ou
reduzir a níveis aceitáveis a ocorrência de um perigo.
Medida preventiva: fatores físicos, químicos ou quaisquer outros que possam
ser usados para controlar um perigo identificado.
Desvio: o não atendimento dos limites críticos estabelecidos.
Ações corretivas: procedimentos a serem tomados quando se verificar que
alguma variável se encontra fora dos limites críticos estabelecidos.
Monitoramento: uma seqüência planejada de observações ou medidas para
avaliar se o PCC está sob controle e para registrar dados sobre as várias etapas para
futuras verificações do plano APPCC.
Plano APPCC: documento escrito, baseado nos princípios do sistema APPCC,
que direciona os procedimentos formais para desenvolvimento e implementação desse
sistema.
Sistema APPCC: resultado da implementação do plano APPCC.
Verificação: o uso de métodos, procedimentos ou testes além dos usados no
monitoramento de um processo para certificar se o sistema APPCC está em acordo com
o plano APPCC e se este necessita de modificações para adequá-lo às necessidades de
segurança do produto.
Validação: revisão inicial pela equipe de APPCC para assegurar que todos os
elementos do plano APPCC estejam corretos.

4.2. Etapas e Princípios do APPCC


De forma resumida, a elaboração de um plano APPCC ocorre basicamente da
seguinte maneira:

• Realiza-se, primeiramente, uma análise dos perigos associados com a produção


do alimento, em toda a sua cadeia produtiva, desde a obtenção das matérias-
primas e das entradas do processo até a mesa do consumidor ou o usuário do
produto;
• Baseada nesta análise e em dados de evidências epidemiológicas é feita a
identificação dos pontos críticos de controle ao longo de toda a cadeia produtiva
e distribuição do produto;
• Por último, é estabelecido um plano de monitoramento de todo o sistema
APPCC, no qual constam todas as medidas preventivas, ações corretivas, os
parâmetros do processo a serem controlados e quais os limites críticos
estabelecidos, os responsáveis pelo monitoramento e registros do processo além
dos procedimentos para verificação da eficiência do sistema na garantia da
segurança do produto.

As etapas preliminares no desenvolvimento do sistema APPCC são:

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 547


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

• Etapa 1 - Comprometimento da administração e formação da equipe


APPCC: O primeiro passo para a implementação de um sistema de qualidade é
o envolvimento e a participação da administração, bem como de gerentes e
funcionários com o sistema a ser implementado. Todos devem ter conhecimento
de suas responsabilidades e funções para que o sistema se torne efetivo. A
equipe APPCC deve ser multidisciplinar, envolvendo profissionais com
conhecimentos específicos e experiência adequada em relação ao processo e ao
produto em estudo e que conheçam corretamente todas as variações e limitações
das operações de rotina para executar os 7 princípios do APPCC. Profissionais
especializados em APPCC de fora da empresa também podem fazer parte da
equipe.

• Etapa 2 - Descrição e distribuição do produto: Nesta etapa, deve-se examinar


desde a matéria-prima, formulação até as condições de distribuição do produto
final. Assim, devem ser considerados fatores como:
ƒ Matéria-prima, ingredientes e as variáveis que possam influenciar na
segurança do produto;
ƒ Condições de processamento, embalagem, armazenamento e manuseio
durante o processo, armazenamento e transporte do produto.

• Etapa 3 - Intenção de uso e do tipo de consumidor: Nesta etapa, devem-se


examinar a forma de preparo e o consumidor final do produto, buscando
determinar a gravidade e a possibilidade de ocorrência dos perigos potenciais à
segurança do alimento, observando:
ƒ Hábitos do consumidor e a forma de preparo do produto;
ƒ Público alvo (crianças, adultos, enfermos, idosos, etc).

• Etapa 4 - Elaboração e verificação do fluxograma detalhado do processo: O


objetivo do fluxograma é fornecer uma descrição clara e simples das etapas
envolvidas no processo, de forma a cobrir todas as etapas que estão sob controle
da empresa, além daquelas que estão antes e depois do processamento. O
fluxograma deve conter informações tais como ingredientes, etapas do processo
e embalagem, condições de processamento, pH, atividade de água e
contaminação biológica, química ou física, entre outras. A equipe de APPCC
deve fazer uma revisão das operações no próprio local, verificando na prática a
adequação do diagrama operacional de cada produto. O fluxograma deve estar
correto e completo e, caso necessário, deve ser modificado e só então
documentado no plano APPCC.

Quanto aos princípios tem-se:

• Princípio 1 - Identificação e análise dos perigos potenciais: A análise de


perigos consiste numa série de perguntas relacionadas ao processamento de um
produto específico que ajudará a determinar os efeitos de vários fatores sobre a

548 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

segurança do alimento, sendo a chave para o preparo e desenvolvimento do


plano APPCC. Envolve um estudo sistemático dos ingredientes, do produto, das
condições de processamento, manipulação, estocagem, envase, distribuição e
consumo, que permite a identificação dos pontos críticos de controle. É realizada
diretamente no ambiente de produção, sendo que cada processo é tratado
individualmente, exigindo a observação direta da cadeia produtiva. A
identificação dos perigos potenciais é realizada por meio da avaliação de todos
os ingredientes e etapas do processo, sendo que tais perigos podem ser de
natureza:

ƒ Biológica: microrganismos patogênicos (Salmonella sp., Clostridium


botulinum, entre outros) e suas toxinas;
ƒ Química: resíduos inorgânicos ou orgânicos (sais de Hg e Pb, praguicidas,
hormônios, antibióticos);
ƒ Física: materiais estranhos nocivos à saúde do consumidor (metal, vidro,
insetos/parte de insetos, fragmentos de madeira, fragmentos sólidos).

• Princípio 2 - Identificação dos pontos críticos de controle (PCC): A


determinação dos PCC’s pode ser realizada através da árvore decisória, e
baseada na análise de perigos, sendo que os PCC’s devem ser cuidadosamente
identificados, documentados e utilizados somente para propósitos de segurança
do produto, evitando-se o desenvolvimento de planos complexos, extensos e
caros, dificultando sua execução e manutenção tanto em termos tecnológicos
quanto econômicos.

• Princípio 3 - Definição dos limites críticos: Os limites críticos podem ser


baseados em fatores como tempo, temperatura, teor de água, atividade de água,
entre outros parâmetros que podem ser controlados durante o processamento e
devem ter embasamento científico.

• Princípio 4 - Definição dos procedimentos de monitoramento: Os


procedimentos de monitoramento devem ser de preferência contínuos ou então
se deve estabelecer previamente sua freqüência e devem ser realizados através
de métodos físicos e químicos, cujos resultados são mais rápidos. As medidas de
monitoramento incluem temperatura, tempo, pH, teor de água, observações
visuais do processo e do produto, entre outras. Todos os registros e documentos,
associados a esta etapa, devem ser datados e assinados pelo responsável.

• Princípio 5 - Definição das ações corretivas: Para cada PCC identificado, uma
ou mais ações corretivas devem estar associadas e serem executadas por pessoas
que possuam um conhecimento aprofundado do processo, produto e plano
APPCC.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 549


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

• Princípio 6 - Estabelecimento dos procedimentos de verificação: Durante a


verificação, todos os documentos relacionados ao plano APPCC devem ser
analisados, incluindo, por exemplo, a revisão dos PCC’s, revisão dos desvios e
inspeções do processo para observar se os PCC’s estão sob controle, coleta
aleatória de amostras e análises, revisão dos limites críticos e dos registros, etc.

• Princípio 7 - Estabelecimento dos procedimentos efetivos de registros e


documentação: O plano APPCC aprovado e os registros associados devem ser
arquivados na empresa. Os registros devem incluir:
1. Um resumo da análise de perigos e a forma como foi realizada, além das
medidas de controle;
2. Os integrantes da equipe APPCC e de todos os funcionários envolvidos com o
plano e suas respectivas funções;
3. Descrição do produto, sua distribuição, intenção de uso e consumidor.
4. Verificação do fluxograma do processo;
5. Tabela com resumo do plano, contendo os PCC’s, limites críticos,
procedimentos de monitoramento, ações corretivas, natureza do perigo,
procedimentos de verificação e procedimentos para registro.
6. Documentação e registros de validação do plano;
7. Registros gerados durante a operação do plano.

Os programas de pré-requisitos são essenciais para o sucesso no


desenvolvimento e implementação do plano APPCC. Os perigos significantes que
possam trazer riscos à saúde do consumidor, devem ser considerados no plano APPCC e
itens relacionados à qualidade e higiene do produto deverão ser considerados nos
programas de pré-requisitos. Os benefícios decorrentes da implementação do sistema
APPCC atingem o governo, a cadeia produtiva de alimentos e os consumidores:

Para o governo:
• Melhoria na saúde pública;
• Maior eficiência e resultado no controle de alimentos;
• Redução nos custos com saúde pública;
• Facilidade no comércio nacional e internacional de alimentos;
• Aumento da confiança dos consumidores quanto à segurança dos alimentos.

Para a cadeia produtiva:


• Aumento da confiança dos consumidores e governo;
• Redução do custo de produção (Redução no recolhimento e na perda de
alimentos);
• Melhoria das características do produto.

Para os consumidores:
• Redução nos riscos de doenças de origem alimentar;
• Aumento da conscientização dos princípios básicos de higiene.

550 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

5. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO APPCC NA SEGURANÇA DO CAFÉ

No café, a micotoxina mais comumente encontrada, embora de maneira geral em


baixíssima quantidade, é a Ocratoxina A (OTA). Alguns países importadores passaram
a exigir limites de OTA em café, tornando-se uma barreira para a comercialização do
produto nestes países.
Em 2007, a OIC publicou um documento sobre a revisão do Regulamento CE Nº
1881/2006, fixando limites máximos para a presença de ocratoxina A e outros
contaminantes nos gêneros alimentícios, que entraria em vigor em 1º de março de 2007.
No caso do café torrado e do café solúvel, respectivamente, não foram alterados os
limites máximos de 5 ppb e 10 ppb para o teor de OTA. Apesar de não existir limites
máximos de OTA para o café verde, no parágrafo 2º do artigo 9º deste documento
consta que a adoção de tais limites ainda continuaria em estudo e que deveria ser
realizada uma comunicação anual sobre a ocorrência de OTA no café verde, além das
medidas de prevenção adotadas para se evitar a presença da OTA no café.
Uma aplicação prática do sistema APPCC pode ser observada no projeto
desenvolvido pela FAO em conjunto com instituições e profissionais capacitados de
diversos países produtores e exportadores de café para a prevenção do desenvolvimento
de fungos toxigênicos produtores de ocratoxina A em café verde.
No Brasil, a aplicação dos princípios deste sistema no processamento pós-
colheita do café cereja (Coffea arábica) foi importante para avaliação da segurança
deste produto nas regiões de Coromandel (Cerrado Mineiro), Ibituruna (Sul de Minas
Gerais), Araponga, Ervália e Viçosa (Zona da Mata Mineira), visando garantir a
prevenção da proliferação de fungos, principalmente da espécie Aspergillus ochraceus
e a produção de OTA. Esses cafés seriam exportados para as indústrias de países da
Comunidade Européia, Japão e Estados Unidos e comercializados no mercado interno
para fabricação de café torrado e moído. Após a torrefação e moagem esses cafés seriam
consumidos por crianças, adultos e idosos após infusão em água fervente ou como
ingredientes no preparo de bebidas e produtos a base de café.
O primeiro passo foi a formação da equipe APPCC, constituída por profissionais
com conhecimento nas áreas de micopatologia, secagem e armazenagem de grãos,
microbiologia, além de funcionários de cada propriedade com conhecimento detalhado
na colheita e no processamento pós-colheita do café cereja descascado.
O segundo passo foi a adequação das propriedades às recomendações sobre
BPA, a capacitação e o treinamento da mão- de- obra empregada no processamento pós-
colheita do café conforme recomendações de organizações como a FAO, OMS,
Organização Internacional do Café e Comunidade Européia e o conhecimento da equipe
APPCC sobre o processamento do produto (Figura 1).

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 551


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

a) Coromandel (Cerrado Mineiro) b)Ervália (Zona da Mata Mineira)

c) Araponga (Zona da Mata Mineira) d)Ibituruna (Sul de Minas Gerais)

e) Viçosa (Zona da Mata Mineira)

Figura 1 - Vista geral das instalações de processamento pós-colheita do café cereja


descascado nas propriedades de Coromandel, Ervália, Araponga,
Ibituruna e Viçosa (Minas Gerais)

Quanto às recomendações de BPA no processamento pós-colheita do café cereja


descascado as seguintes medidas foram adotadas:

• Na colheita, separação e lavagem:


ƒ Cobrir o solo sob as árvores com lonas plásticas limpas durante a
colheita;
ƒ Não aproveitar grãos caídos no chão por terem alta susceptibilidade para
crescimento de fungos;

552 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

ƒ Processar os frutos maduros tão rápido quanto possível, evitando longos


períodos entre a colheita e o preparo do café;
ƒ Evitar misturar grãos maduros com café passa, cerejas danificadas e cafés
do chão ou com grãos que foram ensacados ou amontoados por longos
períodos antes do preparo e secagem;
ƒ Evitar danos físicos nos grãos maduros e separar materiais estranhos e
frutos com defeitos.

• No preparo via - úmida:


ƒ Despolpar no dia da colheita;
ƒ Separar os frutos verdes, passas e danificados dos cafés cerejas
perfeitos;
ƒ Separar o material em suspensão na água;
ƒ Limpar o equipamento;
ƒ Controlar a qualidade da água.

• Na secagem do café:
ƒ Evitar locais relativamente úmidos para construção das instalações de
processamento pós-colheita;
ƒ Iniciar a secagem no dia da colheita e esparramar o café colhido
imediatamente e nunca amontoá-lo, controlando a espessura da camada
de secagem e revirando o café regularmente;
ƒ Se possível, remover rapidamente (até 5 horas) o excesso de água com
secagem forçada;
ƒ Limpar adequadamente terreiros e secadores mecânicos antes e após a
secagem de cada lote de café;
ƒ Quando possível, evitar o contato do café com o solo, utilizando
superfícies (terreiros suspensos) devidamente limpas;
ƒ Evitar reumidificação, cobrindo e ventilando a massa de grãos,
principalmente em períodos noturnos e dias chuvosos;
ƒ Secar até que o teor de água ≤12% b.u e Aw < 0,70.

• No armazenamento:
ƒ Evitar locais relativamente úmidos para construção das instalações de
processamento pós-colheita;
ƒ Assegurar paredes, pisos e telhados impermeáveis;
ƒ Projetar o telhado de forma a minimizar a transferência de calor;
ƒ Evitar contato do produto com as paredes e com o piso do armazém;
ƒ Higienizar adequadamente equipamentos, depósitos, silos e armazéns,
separando resíduos e evitando acúmulo de sujeiras e materiais
descartados antes de iniciar o armazenamento;
ƒ Manter um programa de controle de pragas (roedores, aves e outros
animais) e infestação por insetos;
ƒ Utilizar produtos (fumigantes e inseticidas) permitidos pela legislação e
nas quantidades recomendadas;

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 553


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

ƒ Monitorar continuamente a temperatura e o teor de água durante o


armazenamento dos produtos em intervalos regulares de forma que a
atividade de água no produto seja mantida a valores inferiores a 0,70
durante todo o período de armazenamento;
ƒ Prevenir a recontaminação, evitando o contato dos grãos limpos com
casca, pó e embalagens danificadas e separar grãos secos do material
descartado;
ƒ Evitar reumidificação dos grãos e cereais armazenados;
ƒ Separar os produtos aparentemente contaminados por fungos e enviar
para análise.
ƒ Manter valores uniformes de teores de água em toda massa de grão e
cereais, porém não mais que 12 ou 13% b.u., de forma que a atividade de
água no produto armazenado seja mantida a valores inferiores a 0,70;
ƒ Monitorar o teor de água do produto por meio de um método padrão,
como método de estufa a 105ºC/24 horas, ou pelo método ISO 6673, ou,
ainda, usando equipamento calibrado pelo método padrão;
ƒ Monitoramento das condições ambientais do local de armazenagem e
controle do teor de água, temperatura e atividade de água dos grãos.

• No beneficiamento:
ƒ Separar completamente grãos, pergaminho e casca;
ƒ Usar embalagens, equipamentos, utensílios e qualquer material que entre
em contato com o produto devidamente limpos;
ƒ Prevenir a recontaminação, evitando o contato dos grãos limpos com
casca, pó e embalagens danificadas e separar grãos secos do material
descartado;
ƒ Disponibilizar equipamentos e utensílios em número suficiente e em
perfeito estado de conservação antes de se iniciar operação de colheita;
ƒ Realizar a manutenção periódica de equipamentos e utensílios;
ƒ Disponibilizar equipamentos devidamente calibrados por método padrão,
como método de estufa a 105ºC/24 horas ou pelo método ISO 6673 para
a medição do teor de água dos produtos;
ƒ Evitar reumidificação dos grãos.

• No transporte:
ƒ Transportar o produto seco, limpo e isento de crescimento visível de
fungos, da presença de insetos ou de qualquer outro tipo de
contaminação;
ƒ Não misturar lotes de produtos com diferentes teores de água;
ƒ Higienizar adequadamente os veículos e contairners, equipamentos,
utensílios e qualquer material que entre em contato com o produto
durante o carregamento e transporte dos produtos;
ƒ Evitar reumidificação dos grãos durante o transporte.
O fluxograma do processamento pós-colheita do café cereja descascado está
apresentado na Figura 2.

554 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

COLHEITA

SEPARAÇÃO/ LAVAGEM

PREPARO VIA
CAFÉ
VERDE

CAFÉ CEREJA
DESCASCADO

SECAGEM
PCC 1
UMID REGISTR

PCC 2 ARMAZENAMEN
TO

UMID REGISTR

BENEFICIAMEN

UMID REGISTR

EXPEDIÇÃO/
TRANSPORTE PARA

Figura 2 - Fluxograma do processamento dos cafés cereja descascado das


propriedades de Coromandel, Ervália, Araponga, Ibituruna e Viçosa

Os resultados da análise de perigos da colheita à expedição e transporte dos café


cereja descascado são descritos no Tabela 4. A descrição do plano APPCC aplicado à
colheita ao beneficiamento do café cereja descascado está descrita no Tabela 5.

TABELA 4 - Análise de perigos do processamento pós-colheita do café cereja


descascado das regiões de Araponga, Ervália, Ibituruna, Coromandel e
Viçosa

ETAPAS DO PERIGO MEDIDAS PREVENTIVAS PCC


PROCESSO IDENTIFICADO
Colheita - Biológico: O emprego de programas de BPA e POPH
Proliferação de
fungos
- Físico: materiais Não
estranhos,
fragmentos
sólidos
- Químico:

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 555


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita
resíduos de
agrotóxicos
Separação/ - Físico: materiais O emprego de programas de BPA e POPH
lavagem estranhos, Não
fragmentos sólidos

Preparo via Não foi identificado - Emprego de programas de BPA e


úmida nenhum perigo POPH Não
(Café cereja
descascado)
- Secagem - Biológico: - Emprego de programas de BPA e
Proliferação de POPH
fungos toxigênicos
- Secar até que o teor de água ≤12% b.u e
atividade de água (Aw) < 0,70. SIM
(B)
- Medir o teor de água da massa de grãos
empregando aparelhos devidamente calibrados
pelo método padrão em estufa a 105ºC/24 horas
ou pelo método ISO 6673.

- Armazenamento - Biológicos: - Emprego de programas BPA e POPH.


presença de fungos
toxigênicos; - Armazenar separadamente cerejas, pergaminhos
produção de OTA e grãos com umidade ≤12% b.u e Aw < 0,70.
SIM
- Aeração da massa de grãos (B)

- Monitoramento das condições ambientais do


local de armazenagem e controle do teor de
água, temperatura e atividade de água dos
grãos.
Beneficiamento - Físico: materiais - Emprego de programas de BPA e
estranhos, POPH
fragmentos sólidos Não

- Biológico:
Recontaminação
Expedição/ - Biológico: - Emprego de programas de BPA e POPH
Transporte Recontaminação;
Desenvolvimento Não
de fungos
toxigênicos

556 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

TABELA 5 - Descrição do plano APPCC para o processamento pós-colheita do cafés cereja descascado das regiões de Araponga, Ervália,
Ibituruna, Coromandel e Viçosa

PCC/ETAPA DO PERIGO PONTO DE LIMITE MONITORMENTO/ REGISTROS RESPONSÁVEL AÇÕES VERIFICAÇÃO


PROCESSO CONTROLE CRÍTICO FREQUÊNCIA CORRETIVAS
PCC 1/ Secagem Biológico - Aw do produto - < 0,70 - Por lote de café/ Resultados das Encarregado pelo Continuar a secagem - Supervisão das
Término da secagem medições e setor operações
- Umidade do produto - ≤ 12% b.u. análises - Aferição e
- Por lote de café/ manutenção dos
Término da secagem equipamentos de
- Calibração dos medição
equipamentos de - Método padrão - Antes de iniciar as - Avaliação dos
medição do teor de em estufa a operações de colheita e resultados das análises
água pelo 105ºC/24 horas ou processamento pós-
pelo método ISO colheita do café/ A cada
6673. safra

PCC2 / Biológico - Umidade relativa do - 50 a 70% - Diário/ 3 vezes ao dia Resultados das Encarregado pelo - Aeração da massa de - Supervisão das
Armazenamento local de medições e setor grãos operações
armazenagem análises - Aferição e
- Diário/ 2 vezes ao dia manutenção dos
- Umidade do produto - ≤ 12% b.u. equipamentos de
- A cada lote medição
- Aw do produto armazenado e depois a - Avaliação dos
- < 0,70 cada 15 dias resultados das análises

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 557


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

Tabela 5: Continuação
PCC/ETAPA DO PERIGO PONTO DE LIMITE MONITORMENTO/ REGISTROS RESPONSÁVEL AÇÕES VERIFICAÇÃO
PROCESSO CONTROLE CRÍTICO FREQUÊNCIA CORRETIVAS
- Análise - De acordo com a - Término do Resultados das Encarregado pelo - Separação dos lotes - Supervisão das
microbiológica para metodologia armazenamento medições e setor contaminados por operações
identificação de contida no análises OTA - Aferição e
fungos produtores de Handbook of manutenção dos
OTA. Caso sejam mycological equipamentos de
identificados realizar methods medição
análise de detecção de Enhancement of - Avaliação dos
OTA no lote coffee quality resultados das análises
Project (FRANK,
2003)

- Método padrão
- Calibração dos em estufa a - Antes de iniciar as
equipamentos de 105ºC/24 horas ou operações de colheita e
medição do teor de pelo método ISO processamento pós-
água 6673. colheita do café/ A cada
safra

558 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1. ARORA, D. K.; MUKERJI, K. G.; MARTH, E. H.. Handbook of Applied


Mycology – Foods an fedds. Vol. 3, Editora Marcel Dekker, INC, New York,
USA, 1991, 621p.

2. BAKKER – ARKEMA, F. W. Grains and grain quality. In: BAKKER –


ARKEMA, F. W.; DEBAERDEMAEKE, J.; AMIRANTE, P>; RUIZ –
ALTISENT, M.; STUDMAN, C. J. CIGR Handbook of Agricultural
Engineering. Agro-Processing Engineering. Vol . 4, ASAE, USA, 1999, 527p.

3. CHAVES J. B. P. Análise de riscos na indústria de alimentos. 2004. Disponível


em: www.dta.ufv.br/dta/artigos/appcc.htm. Acesso em: Julho de 2008.

4. CODEX ALIMENTARIUS. Higiene do alimentos - Texto básico. Organização


Pan-Americana da Saúde; Agência Nacional de Vigilância Sanitária; Food and
Agriculture Organization of the United Nations – Brasília: Organização Pan-
Americana da Saúde, 2006, 63p.

5. FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations. Good hygiene
practices along the coffee chain. A training resource for coffee producing
countries, CD-ROM, 2004.

6. FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations. Manual on the
application of the HACCP system in Mycotoxin prevention and control,
Roma, 118p, 2001.

7. FRANK, J. M. Handbook of mycological methods: Enhancement of coffee quality


project. 2003, 31p.

8. ICMSF. International Comission on Microbiological Specifications for Foods.


Ecologia microbiana de los alimentos 1 – Fatores que afectan a La
supervivência de los microrganismos em los alimentos. Vol. 1. Editora
Acribia , Zarapoza , Espanha, 332p,1980.

9. NACMCF – National Advisory Committee on Microbiological Criteria for Foods.


Hazards Analysis and Critical Control Points Principles and Application
Guidilines. Journal of Food Protection, V. 61, N.6, p. 762 – 775, 1998.

10. OIC – Organização internacional do comércio. Revisão do Regulamento CE com


respeito à ocratoxina a (OTA) e outros contaminantes. Disponível em:
www.ico.org/documents. Acesso em agosto de 2007.

11. OIC – Organização internacional do comércio. Guide for the prevention of mould
formation in coffee, 2006. 26p.

Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas 559


Capítulo 19 Segurança de Produtos na Pós-Colheita

ROBERTO, C.D. Aplicação dos princípios do sistema de análise de perigo e pontos


críticos de controle na avaliação da segurança do café no processamento
pós-colheita. Viçosa – MG: Universidade Federal de Viçosa. 2008. 1219p.
(Tese de doutorado em Engenharia Agrícola).

12. SCUSSELL, V. M. Micotoxinas em alimentos. Editora Insular. Florianópolis - SC,


1998, 144p.

13. WALKER, R.; LARSEN, J. C. Ochratoxin A: previous risk assessments and issues
arising. Food Additives and Contaminants, V. 22 Suppl 1: 6-9, 2005

560 Secagem e Armazenagem de Produtos Agrícolas

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