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INCLUSÃO DO ALUNO DEFICIENTE VISUAL NA EDUCAÇÃO FÍSICA

ESCOLAR

RESUMO: A inclusão de alunos com necessidades especiais no ensino regular já representa


uma realidade em diversas escolas do país. Quando se refere especificamente às aulas de
Educação Física, verifica-se que o desafio para os professores é ainda maior. Para o aluno com
deficiência visual, este tipo de inclusão promove, além da integração e socialização, o respeito
pelas diferenças. Para proporcionar um ensino de qualidade é relevante que se conheça as
deficiências, e para que haja inclusão, é necessário adaptar as atividades como forma de
benefício para todos. O objetivo desta pesquisa e investigar de que forma a Educação Física
Escolar inclui o aluno deficiente visual na atividade física. A metodologia uma revisão
bibliográfica em livros e artigos, caracterizando-se como exploratória. Os resultados são pelos
materiais pesquisados, verificou-se a escassez de estudos na área, além da necessidade de
estabelecimento de ferramentas pedagógicas específicas para garantir que o processo de
inclusão possa ocorrer com qualidade. As considerações finais concluem-se a partir das
informações coletadas a necessidade de maior aprofundamento e elaboração de práticas
docentes que garantam um ensino verdadeiramente inclusivo.

Palavras-chave: Educação Física Inclusiva. Deficientes Visuais. Inclusão.

1. INTRODUÇÃO

Na atualidade, muito tem se discutido em relação a educação inclusiva. O movimento


inclusivo defende que a criança com deficiência deve ser incluída no ensino regular para que
possa se desenvolver e participar ativamente da sociedade. Seu processo educacional deve
respeitar suas diferenças e atender suas necessidades educacionais como um todo, permitindo
que a mesma seja um membro ativo dentro de sua escola.
Desde o início da década de 90 as escolas regulares têm sido solicitadas a adaptarem-se
para a inclusão de alunos com algum tipo de deficiência. Assim, estes alunos têm cada vez mais
conquistado seu espaço na sala de aula comum. Sabe-se que a inclusão não deve ser somente
através da implantação de uma sala de recursos na escola, uma vez que esta inclusão deve
envolver toda a instituição, promovendo uma ação coletiva, na qual, com base nos materiais e
recursos disponíveis, o professor faça modificações em suas metodologias de ensino para que
estes alunos consigam participar e aprender durante as aulas (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2006).
No caso dos deficientes visuais, a necessidade de ampliação das oportunidades para
reconhecimento do mundo traz preocupações na adoção de materiais e recursos que auxiliam o
trabalho pedagógico. Nesse processo, a Educação Física representa um grande instrumento de
inclusão, que pode causar mudanças muito positivas, uma vez que o deficiente visual possui
dificuldades para locomoção, em suas capacidades motoras globais, bem como no convívio
social.
A adequação correta da Educação Física para alunos deficientes evidencia a
compreensão de limitações e capacidades, estimulando o desempenho do aluno. É essencial que
o professor conheça seu aluno e sua necessidade educacional especial, se houver, pois
atualmente esta disciplina não trabalha apenas com alunos ditos normais, mas também destaca
a importância da prática inclusiva de alunos especiais em suas aulas.
Um dos grandes desafios enfrentados pelos professores de Educação Física em sua
prática docente refere-se à adoção de uma postura adequada para o trabalho com turmas
especiais. Apesar de muitas vezes, as turmas serem compostas por aulas diferenciadas para
deficientes e não deficientes, muitos docentes optam por não uni-los durante as atividades e,
por vezes, diferenciam as atividades de acordo com a deficiência (GOMES et al, 2013).
Diante do processo de inclusão desses alunos no contexto da escola regular, sobretudo
tendo em vista a sua inclusão nas aulas de Educação Física, este trabalho buscou investigar a
forma pela qual a Educação Física pode incluir o aluno deficiente visual nas atividades
realizadas durante a aula. Buscou-se ainda compreender quais as ferramentas pedagógicas
podem ser utilizadas nas aulas de Educação Física com esses alunos e quais as adaptações são
necessárias para garantir uma inclusão eficiente, aliando a plena participação do aluno na aula
com segurança e a integração com os demais alunos da turma.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Deficiência Visual e a Educação

Segundo dados do Censo do IBGE, realizado no ano 2000, existem no Brasil 24,5
milhões de pessoas portadoras de deficiência, o que representa 14,5% da população brasileira.
Deste total, 48% apresentam algum tipo de deficiência visual, sendo que a hereditariedade
representa a principal causa desse tipo de deficiência.
A deficiência visual pode ocorrer independentemente da idade, sexo, religião, crença,
sexo, grupo étnico, raça, ancestrais, educação, cultura, posição social, condições de residência
e outros fatores. Também ela pode ser congênita ou adquirida. É congênita, quando ele nasce
já sem a sua acuidade visual, através de um processo de má formação ou por doenças, como
por exemplo, a toxoplasmose, glaucoma, sífilis, meningite, e outras. A deficiência visual é
adquirida, quando o indivíduo adquire através de doenças ou acidentes (DOMINGOS, 2005).
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005) define a deficiência visual como a
redução ou perda total da capacidade de ver com o melhor olho, mesmo após a melhor correção
óptica.
Não existe unanimidade em relação a um conceito para os casos de deficiência visual,
pois eles apresentam extensão de gravidade e fatores causadores diferenciados. No conceito de
Caiado (2002), o indivíduo cego é aquele com pouca visão em termos de método que utilizam
para aprender a ler. Para ele, em termos educacionais, crianças cegas são as que empregam o
Braille, e crianças com visão parcial são aquelas que usam material impresso.
Barraga (1976), afirma que os deficientes visuais são classificados em três grupos: os
cegos, que são as pessoas que têm somente a percepção da luz ou que não têm nenhuma visão,
necessitando aprender através do Braille e de outros meios de comunicação que não são
relacionados ao uso da visão; pessoas com visão parcial, que são aquelas que têm limitações da
visão à distância, porém são capazes de ver objetos e materiais quando estão a poucos
centímetros ou, no máximo, a meio metro de distância; pessoas com visão reduzida são aquelas
consideradas com visão, se esta puder ser corrigida.
Quando relacionada ao contexto educacional, é importante reiterar que, no caso da
deficiência visual, um dos principais canais de contato com os estímulos ambientais e sociais
está quase perdido, isso pode resultar num atraso no desenvolvimento do esquema corporal, da
organização, da identificação de objetos, de pessoas, da linguagem, e da percepção espacial, o
que irá influenciar o processo de ensino-aprendizagem (BERNARDI e COSTA, 2008).

Falta de interesse no trabalho, desatenção, indisciplina, não


participação nos jogos e atividades que exigem esforço visual são
algumas manifestações representadas por deficientes visuais (JOSÉ,
1991. p.132).

Os problemas visuais, dos quais grande parte poderia ser prevenida ou minorada por
medidas educativas.
De acordo com Lázaro (2005), a educação do cego será feita através da integração de
seus sentidos remanescentes preservados, como por exemplo, o tato, e sua leitura e escrita será
através do Braille.
Desse modo, a educação do aluno cego deverá ter seu foco no desenvolvimento de um
indivíduo que, apesar de encontrar-se biologicamente comprometido com a ausência da visão,
pode superar essa limitação na medida em que a prática pedagógica atuar sobre os sentidos
remanescentes (CAIADO, 2002).
De uma maneira geral, na sala de aula os deficientes visuais dispõem como principal
recurso para atividades de leitura e escrita o sistema Braille. Muitas vezes esses alunos
necessitam recorrer a um colega que lhe dita a matéria. Montilha et al. (2006) ressalta ainda a
importância da sala de recursos. De acordo com o autor, muitos alunos que não possuem este
ambiente na escola que frequentam o procuram no horário inverso ao da aula para desenvolver
atividades especificas, além de transcrições de textos e trabalhos.
Bernardi e Costa (2008) afirma que para os alunos com deficiência visual, deve-se dar
ênfase na integração dos outros sentidos, ampliando a sensibilidade tátil, olfativa, gustativa e
de linguagem e esquema corporal, sem esquecer-se de associar com a orientação de espaço e
tempo, assim estimularemos condições de melhor desempenho educacional.
O processo de ensino deste aluno deve estar centrado em suas necessidades e anseios,
sendo que o professor terá o papel de adequar suas atividades e conteúdos para a realidade de
seus diversos alunos, respeitando ao máximo a individualidade presente na sala de aula. Os
deficientes visuais são capazes de participar das atividades propostas e desenvolver os mesmos
conteúdos que seus amigos videntes, havendo somente necessidade do professor se preocupar
em fornecer condições seguras para seu aprendizado (ALVES e DUARTE, 2005).
Seja no processo de aprendizagem dos conteúdos curriculares escolares como do mundo
em si, os materiais e recursos são de fundamental importância para uma plena integração do
deficiente visual.
Assim, segundo Cerqueira e Ferreira (2006) os recursos irão assumir uma imensa
importância para a educação especial de deficientes visuais, uma vez que estes apresentam
dificuldades para ter contato com o ambiente físico. Como a formação de conceitos irá depender
de um profundo contato com o mundo, vê-se uma grande importância da motivação de
aprendizagem não somente para os deficientes, mas para todos os alunos. Para se obter um bom
aproveitamento destes recursos, irá depender de fatores como: capacidade do aluno, experiência
do professor, forma de utilização, seleção, adaptação e confecção.
2.2 O Deficiente Visual e as Atividades Físicas

De modo geral, uma pessoa com deficiência visual apresenta defasagens em seu
desenvolvimento, de forma acentuada, na área motora. Como caracterizações do estágio de
desenvolvimento motor da criança cega, Conde (1991) cita a falha no equilíbrio, dificuldade de
movimentação, defeito na postura do corpo, dependência na locomoção, forma de expressões
faciais raras, lateralidade e direcionalidade não estabelecidas, fraca resistência física, inibição
e falta de vontade própria para em termos de motricidade.
Para Neves et al. (2005), o desenvolvimento compensatório dos sentidos intactos dos
que possuem deficiência visual não ocorre de forma natural, já que o tato, as cinestesias, a
audição e o olfato, sem uma adequada estimulação, não atuam de maneira fidedigna na
diminuição, na defasagem da captação e elaboração dos estímulos que a cegueira provoca.
Além disso, a impossibilidade da limitação e do estabelecimento de modelos restringe, ainda
mais, a facilitação de seu desenvolvimento.
Diante disso, não existem limites para aqueles que têm vontade de praticar atividades
esportivas, independentemente de qual delas seja. Além do que, a prática esportiva possibilita
aos que possuem deficiência visual, um aumento nos espaços possíveis de locomoção, que, em
decorrência da deficiência, é diminuta.
Como o conhecimento do próprio corpo está intimamente vinculado ao
desenvolvimento geral da criança cega, ao possibilitar o controle e domínio do seu corpo, a
educação física adaptada irá embasar e favorecer a evolução desta criança, enfocando também
aspectos como a autoconfiança, o sentimento valia e cooperação, o prazer de poder fazer e as
interfaces dessas valências afetivas com seu cotidiano na família, na escola e na sociedade
(CONDE, 2004).
De acordo com Hoffmann (1997), em consequência da prática de atividades físicas, o
deficiente visual beneficia-se em todas as etapas da sua vida cotidiana, educativa e psicossocial.
O movimento é considerado parte central e preponderante para o desenvolvimento de
habilidades funcionais e ocupacionais não somente na sua própria organização individual, mas
também para a estruturação das suas inter-relações com os ambientes físico, social e cultural.
O deficiente visual e focado por professores e profissionais que refletem criticamente a
possibilidade de ser educado para a autonomia de movimentos liberdade e independência
superando as dificuldades através da educação física escolar.
A educação física persegue alguns objetivos dentro da escola. Entendo que o seu
maior objetivo deva ser o desenvolvimento de atitudes e conceitos, como participação,
cooperação, solidariedade, autonomia, criticidade, fraternidade, dentre tantos outros.
Dentro de um programa de educação física escolar, podemos, por meio das atividades
propostas, estar ampliando e diversificando a bagagem motora dos alunos sem perder
de vista valores humanos positivos (SOLER, 2005, p.126).

Esta é a área que podemos chamar de conhecimento de cultura corporal possibilitando


o acesso do deficiente visual para uma bagagem motora enriquecida e diversificada.
A prática de uma atividade física irá também desenvolver o caráter educativo social e
lúdico, tendo como objetivo o desenvolvimento do ser humano em sua integralidade,
proporcionando momentos de reflexão, fantasias, diversão e lazer, onde os objetivos não se
direcionam apenas para as necessidades humanas de recuperação mental e física. Visa também,
as necessidades de solidariedade, integração social e cultura, possibilitando uma grande
melhoria na qualidade vida (SANTOS, 2009).
No caso da pessoa com deficiência visual, Conde (1991) afirma que a educação física
adaptada procura trabalhar o desenvolvimento da área psicomotora, através de jogos e do
desporto, além dos aspectos cognitivos, social-afetivos e sensoriais. Ela procura transformar o
corpo da pessoa cega como uma grande ferramenta.
Logo, a prática constante de uma atividade física, como também a prática de um
determinado tipo de esporte, são fatores de extrema importância para a saúde física e mental
dos deficientes visuais.
Segundo a Sociedade de Assistência aos Cegos (s.d.) a realização de atividades físicas
por pessoas com deficiência visual, além de auxiliar na prevenção de deficiências de ordem
secundária, é importante na medida em que possibilita o aumento no número de amigos.
Praticando determinados tipos de esporte, como natação, futebol e atletismo, entre outros,
aumenta-se a capacidade motora, melhora-se o sistema cardiorrespiratório e a postura das
pessoas com deficiência visual. Por isso, é importante que logo que seja diagnosticado pelos
médicos o problema da cegueira, deve-se incentivá-lo para que procure praticar trabalhos na
água (natação, hidroginástica ou hidroterapia), visando uma estimulação precoce ou para a
escola.

2.3 A Educação Física Escolar e o Deficiente Visual


Para uma inclusão dos alunos portadores de deficiência visual nas aulas de educação
física é necessário, inicialmente, que sejam realizadas adaptações visando às necessidades e
limitações deste aluno, bem como desenvolver suas capacidades. Tais adaptações devem
ocorrer para atender aos objetivos propostos, métodos de ensino e materiais utilizados.
De acordo com Castro (2009), deve ser realizada uma ambientação e um
reconhecimento de espaços físicos, equipamentos e a sua orientação aos pontos principais de
acessos e limites de segurança, além de também estabelecer pontos de chegada/saída para as
atividades.
Antes do início das aulas com o aluno com deficiência visual, é fundamental que o
professor de educação física esteja atento a questões como segurança, condições de saúde e
repertório motor do aluno.
Em relação à segurança, Craft (1995) afirma que o professor deve saber o período de
ocorrência da deficiência e sua causa. Este tipo de informação impede que a prática de alguma
atividade que possa agravar sua condição. É importante requisitar à família laudo médico com
permissão para prática das atividades físicas. As informações apresentadas pelo laudo médico
impedem que o aluno com baixa visão execute qualquer atividade que cause risco de agravar a
sua deficiência visual, como, por exemplo, o descolamento de retina por atividades de impacto.
A partir desses dados, o professor deve procurar conhecer o repertório motor de seu aluno cego
ou com baixa visão, bem como suas limitações e defasagens motoras.
Neste momento o professor deve criar uma relação de confiança com o aluno, essencial
para que o processo de aprendizagem possa ocorrer com facilidade (GORGATTI, TEIXEIRA
e VANÍCOLA, 2008).
Os colegas de classe e amigos próximos devem ter conhecimento sobre a deficiência do
aluno, suas limitações e capacidades. Isso permite e estimula o contato entre alunos com e sem
deficiência, uma vez que elimina estigmas sobre a deficiência visual. A participação de todos
somente é possível com a compreensão e conhecimento sobre a condição do aluno. Nesse
sentido, o professor pode propor atividades em que os alunos sem deficiência vivenciem a
condição de privação sensorial causada pela cegueira (CRAFT, 1995).
De acordo com Castro (2009), é fundamental que todas as atividades propostas sejam
claramente compreendidas. As instruções e explicações podem ser passadas de forma verbal ou
tátil. Para tanto o professor deve explicar verbalmente a atividade para seu aluno cego ou com
baixa visão. No caso da instrução tátil o aluno é orientado a fazer o movimento pelo tato. O
professor pode guiar o movimento no aluno, fazendo o movimento acompanhando o professor
através do toque, enquanto este executa o movimento.
O primeiro momento da atividade, o professor deve construir com o aluno a relação
aluno-guia. O professor deve procurar com o aluno a melhor forma de ela ser guiada nas
diversas atividades, bem como nos deslocamentos na escola. O ideal é que o professor procure
sempre proporcionar ao aluno o máximo de independência e autonomia possível, utilizando o
recurso do guia somente quando necessário. O professor deve estimular o aluno a ser guiado
por pessoas diferentes ao longo do período letivo, para que ele possa se relacionar com todos
os colegas de classe. A troca entre os guias além de incentivar o contato social entre os alunos,
permite que os alunos sem deficiência vençam os preconceitos existentes. (BLOCK e
OBRUSNIKOVA, 2007).
O guia poderá acompanhar o aluno durante a atividade ao seu lado ou guiá-lo à distância
através de informação verbal ou com sinais sonoros. Neste momento, o guia deve ficar atento
para não puxar ou empurrar o colega. Geralmente, as pessoas com deficiência visual preferem
segurar em algum ponto do corpo do guia, como ombro ou cotovelo, ao invés de serem puxadas
ou empurradas durante os deslocamentos. Quando o guia se encontra distante, este faz sinais
sonoros ou passa informações verbais para que a criança consiga localizá-lo. Este tipo de guia
é interessante, por exemplo, para ensinar a criança a correr, pois o guia fica em uma extremidade
do campo sinalizando ou chamando o aluno para ir ao seu encontro. Dessa forma o aluno
consegue se locomover pelo espaço sozinho. (GORGATTI, TEIXEIRA e VANÍCOLA, 2008).
O aluno com deficiência visual também deve ser familiarizado com o ambiente da aula
de educação física e seus materiais. Para isso é necessário que sejam dadas oportunidades para
que o mesmo construa um mapa mental do espaço, incluindo o trajeto entre a sala de aula e o
local da aula de educação física. O conhecimento dos locais a serem utilizados pelo aluno
proporciona independência e autonomia para seu deslocamento dentro do espaço. O mesmo
deve ser estimulado, sempre que possível, a realizar seus deslocamentos e ações sem auxílio de
colegas ou professores (MUNSTER e ALMEIDA, 2005).
Munster e Almeida (2005) orientam que para a participação do aluno com deficiência
visual ainda são necessárias adaptações nos materiais a serem utilizados. As bolas deve ter
guizos para orientação deste aluno durante as atividades. Caso o professor não tenha este tipo
de material é possível envolver a bola em sacolas plásticas para que produzam ruídos durante a
sua movimentação. O professor também pode adquirir pequenos guizos e colocá-los dentro das
bolas que possui. Para os alunos com baixa visão é essencial o aproveitamento do resquício
visual, com o emprego de materiais de cores contrastantes.
De acordo com a atividade a ser executada, o professor pode utilizar diferentes métodos
de adaptação. Para deslocamentos simples no espaço, por exemplo, podem ser utilizadas
cordas-guia, que podem ficar suspensas por colegas de classe ou amarradas em postes indicando
para o aluno cego o trajeto a ser percorrido. Este aluno vai se guiando pelo caminho através do
toque na corda. Neste tipo de atividade também podem ser utilizados os chamadores, os quais
ficam localizados no final do percurso chamando o aluno com deficiência. Os chamadores
podem guiar o aluno durante o trajeto através de sinais sonoros simples ou até mesmo com
orientações diretas para sua orientação. O professor deve procurar com o seu aluno com
deficiência a melhor forma de adaptação para sua participação. As atividades podem ser
executadas de forma mais lenta ou até mais rápida. Este tipo de adaptação depende do repertório
motor do aluno e seu desenvolvimento durante as aulas. É importante que as atividades
propostas sejam sempre desafiadoras para o aluno e o façam buscar objetivos comuns aos de
seus colegas de classe. As formas como cada aluno têm para alcançar as metas propostas pode
várias, porém estas devem ser as mesmas para todos (MUNSTER e ALMEIDA, 2005).
Por fim, pode-se afirmar que para a concretização do processo inclusivo não basta
apenas oferecer oportunidade para que o aluno com deficiência visual faça as atividades e
participe das aulas de educação física, é fundamental também o estímulo e oportunidade de
participação social efetiva. O aluno deve ter oportunidade de expressar suas opiniões e de ser
valorizado por isso. Para isso, o professor deve construir junto à turma um senso de igualdade
entre seus membros. O aluno cego ou com baixa visão deve ser tratado como os demais colegas
de classe, sem reações de preconceito e com os mesmos deveres e direitos dos companheiros
de classe. O professor deve proporcionar condições para que isso ocorra em suas aulas, bem
como dar estímulos para que estas relações construídas ultrapassem as barreiras da sua aula
(CRAFT, 1995).

3. MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado por meio de uma revisão bibliográfica de livros e artigos,
caracterizando-se como exploratória. Inicialmente foram identificados livros, artigos e
trabalhos científicos publicados em periódicos relevantes, disponíveis para consulta nos
principais bancos de dados brasileiros.
O tema proposto para o presente trabalho é Educação Física como forma de inclusão de
deficientes visuais. Essa pesquisa foi realizada através de artigos e livros.
Para a coleta do material bibliográfico e posterior elaboração do presente estudo, foram
utilizados os descritores: inclusão do aluno com deficiência; deficiência visual e educação
física; educação física para alunos portadores de necessidades especiais.
Com a utilização dos referidos descritores, foram identificados 24 artigos científicos, 6
dissertações e 8 livros que tratavam da temática proposta para o presente estudo, os quais foram
posteriormente selecionados para a confecção do texto.
O método utilizado para a realização deste estudo foi primeiramente uma leitura
exploratória de materiais bibliográficos como livros e artigos relacionados com a Educação
Física Inclusiva. Após a leitura exploratória foi realizada uma leitura seletiva verificando a
relevância dos textos encontrados. Em seguida a leitura seletiva foi realizada uma leitura
analítica que consiste em ler e analisar os materiais selecionados na leitura anterior. A
finalização foi realizada por meio da leitura interpretativa que consiste em relacionar os artigos
com o tema proposto.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apesar da existência de um grande arcabouço legal para normatização do processo de


inclusão do aluno com deficiência na escola regular, a realização pesquisa bibliográfica, em um
primeiro momento, permitiu-nos verificar a existência de uma pequena quantidade de pesquisas
realizadas na área.
A leitura dos resumos encontrados nos permitiu concluir que a maioria deles não
abordava o tema, embora apresentassem alguma das palavras chave empregadas na busca.
Alguns trabalhos encontrados traziam como tema central o processo de inclusão do aluno
deficiente visual, porém, os textos propriamente ditos não estavam diretamente relacionados
com a sua inclusão nas aulas de educação física escolar.
Apesar de esses estudos não fazerem referência direta à inclusão do aluno cego ou com
baixa visão no contexto das aulas de Educação Física, entendemos que estes eram importantes
para a compreensão ampla do tema.
Em relação a apresentação de propostas de atividades passíveis de serem realizadas
durante as aulas de Educação Física com alunos deficientes visuais, nota-se que o número de
textos é ainda menor.
5. CONSIDERAÇOES FINAIS

Muito se ouve falar em inclusão de alunos com deficiência dentro do ensino regular,
porém esse processo vai muito além do que retirar um aluno que está frequentando uma escola
de educação especial e simplesmente matriculá-lo no ensino regular. É necessário reforçar que
a inclusão não é proporcionar uma situação que a pessoa que possui uma deficiência apenas
frequente um ambiente de ensino regular, para atender o que presume a legislação em vigor.
Muito além que integrar ao ambiente, a inclusão é proporcionar situações que
possibilitem aos alunos com deficiência se desenvolverem como pessoas, interagirem com
todos aqueles dentro ambiente escolar, adquirindo conhecimentos, vivendo situações que
proporcione a interação entre o aluno com deficiência e os demais.
A partir dos textos estudados, pode-se afirmar que o tema da inclusão requer um
contínuo estudo e deve ser lembrado e refletido por aqueles que estão diante da prática, seja na
sala de aula, seja nas aulas de Educação Física com a presença de alunos com deficiências. A
realidade da inclusão é contrária à acomodação, provoca manifestações e posições dos
professores diante de sua presença.
A partir das necessidades dos deficientes visuais, o professor necessita criar atividades
com diferentes níveis de exigência, utilizando a criatividade do próprio deficiente para
enriquecer suas aulas e motivar seus alunos à aprendizagem. Para explorar sua criatividade, o
professor tem que dominar a fundamentação teórica que embasa seu trabalho, além de ter claros
seus objetivos e deixar fluir sua imaginação.
Logo, o fundamental dessas diretrizes não é o fato de não serem acabadas e estáticas,
mas de constituírem caminhos. Quem o transforma é o próprio professor à medida que estuda
e reflete sobre sua própria prática. Pode-se concluir então que num contexto da escola inclusiva,
seja na Educação Física ou em qualquer outra disciplina escolar, o professor deverá desenvolver
esse novo repensar pedagógico, sendo atualmente uma competência essencial ao profissional
consciente de seu papel em uma sociedade que está aprendendo a viver a democracia.

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