Você está na página 1de 5
EVOLUGAO HISTORICA DOS SISTEMAS DE PRODUCAO, PARIS, W. S.; ZAGONEL, E. EVOLUCAO HISTORICA DOS SISTEMAS. PRODUTIVOS Wanderson Paris Evaldo Zagonel Os PrimORDIOS ‘A fungdo produgdo, entendida como © canjunto de atividades que levam & transformacéo de um bem tangivel em um outro com maior utlidade, acompanha o homem desde sua origem. Quando polia a pedra a fim de transformé-la em utensiio mais eficaz, © homem pré-histérico estava executando uma atividade de produgao. Nesse primeito estégio, as ferramentas e os utenstios eram Utlizados exclusivamente por quem os produzia, ou sefa, Inexistia 0 comércio, mesmo que de traca ou escambo, AIé 0 século XVII, as atividades de produgao de bens eram desempenhadas por arlesaos. Com, indmeras especializagées e denominagées, essa classe abarcava praticamente todas as profissdes liberals entao existentes: pintores, escultores, marceneiros, vidraceitos, sapateiros, arquitetos. armeiros © assim por diante. © meste artesdo, proprietério de uma oficina, recebla aprendizes, geraimente membros da famfia ov. entao. jovens talentosos da regido. para esludarem 0 oficio. Estes permaneciam na oficina por um perfodo de até quinze anos. aprendendo a dominar as técnicas da profisstio. Os novos artestios uniam-se em corporagées de oficio © os bons artesdos eram capazes de realizar obras refinadas e de grande complexidade e detinham o dominio completo do ciclo de produce, j@ que negociavam com o cliente o servigo a ser realizado, executavam estudos € provas, selecionavam os Materiais ¢ as técnicas mais adequadas, construfam © bem € 0 enlregavam. Cada bem produzido era personalzado © incorporava indmeros detalhes solicitados pelo cliente: 0 némero de variagdes & quase iimitado, A REVOLUCAO INDUSTRIAL A partir das invengées da imprensa de tipos (séc. XV) € do tear hidréuico (séc. Xvilll, ficara demonstrada a possibiidade de mecanizar o trabalho © produzi um bem ern série, Mas fol enn 1776, com o desenvolvimento da méquina a vapor Por James Watt, que o homem passou @ dispor de um recurso prético para. substituir 0 trabalho humano ou a fragt animal por outro tipo de energia. Uma das atividades rapidamente mecanizada foi a produgdio de téxtels. A partir de entdo, a velocidade da méquine passava a impor © ritmo da produgte e os locais de trabalho Passavam a ser construidos em fungdo das necessidades impostas pelos equipamentos: era o nascimento das fabricas. © homem. antes um artesao, passou a ser um operdrio coadjuvante da méquina. A produgao tornou'se padronizada © © numero de opeoes colocadas & disposigao do cliente era limitado. trabalho era rotineiro e padronizado € o trabaihador perdeu 0 contato com o cliente © com a visao global dos objetives da empresa. Era a divistio do trabalho entre aqueles que pensam (gerentes ‘administradores, engenheios) e aqueles que executam (operdrios). Fssa_ verdadeira revolugdo na maneira como os produtos eram fabricados trouxe consigo algumas exigéncias » Padronizagao dos produtos; » Padronizagtio dos processos de fabricagtio; » Treinamento e habiltagdo de mao-de-obra direto: » Cfiagdo @ desenvolvimento dos quadros gerenciais © de supervisao: » Desenvolvimento de técnica de planejamento & controle da produgao: » Desenvolvimento de técnicas de planejamento e controle financeiro: ») Desenvolvimento ds fécnicas de vendas, Curitiba: Cranos Quality, 2015 EVOLUGAO HISTORICA DOS SISTEMAS DE PRODUCAO, PARIS, W. S.; ZAGONEL, E. Muitos dos conceitos que hoje nos parecem ébvios nGo 0 eram na época, como o conceito de Padronizagao de componentes introduzide por Ell Whitney em 1790, quando conduziu a produgao de mosquelées com — pegas _intercambidve's. fomecendo uma grande vantagem operacional aos sxércitos. Teve inicio © regisito. airavés de desenhos @ croquis, dos produtos ¢ processos fabris, surgindo a fungdo de projeto de processes, de instalagdes, de equipamentos ¢ etc. ‘A PRODUCAO CENTRADA NO PRODUTO No fim do século XIX surgiram nos Estados Unidos os trabalhos de Frederick W. Taylor, considerado 0 pai de Administragdo Cientfica, E com os trabaihos de Taylor surgiv a sistematizagao do conceito de produtividade, isto €, @ procura incessante por methores métodos de trabalho e processos de producto, com o objetivo de se obter melhoria da produtividade com o menor custo possivel. Essa procura ainda hoje é © tema central em todas as empresas, mudandose apenas as técnicas Utlizadas. A andlise da relagdo entre o output - ou, em outros termos, uma medida quanfitativa do que foi produzide, como quantidade ou valor das receitas provenientes da venda dos produtos ou servicos finais - € 0 input - ov, em outros termos, uma medida quantitativa dos insumos, como quantidade ov valor das matérias-primas, méo-de- obra, energia elétrica, capital, instalagées prediais, ec. - nos permite quantificar a produtividade. que sempre foi 0 grande indicador do sucesso ou fracasso das empresas, Produtividade = output / input A INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA Em 1887 @ P&L (Penhard € Levanssor) iniciou sua produgde de automéveis com motor a gasolina e em 1890 jé era a maior produtora. Sua fabricagGo eta totalmente artesanal. empregando maquinas de uso geral para diversas tarefas em diversos materiais. A forga de trabalho era altamente quaifcada em projeto, operagao de maquinas, juste e acabamento. Os clientes nao se preocupa- vam com custo, faciidade de diigir ou manutencdo e 0 volume de producdo era baixo. Forp E A PRODUCAO EM MASSA Em 1903, Henry Ford iniciou @ fabricagao do modelo A com plataformas fixas ¢ corn ciclo médio do montader de 514 min. Ao aplicar a divisto do trabalho em suas fabricas, bem como. « filosofia da: “mao vis\vel" de Adam Smith, Ford criou uma série de profissées, obrigando _indiretamente, os funcionérios a uma constante evolucao profissional Por “mdio visivel" entenda-se a verticalzagtie do neadcio, ou seja, 0 controle de todas as etapas da produgdo, desde a maléria-prima até 0 produto final. Em 1908, comegou a fabricar o modelo 7. jé trabalhande com maior padronizagao e intercam- biablidade reduzindo 0 ciclo pora 2.3 min. surgi af © conceit de produgtie em massa, caracterizada Por grandes volumes de produtos extremamente padronizados. isio baixisima variag@o nos tipos de produtos finals. &ssa busca da melhoria da produtividade por meio de novas técnicas definiv 0 que se denominou engenharia industrial Novos conceitas foram introduzidos, tais como! Linha de montagem e posto de trabalho: Estoques intermediarios; Monotonia do trabalho; Arranjo tsico: Balanceamento de linha: Molivagao: Sindicatos: Manutengae preventiva: Controle estatistico da qualidade: » Fluxograma de processos, Em 1927, iniciaram as atividades do Complexo de Rouge (Detroit], Com uma linha de montagem mével, eliminagao completa dos ajustes. divisao completa do trabalho € perteita intercambia- Curitiba: Cranos Qualty, 2015 EVOLUGAO HISTORICA DOS SISTEMAS DE PRODUCAO, PARIS, W. S.; ZAGONEL, E. bilidade, Ford conseguiy reduzir 0 ciclo para 1.19 min. A produgado em massa aumentou de maneira fantéstica @ produtividade e a qualidade. ¢ foram obtidos produtos bem mais uniformes. em razao da padronizagée © da aplicagao de técnicas de controle estatistico da qualidade. Duplicatas de Rouge foram criadas na Inglaterra (modelo Y) & Alemanha (Ford v8). Nesta época. Ford possuia: fundicao de ferro, fabrica de vidros, conformagao e corte de metais em Highland Park: plantagdo de borracha no Brasil: minas de ferro em Minessota: @ navies préprios para transporte de minério de ferro & carvéo. Na Ford, uma s6 pessoa organizava o empreendimento global, 0 préprio Ford. A PRODUCAO CENTRADA NO MARKETING E NO PRroDUTO: © Complexo de Rouge fol o marco industrial de nossa era. Todavia, a “genialidade” no aspecto produtivo de Ford nao the conferiu sutlleza necesséria para o mundo dos negécios. Embora tenha sido o grande precursor dos processos produtivas em massa, foi necessério que Sloan (contratado pela GM) iniciasse um modelo de gestGo empresarial para complementar 0 conceito de produgdo em massa que & praticado hoje. Ele afirmava que os executives de uma empresa devem ser profissionais e nao necessariamente os proprietérios do negécio. Segundo Sloan. 0 modelo da “mao visvel” estava uttrapassado. Nao havia necessidade da empresa produzir todos 08 componentes do produto. Cabia dela projeté-los, compré-las e montéHos no produto final. Eis algumas mucangas promovidas por ele: » Utllzou-se do modelo de produgdie em massa de Ford € ctiou um sistema organizacional descentralizado e muito mais eficaz. » Gerau cinco modelos de produtes para atender a todas as classes econdmicas. » Unificou varies componentes para todos os modelos (bateria, diregtio, carburacto} » Criov varios acessérios como: transmisstio automética, rédio, ar condicionado. etc. Em 1955, a indstria automobilstica norte. americana alingiv a marca de 7 mihdes de carros vendidos. Ford, GM e Chrysler eram responsdivels por 95% das vendas © 6 modelos representavam 80% de todos 08 carros vendidos. Este ano marca também, inicio da queda da industria automobilstica EUA. O Sistema Tovora DE PRODUCAG (STP) © Sistema Toyota de Produgdo foi ideatizado por Ej Kichito e Talichi Ohno, cujas ideias revolucionaram © modo de produzir automéveis sem a necessidade da escala de produgdo para baratear 0s custos. Os dois pilares do STP sto: a flosofia Justin-Time © a autonomagdo. A filosofia Justin-Time (JIT] nasceu na década de 30 ¢ apés a 2° Guerra Mundial se fornou uma ama estratégica para a Toyota tender ao mercado japonés, 0 qual exigia muitos prodiutes diferentes em pequenas quantidades. sa prega a produgdo de soments 0 necessério. no momento necessdrio, com um minima de insumos esloques, atendendo os prazos de entrega dos Clientes, com fomecimentos de lotes menores € com maior frequéncia, Isto, no entanto, se fimou somente mois tarde, nos anos 50, com a implantagao do sistema Kanban {produgao puxada). A autonomagao, segundo Talichi Ohno. significa "automagdio com um toque human’. Ela prega a separagao do homem @ da méquina. no sentido de liberar o trabaihador para operar mais de uma méquina ao mesmo tempo. dando-the mais ‘autonomia para resolver os problemas da sua Grea (inclusive parar uma linha de producdo se o problema néo for resolvido de imediato). Outra idéia por tras da autonomagao € de que as méquinas devem ter dispositives a prova de erros (poka-yokes), tanto do homem, quanto da propria méquina, fazendo com que um emo ndo se propague para frente e gere custos desnecessérios Com isso @ Toyota teve seus custos reduzidos a ponto de, nos anos 80, ameagar seriamente as indsrias automobilsticas americanas e européias. Curitiba: Cranos Quality, 2015 EVOLUGAO HISTORICA DOS SISTEMAS DE PRODUCAO, PARIS, W. S.; ZAGONEL, E. Algumas ferramentas do STP sio: » poka-yoke; »kanban; » set-up rapido; » parceria com fomecedores: »layout celular »kaizen; » trabalho em times semiauténomos (muiticisci- plingridade da méo-de-obra); » TPM (manutengéo produtiva total): entre outras, ‘A produgdo enxuta introduziu, entre outros, os seguintes conceltos: » Just-in-time e produgao puxada {Kanban} » Autonomagao: » Nivelamento da pradugao; » Engenharia simultanea: » Tecnologia de grupo e células de produgéo (manufatura celular; » Melhorias continuas: » Qualidade na fonte: » Consércie modular: » Desdobramento da fungao qualidade: » sistemas flexivels de manufatura € manufatura integrada por computador: » Benchmarking. SIP (mais tarde chamado de “Produgao Enxuta", pelos autores do livo “A Maquina que Mudou o Mundo") obteve grande sucesso com a produgao de pequenos lotes e com a eliminagdo quase total de estoques, gerados antes pela produgao em massa da era Ford. © STP aumentou a fiexibiidade das empresas ¢ ao mesmo tempo reduziu os custos de producto. ‘A PRODUCAO CENTRADA NA TECNOLOGIA Low aNo Meoium TecH (Os europeus aproveitaram os modelos das fabricas Ford na Inglatera © Alemanha © passaram a produzir em massa, porém com novas concepgoes de tamanho, economia e modelos esportives. © coneeito de produgdo em massa € as técnicas produtivas dele decorentes predominaram nas Tabricas até meados da década de 60, quando comegaram a surgir novas técnicos produtivas. que mais tarde, vam a caracterizar a produgdo enxut. Em 1973, com a alta crescente da gasolina, os europeus passaram a ter seus caros mais valorizades. Com a tecnologia do “caro com estrutura monobloco” e com saléries baixes, a compefitividade de seu produto aumentou estrondosamente, Nesta época, a indUstia eletronica comegou a se desenvolver a passos largos. Comegaram a ‘parecer 0s grandes computadores, que posteriormente revolucionariam o mercado. Os primetros relégios eletrOnicos surpreenderam 0 mundo, 0s suicos néio acreditavam que aquele modelo superaria as precisas. engenhocas mecanicas High Tec Nos anos 80, 05 Japoneses comegam a consolidar o modelo de produgao enxuta que vem crescendo vertiginosamente superando a produgtio em massa. O SistEMA REFLExIVO DE PRODUCAO (SRP) Na indstria automobilistica surge outro modelo de produgao: O SRP - Sistema Refiexivo de Produgao. No projeto da planta de Uddevalla, a volvo combinou aspectos de produgéo manual com alto grav de automagdo, isso permitiu imensa flexiblidade tanto de produto quanto de proceso, lém de possibilitar uma redugdo da intensidade de capital. Foi criado um grupo de trabalho cujo Curitiba: Cranos Quality, 2015 EVOLUGAO HISTORICA DOS SISTEMAS DE PRODUCAO, PARIS, W. S.; ZAGONEL, E. objetivo seria o de aicangar as seguintes metas: » Alta produtividade: » Alta flexibiidade: » Alta qualidade: » Eficiéncia geral » Boas condigdes de rabalho, Este objetivo possibilitaria ao trabalhador montar grande parte do automével. Entretanto, o modelo N&o pode ser completamente testado em funggo do grupo ser formado por tradicionalistas, conservadores. radicais ¢ rebeldes, bem como, por algumes dificuldades encontradas por este grupo: » Separagdio entre trabaihadores de cada estagao: » Desenvolvimento de habilidade nao foi como esperado; » Poucas melhorias propostas; » Problemas ergonémicos, gerando complicagées trabathistas. © sucesso do Sistema Toyota de Produgso (produgéo enxuta) em telagdo & produgto de pequenos lotes, foi a eliminagdo quase total de estoques, gerados antes pela produgdo em massa da era Ford. Para tempos de alta inflagao ter ssioque em grande volume era uma consequéncia positiva, isto 6, lucro certo. Porém, para os tempos de baxa inflagao. reduzir gastos eram necesséirios. © que ocasionou a eliminagao de estoques. © SIP seguiu 0 caminho contréio dese tipo de producto, produzindo produtos em pequenos lotes, isto €, fabricando a quantidade certa no tempo certo, fazendo com que os pedidos de emissdo de fobricagdo, fossem aceitos em pequenas quantidades. 5 produtos eletrénicos ganham definitivamente o mercado. Os computadores passam a ser parle integrante do dia a dia da populactio. A PRODUCAO CENTRADA NO FATOR HUMANO- ‘Ao longo desse processo de modemizacdo da produgdo cresceu em importancia a figura do consumidor em nome do qual tudo se tem feito. Pode-se dizer que a procura da satistagao do consumidor & que tem levado as empresas a se aiualzarem com novas técnicas de produgao. cada vez mais eficazes ¢ de alta produtividade. tao grande a atencdo aispensada ao consumidor que este, em muitos casos, jd especifica em Getaihes 0 seu produto, sem que isso atrapathe os processos de produgao do fomecedor, tal a flexibiidade, Assim, estamos caminhando para a produgdo customizada, que, sob certos aspectos, € um ‘retorno go artesanato” sem a figura do artesdo, que passa a ser substituido por modemissimas tabricas. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS UNS, Bemardo F. Breve histéria da engenharia da qualidade MARTINS, Petrénio & —LAUGENI, Femando. Adminishacéo da Producéo. 1° ed. sao Paulo: Editora Saraiva, 1998. OHNO, Taichi. O Sistema Toyota de Producdo: Além da Produgéo em Larga Escala. Porto Alegre: Bookman, 1997. WOMACK, J. P. et al. A Maquina que Mudou o ‘Mundo. Rio de Janeiro: Campus, 1992. Como REFERENCIAR ESTE ARTIGO PARIS, W. S.: ZAGONEL, E. Evolugdo histérica dos Sistemas de Produgdo. Curitiba: Cronos Quality, 2015. Curitiba: Cranos Quality, 2015

Você também pode gostar