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Número 307

Sessões: 18 e 19 de outubro de 2016


Este Informativo contém informações sintéticas de decisões proferidas pelos Colegiados do TCU, relativas à área
de Licitações e Contratos, que receberam indicação de relevância sob o prisma jurisprudencial no período acima
indicado. Os enunciados procuram retratar o entendimento das deliberações das quais foram extraídos. As
informações aqui apresentadas não constituem, todavia, resumo oficial da decisão proferida pelo Tribunal nem
representam, necessariamente, o posicionamento prevalecente do TCU sobre a matéria. O objetivo é facilitar o
acompanhamento dos acórdãos mais importantes do TCU. Para aprofundamento, o leitor pode acessar o inteiro
teor das deliberações por meio dos links disponíveis.

SUMÁRIO
Plenário
1. A entidade contratada por dispensa de licitação, com base no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993, deve
comprovar indiscutível capacidade para a execução do objeto pactuado por meios próprios e de acordo com as
suas finalidades institucionais, sendo regra a inadmissibilidade de subcontratação.
2. O fiscal da obra responde por prejuízo decorrente de serviços executados com deficiência aparente e por aqueles
inexistentes que foram indevidamente atestados, situação na qual, se for terceiro contratado, cabe também a
restituição dos honorários recebidos pelo serviço de fiscalização mal executado, uma vez que, conforme o disposto
no art. 76 da Lei 8.666/1993, o fiscal tem uma típica obrigação de resultado.
3. A locação de computadores deve ser precedida de estudos de viabilidade que comprovem sua vantagem para a
Administração quando comparada com a aquisição.

PLENÁRIO

1. A entidade contratada por dispensa de licitação, com base no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993, deve
comprovar indiscutível capacidade para a execução do objeto pactuado por meios próprios e de acordo
com as suas finalidades institucionais, sendo regra a inadmissibilidade de subcontratação.
Pedido de reexame interposto por ex-prefeito de Patos/PB questionou deliberação do TCU mediante a qual fora
sancionado com multa em razão de irregularidades apuradas em processo de denúncia, entre elas a contratação
irregular de entidade sem fins lucrativos para execução de ações e serviços do Programa Projovem Trabalhador
– Juventude Cidadã, mediante a dispensa de licitação prevista no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993. Ao
instruir o recurso, a unidade especializada concluiu que a justificativa para a contratação por dispensa de licitação
em tela não atendia a todos os atributos previstos no texto legal, “em particular a inquestionável reputação ético-
profissional e a demonstração de que a entidade teria capacidade para executar o objeto contratado”.
Divergindo da unidade instrutiva, transcreveu o relator excertos da justificativa que acompanhou a autorização
para abertura do procedimento de contratação, subscrita pelo Secretário de Administração municipal,
considerando-a satisfatória por abordar “com certa propriedade os principais requisitos exigidos para a dispensa
de licitação fundada no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993, o qual jugo ser uma das hipóteses de dispensa de
licitação de interpretação mais complexa”. No seu entendimento, a jurisprudência e a doutrina sobre a
modalidade de contratação foram citadas, assim como fora apresentada a qualificação técnica com vistas a
demonstrar a inquestionável reputação ético-profissional da entidade. Entendeu o relator que a documentação
acostada aos autos tinha o condão “de demonstrar que a instituição dispunha de capacidade de execução do
objeto contratual com estrutura própria e de acordo com suas competências”. Nesse passo, relembrou que, ao
proferir o voto condutor do Acórdão 3.193/2014-Plenário, externara o entendimento que “a entidade contratada
por dispensa de licitação, com base no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993, deve comprovar indiscutível
capacidade para a execução do objeto pactuado por meios próprios e de acordo com as suas finalidades
institucionais, sendo regra a inadmissibilidade de subcontratação”. Verificou, ademais, que o estatuto social

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“demonstra que a entidade é sem fins lucrativos e tem como objetivo, dentre outros, o desenvolvimento
institucional e a realização de ações de qualificação diversas, demonstrando que subiste nexo entre a natureza
da instituição contratada e o objeto contratual, que necessariamente deve contemplar o ensino, a pesquisa ou a
desenvolvimento institucional”. Dessa forma, concluiu o relator, “houve atendimento aos requisitos previstos no
art. 24, inciso XIII, da Lei de Licitações e Contratos, que exige comprovação cumulativa dos seguintes requisitos:
ser brasileira, não ter fins lucrativos, apresentar inquestionável reputação ético-profissional, ter como objetivo
estatutário-regimental a pesquisa, o ensino ou o desenvolvimento institucional, deter reputação ético-
profissional na estrita área para a qual está sendo contratada”. Assim, acolheu o Plenário a tese da relatoria
para dar provimento ao recurso, tornando sem efeito a multa aplicada na decisão recorrida.
Acórdão 2669/2016 Plenário, Pedido de Reexame, Relator Ministro Benjamin Zymler.

2. O fiscal da obra responde por prejuízo decorrente de serviços executados com deficiência aparente e por
aqueles inexistentes que foram indevidamente atestados, situação na qual, se for terceiro contratado, cabe
também a restituição dos honorários recebidos pelo serviço de fiscalização mal executado, uma vez que,
conforme o disposto no art. 76 da Lei 8.666/1993, o fiscal tem uma típica obrigação de resultado.
O Plenário apreciou Recursos de Reconsideração interpostos em face de acórdão que condenara os recorrentes e
outros responsáveis ao ressarcimento dos danos e ao pagamento de multa em função de irregularidades na
execução de convênio firmado entre o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e o Município
de Silvanópolis/TO, cujo objeto contemplara a construção de uma unidade de educação infantil no âmbito do
Programa Proinfância. Especificamente a respeito do recurso do engenheiro fiscal da obra, que houvera sido
condenado solidariamente com os demais responsáveis à devolução da integralidade dos recursos repassados (R$
1.256.083,51), concluiu o relator que o recorrente deveria responder pelos pagamentos superfaturados (R$
285.487,02), oriundos do atesto indevido de serviços não executados, afastando-se, assim, a parcela do débito
atribuída à ausência de nexo de causalidade entre os saques da conta do convênio e os serviços supostamente
realizados. Além disso, registrou o relator divergências entre as instâncias instrutivas e o MP/TCU quanto à
manutenção, no débito imputado ao recorrente, do valor dos honorários recebidos pela fiscalização da obra, dos
quais R$ 14.500,00 foram pagos a partir da conta específica do convênio. Dissentindo nesse particular do parquet,
para quem a condenação do recorrente não deveria incluir tal importância, pois a ART referente à obra havia sido
registrada no Crea/TO e o fiscal não seria responsável pela comprovação do nexo financeiro dos pagamentos,
entendeu o relator que “os valores federais utilizados para pagamento do fiscal (R$ 14.500,00) devem ser
restituídos ao erário, pois os serviços prestados pelo recorrente foram deficientes. Assim, nos termos do art. 76
da Lei de Licitações e Contratos, deveriam ser rejeitados por estarem em desacordo com o contrato ”, pois, entre
outros motivos, a contratação do recorrente como responsável técnico pela fiscalização “visava exatamente evitar
o pagamento de serviços não executados ou com qualidade insatisfatória”. Nessa toada, prosseguiu: “embora a
natureza da obrigação assumida pelos profissionais liberais seja tema controverso, entendo que o disposto no
citado art. 76 da Lei 8.666/1993 demonstra que o fiscal da obra tem uma típica obrigação de resultado,
respondendo pelos serviços executados com deficiência aparente ou por aqueles inexistentes que foram
indevidamente atestados”. Sob outro prisma, destacou, como o recorrente fora contratado para prestar serviços
de fiscalização da obra, o requisito básico para a responsabilização contratual seria o inadimplemento culposo de
sua obrigação e a correspondente lesão à contraparte, de modo que, tendo o recorrente prestado mal o serviço
contratado, além da condenação pelo valor superfaturado, caberia também a restituição do valor dos honorários
recebidos. Além disso, consignou que “a fiscalização da obra era uma obrigação do convenente (cláusula
terceira, inciso II, alínea “l”), sendo vedada a utilização dos valores do convênio para pagamento de servidor
ou empregado público por serviços de consultoria ou assistência técnica (cláusula quarta, inciso XI) ”. Assim,
acolheu o relator a proposta do auditor-instrutor, sendo acompanhado pelo Colegiado, no sentido de se conceder
provimento parcial ao apelo, reduzindo o débito imputado ao recorrente para R$ 299.987,02, correspondente ao
valor do superfaturamento apurado, acrescido dos honorários recebidos pelos serviços de fiscalização da obra,
que não houveram sido prestados com a lisura exigida.
Acórdão 2672/2016 Plenário, Recurso de Reconsideração, Relator Ministro Benjamin Zymler.

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3. A locação de computadores deve ser precedida de estudos de viabilidade que comprovem sua vantagem
para a Administração quando comparada com a aquisição.
Em auditoria realizada no Ministério da Fazenda com o objetivo de examinar a legalidade e a legitimidade de
contratos de locação de computadores e de serviços de impressão, firmados pela Subsecretaria de Planejamento,
Orçamento e Administração (SPOA/MF), foi apontado, entre outras irregularidades, prejuízo decorrente da opção
antieconômica/desvantajosa pela locação de computadores em detrimento de sua aquisição. A equipe de auditoria
consignou que o total desembolsado com o contrato fora superior ao valor da aquisição dos computadores,
utilizando-se preço médio obtido em pesquisa abrangendo várias aquisições realizadas pela Administração
Pública. Na apreciação final, após instaurada a tomada de contas especial e efetuadas as citações, acolheu o relator
o principal argumento dos responsáveis, no sentido de que a opção pela locação dos equipamentos em lugar da
compra decorrera, essencialmente, da inexistência de orçamento disponível para investimento. Ponderou que
atitude diversa dos gestores poderia trazer riscos ainda maiores à Administração em decorrência da
descontinuidade das atividades que seriam prejudicadas pela falta dos computadores. Todavia, reputou relevante
assinalar, com o fito de orientar a Administração e evitar a repetição da falha, que “por meio do o Acórdão
3.091/2014-TCU-Plenário, esta Corte já deixou assente que a locação de computadores deve ser precedida de
estudos de viabilidade que comprovem sua vantagem para a Administração quando comparada com a
aquisição”. Assim, acompanhou o Plenário o voto do relator, no sentido de julgar regulares com ressalvas as
contas dos responsáveis, destacando na parte dispositiva do acórdão que “a ressalva consiste na ausência de
estudos de viabilidade a fim de comprovar a economicidade das locações frente às aquisições ”.
Acórdão 2686/2016 Plenário, Tomada de Contas Especial, Relator Ministro Bruno Dantas.

Elaboração: Diretoria de Jurisprudência – Secretaria das Sessões


Contato: jurisprudenciafaleconosco@tcu.gov.b r

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