“Passion Flower”
ou
Atrás do arco-íris
Diana Palmer
Capítulo 2
Capítulo 3
CAP 4
FAZIA anos que Jennifer não montava a cavalo, mas Everett tinha
insistido em levá-la a dar um passeio com ele depois do almoço, e quando se
empenhava em algo não servia de nada discutir com ele.
—Seguro que me caio —balbuciou observando com nervosismo o cavalo
branco que Everett tinha selado para ela—. Além disso, tenho muitas coisas que
fazer...
—Como o que? —espetou-lhe o rancheiro, olhando-a com os braços em
jarras—. lavaste e engomou cada cortina que há na casa. esfregaste os chãos e
até te puseste já ao dia com toda a papelada.
—O jantar —disse ela, sentindo-se vitoriosa por ter encontrado uma
desculpa—, ainda não preparei o jantar.
—Pois nos fazemos uns sanduíches e já está —o solucionou ele
rapidamente—. E agora, subida.
lhe lançando um olhar furioso, Jenny deixou que a ajudasse a
encarapitar-se na cadeira. Ainda se notava débil, mas seu cabelo estava
começando a recuperar um pouco de brilho e se sentia mais viva.
—Sempre foste tão dominante, ou é que te está treinando? —perguntou-
lhe com ironia.
—Em realidade é uma necessidade —respondeu ele renda-se—. Quando
está à frente de um rancho, tem que ser capaz de levar as rédeas, porque, se
não, acaba na ruína.
Os olhos castanhos do Everett se fixaram nos gastos jeans do Jenny.
—Não te viria mal comprar um pouco de roupa —lhe disse franzindo o
cenho ligeiramente.
—Antes tinha um armário cheio —respondeu ela com um suspiro—, mas
quando perdi meu anterior trabalho tive que aprender a me arrumar com
menos. Além disso, aqui tampouco tenho que ir feita um pincel, não? Ao menos
em meu contrato não diz nada disso.
—Não, mas ao menos poderia comprar uns jeans novos —replicou ele,
passando a mão brandamente pela coxa do Jennifer, onde o tecido estava mais
gasto.
Aquela inesperada carícia fez que ao Jenny lhe subisse o coração à
garganta.
—Pois os que leva você não estão muito melhor —lhe disse.
—A mim as calças não duram nada, mas é por meu trabalho —repôs ele.
Jenny sabia bem, porque quando lavava a roupa antes tinha que lhe
raspar aos jeans do Everett uma capa de quase um dedo de barro.
—Pois por isso, eu não tenho que reparar cercas, nem me ocupar do gado,
assim que estas calças me durarão ainda um tempo.
Everett franziu os lábios ante seu cabezonería. Sua mão seguia ainda
sobre a perna do Jenny.
—Bom, pode que não repare cercas, nem te ocupe do gado, mas
certamente ganha o salário. Se por acaso não me tivesse dado conta já de quão
bem fiz ao te contratar, Eddie e Bib me dizem isso ao menos duas vezes ao dia.
—São boa gente, os dois —murmurou Jenny, um pouco sobressaltada.
—O mesmo dizem eles de ti —respondeu Everett com um sorriso—.
Ilumina este lugar. Desde que chegou, parece outro.
Jennifer se sentiu adulada, mas em seu peito sentiu uma pequena
pontada de dor, porque sabia muito bem que seguia sem vê-la como a uma
mulher. Tratava-a como a uma menina, e aquilo a incomodava, sobre tudo porque
ela sim o via como um homem. De fato, seu sensual físico estava voltando-a
louca. pilhava-se a si mesmo um montão de vezes ao dia observando-o
embevecida, e o pior era o que lhe custava apartar a vista.
—Parece que te pôs o cabelo mais claro —lhe comentou Everett de
repente, apartando-se, e montando-se em seu cavalo.
Uma sensação de felicidade invadiu ao Jenny. Se se tinha dado conta,
talvez não o fora tão indiferente.
—É que agora está mais são —respondeu—. Aqui no campo me sinto muito
melhor —acrescentou suspirando, enquanto olhava em redor com olhos
sonhadores—. Isto é tão bonito... e tão tranqüilo... A gente de cidade não sabe
o que se perde.
Everett agitou brandamente as rédeas de seu cavalo para que começasse
a andar, e lhe fez um gesto com a cabeça ao Jenny para que o seguisse.
—Vamos, vou levar te a vega. Ali é onde estão as cabeças de gado que
comprei a semana passada.
—E confia nas ter aí?, não se alaga quando chove? —inquiriu ela
franzindo o cenho. Estava-lhe custando um pouco fazer-se ao ritmo do cavalo,
mas pouco a pouco ia sentindo-se mais segura.
—Sim, é claro que sim que sim —balbuciou ele com uma careta de
desagrado—, mas os pastos nessa zona são os melhores. Meu tio Ben perdeu
trinta cabeças quando eu era um menino. Foi algo grotesco, ver como a
enchente se levava às cabeças de gado. É incrível a força que tem a água
quando se desata.
—Lembrança que alguma vez tínhamos enchentes na Georgia, onde eu
vivia de menina.
—Duvido que fossem como as daqui —murmurou Everett—. Espera a ver
uma tormenta do Texas e saberá ao que me refiro.
—Cresci lendo os livros do Zane Grei —lhe informou ela molesta por que
a tivesse por uma ignorante—. Sei tudo sobre as tormentas secas, as
enchentes, e as correrias de búfalos.
—Zane Grei? —repetiu ele, olhando a de marco em marco—. Vá!, isso sim
que não me esperava isso...
—Já te disse que eu adorava Texas —disse ela com um sorriso. Fechou
os olhos e deixou que o cavalo a levasse—. Mmmm... o ar aqui cheira
maravilhosamente. Sabe, Rett?, se o engarrafasse e o vendesse, faria-te rico
da noite para o dia.
—Se quisesse, poderia me fazer rico vendendo os direitos de exploração
do petróleo que há no confine oeste de meu rancho —resmungou ele em um tom
áspero.
Jenny teve a impressão de que o tinha ofendido.
—Sinto-o —murmurou—. Hei dito algo que não devia, verdade?
Everett meneou a cabeça.
—Não é isso, é que Robert sempre estava me dando a lata explorando
esse petróleo.
—Mas alguma vez conseguiu te convencer —disse ela, esboçando um leve
sorriso—, não é assim?
Ele se encolheu de ombros.
—Expu-me isso em um par de ocasiões, quando as coisas se hão posto
difíceis, mas para mim seria uma traição a meus princípios. Quero fazer que
este lugar seja rentável com a cria de gado, não pelo petróleo. Não quero que
estas terras acabem sendo afeadas por uma plataforma petroleira, com
bombas para extrair o petróleo —lhe explicou—. Não muito longe daqui havia
antigamente povoados índios apaches; as tropas da Santa Ana cruzaram por
esta mesma propriedade de caminho ao Álamo; e durante a Guerra Civil os
confederados também passavam por aqui para dirigir-se ao México. Há tanta
história nestas terras, que me parece uma pena as danificar só para me
enriquecer da maneira mais fácil e rápida.
Jennifer tinha estado observando-o enquanto falava, e sem querer seus
olhos se viram atraídos pelos sensuais lábios.
—Compreendo-o —disse quedamente.
Everett girou o rosto para ela e sorriu.
—Como era o lugar onde cresceu você? —inquiriu curioso.
—Era um pequeno povo do sul da Georgia, Edison. Havia grandes
extensões de campo aberto e montões de pinheiros, e quase toda a região era
agrícola. Havia umas granjas enormes, embora a que tinha meu avô era mas bem
pequena. Cultivava algodão, mas agora plantam amendoins e soja.
—Quanto tempo esteve vivendo ali?
—Até os dez anos —respondeu Jenny—. A meu pai saiu um trabalho em
Atlanta, e nos mudamos ali. Vivíamos com mais comodidades, mas eu nunca
cheguei a senti-lo como meu lar.
—A que se dedicava seu pai?
—Era arquiteto —disse ela sonriendo—, e um arquiteto muito bom, além
disso. Seu pai...
—Não quero falar dele —a cortou Everett.
—Sinto-o —balbuciou Jennifer—, não pretendia te incomodar. Não tem
por que me falar dele se não querer. Eu só...
—Meu pai era um alcoólico, Jenny.
Ela já sabia, é obvio, mas não ia delatar ao Eddie.
—Deveu ser difícil, para seu irmão e para ti —murmurou.
—Robert teve mais sorte que eu. Criaram-no nosso tio Ben e nossa tia
Emma. Foi deles de quem herdo o rancho. Eram muito boas pessoas. O tio Ben
se passou toda sua vida lutando para manter a propriedade, e quando meu pai
morreu e eu me devi viver com eles, ensinou-me tudo o que sei sobre cavalos e
gado.
—Suponho que eu tive muita sorte com meus pais —murmurou Jenny—.
Se queriam o um ao outro, e a mim, e vivíamos desahogadamente. Quando era
uma menina não o apreciava, mas foi um duro golpe para mim quando os perdi —
acrescentou—. E sua mãe?
—Era uma mulher imatura, incapaz de assumir responsabilidades —
respondeu ele quedamente—. Um dia simplesmente nos abandonou. Deixou a
nosso pai e a nós por um assegurador de Boston. Robert não era mais que um
bebê. Saiu pela porta e não olhou atrás.
—Parece impossível imaginar a uma mulher insensível com seus próprios
filhos —comentou Jennifer—. tornaste ou seja algo dela? Vive ainda?
—Não sei, e não me importa —respondeu Everett com aspereza. Seus
olhos castanhos se encontraram com os dela, e Jenny se disse que jamais tinha
visto neles uma expressão tão doída e tão triste—. Não sinto muita simpatia
pelas mulheres.
E não era só pelo que lhes tinha feito sua mãe, disse-se Jennifer,
recordando o que Eddie lhe tinha contado a respeito daquela mulher de cidade
que o tinha rechaçado porque era pobre. Entretanto, compreendeu que não
seria uma boa idéia tratar de se aprofundar no tema.
—Entendo-o —se limitou a dizer.
—Esquece-o —respondeu ele—. Desfrutemos de do passeio.
Seguiram em silêncio um bom momento, com ele diante dela, e Jenny ia
comentar lhe algo sobre o paisagem para destensar o ambiente quando lhe
pareceu escutar um ruído estranho perto dela, como de um chocalho. Olhou em
redor, mas antes de que pudesse averiguar o que era, seu cavalo se encabritou
de repente e saiu rapidamente tendido pelo plano.
Jennifer atirou desesperadamente das rédeas, tentando fazer que se
detivera, mas o cavalo nem sequer diminuiu a velocidade.
—Sooo!, sooo! —gritava-lhe frenética—, para lhe!, para!
aferrou-se com todas suas forças às rédeas e às crinas do animal, e
fechou os olhos, rezando sem parar. de repente lhe pareceu que o cavalo
estava indo mais devagar, e acreditou que o céu tinha escutado suas preces,
mas ao abrir os olhos viu que o que ocorria era que estavam aproximando-se de
uma cerca. O animal se parou em seco a um escasso meio metro, mas ela saiu
disparada ao outro lado, caindo sobre as costas. O golpe lhe roubou
literalmente o fôlego por uns segundos, e ficou ali imóvel, com o olhar fixo no
céu azul.
Nesse momento escutou o ruído dos cascos de um cavalo aproximando-
se, como alguém desmontava, e imediatamente lhe chegou a voz inconfundível
do Everett, amaldiçoando entre dentes enquanto corria a saltar a cerca e
ajoelhar-se a seu lado.
—Está bem, Jenny? —perguntou-lhe atropeladamente. Estava pálido, mas
seus olhos flamejavam.
—S... sim. Não... foi... culpa minha —disse ela com voz débil.
—Sei —grunhiu ele—. foi minha culpa. Não vi essa serpente de cascavel.
Não estava atento, e para cúmulo não levava em cima meu revólver.
—Não te haverá... mordido? —perguntou-lhe ela, com o medo escrito em
seus olhos, abertos como pratos.
Everett riu brandamente e lhe acariciou a bochecha.
—Não, não me mordeu. É única, Jenny. Acaba de ter uma queda que teria
podido te matar, e está preocupando-se por mim —lhe disse—. Te dói em algum
sítio?
—Dói-me... tudo —respondeu ela—, e quase não posso... respirar.
—Não sente saudades. Esse condenado cavalo... Deveria fazer chili com
ele —murmurou Everett com um leve sorriso—. vamos assegurar nos de que não
te tenha quebrado nada.
Suas mãos tocaram com cuidado os braços e pernas do Jenny,
procurando alguma fratura.
—Como te nota as costas? —inquiriu sem deter sua exploração.
—Não me a... sinto.
—Hum... pois me temo que logo a sentirá —lhe assegurou ele franzindo os
lábios—. Crie que poderia tratar de te incorporar um pouco?
—Se me der a mão, tentarei-o —respondeu ela com voz rouca.
Everett a ajudou, e Jennifer se deu conta nesse momento de que com a
queda lhe tinham saltado um par de botões, e precisamente esse, de todos os
dias, não se tinha posto prendedor. levou-se as mãos ao peito, tampando-se
pudica.
—Não seja parva —a repreendeu ele—, é minha empregada. Eu nunca te
olharia dessa maneira, e menos em uma situação assim. Anda, ajudarei-te a te
pôr de pé.
Aquilo terminou de afundar o orgulho da pobre Jennifer. Nem sequer
médio em couros a via como a uma mulher. Sentiu desejos de voltar a tombar-
se e espernear na erva e gritar de pura frustração, mas permitiu que a
ajudasse a levantar-se. Cambaleando-se um pouco, voltou-se para o outro lado
da cerca, onde estava pastando apaciblemente o cavalo branco.
—Quando retornarmos —assegurou ao Everett com os olhos
entreabridos—, primeiro cavarei uma grande sarjeta perto do estábulo; logo,
encherei-a de serpentes... e depois jogarei nela a esse estúpido cavalo!
Ele riu.
—Como te encontra? —perguntou-lhe lhe apartando uma mecha do rosto.
—Bem, só estou um pouco tremente pelo susto —murmurou ela.
Everett a surpreendeu, tomando-a em braços, e caminhou com ela em
volandas, dirigindo-se a uma porta no cerca a uns metros de onde estavam.
Jenny se tinha ficado sem fala. Um de seus seios roçava o tórax masculino, e
embora tinham a roupa de por meio, uma quebra de onda de prazer a percorreu
por dentro ante a excitante sensação. De fato, teve que apertar os dentes
para reprimir o impulso de esfregar-se contra ele.
—Devo te pesar muito... —protestou sem muito entusiasmo.
—Pois a verdade é que não —replicou ele—; é ligeira como uma pluma.
—Suponho que a maioria das mulheres lhe parecerão —murmurou isso
ela, baixando a vista a sua camisa.
Tinha os primeiros botões desabotoados, e podia ver sua pele bronzeada
e o pêlo encaracolado que cobria seu peito. Cheirava a couro, a feno e a tabaco,
e Jennifer sentiu um terrível desejo de tomar seu rosto entre suas mãos e
beijar esses lábios que...
—Abre o fechamento da grade —lhe disse Everett, tirando-a
bruscamente de seus ensoñaciones.
Jenny alargou a mão, abriu o fechamento, e empurrou a porta. Everett
passou ao outro lado com ela ainda em braços, e Jennifer voltou a pôr o seguro
da porta. Quando teve acabado de fazê-lo, viu que ele estava olhando para
baixo, e ao baixar ela também a vista para ele se precaveu sobressaltada de
que ao estender o braço lhe tinha aberto a camisa por completo, deixando ao
descoberto um de seus brancos seios.
Aturdida, apressou-se a tampá-lo.
—Sinto-o —murmurou Everett—, não era minha intenção ficar olhando.
Não tem por que te envergonhar, Jenny.
Ela ocultou o rosto no oco de seu pescoço, e Everett ficou tenso antes
de atrai-la mais para si, apertando-a contra seu peito.
Ele não disse nada enquanto se dirigia para o lugar onde estavam os
cavalos, mas Jennifer podia escutar os fortes batimentos do coração de seu
coração e sua respiração entrecortada. Naqueles breves instantes Jennifer
experimentou deliciosas sensações que nunca antes tinha conhecido. adorava a
calidez que emanava de seu corpo, os calafrios que a percorriam ao esfregar-se
seu peito com o dele com cada passo que dava. Queria que aquilo não acabasse
jamais.
Mas acabou; tinham chegado junto aos cavalos. Everett a baixou,
fazendo-a deslizar-se de maneira que se esfregasse contra seu corpo até que
seus pés tocaram a terra, sentindo cada centímetro dele. Jennifer reprimiu um
gemido de prazer, mas não pôde conter o suspiro que escapou de seus lábios
quando a reteve, abraçando-a com delicadeza, com o vento soprando em torno
deles.
Ao cabo de um momento a soltou, e Jenny teria jurado que havia um
ligeiro tremor em suas mãos, mas se disse que devia havê-lo imaginado.
—Seguro que está bem? Crie que pode voltar a montar? —perguntou-lhe
Everett brandamente.
Ela assentiu com a cabeça, incapaz de articular palavra. Aquele abraço
tinha sido tão íntimo... tão íntimo como poderia havê-lo sido um beijo, e de
repente tinha causado um giro inesperado em sua relação.
—Será melhor que voltemos —disse Everett—. Tenho trabalho que
fazer.
—Eu também —murmurou ela, montando de novo o cavalo branco, com
certa apreensão—. Está bem, amiguito —lhe disse—: volta a me atirar, e farei
latas de comida para cães contigo.
O cavalo soprou e sacudiu a cabeça, fazendo-a rir.
—Viu, Rett?, acredito que me entendeu!
Mas ele não estava olhando-a. Já se tinha montado em seu cavalo, e
estava observando absorto o horizonte enquanto fumava um cigarro. Não disse
uma palavra durante o caminho de volta.
Quando chegaram à casa e se desembarcou do cavalo, e entregue as
rédeas ao Everett para que o levasse a estábulo com o seu, Jenny, querendo
romper o silêncio, tirou um tema ao que tinha estado lhe dando voltas toda a
manhã.
—Rett, poderia me deixar um bote de pintura branca?
Ele ficou olhando-a.
—O que?
—Um só, com um me bastaria. É que quero pintar a cozinha.
—Ouça, ouça, ouça... Contratei-te para que passasse a máquina meus
papéis, para que fizesse as tarefas da casa e para que guisasse —balbuciou
arqueando os olhos perigosamente—. Eu gosto de minha casa tal e como está.
—OH, vamos, Rett, só um...
—Não.
Jenny o olhou irritada, mas não o abrandou.
—Se quiser que gaste meu dinheiro —lhe disse Everett—, comprarei-te
outro par de jeans, mas não vou desperdiçar o em decoração —concluiu,
fazendo que a palavra soasse depreciativa.
—A decoração é uma arte —lhe espetou ela ofendida.
Estava a ponto de lhe dizer que se dedicou a isso durante anos, e que era
uma profissão muito digna, mas, antes de que pudesse seguir falando, interveio
ele.
—Não é mais que um engañabobos —lhe disse—. Embora tivesse o
dinheiro não deixaria a um desses idiotas soltos em minha casa, a um...
decorador —apostilou, quase cuspindo a palavra—. Imagine, pagar dinheiro por
que um desses estelionatários que se acreditam que têm melhor gosto que você
ponha sua casa feita um despropósito e te cobre uma fortuna! —inclinou a
cabeça para diante, e olhando-a aos olhos repetiu—: Não-há-pintura. Entendeu-
me, senhorita King?
—Teria sorte de que um decorador que se aprecie se atrevesse a
decorar sua casa —lhe espetou Jenny furiosa—. Com apenas entrar por essa
porta lhe daria algo ao ver a mescla de tapetes orientais com esses horrorosos
cinzeiros feitos de pele de serpente que parecem tirados de uma loja de
souvenirs!
Everett entreabriu os olhos.
—É minha casa, assim, se você não gostar de meus cinzeiros, fecha os
olhos e não os olhe! —quase rugiu—. Ou faz a mala e volta para Atlanta; e deixa
de me olhar por cima do ombro.
—Eu não estou te olhando por cima do ombro! —protestou ela irritada—.
Só quero um bote de pintura!
—Terá-o quando neve no inferno!
impregnou-se o chapéu e agitou as rédeas de seu cavalo, afastando-se
furioso, e deixando ao Jenny jogando pestes no alpendre da casa.
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
A sorte esteve de sua parte. Sally Ward tinha ficado tão impressionada
com seu trabalho que virtualmente criou um posto para ela em sua agência.
Jennifer se sentia muito afortunada. Sally era um encanto de chefa, e o
trabalho adorava, mas passaram várias semanas antes de que pudesse sequer
pensar no Everett sem tornar-se a chorar.
Capítulo 8
DREW ia sair de taças com uns amigos essa noite e convidou ao Jennifer,
mas ela declinou o convite. Já não lhe interessava a vida noturna. Ia a algumas
festas com a Sally para atrair a novos clientes e discutir projetos, mas isso era
tudo.
Gostava de seu novo trabalho, e embora Houston era uma cidade grande,
não o era tanto como Nova Iorque, e embora havia competitividade, não era tão
agressiva, e o estresse era menor. Deveria estar contente, mas uma parte dela
ainda sentia falta da o Everett.
levantou-se do sofá e foi olhar pela janela. A cidade de noite era
espetacular com suas luzes multicoloridos, mas não podia evitar suspirar ao
recordar o céu estrelado no rancho, o canto dos grilos e o horizonte longínquo.
perguntou-se se Everett pensaria alguma vez nela, se se arrependeria do
que tinha ocorrido. Não, certamente não. Era como se um muro de pedra o
rodeasse, e não deixasse que ninguém se aproximasse dele.
Com um último olhar à silhueta de arranha-céu iluminados, deu-se a volta,
apagou as luzes e se foi à cama. antes de que o sonho se apoderasse dela,
perguntou-se quem seria aquele novo cliente, e sorriu divertida ao recordar o
que Sally havia dito a respeito de sua voz.
À manhã seguinte despertou sobressaltada. O despertador não tinha
divulgado, ou possivelmente sim, mas devia havê-lo apagado meio dormida e
teria se tornado a dormir. vestiu-se a toda pressa com um vestido violeta e
uma blusa de lã, e gemeu se desesperada quando tentou recolher o cabelo e viu
que algumas mechas não faziam mais que escapar das forquilhas. deu-se um
pouco de ruge, ficou brilho nos lábios, calçou uns sapatos de salto e saiu
correndo do bloco de pisos onde vivia de aluguel, para tomar o primeiro táxi
que passou.
—Estraga, ao fim chega, senhorita King... —disse Drew pondo voz de
chefe resmungão quando a viu entrar pela porta do escritório—. Não me deixa
outro remédio que informar deste atraso a nossa diretora.
Jennifer se apoiou no marco da porta com uma mão no peito. Estava sem
fôlego, tinha as bochechas rosadas, os olhos brilhantes e o cabelo
despenteado, mas muito sexy.
—Faz-o-o desafiou ela sonriendo—, e eu lhe direi o dessa clienta a que
perdemos... porque tentou ligar com ela e fugiu espavorida.
—Chantagista! —acusou-a Drew lhe fazendo cócegas.
—Para!, para, Drew! —suplicou-lhe Jenny entre risadas.
—Jennifer!, Andrew! —repreendeu-os Sally com uma risada nervosa,
aparecendo de repente—. Deixem de fazer o palhaço. Temos negócios dos que
tratar, e estão dando uma má primeira impressão a nosso novo cliente.
Drew se apartou imediatamente do Jenny, ficando sério. Ela ia aparar se
o cabelo com a mão, mas ao levantar a vista e ver o homem que havia ao lado da
Sally, ficou paralisada. Foi como se a alegria e o brilho interior que tinham
emanado dela momentos antes, dissipassem-se como fumaça no ar.
—Como vai? Sou Andrew Peterson —saudou Drew ao homem, lhe
tendendo a mão—. E ela é...
—Sei como se chama —disse Everett Culhane com uma risada zombadora
—. Já nos conhecemos.
Jenny advertiu que em seus olhos negros não havia precisamente uma
oferta de paz, nem sequer de trégua. Não, o que havia neles era ira e frieza.
Drew olhou ao Jenny e logo outra vez ao Everett com o cenho franzido,
sem entender nada. Sally, em troca, tinha compreendido o que estava
ocorrendo ali com apenas ver a palidez no rosto do Jennifer.
—Em... o senhor Culhane é o novo cliente do que lhes fale ontem —disse
ao Drew e ao Jenny, olhando vacilante a esta última. Parecia que de um
momento a outro fora a deprimir-se.
—Não mencionou seu nome —respondeu Jennifer com uma voz estranha
—. Desculpem, tenho que fazer uma chamada.
ia girar se para ir a seu escritório quando o rancheiro a agarrou pelo
braço.
—Não tão rápido, antes vamos falar.
Jenny o olhou fixamente, desafiante, mas por dentro estava tremendo
pela raiva contida.
—Não tenho nada que falar com você, senhor Culhane —disse soltando-se
bruscamente—. E duvido que você tenha nada que dizer que possa me
interessar.
—Jennifer... —balbuciou Sally nervosa.
—me despeça se tiver que lhe fazê-lo disse Jenny a sua chefa—, mas não
penso trabalhar para ele.
girou-se sobre os talões e se foi a seu escritório, fechando detrás de si.
ficou de pé frente ao escritório, de costas à porta, tremendo como um pudim,
com lágrimas amontoando-se em seus olhos verdes.
Estava tão angustiada que nem sequer ouviu o suave clique da porta ao
abrir-se. Depois, entretanto, fechou-se com um golpe seco, e quando voltou o
rosto se encontrou com que era Everett quem tinha entrado.
Só então se precaveu de que ia vestido com um traje de executivo, e um
traje caro a julgar pela feitura e pelo tecido. Girou de novo a cabeça para o
escritório e a parede.
—Parte, por favor —lhe disse com a maior firmeza que pôde, que nesses
momentos não era muita.
Everett a escrutinou comprido momento com o olhar antes de tomar
assento em uma poltrona estofada frente ao escritório, ao lado dela.
—Acabo de chegar e faz três meses que não nos vemos. Não te parece
descortês não querer conversar comigo sequer? —disse estalando a língua e
meneando a cabeça em um gesto desaprobador.
—Já te hei dito que não tenho nada que falar contigo. E se o que quer é
que redecoren sua casa, há muitas outras empresas que podem lhe fazê-lo
espetou, voltando-se para ele, apesar de que lhe fraquejavam os joelhos.
Everett o advertiu. Seus olhos se entreabriram e sua mandíbula se
contraiu.
—Acaso me tem medo? —perguntou-lhe quedamente.
Jennifer apartou uma mecha de seu rosto e cruzou os braços sobre o
peito em atitude defensiva.
—O que é o quer agora? A que vieste em realidade? A me ensinar o bem
que vão as coisas? Já me tenho feito uma idéia pelo corte de seu traje e pelo
fato de que possa te costear a redecoración de toda a casa. Felicidades —lhe
disse com um sorriso forçado—, que desfrutes de sua repentina riqueza.
—Não vais perguntar me como o consegui? —perguntou-lhe Everett
cruzando as pernas e reclinando-se na poltrona.
—Não, não me importa absolutamente.
As comissuras dos lábios do rancheiro se crisparam.
—vendi os direitos de exploração dos poços a uma companhia petrolífera.
«Muito lhe duraram seus princípios...», quis lhe dizer Jenny, mas não
teve valor. Rodeou o escritório e se sentou em sua cadeira sem olhá-lo.
—Não vais dizer nada? —insistiu-a Everett.
Jennifer sentiu uma pontada, recordando súbitamente a última vez que
ele tinha pronunciado essas palavras. Ele também pareceu recordá-lo, porque
sua mandíbula se contraiu e soprou.
—Quero redecorar a casa para adaptá-la a meu novo status social —
disse—, e quero que o você faça. Nenhuma outra pessoa. E quero que te venha
ao rancho durante o tempo que tarde em fazer-se.
—Quando neve no inferno —resmungou Jennifer.
Everett a observou em silêncio um instante.
—me corrija se me equivocar, mas me parece que as coisas não vão
precisamente vento em popa, a toda vela —balbuciou passeando o olhar de um
modo insolente por seu escritório—, e os ganhos por este projeto seriam
bastante suculentos.
—Não pode comprar ! —quase lhe gritou Jenny—. Preferiria me atirar do
alto de um escarpado antes que voltar a estar sob o mesmo teto que você!
Everett fechou os olhos, como exasperado, e quando voltou a abri-los,
ficaram fixos em suas mãos entrelaçadas.
—É por esse bufão ruivo daí fora? —perguntou-lhe de repente, elevando
o olhar para ela.
—Isso não é teu assunto —balbuciou Jenny apartando o rosto.
Ele não tinha separado seus olhos dela, e se Jennifer o tivesse
cuidadoso, teria se dado conta de que estava observando-a não com ódio, mas
sim de um modo peculiar.
—Quando te vi brincando com ele, estava radiante, cheia de vida, feliz, e
de repente, quando me viu foi como se se apagasse a luz que lhe fazia brilhar
dessa maneira.
—E o que esperava, por amor de Deus? —explorou ela—. Me disse coisas
horríveis e me jogou só porque tentei te ajudar!
Everett exalou um profundo suspiro.
—Sei.
—E então por que vieste? —perguntou-lhe Jenny cansada—. É que não me
tem feito já bastante danifico?
Everett baixou de novo a vista a suas mãos entrelaçadas.
—Já lhe hei isso dito. Quero que redecores minha casa —respondeu—.
Agora posso me permitir o melhor e isso é o que quero: a ti —acrescentou
levantando o rosto e olhando-a aos olhos.
Pronunciou de um modo estranho essas duas últimas palavras, mas Jenny
estava muito agitada para notá-lo. Fechou os olhos com força um instante,
como tratando de recuperar o controle sobre si mesmo.
—Pois te coloque na cabeça que não vou fazê-lo. Não me importa perder
o emprego.
Everett ficou de pé e ficou olhando-a fixamente com as mãos nos bolsos.
—Tenho formas menos agradáveis de lhe convencer —lhe disse—.
Poderia lhe pôr as coisas muito difíceis a sua chefa agora que sou um homem
com influências nas altas esferas —lhe disse em um tom desafiante—, e te
aconselho que não me ponha a prova. me diga, seria capaz de ir da cidade com
isso sobre sua consciência?
Não, não poderia fazê-lo, e ele sabia. Sempre tinha que sair-se com a
sua, e agora estava lhe dando a escolher entre lhe deixar pisotear seu orgulho
e fazer mal a seu amiga. Nunca tinha imaginado que seria capaz de tal ruindade.
—O que crie que vais conseguir me obrigando a voltar? —espetou-lhe—.
Porque não vou deitar me contigo, assim, que esperas conseguir?
—Que redecores minha casa, é obvio —respondeu ele com indiferença—.
O desejo que sentia por ti se esfriou. Já sabe o que dizem: olhos que não vêem,
coração que não sente —disse olhando-a longamente—. Além disso, um corpo
não se diferencia em nada de outro na escuridão —acrescentou tomando seu
chapéu—. E bem, o que vais fazer? Voltará comigo para o Big Spur, ou devo lhe
dar a sua chefa a triste noticia de que a deixa na estacada?
Os olhos verdes do Jenny relampejaram. Acaso lhe deixava opção?
Pagaria por aquilo, de algum modo o faria pagar.
—Irei —disse cuspindo a palavra.
Everett esboçou um breve sorriso de triunfo e saiu de seu escritório.
Minutos depois entrava Sally, com aspecto preocupado e compungido.
—Sinto-o tanto, Jenny... Não tinha nem idéia de quem era, juro-lhe isso
—se desculpou.
—Pois agora já sabe —balbuciou Jennifer deixando escapar uma risada
tremente.
—Não tem por que fazê-lo. Não pode te obrigar.
—Temo-me que sim. Everett não faz ameaças em vão —murmurou
levantando—. Te levaste muito bem comigo, Sally, e não posso permitir que te
cause problemas por minha culpa. me deseje sorte. A vou necessitar.
—Se as coisas ficarem muito difíceis me chame —lhe disse sua chefa—.
Farei o esteira e irei contigo, diga o que diga esse bruto.
—Obrigado, é uma boa amiga —respondeu Jenny com um sorriso.
Jennifer tinha intenção de ir por seus próprios meios ao Big Spur, mas
quando terminou a jornada, Everett estava esperando-a na porta do bloco onde
estava o escritório e a acompanhou a seu apartamento.
Esperou-a no saloncito enquanto fazia a bagagem, e quando Jenny saiu de
seu dormitório com a mala, encontrou-o esquadrinhando com o olhar cada
rincão.
—Dá-lhe seu aprovado a minha humilde morada, senhor Culhane?
—Certamente é um lenço, embora suponha que o aluguel não deve te sair
barato nesta zona da cidade.
—Pois não, nada barato, mas não me custa nada pagá-lo, porque ganho
«montooones» de dinheiro com meu trabalho, recorda? —respondeu-lhe
sarcástica.
—Disse-te coisas muito cruéis, verdade, Jenny? —inquiriu ele
quedamente, procurando seus olhos—. Ainda estão abertas as feridas que lhe
fizeram minhas palavras?
Jennifer apartou o rosto.
—Podemos partir já? quanto antes cheguemos, antes poderei acabar o
trabalho e voltar para casa.
—Alguma vez pensou no rancho como seu lar? —perguntou Everett—.
Pensava que aquilo você gostava.
—As coisas eram distintas então —respondeu ela vagamente.
Everett tomou sua mala, e quando seus dedos se roçaram foi como se
uma descarga elétrica percorresse as costas do Jennifer.
—Eddie e Bib estiveram impossíveis comigo desde que se inteiraram de
que te tinha ido —disse enquanto abria a porta do apartamento e a sustentava
para que Jenny passasse.
—Suponho que você em troca estaria muita ocupada festejando sua
decisão de me despedir para te dar conta de que me tinha partido —respondeu
ela com aspereza.
Everett deixou escapar uma risada seca.
—Festejando? Pequena idiota, eu...! —exalou um pesado suspiro e apertou
a boca—. Deixa-o. Ao menos podia me haver deixado uma nota desagradável...
ou algo.
—Para que, para que soubesse onde tinha ido? —espetou-lhe ela enquanto
fechava a porta com chave.
—Não me fez falta. Perguntei ao Libby o nome da agência que te deu
esse encarrego em Vitória; supus que seria o primeiro lugar onde procuraria
trabalho.
Jennifer foi até o elevador e apertou o botão para chamá-lo.
—depois de três meses esperava que te tivesse esquecido de mim —
balbuciou.
—Como ia esquecer me? Temos assuntos pendentes...
Pouco depois chegava o elevador.
CAP 9
A habitação onde a pôs era quão mesma tinha ocupado durante o tempo
que tinha estado trabalhando ali, mas não foi isso o que surpreendeu ao Jenny,
mas sim não tivesse trocado a roupa da cama, que a porta do armário seguisse
entreabierta, como ela a tinha deixado, em sua pressa por partir, e que os
cheques continuassem em cima do penteadeira.
ficou olhando ao Everett enquanto este deixava sua mala no chão.
—Os cheques... por que não os tem quebrado? —inquiriu.
Ele se ergueu.
—São teus —respondeu.
—Pois pode rompê-los, não os quero —replicou ela zangada.
—Claro que não os quer. Agora tem um trabalho muito bem pago, não é
assim?
—Sim, assim é —respondeu Jennifer elevando o queixo desafiante.
Everett se tirou o chapéu, jogando-o sobre a cama, e se aproximou dela.
—Everett... prometeu-o! —recordou-lhe ela.
—É verdade, fiz-o —murmurou ele lhe rodeando a cintura com os braços
e atraindo-a bruscamente para si—, mas talvez menti. Possivelmente pretendia
te jogar sobre essa cama, te arrancar a roupa e te fazer o amor até o
amanhecer...
Estava pondo-a a prova. De modo que assim era como queria jogar...
Jennifer o olhou sem medo.
—lhe atreva —o desafiou.
—Como?, não vais pôr te histérica?, a chiar pedindo auxílio?
—Adiante, me viole se quiser.
As facções do Everett se escureceram.
—Não seria uma violação, Jenny; não entre você eu.
—Se eu não o quiser, sim o seria.
—Mas, carinho, você o quereria; é claro que sim que o quereria...
desesperadamente.
E tinha razão, porque nesse preciso momento o queria. O aroma de
colônia de seu corpo, a sensação de estar pega a ele, seu intenso olhar... Todo
aquilo e cem detalhes mais estavam fazendo que queria ceder, renunciar ao
controle, mas tinha medo das conseqüências. Ele a desejava, mas não havia nada
mais, e, se não a amava, não havia nada do que estivesse disposto a lhe
oferecer que lhe pudesse interessar.
—Prometeu-o —repetiu.
Everett suspirou.
—Está bem, está bem..., prometi-o —admitiu, soltando a ao fim e indo
recolher seu chapéu da cama—. Às vezes me odeio por ser tão cavalheiresco —
balbuciou meneando a cabeça enquanto se dirigia à porta—. Bom, baixa quando
tiver descansado e pedirei ao Consuelo que te prepare algo de jantar.
—Consuelo?
—Minha nova empregada do lar —respondeu Everett detendo-se junto à
porta, e observando divertido o cenho que se formou em seu rosto—, que tem
quarenta e oito anos, e está felizmente casada com um de meus novos
ajudantes —acrescentou—. Está tranqüila agora?
—E por que teria que estar intranqüila? —espetou-lhe ela, irritada por
sua presunção—. Acaso esperava que estivesse ciumenta?
O peito do Everett se inchou e se desinchou rapidamente.
—A verdade é que tenho umas quantas esperanças respeito a ti. Quer
ouvir algumas delas?
—Não, obrigado, não me interessam absolutamente.
—Isso me temia —murmurou ele.
E saiu fechando a porta detrás de si com uma risada estranha.
Capítulo 10
Consuelo resultou ser um encanto de mulher. Era baixa, moréia,
gordinha, e ao Jennifer caiu bem em seguida.
—Alegra-me que tenha vindo, senhorita —lhe disse a mulher enquanto
punha uma fonte de lasaña sobre a nova e elegante mesa do comilão à hora do
almoço o dia seguinte—. Agora possivelmente o senhor Culhane deixe de
grunhir e rugir todo o tempo.
Jenny riu, e começou a colocar os talheres que tinha na mão, também
novos, igual à baixela. tornou-se muita refinação. Não só já não comia na
cozinha, mas também parecia que estivessem em um restaurante francês.
—Sim, bom, eu não estaria tão segura disso. Agora mesmo está jurando
em aramaico. Ouça-o? —disse-lhe com uma meia sorriso, assinalando a janela
com um movimento de cabeça.
Era impossível não ouvi-lo. Estava lhe gritando a alguém a pleno pulmão
por ter deixado uma porta aberta, e só ouvindo-o, Consuelo se sentiu
afortunada de não ser ela a interpelada.
—É um homem muito estranho... —balbuciou sacudindo a cabeça—. A
habitação que lhe deu... sabe o que? Em todo este tempo não me deixou entrar
nela, nem sequer para limpar o pó ou trocar a roupa da cama.
—E alguma vez lhe há dito por que? —inquiriu Jenny em um tom
deliberadamente despreocupado.
—Não, mas às vezes pelas noites... —a mulher vacilou.
—Sim?
Consuelo se encolheu de ombros.
—Bom, às vezes, algumas noites, o senhor Culhane se levantava e ia ali, a
sentar-se na cama. E ficava assim muito momento, sem fazer nada,
simplesmente ali sentado. sentia saudades essa atitude, claro, mas quando o
mencionei, certa manhã, disse-me que me metesse em meus assuntos.
Que revelador era aquilo! Parecia como se a tivesse sentido falta de,
disse-se Jenny. Mas não, era impossível, porque se a tivesse sentido falta disso
significaria que lhe importava, e não era assim. Só a queria em sua cama.
Minutos depois entrava Everett, com as roupas poeirentas, e aspecto
cansado e mal-humorado. sentou-se à mesa sem tirar o chapéu nem as
chaparreras, e sem lavá-las mãos. Consuelo lhe lançou um olhar desaprobadora,
a que ele respondeu com outra desafiante.
—Algum problema? —grunhiu.
—Não, senhor —lhe respondeu a mulher muito tranqüila—, por mim como
se quer você comer com uma gabardina posta e tudo empapado... Se me
precisam estarei na cozinha.
Jennifer teve que tampá-la boca com a mão para sufocar a risada, e
Everett lhe lançou um olhar furioso.
—Céus, verdadeiramente está de um humor de cães —murmurou Jenny,
lhe servindo uma porção de lasaña, e pondo outra em seu prato. Entretanto, ao
levantar a vista viu que estava muito sério. Devia ter acontecido algo—. O que
é, Everett, o que ocorreu?
—O touro morreu.
—morreu um de seus touros?
—Não, não é qualquer touro —lhe esclareceu ele, olhando-a—. morreu o
Hereford que comprei, que logo tive que vender, e que voltei a comprar quando
vendi os direitos de exploração dos poços. O veterinário vai vir esta tarde a
lhe fazer uma autópsia. Quero saber do que morreu, porque parecia
perfeitamente são.
—Sinto-o —murmurou ela—. Imagino como deve te sentir com tudo o que
passaste com ele.
Everett se tirou o chapéu e se passou uma mão pelo cabelo.
—Enfim —suspirou—, talvez uma das vitelas com as que o cruzei me dê
um touro que seja ao menos a metade de bom.
ficou de pé, tirou-se as chaparreras e se lavou a cara e as mãos na pia,
lhe recordando ao Jenny um dia que tinha feito o mesmo, tempo atrás, antes
de que sua boa relação se fora ao traste.
Enquanto almoçavam mantiveram um bate-papo insustancial, e em um
momento dado, Jennifer se lembrou de algo que queria lhe haver mencionado
antes.
—Suponho que agora não estará de humor..., mas eu gostaria que lhe
jogasse uma olhada aos esboços que tenho feito para a redecoración do salão e
a cozinha —lhe disse.
—Você é a que entende disso. O que te tenha ocorrido estará bem —
respondeu ele enquanto terminava sua segunda ração de lasaña.
Jennifer o olhou irritada.
—É sua casa. Deveria tomar ao menos a moléstia de aprovar minhas
sugestões.
Everett suspirou.
—Está bem, traz-os.
Jennifer subiu a seu dormitório e retornou com um caderno de desenho.
—É este o aspecto final que terá? —inquiriu ele enquanto examinava
atentamente o esboço para o salão.
—Se você gostar assim, sim —respondeu ela, de pé junto a sua cadeira.
—Sim, não está mal —disse ele vagamente, embora no fundo estava
impressionado—. Eu gosto de —murmurou com um sorriso lobuna, passando o
dedo pelo sofá desenhado, que se parecia sospechosamente ao que tinha, e no
que quase tinham feito o amor.
Jennifer, que se deu conta do que estava pensando, esclareceu-se
garganta ruidosamente.
—O... o esboço da cozinha está na página seguinte.
—Foi um lapsus freudiano..., desenhar este sofá em particular? —inquiriu
ele, jogando a cabeça para trás para olhá-la.
O rosto do Jennifer se acendeu.
—Sou humano! —balbuciou, defendendo-se molesta.
—Bom, bom, não ponha assim... —murmurou Everett, olhando-a aos olhos
—. Era só uma pergunta. Eu também desfrutei com aquilo; não pretendia atirar
pedras contra ti —voltou a página e franziu os lábios—. Eu não gosto desta
ilhota para a cozinha.
Provavelmente porque requereria dos serviços de certo arquiteto,
pensou Jenny.
—por que não? —inquiriu mesmo assim, fingindo interesse.
Everett sorriu zombador.
—Porque, como já te hei dito, esse bufão ruivo não vai entrar em minha
casa.
Jennifer sacudiu a cabeça e suspirou enfastiada.
—Como quer. Concederá-me uns minutos esta noite quando voltar para
que discutamos os detalhes?, ou ainda está tentando morrer jovem?
—Importaria-te se assim fora?
—Sim, porque então não me pagaria —respondeu ela com malevolência.
Everett riu brandamente.
—Tem o coração de pedra. Sim, concederei-te uns minutos, mas agora
tenho que voltar para trabalho —murmurou apurando seu café e ficando de pé.
—Sinto o de seu touro —lhe disse Jenny de novo, fechando seu caderno
de esboços.
Everett tomou pelo queixo.
—Tranqüila, tudo se arrumará —respondeu ele, e Jennifer teve a
impressão de que não falava do touro.
Acariciou-lhe lentamente os lábios com o polegar, lhe provocando uma
sensação eletrizante, e de repente começou a inclinar-se para ela...
—Senhor —irrompeu Consuelo, justo então, rompendo a magia do
momento—, vão querer sobremesa?
Everett se tinha afastado do Jenny bruscamente.
—O teria tido se não tivesse sido por ti, mulher —grunhiu.
E saiu feito uma fúria, ouvindo uma portada no segundos vestíbulo
depois.
Finalmente tinha decidido que era ridículo ficar ali sentada a lamentar-
se, e tinha subido também a sua habitação. Havia-lhe flanco um pouco dormir,
mas finalmente o cansaço do dia a tinha vencido, e à manhã seguinte se
levantou cedo, para fiscalizar o trabalho dos homens que tinham ido tirar o
papel do salão. Por fortuna o engessado estava perfeito, assim não terá que
arrumá-lo. Além disso, a gente do carpete tinha chamado para lhe dizer que
tinham tido um cancelamento na agenda, e que se queria podiam ir essa mesma
manhã, assim à meia hora de que se partiram os trabalhadores encarregados do
papel, os do carpete tinham invadido a casa. Jenny sabia que eram gente de
confiança porque já tinham colaborado antes com a agência da Sally em alguns
projetos, assim que os deixou trabalhando e escapou um momento a tomar o ar.
Passeando, encontrou-se com que Eddie estava domando cavalos com alguns
peões, e se encarapitou nas travessas do redil a vê-los trabalhar.
Embelezada como estava com uma camisa de quadros e uns jeans, e com
o cabelo recolhido em um acréscimo, parecia parte da cena, como se estivesse
em um rodeio.
Com os peões animando ao Eddie não ouviu o Everett aproximar-se por
detrás a cavalo, e se deu um susto de morte quando um de seus fortes braços a
rodeou pela cintura e a levantou, sentando-a na cadeira diante dele.
—Sinto te roubar público, Eddie, mas a necessito! —gritou a seu
empregado, que nesse momento acabava de dominar ao potro, que estava
trotando já mansamente pela areia do redil.
Eddie lhe fez um sinal de assentimento com a mão, Everett atraiu para si
ao Jennifer, sujeitando-a firmemente pela cintura, e esporeou brandamente ao
cavalo para que ficassem em marcha.
—Para que me necessita? —inquiriu Jenny, girando a cabeça e olhando-o
por cima do ombro.
—Esta manhã cedo nasceu um bezerro, e pensei que você gostaria de vê-
lo.
Jennifer riu.
—Estou muito ocupada para ir ver bezerros.
—OH, sim, já o vejo, sentada na cerca do redil animando a meus
homens...
—Bom, é que é todo um espetáculo.
—Pois o bezerro você gostará ainda mais.
Jennifer suspirou, e se recostou contra ele, admirando a paisagem em
silêncio enquanto avançavam. A sensação de estar em seus braços era tão
agradável como a recordava. Deus, por que teriam que haver-se quebrado as
coisas entre eles?
Minutos depois chegavam a uma arvoredo perto do riacho, e Everett fez
que o cavalo se detivera ali. Detrás havia um pequeno redil de arame de
espinheiro e dentro uma vaca com um bezerro; os duas de raça Hereford, com
a pelagem avermelhada e manchas brancas.
Ele desmontou, e ajudou ao Jenny a baixar.
—Não tenha medo da vaca, é muito mansa —lhe disse quando entraram
no redil—. A criei eu mesmo porque sua mãe morreu por uma mordida de
serpente. Inclusive tive que alimentá-la com uma mamadeira, mas mereceu a
pena, porque esta já é sua sexta cria.
Jenny se aproximou dela muito devagar e se acuclilló a seu lado. Parecia
de peluche, e tinha as orelhas e o focinho rosados.
—É preciosa! —exclamou maravilhada, acariciando-a entre os olhos.
—Em realidade é macho —corrigiu ele—. Acredito que será um magnífico
boi.
—Alguma vez soube qual é a diferença entre um boi e um touro —
murmurou Jenny passando a mão pelo lombo do animal—. São espécies
distintas?
Everett sacudiu a cabeça.
—Não, são o mesmo, mas o boi se utiliza como animal de carga ou para
carne —explicou ele— e os touros em troca para rodeios ou para cria.
—Já, mas, no que se diferenciam? Os bois são mais tranqüilos, não?
—Sim, bom, isso é porque ao bezerro que quer usar-se como boi, quando
chega a certa idade se o... —vacilou, como se estivesse procurando a palavra
adequada—. Enfim, um touro sim pode fecundar a uma fêmea e um boi não, já
me entende.
Jennifer sorriu maliciosa.
—Dá-te vergonha falar disso? —picou-o.
Everett arqueou uma sobrancelha.
—A mim? É você a que se incomoda cada vez que falo sem rodeios —lhe
espetou.
Ela franziu os lábios e voltou o rosto para o bezerro, mas este parecia
haver-se cansado de sua companhia, e com um gracioso trotecillo foi junto a
sua mãe.
Jennifer se incorporou e ficou olhando enternecida a cena.
—Há uma festa amanhã de noite em Vitória... —disse-lhe o rancheiro de
repente. Jenny se girou e o olhou sentida saudades—. Celebra o tipo da
companhia que explora meus poços de petróleo, e me pediu que vá me
apresentar a seu sócio —explicou—. Me perguntava... bom, perguntava-me se te
importaria me acompanhar. Não sei muito de eventos sociais —lhe pediu
tomando a das mãos.
Jennifer se estremeceu por dentro e lhe acelerou o pulso, mas o tom de
sua voz a tinha abrandado já.
—Não tem nenhuma vontade de ir, verdade? —inquiriu com um sorriso,
sabendo que assim era.
Ele assentiu com a cabeça.
—Não, mas não tenho mais remedeio —respondeu encolhendo-se de
ombros—. É o preço que terá que pagar por ser rico: te relacionar com a gente.
—Acompanharei-te encantada —respondeu Jenny, adulada por que o
tivesse pedido.
—Estupendo —disse ele, esboçando um amplo sorriso—. E se não ter um
vestido para ir eu lhe comprarei isso... já que é um favor que me faz.
Jennifer baixou a vista.
—Não, obrigado. Eu... tenho um em meu apartamento que acredito que
poderá me valer —lhe disse—; amanhã agarrarei o ônibus que saia a primeira
hora Y...
—Não faz falta. Se me der as chaves, direi ao Ted, meu chofer que lhe
vá recolher isso
—Bom —murmurou Jennifer, pensando no rápido que se arrumavam as
coisas quando a gente tinha dinheiro e médios—, de acordo, obrigado.
—De que cor é?, branco talvez? —perguntou-lhe ele de repente.
Jennifer o olhou irritada.
—Não, é azul —resmungou—. Escuta, Everett Culhane, que seja virgem
não significa que...
Não pôde terminar a frase, porque Everett a silenciou lhe pondo o índice
nos lábios.
—Pois eu gostaria que te vestisse de branco —lhe disse lhe acariciando
as mãos distraídamente—: é uma das cores que melhor lhe sintam —
acrescentou com um sorriso lobuna.
—Já te esqueceste que essa mujercita que te vais procurar, e desses
meninos que brincarão de correr por sua casa? —recordou-lhe ela
sobressaltada. Se ao menos lhe soltasse as mãos...—. Deveríamos voltar já.
deixei sozinhos aos encarregados do carpete, e não sei se necessitarão algo.
—Você não gostaria de ter filhos, Jenny? —inquiriu ele, surpreendendo-a
de novo.
—Pois, não sei, sim, claro, suponho que sim.
—E crie que poderia os ter e seguir com sua carreira ao mesmo tempo?
—perguntou Everett com aparente indiferença.
—Muitas mulheres o fazem —respondeu ela, franzindo os lábios—. Já
não estão no século XVI.
—Certo, mas há homens aos que não gostam que sua esposa trabalhe.
—Pois não lhes vai ficar mais remedeio que evoluir.
Everett se pôs-se a rir.
—Suponho, embora uma mulher como você poria nervoso a um desses
homens chapados à antiga: é bonita, e algum outro homem poderia te seduzir
enquanto decora sua casa.
—Não tenho intenção de me casar —o informou ela.
Ele arqueou as sobrancelhas.
—Pensa ter a seus filhos fora do matrimônio?
—Eu não hei dito isso! —protestou ela franzindo o cenho.
—É claro que sim que o há dito.
—Não, não o hei dito! —replicou ela exaltada—. E me solte as mãos!
Tratou de desenganchar as das do rancheiro, mas este as levantou até
as pôr rodeando seu pescoço, e a atraiu para si pela cintura, fazendo que
ficasse pega a ele.
—Mmmm... assim está melhor —murmurou com um sorriso—. Então, o que
estava me dizendo de ter meninos?
—Que se... que se os quisesse, suponho que me casaria. Mas não deixaria
meu trabalho. Quero dizer que... Everett, não... —balbuciou quando ele deslizou
as mãos para seus quadris e começou às massagear em círculos.
—Estraga, assim... diz que não deixaria seu trabalho?
Suas mãos tinham subido e estavam lhe acariciando as costas de uma
maneira enloquecedora.
—Deixaria de trabalhar quando nascessem, e voltaria a fazê-lo quando
começassem o colégio. A isso referia... quer parar? —resmungou alargando as
mãos por detrás de suas costas para agarrar as dele.
Entretanto, Everett foi mais rápido. As agarrou a ela, fazendo-a
arquear-se, e baixou a vista, admirando a turgidez de seus seios contra o fino
tecido da camisa.
—Como?, não leva sustento? —inquiriu, e o sorriso pícaro em seus lábios
se fez ainda major—. Vá, vá... outro lapsus freudiano?
—Quer deixar de falar de sustentos e de lapsus e me soltar? —
resmungou ela com aspereza.
—Está segura de que quer que faça isso? Porque não me parece que seja
uma boa idéia.
—por que não? —perguntou ela arqueando uma sobrancelha e
entreabrindo os olhos.
—Porque se lhe solto as mãos, terei que pôr as meu em outro sítio, e só
me ocorre um sítio onde gosta de mais as pôr —murmurou olhando fixamente
seus seios.
O peito do Jenny subiu e baixou inquieto. A proximidade e o calor do
Everett, e o comprido período de abstinência estavam fazendo racho nela. E
então, de repente, os olhos de ambos se encontraram, e foi como se se
produzira uma chispada. As lembranças dos meses passados e o desejo pelo
outro voltaram em turba à mente dos dois.
—Lembra-te do dia em que te caiu do cavalo... —perguntou-lhe ele em um
tom fico—, quando sua blusa se abriu, eu baixei o olhar, e te arqueou para que
pudesse ver melhor seu peito?
Jennifer entreabriu os lábios, e sacudiu a cabeça nervosa.
—Eu não...
—Claro que o fez —sussurrou ele—. Te tinha pilhado me olhando muitas
vezes, observando meus lábios... e esse dia todo trocou entre nós. Olhei-te,
olhei-te pela primeira vez e me dava conta de que te desejava, de que te
desejava como jamais tinha desejado a nenhuma outra mulher. Quase não pude
recuperar o sentido a tempo, e antes de obtê-lo, não sei nem como passou,
encontrei-me te abraçando... e você me deixou fazê-lo.
Jennifer não o tinha esquecido. Como teria podido esquecê-lo? Tinha
sido maravilhoso, tinha sido como um sonho.
Everett lhe soltou as mãos e a rodeou pela cintura com seus fortes
braços, levantando-a um pouco do chão, e atraindo-a de uma vez para seu corpo
para que pudesse sentir a pressão de seu tórax contra seus seios. Era tão
sensual que Jennifer tinha a sensação de estar completamente nua.
Conteve o fôlego e ofegou. Everett esfregou sua bochecha com a dela, e
afundou o rosto no oco de seu pescoço. Estreitou-a com força entre seus
braços, e a embalou contra si enquanto o vento soprava a seu redor e o sol
esquentava seus corpos. E, de repente, foi como se o mundo desaparecesse
para ambos.
Ao Everett incluso tremiam as mãos.
—Isto não nos leva a nenhuma parte —murmurou Jenny.
—Sei —respondeu ele em um sussurro. Levantou a cabeça de seu
pescoço, e se separou dela muito devagar—, e tem razão, será melhor que me
controle ou acabaremos fazendo o amor sobre o cavalo. Além disso, dentro de
uma hora fiquei com um homem que quer me vender uma partida de gado.
Jennifer se tinha ficado com os olhos abertos como pratos.
—De verdade duas pessoas podem... bom, fazê-lo sobre um cavalo? —
inquiriu sobressaltada.
—Não sei —respondeu ele renda-se—, não o provei nunca..., mas sempre
há uma primeira vez —disse em um tom lhe sugiram.
—Nem te ocorra —lhe advertiu Jenny, quando a levantou à cadeira e se
montou ele a seguir—. As mãos quietas.
—Sinto muito, sinto muito... —balbuciou ele.
Alargou as mãos para tomar as rédeas, e ao fazê-lo, seu antebraço se
esfregou sem querer com os seios do Jennifer. Seus mamilos ficaram tensos
imediatamente, e Everett repetiu o movimento.
—OH, Jenny... —suspirou—, a próxima vez que devas monte comigo mais
vale que ponha um casaco...
Jennifer queria lhe dizer que parasse, mas o musculoso antebraço do
rancheiro estava lhe fazendo coisas incrivelmente excitantes. E logo, antes
inclusive de que soltasse as rédeas, sabia que ia ocorrer: as grandes mãos do
Everett engoliram seus seios, e ela o permitiu, voltando a cabeça para apoiar a
bochecha em seu peito com um pequeno gemido.
—Deus, esta é a tortura mais doce que jamais... —balbuciou com a voz
entrecortada pelo desejo. Suas mãos estavam acariciando e massageando seus
peitos com uma doçura inusitada, e, embora sem dúvida se dava conta de que
lhe teria deixado, não tentou sequer lhe abrir a camisa—. Jenny, não deveria
me permitir fazer isto —lhe disse beijando-a na frente uma e outra vez.
—Sei —suspirou ela. Pôs suas mãos sobre as dele para as apartar, mas
não pôde reprimir o desejo das apertar contra seus seios e esfregar a cabeça
contra seu largo peito.
—Você gostaria de te tender na erva comigo e me deixar te amar... só
uns minutos? —perguntou-lhe Everett quedamente—. Nos beijaríamos e nos
acariciaríamos o um ao outro; nada mais.
Jennifer não queria outra coisa nesse momento, mas era muito logo, e
não estava segura das intenções dele. Quão único sabia era que a desejava até
a loucura, e não queria ficar o além em bandeja.
Provavelmente para ele aquilo era só um jogo que o mantinha entretido
enquanto encontrava essa esposa que estava procurando. Ela o amava, mas se
ele não sentia o mesmo por ela, aquilo não tinha nenhum sentido.
—Não, Rett —lhe disse obrigando-se a dizer essa palavra. Apartou-lhe
brandamente as mãos de seus seios e as pôs em torno de sua cintura com
firmeza—. Não.
Ele inspirou profundamente.
—É uma sorte que um dos dois seja capaz de manter a cabeça fria —
murmurou.
Jennifer sorriu com tristeza.
—Por favor, não me faça isto, Everett. Eu também te desejo, mas não
posso ser o que você quer que seja. Deixa que decore sua casa e que me parta;
não me faça mais danifico do que já me tem feito.
Ele a abraçou e suspirou, tomando as rédeas com uma mão.
—vou ter que redesenhar minha estratégia —murmurou—, não está
funcionando.
Jenny elevou o rosto e o olhou confundida.
—O que quer dizer?
Everett esquadrinhou seus olhos e se inclinou para beijá-la na frente.
—Nada, não se preocupe. Vamos a casa.
Jennifer se acurrucó contra seu peito e fechou os olhos. Aquela era uma
lembrança que conservaria toda sua vida: ela em braços do Everett,
atravessando a pradaria a lombos de um cavalo em uma preciosa tarde de
princípios de outono. A mulher que se casasse com ele teria outras lembranças
que entesourar, mas aquele era dele, só dele.
Capítulo 11
POR décima vez aquela noite, Jennifer desejou não ter aceito
acompanhar ao Everett a aquela exclusiva festa em Vitória. Parecia como se
todas as mulheres bonitas e solteiras da cidade se congregaram ali para lhe
jogar o laço ao rancheiro, quem era o objeto constante de sorrisos e miraditas.
A verdade era que estava bonito, admitiu Jenny para si a contra gosto.
Não havia nenhum outro homem na festa que fosse tão atrativo como ele.
Estava muito elegante com o fraque, e tinha um ar misterioso e sofisticado, por
não dizer sexy. E o modo em que lhe sentavam a jaqueta e a calça, marcando
cada músculo... olhá-lo era um verdadeiro suplício. Era uma idiota. Ali estava ela
derretendo-se pelo Everett Culhane, que lhe tinha feito acreditar que estava
pouco menos que apavorado ante a idéia de ter que ir a essa festa, quando
estava flertando abertamente com uma exuberante moréia.
deu-se a volta para não vê-lo e apurou de um gole o conteúdo de sua taça,
lhe pedindo ao encarregado da barra que lhe desse outra. Não fazia mais que
repetir-se que ela tampouco estava mau, com o cabelo solto sobre os ombros e
o vestido azul com decote palavra de honra que se pôs, mas então, por que
Everett não a tinha tirado nenhuma só vez a dançar?
E não era que ela tivesse estado sentada, ou de pé em um rincão, mas
depois de ter dançado com uns quantos homens de negócios com um péssimo
sentido do ritmo e um advogado casado de média idade que lhe pegou um pisão
enquanto giravam pela sala, sentia desejos de gritar. E, para cúmulo, justo
quando se dirigia a um assento livre junto à parede, pilhou-a por banda uma
senhora pesadísima que começou a meter-se com o prefeito e sua política
social, lhe jogando uma perorata interminável.
—Sinto interrompê-la, mas tenho que levar a esta jovem a casa —
interveio Everett de repente, cortando à mulher.
Jennifer esteve a ponto de tornar-se o ao pescoço em sinal de gratidão.
Disse-lhe à estranha um pouco educado e completamente falso para despedir-
se, deu-lhe sua taça com um sorriso beatífica, e se pendurou do braço do
rancheiro, cambaleando-se ligeiramente.
—Tome cuidado, ou acabaremos os dois no chão —lhe disse ele, renda-se
brandamente—. Está bem?
—Nunca estive melhor —balbuciou ela, aferrando-se a seu braço com
ambas as mãos e apoiando nele a cabeça—, mas acredito que irei diretamente à
cama —disse prorrompendo em uma risita tola.
Everett franziu o cenho e a olhou de esguelha.
—Quantas taças bebeste?
—Não sei. Perdi a conta —respondeu Jenny sonriéndole e olhando-o com
os olhos nublados—. Deus, Rett, é tão sexy...
As bochechas do rancheiro se coloriram ligeiramente.
—Está bêbada —balbuciou—. Anda, vamos.
—Onde? Eu não quero ir, quero dançar! —protestou ela fazendo panelas.
—Dançaremos no carro.
Jennifer franziu o sobrecenho.
—Não podemos nos pôr de pé dentro do carro —argüiu com toda lógica.
Everett a agarrou pela mão e a arrastou através do enorme salão de
baile. De caminho para a porta se despediram de um casal que Jennifer
reconheceu vagamente como os anfitriões, e depois de recolher seus casacos
no guarda-roupa saíram.
—Brrr, que frio! —balbuciou Jenny, mas se voltou a pendurar do braço
do Everett, acurrucándose contra seu flanco e suspirou satisfeita—. Melhor.
—Melhor para quem? —resmungou ele—. Devia ter deixado que nos
trouxesse Ted.
—por que? —perguntou ela entre risitas—. Tem medo de estar a sós
comigo? Não tem por que preocupar-se, carinho —lhe disse lhe dando uma
cotovelada—, jamais tentaria te seduzir —e pôs-se a rir de novo.
Um casal de certa idade passou a seu lado enquanto baixavam a
escalinata da entrada, e a mulher lançou um olhar curioso ao Jennifer.
—Tem-me medo —lhe vaiou ela, assinalando ao Everett, como se lhe
estivesse confiando um segredo à mulher—. É que hoje lhe esqueceu tomar a
pílula, sabe?
—Jenny! —grunhiu o rancheiro lhe dando um puxão do braço para si.
—Aqui não, Rett! —exclamou ela—. Por Deus, olhe que pode ser
impaciente...!
Everett balbuciou algo entre dentes e a arrastou até o estacionamento.
—Que tímido é! —disse-lhe Jenny renda-se, enquanto ele a obrigava a
entrar no carro—. Te puseste avermelhado!
Everett a olhou um momento antes de pôr em marcha o veículo.
—Amanhã te odiará quando te recordar as coisas que estiveste dizendo.
E te assegurou que o farei —lhe prometeu muito sério—. Não sei como te
ocorreu te pôr a beber sem medida quando normalmente o mais que toma é uma
abacaxi penetrada...
—Está muito bonito quando te zanga... —murmurou ela, apoiando a cabeça
em seu ombro e esfregando-se mimosa—. Esta noite dormirei contigo se quiser
—lhe disse alegremente.
Everett ficou tenso e balbuciou algo em voz baixa.
—OH, vamos, Rett, todo este tempo estiveste tentando me colocar em
sua cama... —recordou-lhe ela com chateio—. E agora que te digo que sim, o que
faz? fica vermelho como um tomate, e começa a amaldiçoar. Todos os homens
são iguais. Quando conseguem a uma garota já estão perseguindo a outra...,
como essa morenita com a que estava dançando —acrescentou irritada,
elevando o rosto para olhá-lo—. Pois sabe o que? Que as coisas não são sempre
o que parecem: estava no asseio de senhoras quando fui, e leva cheio no
prendedor. Vi-o com meus próprios olhos!
Everett estava debatendo-se entre o aborrecimento e a risada, mas
finalmente foi esta a que ganhou. Prorrompeu em gargalhadas, e não podia
parar.
—Não te fará tanta graça quando sair com ela —seguiu Jenny, franzindo
o cenho—. Se até os tem mais pequenos que eu! —balbuciou—. E tem umas
pernas espantosas... levantou-se a saia do vestido para arrumá-las médias, e
eram dois palitos!
Aquilo provocou novas risadas no Everett, que até teve que secar-se com
o dorso da mão umas lagrimillas que lhe tinham saltado.
Jennifer soprou irritada e se sentou bem, recostando-se no assento.
—por que não quer me fazer o amor? —inquiriu exasperada.
—Porque se o fizesse, amanhã pela manhã me arrancaria a cabeça —
respondeu ele—. Agora fecha os olhos e descansa. Em seguida estaremos em
casa.
—Não estou cansada —protestou ela.
—Sei boa garota, Jenny, tenho que conduzir e me está distraindo. Anda,
apóia a cabeça em meu ombro e fecha os olhos —lhe repetiu muito sério.
Jennifer balbuciou algo ininteligível mas apoiou a cabeça em seu ombro
de novo.
—Dormirá comigo esta noite? —perguntou-lhe com voz sonolenta.
—Se for o que quer...
Jenny sorriu e fechou os olhos com um suspiro de satisfação.
—Seria maravilhoso —murmurou. E ao cabo de um momento ficou
dormida.