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ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância
Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE
1. Introdução
A polarização existente entre educação presencial e educação a distância não mais condiz com
as novas formas de ensinar e aprender na sociedade contemporânea. Torna-se necessário
aprofundar a reflexão sobre como Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) vem
produzindo mudanças nas práticas educativas. Estas tecnologias podem contribuir para que a
discussão entre as benesses da educação presencial e da educação a distância se dilua, pois
hoje as modalidades hibridizam possibilidades, funções e atividades (SILVA, 2011). Belloni
(2005) destaca que em vários países já existe uma convergência dos dois modelos de ensino, o
que reforça a necessidade de discutir quais são os contornos que a educação vem adquirindo
nos últimos anos, não mais empregando a nomenclatura presencial ou a distância, e, sim,
evidenciando uma educação mediada pelas TIC.
Segundo o Censo EaD.BR1 (2012) – Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância
no Brasil 2010 – realizado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED),os
graduados em EaD tiveram, em média, 6.7 pontos a mais no resultado final do Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) na comparação com os resultados dos
alunos oriundos dos cursos presenciais. Tal constatação, aponta para ponderações sobre a
qualidade da educação superior ofertada a distância que, segundo o estudo, estão
apresentando resultados melhores de aprendizagem. Sem entrar no mérito da finalidade das
avaliações governamentais na área de educação, a questão a ser dialogada é a necessidade de
repensar as práticas pedagógicas utilizadas pelos docentes no ensino superior.
Embora a discussão passe a ser tomada na perspectiva de educação, e não mais de
modalidade, é preciso assumir que a educação mediada pelas TIC possui algumas
características próprias. O material didático, por exemplo, não deve ser simplesmente
transposto da sala de aula para um ambiente virtual sem os devidos cuidados.
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A pesquisa da ABED considerou EaD cursos com mais de 50% da sua grade horária ministrada de forma não
presencial.
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A EaD, enquanto prática educativa, agrega um novo olhar para a didática do professor.
Percebe-se que o docente que ousou experimentar ser docente de um curso on line, começou a
entender que a sua docência no curso presencial poderia ser repensada, pois além do domínio
na área que leciona, é preciso saber se comunicar com o aluno. A sociedade se transforma e as
formas de ensinar e aprender também (MORAN, 2013).
A experiência evidencia que quando o professor aceita o convite para “entrar no
mundo da educação a distância” o processo de superação é inegável, já que muitos deles não
possuem a cultura digital. Ao contrário de seus filhos, netos e alunos, o computador, e outras
tecnologias mais recentes, não faziam parte do seu cotidiano, muito menos o acompanhava no
momento do seu trabalho em sala de aula. Lévy (1999) mostra que talvez esse receio, com o
uso das novas tecnologias, aconteça em virtude de se encarar como se essas técnicas viessem
de outro planeta, do mundo das máquinas, frio, sem emoção, estranho a toda significação e
qualquer valor humano. Mas, para o autor, este pensamento é equivocado pois
"Não somente as técnicas são imaginadas, fabricadas e reinterpretadas durante seu
uso pelos homens, como também é próprio o uso intensivo de ferramentas que
constitui a humanidade enquanto tal, junto com a linguagem e as instituições sociais
complexas... as tecnologias são produtos de uma sociedade e de uma cultura"
(Lévy,1999, p.21).
No ensaio sobre a EaD no Brasil, Belloni (2002) mostra que pedagogia e tecnologia,
entendidas como processos sociais, sempre andaram de mãos dadas: o processo de
socialização das novas gerações inclui necessária e logicamente a preparação dos jovens
indivíduos para o uso dos meios técnicos disponíveis na sociedade, seja o arado, seja o
computador. O que diferencia uma sociedade de outra e diferentes momentos históricos são as
finalidades, as formas e as instituições sociais envolvidas nessa preparação, que a sociologia
chama "processo de socialização". Segundo Valente (1996)
"A sociedade do conhecimento exige um homem crítico, criativo, com capacidade
de pensar, aprender a aprender, trabalhar em grupo e de conhecer seu potencial
intelectual. Esse homem deverá ter uma visão geral sobre os diferentes problemas
que afligem a humanidade, como os sociais e ecológicos, além de profundo
conhecimento sobre seus domínios específicos. Em outras palavras, um homem
atento e sensível às mudanças da sociedade, com uma visão transdisciplinar e com
capacidade de constante aprimoramento e depuração de ideias e ações" (VALENTE,
1996, p.5-6).
Por conta da exigência, de um homem crítico e criativo, feita pela sociedade do
conhecimento, é que a educação, em especial a superior, deve passar por uma transformação
profunda em suas bases. De acordo com Levy (1999), essa sociedade do conhecimento
suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções
cognitivas humanas: memória, imaginação, percepção e raciocínios.
Desse modo, dois aspectos devem ser levados em consideração quando se fala em TIC
na educação, primeiro o domínio técnico e pedagógico. Estas competências devem se
entremear, pois é irrealista pensar em primeiro ser um especialista em informática para
depois tirar proveito desse conhecimento nas atividades pedagógicas. Quando os
conhecimentos técnicos e pedagógicos dialogam, novas ideias surgem naturalmente. "O
domínio das técnicas acontece por necessidades e exigências do pedagógico e as novas
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possibilidades técnicas criam novas aberturas para o pedagógico" (Valente, 2005, p.23). Já o
segundo aspecto trata da especificidade de cada tecnologia com relação às aplicações
pedagógicas, pois a tecnologia por si só não é capaz de transformar as práticas pedagógicas ou
produzir conhecimento. É preciso que o educador avalie criticamente o que cada uma dessas
facilidades tecnológicas tem a oferecer e como pode ser explorada em diferentes situações
educacionais (ibid, 2005).
Assim, a partir dessas reflexões e da experiência com o uso do recurso da
webconferência nos cursos de graduação a distância da Universidade de Brasília (UnB), o
vislumbre por uma nova educação superior brasileira ganhou efeitos práticos. O objetivo deste
artigo é apresentar uma proposta, a ser implementada, de roteiro estrutural de aulas
executadas via webconferência na educação superior. Entende-se que o diálogo com outras
áreas do conhecimento é necessário para potencializar o uso desta tecnologia na educação.
Para tanto, o artigo está organizado em três seções: na primeira explicita-se o contexto da
proposta, mostrando qual é a realidade da EaD na UnB hoje, no âmbito do Sistema
Universidade Aberta do Brasil (UAB); na segunda faz-se efetivamente a proposta de um
roteiro estrutural para aulas realizadas via webconferência e, finalmente, na última, as
considerações finais serão apresentadas.
2. Contexto da proposta
A UnB é reconhecidamente uma das instituições educacionais pioneiras na implantação da
EaD no país. As primeiras experiências realizadas datam de 1979 com o advento do acordo
com a Open Unversity da Inglaterra. De acordo com Martins (2006), os ensaios iniciais com
EaD foram bem sucedidas, mas a experiência educacional nesta metodologia de ensino ficou
restrita à alguns professores e gestores que participaram do projeto na UnB, que era orientado
e assessorado pela universidade inglesa. Os materiais impressos eram fundamentados,
principalmente, em referências estrangeiras, impedindo que vários docentes se envolvessem
nas discussões relativas ao processo de autoria dos conteúdos didáticos para os cursos.
No decorrer da década de 80, já com uma outra perspectiva, a UnB buscou parceria
com a Fundação Roberto Marinho, visando sofisticar os cursos a distância por meio de
produções audiovisuais. Porém, esta parceria nunca efetivamente se fundou e a EaD na
universidade ficou restrita, até o advento e expansão da Internet em 1999, a utilização de
materiais impressos. Os estudos que tinha como foco o rádio e a TV, não foram aprofundadas
na UnB e, como implicação, a linguagem audiovisual não chegou a ser utilizada como recurso
didático (MARTINS, 2006).
Embora tenham acontecido limites na discussão da metodologia, várias foram as
ofertas de cursos de extensão e especialização vinculadas, principalmente, ao Centro de
Educação a Distância (CEAD), criado em 1989, e à Faculdade de Educação da UnB. Em
1999, a primeira oferta de curso de graduação a distância desta faculdade aconteceu no âmbito
de um programa que se denominava Curso de Pedagogia para Professores em Exercício no
Início de Escolarização. Esse curso proporcionou a graduação de número expressivo de
professores da rede do Governo do Distrito Federal (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA,
2008).
No final de 2005, foi realizada a Primeira Chamada Pública para Seleção de Polos
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3. A proposta
Em uma busca panorâmica realizada no banco de informações bibliográficas, Scielo,
utilizando o termo videoconferência, a maioria dos trabalhos estão concentrados na área de
saúde. Quando a busca é realizada com o termo webconferência poucos artigos são
localizados e, o com relação ao conteúdo, não há variações, as publicações na área citada
continuam prevalecendo. Apenas o ensino instrucional e o caráter instrumental do vídeo e da
webconferência é destacado nos artigos e pouco se debate sobre as diversas possibilidades
pedagógicas, as estratégias de uso ou sobre os sistemas ou softwares empregados.
Normalmente é feita a distinção apenas dos sistemas utilizados para realização destes
dois modelos de conferência. Enquanto a transmissão da videoconferência é feita via linha
telefônica ou satélite, a webconferência utiliza necessariamente a internet. Em ambos os
casos, ocorre a transmissão síncrona de imagens e sons de forma interativa, existindo a
possibilidade de compartilhamento de arquivos. Com a popularização da internet, a
webconferência se tornou uma alternativa viável e de baixo custo, pois para realizá-la é
preciso somente de dois computadores conectados a internet, webcams, microfones, caixas de
som e softwares específicos, vários disponíveis gratuitamente.
Garonce e Santos (2012) destacam que inicialmente vários destes softwares foram
desenvolvidos sem a finalidade pedagógica e que o objetivo inicial era de apenas conectar
pessoas geograficamente distantes. Além deste avanço, a tecnologia provocou mudanças nas
formas de ensinar e aprender, o que permitiu facilmente a apropriação da webconferência no
espaço educacional, principalmente naqueles que se utilizam de Ambientes Virtuais de
Aprendizagem. Em vários países “esta possibilidade tecnológica vem motivando educadores e
gestores de sistemas de ensino a empregá-la, cada vez mais frequentemente, em variadas
iniciativas de interação pedagógica” (ibid., p.1005).
As experiências de EaD mostram que o uso da webconferência estimula positivamente
tanto alunos como professores. Porém, a utilização desta tecnologia pode representar um
desafio para o docente, que precisa adaptar sua maneira de ensinar à nova dinâmica da aula
(CRUZ, 2007a). Assumindo as diferenças entre a aula presencial e a aula realizada via
webconferência, relaciona-se algumas novas competências que devem ser desenvolvidas pelo
professor: “habilidades de apresentação verbais e não verbais; conhecimento sobre como
incentivar trabalho colaborativo em grupo; dominar estratégias de questionamento; saber
como envolver estudantes e coordenar suas atividades a distância nos diferentes locais;
dominar o conhecimento sobre o campo do ensino a distância; desenvolver raciocínio gráfico
e pensar visualmente” (CRUZ, ibid., p.4).
É necessário, assim, debater e compartilhar experiências inovadoras no emprego da
webconferência, visando o desenvolvimento contínuo de competências e habilidades. Isto
pode ser feito, principalmente, por meio de publicações, criando um corpo de conhecimento
profissional de apoio (CRUZ, 2001). De igual modo, é preciso se atentar às reflexões, que, de
certa forma já, estão mais maduras em outras ciências, pois ainda é restrito a influência de
áreas do conhecimento diversas nessa discussão. Rezende Filho et al. (2011) constataram que,
mesmo quando se trata de recursos audiovisuais no ensino, é deficiente o diálogo com os
autores da área de comunicação, por exemplo.
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Roteiro
Quadro 2 – Modelo de roteiro estrutural proposto.
Duração Atividade Descrição
Abertura da sala e upload de Textos, imagens, vídeos, áudios, planilhas e
10'
arquivos. apresentações são abertos e testados.
Aceite dos participantes, ajustes e testes de
10' Recepção dos participantes.
equipamentos de áudio e vídeo de todos.
Abertura da aula efetuada pelo Ajustes finais e explicações aos alunos sobre o
5'
professor. procedimento, roteiro e suporte técnico.
Neste momento, o professor informará que as questões
Aviso sobre o início da aula.
técnicas serão conduzidas pelos administrados através
Começa a gravação da aula para
5' do chat, e o professor passa a atentar somente aos
disponibilização posterior, no
feedbacks pedagógicos, para não prejudicar a gravação.
formato off-line ou link.
O professor não deve mais citar ou falar com o técnico.
Vídeo Áudio
O que estará ou Em forma de
na tela (qual tópicos,
50' plano a câmera delimita o que Breve descrição do desenvolvimento da aula.
registrará o será dito
professor?; (arquivos de
arquivos serão áudio serão
compartilhados?; abertos?; os
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todos os alunos
participantes debaterão?).
compartilharão
suas webcams?).
Professor passa lembretes e informa o encerramento da
10' " "
webconferência.
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realizar uma aula via webconferência? A estrutura foi proposta, mas só professor poderá
definir e elaborar sua exposição. Para que este tipo de aula seja atraente, é preciso ir além do
conhecimento e da técnica, pois é necessário que o professor desenvolva, também,
habilidades, algumas especificamente associadas à criatividade, “tais como flexibilidade,
originalidade, sensibilidade a problemas e imaginação [...]" (ALENCAR; FLEITH, 2003,
p.48). A criatividade é a chave.
4. Considerações finais
Repensar a educação, evitando a dicotomia entre educação a distância e presencial é
necessário em um cenário de avanço tecnológico e diluição de antigos conceitos de espaço e
tempo. Ao realizar esse movimento, surgem novas possibilidades de ensinar e aprender no
ensino superior brasileiro. Atualmente, com a ampliação do número de vagas de estudantes e
docentes, além da expansão física, a Unb passa por um momento ímpar de institucionalização
da EaD, implicando na necessidade em discutir as relações entre seus cursos presenciais e a
distância, visando atender a demanda com qualidade e excelência. Neste contexto, o
planejamento e a realização de aulas via webconferência também deve ser repensada.
A utilização de algumas TIC pode aproximar aproximar professor e alunos. Porém,
cabe perguntar se a webconferência, por exemplo, mesmo sem um planejamento prévio,
rompe efetivamente fronteiras físicas e aproximam os participantes. A webconferência por si
só não ultrapassa este limite, pois é preciso, antes de tudo, pensar em uma educação menos
fragmentada e mais interdisciplinar, capaz de dialogar permanentemente com outras áreas do
conhecimento.
Com estes pressupostos e inseridos em um contexto de mudanças, é necessário ousar e
propor, a partir da experiência de cada instituição, melhorias na utilização da webconferência.
Não há ineditismo nesta proposta de roteiro estrutural, mas pensou-se que é indispensável
divulgar e debater experiências de uso diversas, visando a melhoria do ensino e a
aproximação, de fato, entre professor e aluno.
Referências
ALENCAR, Eunice S.; FLEITH, Denise S. Criatividade: múltiplas perspectivas. 3. ed.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003.
BELLONI, Maria Luiza. Ensaio sobre a educação a distância no Brasil. Educação &
Sociedade, Campinas, v.23, p.117-139, n.78, 2002.
BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância e inovação tecnológica. Trabalho, educação e
saúde, Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.187-198, 2005.
CENSO EaD.br : relatório analítico da aprendizagem a distância no Brasil 2010. São Paulo :
Pearson Education do Brasil, 2012.
CRUZ, Dulce. O professor midiático:a formação docente para a educação a distância no
ambiente virtual da videoconferência. 228 f. Tese (Doutorado em Engenharia de
Produção) - Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2001.
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