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Sos Uma Lua pe SANGUE “Tudo.o que eu the disse & mentra, inclusive ist.” Estas foram as lkimas palaveas de Alisdair, cuspdas de sua boca enguanto eu golpeava suas costelas com 0 pedlago dde uma cadeira quebrada. Esta deve ter sido ania verdade aque eu ouvira dele, Afinal de contas, ee me dise que uma estaca no coragio imobilicaia qualquer vampire, e no, ¢n- tanto, I estava ele, ainda se mexendo mesmo depois de eu aflandar um tronco de cereeita de mais de melo metro atra- és do seu peito. Eu acho que ele nfo devera ser eapas de aquilo. Eu nto entendo, Nao entendo nada. $6 sei que acabo de fazer uma coisa que provavelmente nio deveria ter feito ‘Vagundo suavemence através da janela entreaberta, os Ailtimos vestgios das cinzas de Alisdair futuam pela noite. De lugar no cho onde eu estou sentada, posso vera lua se erguendo acima da linha do horizonte. E uma Ina erescente com as pontas voltadas para cima, uma silbueta gorda © um brilho alaranjado sangrento através da fumaga. Minha cole- sade quarto, Caro, dia que uma lua como essa € um sfmbo- To do poder fermi dda menseruagfo,e assim por diante. Bu olho para aluae ima sino quio completamente imundo o a precisa estar para que ela apresente este tom de vermelho. Eu me sinto até vag mente agradecida por nfo ter mais que respira este veneno. 1 € que a cor representa a magia inerente A brisa flutua pelo aposento, trazendo com ela 0 fedor das raas Id embaixo, Junto com ele, eu ainda posso sentir 0 cheico de papel queimado no qual Alisdair se transformou quando acabet com ele. Eu acho que esse cheiro jamais dei- xan este lugar. Se eu permanecer agui, mais eedo ou mais tarde ele vai me deixar louca, Mesmo estando morto, mesmo {que eu renha bebido aréa lkima gota de seu sangue, de algu- ma forma ele ainda nao se foi. Neste exato momento, cle ‘eco em minha cabeya e se cu permanecer aqui, este eco vai se fornar mais e mais alt, Certo, eu preciso ir embora, preciso me distanctar deste lugar onde matei Alisdair. Eu nem ao menos tenho certeza de por que eu o fiz, mas Deus sabe que ele deve ter feito alguma coisa para merecé-lo. Eu poderia mentir e dizer que ele mere ceu isso por ter me transformado em uma vampira, mas io seria um desrespeto as memérias que eu postuo dele. Quanto ‘mais eu penso sobre isso, maior é a minha certeza de que algo rme disse para encontré-l; eu tenho certeza de que esse mes smo algo disse aele para me Abragar ao invés de me matar. ‘Talvez tenha sido este mesmo algo que te disse que eu precisava afundar aquele poste nas costelas dele e ent8o to- ‘mar todo 0 seu sangue até see4lo, Bu poseria quase jurar que escutetalguém aqui enguanto realizava a faganha, dizendo: ime 0 que fazer mas nto 0 porque. Esta no € uma desculpa ‘ao ruim para um assassinato, € De qualquer modo, vamos encarar 0s fatos: mesmo pe. gando-o de surpresa, eu nunca deveria ter sido capaz de in- comodar Alisdair, quanto mais matéclo, Durante essis trés semanas, desde que ele me Abragou, eu 0 vi correr mais rip do de que cartos de policia e levantar seu piano com apenas ‘uma das mis. Eu, por outro lado, poss fazer minhas boche- chas ficarem rosadas — ¢ apenas se eu me esforgar muito, Ele deveria ser eapar de me impedir sem nem pensar nisso. Por que nfo o fez! Sera que alguém impedi que ele se defendesse? Ou ele estava procurando por alguém que o matasse? Infelizmente, cle no pode mais me responder. Deixe este bigar. Agora. O dinheivo etd na gaveta do meio da earivaninha — voce vai ter que destrogar & madeira para aleangt-o Nio bé mais ninguém aqui. Ninguém me viu assasinar ‘Alisdair ninguém entrou agui desde enti. Os vizinhos nun- ca nos incomodaram, ento no podem ser eles Ex disse wi agora Epllogo: Sob ume Lun de Sangue ‘Ainda nfo ha ninguém aqui, mas dane-se, eu nfo vou me arriscar. Eu me aproximo da escrivaninha, sem acreditar no «que estou prestes.a fazer £ uma linda peya; Alisdair me disse uma ves que ele a resgatara da easa de um margués durante o ‘Terror. Ele também me disse que se tornata tin vampito s0- mente’dois séculos atrés, na Inglaterra, ¢ nunca colacara os és na Franca. Na verdade, é tudo mentira, Eu imagino se posto acreditar em qualquer coisa que ele disse sobre 0 ver dadeiro significado de ser um vampito. Esperando alguma resiséncia, eu puxo a maganeta de bronze da gaveta do meio. Ela nem se move. Rapido! Quem quer que seja 0 meu pattono invisive, ele esté com, pressa. Fecho meus olhos e tento imaginar 0 fluxo de sangue «em meus bragos, aumentando minha forca. Este € um eruque que Alisdair me mostrou, mas que, honestamente, eu no aprendi muito bem. Faca dessejeito, Celeste. Subitamente eu ouco a woz de Alisdair, sito sua vontade divecionando a forea do mew san- aque dentro de mim. Isso ndo pode esxar acontecendo. Ele extd more, Jd era Eu 0 mate, stgue-o até mazd-lo. Nao, Celeste Eu estou aqui, ¢ permanecerei com voeé para sempre, minha querida, Voce vai precsar da minka ajuda — vocé tem rantas coisas fazer, € sem mim, vocé nunca conseguind. Sew outro amigo concord comigo — € & por isso que ele fez com que vacé me matase. A porte da frente da gaveta se quebra com uma estalo tagudo € cai ne chao em meio a uma torrente de papéis e contas, Eu encho rapidamente uma bolsa com um punhado, de dinheiro e, pela dltima ves, reviro a gaveta em busca da pistola de Alisdair. Eu confio na paransia dele — gragas @ Deus eu estava certa e a pistola esté carregada, E inatil, me die uma vor que nao de Alisdair. Estamos no 15° andar e hd um rosto na janela, um rest fio, pido e cheio de caninos. Ele me diz alguma coisa sobre cometer diablerie eo Fim dos ‘Tempos, mas eu no perco meu tempo cuvindo. Eu levanto a arma ¢ ati, acertando ses tros na coisa fia fora da janela, Ela explode em uma mistura de sangue € vidro partido voa longe. Dentro de mim, posso ouvir Alisdair cexultante; 16 fora 6 existe o grito abafado de um vampiro atingindo © chio depois de uma queda de quase cem metros, Se wocé corer, pode chegar ao carro antes que ele se recpere. esta ver eu nfo hesito, nfo discuto nem um pouco. So- mente corro para fora do apartamento, batendo a porta atrés de mim pela ciltima vee. Enquanto vito 0 corredor até a esca- dla, eu ougo muidos distantes de coisas se quebrando dentro do apartamento. Acho que o feoso trouxe alguns amigos. Exo com medo de voee. Estdo com medo do aue voce fard “(Quem diabos € voeé?” Eu grito para o ar, enquanto desso as escadas, quatro degraus de cada vec. “Onde eta Alisdair?” Eu sow um amigo. E Alisdair ¢ pare de voe® agora. A forga dole 6 sua. Voce vai precisar dla durante as noites que se aprox ‘man. Seusiniigs vém esberando bor vocé desde antes de voce E com isso, eu passo pela porta e pelo saldo de entrada, quase atropelando Abe, 0 porteito, no processo. Eu uso sirenes no outro quarteirao, provavelmente os poiciis e uma ambulincia, vindo nesta direg4o para investigar os tiros € 0 corpo achatado no chio. Eu vio para o cutro lado, e conti- rnuo correndo. Minha harriga esti doendo. A mao que usei para destrocer a gaveta da escrivaninha de Alisdaie também di. Meus bracos déem, especialmente logo acima do ombro, jonde eu tenho aquela horsivel marca de nascenga, da qual Carol vive me falando. H4 uma arma vazia em minhas mBos eu estou quase sem folego,seguindo em frente apenas com meus eflexos. Como eu gostaria de poder me sentar e dese Ainda ndo, Langue arma, mes continue correndo, Logo wed pvera descansar. “ Quem me dera!” Eu me assusto ao cruzaé a frente de um t4xi. O motorista paquistanés comega a xingar, mas avita de ‘edo ao vero sangue seco de Alisdairem minke face. "Quan- do pode’ descansar?” Depois de me mater também. Enquanto eu mergulho cada vez mais fundo dentro da noi- te, posso ouvir os risos de Alisdair misturados ao banlho das sirenes. Um som que vai me assombrar até o fim do mundo. E se meus pressentimentos estiverem certos, no vai ser por muito tempo.

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