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DIREITO DO CONSUMIDOR

23/02/2005
CADERNO DE EXERCÍCIOS
CASOS CONCRETOS

AULA I

A autora utilizou-se do serviço fornecido pela ré como destinatária final, caracterizando ser
esta uma relação de consumo, conforme definição do CDC, no seu art. 2° que diz que “consumidor é
toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”.
Portanto, prevalece a aplicação deste sobre a Convenção de Varsóvia, pouco importando se o vôo é
doméstico ou internacional. A esse respeito, pronunciou-se o STJ:

“CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. EXTRAVIO DE MERCADORIA SEGURADA


EM TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL. LIDE MOVIDA PELA SEGURADORA,
REGRESSIVAMENTE. CONVENÇÃO DE VARSÓVIA E CBA. TARIFAÇÃO NÃO MAIS
PREVALENTE EM FACE DO CDC. RECURSO ADESIVO. ENFRENTAMENTO PELO TRIBUNAL.
I. Após o advento do Código de Defesa do Consumidor, não mais prevalece, para efeito
indenizatório, a tarifação prevista tanto na Convenção de Varsóvia, quanto no Código
Brasileiro de Aeronáutica, segundo o entendimento pacificado no âmbito da 2ª Seção
do STJ. II. Enfrentado o recurso adesivo da ré, não se identifica ofensa aos arts. 500 e
515 do CPC, porquanto dada a prestação jurisdicional pedida, embora contrária à
vindicação da parte. III. Recurso especial não conhecido.” (RESP 316280 / SP ; RECURSO
ESPECIAL 2001/0039287-3 – Relator Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR - 06/02/2003

No entendimento do STF, o extravio de bagagem causa prejuízo não apenas material (este sim
tarifado pela Convenção de Varsóvia ), mas também moral:

“INDENIZAÇÃO — DANO MORAL — EXTRAVIO DE MALA EM VIAGEM AÉREA — CONVENÇÃO


DE VARSÓVIA — OBSERVAÇÃO MITIGADA — CONSTITUIÇÃO FEDERAL — SUPREMACIA.”
“O fato de a Convenção de Varsóvia revelar, como regra, a indenização tarifada por
danos materiais não exclui a relativa aos danos morais. Configurados esses pelo
sentimento de desconforto, de constrangimento, aborrecimento e humilhação
decorrentes do extravio de mala, cumpre observar a Carta Política da República —
incisos V e X do artigo 5º, no que se sobrepõe a tratados e convenções ratificados pelo
Brasil. (RE 172.720-9, Rio de Janeiro. Rel. Min. Marco Aurélio. 06.02.96)” (grifo nosso).

Portanto, quando há conflito entre a Convenção de Varsóvia e o Código de Defesa do


Consumidor, prevalece este último, posto que hierarquicamente superior (editado nos termos do art.
5º, inc. XXXII da Constituição Federal), especial (o CDC regula toda relação de consumo) e posterior,
tendo sido publicado em 11/09/1990 e entrado em vigor em 13/03/1991, enquanto que a Convenção
ingressou no ordenamento nacional em 24/11/1931.

Pelo acima exposto, deve ser o pleito da autora considerado procedente, na consonância do art.
5º, V e X da CF, c/c art. 6º, VI, do CDC.

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Para analisar se o CDC é aplicável na situação descrita, primeiramente é preciso determinar se


esta é uma relação de consumo. Se o autor adquiriu o bem para uso próprio, cabe a aplicação do CDC.
Se a contrário, adquiriu o bem, num empreendimento turístico, para alugar a terceiros, então se aplica
o Código Civil.

Na primeira hipótese, não prospera a alegação da ré, de que o desinteresse do autor na


contratação do financiamento do saldo não permite que este invoque a cláusula de desistência prevista
no contrato celebrado entre as partes. Sustenta não ter descumprido o contrato pois não agiu com
culpa, e que por tais motivos o autor não teria direito a ressarcimento. Ocorre que, sendo uma relação
de consumo, aplica-se o art. 53, do CDC, devendo a ré devolver ao autor as prestações pagas, com os
valores corrigidos.

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DIREITO DO CONSUMIDOR
23/02/2005

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