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SANTAELLA, Lucia; NÖTH, Winfried. Imagem: cognição, semiótica, mídia. 4, ed.

São
Paulo: Iluminuras, 2005.

“O mundo das imagens se divide em dois domínios. O primeiro é o domínio das imagens
como representações visuais” […] “o segundo é o domínio imaterial das imagens na nossa
mente” […] "Ambos os domínios da imagem não existem separados, pois estão inextricav-
elmente ligados já na sua gênese.” (p. 15)

“Os conceitos unificadores dos dois domínios da imagem são os conceitos de signo e de
representação.” (p. 15)

“Na semiótica geral, encontram-se definições muito variadas do conceito de representação.


O âmbito de sua significação situa-se entre apresentação e imaginação e estende-se, as-
sim, a conceitos semióticos centrais como signo, veículo do signo, imagem (“representação
imagética”), assim como significação e referência.” (p. 16)

No conceito inglês (representation), representação situa-se como sinônimo de signo. Peirce


vai classificar, em sua primeira fase (1865), semiótica como a “teoria geral das repre-
sentações” (W 1: 174; Fisch 1986: 323-324), falando também simplesmente de "signo ou
representação” (p. 16)

De acordo com o modelo de Peirce, “ “a representação pública” é o signo do sentido do


representamen peirciano, enquanto a “representação mental” é o interpretante sígnico.” (p.
16-17)

“Com o deslocamento das relações sígnicas do mundo das coisas a um mundo dos signos
das coisas, ou seja, das representações no sentido de Foucault, o sistema de signos se
torna, então, a moldura de relação dos signos.” (p.23)

“Imagens não eram, para Platão, o resultado da percepção (aisthesis), mas tinha sua ori-
gem na própria alma. Aristóteles, por outro lado, dava às imagens um significado maior no
processo do pensamento e defendia a tese de que “o pensamento é impossível dem
imagens” (Sobre a memória 450a)” (p. 28).

Cap. 2. Semiótica da Imagem

Citando alguns autores que postularam uma linguagem ou gramática da imagem, a obra
traz:
"Barthes que desenvolveu sua própria semiótica da imagem baseado em Saussure e
Hjelmslev (ver Naville 1970; Baker 1985; Sonesson 1989)
Com maior influência de Hjelmslev, orientam-se os trabalhos de Lindekens (1976) sobre
fotografia.” (p. 34)

>>> Sobre temas individuais da semiótica da imagem:


"Mapas e cartografia: desde a semiologia cartográfica de Bertin (1967), existe o ramo da
cartosemiótica na área das ciências geográficas, cujos resultados de pesquisa estão docu-
mentados na série de estudos Kartosemiotica (Bratislava e Dresden, desde 1991). Outros
estudos além disso, são Palek (1986), Moore (1989), Freitag (1992) e Nöth (no prelo).”
(p.35)

“O conceito de imagem se divide num campo semântico determinado por dois polos opos-
tos. Um descreve a imagem direta perceptível ou até mesmo existente. O outro contém a
imagem mental simples, que, na ausência de estímulos visuais, pode ser evocada.” (p. 36)

>>> A teoria de Gibson sobre a iconicidade da imagem


CONCEITUANDO imagem segundo Gibson:
“Uma vez que a relação de semelhança encontra grandes dificuldades na sua precisão
lógica, Gibson (1954: 14) procurou uma definição ótico-geométrica da semelhança da im-
agem com a realidade: “Uma imagem fiel é uma superfície física delimitada, processada de
um tal modo que reflete (ou transmite) um feixe de raios de luz num dado ponto que coin-
cidiria com o mesmo feixe de raios do original àquele ponto.”Enquanto essa definição trata
da imagem fotográfica de maneira ideal e parece ser inspirada na técnica de seu processo
de produção, é questionável se as imagens, como por exemplo desenhos, na sua relação
de semelhança podem ser caracterizadas dessa forma.” (p. 39)

No sentido de deslocar a relação de semelhança entre imagem e objeto, Gibson elabora


outra definição de imagem, onde a semelhança se encontra entre duas formas de per-
cepção do receptor.
A nova definição de Gibson (1971:31) diz: “Uma imagem é uma superfície de tal modo
tratada que um arranjo ótico delimitado a um ponto de observação se torna disponível,
contendo o mesmo tipo de informação que é encontrado nos arranjos óticos ambientais de
um ambiente comum.” (p. 40)

“… as imagens atuam mais fortemente de maneira afetivo-relacional, enquanto a lin-


guagem apresenta mais fortemente efeitos cognitivo-conceituais (Janney & Arndt 1994).
Imagens fomentam atenção e motivação, são mais apropriadas à apresentação de in-
formação espacial e facilitam, em certo grau, determinados processos de aprendizagem
(Weidenmann 1988: 135-138)” (p. 44)
>> Argumentos do gestaltismo a favor da autonomia da imagem

O gestaltismo traz um primeiro modelo para a interpretação de imagem como um signo


autônomo. Formas visuais são unidades de percepção independentes da linguagem. No
campo visual, as figuras são percebidas, em sua totalidade, como formas. As totalidades
aparecem como algo que é mais do que somatório de suas partes. A percepção acontece,
então, não de maneira reprodutiva, mas sim como um processo construtivo da nova or-
ganização do campo visual. Esse processo é determinado pelas chamadas leis da forma”
(p. 45)

“Já que a percepção da forma não é somente um processo de recepção, mas, em última
análise, um processo de coordenação entre o percebido e as formas já internalizadas, ela
é, no sentido da relação token-type de acordo com Peirce, um processo semiótico.” (p.
45)

Cap. 8. Semiótica da Fotografia


>>> A semiótica da fotografia se baseia na semiótica da imagem.

“A característica semiótica mais notável da fotografia reside no fato de que a foto fun-
ciona, ao mesmo tempo, como ícone e índice (cf. Sonesson 1993b: 153-154). por um
lado, ela reproduz a realidade através de (aparente) semelhança; por outro, ela tem uma
relação causal com a realidade devido às leis da ótica.”(p. 107) >>> “Por este motivo,
Schaeffer (1987: 590) definiu a imagem fotográfica como um “ícone indexical”. “ (p.107)

8.1. Sobre o estado da arte

“A pesquisa semiótica sobre fotografia é dominada por quatro linhas de semiótica


aplicada, cujas bases são encontradas nos trabalhos de Peirce, Hjelmslev, Greimas e
Barthes. Seguindo a tradição de Peirce e da Escola de Stuttgart de Max Bense (1965),
encontram-se os trabalhos de Brög (1979) e dos trabalhos de Lindekens (1971, 1973,
1976, 1978). Floch se orienta pela semiótica estrutural de Greimas (Floch 1980, 1985: 21-
38; 1986), e o próprio Barthes conta como um dos clássicos da semiótica da fotografia
(Barthes 1961, 1964a, 1980a, b)”. (p. 107)

>>> Acredito ser interessante tomar um deles, no caso, Barthes para justificar o posi-
cionamento de análise diante das fotografias históricas de Cachoeira. <<<

“Barthes (1980: 86) também menciona vários argumentos a favor da iconicidade relativa
da foto. Segundo ele, a foto, ao contrário da pintura, remete não somente a um objeto
“possivelmente real”, mas também a um objeto “necessariamente real”, e não se pode
negar que “o objeto exista”. A foto é uma ëmanação do referente” e testemunha um “ac-
onteceu assim” (ibid.: 90). Resumindo, a imagem fotográfica “não é a realidade, mas, pelo
menos, sua perfeita analogia, e é exatamente esta perfeição analógica que geralmente
define a fotografia” (Barthes 1961: 128)”. (p. 110)
*** BARTHES, Roland (1961). la message photographique. Communication et langages
26: 98-112.

>> Peirce sobre o signo fotográfico

“Peirce define o signo fotográfico com respeito à sua relação com o objeto ( a secun-
didade do signo), por um lado, como um ícone; por outro, como índice. É assim que fotos
são, “de certo modo, exatamente como os objetos que elas representam e, portanto,
icônicas. Por outro lado, elas mantém uma ‘ligação física’ com seu objeto, o que as torna
indexicais, pois a imagem fotográfica é obrigada fisicamente a corresponder ponto por
ponto a natureza” (CP 2.281).” (p. 110)

Definir>> *** INDEXICAL

“Barthes (1980) cita, além do aspecto da iconicidade, outras características que possibili-
tam a manifestação do signo como um índice: (1) a causalidade da relação imagem-ob-
jeto, já que a foto é uma “emanação do real passado”(ibid.: 99); (2) a temporalidade da
função referencial, pois o “aconteceu assim”é um noema da fotografia (ibid.: 87); (3) a
relação pars-pro-toto entre imagem e realidade, pois “poder-se-ia considerar que a foto-
grafia tem sempre seus referentes como conseqüência e ambos […] são ligados um ao
outro” (ibid.; 13)”. (p. 111)

3.1. >> O paradoxo fotográfico de Barthes


“Barthes, que considera uma característica essencial das fotos o fato de elas serem uma
“perfeita analogia” da realidade, conclui, deste fato, que a fotografia é “uma mensagem
sem código”. Como uma analogia mecânica da realidade”, a foto apresenta uma tal “per-
feição e plenitude de analogia”que ela parece conter uma mensagem puramente denota-
tiva, pois nada parece complementável com conotações. […] Para Barthes (1961: 30), o
paradoxo estrutural da fotografia reside no fato de que “uma mensagem conotada (ou
codificada) pode desenvolver-se a partir de uma mensagem sem código”. (p. 112)

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