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ALT aL A a OS DIREITOS SOCIAIS EM TEMPOS Na WUT TAA TST UN LUCIA CORTES DA COSTA ALEJANDRO HUGO DEL VALLE (ORE Editora UNICENTRO, UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO Nelson Bona nar Ambrésio de Souza Editora UNICENTRO Diresa een ee terete peewee Byer ker leat Myre) Assessoria Técnica: Beatriz Anselmo Olinto, Suelem Andressa d Lopes, Victor Mateus Gubert Teo Leyes Dalila Oliva de Lima Oliveira Diagramadores: Lucas Mino: BST ler Souza, Victor Mateus Gubere T Serer arte COM etre elereR en Tsar) Capa: Lucas Minosso Kulka ica Editora Pallotti Catalogagto na Publicagao Biblioteca Central da UNICENTRO, Campus Guarapuava Fabiana de Queiroz Jucé (CRB 9/1249) S456 ASEGURIDADE social no Brasil e na Argentina: os direitos sociais em tempos de ajustes neoliberais / Organizado por Lucia Cortes da Costa, Alejandro Hugo Del Valle. -— Guarapuava: Unicentro, 2017 284 p. ISBN 978-85-7891-205-5 Bibliografia 4 .Seguridade social - Brasil. 2. Seguridade social - Argentina. |. Titulo. CDD 368.4 Copyright ® 2017 Editora UNICENTRO Nota: © contetido desta obra é de exclusiva responsabilidade de seus aucores DIVEASIDADE ETNICA E REGIMES DE BEM-ESTAR NA AMERICA LATINA’ Michel Jorge Samaha José Adelantado O Estado de Bem-Estar (EB), sucessor do Estado liberal do século XIX, é um arranjo tipico do desenvolvimento do estado-nagao da Europa Ocidental ao largo do século XX. A sua estrutura central objetivava promover a igualdade de oportunidades e a redistribuigao de recursos por meio de politicas sociais. Politicas essas dirigidas a governabilidade e a gestdo das tensdes contraditorias entre os processos de acumulagao, legitimacao e reprodugao a longo-prazo, das sociedades capitalistas (A DELANTADO; MORENO, 2007). Na América Latina (AL), 0 estabelecimento de um Estado de Bem-Estar (EBAL) ocorre nos moldes do que foi realizado nos paises europeus. Porém, além de periférica em relagéo 4 economia mundial, a regido convivia com uma grande diferenga nos padrdes tecnoldégicos da industria e da agricultura. Nesse contexto, as 6. Este trabalho foi desenvolvido durante o estaégio doutoral realizado na Universidade Auténoma de Barcelona- UAB, financiado pela Fundagao Capes - Ministério da Educagao do Brasil. 32. acées estatais centralizadas tinham como objetivo a integracao da economia nacional ea consolidagao da base legal para o mercado de trabalho. Entretanto, a estrutura social estava cindida por profundas desigualdades de género, étnicas e de classe. ‘A complexidade das divisdes sociais e como estas incidem sobre a vida das pessoas, nas suas necessidades e demandas de bem- estar, tém sido estudadas de forma comparada em todo o mundo. Os modelos analiticos desenvolvidos para essa finalidade tratam, basicamente, de avaliar diferentes combinacées entre as seguintes esferas na producdo de bem-estar: familia, estado, comunidade e mercado. Essa estrutura analitica foi reproduzida nos principais modelos concebidos para comparar os EBAL. Como pano de fundo desses modelos, ainda que se organizem de formas diversas, estd o intercdmbio de direitos sociais por trabalho assalariado. O desenvolvimento do EB mostra a correspondéncia entre a intensidade dos direitos ¢ o tipo de assalariamento da forca de trabalho, segundo classe, género e etnia. Os pressupostos analiticos, desenvolvidos pelo socidlogo Gésta Esping-Andersen, em sua obra trés regimes de bem-estar, foram desenhados para paises desenvolvidos e homogéneos. A utilizacao dessa metodologia para classificar os regimes de bem-estar na América Latina (RBAL) sofreu adaptagdes impulsionadas por uma realidade social assimétrica e hierarquica, fundada na desigualdade ena exclusdo social. Das hierarquias, as mais exploradas foram a de classe e género, sendo que pouca atengao foi dada a dimensao étnica. ‘Ao que Adelantado et al. (1998) chama de eixos de desigualdade, a einia é raramente mencionada nos estudos que propdem uma anillise tipoldgica para a regiao. Essa “fragilidade” pode ser superada com a incluso de indicadores das brechas étnicas. Nessa perspectiva, o presente capitulo examina a importancia da diversidade étnica’ na caracterizagao dos modelos de bem-estar desenvolvidos para a AL. E isso é feito & luz da hipotese de que a diversidade étnica provoca divisdes estruturais que afetam a vida 7. O termo “diversidade étnica”, neste trabalho, é adotado para designar as formagées populacionais compostas por indigenas, negros, mesticos, pardos e mulatos. A identidade entre etnia e raca foi deliberada, ainda que nao se olvide a persisténcia das diferengas conceituais justificadoras dessa distingao, na literatura. econdmica das pessoas, bem como o desenvolvimento dos servicos de bem-estar. Os tipos de regimes propostos para a regio ignoram esses efeitos e criam um viés analitico que nao permite capturar a hierarquia social gerada por essa dimensio. Se, analiticamente, 6 possivel diferenciar outros eixos como desigualdade de classe, de género ou etaria — quando se combinam as esferas mercantil, familiar, estatal e comunitaria, como a maioria dos estudos faz - , ent&o nao se justifica a omissio do eixo étnico nessas construcdes tedricas, DELIMITACAO DA QUESTAG Apesar de evidente, a importancia dada as varidveis émicas na literatura dos RBAL é claramente marginal. Os indigenas e os afrodescendentes (¢ seus descendentes) so os mais pobres da regiao, apresentam os piores indicadores socioeconémicos e contam com um escasso reconhecimento cultural e uma baixa participagao cidada (HOPENHAYN et al., 2006). A combinagao desses elementos reflete diretamente nos desenhos das instituigdes democraticas desses paises. Dessa forma, a hierarquia étnica impulsiona a formatagao de instituig6es democraticas pouco responsivas as demandas sociais produzidas por essa dimensao. De outra forma, as instituigdes democraticas sao frageis, causando um enorme déficit na efetivagdo dos direitos sociais. O produto dessa fragilidade 6 uma desigualdade de renda, uma pobreza estendida e um acesso ao emprego regular etnicamente condicionados. A escassa qualidade das democracias e os elevados niveis de desigualdade sao fendmenos interdependentes e se retroalimentam mutuamente; a debilidade dessas democracias (instituigdes piiblicas e administrativas) é consequéncia da institucionalizagao da desigualdade e, por outro lado, a institucionalizacao da desigualdade 6 consequéncia da debilidade das democracias (ADELANTADO; SCHERER, 2008, p.3). O bem-estar social na AL, ainda que tenha adotado o modelo institucional europeu, nao gerou mecanismos de producao de bem- estar como nos paises desenvolvidos. Por isso Gough (1999) lembra 33 34 que € preciso, quando se estuda a regio, considerar as caracteristicas diferenciadoras e similares com os paises industrializados. Dentre essas carateristicas esto o grau de dependéncia de outros estados (fatores internacionais), o nivel de industrializagao e renda (contexto socioeconémico), a organizagao politica (contexto politico), as politicas sociais e o nivel de bem-estar. Nenhuma referéncia ¢ feita & diversidade racial (seja das sociedades de perfil escravocrata ou de numerosa populacio indigena). Oestudo comparativo pioneiro entre os paises da regio, feito por Mesa-Lago (1994), propde uma classificagao unidimensional ligada & evolucao histérico-temporal na adogdo dos programas de politicas de protecao, em especial de pensdes, seguro de enfermidades/maternidade e o grau de desenvolvimento alcancado. Critérios de perfil étnico nos diferentes regimes identificados, nao so mencionados. Essa abordagem privilegiou a andlise da evolu¢ao das politicas sociais, porém pouca atenc&o deu para a estrutura social e sua clivagem étnica. Meng&o também no realizada na tipologia proposta por Filgueira (1998), que est centrada nos padrdes regionais segundo volume de servigos sociais publicos, cobertura dos beneficios, condigées de acesso e a estratificagio dos servicos. Os regimes de universalismo estratificado, dual e excludente, partem de uma interpretagéo de como as elites locais se relacionavam com a populacao, podendo predar, cooptar/reprimir ou competir pelo apoio popular. A diversidade étnica da base popular de apoio ou de rejeigao aos diferentes tipos propostos também nao foi considerada. Ja Martinez Franzoni (2005) inclui os eixos de estratificagdo socioeconémica e de género, relativos a quatro dimensdes: acesso ao mercado de trabalho e a renda; participacao relativa das familias; as politicas puiblicas e o mercado de prestacao de servicos-chave para a mobilidade e integragao social; desempenho do regime; condigdes sociodemograficas ¢ socioeconémicas. Essa tipologia avanga com mais intensidade nos eixo de género, mas nao qualifica a dimensio étnica. Cecchini, Filgueira e Robles (2014), em trabalho mais recente, ao realizarem 0 agrupamento de paises pela ética das brechas de bem-estar, incluem, na andlise, novos eixos de desigualdade como © critério etario e informalidade, porém, nao captam os efeitos da heterogeneidade étnica. Dos trabalhos revisados neste capitulo, apenas a classificagio de Draibe y Riesco (2011) incorpora a diversidade étnica quando discutem os padrées de modernizacao dos paises da AL. Entre outros critérios de composicao dos quatro padrées desenvolvidos, os seguintes critérios de diversidade étnica sio apresentados: populacdes indigenas numerosas (México, Peru e alguns paises da América Central); populagées indigenas pouco significativas (Argentina e Uruguai); populagdes indigenas medianamente significativas (Costa Rica e Chile); e importac&o massiva de escravos africanos (Brasil, Cuba e outros paises do Caribe). Entretanto, esse argumento aparece mais para caracterizar 0 quadro geral de partida dos paises do que para se transformar num critério determinante na arquitetura moderna dos RBAL. A auséncia da dimensao étnica nesses modelos, em parte, poderia ser atribuida & falta de dados necessarios para desenvolver analises quantitativas ou a dificuldade de gerar indicadores aptos a medirem e compararem as brechas étnicas entre paises. Por outro lado, pode também expressar um problema de fundo teérico. A produgio de dados estatisticos com autoidentificagao étnica (ou racial) surgiu com maior intensidade a partir do ano 2000, na AL. Nas décadas de 1980 e 1990, apenas metade dos paises quantificava a populagao indigena, porém predominavam critérios de identificacio linguistica. Nos censos do presente século se produz um salto quantitativo importante, j4 que 16 dos 19 paises que fizeram seus censos na década de 2000 identificaram a populacao indigena. A mudanca mais significativa foi a incorporagao da autoidentificacao, coerente com 0 reconhecimento desses povos como sujeitos de direito (CEPAL, 2014). A insuficiéncia de dados, seguramente, nao permite construir indicadores claros e objetivos. Mais do que ser apenas um descuido censitdrio, essa lacuna gera frustragdes nos movimentos de grupos discriminados para fazerem visiveis suas desvantajosas condigées frente a sociedade e ao Estado. A populago afrodescendente também padece de visibilidade estatistica. A comparabilidade entre os paises que recolhem dados 36 desses coletivos é ainda problematica, pois os censos os diluem em distintos grupos ou segmentos. Hopenhayn et al. (2006) mostra que wno Brasil, em Costa Rica e Honduras existe uma tinica pergunta sobre origem. No Brasil, o entrevistado se autoidentifica por cor on raga, na Costa Rica pela “cultura” a qual pertence e em Honduras por “grupo populacional” (Garifuna e/ou negro inglés). Ha um esforco continuo das agéncias multilaterais na inducao da consolidagao, regularizagao e padronizacao da coleta de dados. Recentemente, muitos informes sobre populagées indigenas € afrodescendentes tém sido produzidos (elaboracao propria ou subvencionados) por agéncias como o Programa das Nagées Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Organizacao Panamericana de Satide (OPS-OMS) e Comissao Econémica para América Latina e Caribe (CEPAL). Porém, ainda existem limitagoes relacionadas as capacidades dos governos em gerar informagies sistematicas ¢ regulares. ‘A despeito dessa dificuldade na obtencao de dados, parece que a auséncia da dimensio étnica nos EBAL padece de um adequado “linhamento tedrico entre os pressupostos utilizados nos modelos “ldesicos com a complexa realidade latino-americana. O eixo analitico dos EB, do ponto de vista histérico, foi localizar as necessidades politicas econdmicas e sociais do século XIX em trés dimensdes: 3) 0 desenvolvimento do capitalismo industrial e os padroes de mobilizacao entre trabalho e capital; b) o desenho ideolégico ¢ material do processo de assalariamento (institucionalizando ohomem como provedor); ec) 0 desenvolvimento do moderno estado-nacio, em especial a construgao da unidade e identidade nacional. Esta ‘iltima foi estabelecida por meio de fronteiras geograficas ao recor de uma imaginada homogeneidade cultural, 6tnica, linguistica ou de dominagao. Para Williams (1997, p.62) estes processos nao somente formaram as bases especificas, historica e cultural dos emergentes EB, mas se entrelacaram complexamente de diferentes maneiras ¢ com diferentes consequéncias na organizacéo estrutural e mobilizagao pelos direitos sociais. Alguns pressupostos utilizados na elaboracao original de Esping-Andersen se assentam em realidade distinta da latino- americana. Ble relacionou a producao de bem-estar a amplos processos politicos e econdmicos sustentando que surgiram nas economias capitalistas avancadas, no pés-guerra, trés diferentes regimes de bem-estar denominados de liberal, conservador e social democrata. Os tracos que os diferenciam sao a forma que se tem acesso aos direitos sociais, em especial o grau em que os individuos ou familias podem manter um padrao de vida socialmente aceitaveis, independentemente da participagaono mercado (desmercantilizacao).. Na tentativa de transladar e adequar esses tipos para a realidade da AL, 0 eixo de desigualdade étnica foi sub-representado no rol de indicadores classificatdrios. Os RBAL documentam sistematicamente os efeitos da causalidade entre género e classe nas condigées de vida da classe trabalhadora, indicando a intensidade de acesso aos beneficios de bem-estar e A segregaco do mercado de trabalho com vantagens para os homens. E evidente que as sociedades da regiao sao patriarcais, porém também sao etnicamente discriminantes. Essa omissao deixa em aberto a compreensio de como estruturalmente se posicionam as minorias étnicas no mercado de trabalho formal e informal, uma vez que ai reside uma importante fonte de discriminago e segregacao. Essa conformacio pode incluir desde mao de obra escrava até uma concentragao das minorias em postos de trabalho mal remunerados, baixa capacitagio e reduzida protegao em termos de seguridade social. A diversidade étnica opera transversalmente na combinagao das esferas de produgdo de bem-estar e por isso nao deveria estar ausente dos modelos analiticos construfdos para a AL. Estado, mercado, familias e comunidade quando tocados por esse eixo de desigualdade geram diferenciacdes no grau de cobertura estatal, na estratificagao dos beneficios, nas condi¢des de acesso, na informalidade e na dimensao familiar em cada regime. Se a homogeneidade étnica de um pais contribui para manter a identidade, a solidariedade social e pode fortalecer as coalisées politicas de defesa do Estado de Bem-Estar, entao, grande parte da baixa intensidade dos estados de bem-estar da regiao pode ser explicada, em parte, pela heterogeneidade étnica. De certa forma, a América Latina, a semelhanga do proposto por Schierup et al. (2006), condensa um delicado dilema centrado na “racializacao” das relagdes sociais. Os paises que tiveram uma homogeneidade racial ou bem a 3 38 tiveram uma escassa imigracao, apresentaram uma construgao mais facil do Estado de Bem-Estar (ARTILES; MEADRI, 2012). Como discutido, pende sobre os RBAL uma chave analitica que seja capaz de indicar o quanto uma politica social e os mercados reduzem a dependéncia individual, em fungao da origem étnica, do acesso desigual a recursos econémicos e sociais. De outra forma, em que grau osestados de bem-estar permitem 0 acesso igual aos recutsos econdmicos e sociais - como direito social -, independentemente do grupo étnico a que 0 cidadao pertenca. A utilizagio acritica da matriz tedrica desenvolvida para paises com alta homogeneidade, seguramente, esta na base da omissao. Evidéncias empiticas da hierarquia étnica na regido Sao poucos os paises que produzem estatisticas segmentadas por perfil étnico (raga, cor, lingua, etc.). Disso decorre a dificuldade em se mensurar com exatidao a magnitude das hierarquias e desigualdades regionais. A CEPAL (2014) estima que o total de indigenas 6 de 8,3% da populacio total; as Nagdes Unidas (2015) e a OIT (2004) estimam que a populagao afrodescendente® é de aproximadamente 30%, Os grupos indigenas e afrodescendentes compartilham uma série de condigées, como a marginalidade e a exclusao social; sao acometidos dos mesmos problemas de desigualdade e discriminagao ¢, via de regra, esto sobre-representados entre os mais pobres. Quanto ao tamanho da populacao indigena na AL, os dados da CEPAL? (2014) indicam uma grande variacao, partindo de 0,2%, em El Salvador, até 62,2%, na Bolivia. Acima de 10% encontram-se paises como Chile (11%), Panama (12,3), México (15,1), Peru (24%), Guatemala (41%) e Bolivia. J4 a populacao afrodescendente tem, no Brasil sua maior coneentragao que, segundo o IBGE (2013), chega a 53%. 8. Em paises como Brasil, Colombia e Venezuela, os negros e mesticos/pardos chegam a mais da metade da populacao. 9. A CEPAL combina dados censitdrios (Brasil, Paraguai, Argentina, Costa Rica, Uruguai, Venezuela, Equador, Chile, Panama e México) e estimados (EI Salvador, Colémbia, Honduras, Nicaragua, Peru, Guatemala e Bolivia) para um periodo compreendido entre 2010 e 2012. A relacio entre heterogeneidade étnica e desigualdade de renda (GINI) ja foi apontada por Meisenberg (2007), que encontrou uma relacio significativa entre diversidade racial e 0 indice de GINI, ou seja, quanto maior a diversidade racial, maior a desigualdade de renda. Atal et al. (2009) j4 haviam encontrado uma diferenga salarial entre as minorias"” em sete" paises da AL. Os componentes dos grupos minoritdrios recebiam 28% a menos que o mesmo trabalhador branco da regiao, em que pese terem a mesma idade, género e idéntico nivel de educacao. Para a CEPAL (2011), a situagio de cada grupo depende de seu peso demografico e de seu poder politico; porém, o denominador comum é a discriminacao estrutural que se expressa em marginalidade, exclusao e pobreza. A incidéncia da extrema pobreza entre os povos indigenas e afrodescendentes varia de pais para pais, podendo se situar entre 1,6 e 7,9 vezes acima do resto da populagao. As desigualdades desses grupos em relacdo & populagao branca ou de origem europeia tém origem na conquista e na colonizagao da tegiao e perduraram no regime republicano até entao. Criou-se um sistema de hierarquias sociais baseado em piramides raciais. O branco 0 mestico se localizavam em uma escala superior e gozavam dos privilégios de cidadania, enquanto na parte inferior se situavam os indigenas e os escravos africanos e seus descendentes (ANTON et al., 2009, p.15). Os principais RBAL consideram, na sua composicao, a extensdo da cobertura estatal, a informalidade, a estratificagao e o papel da familia. A cobertura estatal representa o alcance da seguridade social, servicos de educagao e de satide. Procura categorizar o grau de estratificagaio dos beneficios, as condigdes de acesso e o nivel de protegao proporcionado pela seguridade social. A informalidade capta a produgao de bem-estar (geragao de ingressos e acesso a bens e servicos) fora das relacdes formais de trabalho. A estratificagdo representa os diferentes niveis de cobertura e acesso a bens e servicos por grupos especificos (trabalhadores por conta- 10. Indigenas, negros, mestigos, mulatos e pardos. IL. A pesquisa levou em consideragao 18 paises, mas apenas 7 (Bolivia, Brasil, Chile, Equador, Guatemala, Paraguai e Peru) dispunham de dados sobre diferengas salariais. 39 prépria, informal, rural, desempregados e mulheres). A dimensao familiar é utilizada para caracterizar a intensidade da demanda de trabalho nao remunerado e a capacidade de prover ingressos e cuidados. ‘A cobertura estatal em servicos de satide e educagao nao é homogénea para os diferentes grupos étnicos. A mortalidade infantil para os indigenas é sensivelmente maior que para os nao indigenas, sendo que no Panama, Peru e Bolivia, os indices sao mais que dobro (CEPAL, 2014a). No Brasil, os indigenas possuem uma taxa de mortalidade infantil de 30 mortos por mil criangas nascidas vivas, enquanto na populacao branca esse indice é de 14,8 (DATASUS/SIM, 2014). Quando se toma 0 indice de mortalidade infantil abaixo de cinco anos, percebe-se que a brecha’” entre indigenas/afrodescendentes em relac&o ao resto da populagao segue a mesma tendéncia. Para a populagio indigena, Costa Rica apresenta a menor diferenca (1,2), enquanto Panamé (3,3), Peru (3,4) e Bolivia (1,9) sao as maiores (CEPAL, 2014a). No sistema educativo, segundo a mesma fonte, a tendéncia de brechas em desfavor dos indigenas e dos afrodescendentes segue a mesma regra. Em todas as faixas etarias, 0 nivel de frequéncia escolar é menor que para os nao indigenas, porém essas diferencas se acentuam na faixa etaria de 18 a 22 anos. Dos oito paises com dados disponiveis a partir dos censos de 2010 e 2011, o México ¢ 6 que detém a menor frequéncia escolar e a Costa Rica a maior. Apenas 24 % dos indigenas mexicanos entre 18 e 22 anos de idade frequentam um estabelecimento de ensino, enquanto na Costa Rica esse nitmero chega a 39,8%. Quando se analisa 0 percentual de ocupados, combinando idade e 0 tempo de estudo segundo a condigao étnica e sexo, percebe- se que as mulheres indigenas esto em situagao melhor do que a dos homens do mesmo grupo, porém a taxa de ocupagao de uma mulher indigena na Colémbia e no Panamé, se comparada com as nao indigenas, ¢ de 2,5 vezes menor. Esse tipo de brecha se verifica 12. Brecha é a razo entre o indicador indigena ou afrodescendente e 0 indicador do restante da populacio. em todos os paises, tanto entre os homens como entre as mulheres de grupos diferentes. Quadro 1 - Porcentagem de ocupados com 15 anos ou mais, com 13 anos de estudo ou mais, segundo condigio étnica e sexo, 20107 Pais Indigena Nao Indigena homens | mulheres Homens mulheres Brasil 6,3 10,8 13,2 20,9 Colémbia an 10,3 15,2 28,4 Costa Rica 12,7 28,3 21,0 37,1 Equador 11,7 88 29,7 43,1 México 85 15,1 20,2 28,6 Nicaragua 5,2 1243 8,7 16,9 Panama as 13,3 21,5 43,2 Peru 14,8 17,1 29,5 39,8 Uruguai 94 20,9 16,8 31,0 Fonte: CEPAL (2013). O ramo de atividade para homens e mulheres ocupados com 15 anos ou mais, revela que os indigenas tém uma alta participacao no setor primario e uma baixa no setor tercidrio. O Equador tem a pior brecha entre as mulheres no setor tercidrio (0,44) e 0 Panama a pior no setor primério (14,7). Entre os homens, a Colémbia é a pior no setor tercidrio (0,37) e o Panamé também é o pior no setor primario (3,31) (CEPAL, 2014a). Os empregos menos valorizados e mais desgastantes sio ocupados com maior intensidade por indigenas e os empregos mais valorizados sao ocupados, em sua maioria, por nao indigenas. Segundo o IPEA (2013), para os afrodescendentes brasileiros maiores de 16 anos de idade com mais de 12 anos de estudo, a taxa de desocupaciio é 40% maior para os homens e 36% para as mulheres em relagao aos brancos. As brechas nos diferentes ramos de atividade sao as seguintes: agricola (mulheres 1,75 e homens 1,56); setor industrial (mulheres 0,80 e homens 0,79); e comércio (mulheres 0,90 13. Dados coletados em torno de 2010. 41 42 e homens 0,87). A mesma l6gica se aplica aqui, os afrodescendentes se concentram nas atividades menos valorizadas e mais penosas, como aagricola, e possuem baixa participacdo no emprego industrial. No trabalho agricola e doméstico ¢ onde se encontram os maiores indices de informalidade, associados com jornadas maiores, mais penosas e com salatios inferiores. Isso implica, frequentemente, em desrespeito a legislacao trabalhista e baixa cobertura em termos de seguridade social. Segundo Barbosa e Santos (2015), em 2013, 67,8% dos trabalhadores afrodescendentes ocupados, com idade entre 16 59 anos estavam socialmente protegidos, contra 77,6% de protecao dos brancos. Acrescentam ainda que existe maior dificuldade de aposentadoria entre negros, comparados com os brancos. Associados a todos esses indicadores apresentados, as sociedades latino-americanas possuem taxas de filiagao sindical baixas com pequena presenca institucional dos sindicatos nas definigdes econdmicas e de protecao social. No Brasil, segundo 0 IPEA (2013), a taxa de afiliacdo sindical das pessoas de 16 anos de idade ou mais é de 16,2%, enquanto para os afrodescendentes esse percentual é de 15,3%. Ainda que seja dificil encontrar dados de filiacdo sindical segmentado entre indigenas endo indigenas, a taxa média da regiao é menor do que 15%. OGasto Social (GS) é outra varivel importante na caracterizacao do grau de cobertura da protegéo social proporcionada pelos EB. Quando se combina linearmente 0 GS per capita com o percentual de populacao branca nos diferentes paises latinos (Grafico 1), percebe- se que, quanto maior é a populagao branca, maior é © Gasto Social por habitante. Dessa forma, a diversidade étnica esta negativamente relacionada com 0 que cada cidadao recebe de protegio social, ou seja, quanto maior a diversidade étnica, menor os gastos sociais por habitante. Uruguai e Argentina, com elevada populacao branca, respectivamente 77% e 61,4%, so 0s paises que maior gasto per capita realizam. Bolivia com 1,9% de brancos e Equador com 2,15 sao os que ‘menos gasto social por habitante dispendem. Adelantado e Calderén (2005) constataram que existe uma relagaio causal entre o volume de gasto em protecao social, a desigualdade de renda (GINI) ¢ 0 risco de pobreza; quanto mais gasto em protecao, menor desigualdade e pobreza e vice-versa. Grafico 1 - Gasto social e diversidade étnica na América Latina R= 0,83307 2000 sapita (Dolar de 204 1000 500 , a FES ote %ePby Ze ON ° a 0 1 2 30 4 So) oo 67 680 Total de populagao branca (%) 3 Fonte: Elaborado a partir dos dados de etnia do Latino barémetro (2015) e de Gasto Social per capita da CEPAL (2013). Essa breve demonstracao das diferencas no grau de cobertura, acesso a servicos e estratificagao dos indigenas e afrodescendentes em relagio ao outros grupos étnicos, impde a necessidade de inclusao da diversidade étnica, ao lado de outros eixos de desigualdade (género, classe, etc.), no rol de critérios diferenciadores dos regimes de bem- estar na América Latina. A hierarquia étnica promove divisdes na estrutura social e na vida econémica das pessoas com diferentes ordens de dominacio, ou seja, ela é condicionada e condicionante das hierarquias de género e de classe, por exemplo. Ser indigena e/ ou afrodescendente cria uma relagao de subordinacio que repercute na organizacao familiar, no tipo de emprego e no nivel de educagéo dos individuos. 43 44 Aimporiancia da dimensao éinica no Estado de Bem-Estar norte-americano A literatura sobre o tema, produzida nos Estados Unidos da América, é um marco importante para se compreenderem os inapactos dessa diversidade na estrutura social dos paises etnicamente heterogéneos. Ao tentar explicar o cardter rudimentar do Estado de Bem-estar americano, Schiroup et al. (2006) afirmam que ele se sustenta em um racismo latente, pois os principais benificidrios seriam negros. Nesse sentido, a classe média, predominantemente branea, se interessaria pouco na expansao da rede de protecio social ofertada pelo Estado e, portanto, teria menor propensio em pagar impostos suportando essa redistribuicao. Ao analisar como questdes raciais moldaram o estado de bem- estar norte-americano, Jill Quadagno, em dois livros sobre o tema - The Transformation of Old Age Security e The Color of Welfare - mostra porque a producdo de algodao no sul do pais dependia da opressao racial e de que forma questées raciais eram parte integrante das politicas do New Deal e, também, 0 motivo pelo qual congressistas do sul se recusavam a apoiar todos os programas de bem-estar que colocariam recursos federais nas maos dos sharecroppers" negros. Franklin Delano Roosevelt necessitava de apoio do sul para aprovar seus programas no Congreso. Para isso, concordou em excluir os afro-americanos dos principais programas do Social Security Act (QUADAGNO, 1994). A diversidade étnica 6 o fator chave na explicagao de por que o estado de bem-estar americano nao tem o estilo dos regimes de bem-estar europeus (ALESINA; GLAESER, 2004). Além da arquitetura geral dos regimes de bem-estar, a diversidade étnica est relacionada ao gasto piblico (FINSERAAS, 2008), & formacao da opiniao a respeito da imigragdo (HOPKINS, 2011), 8 distribuicdo de renda (HAILE et al., 2008) e ao apoio ao estado de bem-estar (ALESINA etal, 2001). 14. Agricultores negros do sul dos Estados Unidos que produziam em terras de outros proprietarios (via de regra brancos), em troca de uma parte da venda dessa produgao. No Ambito subnacional americano, varios estudos associaram diversidade étnica com gastos puiblicos. Na educagiio, a percentagem de negros na populacdo foi correlacionada com a percentagem de escolas privadas (JAMES, 1987). Em relac&o 8 ajuda a familias com Criancas Dependentes (AFDC), o principal programa de assisténcia social até meados de 1990, Alesina e Glaeser (2004, p.147) mostraram que, em 1990, o Estado do Alasca (populacao menor de negros) pagou mais de 800 délares por familia por més, enquanto que o maximo beneficio pago no Alabama e Mississippi (populacao maior de negros) foi menor que 150 délares. PROPOSTA TENTATIVA A questo que se coloca como norte nesse debate é manter que forma a dimensao da diversidade étnica pode ser incorporada nos modelos gerais que expressam relagdes hipotéticas utilizadas nos estudos regionais dos estados de bem-estar. Com os dados disponiveis, ao menos em relacaio aos coletivos indigenas e afrodescendentes, jé é possivel pensar em algumas varidveis capazes de articular o eixo das desigualdades étnicas com os RBAL. A intengao nao é propor grupos ou blocos de varidveis para comparacao entre paises, muito menos afirmar que as varidveis apresentadas tém carater exaustivo; a0 contrario, sio apenas exemplificativas. O importante é sugerir indicadores capazes de captar essa dimensio em relagio A produgao de bem-estar pelo mercado, Estado, familias e comunidade. Varidveis que fazem referéncia aos efeitos estratificados da acao dos sistemas de bem-estar e aos impactos das desigualdades étnicas s4o cruciais na caracterizagao dos diferentes regimes. Dessa forma, indicadores como: a) coeficiente de Gini segmentado etnicamente; b) diferenga salarial entre coletivos etnicamente distintos; ec) percentagem dos grupos éinicos da populagao abaixo da linha da pobreza; sao fundamentais para captar 0 papel dos regimes de bem-estar na redugio das diferengas sociais. Para classes sociais e género, a literatura j4 demonstrou que onde a agao estatal 6 reduzida (caracteristicas residuais), as diferencas de classes e de renda em fungao do género sao maiores. Na medida em que 45 46 o Estado de Bem-Estar pode ser considerado como um feixe de mecanismos capaz de reduzir os efeitos das acdes de mercado por meio de medidas de protecdo social e aces redistributivas, pode- se dizer que seu impacto nos niveis de pobreza e desigualdade é determinante na caracterizagao de cada regime. A magnitude da cobertura estatal dos servicos para os coletivos étnicos pode ser tomada pelas seguintes varidveis segregadas etnicamente: a) esperanga de vida ao nascer; b) taxa de mortalidade infantil; c) taxa de mortalidade na infancia (até 5 anos); d) nivel de frequéncia escolar segmentado por faixa etéria; e e) taxa de analfabetismo. As trés primeiras variaveis permitem conhecer a qualidade de vida que cada regime proporciona a esses coletivos, bem como possibilitar a comparacao com 0 restante da populacao. As diferencas nessas variaveis sao explicadas pelos distintos niveis de generosidade, desmercantilizacao e universalismo das prestacdes sociais dos diversos regimes de bem-estar. A escolarizacao e a frequéncia escolar revelam as diferengas de oportunidade a que se submete cada grupo. Existe complementaridade entre 0 sistema educative eo mercado de trabalho e com o préprio sistema econdmico em geral. E esse sistema que oferece respostas as competéncias e as capacidades requeridas pelo sistema produtivo. Um indicador central nos sistemas de bem-estar é 0 relacionado ao emprego. Nesse caso, faz-se necessario subdividir as taxas de emprego, por género e etnia, da seguinte forma: a) taxa de emprego feminino dos coletivos étnicos; eb) taxa de emprego masculino desses coletivos. Existem diferencas sobre conceito de familia e como se devem estruturar os trabalhos de cuidados dentro dela. A taxa de emprego feminino se vé afetada por caracteristicas do nticleo familiar (presenga e idade dos filhos), pelos servigos de cuidados infantis e pelos idosos dependentes. No tocante a taxa de emprego masculino desagregado etnicamente, pode-se dizer que é uma variavel que ajuda a entender como esse eixo de desigualdade se articula com o mercado formal de trabalho e revela a existéncia de hierarquias étnicas nos diferentes regimes. Os indicadores aqui apresentados, para auxiliar na caracterizagao dos sistemas de bem-estar na América Latina, derivam das variaveis dos modelos utilizados por Martinez Franzoni (2008), Filgueira (1998), Cecchini et al.(2014), e Mesa-Lago (2002). Eles se alinham com as principais dimensées tratadas nesses autores e, se incorporados, podem ajudar na configuragao da hierarquia étnica em cada regime proposto. Dado 0 avanco da producao estatistica na regio, ja existem condigées de construir uma categoria analitica que indique 0 quanto a politica social ¢ os mercados reduzem a dependéncia individual, em fungo da origem étnica, do acesso desigual a recursos econémicos e sociais. Dessa forma, incrementar a forca analitica dos modelos existentes é um grande desafio. CONCLUSOES A auséncia da dimensio étnica nos RBAL, em parte, pode ser atribuida a falta de dados necessdrios para desenvolver andlises quantitativas ou & dificuldade de gerar indicadores aptos a medir e comparar as brechas étnicas entre paises. Por outro lado, expressa, também, um problema de fundo teérico. Ao trasladar as chaves analiticas desenvolvidas para regimes de bem-estar homogéneos etnicamente, deixou-se de incorporar, nas classificagdes dos RBAL, 0 eixo de desigualdade étnica, que gera diferenciagdes no grau de cobertura estatal, na estratificacdo dos beneficios, nas condigdes de acesso, na informalidade e na dimensao familiar em cada regime. Oniicleo tedrico sobre os efeitos da diversidade étnica no tipo de Estado de Bem-Estar, desenvolvido por pesquisadores americanos, influenciou a literatura europeia no debate sobre a imigracao e, elas juntas, podem auxiliar na compreensio e classificagao dos regimes de bem-estar na América Latina. Assim como nos Estados Unidos, parece que na AL a heterogeneidade étnica contribuiu para a baixa robustez e generosidade de seus Estados de bem-estar. Os dados apresentados sobre mortalidade infantil, de criangas menores de 5 anos de idade e o nivel de frequéncia indicam que as brechas no acesso A satide e & educacao pelos indigenas e afrodescendentes caracterizam uma cobertura diferenciada pela origem étnica. No mesmo sentido, caminha a estrutura do mercado de trabalho onde a ocupagao e o ramo de atividade, bem como a informalidade associada a este ultimo, apontam para a mesma discriminagdo. Em relac&o a representagao sindical, o mesmo ocorre, 47 48 Ou seja, a taxa de filiagao sindical revela uma sub-representacdo orientada pela condigao étnica. Quando se combina linearmente o gasto social per capita com © percentual de populacao branca, nos diferentes paises latinos, Percebe-se que, quanto maior é a populagao branca, maior é 0 gasto social por habitante. O gasto social, por sua vez, est relacionado com a desigualdade de renda, assim que é possivel esperar que paises com maior heterogeneidade étnica apresentem maiores desigualdades de renda. Por fim, foram sugeridos alguns indicadores, em cardter exemplificativo, capazes de auxiliar na incluso da dimensio Gtnica no redesenho dos regimes propostos para a regiao. Esses indicadores revelam a importancia do Estado na reducao dos niveis de pobreza e desigualdade na criagdo de oportunidades sociais geradas pela educagéo dos diferentes grupos étnicos e ajudando a entender como 0 eixo de desigualdade étnica se articula com © mercado formal de trabalho, tomando de emprego feminino e masculino segmentados etnicamente. REFERENCIAS ADELANTADO, J.; NOGUERA, J. A.; RAMBLA, X.; SAEZ, L. Las relaciones entre estructura y politica sociales: una propuesta tedrica, Revista Mexicana de Sociologia, Vol. 60, No. 3 (Jul-Sep, 1998), p. 123. 156. Disponivel em: , ADELANTADO, J.; CALDERON, E. 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