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Itajaí, 8 de dezembro de 2017

DISCURSO DE ENCERRAMENTO DA GESTÃO 2016-2017 DO CENTRO


ACADÊMICO DE OCEANOGRAFIA - CAO DA UNIVALI
A construção subjetiva do futuro, alimentada por experiências – próprias ou alheias – de
frustração e descompensação, além de contornos obscuros e indefinidos, é rodeada de
sentimentos difusos de alarme e de insegurança pelos jovens. Somado a isto, o panorama
geral da divergência dos cidadãos face ao sistema político democrático e de relativo
esvaziamento da esfera pública, as possibilidades de ancoragem e de partilha coletiva das
experiências vividas pelos jovens ao longo das suas trajetórias (em espaços de
sociabilidade e estruturas organizadas, incluindo as instituições sociais e políticas)
encontram-se fortemente coagidas (ESTANQUE, 2008).
Desta maneira, a integração no ambiente universitário, a criação de amizades e o
desenvolvimento de laços de sólida camaradagem, se torna um modus vivendi
característico dos estudantes e que é essencial pois enriquece a cultura, promove o
progresso acadêmico e social justo e libertador das potencialidades humanas
(ESTANQUE, 2008; DAYRELL; MOREIRA; STENGEL, 2011).
Não é tanto a aprendizagem adquirida nas bibliotecas e salas de aula, mas sim as
experiências adquiridas fora da instituição e em torno dela, que mais claramente irrigam
as potencialidades formativas, criativas e subversivas dos estudantes (DAYRELL;
MOREIRA; STENGEL, 2011).
Lutei desde o momento em que pensei em fazer um curso superior. Cruzei as fronteiras
do comodismo com a sede de conhecimento das relações homem e meio ambiente. Lutei
para entrar na universidade, lutei para me manter na universidade, luto para estar aqui
hoje.
Depois de uma batalha jurídica intensa, do triunfo, a recompensa, fui matriculado no
curso de oceanografia da UNIVALI. Desde então, sentindo na pele a angústia e
sentimento de impotência em distintos momentos durante esta batalha e com a ciência de
que esta não foi vencida sozinha e sim com o amor e apoio da minha família, amigos e
da boa vontade e nobreza do advogado Josmar. Para retribuir todo apoio depositado em
mim, não só por eles, mas também pela sociedade, que através do Estado, subsidiou
minha entrada na universidade, resolvi fazer o melhor e não desviar o foco do estudo e
dos livros. Entretanto, os livros e estudos são apenas a forma para forjar a espada para as
batalhas seguintes. Em um exercício de alteridade, percebi que milhares de pessoas que
tentam de alguma forma, mudar sua condição financeira, ou motivadas pela sede de
conhecimento, veem através dos estudos e da universidade a única saída dessa condição,
e batalham sem apoio da família e boa vontade de advogados, sendo desolados e
massacrados pela burocracia, ganância e tirania do sistema capitalista selvagem que
impera em algumas instituições não-públicas, oprimindo cada vez mais a vida destas
pessoas.
Não obstante, diante de todo cenário político desde meu ingresso na universidade,
alimentado por experiências próprias e alheias e com um senso de alteridade, liberdade e
justiça, decidi por engajar-me no movimento estudantil. Buscando apoio de pessoas que
compartilhavam do mesmo senso e que tinham algum sentimento e pertencimento pela
luta pela igualdade de direitos e de oportunidade, pois não conseguimos nada sozinho,
precisamos de pessoas, e as pessoas que fazem a sociedade e não a nada mais perigoso
para o sistema que estudantes unidos com um senso comum e sede de justiça. Juntos
discutimos e formamos o plano de governo para o CAO, que incluía os princípios e todos
esses sentimentos e formamos a chapa “cogestão CAO 2016/2017”. Queríamos
transformar o espaço do CAO em um exemplo de processo construtivo de auto-gestão e
emancipação social. “Manter a responsabilidade de conduzir uma política inclusiva,
transparente, autossuficiente e sustentável, objetivando alcançar a autogestão, no âmbito
do curso de Oceanografia da Universidade do Vale do Itajaí“ este é o princípio que
norteou nossas ações e através dele tentamos “construir as bases para a autogestão rumo
à um ciclo duradouro de sustentabilidade, com a participação de todos os atores na
promoção de um progresso acadêmico e social justo, ambientalmente sustentável e
libertador das potencialidades humanas”. As assembleias foram o meio que encontramos
para permitir a participação dos acadêmicos no processo de gestão. Foi através das
assembleias que as principais decisões foram tomadas e as ações norteadas, onde o
presidente era apenas o moderador e quem tomava a decisão eram os estudantes,
legitimamente. Toda demanda dos acadêmicos levantadas durante as assembleias foram
discutidas e registradas em atas. Foram muitas assembleias, muitas oficinas e muitas
reuniões com os outros Centros Acadêmicos, DCE, Coordenação do curso, Direção do
CTTMar, colegiado do curso e outros.
Para nos forjarmos e construir as bases do CAO precisávamos existir juridicamente, e
esta está sendo a nossa maior batalha até agora, em um país onde a burrocracia dificulta
” para facilitar” e com um estatuto subversivo, revolucionário e com o apoio e força de
todos os estudantes, a burrocracia do sistema tende a dificultar muito mais. Porém, nos
apoiamos nas pessoas, nos estudant@s e ex-estud@ntes, onde conseguimos sair do zero
e conseguir verbas para pagar as advogadas, que também partilham do mesmo senso e
ideais, e que se tornaram grandes aliadas nessa batalha.
Em uma das oficinas participativas, foi diagnosticado que deveríamos focar nossas ações
na divulgação do CAO, pois através da comunicação que conseguiríamos atrair maior
participação no processo, transparência e maior fortalecimento da instituição. Desta
forma, diversas ações com o logo do CAO exposto, que também foi elaborado com este
intuito, foram feitas.
Muito do que planejamos, não foi alcançado. Mas começamos aqui, um novo ciclo em
um processo de mudança e fortalecimento do Centro Acadêmico de Oceanografia, do
movimento estudantil, dos e das estudantes e da sociedade livre.
“Só serei verdadeiramente livre quando todos os seres humanos que me cercam, homens
e mulheres, forem igualmente livres, de modo que quanto mais numerosos forem os
homens livres que me rodeiam e quanto mais profunda e maior for a liberdade, tanto mais
vasta, mais profunda e maior será a minha liberdade.” - Mikail Bakunin.
Rodrigo Cesário Pereira Silva.
REFERÊNCIAS
ESTANQUE, E. Juventude, boemia e movimentos sociais: culturas e lutas estudantis na
universidade de Coimbra. Política & Sociedade: Coimbra, 2010. v. 9. N. 16. p. 257 – 29.
Disponível em:
<https://www.amigoscoimbra70.pt/download/Trabalhos%20Sobre%20o%20Moviment
o%20Associativo/2010_04_01_A_El%C3%ADsio_Estanque_-
_Juventude_Bo%C3%A9mia_e_Movimentos_Sociais.pdf>. Acesso em: 10 fevereiro
2017.
DAYRELL, J.; MOREIRA, M. I. C.; STENGEL, M. Juventudes contemporâneas: um
mosaico de possibilidade. Editora PUCMINAS: Belo Horizonte, 2011. 448 p. Disponível
em:
<http://portal.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI201207041
31151.pdf>. Acesso em: 10 fevereiro 2017.

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